Salomao ventura

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EDIÇÃO ESPECIAL

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ILUSTRAÇÃO DE MARIO CAU E CAIO YOI 2


“Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer que as coisas não pareçam o que são.” (Cervantes, Miguel) Bem vindos de volta, aimgos do Absurdo. Hoje apresentamos a vocês a primeira Edição Especial de Contos do Absurdo, com o misterioso personagem de Giorgio Galli, Salomão Ventura. Nesta edição teremos as edições 01 e 02 deste personagem e, de quebra, diversas ilustrações especiais e um conto especialíssimo de Pietro Vaughn , além do “trailer” da edição 03. Sejam bem vindos ao Especial Contos do Absurdo. Esperamos que você, leitor, aproveite ao máximo esta fantástica jornada rumo ao bizarro, mas advertimos que quando regressar talvez já não seja mais o mesmo... Mario Mancuso Editor

Capa de Clóvis Brasil

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AGRADECIMENTOS

O

almanaque que você tem em mãos (se estiver lendo em tablet) ou no monitor à sua frente foi fruto de muito trabalho e dedicação. Não só meu, o “pai” do Salomão Ventura, que escreveu e desenhou as duas histórias completas que fazem parte desta edição, mas de um verdadeiro dream team das HQs independentes, amigos que aceitaram o convite para ilustrar as maravilhosas pin ups que também fazem parte deste álbum, assim como feras das letras que emprestaram seus talentos para escrever contos com o personagem. Por isso, gostaria de agradecer primeiro a você, leitor, que baixou esse almanacão do Salomão Ventura. Se você se interessou pelo tema e agora está prestes a ler, prepare-se para ver as lendas de nosso riquíssimo folclore de uma maneira como nunca viu. Se desse pra resumir, eu diria que é algo como “Moneiro Lobato on drugs encontra o selo Vertigo, da DC Comics”! Obrigado pelo interesse, pela divulgação (envie pros seus amigos) e, espero, pelo retorno (você pode dar suas opiniões e fazer comentários através do grupo do personagem nofacebook. com/SalomaoVentura). Meu muito obrigado também pro meu amigo, o editor desse álbum especial da Contos do Absurdo, Mario Mancuso. Foi dele a ideia de lançar uma edição só do Salomão Ventura! Abraço grande para o autora da belíssima (e terrível) capa desta edição, meu já antigo colaborador (e amigo), Clóvis Brasil. O cara se supera a cada trabalho, é impressionante. E não poderia deixar de agradecer a cada um dos ilustradores e escritores que aceitaram meu convite pra participar desta edição: Jota Silvestre (jornalista e estudioso das HQs) que escreveu o prefácio, Mario Cau, Caio Yo, Mario Mancuso, Bira Dantas, Will, Carlos Henry, Carlos Brandino, Lancelott Martins, Alex Genaro de Souza, Adriano Renzi, Flávio Pessoa, Pietro Vaughn, H-Minus, Marcel Bartholo e os internacionais Nik Poliwko e Rob Moran. Agradeço também aos que não puseram aceitar o convite por força das agendas apertadas... Sei que, de coração, vocês estão aqui nessas páginas! Bom, chega de enrolação e vamos para as histórias. Fica o desejo que todos tenham uma boa diversão... ... e bons pesadelos.

Giorgio Galli Araruama, Janeiro de 2013


E

stimulados pelas compras governamentais – por meio de programas como o PNBE e o ProAC – editoras e autores de HQs vêm se valendo da vasta literatura brasileira para criar suas adaptações e, quem sabe, faturar alto. Há, porém, um manancial ainda mal explorado: o folclore nacional. São poucas as HQs com esta temática; em sua maioria, limitam-se a perpetuar o caráter infantil dos mitos, encontrado nos livros didáticos para crianças. O primeiro quadrinho recente que li com uma abordagem diferenciada nosso folclore foi Zeladores (de Nathan Cornes e Anderson Almeida, lançado pela Devir em 2010): a trama policial bem humorada e com ares de anos 1970 mistura elementos de um thriller policial com coadjuvantes do naipe da Carochinha, Lobisomem, Mulher de Branco... e por aí vai. Com outra pegada, e ainda restrito ao circuito independente, eis que surge outro quadrinho brasileiro a explorar esta rica mitologia: Salomão Ventura. O personagem criado por Giorgio Galli é um “caçador de lendas”; cabe a ele capturar os monstros que fogem do imaginário e passam a aterrorizar o mundo real. Sim, monstros! Porque o que Galli faz é resgatar a origem sombria e maléfica dos mitos brasileiros amenizada com o passar do tempo. Esta edição especial virtual reúne as duas edições impressas de Salomão Ventura e histórias inéditas criadas com a participação de um time de primeira categoria de artistas brasileiros. É uma ótima oportunidade para conhecer ou rever uma abordagem inovadora dos nossos mitos e medos transportados para os quadrinhos. Boa leitura, mas prepare-se: a Cuca vem pegar!

JOTA SILVESTRE Jornalista, editor do site Papo de Quadrinho, e faz parte da equipe da Mundo dos Super-Heróis e Revista O Grito.

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SALOMÃO VENTURA #1

anos...

Em 2005, meio que do nada, me veio à cabeça a ideia de criar um detetive do sobrenatural, desses que a gente sempre vê nos quadrinhos americanos. Temos o John Constantine, o Vingador Fantasma, Dr. Treze, Blade o Caçador de Vampiros, e por aí vai. Mas eu não queria fazer nada que fosse gringo. Queria falar das coisas de nossa terra, não por ufanismo ou patriotismo desmiolado, mas simplesmente porque temos coisas muito legais aqui, e a meu modo de ver, pouquíssimo (e mal) exploradas. Foi aí que surgiu o Caçador de Lendas (ainda sem nome próprio na época). Pensei em um tipo meio mal vestido, largadão, barba por fazer e... cabelos vermelhos, amarrados em um rabo de cavalo (!). Bom, agora faltava um inimigo à altura do meu intrépido detetive. A escolha não podia ser mais óbvia: quem havia sido mais infantilizado em meio as nossas lendas do que o Saci Pererê? Pois bem, eu faria uma versão maligna do duende. Mudei somente o pé dele, agora mais parecido com o de um bode, mas mantive as características principais: cachimbo, gorrinho, etc. Esbocei um roteiro e fui à luta: em pouco mais de um mês, já tinha umas oito páginas prontas. Porém, como a vida não para, e ganhar dinheiro é preciso, fui obrigado a deixar meu Caçador de Lendas e seu algoz de lado. E assim ficaram por cinco

Corta para 2010. Estava concluindo minha segunda pós-graduação, dessa vez em Design e Ilustração. Era hora de preparar o Trabalho de Conclusão de Curso, e pra minha satisfação, a coordenação do curso nos liberou para fazer um trabalho prático/teórico. Minha primeira escolha foi fazer algo relacionado a personagem institucional, o popular “mascote”. Porém, como a bibliografia sobre o assunto não era muito completa, mudei o foco. Ora,se é pra trabalhar, por que não me divertir fazendo isso? E o que tem de mais divertido no campo da ilustração (pra mim) do que Histórias em Quadrinhos? Foi aí que me lembrei do Salomão Ventura e do Saci. O Caçador de Lendas ( que recebeu seu nome a partir de duas homenagens: Salomão foi um de meus queridos alunos do curso de quadrinhos Invasor, e Ventura o nome do dono da banca de jornais que me abasteceu de quadrinhos durante toda infância e adolecência), no entanto, parecia meio datado: Um cara ruivo, no Brasil? E de rabo de cavalo? Saci de gorrinho? E a história, então... um saci preso em uma caixa de cristal, que é libertado por acidente e causa morte a seus libertadores? Mas por que ele faria isso? Bem, era hora de começar de novo! Munido do conceito básico da série, preparei um novo roteiro, novas concepções visuais, e parti para a produção. Em um mês, consegui produzir oito páginas, além de 60 páginas de trabalho teórico, intitulado “A criação de uma História em Quadrinhos de Terror baseada no folclore nacional”. Fui aprovado, e um pouco antes da apresentação do TCC, surgiu outra oportunidade: a Oi, empresa de telefonia, tinha na época um projeto chamado Oi Quadrinhos, e lançou um concurso de HQs de terror. A história tinha que ter 3 páginas, mais a capa. Bom, eu já tinha material, então por que não tentar? O que mais me animou foi a banca que avaliaria os trabalhos: Shima, André Dahmer, Telio Navega, Danilo Beyruth... Inscrevi o Caçador e... tirei o primeiro lugar! Esses dois fatos - a aprovação no TCC e vencer o concurso - me deram a motivação que faltava pra concluir a revista, lançar o blog sobre o projeto, e logo depois imprimir a HQ! Depois vieram outros prêmios, a participação em eventos como o Rio ComiCon e o FIQ, etc. A história que você vai ler a seguir é uma espécie de versão do diretor: a sequência que mostra a “origem” do Saci (e que foi pesquisada na obra de Câmara Cascudo) recebeu duas páginas novas, preparadas exclusivamente para esse almanaque.

Boa leitura! E bons pesadelos...

Giorgio Galli

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SALOMÃO VENTURA #2 Bom, eu já havia estabelecido o universo do Caçador de Lendas na primeira edição, e muitos leitores me perguntavam: mas ele é humano? Por que ele já conhece o Saci? Ele tem poderes? E mais um monte de questões. Mas eu estava certo de NÃO querer responder todas essas perguntas de uma só vez. Achava (e ainda acho) que seria muito mais legal ir jogando pistas ao passar das edições. E nessa edição, a gente pode acompanhar se o cara é o tal... ou não. Já no final da primeira edição eu sabia que ia trabalhar o Curupira no número dois. Outro de nossos mitos, a meu ver, muito infantilizados. Caramba, o sujeito é o protetor de TODA a flora e fauna do país, e nos é mostrado como um anãozinho ruivo? Não para mim. O Curupira que eu imaginei era um cara poderoso, altivo, nobre e impiedoso. Não admitia a invasão de seus domínios, e nem que maltratassem seus súditos. Uma espécie de Rei Arthur encontra Tarzan, com uma pitada de Conan! E tudo isso embalado por uma concepção visual que mantia sua característica principal, os pés voltados para trás, mas mudava todo o restante: ele era uma criatura com dois metros de altura, extremamente forte, cabelos estilo rastafari e uma “coroa” de chifres saltando da testa. Como pano de fundo, usei um tema muito em voga: a biopirataria. E, assim como na primeira edição, Salomão Ventura não aparece tanto na história, ele é mais um espectador do que um caçador propriamente dito. E você está prestes a saber o porquê. Boa leitura... E bons pesadelos!

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VINGANÇA by Pietro Vaughan I O caminhoneiro sorri. Um sorriso amarelo, de uma boca com dentes faltando, com bafo de cigarro e bebida barata. Hoje, ele tirou a sorte grande. Duas gostosas de uma só vez, não é para qualquer um. Maliciosamente ele escorrega a mão direita pelas coxas da gostosa sentada ao lado dele. Ela parece não se importar com sua mão áspera e ansiosa. Ela gostou da ousadia dele. Ele se arrisca ainda mais subindo suas mãos gordas por dentro do vestido curto dela. A outra gostosa, a mais jovem das duas, assiste tudo com olhos arregalados. Uma sorri para a outra. Elas se aproximam e se beijam na boca. O caminhoneiro não resiste e grita: - Eitá! Elas riem. Ele abaixa o volume do rádio que toca músicas sertanejas bregas e mal cantadas. Ele está quase explodindo de tesão, está há duas semanas sem mulher, desde que pegou a estrada deixando a esposa e um casal de filhos. Ele está atrasado no cronograma de entrega, mas agora não importa. Ele seria louco em negar fogo para aquelas duas safadas chegadas num cara mais velho.

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Ele acelera o Volvo até uma parada de caminhoneiros. Estaciona na primeira


vaga que encontra e desliga o motor. - Quanto... vocês vão me cobrar? - Nossa! – diz a mais velha ofendida com a pergunta. Ela sorri de forma safada para o caminhoneiro – Estamos aqui para nos divertir. O caminhoneiro gosta da resposta. - É melhor a gente ir lá pra trás. – diz ele tirando a camisa suada e indo para parte de trás do banco no pequeno espaço reservado para dormir.

Elas não o acompanham. - Vocês não vêm? – ele pergunta. - Você já tem companhia. – diz a mais velha. Com o barulho dos caminhões, ninguém conseguiu ouvir o grito dele. II

- É o quarto cara que encontramos desse jeito só esse mês. – comenta o delegado com o policial. Ver o caminhoneiro naquele estado revira o café da manhã no estomago do delegado de policia da pequena cidade de Padre Otílio no interior de Minas Gerais. Pouco ainda se sabia sobre o caminhoneiro. A certeza que se tem, pelas roupas que restaram, é que era um homem obeso, mas ali sobre o colchão atrás da cabine não restava mais que um amontoado de pele seca e ossos. Como se tudo que havia nele houvesse sido sugado. O delegado desvia os olhos do corpo do caminhoneiro atraído pela agitação das pessoas atrás da faixa da policia que protege o perímetro. Em poucos minutos, quase metade da cidade estava ali na parada de caminhões na Rio-Bahia para acompanhar o que estava acontecendo. Criando teorias. Aumentando a história. A mulher da vida que encontrara o corpo já havia dado seu primeiro depoimento e havia sido encaminhada para a delegacia. No meio da multidão o delegado reconheceu alguns jornalistas locais e alguns da capital que chegaram de helicóptero para cobrirem o caso dos caminhoneiros encontrados apenas pele e osso. “Por que comigo?”, se pergunta o delegado sabendo que estava ferrado. Enquanto os casos ocorreram nas outras cidades, tudo estava bem. Mas Padre Otílio não tinha os recursos para uma investigação decente, tinha além do delegado mais dois policiais e o legista era um preguiçoso emprestado de outra cidade. Numa cidade com pouco mais de quinhentas pessoas as únicas prisões que ele havia feito nos últimos meses era por roubo de galinha. O delegado percebe que alguém o está encarando. Ele encontra o rapaz que o olha e o homem estranho, que ele nunca vira por aqueles lados, com suas roupas amassadas, cabelo comprido e barba por fazer, não desvia o olhar. “O assassino voltando a cena do crime?”, se pergunta o delegado e a resposta é imediata “Claro que não, isso é chavão ruim de filme policial” O suspeito se desinteressa da situação. Dá as costas e sai desaparecendo entre as pessoas. - Já há algum suspeito? – grita um jornalista. O delegado logo se esquece do homem.

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III Carlos canta acompanhado Elvis Presley. O maior sonho de sua vida sempre foi ser cantor de rock, ele até foi incentivado por sua mãe, mas como nunca teve talento ou dinheiro para investir na carreira, acabou como caminhoneiro, fazendo shows esporádicos em paradas de caminhoneiros e restaurantes de beira de estrada. Os faróis do Scania iluminam duas adolescentes pedindo carona. Ele conhece um pouco aquela região e sabe como aqueles lados são perigosos. Ele freia poucos metros depois e elas correm até ele. Ele abre a porta do passageiro para elas. - Meninas... é perigoso andar por essas bandas tão tarde da noite. Pra onde vocês vão? A mais velha dá um sorriso irresistível para o caminhoneiro. Ela é a primeira que sobe para a boleia. - Você pode nos levar para casa? – ela pergunta de uma forma inocente. A outra menina sobe. Elas são lindas e Carlos apenas responde: - Claro. Onde vocês moram? - É logo ali. – diz a outra menina apontando para o centro de Padre Otilio. O caminhão toma aquela direção. - Quem tá cantando? – pergunta a mais velha puxando assunto e examinando o caminhão cheio de fotos de Elvis Presley e outras celebridades dos anos 50 e 60. - Elvis Presley. O melhor cantor da história. Você nunca ouviu falar dele? – a menina balança a cabeça negativamente - Quantos anos vocês tem? - Somos bem grandinhas. – diz a mais jovem se intrometendo na conversa. Carlos entra com o caminhão nas ruas estreitas e de paralelepípedos de Padre Otílio. Enquanto dirige ele vê as luzes das casas se acendendo e moradores saindo para ver o caminhão passando pesado pelas ruas. - Em qual rua vocês moram? – ele pergunta. - Na verdade – diz a mais velha - nós estamos indo para a casa da nossa irmã. É só virar a esquerda e depois a primeira a direita. Carlos obedece. A rua termina em frente ao cemitério. Supersticioso ele olha assustado para as meninas. Ele já ouvira algumas estórias de assombrações pedindo carona, mas jamais imaginou que pudesse viver uma. Os faróis iluminam a frente do cemitério e seus olhos brincam com ele dando a impressão que tem alguém ali parado. - Como podemos fazer para pagar essa carona? – pergunta a mais velha passando a mão esquerda no pacote dele. Carlos reage empurrando a mão dela e se afastando. - Está maluca? – ele grita. - Estamos sim... – diz a mais nova com um olhar faminto – por você. Eu sei que você quer um agradinho. -Meninas, vocês são muito novas para pensar numa coisa dessas. Eu seria um grande filho da mãe se fizesse uma coisa dessas com uma menina que tem idade

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para ser a minha filha. Vocês estão entregues, agora podem descer. - E se a gente não quiser ir embora? Queremos ficar com você. Ela e a mais nova se beijam na boca. Carlos vira o rosto, se arrependendo de tê-las dado carona. “No que foi que me meti”, ele pensa. De súbito a porta do passageiro se abre e as duas meninas são arrancadas do caminhão e jogadas com violência na rua. A única reação que Carlos tem é levantar as mãos assustado. Salomão Ventura se senta no lugar das meninas e o olha com profundidade. Carlos não consegue pensar em nada para dizer. Está preso no penetrante olhar púrpura do homem de roupas amassadas. - Saia daqui – diz Salomão - Dirija tranquilamente até a próxima cidade e procure um hotel. Descanse bastante. Você é um bom homem e não merece morrer hoje. Da mesma forma abrupta que entrou, Salomão salta do caminhão. Ele espera que Carlos dê a partida e saia. Ele procura no ar o rastro das meninas. Ele sabe onde elas estão. Com agilidade sobre-humana ele salta o portão do cemitério, correndo atrás do rastro que elas deixaram. IV Há todo momento Ana olha para trás com medo que o estranho apareça. - Ele tá atrás da gente. Eu tenho certeza. – ela grita para a irmã mais velha que há alguns passos a frente corre. Maria, não está preocupada com o estranho. Ela só está preocupada em encontrar outro caminhoneiro. - Vamos parar um pouco – Ana implora. – não tô aguentando mais. - Não dá, precisamos voltar para a estrada. Maria tromba em Salomão e cai. Ana grita, ela até tenta correr na outra direção, mas da mesma forma Salomão aparece na frente dela. - Onde ela está? – Salomão pergunta erguendo Ana pelo pescoço com uma das mãos. – O que vocês pensam que estão fazendo?. Maria o golpeia com um pedaço de madeira. Salomão não sente o golpe, apenas a olha com desprezo. - Estou fazendo um bem a vocês evitando que a coisa fique ainda pior para vocês e o próprio capeta venha atrás de suas almas. Só vou perguntar mais uma vez – ela encara a Ana – Onde está a sua irmã? - Eu nunca vou entrega-la. Eles merecem o que estão passando. Maria grita cheia de raiva e o esmurra. Salomão apenas a empurra para longe. Da mesma forma, ele joga Ana no chão. Ao se levantar, Maria esbraveja: - Minha irmã era uma boa pessoa. Carmen vendia frutas na estrada para ajudar nossa família. Um caminhoneiro a pegou na estrada. A violentou, jogou fogo nela ainda viva e a deixou queimando. Eles merecem! Eles merecem! – ela grita entre lágrimas.

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Também furiosa, Ana começa a falar. - Nosso pai nem deixou que a enterrassem no cemitério. Ele disse que a culpa foi dela. Homens! Como ele pode dizer isso. Ele também vai pagar e vamos matar todos os caminhoneiros até encontrarmos o maldito que a matou. De uma forma gentil, Salomão as ajuda a se levantarem e diz: - Concordo que o bastardo que matou sua irmã, merece morrer. Façamos um trato, se vocês me levarem até ela, prometo que faço o safado que a matou pagar. Elas concordam. Quinze minutos depois de uma caminhada mata adentro, Salomão encontra uma pequena cruz de madeira indicando uma cova rasa. Ele quebra o tronco de uma arvore e com ela cava a terra fofa. Não demora muito para que ele encontre o esqueleto carbonizado de uma jovem. O farfalhar das folhas das árvores indica que a jovem também está ali. Ele a vê, com rosto contorcido em dor e a vontade de matar. grito

- Não pense em me enfrentar. Você não é páreo para mim. Ele joga diesel e risca um fosforo. - Você ainda vai me agradecer. As chamas iluminam a noite sem estrelas e apenas Salomão Ventura ouve o de dor daquela jovem. Quando ele volta, Maria o pergunta: - Acabou? Ela agora vai descansar? Ele não responde, some na escuridão.

VII Jefferson liga o caminhão e toma a estrada. As mortes na região de Minas Gerais, finalmente acabou. Agora está mais calmo dirigir para aqueles lados. É a primeira entrega que ele faz para em Minas Gerais depois de muito tempo. São horas silenciosas dirigindo. Seu coração se agita ao passar perto da cidade que mudou sua vida. - É melhor você parar – diz Salomão sentado no banco do passageiro. Jefferson grita assustado, o caminhão balança na estrada quase saindo da pista. - Quem é você? – Jefferson pergunta se recuperando do susto. - Pare o caminhão. – ordena Salomão e Jefferson obedece. Salomão abre a porta do caminhão para Ana e Maria e diz simplesmente. - Ele é o assassino de sua irmã. Salomão impede que as duas avancem sobre ela. Jefferson se defende. - Eu não queria fazer aquilo. Não sei o que deu em mim. Ela deu bola pra mim eu juro. Depois não quis nada. A culpa foi dela, não minha. Eu juro. Sou inocente. Não foi minha culpa. Salomão empurra Ana e Maria para fora e antes de fechar a porta diz: - Diz você a ela sobre sua inocência. – e sorrindo para Carmen ele continua – Ele é todo seu.

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Jefferson vê o rosto dela, pelo retrovisor do caminhão e grita desesperado. Salomão bate com força a porta do caminhão e diz para Ana e para Maria - Agora acabou! - O que vai acontecer conosco? – Ana ousa perguntar. Ele não responde, simplesmente desaparece.

ILUSTRAÇÃO DE Lancelott Martins 55


PIN UPS

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ILUSTRAÇÃO DE WILL

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ILUSTRAÇÃO DE CARLOS BRANDINO 58


ILUSTRAÇÃO DE BIRA DANTAS 59


ILUSTRAÇÃO ILUSTRAÇÃO DE MARIO DE CAU flavio E CAIO pessoa YOI

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ILUSTRAÇÃO DE GENARO 62


ILUSTRAÇÃO DE Nik Poliwko 63


ILUSTRAÇÃO DE MARIO MANCUSO 64


ILUSTRAÇÃO DE H-MINUS 65


ILUSTRAÇÃO DE MARCEL BARTHOLO 66


ILUSTRAÇÃO DE Rob Moran 67


ILUSTRAÇÃO DE CARLOS HENRY

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ILUSTRAÇÃO DE RENZI 69


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de

Giorgio Galli G

iorgio Galli é jornalista, ilustrador e designer, e apaixonado pela Nona Arte desde guri. Trabalha com Quadrinhos Institucionais há 15 anos, mas somente em 2010 iniciou a produção de quadrinhos autorais, ao vencer o concurso promovido pela empresa de telefonia Oi, quando lançou seu personagem “Salomão Ventura –

Caçador de Lendas”, que faz uma releitura do folclore brasileiro sob o prisma do terror fantástico. Nesse mesmo ano Giorgio lançou o primeiro número da revista, e em 2012 entrou para o Coletivo Quarto Mundo, lançando sob este selo a segunda edição da HQ. Atualmente o autor está produzindo a terceira edição impressa, com previsão de lançamento em março. Giorgio vive em Araruama, Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, e não acredita em Saci, Lobisomem e Mula-SemCabeça, mas sabe que eles existem.

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