Informativo Semanal de Economia Bancária LIV - Febraban

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13 a 17 de setembro | Ano 2 | nº 54

No mercado bancário a semana começa com as atenções voltadas para as novas diretrizes de capitalização do sistema financeiro anunciadas neste domingo pelo Comitê de supervisão bancária da Basiléia. Em nota abaixo tratamos do tema com um pouco mais de detalhe e também apresentamos as etapas do processo de ajustamento. De forma geral, pode-se dizer que as reformas vieram na direção esperada e quem sabe com um “timing” de ajustamento um pouco maior do que o inicialmente projetado. Numa primeira abordagem, esta decisão parece bastante razoável, na medida em que procura combinar a necessidade de reforçar a capitalização do sistema financeiro (particularmente nas economias centrais) com a necessária cautela de curto prazo, face à fraqueza do pro-

cesso de recuperação da atividade econômica nestes países. Aqui no Brasil, levando-se em conta os elevados níveis de capitalização do nosso sistema financeiro, os impactos de curto prazo devem ser modestos. Talvez por aqui a questão mais importante seja a médio e longo prazos, na medida em que a implementação das regras leve em conta as especificidades do nosso sistema financeiro e do momento que a economia brasileira atravessa. Nossas regras de capitalização já são mais rígidas e com a economia em crescimento, os bancos serão chamados a expandir o crédito, o que vai requerer mais capital. É importante que os nossos reguladores considerem estes aspectos no processo de adaptação das regras internacionais para o nosso sistema.

Índice Indicadores Nacionais Indicadores Internacionais Destaques da Semana Indicadores Úteis

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Créditos e Bancos Basiléia O Grupo de autoridades monetárias em reunião na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia, na Suíça, definiu um acordo para a criação do novo arcabouço com as normas de regulação para o sistema financeiro global. Em termos gerais, a implementação das medidas será mais suave do que o inicialmente abordado em final de julho. O Capital Predominante Mínimo passará de 2% atualmente para 4,5%, abaixo dos 5% cogitados inicialmente, com implementação gradual a partir de 2013. Adicionalmente a essa elevação, como era esperado, será criado um capital adicional de conservação de 2,5%, a ser aplicado gradualmente a partir de 2016, que elevará o Capital Predominante Mínimo requerido para 7% a partir de 2019, abaixo dos 7,5% inicialmente cogitados e da implementação final em 2018. Já o capital total mínimo foi mantido em 8% (ver cronograma abaixo). Será ainda criado um dispositivo adicional anti-cíclico de acumulação de capital, que vai variar de 0% a 2,5%, a ser implementado de acordo com as circunstâncias de cada país, o que pode elevar o Capital Predominante Mínimo requerido para até 9,5%. Esse dispositivo visar criar uma proteção extra ao sistema em períodos de crescimento acelerado do crédito. Já os novos índices de liquidez a serem criados terão um período de observação e serão implementados em 2015 (Liquidity Coverage Ratio) e 2018 (Net Stable Funding Ratio). Com relação ao impacto no Brasil, o Sistema Financeiro Nacional possui critérios mais rígidos do que os praticados no mercado internacional e possui indicadores de Basiléia confortáveis. Contudo, oimpacto das mudanças não será desprezível e será preciso observar as especificidades de cada país no tratamento das deduções a serem impostas para apuração do Capital Predominante, como a questão dos créditos tributários e intangíveis. Será preciso observar ainda a questão da implementação do dispositivo adicional anti-cíclico e os aspectos individuais das instituições financeiras brasileiras, que terão impactos distintos.

Vale lembrar também que serão medidas referentes a determinação de Basiléia 2 ainda serão adotadas. A Circular 3.498 do BC de jul/10 altera a partir de 2012 o cálculo do valor diário referente ao capital mínimo (Patrimônio de Referência Exigido - PRE) que os bancos devem manter em suas bases de capital para suportar os riscos de mercado. A nova regra terá implementação gradual. No 1T12 os bancos terão que cumprir metade do requerimento adicional, no 2T12 75% e a partir de jul/12, a regra deverá ser totalmente respeitada. Segundo o BC, a medida teria um impacto de 1p.p. sobre o Índice de Basiléia dos bancos brasileiros.

Caixa O crédito imobiliário segue apresentando avanço substancial, como mostram os dados da Caixa Econômica Federal. Até o dia 3 de setembro, o total de empréstimos chegou a R$ 47,69 bi, 87,6% acima do mesmo período de 2009 e acima de todo o volume desembolsado no ano passado, de R$ 47,05 bi. A evolução sinaliza manutenção do ritmo forte do crédito direcionado. Em relação ao fechamento de julho, quando a Caixa havia liberado R$ 33,5 bi, a expansão é de 42,35%, sendo que a instituição detém cerca de 75% do total emprestado para o setor. O forte desempenho inclusive motivou a revisão do total a ser financiado em 2010 pela instituição de R$ 60 bilhões para R$ 70 bilhões.

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Recentemente, a instituição recebeu reforço extra de R$ 4,5 bi do governo, derivado da transferência de cerca de 164 milhões de ações ordinárias da Petrobrás, excedentes ao que garante o controle. A Caixa possuía Basiléia de 17,1% no final do 2T10 o que comportava uma expansão do crédito em mais R$ 100 bi, dada sua carteira atual de R$ 151,3 bi. Com o aporte de recursos, a Caixa ampliará o índice de Basiléia para 18,5% e poderá emprestar mais R$ 50 bi, ou seja, poderá dobrar a carteira nos próximos anos. Novas medidas podem ser adotadas no sentido de ampliar a capacidade de empréstimo da instituição e facilitar seu enquadramento na exigibilidade de direcionamento da poupança, uma das principais fontes de funding da Caixa (49% da carteira está lastreada em recursos da poupança e 50% do FGTS). O crédito imobiliário é o segmento que apresenta a maior taxa de crescimento (+50,8% em 12 meses) atualmente entre as modalidades de Pessoa Física, superando o ritmo de expansão das operações de empréstimo pessoal/consignado e para aquisição de veículos/leasing, que lideraram a expansão a partir de 2004. Essas linhas, beneficiadas por mudanças institucionais e contando com garantias mais sólidas, foram impulsionadas também pela redução de juros e pelo alongamento dos prazos e ganharam relevante participação no crédito nacional. Agora, o crédito imobiliário, também beneficiado por mudanças institucionais, juros em queda e prazos mais longos, vem se destacando e ganhando espaço.

MP 501 A Medida Provisória 501 publicada na semana passada ampliou a abrangência das empresas passíveis de

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captar recursos, o prazo de vigência e o volume total de crédito disponível do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), linha do BNDES destinada à aquisição e produção de bens de capital e à inovação tecnológica. Segundo a MP, as operações poderão ser contratadas até o dia 31 de mar/11, de 31 de dez/10 anteriormente (prazo já prorrogado). A MP incluiu as operações destinadas à produção de bens de consumo para exportação e ao setor de energia elétrica, o que pode ter relação com o financiamento de usinas, como Belo Monte. Já o limite total da linha, que começou em R$ 44 bi e foi ampliado para R$ 124 bi (MP 487), passou agora para R$ 134 bi. Desde seu lançamento, em jul/09, o PSI desembolsou R$ 54,6 bi, sendo R$ 19,9 bi entre jul a dez/09 e R$ 35,5 bi de jan a jul/10. As operações contratadas somam R$ 80,7 bi, cerca de 70% para aquisição de máquinas e equipamentos. A linha é responsável pela mudança de dinâmica nos empréstimos do BNDES em 2010 e está relacionada ao recente avanço do crédito para micro, pequenas e médias empresas. Enquanto em 2009 a atuação do BNDES foi concentrada em grandes empresas, com desembolsos feitos diretamente, em 2010, o destaque fica para o avanço das linhas de financiamento automáticas repassadas pelos bancos, como o FINAME, com foco em companhias de menor porte. A parcela destinada às empresas de micro, pequeno e médio portes segue crescendo bastante e atingiu 36% do total desembolsado de jan/julho. Para comparar, as empresas de grande porte levaram mais de 80% do total desembolsado em 2009.


Poupança Segundo relatório do BC, a caderneta de poupança registrou uma captação líquida de R$ 1,82 bi em agosto, queda de 73% e 41% ante julho e ago/09, respectivamente. No acumulado do ano, a aplicação soma ingressos de R$ 20,9 bi, avanço de 71% sobre 2009.Em setembro,os números mostram recuperação, acumulando captação líquida de R$ 4,92 bi até o dia 03. O volume captado segue forte mesmo com a recente alta da Selic, que favorece o desempenho dos fundos de investimentos em relação à poupança. O crescimento da economia brasileira e a expansão dos salários e do emprego estão surtindo efeito positivo sobre a capacidade do brasileiro de poupar. Os fundos de investimentos, por sua vez, registraram resgates líquidos de R$ 1,33 bi em julho, sendo - R$ 4,8 bi nos fundos Multimercados e -R$ 3,31 bi nos FDICs, superando os aportes de R$ 1 bi nos Fundos de Curto Prazo,

+R$ 2,63 bi nos de Renda Fixa, +R$ 1,7 bi nos fundos de Previdência Privada e +R$ 1 bi em Fundos de Participações. No ano, contudo, os fundos registram forte captação líquida de R$ 49,2 bi, com destaque para Renda Fixa, com R$ 36 bi, Curto Prazo com R$ 10 bi e Previdência com R$ 6,2 bi, compensando as retiradas líquidas de R$ 7,5 bi dos Multimercados e R$ 2,7 bi dos FIDCs.

Inflação e Nível de Atividade IPC da FIPE; IPCA e IGP-10 O IPCA fechou agosto em 0,04%, próximo da taxa de julho, de 0,01%. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumulou alta de 4,49%, abaixo do observado nos 12 meses findos em julho (4,6%) e abaixo da meta de inflação seguida pelo BC, de 4,5%, pela primeira vez desde dez/09. O grupo Alimentos e Bebidas influenciou a ligeira aceleração do índice, reduzindo sua contribuição negativa de -0,17 p.p. para -0,05 p.p., passando de uma deflação de 0,76% em julho para -0,24% em agosto. Os índices ao consumidor seguem mostrando desaceleração no início de setembro. O IPC da cidade de São Paulo medido pela Fipe desacelerou para 0,15% na 1ª prévia de setembro. No fechamento de agosto, a alta foi de 0,17%.

Já o IGP-DI subiu para 1,1% em agosto, de 0,22% no mês anterior. No acumulado 12 meses, o índice teve alta de 7,05%, acima dos 7% do IGP-M em 12 meses. O IPA variou 1,7%, pressionado tanto pela parte industrial (1,40%), com o reajuste do minério, quanto pela agrícola (2,68%). O IPC registrou deflação de 0,08%, ante -0,21% em julho. O INCC teve alta de 0,14%, frente 0,44% no mês anterior.

PNAD 2009 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009 do IBGE mostrou avanços em diversos indicadores econômico-sociais. O percentual de empregados com carteira assinada subiu de 58,8% em 2008 para 59,6% em 2009. O rendimento mensal real de trabalho também permaneceu em elevação, com aumento de 2,2% entre 2008 e 2009, e a concentração desses rendimentos, medida pelo Índice de Gini, continuou se reduzindo, de 0,521 para 0,518. Em 2009, 43,1% da população ocupada tinham pelo menos o ensino médio completo, contra 41,2% em 2008, e os trabalhadores com nível superior completo representavam 11,1% do total, frente a 10,3% em 2008. O mercado de trabalho brasileiro, como na maioria dos países, sentiu os reflexos da crise internacional. Em relação a 2008, houve aumento de 18,5% na população desocupada, sobretudo entre os mais jovens, e avanço da taxa de desocupação, de 7,1% para 8,3%, invertendo uma tendência de queda que se mantinha desde 2006. A população ocupada foi estimada em cerca de 92,7 milhões, (0,3%), e o nível de ocupação caiu de 57,5% para 56,9%.

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Anfavea A produção de veículos alcançou 329,1 mil unidades em agosto, alta de 3,4% ante julho e de 11,5% em relação a ago/09. Em vendas, a indústria registrou 312,8 mil unidades, alta mensal de 3,5% e anual de 21,2%. No ano, a produção nacional cresceu 17,5%, para 2,41 milhões, enquanto o volume comercializado somou 2,19 milhões de unidades, +10,1% sobre 2009. O setor registrou exportações 0,8% acima de julho e +54,9% sobre ago/09. No acumulado do ano, as vendas

externas ficaram 63,7% acima de 2009. As montadoras encerraram o mês com 132.978 postos de trabalho ocupados, +10,3% sobre ago/09 e estável ante o mês de julho. Vale notar que em 12 meses, estamos trabalhando com os maiores níveis de vendas e produção, acima até do verificado antes da crise.

CNI O nível de utilização da capacidade instalada recuou de 82,5% em junho para 82,3% em julho, com ajuste sazonal. Na comparação com jul/09, cresceu 2,3 p.p.. O faturamento real da indústria aumentou 3,6% frente a junho; em relação a jul/09, 8,9%. O emprego industrial cresceu 0,5% ante junho, e de 7,3% em relação a jul/09. A massa salarial real cresceu 3,6% frente a junho e 8% na comparação anual.

IBGE: PIMES O emprego industrial cresceu 0,3% em julho, pelo 7º mês seguido, com ajuste sazonal. Ante jul/09, a alta foi de 5,4%. A folha de pagamento real dos trabalhadores subiu 1,9% no mês e 11,2% ante jul/09.

Cenário Internacional e Mercados

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O destaque da semana passada no mercado internacional, ficou para os anúncios de novos programas de estímulo econômico nos Estados Unidos e no Japão. O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou um pacote de US$ 50 bi para investimentos em infraestrutura, que prevê a modernização de estradas, rodovias e ferrovias, e outro programa de US$ 200 bi com a desoneração do Imposto de Renda para a classe média. Além disso, é esperado o anúncio do aumento na concessão de créditos tributários para as empresas que investirem na modernização de suas instalações e na aquisição de bens de capital, algo como US$ 180 bi em renúncia fiscal. O impacto dessas medidas nas contas públicas poderá ser compensado pelo fim da redução do Imposto de Renda para os 2% contribuintes mais ricos dos EUA, cerca de U$ 470 bi, que expira no final do ano, se não for estendido pelo Congresso.

No Japão, o governo divulgou um pacote de US$ 10,9 bilhões (915 bi de ienes), com incentivos e reformas regulatórias para alavancar o emprego, os gastos dos consumidores e os investimentos de empresas. O montante, porém, representa apenas 0,2% do PIB, podendo ser ampliado para 0,3% do PIB. Na semana passada, o crescimento do PIB japonês no 2T10 foi revisado para 0,4%, contra a leitura preliminar de +0,1%. Em relação ao 2T09, cresceu 1,5%, acima da estimativa inicial de um avanço de 0,4%. Sem indicadores relevantes, o anúncio dos programas fez as bolsas registrarem ligeira alta na semana, com o Ibovespa subindo 0,2%. Já dólar recuou 0,75%, para R$ 1,720, na expectativa de forte ingresso de recursos com a oferta de capitalização da Petrobras.


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Diretoria de Assuntos Econômicos – FEBRABAN economia@febraban.org.br

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Rubens Sardenberg – Economista-chefe Jayme Alves – Economista sênior Priscila Flori – Economista pleno Rachel Peixoto


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