Breve comentário sobre a história da igreja

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Breve Comentário sobre a História da Igreja Por Elildes Junio Macharete Fonseca (org.)

Julho – 2003


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SUMÁRIO Os Pais da Igreja ................................................................................. 03 As Primeiras Perseguições ...................................................................05 A Igreja Medieval ................................................................................. 08 A Reforma – Predecessores ..................................................................11 A Reforma Luterana ............................................................................13 A Reforma Hoje ...................................................................................15 O Modelo Eclesiástico Denominacional na Atualidade .......................... 16 Destaques do Cristianismo no Brasil – Século XX .................................18 Desafios Para a Igreja ..........................................................................20 Bibliografia ......................................................................................... 20


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BREVE COMENTÁRIO SOBRE A HISTÓRIA DA IGREJA A preocupação deste documento não é, evidentemente, esgotar o assunto abordado, nem mesmo fazer referências a todas as obras ou autores que se dedicam ao tema, mas, através de um sério trabalho compilador e interpretativo, passar uma noção básica do desenvolvimento da Igreja, desde a época dos chamados “pais de igreja”, até os nossos dias. 1 OS PAIS DA IGREJA “...isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para transmitir a outros.” (II Tm 2.2)

Nota-se, no registro de Atos 15, que relata a realização do primeiro concílio geral da Igreja, bem como das instituições de Paulo em Tito 1.5-9 e I Timóteo 3.1-7, também de Pedro em sua primeira carta 5.1-4, que, já no tempo dos apóstolos, outros estavam participando com eles do pastoreio e da liderança da Igreja. Os apóstolos começaram a ser mortos e, certamente, também a morrer. Mas a obra do Evangelho deveria ter solução na continuidade. Assim, os mais velhos, não só em idade cronológica, mas em vivência de fé, na qual tivessem demonstrado qualificação, foram assumindo as posições de liderança na Igreja, não só por vagas abertas com a morte de alguns, como também surgidas com o crescimento e expansão da Igreja. Destes sucessores, há alguns que são chamados “pais da igreja”.

1. Sua identificação Eles foram líderes da Igreja e pastores do rebanho, defensores da ortodoxia bíblica e instrutores dos fiéis no período que se segue ao tempo bíblico. Certamente, não todos, mas alguns se distinguiram por seus escritos, principalmente. Alguns deles são: Clemente de Roma: Terceiro pastor da Igreja na cidade de Roma. Escreveu duas cartas aos coríntios; a primeira, na última década do 1° século. Inácio: Pastor da Igreja em Antioquia. Escreveu sete cartas nas duas primeiras décadas do 2° século. Policarpo: Pastor da Igreja em Esmirna e discípulo do apóstolo João. Escreveu aos filipenses, na metade do 2° século.

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Como demonstrado, neste texto não será abordado o surgimento da Igreja, no dia do Pentecostes, quando esta tomou forma visível; também não será feita referência à época apostólica, pois entende-se que sobre esses assuntos, a própria Bíblia já relata de maneira muito clara. Por isso, a proposta foi iniciar a partir dos chamados “pais da igreja”.


4 Justino, o mártir: Natural de Samaria, professor de filosofia. Converteu-se a Cristo e dedicou-se à defesa da verdade evangélica. Escreveu várias apologias 2, pelos meados do 2° século. Tertuliano: Filho do centurião proconsular, nascido em Cartago, na África. Era jurista, formado em direito. Convertido à fé cristã, dedicou toda a sua energia e capacidade à defesa da fé da Igreja. Seu nome era: Quinto Sétimo Florens Tertuliano. Irineu: Pastor da Igreja em Lião, discípulo de Policarpo. Escreveu cinco livros em defesa da doutrina bíblica. Orígenes: Educado na fé cristã e dotado de inteligência brilhante. Aos 18 anos de idade, já era diretor da escola catequética, em Alexandria. Sua atividade literária não teve igual na Antigüidade, antes de Agostinho. Jerônimo (340 – 420): Converteu-se mais ou menos aos 25 anos de idade. Dotado de grande capacidade intelectual e extraordinário raciocínio, escreveu vários livros. Sua maior tarefa foi a tradução da Bíblia para o latim, uma das mais importantes versões das Escrituras, conhecida pelo nome de Vulgata. Agostinho (354 – 430): Natural do norte da África. Filho de mãe cristã piedosa, teve uma vida devassa, até sua conversão aos 33 anos de idade. Já estudando o cristianismo, um dia, estranhamente compelido a sair para o jardim de sua casa, ouviu crianças da casa vizinha dizerem “toma e lê”. Apanhou um volume da Epístola de Paulo, e, abrindo-o, deparou-se com Romanos 13.13,14, e se rendeu ao Senhor. Instruídos na fé cristã por meio do ensino sucessivo procedente do Senhor Jesus, tinham as Escrituras como fonte de sua instrução para a doutrina. Especialmente Orígenes, que se dedicou mais à exegese3 e comentários.

2. Sua Importância Os “Pais da Igreja” têm uma importância secundária na vida da Igreja, em relação aos apóstolos. Todavia, sua relevância é fundamental pela influência que tiveram. Na interpretação do Evangelho de Cristo, os apóstolos fixaram as bases da Igreja e os “Pais” definiram as linhas de seu desenvolvimento. Estes são os primeiros líderes da Igreja, depois daqueles que conviveram com Jesus, que escreveram a respeito da vida da Igreja. O que eles escreveram demonstra como o Evangelho foi entendido pelos que não receberam ensino diretamente de Jesus.

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Apologia – discurso para justificar, defender ou louvar. Comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra.


5 Seus escritos são a fonte de informação a respeito da transição do cristianismo apostólico, num processo em que a doutrina, o governo, o culto iam se definindo, para distinguir-se de interpretações errôneas do Evangelho, que surgiam no seio da própria Igreja. Portanto, o valor é muitíssimo grande. Não pode ser igualado ao dos apóstolos e outros escritores bíblicos, que receberam inspiração direta de Deus, mas é, secundariamente, comparável ao dos apóstolos. Mas, só secundariamente!

3. Sua Posição O que eles escreveram é de autoridade extraordinária; contudo, eles não falaram “movidos pelo Espírito Santo” 4 (II Pedro 1.21). Portanto, o que eles escreveram não é outra Bíblia, ainda que sejam informações e ensinos muito importantes. Assim, os seus escritos não são uma regra paralela à Bíblia. Devem ser tidos em consideração e tomados com estima, mas não podem ser tidos como “regra de fé e prática”. AS PRIMEIRAS PERSEGUIÇÕES “Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a Igreja em Jerusalém...” (Atos 8.1a)

Todos os compêndios de história da Igreja dão a perseguição sob Nero, como a primeira. E provinda do trono do império, realmente é a primeira. Contudo, para ser perseguição, não é preciso que venha o imperador. Portanto, a primeira perseguição à Igreja é a mencionada em Atos 8.1. Desde então, a Igreja caminhou quase sempre debaixo de forte pressão. No entanto, com Nero, inicia-se a perseguição oficial, por meio das forças do império, de maneira generalizada e de forma organizada. Assim, a fúria com que Saulo respirava ameaças e morte contra os seguidores do “Caminho”, se tornou pequena em comparação com as perseguições imperiais. Vamos considerar algumas questões referentes a estas perseguições.

1. As Alegações e Motivos Em Atos 17.6-7, temos informações do que alegavam os judeus para perseguirem Paulo e Silas: “têm transtornado o mundo... todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei”. Esta é, basicamente, toda a alegação. Nero incendiou Roma, lançou a culpa sobre os cristãos e moveu contra eles uma dura perseguição, ainda na era apostólica. Assim, foram acusados de ateus, por não adorarem os deuses e

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A afirmação de que eles na falaram movidos pelo Espírito Santo, não está dizendo que eles não eram sensíveis ao Espírito ou que não tinham o Espírito. Faz-se uma referência ao conceito da inspiração, na teologia. Como se sabe, somente os escritos dos textos sagrados foram inspirados por Deus.


6 os imperadores romanos; de antropófagos 5, por comerem carne e beberem o sangue de Jesus na Santa Ceia; de incestuosos, por serem casados irmãos com irmãs (irmãos na fé) e, por estas coisas, de subversivos da ordem e da moral. Estas eram alegações, mas o motivo era, na realidade, bem outro. O motivo se encontra, também, no livro de Atos: as autoridades ficaram “ressentidas” (4.1,2), “tomaram-se de inveja” (5.17,18; 13.45,50; 17.5). O cristianismo estava se propagando e crescendo extraordinariamente, e atraía a atenção por seu modo de ser, bem como pelo que realizava. E isto causava inveja e ressentimento. Além disso, anunciava-se o reinado de Cristo ressurreto, o que tornava, para os reis, uma ameaça. Isto se confirma no fato de que os cristãos não se ajoelhavam em reverência aos imperadores, nem juravam por César. Este era o motivo real e verdadeiro das perseguições, tanto as oriundas dos judeus como as procedentes dos imperadores: ressentimento, inveja e medo. Ressentimento, porque os cristãos pregavam a ressurreição que os saduceus negavam e não adoravam aos imperadores. Inveja, porque o cristianismo despertava maior atenção. Medo, porque receavam perder o trono, visto que os cristãos anunciavam Jesus como Rei.

2. Ação e Reação Como a presença e atitude dos cristãos incomodavam os dirigentes do império, as autoridades religiosas dos judeus; estes e, mais ainda aqueles, agiram por todos os meios para anular o cristianismo. Usaram o suborno, a sublevação e o falso testemunho (Atos 6.11-13). O incêndio provocado por Nero, cuja culpa foi lançada sobre os cristãos, revoltou grande número de súditos do império. “Os gauleses deram o sinal da revolta. Na Espanha e em outras províncias, os exércitos rebelaram-se igualmente. Vendo-se abandonado por sua própria guarda militar, Nero fugiu da cidade. Mas foi inútil. Reconhecido e perseguido, suicidou-se, tendo apenas 32 anos de idade”. Foram 10 as perseguições imperiais, num espaço de 250 anos, com períodos intermitentes de paz, sendo os piores tempos, os de Nero e Décio. Lançando mão da calúnia, seja em Jerusalém ou Roma, a ação era prender e matar, decapitando e apedrejando. Os que não abjurassem a fé eram entregues às feras no anfiteatro, como espetáculo ao povo, ou besuntados de óleo, amarrados em postes e incendiados, iluminando as ruas à passagem do imperador. Também suas propriedades e bens eram confiscados. Ante toda cruel atrocidade das duras perseguições, a reação dos cristãos foi de resignada persistência. Quando o governador propôs a Policarpo que jurasse renegando a Cristo a fim ser solto, este respondeu: “Tenho-o servido durante oitenta e seis anos, e Ele nunca me fez mal. Como 5

Que, ou aquele que se alimenta de carne humana.


7 posso eu agora blasfemar contra meu Rei e Salvador?” Então, não podendo ser entregue aos leões, por haver já terminado o prazo para os espetáculos, ateou-se-lhe fogo, e não tendo este queimado todo o seu corpo, foi ferido à espada, do que morreu. A reação do primeiro mártir do cristianismo (Estevão), perante seus acusadores e executores (Atos 7.54-60) não foi um caso isolado. Os discípulos que viveram no tempo subseqüente, tinham a mesma fé e a mesma esperança e, por isso, tiveram a mesma reação de perseverante resignação em vez de contra-ataque de violência. Assim dizia Tertuliano: “A vossa crueldade será a nossa glória. Milhares de pessoas de ambos os sexos, e de todas as classes, hão de apressar-se a sofrer o martírio, hão de exaurir os vossos fogos, e cansar as vossas espadas”.

3. O Objetivo e o Efeito Os que desencadearam as perseguições e também os que a executaram, objetivaram liquidar o cristianismo, por ser uma prática inconveniente aos interesses do império. A irreverência de não se ajoelhar perante o imperador, nem jurar pelo seu nome, era prejudicial ao prestígio do monarca. A presença de numerosos prosélitos 6 nas igrejas cristãs, enquanto os templos pagãos da religião oficial estavam desertos, era desmerecimento do império. A pregação cristã de que um descendente de Deus [Jesus] há de reger todas as nações, era uma ameaça ao trono. Dominicano chegou a fazer investigações, mandando vir de Jerusalém a Roma, dois descendentes de Davi, netos de Judas, o irmão do Senhor; mas vendo suas mãos calosas de operários, os despediu com desprezo. Por estas razões, moveram os imperadores perseguição aos cristãos, com o fim de extirpar dos domínios do império, os seguidores de Jesus Cristo. Contudo, o efeito se deu ao contrário. O cristianismo cresceu prodigiosamente, firmandose mais e mais a convicção dos cristãos, que suportavam a perseguição com resignação e sofriam o martírio com serenidade. Desta maneira, Tertuliano podia lançar em rosto aos magistrados: “quanto mais vida nos ceifas, tanto mais nos multiplicamos; semente é o sangue dos cristãos”. E isto foi uma realidade. O fogo das perseguições incendiava os corações com a fé e era como um sopro que os fazia espalhar. Como diz um historiador: “toda espécie de tortura que o espírito humano podia imaginar, era infligida aos cristãos daquelas cidades; mais o número aumentava sempre, e todo esforço que se fazia para exterminar a nova religião, nada conseguiu senão espalhá-la cada vez mais, e com maior rapidez”. Portanto, ao invés de as perseguições acabarem com o cristianismo, fez brotar a fé cristã em muitos corações, expandindo-se largamente o cristianismo, pois, neste ambiente o cristianismo é uma nova força para criar um novo homem.

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[do grego, prosélytos, ‘aquele que se aproxima’.] Indivíduo que abraçou a religião diferente da sua.


8 A IGREJA MEDIEVAL “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.” (Apocalipse 2.4)

Subindo Constantino ao trono do império, pela vitória contra Maxênio, movido pela visão que teve da cruz com as palavras “inhoc signo vinces” – com este sinal vencerás; cessaram-se as perseguições à Igreja. Constantino sentiu que o cristianismo não podia ser destruído, pois se fortificava cada vez mais. Isso talvez o tenha levado a desejar as orações dos cristãos, a fim de alcançar bênçãos para o seu governo. Sem dúvida, percebera também, que se o cristianismo fosse ajudado e se tornasse bastante forte, seria um poderoso elemento para unificação de todos os povos do império. Ele e Licínio, em 313, estabeleceram completa liberdade religiosa que proporcionou igualdade de direitos de todas as religiões. Mais tarde, em 380, Teodósio, imperador cristão no oriente, baixou um decreto pelo qual todos os súditos do império deveriam aceitar a fé cristã como estabelecida pelo Concílio de Nicéia 7. Continuou com essa política até que se tornou governador do mundo romano em 392. Assim, o cristianismo veio a ser parte da lei imperial. E o cristianismo se tornou a religião oficial. Nesta condição, a Igreja entra na Idade Média com nova feição. Infelizmente, não para melhor.

1. Encheu-se de Paganismo Afirma-se que a oficialização do cristianismo foi o golpe de morte do paganismo. Contudo, ele não morreu. Infiltrou-se no cristianismo. Só o fato de o cristianismo ser a religião do imperador, seria suficiente para a adesão de muita gente não convertida. Além disso, Constantino prometeu a cada novo convertido ao cristianismo vinte moedas de ouro e uma roupa branca para a cerimônia batismal, e publicou uma advertência aos súditos para adotarem o cristianismo. Isso atraiu grande número de pessoas para a Igreja, sem nenhuma conversão. Essas pessoas introduziram seus costumes e experiências ao cristianismo. Deste modo é que se começou a adoração aos santos. Os pagãos estavam acostumados a adorar, além dos deuses, os filhos dos deuses, que eram semideuses. Assim, os santos deviam receber adoração [ou semi-adoração]. As práticas pagãs no seio da Igreja, com o uso, foram sendo incorporadas como práticas da Igreja mesma, chegando-se até a tornarem-se dogmas, generalizando-se nos setores diversos da vida da Igreja.

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(325) O primeiro concílio da história da Igreja, foi convocado pelo imperador Constantino, em Nicéia, na Bitínia (hoje, Isnik, na Turquia).


9 2. Corrompe-se na Imoralidade A Igreja, infiltrada já de paganismo, passa a viver num ambiente de trevas e barbarismo, em meio a guerras e confusão, pelas invasões de bárbaros, seguidas de conquistas do islamismo. “Começou, então, o cesarismo religioso, que tem agora, na infalibilidade papal, a sua expressão definitiva”, diz Rui Barbosa. Esta ambição do poder e das vantagens de cargos na Igreja leva à prática da simonia: a compra e venda de funções e cargos sagrados. Esta mesma ambição do poder conduz a outra prática imoral: a falsificação de documento – as Falsas Decretais. Era uma coleção de decisões dos concílios da Igreja e de decretos e cartas papais. As Decretais apresentavam todos os bispos de Roma como tendo exercido autoridade sobre toda a Igreja, e que essa autoridade teria sido sempre universalmente reconhecida. Diz ainda Rui Barbosa: “Adquiriu a Igreja a influência temporal; mas a sua autoridade moral decresceu na mesma proporção; de perseguida, tornou-se perseguidora; buscou riqueza, e corrompeu-se; e a corrupção era clamorosa. Na França, muitos sacerdotes eram escravos foragidos ou criminosos, sem qualquer ordenação. Os bispados eram vendidos abertamente a quem desse mais. O arcebispo de Roma era analfabeto. Embriaguez e adultério eram os menores vícios, de um clero que tinha apodrecido até à medula... Durante anos, uma família de mulheres infames dominou o papado, as quais entregavam este a quem elas o desejassem dar. (...) Procure alguém lançar-se na sociedade daqueles dias e sentir-se-á num ambiente para o qual a religião verdadeira, a religião do auto-domínio, do domínio das paixões, a religião do amor, era simplesmente uma coisa estranha e incompreensível, e da qual ninguém queria cogitar. Aquela era uma sociedade esmagada sob o peso de atividades que transformavam a vida em pugnas amargas com que uns esmagavam os outros, impiedosamente, tripudiando por cima dos princípios e freios que a própria moralidade impõe. A maldade e a miséria da massa humana daqueles dias eram simplesmente de estarrecer”. 8

3. Desvirtuou-se com Inovações Devido à influência do paganismo infiltrado na Igreja e à falta de escrúpulos, em meio à corrupção generalizada, introduziram-se nos princípios e práticas da Igreja, muitas inovações, desvirtuando a vida da Igreja. Algumas dessas inovações são:  Em 320 – uso de velas  Em 375 – culto aos santos  Em 394 – instituição da missa As palavras de Rui Barbosa retratam, em síntese, o triste quadro da Igreja medieval que, após o seu “casamento” com o Estado, notavelmente, passou a assumir posturas bem diferentes da proposta do cristianismo. Um ponto que merece destaque no texto é que a Igreja, antes perseguida, agora, assume uma postura de perseguidora. Cuidado! Às vezes, quando se está em condições favoráveis, comparando ao passado talvez não muito distante, aproveitamo-nos delas, para conseguir objetivos, mesmo que para isso, as pessoas sejam maltratadas. 8


10  Em 431 – culto à Virgem Maria  Em 503 – doutrina do purgatório  Em 528 – extrema-unção  Em 606 – universalidade do bispo de Roma  Em 709 – obrigatoriedade do beijo aos pés do papa  Em 754 – doutrina do poder temporal da Igreja  Em 783 – adoração às imagens e relíquias  Em 850 – uso de água benta  Em 993 – canonização dos santos  Em 1074 – celibato sacerdotal  Em 1076 – dogma da infalibilidade da Igreja  Em 1184 – instituição da Santa Inquisição  Em 1190 – venda de indulgências  Em 1215 – dogma da transubstanciação  Em 1217 – adoração à hóstia  Em 1229 – proibição da leitura da Bíblia

O monastério, que já existia, desenvolveu-se extraordinariamente, e várias ordens foram fundadas. Organizaram-se as cruzadas. Eram expedições militares para libertação do “Santo Sepulcro”, que estava sob domínio dos maometanos. Originadas das cruzadas, foram fundadas as ordens militares: “Hospitaleiros de São João Batista”, em 1092; “Templários”, em 1118; e “Cavaleiros Teutônicos”, em 1190. A Inquisição se tornou um departamento da Igreja, com incumbência de caça e condenação dos “hereges”. Com tudo isso introduzido no seio e prática da Igreja, esta já não era mais a igreja dos primeiros cristãos.

4. Surgiram Desavenças Esta situação de coisas não poderia dar senão em desentendimentos. Em 867, por desavença entre o papa e o patriarca de Constantinopla, romperam-se os laços fraternais entre o oriente e o ocidente, sendo o papa declarado deposto de seu bispado. O rompimento definitivo se deu em 1054, quando o papa Leão IX e o patriarca de Constantinopla se excomungaram mutuamente e os apoiantes respectivos. Cada facção pretende ser a verdadeira Igreja Católica.


11 O papado sofre terrível golpe com a prisão do papa Bonifácio VIII, que pretendendo ser imperador, apresentou-se num trono usando a coroa e a espada de Constantino, exclamando: “Sou César, sou imperador”. Preso por Filipe, o Belo, da França, morreu em 1309, pouco depois de ser solto. Em 1305 foi eleito papa, o francês Clemente V, que estabeleceu sua corte real em Avignon (Avinhão), onde permaneceu 70 anos, com seus sucessores, como verdadeiros vassalos da França. Em razões do tempo e das condições, este período é chamado “cativeiro babilônico do papado”. Este fato aprofunda os sulcos de inimizades internacionais, resultando no que se chama “o cisma papal”. Em 1377, o papa Gregório XI restabeleceu Roma como sede da corte papal e, no ano seguinte, eleito seu sucessor, os cardeais franceses elegeram outro papa, com sua corte em Avinhão. Algumas nações reconheceram o de Roma e outras o de Avinhão. Em 1409, reuniu-se em Pisa um concílio geral, que declarou cismáticos e heréticos ambos os papas – Benedito XIII e Gregório V. Como os dois se recusaram a resignar, ficaram três, todos com apoio de alguns. Cinco anos depois, reuniu-se outro concílio, em Constança, que, depondo os papas, elegeu Martinho V, terminando assim o “cisma do papado”. A REFORMA – PREDECESSORES “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras.” (Ap.2.5a)

Conforme a promessa do Senhor, embora a Igreja fosse batida de todos os lados pelas “portas do inferno” que se fecharam nas perseguições, e se abriram na oficialização, a Igreja se manteve. Mesmo no tempo de sua regeneração, havia sempre uma reação aos desvios da Igreja. Em certas ocasiões, esta reação foi condenada como herética por aqueles que, valendo-se da Igreja, pretendiam dominar as consciências.9 Havia por toda parte intenso desejo naqueles que eram a verdadeira Igreja, de se fazer voltar à Igreja oficial, aos princípios evangélicos. Neste sentido, houve movimentos e reações: joviniânica, vigilanciana e pauliciana. De protestos: os cataristas, os veldenses, “os irmãos”. Todos estes movimentos desejavam a doutrina e prática da Igreja de acordo com o Evangelho puro e simples. Até mesmo dois concílios: o de Constança, em que havia pretensão de se fazer “A Reforma da Igreja da Cabeça aos Pés”, e o de Basiléia – tinham o espírito de reforma. Os que lutaram, e até deram a vida pela reforma da Igreja, e que precederam à Reforma, são chamados “precursores da Reforma”.

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Quando um líder, ou liderança inteira, utiliza-se da posição para dominar as pessoas, está mostrando a fraqueza de seus argumentos. Aplicando, uma igreja nunca pode obrigar a ninguém defender sua doutrina, mas deve mostrar , com argumentos consistentes, a importância de sua doutrina, inclusive, estando aberta aos questionamentos (sem abrir mão de suas crenças, é claro). Esse é um dos melhores meios de se evangelizar.


12 1. João Wyclif – nascido na Inglaterra, por volta de 1324, foi chamado de “Estrela da Alva” da Reforma. O mais culto e destacado professor da Universidade de Oxford, escreveu vários livros e traduziu a Bíblia do latim [da Vulgata] para o inglês, a fim de que seu povo pudesse ler a Palavra de Deus – publicada em1380. Com o cisma do papado e, tendo sido “testemunha dos desregramentos da corte pontifícia” quando esteve em Avinhão, identificou o papado com antiCristo10. Denunciou os abusos do papa e negou-lhe a autoridade sobre os demais bispos. Igualmente, negou fundamento bíblico para a doutrina da transubstanciação. O espírito nacionalista reinante na Inglaterra, contribuiu para a pregação de Wyclif, negando ao papa o direito de cobrança de impostos ou taxas na Inglaterra. Organizou os “irmãos Lollardos”, pregadores itinerantes, para disseminarem suas idéias. Escapando ileso de dois julgamentos, Wyclif morreu em paz, em 1384. Trinta e um anos após sua morte, foi condenado, seu corpo [ossos] queimado e suas cinzas lançadas no rio. 2. João Huss – natural da Boêmia, em 1373, ocupava lugar de destaque na Universidade de Praga. Grande pregador, possuidor de uma eloqüência incomum, nacionalista ardoroso, conhecedor profundo de sua gente e por ela respeitado, tornou-se pregador na capela de Belém, em Praga, pelo que começou a estudar as escrituras e chegou à conclusão de que a Igreja estava divorciada da Bíblia. Pregou contra seus desvios. Assimilando as idéias de Wyclif, por meio de seus livros, entrou em conflito com os chefes da Igreja papal, por ensinar doutrinas de um “herege”. Compareceu ao Concílio de Constança [o mesmo que condenou Wyclif depois de morto] e foi condenado à fogueira, sofrendo o martírio em 6 de julho de 1415, com uma atitude e testemunho emocionantes. 3. Outros – a) João Puper de Goch – pregou a justificação pela fé, repudiando a doutrina de justificação pelas obras ; pregou a autoridade das Escrituras acima da autoridade eclesiástica e da tradição, e o amor de Deus e ao próximo como essência da religião. b) João de Wesel – Manifestou-se contra as indulgências, a excomunhão, a transubstanciação e salvação pelas obras. Retratou-se de algumas de suas afirmações, mas não abjurou a fé evangélica. Tanto que foi condenado à prisão perpétua. c) João de Wessel – Sendo o maior teólogo de sua época, não quis cargo eclesiástico, nem quando seu amigo Rovere foi elevado ao trono papal e surgiu-lhe a oferta de um bispado. Suas idéias coincidem com os princípios da Reforma. Delas, disse Lutero: “se eu tivesse lido as suas obras há mais tempo, os nossos inimigos poderiam supor que eu tivesse aprendido tudo com Wessel, tal é a perfeita coincidência das nossas opiniões... Agora não posso duvidar que tenho razão nos pontos que tenho indicado, vendo um tão grande acordo nos sentimentos, e até quase as mesmas 10

Apenas uma identificação. Não se pode “bater o martelo” e anunciar que o papa ou o papado é o anti-Cristo.


13 palavras empregadas por aquele grande homem, que viveu numa época diferente, num país distante, e em circunstâncias muito diferentes das minhas”. A REFORMA LUTERANA “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.” (Rm. 3.28)

Os movimentos reformadores já havidos, e o renascimento literário, são fatores que contribuíram para a eclosão e o êxito da Reforma. A Renascença redescobriu os textos antigos, esquecidos na Idade Média, e ocasionou o intercâmbio cultural que preparou a Europa para a Reforma. O invento da tipografia, por João Gutembergue também auxiliou grandemente a causa da Reforma. Mas, em tudo, a providência divina foi a verdadeira causa operante da Reforma. O caráter de Lutero não seria bastante para tal feito. Desse modo, a providência, que tanto determina os fins como prepara os meios, operou para uns e outros, na realização da Reforma.

1. A Razão da Reforma A condição e o estado da Igreja haviam despertado um desejo quase geral de reforma. Para muitos, esta reforma seria apenas a moralização da Igreja. Entretanto, os reformadores sentiram que esta reforma teria de nascer pela parte doutrinária. Dois fatos principais determinaram a ação de Lutero para a Reforma: o ensino da Bíblia e a aberração da venda das indulgências. Lutero era profundamente religioso, já que foi preparado para aquela tarefa. Foi criado em um lar austero, rígido e piedoso de camponeses. Doutor em Filosofia, passou aos estudos de Direito, na mais famosa universidade alemã – a de Erfurt. Circunstancialmente, decidiu tornar-se monge quando apanhado por uma tempestade em que viu seu amigo fulminado por uma faísca atmosférica. Em 1505, entrou para o convento agostiniano, em Erfurt, onde fez rigorosas penitências, confessando-se freqüentemente em busca de segurança espiritual e “paz com Deus”. Em 1512, tornou-se Doutor em Teologia. Indo a Roma, em 1511, a negócios de sua Ordem, viu a devassidão da “cidade santa”: Lá, subindo de joelhos a escada da catedral de São Pedro, repetindo em cada degrau o “Padre Nosso” para livrar do purgatório a alma de seu pai, sentiu a inutilidade de tais penitências, visto que o justo viverá pela fé. A leitura destas palavras na Epístola aos Romanos deu-lhe a segurança e paz que procurava. Sendo professor na universidade de Wittenberg, Lutero passou a expor as Escrituras em suas lições e preleções. Isto foi o primeiro fato.


14 O segundo – as indulgências. João Tetzel foi designado pregador das indulgências na Saxônia. Dramaticamente, persuadia as pessoas a comprar as indulgências para libertar do purgatório as almas de seus parentes, dizendo: “...logo que uma moeda bater no fundo da caixa, a alma solta-se do purgatório e dirige-se em liberdade para o céu...” [citado por Rui Barbosa] – “...tão grande é a eficácia delas que chegariam a remir e expiar os maiores pecados, ainda os daquele que [por impossível] violasse a mãe de Deus, e a granjear aos pecados a absolvição da pena e culpa...”. Na véspera do dia de todos os santos, dia em que todos os camponeses viriam a Wittenberg para a missa, Lutero afixou as 95 teses contra as indulgências, na porta da Igreja do Castelo Wittenberg, a 31 de outubro de 1517. Estava deflagrada a Reforma.

2. Os Princípios da Reforma A Igreja, desviada da fé, considerou heresia a idéia de voltar aos princípios evangélicos. A Reforma Luterana se realizou firmada nos seguintes pontos básicos: a) Supremacia da Escritura. Toda autoridade da Igreja, seja pelo bispo seja pelo Concílio, está sujeita à Bíblia. b) Justificação pela fé. Ninguém será justificado por obras; pois o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. c) Sacerdócio universal dos crentes. O crente não precisa de um intermediário. Em Jesus Cristo, pela fé, ele tem acesso à graça de Deus.

3. Efeito da Reforma O estabelecimento da Reforma se fez à custa de suor, sangue e lágrimas. Tanto da parte dos predecessores como a dos executores. Somente de Deus poderia vir a força de Lutero [por exemplo] para dizer diante da Dieta de Worms: “Se não for convencido por argumentos da Sagrada Escritura ou por razões plausíveis... estará presa a minha consciência pela Palavra de Deus. Retratar-me não posso e não quero... Deus me ajude. Amém.” Mas valeu a tenacidade daqueles homens de Deus. Os pecadores podiam encontrar graça e misericórdia em Deus, por meio da fé, e sua salvação, sem terem que fazer penitências intermináveis ou comprar indulgências. Podiam encontrar na Bíblia que Lutero traduzira para o alemão, as verdades eternas da Palavra de Deus.


15 A REFORMA HOJE “... mas transformai-vos pela renovação da vossa mente...” (Rm 12.2)

Como se pôde notar, a Igreja nos primeiros tempos viveu dias de inefável alegria. Mas, logo surgiram problemas, por ser constituída de seres humanos. E os componentes da Igreja não se tornaram “anjos celestiais”. Ainda são seres humanos com a mesma natureza; redimidos, porém, pecadores. Nesta condição, cada crente e a Igreja, deles constituída, têm de estar vigilantes, em reforma permanente. Consideremos, então:

1. A Natureza da Reforma em Nossos Dias “Reforma hoje” tem uma natureza diferente daquela da Reforma do século XVI. Naquele tempo, os desvios haviam sido tantos, que a Igreja necessitava completa reforma doutrinária e prática. A natureza da reforma, hoje, não é de mudança, mas de preservação. Precisamos guardar o que nos foi confiado (I Timóteo 6.20); guardar a confissão da esperança (Hebreus 10.23), sabendo que o Senhor é poderoso para guardar o nosso depósito (II Timóteo 1.12). Esta é a natureza da reforma hoje: guardar o ensino puro do Evangelho; guardar a esperança do que não se vê (Romanos 8.24,25); guardar o amor de fato e da verdade (I João 3.18), de maneira que estas coisas não sejam desvirtuadas. Em sua natureza, esta reforma se identifica com a santificação.

2. A Necessidade Desta Reforma Qualquer pessoa que olhar para si mesma, com sinceridade, e reconhecer sua situação real, de pecador, saberá, inquestionavelmente, que esta reforma se faz necessária. O apóstolo Paulo, sentindo essa necessidade, confessa-se dizendo: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” (Romanos 7.24). Sentia a necessidade desta reforma, o livramento da lei do pecado que estava nos membros do seu corpo (Romanos 7.23). A tendência da criação é degenerar-se. A tendência do ser humano também. Por isso, Paulo diz que os que estão mortos em delitos e pecados, ou seja, os que vivem no pecado, andam segundo as inclinações da carne (Efésios 2.3), porque, segundo as inclinações da carne, o homem só poderá andar no pecado e caminhar para o mal. Lutero disse que “a Igreja reformada está sempre se reformando”.


16 3. A Realização Desta Reforma Sendo esta reforma a guarda da vida espiritual, como “sacrifício vivo”, a igreja realiza-a não tomando a forma deste século e transformando-se pela renovação da sua mente (Romanos 12.2). Nossa igreja não pode conforma-se com este século; assim como a do século XVI não se conformou com os desvios da Idade Média. Mas não é suficiente não ter a forma do século; é preciso que haja transformação para se ter a mente de Cristo (I Coríntios 2.16). Não podemos assimilar a forma do século – o modo de vida deste mundo – mas também devemos nos identificar com a mente de Cristo. São duas atitudes: não se conformar e transforma-se. Não tomar a forma de um e assimilar a forma do outro. Não atender a forma da carne e assimilar a forma de Cristo (Colossenses 3.1,10). Assim se realiza esta reforma.

4. O Objetivo Desta Reforma O objetivo desta reforma é experimentar, deliciar-se com a vontade de Deus que é boa, agradável e perfeita. Este experimentar significa cumprir a vontade de Deus. Sempre glorificando a Deus, pois é assim que podemos nos alegrar nele. O MODELO ECLESIÁSTICO DENOMINACIONAL NA ATUALIDADE

A partir deste tópico, passa-se a comentar sobre as denominações. Retoma-se neste ponto a apresentação acerca da história da Igreja, para se verificar o contexto em que surgiram as denominações. No contexto religioso, a denominação diz respeito aos movimentos que surgiram dentro do “protestantismo”, como também a numerosos ramos independentes dos movimentos que se têm desenvolvidos no decurso dos anos. O denominacionalismo é recente face à antigüidade do catolicismo e do sectarismo, este existe desde os primórdios do cristianismo e aquele sendo formado no decorrer dos séculos. Ele também contrasta com esses dois tipos de religiosidade. As igrejas católicas, quase sempre apoiadas pelo governo civil, acham-se com o direito de incluir os cristãos desde a infância como seus afiliados, e admitem um governo universal. Na denominação, em contraste, a filiação é voluntária e o governo congregacional (democrático) ou, no máximo, associacional. O denominacionalismo também contrasta com o sectarismo. As seitas se consideram como as únicas legítimas expressões de religiosidade, ao passo que as denominações não têm reivindicações exclusivistas sobre seus membros.


17 1. Cronograma – Denominações

2. Resumo – Histórico das Denominações  Congregacionais – São uma denominação dissidente do cisma anglicano de 1534. Os puritanos ingleses começaram a apregoar uma igreja independente do papado, do episcopado, do presbitério, do rei. Esses grupos independentes ordenariam seus ministros ou pastores e estavam ligados entre si pelos laços da amizade e do apoio mútuo, não havendo autoridade centralizadora.  Presbiterianismo – O presbiterianismo é a modalidade fundada por João Calvino (1509 – 64). Calvino rejeitou a hierarquia episcopal e o congregacionalismo, isto é, a democracia plena. Isso ocorreu na Suíça. Da Suíça, o presbiterianismo foi para a Inglaterra, onde seu grande mestre, Thomas Cartwright (1535 – 1603), combateu o conservadorismo da Reforma Anglicana ou Episcopal.  Metodistas – Os irmãos John (1703 – 1781) e Charles Wesley (1707 – 1788), na Universidade de Oxford, iniciaram um movimento estudantil para afervorar os jovens: liam o Novo Testamento em grego, faziam orações comunitárias, obras de caridade, aspirando ter mais do que a justificação pela fé apregoada pela Reforma Protestante. Isso ocorreu numa época em que o anglicanismo passava por uma fase de indiferença. Wesley e seus amigos faziam palestras sobre problemas que afetavam a humanidade: alcoolismo, prostituição, injustiça social, a vida nos cárceres. O novo movimento não objetivava tornar-se uma nova igreja na Inglaterra, mas reavivar os anglicanos. Contudo, a indiferença de Wesley por alguns artigos de fé distanciou o metodismo oficial e criou seus próprios quadros. Em 1739, surgiram os primeiros núcleos metodistas independentes; a ruptura pública e definitiva se deu somente em 1818.  Batistas – Historiadores como Vedder (1934), Faircloth (1959) e Reis Pereira (1972) concordam que os princípios batistas foram evidentes nos grupos sectários, desde os


18 primórdios do cristianismo. Apesar de não se poder comprovar uma continuidade histórica entre batistas e anabatistas, os batistas possuíam diversos princípios defendidos pelos anabatistas. Na Inglaterra, a história dos batistas começou com John Smith e Tomas Helwys.  Anglicanos – A Igreja Anglicana originou-se na Inglaterra, fruto de um longo processo. A questão do divórcio do rei Henrique VIII e a conseqüente separação da Igreja da Inglaterra representam o ponto culminante de uma situação que já existia. O primeiro contato da Igreja Anglicana com o Brasil foi em 1805.  Luteranos – Os séculos XIV e XV foram marcados pela decadência da Europa, em todos os sentidos. O paganismo influenciou os costumes, as artes, a política e a religião. No seio da Igreja Católica havia extravagância, corrupção e mundanismo. Daí veio a Reforma, por duas causas básicas: religiosas e políticas. Com a venda de indulgências a situação piorou. Lutero ergueu-se contra elas e pregou as 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, Alemanha. O povo, ansioso por mudança, viu em Lutero aquele que transformaria a Igreja. A partir de 1904, foram enviados missionários luteranos dos Estados Unidos, que organizaram a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, cujo principal objetivo era evangelizar. Essas igrejas possuíam pregações em português e alemão.  Pentecostais – Depois do movimento de santificação de John Wesley, na Inglaterra, reviveu a onda por um reavivamento nos Estados Unidos. Em Topeka, Kansas, na escola bíblica dirigida por Charles Parham, foi reconhecido o dom de línguas como sinal de identificação do batismo no Espírito Santo. A partir daí, Parham promoveu reuniões pentecostais em diversas cidades, onde muitos se santificaram. Em Los Angeles, o movimento pentecostal teve início num velho templo metodista na Azuza Street, 312. Essa missão pode ser considerada como ponto de partida do movimento pentecostal mundial, com o que concordou Emílio Conde, que traçou as origens das Assembléias de Deus no Brasil. DESTAQUES DO CRISTIANISMO NO BRASIL – SÉCULO XX

O século XX é marcado pelo fenômeno do pentecostalismo. Podemos classificar o movimento pentecostal em dois: pentecostalismo clássico e neopentecostalismo.

Pentecostalismo Clássico  Igreja Assembléia de Deus – 1910. Dois missionários, Daniel Berg e Gunnar Vingren, vieram da Suécia, foram aos Estados Unidos, tiveram experiências pentecostais e


19 vieram para o Brasil. O pastor Eurico Nelson tirou férias e deixou a igreja com o vice, porém os missionários ajudavam nos cultos. Num culto no terraço da igreja, começou a ensinar a prática de falar em línguas “estranhas”. Chegando pastor de férias, não concordou e os missionários saíram da igreja, levando um grupo, e fundaram a igreja pentecostal Assembléia de Deus.  Igreja Congregação Cristã no Brasil – 1911. Nasce em Paraná, vem para São Paulo. Uma igreja sem hierarquia. Não tem pastor, não tem organização institucional. Crescem bastante. Defendem que a salvação é somente na e pela igreja Congregação Cristã no Brasil.

Essas igrejas podem ser consideradas como uma ponte para o Neopentecostalismo  Igreja do Evangelho Quadrangular – 1951. Harold Williams. Ênfase firme em cura divina: doutrina do Espírito Santo.  Igreja O Brasil Para Cristo – Nasce em São Paulo, sai da Igreja do Evangelho Quadrangular, em 1956. Tentam montar uma análise com ênfase nos problemas sociais.

Neopentecostalismo  Igreja Pentecostal Deus é Amor – Fundada por David Miranda, 1961, em São Paulo. David é o primeiro a utilizar rádio para a pregação. Também, determinam a vida dos fiéis com várias regras.  Igreja Casa da Bênção – 1964. Belo Horizonte, por Doriel de Oliveira. Ação para buscar a camada mais precária da sociedade. Busca os marginais. Ênfase em expulsão de demônios.  Igreja de Nova Vida – Robert Macalister vem para o Brasil no final dos anos 50. Esse é o nascedouro da igreja, em 1961. Nasceu no Rio de Janeiro, e espalhou-se por São Paulo. Um pentecostalismo menos rígido quanto à vestimenta e outros costumes clássicos. Uma igreja tipicamente de classe média. Com a morte de Macalister, em 1991, a igreja enfrentou problemas e disputa de poder. O grupo dividiu-se e a igreja em São Paulo ficou liderada por Tito Oscar, chamada Igreja de Nova Vida e, no Rio de Janeiro, por Walter Macalister, chamada Igreja Pentecostal de Nova Vida.  Igreja Universal do Reino de Deus – 1977. Edir Macedo era da Igreja de Nova Vida, mas começou a destacar-se. Começa seu trabalho no Rio de Janeiro, numa igreja reunida numa sala que era uma antiga funerária. Marcavam as reuniões colando cartazes nas ruas. Abre programa de rádio, consegue patrocínios. Registraram como slogan próprio a frase: “Jesus Cristo é o Senhor”.


20

DESAFIOS PARA A IGREJA É preciso compreender e praticar o que diz Paulo em Romanos 12.2 “não vos conformeis a este mundo”, ou seja, não tomem a forma deste mundo. Paulo não está dizendo que a igreja deve ser alienada, isolada do mundo, nem tampouco de que deve ser secularizada, absorvida pelo mundo; mas que deve ser uma igreja contextualizada, que participa do mundo, influenciando, não sendo absorvida. Uma igreja que não tomou as formas desse mundo, ou seja, não está secularizada deve ter algumas características a saber: A primeira característica de uma igreja que não se secularizou é um profeta de Deus. A Bíblia diz que “não havendo profecia, o povo se corrompe” (Provérbios 29.18). Não pode haver profecia se não existe profeta. Mensagem é a segunda característica. Sem que haja profeta, não pode haver mensagem. Quando a igreja de Jesus Cristo tem o profeta de Deus consequentemente terá a mensagem de Deus. Outras características são a comunhão, serviço e disciplina, todas inteiramente ligadas à vida do cristão na igreja. É preciso ter compromisso com a igreja. A vida em comunhão, o serviço no Reino de Deus e a conduta disciplinada, mostram que preservamos o temor a Deus. A última característica é a expectativa da iminente volta de Jesus. A igreja é desafiada , então, a cumprir as ordens de Cristo. Ela deve manter-se fiel, participando da mesa do Senhor, tendo em memória o que Jesus fez e anunciando-o, através da pregação bíblica integral, até que ele venha. BIBLIOGRAFIA CAMPOS, Álvaro de Almeida. A História da Igreja – Popular. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 65p. LEITE FILHO, Tácito da Gama. Heresias, Seitas e Denominações. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1995. 152p. NASCIMENTO, Washington Roberto. Igreja e Secularização. Rio de Janeiro: Intercomm Publicações, 1995. 81p.


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