Revista Em Transição - Ed.02

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FICHA TÉCNICA

Revista Colaborativa

Em Transição Piracicaba | Ano 0 | Edição nº 2

Editora:

Luciana Jacob Projeto gráfico:

Thiago D’Angelo Concepção:

Ricardo Zylbergeld

Colaboradores desta edição:

Carlos Canedo Daniel Garnet Guilherme Serzedello Hélio Sato Maurício Rodrigues Miriam Rother Ninfa Barreiros Otavio Paranhos Ricardo Zylbergeld Sara Maria Gomez Rivera

Plataforma: www.piracicabaemtransicao.com.br Twitter: @piracicabaemtransição Facebook: facebook.com/PiracicabaEmTransicao e-mail: dialogue@piracicabaemtransicao.com.br

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SUMÁRIO Em Movimento

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A Plataforma Engajados

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Criança é a alma do negócio

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Piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalem

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Saco de gatos

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Estudo analisa percepção da ciência na cidade de Piracicaba

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Batalha Central: três anos de resistência

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Minhocário e composteira: gerencie seus resíduos orgânicos em casa

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Esta revista eletrônica é resultado de um esforço colaborativo de entidades, comunidades e indivíduos, engajados em criar canais diretos de comunicação, com intuito principal de tecer uma rede de fomento às mudanças locais. Portanto... Leia, comente, participe. Todos os textos desta edição podem ser encontrados no site www. PiracicabaEmTransicao.com.b/revista Nesta plataforma social, você poderá deixar seus comentários e conhecer a opinião de outros leitores. Se você deseja enviar textos e sugestões, ou colaborar com a revista, envie uma mensagem para dialogue@piracicabaemtransicao.com.br Baixe, divulgue e compartilhe. Sinta-se à vontade para fazer o download desta revista. Divulgue para seus conhecidos e nas suas redes sociais, compartilhe este arquivo livremente*. Imprima, afixe, empreste. Este documento foi estruturado para facilitar a sua impressão. Imprima uma cópia para ler, emprestar ou afixar no mural de sua comunidade. Se sua comunidade não tem condições de imprimir este material, entre em contato conosco. *Este trabalho está registrado com a licença de Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - Sem Derivados. A reprodução deste material é permitida para uso NÃO comercial, perante a citação de seus autores e sem alterações em seu conteúdo.

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EDITORIAL

Em movimento

por Luciana Jacob

“O movimento só serve de revelação de nós mesmos quando tomamos consciência do modo pelo qual ele se realiza ou não”. Essa instigante frase é de Thèrése Bertherat, fisioterapeuta francesa que elaborou uma visão revolucionária sobre anatomia, enxergando o corpo como uma totalidade onde cada elemento depende do outro. Mas poderia ser de um ativista social. Ou de um ambientalista. Nos tempos atuais, em que uma mudança de paradigma é necessária dado o colapso cultivado por sua própria insustentabilidade, torna-se evidente o conceito de interdependência. Enxergamos a realidade de forma cada vez mais complexa, como uma rica teia de relações. Assim, os problemas socioambientais da atualidade precisam de respostas igualmente complexas, que por sua vez demandam transformações profundas na forma com que interagimos com o mundo.

Movimento: efeito ou ato de mover-se, mudança de lugar ou de posição, evolução, agitação, animação. Para onde se movem nossos sonhos? Como se realizam nossos movimentos rumo a formas mais saudáveis de se viver em nosso planeta? As ideias se movem e nos movem. Os meios de comunicação movimentam as informações, que movimentam as ideias, que movimentam as ações. Acreditamos na construção de formas de comunicação que impulsionem o movimento de ideias numa direção confrontadora e crítica. Esta construção, para ser legítima, deve se dar de forma horizontal e incluir as vozes silenciadas pelo anestesiador sistema de comunicação dominante. Em tempos de transição, a ousadia de se produzir informação que inspire as lutas e dê voz aos movimentos é fundamental na condução de processos efetivos de mudança.

Foto tirada por Luciana Jacob, na Cúpula dos Povos, Rio +20.

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Assim acontece nas ações de coletivos que se agregam em torno de ferramentas contra-hegemônicas de comunicação. A Revista Em Transição desse mês reuniu artigos que evidenciam as transformações socioculturais deflagradas por alguns deles. O Serviço de Utilidade Pública (SUP), um grupo de pessoas que acredita na possibilidade de mudança de


cultura política através de atos de cidadania, traz em seu artigo as bases teóricas que o sustentam como uma ferramenta de comunicação livre. A valorização da cultura oral através das rimas de rua – arte e ação política de resistência – é explicitada na atuação do coletivo de rap Pegada de Gigante, que conta nesta edição a história da Batalha Central, realizada na Praça José Bonifácio há três anos. Da necessidade de criação de canais de comunicação, divulgação e, principalmente, formação de redes colaborativas, emerge a Plataforma Engajados, que tem seu ambiente descrito em um de nossos artigos. Nosso futuro comum depende da força com que essas transformações reverberam em nosso cotidiano. Neste sentido, trouxemos também para o leitor experiências que contam histórias sobre intervenções práticas e que dialogam sobre questões relacionadas aos hábitos das pessoas em seu dia a dia. Uma vivência de educação ambiental em escolas do Parque Primeiro de Maio sobre a importância da reciclagem; a intervenção de um grupo de pessoas que se apropriou criativamente do espaço público para provocar a reflexão sobre

mobilidade urbana na Rua do Porto; uma pesquisa sobre a relação ciência-comunidade em Piracicaba; e um guia para a construção de um minhocário, exemplo simples e facilmente aplicável de tecnologia apropriada. São estas as histórias inspiradoras, contadas por seus protagonistas, que compõem a Revista Em Transição desse mês.

Partir de um ponto a outro. Movimentar o olhar. Reconsiderar. Olhar de outra forma: re-olhar.

Tecer uma rede que fortaleça essas iniciativas, valorizando as experiências locais e o conhecimento acumulado a partir delas, é nossa opção enquanto meio de comunicação-ação. Esperamos que o espaço da Revista seja cada vez mais apropriado pelas comunidades, grupos e indivíduos que compartilham conosco destas buscas. Venha colaborar com a Revista e fazer parte deste movimento!

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PORTAL COLABORATIVO

A Plataforma Engajados por Ricardo Zylbergeld

A Plataforma Engajados é um ambiente digital formado por diversas ferramentas para engajamento socioambiental, que nasceu da necessidade de criarmos canais de comunicação, divulgação e, principalmente, formação de redes colaborativas. Ancorada no Movimento de Transição, baseada no conceito do crowdsourcing e motivada pelo papel das redes sociais em muitas mobilizações de grande repercussão internacional (como o Movimento dos Indignados, Occupy Wallstreet e a Primavera Árabe), a plataforma estimula o compartilhamento de histórias, atividades e sonhos, permitindo que grupos e indivíduos criem identificação entre si, por semelhança ou afinidade, descobrindo pontos de convergência e estimulando a conexão de seus esforços. Portanto, tecer uma rede de atividades interconectadas e, assim,

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criar um contexto favorável à mudança (solo fértil para plantarmos iniciativas socioambientais criativas, solidárias e em harmonia com a natureza) é o principal objetivo desta plataforma. Buscando ser reconhecida como tecnologia apropriada, vem sendo construída sob os valores deste modelo, principalmente quanto à capacidade de replicação. É uma ferramenta de código aberto, disponível para qualquer iniciativa local que queira adotá-la como instrumento de engajamento. A Plataforma é uma ferramenta em constante desenvolvimento, onde novas funcionalidades e soluções (sugeridas, adotadas e viabilizadas pela comunidade de usuários) são implementadas ao longo do tempo. Por causa de sua capacidade de replicação, qualquer nova ferramenta implementada beneficia todas as comunidades que a adotam.


Qual o estado atual da Plataforma? Em Piracicaba, no ar desde o dia 17 de junho de 2012, a Plataforma se encontra em sua versão alpha. Nesta fase, as ferramentas já podem ser utilizadas normalmente, porém não estão completas. Esta é uma fase oportuna para testes, ajustes e sugestões. As ferramentas implementadas neste momento são:

Portal de Mídia Colaborativa: área destinada aos artigos e notícias (textos, fotos, vídeos e áudios) publicados por toda a comunidade de usuários da plataforma.

Mapeamentos & Mobilizações: ferramenta destinada ao mapeamento de grupos e espaços de interesse social, além da divulgação de mobilizações e eventos locais.

Calendário Coletivo: consolida, em um único local, os calendários dos diversos grupos locais (comunidades, movimentos, entidades).

Central de Engajamento: nesta área os usuários conhecem múltiplas formas de contribuir com o movimento local e com as diversas ferramentas que compõem a plataforma. Por meio desta ferramenta, os usuários inserem seus textos, criam mobilizações e eventos, adicionam seus grupos (ferramenta parcialmente implementada) e desenvolvem muitas outras atividades

Dica: acesse rapidamente a Central de Engajamento no link w w w. p i r a c i c a b a e m t r a n s i c a o. c o m . b r / c e n t a l

A Incubadora de Projetos A próxima ferramenta a ser implementada no cronograma de desenvolvimento da Plataforma é a incubadora de projetos. Esta aplicação permitirá que qualquer pessoa divulgue um projeto pessoal ou comunitário com o intuito de formar uma rede de colaboração que viabilize sua realização. Apesar do aparecimento de inúmeras ferramentas de financiamento coletivo (crowdfunding), a maioria dos projetos necessitam mais do que recurso financeiro para saírem do papel; necessitam de ajuda com leis, ideias, experiências, mão de obra, entre outros. Portanto, a Incubadora de Projetos, em conjunto com as outras ferramentas da Plataforma, reunirá esforços coletivos, para realização destes projetos locais (incluindo, também, o fomento financeiro - crowdfunding). Futuro da Plataforma Muitas outras ferramentas já foram idealizadas em conversas com diversas entidades, movimentos e comunidades. Algumas delas já entraram na fase de descrição de projeto. Estas ideias serão adicionadas à incubadora de projetos para serem viabilizadas conjuntamente. Dentre estas soluções, podemos destacar as ferramentas de mobilidade (caronas solidárias, bicicletas), ferramentas de monitoramento (de árvores, obras públicas, transparência e controle social), de hospedagem solidária (para os mutirões, cursos e outras atividades). Outras possibilidades incluem vitrine social (divulgando os produtos comunitários e de empresas sociais), ferramentas motivadoras, de comércio justo e local para consumo consciente, de trocas e freecycle, além de banco de tempo e moeda social, e muitas outras ideias interessantes. 7


Interlocutores da comunidade Para criar pontes entre o ambiente virtual e a realidade dos nossos grupos locais (comunidades, movimentos e entidades), um grupo de engajados - pessoas que participam ativamente do movimento - é fundamental para seu sucesso: os Repórteres Sociais. Estes voluntários fazem a interlocução entre a comunidade e a rede de colaboração e estão capacitados para registrarem as histórias de seus grupos

por meio de fotografias, redação e técnicas digitais de edição, entre outras habilidades. Para fomentar estes grupos, o Piracicaba em Transição (grupo local do Movimento de Transição), em conjunto com diversas outras entidades locais, está desenvolvendo oficinas gratuitas de capacitação para Repórter Social. As datas e as inscrições para estas oficinas serão divulgadas na Plataforma e nas futuras edições da Revista Em Transição.

Quer saber mais, se envolver e colaborar? Acesse a Plataforma, entre em contato!

www.piracicabaemtransicao.com.br di al o g u e@p i r ac i c ab aem t r an si c ao. c o m . b r Sua cidade deseja adotar a Plataforma Engajados? Entre em contato com correio@digitao.com.br

Crowdsourcing: é um modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdo e soluções ou desenvolver novas tecnologias. Crowdfunding: traduzido para o português como financiamento colaborativo, é a obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. Movimento dos Indignados (Revolução Espanhola ou 15 de maio): são uma série de protestos espontâneos de cidadãos, inicialmente organizados pelas redes sociais. Começaram em 15 de maio de 2011, com uma convocação em cinquenta e oito cidades espanholas. Tratam-se de protestos pacíficos que reivindicam uma mudança na política e na sociedade espanhola, pois os manifestantes consideram que os partidos políticos não os representam nem tomam medidas que os beneficiem.

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Primavera Árabe: onda revolucionária de manifestações e protestos ocorridos no Oriente Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010, utilizando técnicas de resistência civil: greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como Facebook, Twitter e Youtube.

Freecycle: diferentemente das redes de trocas, no freecycle as pessoas divulgam os bens que não lhe são mais úteis, disponibilizando-os, gratuitamente, para os outros membros do coletivo.

Occupy Wallstreet: é um movimento de protesto contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas sobretudo do setor financeiro, iniciado em Wallstreet, em setembro de 2011, inspirado nas manifestações da Primavera Árabe e motivador de muitas outras “ocupações” por todo o globo.

Moedas sociais (ou locais): moedas de alcance limitado (comunidade, feiras, bairros) utilizadas para facilitar a troca de serviços e produtos, sem carregarem valor por natureza.

Tecnologia apropriada (ou tecnologia social): Considera-se tecnologia social todo o produto, método, processo ou técnica, criado para solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade (e reaplicabilidade) e impacto social comprovado.

Banco de tempo: é um modelo de troca recíproca de serviços onde o “tempo de dedicação” é utilizado como moeda.

(Textos adaptados da enciclopédia global livre - Wikipedia)


EDUCAçÃO AMBIENTAL

Criança é a alma do negócio por Ninfa Barreiros

Esse título é para nos lembrar de que, fora dos muros das escolas, as crianças ficam quase sempre à frente de uma TV ou jogando vídeo game. Quando veem TV - e isso desde bebês – as crianças são atacadas por propagandas que as levam a consumir cada vez mais, consumir sem necessidade, por puro modismo. Não é bom para os bolsos das famílias como também não é para o meio ambiente. Conhecimento é muito bom quando escola, empresa e comunidade se envolvem nesse cotidiano. Foi o que aconteceu no último dia 05 de Junho, dia em que se comemora mundialmente o Dia do Meio Ambiente. No período da manhã, 107 crianças da Escola Municipal Mario Chorilli (na faixa etária de 9 a 10 anos) e, no período da tarde, 87 crianças da Escola Infantil do Pq 1º de Maio (na faixa etária de 1 a 5 anos) se reuniram para ouvir os técnicos Antônio Marcos Soares de Oliveira e An-

dyara Forti Leite, que informalmente conversaram com as crianças sobre o reprocesso de plásticos realizado pela empresa onde eles trabalham. A palestra foi sobre separação de lixo. Orgânico de um lado, plásticos, latas e papéis de outro: mostrando todo o processo de fabricação e os produtos que, de forma reciclada, voltam ao mercado como um novo produto. Garrafas Pet se transformam em vassouras, pás, rodinhos e rastelo. Ao final da atividade, as crianças receberam uma pá de lixo e as escolas receberam um kit da empresa (vassouras, rodinhos, pás). Bom para os adultos também aprenderem que reciclando irão ajudar não só na criação de novos empregos, mas também na conservação do meio ambiente. Parabéns às Escolas (diretoras e professoras) e aos colaboradores por essa iniciativa do bem educar para a vida. A natureza agradece. 9


MOBILIDADE URBANA

Piracicaba: que os peixes parem e os cidadãos pedalem por Miriam Rother

Uma reflexão Os ciclos: o dia, a noite, as fases da lua, as estações do ano. O nascimento, o desenvolvimento, o envelhecimento, a morte: a vida. A organização do tempo: da ampulheta, da clepsidra ao relógio digital, que funde o passado e o futuro em virtualidade. O espaço: onde se respira, onde se coleta, onde se caça, onde se pesca, onde se cultiva e se cria, onde se contempla. O homem havia enfim objetivado a relação tempo-espaço. Que percepção temporal é essa que nos faz pensar que as horas encurtam sua duração quando estamos felizes? Que percepção espacial é esta que encurta trajetos agradáveis? Que realidade é essa à qual estamos aprisionados pela relação tempo-espaço, consumindo-a e sendo por ela consumidos?

O Contexto De Janeiro de 2000 a Janeiro de 2011 o número de veículos motorizados em Piracicaba passou de 133.636 para 231.226 (aumento de 73,02%), sendo que neste mesmo período a população do município cresceu de 319.104 para 364.872 (14,34%). Houve um crescimento de 0,41 para 0,63 veículos por habitante. Se tomarmos o número de habitantes maiores de dezoito anos, ou seja, aptos a tirar uma carteira de habilitação (263.788), esse número cresce para 0,87 veículos por indivíduos habilitados. (Fonte: Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes de Piracicaba – SEMUTTRAN). Seria esta uma tendência irreversível numa cidade em franco progresso econômico? O que se observa atualmente são calçadas irregulares e esburacadas, muitas vezes com degraus, aclives e declives que privilegiam a entrada suave dos carros nas garagens das casas e comprometem a segurança e liberdade do ir e vir de pedestres, sobretudo idosos e portadores de necessidades especiais. O transporte coletivo é insuficiente e precário, o trânsito de veículos automotores é caótico e perigoso, desproporcional ao porte da cidade. A presença de veículos de carga pesados em avenidas arteriais é frequente. Junte-se a estes fatores as recentes obras de remodelação 10

urbana realizadas na cidade: reabertura de ruas na região central, onde eram calçadões, para o tráfego e estacionamento de veículos particulares; e duplicação de pontes sem vias adequadas à circulação de pedestres e ciclistas. À baixa qualidade do ar, já bastante prejudicada pelos efeitos das queimadas durante a colheita de cana de açúcar, soma-se a poluição sonora nos bairros centrais da cidade, já bastante incômoda. Esta é a cidade que queremos?

vai entrar uma imagem Em Piracicaba, a falta de investimentos na infraestrutura cicloviária tem sido justificada pelos gestores públicos pela crescente motorização da população urbana e pelo baixo uso de bicicletas por trabalhadores. Daí a necessidade de políticas públicas específicas que possam oferecer infraestrutura para o deslocamento seguro das pessoas. A inclusão da bicicleta como meio de transporte, no conceito de Mobilidade Urbana Sustentável, além de representar economia para o cidadão, torna a cidade mais próxima do conceito de Cidade Sustentável.


Uma intervenção No Largo do Pescador, que fica à margem do rio Piracicaba, num domingo ensolarado de maio, foi construído um paraciclo-banco feito a partir da utilização de costaneiras (sobras de madeira provenientes de desdobro de toras). Para criar empatia com o público presente construiu-se um boneco ciclista a partir da mesma técnica utilizada pelo artesão piracicabano Elias dos Bonecos que, por anos, povoou as margens do Piracicaba com seus personagens construídos com madeira descartada nos lixos da cidade e vestidos com roupas doadas pelos moradores. O boneco ciclista foi colocado sentado no paraciclo-banco com as bicicletas e uma boneca estilo Nega Maluca. Para destacar a ação proposta, pintou-se com tinta branca o poste e o chão ao redor da estrutura do paraciclo-banco. No poste foi instalada uma placa de trânsito, indicando que se deve respeitar a distância mínima de 1,5 metros entre um automóvel e uma bicicleta. Buscou-se levantar questionamentos que gerassem múltiplas reflexões coletivas quanto à mobilidade urbana. Neste sentido estimulou-se a formação crítica e transformadora dos sujeitos, no intuito de viabilizar um posicionamento político em relação a sua visão de mundo. Em alguns minutos, as pessoas que passavam pelo local começaram a interagir com a instalação. A partir de então deu-se início ao registro fotográfico e, paralelamente, à condução de 50 entrevistas registradas em vídeo. Constatou-se mais uma vez que a questão da implantação de ciclovias, ciclofaixas e vias compartilhadas não é só um problema de infraestrutura, mas é cultural também; poucos entrevistados vislumbraram o uso da bicicleta como alternativa à mobilidade urbana sustentável. O medo pela falta de segurança, tanto de roubos como de acidentes, é uma importante barreira para a utilização de bicicletas; e por último, mas não menos importante, a questão ambiental foi a principal razão levantada em favor do uso da bicicleta como meio de transporte. Apesar de se reconhecer que a forma como a mobilidade urbana vem sendo tratada pelas esferas públicas federais no Brasil já ter avançado rumo à sustentabi-

lidade, a grande maioria das administrações municipais do país não se encontra alinhada com os conceitos de mobilidade plural, visto que os investimentos na infraestrutura de trânsito e transporte nas cidades ainda privilegiam os veículos motorizados particulares e são empregados na construção de mais ruas, avenidas, estacionamentos etc. Existe a possibilidade de que a razão desse não alinhamento esteja na continuidade de um processo de sustentação política do sistema econômico vigente, com quem a estrutura dessas administrações está burocrática e historicamente comprometida.

Começamos então a penetrar na complexidade da questão da mobilidade urbana, que envolve muito mais que ir e vir. Engloba inúmeras facetas da realidade social: a cultura e os valores, a educação, os aspectos geográficos, econômicos e políticos de cada localidade. Junte-se ao todo, como esses fatores dentro de determinado sistema-sociedade relacionam-se com outras prioridades locais. Dessa forma, para podermos criar alternativas para o problema atual de mobilidade urbana, é imprescindível uma reflexão coletiva sobre as necessidades que a realidade nos apresenta. Deixa-se então uma questão ao leitor: a implantação de uma estrutura cicloviária na cidade teria o papel de elemento reestruturador na cultura de mobilidade de Piracicaba? Esta seria também capaz de provocar mudanças de hábitos de consumo e uso do transporte motorizado individual que promovessem a mobilidade urbana sustentável? Pensemos como Prigogine: “o possível é mais rico que o real”.

INTERVENTORES: • Gustavo Furlan • Léa Dobbert • Márcia Piva • Mirian Rother • Renata Viecili com a colaboração de Morelato, Jacob das Artes e Murilo Piva.

O clipe da intervenção pode ser visto no Youtube: http://www.youtube. com/watch?v=hZNC nDUyGgM&feature =share 11


FERRAMENTAS DE COMUNICAçÃO

Saco de gatos

por Carlos Canedo, Otávio Paranhos, Guilherme Serzedello e Maurício Rodrigues

A partir das reflexões do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, reconhecemos o Movimento de Transição como parte de um período na história da sociedade do século XXI que rompe com o atual paradigma da ciência moderna do “conhecimento\regulação”. A mudança de cultura multiplica-se por diversas frentes, firmando o desenvolvimento sustentável e a defesa dos direitos humanos de forma colaborativa, resgatando técnicas antigas e agregando novas, na direção de um paradigma emergente que, embora ainda pouco visível ou mesmo identificável, vem surgindo de um “conhecimento prudente” para uma vida mais sustentável. Passamos então a nos inserir neste contexto, com o objetivo de identificar as ferramentas necessárias ao alicerçamento dos pilares que poderão vir a sustentar essa mudança paradigmática em curso. Mudança que emerge das bases da sociedade em uma das pontas de um épico “cabo de guerra”. Na outra ponta do cabo encontra-se a globalização mundial hegeA mudança de cultura mônica, fomentada nas multiplica-se por diversas organizações internaciofrentes, firmando nais pelas grandes coro desenvolvimento porações, fundamentada sustentável e a defesa em sociedades patriarcais dos direitos humanos de produção capitalista e de forma colaborativa. consumismo individualista e mercadorizado - dentro de uma democracia autoritária com desenvolvimento global desigual e excludente, como identificou o professor Boaventura. O velho paradigma da sociedade contemporânea é posto em xeque diante da crise econômica que atinge a Europa e os Estados Unidos da América e das espetaculosas e bilionárias guerras que se alastram pelos continentes em detrimento do real reconhecimento dos Direitos Humanos, manifestados primariamente 12

na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão na Assembleia Nacional Constituinte da França revolucionária, em pleno século XVIII. Revela-se um desgaste deste sistema egoísta, que, míope às suas próprias limitações, coloca uma enorme parcela da sociedade civil em situação de risco. Em contrapartida à cultura de massa, empregada pelo sistema-capital, existe este momento de transição. Ele se torna ainda mais evidente com o Movimento de Transição, onde se reúnem e se organizam as ações já existentes - em prol de um desenvolvimento sustentável, ambiental e econômico - ao fomentar coletivamente o desenvolvimento de atividades colaborativas, como oficinas e mutirões. Ao mesmo tempo, promove um processo de resgate da identidade comunitária contra a hegemonia-global, em direção a uma autonomia social do indivíduo. Se por um lado é empolgante a ideia de que vivemos um momento de mudança de paradigma, por outro é cauteloso lembrar que se trata de uma transição delicada. Ela pode simplesmente se definir como uma manutenção do sistema de consumo em si, através da sua conveniente adequação às novas regras.


É o que podemos chamar de “dilema dos erres”; estamos entre o “erre” da Reforma do sistema atual para a manutenção do consumo excludente e o “erre” da Revolução paradigmática. Nesta linha tênue que divide os dois “erres” correm todas as variáveis determinantes dos parâmetros da mudança, que no decorrer do processo definirão qual a palavra a ser escrita. Nesse sentido, existe a necessidade de se consolidar um maior número de ferramentas sociais que possibilitem o fortalecimento de um paradigma contra-hegemônico e pluricultural. As ferramentas de mídia da imprensa - jornais, revistas, rádios, canais de televisão - são essenciais à manutenção do poder que sustenta o atual paradigma social. A televisão nos mantém num equilíbrio entre a esperança e o medo. Não por acaso. A imprensa brasileira possui um papel indispensável na massificação dos ideais neoliberais da globalização hegemônica; como resultado ela deturpa a própria democracia, afogando-a em um mar de demagogias e hipocrisias muito longe do ideal alcançável. Inserido nesse contexto, com a proposta de criar diferentes ferramentas de mídia que possam gradualmente contrapor os desserviços prestados pela imprensa brasileira - a curto, médio e longo prazo Para ouvir “Pagode-enredo dos tempos do medo” Tom Zé Estudando o Pagode (Trama 2005)

Estamos entre o “erre” da Reforma do sistema atual para a manutenção do consumo excludente e o “erre” da Revolução paradigmática. - e caracterizada como uma ferramenta específica de apropriação de mídias, está o SUP - Serviço de Utilidade Pública. O SUP é uma ferramenta de comunicação livre. Pessoas que acreditam que é possível uma mudança de cultura política através de atos de cidadania, por mais autonomia social, contra a globalização hegemônica e por uma sustentabilidade fundamentada impreterivelmente no “erre” da Revolução cultural. Este Serviço se materializa na criação de sistemas de comunicação para as comunidades envolvidas, num processo de documentação audiovisual do diálogo das demandas e dos avanços nas lutas de base dessas comunidades e em suas formas de organização, buscando entender suas necessidades e evidenciar suas conquistas, utilizando a comunicação como um dos pilares do emergente paradigma social. Utilizar a comunicação como um dos pilares do emergente paradigma social é imprescindível para a firmação de uma cultura não hegemônica.

servicoutilidadepublica.blogspot.com.br

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Este estudo foi feito em 2009 por Sara Maria Gomez Rivera, Comunicadora Social (UTPL) e Mestre em Ecologia Aplicada pela USP. O estudo “Divulgação científica e conservação da natureza na sociedade de informação” foi publicado no livro “Mídia e Ambiente: estudos e ensaios, publicado pela Editora Hucitec em 2009 e organizado pelos Professores Antônio Ribeiro de Almeida Junior da USP e Thales Haddad Novaes de Andrade da UFSCAR. Foi também apresentado oralmente na convenção MEDIA ECOLOGY em 2010 em Orono, Maine, EUA. 14


Estudo analisa percepção da ciência na cidade de Piracicaba por Sara Maria Gomez Rivera

Uma das linhas de ação do Plano Estratégico do Ministério da Ciência e da Tecnologia em seu eixo III é a difusão e popularização da ciência e da tecnologia. Esta linha de ação é fundamental para que a população conheça como o país pode gerar ciência, como vai aplicá-la e como ela surge dentro da comunidade mundial; como essas pesquisas e esse desenvolvimento contribuem nacional e globalmente. Segundo um estudo feito na Universidade de São Paulo, a percepção da ciência e de sua divulgação dista muito da realidade. Diferentes grupos sociais não chegam a distinguir a diferença entre ciência e divulgação científica. Alguns imaginam que a ciência se reduz às pesquisas da área médica e espacial. Outros acreditam inclusive que notícias jornalísticas divulgadas em canais de televisão aberta são divulgação científica. Ainda assim, este panorama não é de todo negativo, já que uma boa parcela da população está interessada na divulgação científica. Cada área da população se interessa por um meio específico para se informar sobre ciência. Aqueles que possuem educação de nível superior têm preferência por revistas de divulgação científica, como Super Interessante e outras publicações nacionais como Isto É, assim como canais de televisão com alta proporção de documentários científicos, como National Geographic e History Channel, entre outros. Pessoas de outros grupos sociais encontram informação sobre ciência e tecnologia em variados meios de comunicação não especializados em divulgação científica, inclusive ajudando os filhos na tarefa de casa ou até mesmo batendo papo com os amigos. Este interesse do piracicabano pela ciência é muito relevante, pois ajuda a criar um interesse coletivo pela ciência e a despertar a curiosidade das crianças, que serão os futuros cientistas do país.

As conclusões do estudo apontam que, quanto mais informados os cidadãos estejam sobre as questões ambientais com um respaldo científico, mais fácil será a tomada de consciência, o que se refletirá nas ações diárias tanto conscientes como inconscientes que realizarão para contribuir com a conservação da natureza.

A divulgação científica de temas ambientais é uma importante ferramenta que, ao informar a população, contribui para a formação da consciência ecológica e para a mudança de práticas ecologicamente incorretas, já que existe uma conexão indissolúvel entre pensamento e ação. Se a população começar a pensar sobre o meio ambiente, sobre a intrínseca relação do homem com a natureza, esse pensamento levará à reflexão e consequentemente à prática. Por isso, a divulgação científica deve romper a barreira entre a ciência e os conhecimentos do senso comum do público ao qual vai dirigida. Deve não só ser um serviço social, mas contribuir para melhorar a qualidade de vida, oferecendo uma alta qualidade de educação e de cultura, entendendo por educação um processo de construção da consciência crítica - o que indubitavelmente levará à conservação da natureza. É por isto que o Brasil precisa da divulgação para fazer frente a esse reconhecimento ganho entre os países em desenvolvimento, sem esquecer que o sistema precisa de eficiência para tornar ágeis as transações e que as soluções sejam evidentes. Então, é urgente e necessário aplicar esse conhecimento porque, se somente o conhecimento for gerado mas não aplicado, não é feito nada pela economia, pela ciência e pela qualidade de vida no país. É necessário também criar essa atmosfera de busca pelo conhecimento para formar o senso crítico meu e seu, do Brasil. 15


CULTURA HIP HOP

Batalha Central: três anos de resistência por Daniel Garnet

Desemprego, crise de industrialização, urbanização e violência: esse era o cenário socioeconômico da metrópole nova iorquina nas décadas de 60 e 70. Tal contexto propiciou alguns movimentos denominados Movimentos de Contracultura, movimentos estes que surgem em contraponto aos padrões culturais hegemônicos; entre esses movimentos podemos citar o movimento Hippie e o movimento Black Panters. Na cidade de Nova Iorque, mais especificamente no Distrito do Bronx, jovens esquecidos e marginalizados pela cultura vigente passaram a suprir suas necessidades através da criatividade. Jovens negros e latinos se juntaram para fazer festas de quarteirão (block parties), com música, dança, poesia e arte plástica. Algum tempo depois, Bambaataa chamaria essa miscelânea cultural de Hip Hop (em português, mexer os quadris). Bambaataa dividiu esses elementos em: Mc (que faz as rimas), Dj (que toca o som), Break (a dança), Grafite (artes plásticas) e o conhecimento, que dá sustento aos outros quatro. A fusão entre o Mc e o Dj originou o Rap, manifestação

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da linguagem falada incorporada a uma melodia que trabalha uma base rítmica repetitiva, trazendo crônicas dos habitantes de um determinado grupo social. O rap passa a ser a trilha sonora do movimento cultural juvenil denominado Hip Hop, reconhecido pelas grandes gravadoras. De lá para cá tem dominado as paradas de sucesso nas rádios e canais musicais televisivos, porém, antes do “boom” midiático, o rap era feito de improviso pelo Mc enquanto o Dj tocava a parte instrumental. É desse rap que vamos falar aqui, o rap de raiz, o rap de improviso. O rap de improviso é uma espécie de poesia oral baseada no desafio e improviso, mecanismo encontrado também no repente e cururu, manifestações exclusivamente brasileiras. Essa prática, comum no surgimento do Hip Hop em Nova Iorque, teve os seus altos e baixos no quesito popularidade desde o seu surgimento até os dias de hoje. Assim como os outros elementos do Hip Hop, o duelo de rimas, além de ser um momento de expressão do lúdico, é uma competição saudável também idealizada pelos seus precursores para amenizar os conflitos entre jovens em situação de vulnerabilidade social. Afrika Bambaataa visava, através dos elementos do Hip Hop, instigar nos jovens a busca pela conscientização e reflexão através da arte, da informação e do protesto pacifista, caminho este muito necessário devido à pressão política e social que a população não branca americana sofria naquele momento. Desde mais ou menos 2003 até os dias atuais, as batalhas de rima têm feito a cabeça da juventude brasileira, principalmente nas capitais. O compartilhamento de vídeo via internet popularizou batalhas como a Batalha do Real e do Conhecimento (RJ), Batalha da Santa Cruz e Rinha dos Mc`s (SP), Duelo de Mc`s (BH) entre outras.


Em Piracicaba temos a Batalha Central, idealizada em 2009 pelo coletivo Pegada de Gigante; este evento tem servido para reunir os jovens amantes da cultura alternativa. Mais do que uma competição de rimas e ritmos, a batalha tem sido um ponto de encontro e de convivência. Nele surgem novos grupos de músicas e novos talentos com frequência. É um espaço gratuito de diversão saudável e gratuita, uma verdadeira demonstração de apropriação do espaço público pelo jovem. Por falar em jovem, em junho deste ano a Batalha comemorou 3 anos de existência. Durante este tempo a batalha teve diversas modalidades de competição dentro da sua proposta, incluindo oficinas de rima, apresentações em parceria com instituições como a Prefeitura, SESC, ONGs etc. Uma delas, muito curiosa, envolveu o diálogo do rap com o cururu, expressão musical caipira à base da viola e improviso tradicional do interior paulista.

Esse é um dos exemplos que mostra que essa expressão jovem é mais antiga do que se parece, quando observamos as suas manifestações mais diversas feitas por diferentes gerações, em diferentes contextos e de diferentes modos. Independente da temporalidade, as batalhas de Mc`s, assim como os desafios de repente e cururu, têm sido uma maneira de estabelecer um diálogo entre as culturas, além de ser um modo de preservar tradições por meio da oralidade e, consequentemente, um modo de dialogar e refletir sobre os problemas e angústias através da arte e do lazer, transmitindo maneiras de ser desde os tempos dos ancestrais mais antigos. Ironicamente, tudo isso tem sido disseminado nas redes de compartilhamento da internet. Parabéns a todas as iniciativas de preservação cultural e parabéns também à Batalha Central e todos os seus envolvidos e envolvidas (direta ou indiretamente), por fazerem dela um espaço de troca, aprendizado, convivência e amizade.

BATALHA CENTRAL

toda 2a sexta-feira do mês na praça José Bonifácio Fotos: Peqnoh

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TECNOLOGIA APROPRIADA

Minhocário e composteira: gerencie seus resíduos orgânicos em casa por Hélio Sato

As palavras que se seguem vão no sentido da responsabilidade, mas por uma via diferente da comum, na qual a atribuímos a outras pessoas: a responsabilidade por gerenciar nossos “lixos” na medida do possível. Além da autonomia de fazer a gestão de um bem tão precioso, que são os nutrientes que alimentam nossas vidas. A compostagem acelera o processo natural de decomposição de restos orgânicos a partir de técnicas que trabalham com umidade, oxigênio, carbono (palha seca, serragem, folhas secas etc), nitrogênio (restos orgânicos) e, no caso do minhocário, claro que minhocas também. A transformação de restos orgânicos em húmus é um processo sem odores fétidos; caso ocorram tais odores, é sinal de que o processo não está sendo conduzido de forma correta e possivelmente está liberando metano, um gás tóxico.

HÚMUS É a matéria orgânica que possui nutrientes disponíveis para as plantas; é o produto final da decomposição de restos orgânicos.

Os micro-organismos no processo São fungos e bactérias que, assim como as minhocas, se alimentam dos restos orgânicos e os decompõem, deixando como produto final o húmus. Para a ação desses micro-organismos é necessário que no sistema estejam presentes oxigênio e umidade. Construindo um minhocário Existem muitos formatos para um minhocário caseiro; eles podem ser uma caixa (de plástico preferencialmente) ou um espaço delimitado forrado com plástico, por exemplo. O método a seguir foi pensado para facilitar a manutenção diária e a praticidade de manuseio. Trata-se basicamente de três caixas de plástico que se encaixam uma na outra, com furos na parte inferior, com exceção da última.

DECOMPOSIÇÃO A transformação de restos orgânicos em húmus se dá por meio da decomposição, processo que ocorre naturalmente.

As minhocas no processo As minhocas se alimentam de restos orgânicos e/ou terra e liberam húmus. Em seu trajeto, abrem buracos que ajudam o oxigênio a entrar e participar do processo, auxiliando assim os micro-organismos, que também participam da decomposição. As minhocas ideais para os minhocários são as californianas, que se alimentam de restos orgânicos. 18

Ilustração: Orlando Pedroso

Materiais • 3 caixas de plástico duro • 1 tampa • 1 torneira • Serragem, palha seca ou folhas secas • Restos orgânicos • Minhocas Californianas • Um pouco de terra (somente para início do processo)


As caixas, a tampa e as torneiras podem ser adquiridas em lojas de materiais de construção e locais onde se vendem artigos de plástico. A torneira é um elemento facilitador, mas é dispensável ao sistema, caso se queira facilitar a construção. As caixas podem ser substituídas por

potes grandes de maionese, baldes de azeitonas, ou qualquer outro recipiente (preferencialmente de plástico) que se encaixe um no outro. Essa alternativa pode diminuir o custo monetário do minhocário, já que podem ser adquiridas em padarias, restaurantes, entre outros.

MODO DE FAZER Fure a parte inferior de duas das caixas. Os furos podem ser feitos com furadeira ou um prego aquecido. Podem ser realizados furos por toda a superfície inferior da caixa; eles servirão para escoamento do “chorume do bem”, mobilidade das minhocas e entrada de oxigênio. Também faça furos pequenos nas laterais dessas duas caixas, para entrada de oxigênio. Mais caixas podem ser adicionadas caso necessário (de acordo com o volume de restos orgânicos).

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Faça alguns furos pequenos na tampa, para entrada de ar. Instale a torneira na caixa que não fui furada e certifique-se que as laterais ficaram bem vedadas para evitar vazamentos. Como já foi dito, esse passo é dispensável. A torneira é para escoamento do “chorume do bem”, que também pode ser realizado com o tombamento da caixa.

A parte estrutural está pronta! A partir daqui vamos começar a trabalhar com os processos biológicos. Na caixa do meio coloque um pouco de terra, que introduzirá alguns micro-organismos decompositores ao sistema. Adicione os restos orgânicos e serragem (palha seca, folhas secas etc) numa proporção de 1 para 2, respectivamente. Misture os elementos adicionados até o momento. Por último, coloque as minhocas.

MANUTENçÃO e o DIA-A-DIA • Para o processo de decomposição ocorrer sem odores desagradáveis, é necessário que a entrada de ar no sistema seja boa. Para isso é recomendado o reviramento do composto diariamente enquanto está ativo (jogando restos orgânicos). A umidade não pode ser suficiente para vedar essa entrada. • Pouca umidade, apesar de proporcionar maior entrada de oxigênio, faz com que os microorganismos não se desenvolvam de forma eficaz. • Para certificar a umidade correta é realizado um teste prático: se pega um punhado do composto e o espreme na palma da mão; a água que escorrer deve ser em quantidade

de pouquíssimas gotas, quando se aperta com força o composto. • A quantidade de matéria seca (folhas secas, serragem etc) a ser adicionada dependerá da quantidade de restos orgânicos, seguindo a proporção 1 de restos orgânicos para 2 de matéria seca. Tal proporção também dependerá da umidade no sistema. • Quando a caixa do meio ficar cheia, comece o mesmo processo na caixa de cima, adicionando inicialmente um pouco do composto da caixa do meio. As minhocas migrarão sozinhas para onde tiver mais alimento, desde que os furos entre caixas permitam. • O composto que está em descanso

(sem adição de restos orgânicos) pode começar a ser revirado de dois em dois dias; vai se diminuindo a frequência, até que não se revire mais. • Quando o composto não apresentar mais restos orgânicos é o indicativo de que está pronto para uso: virou húmus. É recomendado que NÃO se adicione ao composto: - Restos orgânicos ácidos, como limão e laranja; - Restos orgânicos com sal; - Carnes. Para saber mais sobre esta matéria entre em contato:

www.iandenosso.blogspot.com

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