Revista Em Transição - Ed.01

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FICHA TÉCNICA

Revista Colaborativa Em Transição Piracicaba | Maio | Ano 0 | Edição nº 1

Editora:

Luciana Jacob Projeto gráfico:

Thiago D’Angelo Concepção:

Ricardo Zylbergeld Colaboradores desta edição:

Alice Brülé Auira Terreri Karine Faleiros Marcus Vinicius Sato Rafael Falcão Renato Morgado Rodrigo Munhoz Ricardo Zylbergeld

Esta revista é uma ferramenta do Movimento Piracicaba em Transição. 2

Plataforma: www.piracicabaemtransicao.com.br Twitter: @piracicabaemtransição Facebook: facebook.com/PiracicabaEmTransicao e-mail: dialogue@piracicabaemtransicao.com.br


SUMÁRIO

Editorial................................................................................04 Movimento de Transição..................................................... 06 Economia Solidária........................................................... 08 Arte...................................................................................10 Cidades Sustentáveis........................................................ 11 Educomunicação................................................................12 Relato....................................................................................14 Histórias (d)e receitas.........................................................15

Esta revista eletrônica é resultado de um esforço colaborativo de entidades, comunidades e indivíduos, engajados em criar canais diretos de comunicação, com intuito principal de tecer uma rede de fomento às mudanças locais. Portanto... Leia, comente, participe. Todos os textos desta edição podem ser encontrados no site www.PiracicabaEmTransicao.com.br. Nesta plataforma social, você poderá deixar seus comentários e conhecer a opinião de outros leitores. Se você deseja enviar textos e sugestões, ou colaborar com a revista, envie uma mensagem para dialogue@piracicabaemtransicao.com.br Baixe, divulgue e compartilhe. Sinta-se à vontade para fazer o download desta revista. Divulgue para seus conhecidos e nas suas redes sociais, compartilhe este arquivo livremente*. Imprima, afixe, empreste. Este documento foi estruturado para facilitar a sua impressão. Imprima uma cópia para ler, emprestar ou afixar no mural de sua comunidade. Se sua comunidade não tem condições de imprimir este material, entre em contato conosco. *Este trabalho está registrado com a licença de Creative Commons - Atribuição - NãoComercial Sem Derivados. A reprodução deste material é permitida para uso NÃO comercial, perante a citação de seus autores e sem alterações em seu conteúdo.

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EDITORIAL

Piracicaba: ativismo, mobilização e participação social por Luciana Jacob

Piracicaba tem hoje, segundo o IBGE, 364.571 habitantes distribuídos em 1.377 km2. A maioria são mulheres (51%) e moram na zona urbana (97%). Em 2000, havia aproximadamente 35.000 pessoas a menos no município. A expansão de Piracicaba se dá a olhos vistos. Quem mora aqui há tempos percebe claramente que o número de automóveis nas ruas aumenta, a indústria cresce, os cursos superiores e universidades se multiplicam, a arquitetura se moderniza, a população de árvores diminui e o número de pontes aumenta; parte da cidade enriquece e grande parte dela fica à margem disso. Para além da exclusão social, temos enfrentado desafios relacionados à quantidade e qualidade da água para a população, poluição do ar, falta de áreas verdes, estreitamento e precariedade das condições de mobilidade urbana (segundo a Semutran, chegamos a 1 automóvel para cada 3 habitantes), pauperização do lazer e cultura, entre vários outros desafios comuns a cidades brasileiras do porte de Piracicaba. Entretanto, o que se percebe também é que a sociedade tem procurado cada vez mais espaços de interlocução e enfrentamento a estas questões. Temas como meio ambiente, cidadania, sustentabilidade, direitos humanos, direitos dos animais, mobilidade urbana, transparência pública, juventude, multiculturalismo, arte, bem-estar, saúde pública, entre outros, têm agregado pessoas preocupadas 4

com questões locais, que as atingem diretamente, e têm deflagrado movimentos cada vez mais consistentes de busca de respostas ao modelo de desenvolvimento hegemônico e excludente colocado para o município. Quem são as pessoas, grupos e coletivos que se organizam em nossa cidade em torno destes temas? Quais são as ações da sociedade civil que buscam autonomia e melhoria da vida da população, tendo como ponto de partida e fio condutor a participação social? Como estes grupos são gestados? Sem a pretensão de responder exaustivamente e esgotar estas perguntas neste editorial, faremos o exercício de começar a elaborar uma lista de iniciativas que, por experiência, vivência ou porque tomamos conhecimento através dos meios de comunicação, tivemos a oportunidade de conhecer. Movimentos, instituições, grupos: células de resistência e transformação social. Em Piracicaba existem movimentos e instituições que têm como foco principal não só o enfrentamento da crise ambiental, mas a construção de outras formas de viver e se relacionar com o ambiente. Listamos aqui iniciativas como a do Instituto Terra Mater e um de seus projetos, a Rede Guandu de Produção e Consumo Responsável; a Florespi, atuando por meio da proteção, recupe-

ração e ampliação de florestas e de recursos hídricos; a Pleno Sol Cozinha Solar, que vem desenvolvendo, aplicando e promovendo o cozimento solar; o SlowFood Convivium Piracicaba; o Instituto Ambiente em Foco; o grupo envolvido com a Mobilidade em Piracicaba; o Projeto Estação Travessia, que atua com jovens da área rural de Tupi; o Instituto Ambiente Total; o Coletivo Educador Piracicauá e suas diversas instituições participantes; entre outros. Em prol dos direitos dos animais e da promoção de condições de sua saúde e bem-estar, mapeamos a ONG Vira Lata Vira Vida e a SPPA - Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais. A luta por direitos humanos em seus variados aspectos vem sendo conduzida por instituições como o CASVI (Centro de Apoio e Solidariedade à Vida), com enfoque na sexualidade; pela PASCA, através de projetos sociais com crianças e adolescentes; pela U-topos, Associação de Saúde Mental, Educação e Direitos Humanos de Piracicaba; e pelo Rumo, que atua na promoção social e educacional com crianças, jovens e mulheres de baixa renda, em situação de vulnerabilidade pessoal e social. Ações que visam o controle social têm sido protagonizadas por projetos como o Piracicaba Sustentável (IMAFLORA); o grupo que se reúne em torno da Transparência Pública e Combate à Corrupção; a ONG AmaPira - Associação dos Amigos da Cidadania e


do Meio Ambiente de Piracicaba; o Projeto Pira 21 – Piracicaba realizando o futuro; além de diversas associações de moradores de bairro. Com uma perspectiva mais ativista atua o Movimento Pense, composto por diversos jovens da cidade. A cultura e a comunicação, em interface com as outras temáticas e buscando alternativas contra-hegemônicas, vêm sendo promovidas por grupos como o Ponto de Cultura Educomunicamos!, através dos eixos educomunicação, educação ambiental e arte; o SUP – Serviço de Utilidade Pública, que se configura como uma ferramenta de comunicação livre; o Coletivo Piracema, espaço do Circuito Fora do Eixo em Piracicaba; o coletivo de Hip Hop Pegada de Gigante; o Ponto de Cultura Arte Garapa, instrumento de fomento

da cultura piracicabana; e a Casa do Hip Hop, que realiza atividades culturais e esportivas voltadas aos jovens. Diversas são as histórias, as missões, as formas de atuação, o tamanho, a disponibilidade de recursos, os públicos-alvo: tão diversos quanto as iniciativas. Esperamos ter deixado de listar muitas outras que ainda não conhecemos, na expectativa de que elas possam pedir a palavra e se fazer conhecer. Ao olharmos para este incipiente panorama do movimento social em Piracicaba, algumas percepções surgem: constatamos que não somos poucos; percebemos que estamos atuando em diversas frentes e que as ações podem ser potencializadas se aprimorarmos nossos mecanismos de comunicação e ação conjunta. Reconhecemos que a força que provém de possíveis co-

nexões está latente e em breve vai emergir de forma transformadora. Uma das propostas do Movimento de Transição é justamente essa: agregar, apoiar e fazer ressoar movimentos que ainda não estão integrados entre si. Através da promoção do diálogo, tanto real quanto virtual, e da aposta na força que reverbera a partir dele, o Movimento de Transição aponta em Piracicaba como um possível catalisador da participação e transformação social. Temos a expectativa de que esta revista seja um espaço de voz para estas instituições, iniciativas e movimentos; mais que isso, que os grupos se apropriem deste espaço e construam de forma autônoma maneiras de se comunicar, interagir e se fortalecer, na busca coletiva de uma Piracicaba mais equânime e sustentável. 5


Movimento de Transição por Ricardo Zylbergeld

Enquanto o assunto do momento é a Rio+20 e suas possíveis resoluções, muitas comunidades em todo o globo já começaram a redesenhar sua relação com a Terra, com seus membros e com a vida, a partir da mudança de hábitos do cotidiano. Buscando uma vida mais plena e maior agilidade na resolução de seus problemas locais, estas comunidades se organizam, criando espaços de diálogo, participação e convivência, proporcionando, assim, um ambiente adequado para a emergência de ferramentas comunitárias inovadoras. Um dos movimentos que mais cresce, neste sentido, é o Movimento de Transição (Transitio Towns). Criado pelo permacultor inglês Rob Hopkins em meados dos anos 2000, tornou-se um grande experimento coletivo de reação comunitária aos desafios econômicos e climáticos, especialmente o aquecimento global, o pico do 6

petróleo e a desigualdade social. Atualmente, são mais de 2000 iniciativas de transição (cidades, bairros, ruas, vilas) em todo o planeta, incluindo 10 grupos no território nacional, aproximadamente. Este processo é iniciado, frequentemente, por pequenos grupos de vizinhos ou associações de bairro (muitas vezes, com suporte de ONGs e outras entidades locais), desenvolvendo atividades colaborativas como a criação de hortas em terrenos comuns, mutirões de limpeza e reforma de áreas comunitárias, oficinas de trabalhos manuais, culinária, marcenaria, entre outras habilidades e tecnologias por muitos esquecidas. O resultado natural destas primeiras atividades é um resgate da identidade comunitária, preparando um solo fértil para semear tanto os sonhos coletivos, quanto os de realização individual. O estágio seguinte é a criação de espaços efetivos de sensibi-

lização, diálogo, participação e autogestão, onde a comunidade compartilha experiências, traça seus planos estratégicos e organiza diversas atividades, como feiras locais e outras mobilizações socioculturais, ampliando seu capital social e, portanto, o impacto potencial da iniciativa. Nesta fase, é comum que os membros da comunidade se organizem em grupos temáticos para dialogar e propor soluções quanto à mobilidade, segurança, gestão, segurança alimentar, políticas públicas, entre muitos outros assuntos.Outros membros se organizam em empreendimentos econômicos para suprir as necessidades comunitárias e muitas iniciativas chegam a criar moedas sociais, fortalecendo a economia local. Atualmente, existem iniciativas de transição em vários estágios de desenvolvimento, algumas delas já restabeleceram bons níveis de resiliência, inclusive com produção local de energias renováveis.


Porém, como definir o Movimento de Transição em poucas linhas? O Movimento de Transição estimula as comunidades a desenharem soluções para uma sociedade menos dependente de energia, mais resiliente, e que nos proporcione uma vida plena de experiências e relações ricas e prazerosas, a partir de suas realidades locais. “Ao liberar o gênio coletivo da comunidade podemos desenhar formas de viver mais enriquecedoras, prazerosas e resilientes” A palavra chave no Movimento de Transição é resiliência. Criar células interdependentes de resiliência local, a partir de atitudes comunitárias positivas e celebrativas, é a estratégia global do movimento. Para o movimento, os pilares da resiliência são: a relocalização, a recapacitação e o re-empoderamento. A relocalização é uma estratégia de fortalecimento da economia local, a partir do estímulo à produção, distribuição, comércio e consumo de bens e serviços, em escala comunitária. A recapacitação visa resgatar habilidades que nos tornam capazes de solucionar nossos problemas, com baixa dependência de atores externos (plantar, construir, costurar, cozinhar, autogerir, consertar etc), principalmente com recursos locais. O re-empoderamento é o sentimento coletivo quanto à ca“Pensar localmente, Agir localmente e conectar-se até o nivel global”

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pacidade e responsabilidade de se organizar, de realizar e de mudar sua realidade, a partir da força do coletivo. Qual o panorama do Movimento de Transição em Piracicaba? Em Piracicaba, o Movimento começou com o intuito de mapear e estabelecer um canal de comunicação entre as entidades, as comunidades locais, os movimentos e iniciativas socioambientais e todos os atores do cenário da participação e da expressão popular. Promovendo atividades de sensibilização e desenvolvendo ferramentas e espaços de diálogo e participação (como grupos de trabalho temáticos), o movimento local pretende tecer uma grande rede de engajamento e informação, que venha fomentar o aparecimento e o desenvolvimento das iniciativas locais de transição (onde acreditamos que a verdadeira mudança aconteça). O Piracicaba Em Transição (piracicabaemtransição.com.br), nome do grupo de articulação local, é um grupo aberto, democrático e participativo. Venha participar! “Se esperarmos pelos governantes, será pouco e tardio. Se agirmos individualmente, será pouco. Mas, se agirmos como comunidades, será o suficiente e no tempo certo”

Ao invés de esperar as resoluções da Rio+20 e a lenta reação dos nossos governantes quanto ao futuro do nosso planeta, você não quer ser, já, ”a mudança que deseja ver no mundo”1?

”Seja a mudança que você deseja ver no mundo” - Mahatma Gandhi

Alguns conceitos-chave para entender o Movimento de Transição:

Resiliência:

é a capacidade de suportar choques externos e adaptarse às mudanças (desafios energéticos, econômicos e ambientais).

Autogestão:

acontece quando um organismo é administrado pelos seus participantes em regime de democracia direta, onde todosparticipam das decisões em igualdade de condições.

Aquecimento global:

é o aumento da temperatura média dos oceanos e do ar perto da superfície da Terra.

Pico do petróleo:

acontece quando a produção de petróleo do planeta chega ao seu nível máximo, sendo sucedida por um declínio exponencial até sua fase terminal. Muitos estudiosos acreditam que já passamos deste ponto, porém, os mais otimistas preveem este acontecimento para não mais do que 15 anos.

Iniciativas de transição:

grupos locais que iniciaram um processo em busca de uma vida comunitária mais harmônica e resiliente.

Moedas sociais locais:

são moedas de circulação restrita, que beneficiam a redistribuição da renda e fortalecem a economia local. 7


ECONOMIA SOLIDÁRIA

O outro jeito de cuidarmos da nossa casa por Marcus Vinicius Sato

O significado de economia vem do grego. Oikos quer dizer casa e nomos significa lei, gerir ou administrar. Portanto, quando falamos de economia abordamos o cuidado com a casa. Mas que casa é essa? A minha? A sua? Não, essa casa que falamos é a nossa, o nosso planeta. Quando participamos da economia estamos mudando a nossa casa, estamos administrando o planeta Terra. Assim temos que refletir profundamente sobre o real significado da Economia Solidária, que pode ser definido brevemente como “responsabilidade e compromisso social de gerir a nossa casa”. A Economia Solidária é outro modo de cuidarmos da nossa casa, outra forma de economia que leva ao benefício, ao cuidado com o planeta Terra e seus habitantes. É um jeito diferente de produzir, trocar, vender, comercializar, financiar e praticar economia. Na Economia Solidária considera-se que todos os trabalhadores são iguais, não existindo a hierarquia. Os ganhos são divididos de forma igualitária entre todos os envolvidos e cada um faz a sua parte na realização do todo. O ser humano é valorizado pelo seu trabalho e respeitado pela sua cultura e tradição. Mas não é só esse o enfoque dessa economia. O planeta Terra é a nossa casa e é ela que nos sustenta. O cuidado com o meio ambiente é outra base que constitui a Economia Solidária. Nela o respeito e cuidado com 8

o ecossistema são imprescindíveis. Não devemos causar danos à nossa casa e sim fortalecê-la. Assim, ao praticar a Economia Solidária estamos nos envolvendo mais com o nosso planeta e com as pessoas, e desenvolvendo a responsabilidade mútua que a sociedade deve ter com a nossa casa: o nosso planeta. Cooperativas, redes de consumo, compras coletivas e agricultura familiar são exemplos de alguns coletivos que fomentam e formam a Economia Solidária. Ela traz a mudança de conceitos atuais de relações humanas, ambientais e políticas. Visando articular a venda de produtos ecológicos da região de Piracicaba, um grupo de pessoas se mobilizou e se organizou sob a forma de rede de consumo. Essa rede foi se desenvolvendo e hoje é conhecida como a REDE GUANDU – PRO DUÇ ÃO E CONSUMO RESPONSÁVEL. Dentro da Economia Solidária a Rede Guandu se encaixa como um grupo de consumo. Ela fortalece cooperativas, pequenos produtores e a agricultura familiar. Quem consome na Rede Guandu colabora com o cuidado da nossa casa, respeitando aqueles que nela habitam e trabalham. Portanto, para fazermos o bem ao nosso Planeta devemos refletir sobre o nosso consumo, as nossas relações pessoais e o nosso comportamento diante nossa casa. Acesse: www.terramater.org.br


“Você sabe quem é seu cabeleireiro, tem um médico de confiança, só leva o carro a um único mecânico, mas não conhece quem fez o pão que come e nem sabe como plantam o seu tomate.” 9


ARTE

Ciranda poética Uma brincadeira de palavras para o encontro com o Ser por Auira Terreri e Rafael Falcão

“Sentia mais prazer de brincar com as palavras do que de pensar com elas. Dispensava pensar.” Manoel de Barros

Em abril realizamos no Ponto de Cultura Educomunicamos! a primeira oficina de fazer poético, denominada carinhosamente por nós de Ciranda Poética. Aproveito, pois, o convite da Revista Em Transição para compartilhar com vocês o que é a Ciranda Póetica, como se deu e qual foi o resultado final desta primeira oficina e, claro, para convidá-los para as próximas Cirandas! A ideia das oficinas poéticas surgiu da vontade de ver a palavras se mexerem, brincarem, pularem, adquirindo novos sentidos e, assim, nos fazerem pensar e repensar no sentido delas e, como conseqüência, no nosso próprio sentido e no do mundo em vivemos. Explico melhor. Com o dia-a-dia nos acostumamos a receber as palavras e seus significados como sentidos usuais. Deixamos as palavras que habitam nosso cotidiano duras e diretas, dizendo apenas aquilo que nos acostumamos a vê-las dizer. Pobres palavras sem múltiplas-significações. É nesse contexto que surge a “Ciranda Poética”, que nos convida para “brincar” em roda com as palavras, as nossas e as dos outros. É por meio de brincadeiras com os vocábulos, com as poesias, com os imaginários e nossos corpos que (re)criamos poesias, histórias, músicas e repensamos as palavras, dando, 10

dessa forma, nova significação a elas e ao nosso Ser, pois a formação do nosso EU se dá justamente pelo uso das palavras. Assim, ideia e prática se uniram e realizaram duas das sete oficinas da Ciranda: Tarôt Poético e Costura de Poesia, que aconteceram da seguinte maneira: nos sentamos em roda em meio a muitos papéis, livros, canetas e tecidos e demos início ao “Tarôt”. Neste momento, escolhemos aleatoriamente palavras recortadas para formarmos a nossa poesia. O resultado? Produções com interpretações surpreendentes e associadas à vida dos agora novos poetas; daí o nome de caráter adivinhatório desta oficina. Já a Costura de Poesia se dividiu em duas prazerosas partes. Na primeira delas, escolhemos poesias para declamar. Estas podiam ser de própria autoria, lembranças da infância, memórias, as recém feitas no Tarôt, as dos livros disponíveis na cesta permanente no centro da roda ou as penduradas no Varal de Vocábulo, parte do ambiente composto para as práticas. Na sequência, escutamos as declamações e, ao mesmo tempo, tratamos de anotar alguns versos que nos afeiçoamos quando escutados. Na segunda parte, estes versos anotados foram “costurados” uns aos outros de forma coletiva, na qual nós participantes incluímos nossa parte, nosso “retalho”, no momento que sentimos mais propício para lograr um significado único à poesia que estava em processo de construção. Desta oficina, saiu a seguinte produção conjunta:

Carta de Separação Mulé Maluca, Acordei bemol

e tudo estava sustenido.

Preguei meus olhos no céu

Passa nuvem, passa estrela,

nenhuma era totalmente bela. Adeus cidade maldita, incapaz de ir à luta.

O tempo tem tanto tempo, estou por aí, nem sozinho, nem acordado.

Me acompanha o vazio aqui do lado.

Vou sepultar-me no céu,

pois com amor não se paga, amor é de graça, não se conjuga.

A incerteza de tudo

é a certeza do nada! Homem Maluco

Gostou da ideia? Participe das próximas Cirandas que serão realizadas! Auira Terreri lapetroleuse.blogspot.com.br Rafael Falcão rafaelpiracema@gmail.com


ACONTECE

Programa Cidades Sustentáveis por Renato Morgado

Com o lançamento do Programa, Piracicaba ganha um importante instrumento para a construção de uma cidade mais justa, democrática e sustentável.

No dia 18 de maio foi lançado em Piracicaba o Programa Cidades Sustentáveis. Uma iniciativa do Instituto Ethos, da Rede Nossa São Paulo e da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, o Programa oferece aos pré-candidatos a prefeito, aos partidos políticos e a toda sociedade uma agenda completa de sustentabilidade, baseada em 12 eixos temáticos; um conjunto de indicadores associados a esta agenda; e uma plataforma de experiências nacionais e internacionais a serem seguidas pelos gestores públicos municipais. O Programa tem por objetivo conquistar a adesão do maior número de pré-candidatos às prefeituras de todos os estados do Brasil e de presidentes de partidos políticos, que se comprometem, caso eleitos, a implantar políticas públicas voltadas a sustentabilidade e a prestar contas, por meio de relatórios e audiências públicas, dos avanços alcançados e a evolução dos indicadores básicos referentes

a cada eixo. O lançamento em Piracicaba foi organizado pelo Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola e pelo SESC – Serviço Social do Comércio e contou com o apoio e parceria de diversas organizações locais. Durante o evento, que reuniu 180 pessoas, no teatro do Sesc Piracicaba, 5 pré-candidatos à prefeitura de Piracicaba na eleição desse ano (Dilmo dos Santos [PV], Ademir Antonialli [PC do B], Aparecido Nunes de Oliveira [PTN], Magno Peres Rodrigues [PSOL], Roberto Felício [PT]) e 15 partidos políticos com representação na cidade (DEM, PC do B, PDT, PHS, PP, PPS, PR, PSC, PSDC, PSL, PSOL, PT, PTB, PTC e PV) assinaram a adesão ao Programa. O PSDB redigiu uma proposta própria de compromisso com a sustentabilidade que foi entregue no evento, porém não assinou o documento padrão de adesão ao Programa Cidades Sustentáveis.

Mais informações sobre o Programa Cidades Sustentáveis são encontradas no site: www.cidadessustentaveis.org.br Para conhecer mais sobre o programa e o Projeto Piracicaba Sustentável, acesse: piracicabasustentavel.blogspot. com.br

Os 12 Eixos do Programa Cidades Justas e Sustentáveis Governança; Bens naturais comuns; Equidade, justiça social e cultura de paz; Gestão local para a sustentabilidade; Planejamento e desenho urbano; Cultura para a sustentabilidade; Educação para a sustentabilidade e qualidade de vida; Economia local dinâmica, criativa e sustentável; Consumo responsável e opções de estilo de vida; Melhor mobilidade e menos tráfego; Ação local para a saúde; Do local para o global.

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REPÓRTERES SOCIAIS

Sonhadores sim, ingênuos não por Elisa Siviero, Gabriela Silva, Danyelle Barbosa, Caroline Fernandes, George Brasil, Carla Roberta Prando, Gabriela Arnemann, Daniel Henrique, Mônica Oliveira, Nathália Gonçalves, Kenner Costa, Arthur Venâncio e Otávio Goes.

Somos um grupo de treze jovens, com idade entre 16 e 18 anos, interessados em educomunicacão e soluções sustentáveis. Nos reunimos todas as tardes de segunda a sexta feira, das 13h30 às 17h30 no Projeto Estação Travessia – Viveiro Educador, que está localizado no bairro Jardim Bartira em Piracicaba. Fazemos parte da terceira turma deste projeto, que tem o objetivo de formação socioambiental e valorização da cultura e meio rural. Todos nós moramos na zona rural de Piracicaba, nos bairros de Jd. Bartira, Santa Isabel, Parque Peória e Conceição (todos estes bairros fazem parte de uma mesma região de Piracicaba, estão próximos uns dos outros). Sendo nós interessados em soluções sustentáveis e comprometidos em produzir mudanças em nosso meio socioambiental, detectamos alguns problemas no lugar onde vivemos. Na nossa visão, a falta de olhar político constante (não só apenas em época eleitoral) acarreta para os moradores de todos os bairros citados a falta de lazer e cultura, a falta de segurança, a falta de atendimento à saúde, a ausência de coleta seletiva, entre outros desconfortos. E isso ocorre porque nossos bairros ficam em uma zona periférica da cidade de Piracicaba, também sendo considerada uma zona rural distante do centro. Simplificando os desconfortos que sentimos em relação à falta de lazer e cultura e à falta de atendimento à saúde. 12

A falta de lazer e cultura, por exemplo: quando queremos ir ao cinema ou teatro, temos que pegar no mínimo duas conduções para chegar ao lugar onde queremos e isso nos desanima, já que não temos esse tipo de lazer no nosso bairro. Para ilustrar essa questão, entrevistamos o comerciante Senhor Aparecido José Dechen , 59 anos, morador do bairro Parque Peória há 20 anos. Em relação à falta de lazer e cultura no bairro Parque Peória, citou que existe uma área verde, com campo de futebol, vôlei, bocha, brinquedos como balanço, roda a roda, escorregador, entre outros e também possui um espaço para idosos onde fazem academia. Porém, Senhor Aparecido frisou que os jovens não têm acesso a lazer algum. Comentou que anti-

gamente havia um clube de jovens chamado RPP – Recreativo Parque Peória - e sugeriu a volta do clube como opção de lazer. Jane, outra entrevistada, moradora do Bairro Jardim Bartira também há 20 anos, nos relatou que já aconteceu um acidente envolvendo crianças como vítimas de atropelamento pela falta de lugares adequados e com segurança para o lazer. Sobre a questão atendimento à saúde, temos no bairro Parque Peória um posto de saúde, porém quando precisamos de atendimento mais emergencial ou urgente temos que ir até hospitais no centro da cidade, distantes dos nossos bairros. O entrevistado Senhor Aparecido reafirmou que na região o Parque Peória possui um “postinho”


com acesso a médico uma vez por semana. Ele nos falou que já teve uma parada cardíaca e precisou do amigo para levar ao Pronto Socorro de Piracicaba, pois o postinho não teve condições de atendê-lo. Sobre esta questão, a entrevistada Jane, disse que não é preciso muito, mas apenas o mínimo, que é justamente o que não temos. O mínimo para a população seria médicos diariamente, como: Clínico Geral, Pediatra e Ginecologista, para atender às necessidades básicas da população. Detectar os problemas e tentar achar soluções é o nosso papel, aqui no Projeto Estação Travessia - Viveiro Educador. Somos jovens movidos por sonhos, mas nem por isso somos ingênuos. Apesar de sermos adolescentes vivenciando o presente e estarmos pensando no futuro, queremos colocar em prática nossos desejos de transformações.

Com relação à falta de lazer queríamos que superiores, como prefeitos e colaboradores, pudessem parar e escutar a sociedade com base nas reais necessidades dos bairros Jardim Bartira, Parque Peória, Tupi e Conceição. Queremos opções de lazer e cultura, por exemplo, a cobertura do campinho de futebol, a reforma na área de lazer, um cine-teatro, uma pista de skate, uma biblioteca, entre outros espaços culturais.

Em relação à necessidade da saúde pública, queremos a implantação de um ponto de atendimento à saúde, onde nele haja: ambulância, bom atendimento, aparelhos e profissionais capacitados para melhor contribuição à saúde pública. São pequenos exemplos do que queremos, existem outras questões a serem aprofundadas e estamos dispostos. Existem sonhos que se compram e sonhos que se realizam, o nosso sonho é realidade que pode ser cumprida.

Este texto foi produzido através de um processo educomunicativo facilitado pela Iandé – Educação e Sustentabilidade, no contexto do Projeto Estação Travessia – Viveiro Educador.

Para entender o que é o Projeto “Estação Travessia – Viveiro Educador” A proposta vem sendo desenvolvida desde 2007 e já envolveu 16 jovens da área rural de Tupi em Piracicaba. Seu objetivo é gerar oportunidades de construção coletiva de valores, habilidades e conhecimentos direcionados à participação ativa dos beneficiários na constituição de sociedades mais sustentáveis, através de processos educativos e emancipatórios. O projeto visa também conservar os valores socioculturais da região, contribuindo para a economia local e para a formação de profissionais capazes de analisar os fatos, responsabilizar-se por suas escolhas e sustentar suas decisões futuras. No ano de 2012, treze jovens fazem parte do projeto participando ativamente todas as tardes de atividades de desenvolvimento humano, agroecologia e permacultura, educomunicação, arte, mobilização socioambiental, jardinagem e paisagismo, noções de economia, e um curso de lógica, o qual contribui para solidificar a capacidade das pessoas em argumentarem a favor de suas opiniões e conclusões dando sustentação às escolhas pessoais e coletivas. Neste ano o processo pedagógico está sendo coordenado pela Iandé – Educação e Sustentabilidade; esta parceria visa transformar a Estação Travessia em um ESPAÇO EDUCADOR PARA A SUSTENTABILIDADE, que são espaços capazes de propiciar o exercício e a vivência de um caminho mais sustentável, evidenciando a viabilidade deste caminho, estimulando a reflexão sobre a urgência de nos movimentarmos em direção à uma nova cultura, o desejo de realizar ações conjuntas em prol da coletividade e reconhecimento da necessidade de nos educarmos continuamente neste sentido. Para saber mais sobre Educomunicação e manter contato com a Iandé - Educação e Sustentabilidade: www.iandenosso.blogspot.com | karinefaleiros@iandenosso.com.br 13


RELATO

Um olhar sobre a vida em comunidade por Rodrigo Munhoz

Experienciei por certo tempo a vida em diversas comunidades ou ecovilas ou cohousings ou qualquer outro nome que se possa dar a experiência de conviver com outras pessoas em harmonia, ou pelo menos na busca dela. Em todas eu via erros demais, era a administração pouco eficiente, as relações sociais eram estranhas demais, a infraestrutura do projeto muito precária. Foi só depois de deixá-las por muito tempo que percebi que na verdade todas eram incríveis pelo simples fato de incentivarem constantemente as relações sociais entre os moradores. Conviver em comunidade é muito similar a uma vida em casal. Temos que ter claras duas coisas. Primeiro, você nunca encontrará o par indefectível, segundo, goste do seu par pelo que ele é e não por aquilo que você gostaria que ele fosse, construa então um futuro com essa pessoa não com o ideal dela. Uma comunidade só pode dar certo se tivermos esses dois aspectos em mente. Só depois de ter entendido isso é que pude ver um dos pontos principais dessas “experiências“. O mérito delas está em ativamente “cultivar” a sociabilidade. Em outras palavras buscar saber quem é realmente o seu vizinho de porta, além do bom dia ou do comentário sobre o tempo. Para muitos esse passo pode ser difícil e para outros pode parecer inútil. O fato é que conhecer verdadeiramente o outro exige sair da 14

Refeitório de Findhorn Ecovillage: as refeições são só uma desculpa para sociabilizar.

nossa área de conforto. Deve-se estar aberto a ver o mundo de outros pontos de vista e reconhecer outros estilos de vida por mais diferentes que sejam do seu. Depois de realmente conhecermos esse vizinho, este passa a ter nome, sentimento, deveres e direitos. É aí que as pessoas têm receio de chegar. O receio acontece porque, quando conhecemos realmente o nosso vizinho, sentimos dever de estarmos mais atentos para não incomodá-lo. Isso não quer dizer que diminuímos nossa privacidade, nós aumentamos o respeito. Também nos sentimos mais impelidos a ajudar quando há necessidade. Por mais apavorante que seja para alguns a perda de parte da privacidade, exaltada pelo sonho americano de casa suburbana, jardim, cachorro e par amoroso como propriedades privadas invioláveis, o retorno em termos de crescimento como cidadão e ser humano é enorme. Cidadão porque agora você é socialmente ativo no seu bairro e sabe quais são os ideais e angústias

daqueles que vivem ao seu redor e pode junto com eles lutar com muito mais facilidade por esses ideais. Ser humano porque você já não vê o mundo apenas pelos seus olhos, mas pelos olhos de várias pessoas. Inevitavelmente, quando conhecemos bem uma pessoa, criamos empatia por ela, ou seja, nos colocamos no lugar dela, vemos a vida através sua perspectiva. Resgatar essa interação sincera entre seres humanos é também resgatar uma habilidade, que nos fez “evoluir” mais depressa que os outros seres, a habilidade de transmitir experiências e conhecimento às próximas gerações. É por meio desse “interagir revigorado”, que conseguiremos também estar abertos a reavaliar essa “evolução” que nos distanciou dos outros seres. Teremos adquirido a capacidade de ver também através da “perspectiva” da Natureza e assim perceber que a humanidade é parte integrante de Terra e a Terra de nós. Acesse: www.guaxo.com.br


Histórias (d)e receitas por Alice Brülé

Aprendi a fazer este prato quando fazia cursinho pré-vestibular em São Paulo, com uma das colegas do nosso grupinho, que é de origem coreana. Quem faz horta sabe que a cebolinha é muito fácil de produzir e sempre sobra em boa quantidade. Achei esta receita muito prática, econômica e uma refeição completa num prato só: carboidratos, proteína e verdura.

Sopa Coreana

• 4 maços bem grandes de cebolinha • 1 cebola média • 4 dentes de alho • 2 pimentas dedo de moça • ½ xícara de azeite de oliva • ½ xícara de óleo • 10 ovos batidos como para omelete • 10 xícaras arroz cozido

Preparo: 1) Fritar no óleo a cebola, o alho e a pimenta picados. 2) Acrescentar aproximadamente 2 litros de água e deixar levantar a fervura. 3) Jogar a cebolinha picada em pedaços de aproximadamente 1 cm. 4) Deixar ferver por 5 min., derramar os ovos batidos devagar e mexendo sempre. 5) Finalizar com o azeite de oliva, ajustar o sal e desligar o fogo logo em seguida. 6) Servir a sopa sobre o arroz no seu prato.

Alice Brülé é produtora de geléias de frutas sem agrotóxicos, com açúcar orgânico, sem adição de conservantes nem corantes. Produz também nozes pecan e castanhas portuguesas e integra a Rede Guandú de Consumo. 15


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