& Construções
DURABILIDADE DO CONCRETO
Instituto Brasileiro do Concreto
REQUISITOS DE PROJETO, NORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO PARA ESTRUTURAS COM LONGA VIDA ÚTIL
Ano XLIII
79 JUL-SET
2015 ISSN 1809-7197 www.ibracon.org.br
PERSONALIDADE ENTREVISTADA
ENTENDENDO O CONCRETO
ACONTECE NAS REGIONAIS
HELENA CARASEK E OSWALDO CASCUDO: EXPERTISE EM DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO x COMPOSTOS CIMENTÍCIOS AVANÇADOS
57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO DISCUTE SUSTENTABILIDADE EM BONITO
2 | CONCRETO & Construções
Instituto Brasileiro do Concreto Organização técnico-científica nacional de defesa e valorização da engenharia civil
Fundada em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.
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u sumário
seções & Construções
DURABILIDADE DO CONCRETO
Instituto Brasileiro do Concreto
REQUISITOS DE PROJETO, NORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO PARA ESTRUTURAS COM LONGA VIDA ÚTIL
Ano XLIII
79 JUL-SET
2015 ISSN 1809-7197 www.ibracon.org.br
CRÉDITOS CAPA
Vista parcial das Pavilhão Central e da Biblioteca do Aquário do Pantanal. FHECOR do Brasil. estruturas do
PERSONALIDADE ENTREVISTADA
ENTENDENDO O CONCRETO
ACONTECE NAS REGIONAIS
HELENA CARASEK E OSWALDO CASCUDO: EXPERTISE EM DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO x COMPOSTOS CIMENTÍCIOS AVANÇADOS
57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO DISCUTE SUSTENTABILIDADE EM BONITO
7 Editorial 9 Coluna Institucional 11 Converse com IBRACON 13 Encontros e Notícias 26 Personalidade Entrevistada: Helena Carasek e Oswaldo Cascudo 56 Mantenedor 71 Entidades da Cadeia 126 Acontece nas Regionais 129 Agenda
OBRAS EMBLEMÁTICAS
41 51
Aquário do Pantanal: desafios de projeto e construção Panteão de Roma: análise simplificada de sua cúpula
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA
58 65
Durabilidade das estruturas de concreto como parâmetro de sustentabilidade Ações variáveis de projeto segundo os requisitos mínimo, intermediário e superior da ABNT NBR 15575
ENTENDENDO O CONCRETO
74
Concreto de alto desempenho X compostos cimentícios avançados
ESTRUTURAS EM DETALHES
79
& Construções
DURABILIDADE DO CONCRETO PRESIDENTE DO COMITÊ REVISTA OFICIAL DO IBRACON REQUISITOS DE PROJETO, Revista de caráter científico, tecnoló- EDITORIAL 79 NORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO à Eduardo gico e informativo paraESTRUTURAS o setor produ- COM Barros2015 Millen PARA LONGA tivo da construção civil, para o ensino (estruturas) VIDA ÚTIL e para a pesquisa em concreto. COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS ISSN 1809-7197 à Arnaldo Forti Battagin Tiragem desta edição: (cimento e sustentabilidade) 5.500 exemplares à Elton Bauer Publicação trimestral distribuida (argamassas) gratuitamente aos associados à Enio Pazini de Figueiredo (durabilidade) JORNALISTA RESPONSÁVEL à Evandro Duarte à Fábio Luís Pedroso - MTB 41.728 (protendido) fabio@ibracon.org.br à Frederico Falconi (projetista de fundações) PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Guilherme Parsekian à Arlene Regnier de Lima Ferreira (alvenaria estrutural) arlene@ibracon.org.br à Helena Carasek à Hugo Rodrigues (argamassas) hugo.rodrigues@abcp.org.br à Hugo Rodrigues (cimento e comunicação) PROJETO GRÁFICO E DTP à Inês L. da Silva Battagin à Gill Pereira (normalização) gill@ellementto-arte.com à Íria Lícia Oliva Doniak (pré-fabricados) ASSINATURA E ATENDIMENTO à José Tadeu Balbo office@ibracon.org.br (pavimentação) à Nelson Covas GRÁFICA (informática no projeto Ipsis Gráfica e Editora estrutural) Preço: R$ 12,00 à Paulo E. Fonseca de Campos As ideias emitidas pelos entre- (arquitetura) vistados ou em artigos assinados à Paulo Helene são de responsabilidade de seus (concreto, reabilitação) autores e não expressam, neces- à Selmo Chapira Kuperman (barragens) sariamente, a opinião do Instituto. Instituto Brasileiro do Concreto
Ano XLIII
JUL-SET
ISSN 1809-7197 www.ibracon.org.br
PERSONALIDADE ENTREVISTADA
ENTENDENDO O CONCRETO
ACONTECE NAS REGIONAIS
HELENA CARASEK E OSWALDO CASCUDO: EXPERTISE EM DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO x COMPOSTOS CIMENTÍCIOS AVANÇADOS
57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO DISCUTE SUSTENTABILIDADE EM BONITO
© Copyright 2015 IBRACON Todos os direitos de reprodução reservados. Esta revista e suas partes não podem ser reproduzidas nem copiadas, em nenhuma forma de impressão mecânica, eletrônica, ou qualquer outra, sem o consentimento por escrito dos autores e editores.
Agressividade de solos e água sobre estruturas enterradas de concreto
INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO
87 93
Durabilidade de armaduras enterradas sob processo natural de corrosão Termografia de infravermelho na avaliação de manifestações patológicas em edifícios
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
99 110 116 120
IBRACON Rua Julieta Espírito Santo Pinheiro, 68 – CEP 05542-120 Jardim Olímpia – São Paulo – SP Tel. (11) 3735-0202
Eficiência de transferência de cargas em pavimentos de concreto simples e continuamente armados Grau de saturação nos modelos de durabilidade do concreto para ataques de cloretos Resistência ao ataque de cloretos em concreto com cinza de bagaço de cana Teor de cloretos na resistividade elétrica do concreto armado como parâmetro de durabilidade
Instituto Brasileiro do Concreto
INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO Fundado em 1972 Declarado de Utilidade Pública Estadual | Lei 2538 de 11/11/1980 Declarado de Utilidade Pública Federal | Decreto 86871 de 25/01/1982 DIRETOR PRESIDENTE Túlio Nogueira Bittencourt DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE Julio Timerman DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE Nelson Covas DIRETOR 1º SECRETÁRIO Antonio D. de Figueiredo DIRETOR 2º SECRETÁRIO Arcindo Vaquero Y Mayor DIRETOR 1º TESOUREIRO Claudio Sbrighi Neto DIRETOR 2º TESOUREIRO Carlos José Massucato
6 | CONCRETO & Construções
DIRETOR DE MARKETING Hugo da Costa Rodrigues Filho DIRETOR DE EVENTOS Luiz Prado Vieira Júnior DIRETORA TÉCNICA Inês Laranjeira da Silva Battagin DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS Ricardo Lessa DIRETOR DE PUBLICAÇÕES E DIVULGAÇÃO TÉCNICA Paulo Helene DIRETORA DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Ana Elisabete Paganelli Guimarães A. Jacintho DIRETORA DE CURSOS Iria Lícia Oliva Doniak DIRETORA DE CERTIFICAÇÃO DE MÃO DE OBRA Roseni Cezimbra
u editorial
IBRACON para Quê e para Quem ? Caro leitor,
O
IBRACON é reconhecidamente uma or-
EPUSP, com início
ganização de utilidade pública Estadual
na década de 70.
e Federal, de caráter técnico-científico e de valorização da engenharia nacio-
Tanto o CNPq como a CAPES têm as mesmas finali-
nal, que tem a nobre missão de criar,
dades de promover e estimular o desenvolvimento do
divulgar e defender o correto conhecimento sobre as
País através da valorização da investigação científica
obras em concreto, desenvolvendo o seu mercado, a
e tecnológica.
serviço da sustentabilidade do planeta e do bem estar da sociedade.
Para lograr tal objetivo era necessário que a produção científica dos centros de pesquisa timidamente implan-
Transformar essa visão romântica e clara do papel do Ins-
tados naquele tempo fosse divulgada através de even-
tituto em ações concretas, transcendentes e profícuas,
tos científicos sérios, com Comitê Científico reconheci-
tem sido historicamente o grande desafio Institucional.
do, capacitado e voluntário, conhecido por pares com atuação ad hoc.
Uma das atividades-suporte desse ideal, iniciada com o congresso de fundação do Instituto em 1972, tem sido
A expressiva maioria desses Congressos de alto nível à
promover, pelo menos uma vez ao ano, um Congresso
época só existiam no exterior, o que dificultava a par-
de caráter científico, hoje denominado Congresso Bra-
ticipação de pesquisadores nacionais e inviabilizava o
sileiro do Concreto (CBC), cuja 57ª edição se dará na
desejado desenvolvimento em larga escala dos centros
magnífica e ecológica cidade de Bonito, em Mato Gros-
de pesquisa em concreto no país.
so do Sul, em fins de outubro deste ano. Naquela época e mesmo até hoje, no setor de obras em A instituição desses eventos científicos a partir do início
concreto, o IBRACON foi a única Instituição nacional a
da década de 70, colaborou na época com o incipien-
viabilizar, com qualidade e prestígio, essa divulgação da
te movimento nacional de formação de profissionais de
produção acadêmica de excelência, constituindo-se no
alto nível através da pós graduação stricto sensu, ou
maior fórum de conhecimento científico e tecnológico
seja viabilizou os programas de mestrado e doutorado
do Brasil em engenharia de concreto.
acadêmico, hoje amplamente disseminados nas melhores Universidades do país.
O Instituto vem premiando as teses e dissertações de excelência, recebe anualmente mais de mil resumos de
Apesar do CNPq (MCTI) e da CAPES (MEC) terem sido
trabalhos técnico-científicos, mobiliza mais de 120 con-
fundados em 1951, as regras básicas dos programas
sultores voluntários ad hoc que revisam cuidadosamente
de pós-graduação stricto sensu só foram definidas em
cada artigo científico submetido e aprovam cerca de 250
1965, quando então puderam dar seus primeiros pas-
para apresentação oral, além de outros tantos para apre-
sos os programas da COPPE, fundada em 1963, e o da
sentação na modalidade pôster nas edições dos CBCs. CONCRETO & Construções | 7
Pode-se dizer que não é por acaso que todas as Univer-
Um dos mais importantes é o CT-301 “Concreto Estru-
sidades importantes do país têm centros consolidados
tural”, comitê conjunto ABECE / IBRACON, presidido
de pesquisa e desenvolvimento em concreto, possuem
atualmente pela Enga Suely Bueno, da JKMF, e secre-
laboratórios de pesquisa e de ensino e viabilizam que
tariado pelo Eng. Alio Kimura, do grupo TQS. Um dos
qualquer obra de concreto, ainda que na mais remota
frutos do trabalho desse CT é a publicação da ABNT
região do país, possa ter um apoio tecnológico nas uni-
NBR 6118:2014. Comentários e Exemplos de Aplicação,
versidades da região. Somente isto já seria um legado indiscutível do IBRACON ao desenvolvimento do mercado de concreto no país, pois viabilizou que investidores, órgãos públicos, construtores, projetistas, laboratórios, fabricantes de materiais, enfim, toda a cadeia produtiva do concreto tenha suporte técnico e científico confiável em todas as regiões do território nacional.
que será lançado em Bonito no 57º CBC 2015. Após muitas horas voluntárias de trabalho árduo, esses abnegados profissionais acabam de elaborar mais um documento importante e de muito interesse para o setor. Trata-se de um texto original dedicado a esclarecer através de vários, oportunos e inteligentes comentários e exemplos como deve ser o correto uso das recomendações constantes do texto da nova norma.
A visão e o papel do IBRACON na sociedade brasileira foram ainda mais longe, percebendo a importância
A mobilização e motivação de estudantes de engenha-
de se editar uma Revista Científica (RIEM), mais um
ria e arquitetura para o concreto é outro ponto alto do
meio indispensável à divulgação da produção acadê-
IBRACON. Os lendários concursos do IBRACON, só
mica do país. Sem ela, os pesquisadores brasileiros
neste ano, estão mobilizando cerca de 450 jovens pro-
teriam como alternativa apenas publicar em periódicos
venientes de mais 35 Universidades brasileiras e até de
estrangeiros.
universidades do exterior, com mais de 200 inscritos no 57º CBC 2015. Esses engenheirandos dão muita vida e
Essa Revista é reconhecida pelo sistema Qualis da
movimento ao Congresso e o Instituto cumpre sua mis-
CAPES e pelo sistema SCOPUS / SCielo, sendo obje-
são estratégica de longo prazo de formar profissionais
tivo do IBRACON alcançar, a médio prazo, também o
engajados no universo do concreto.
sistema ISIS. No âmbito profissional / comercial edita livros técnicos e a Revista CONCRETO & Construções, esta com uma das maiores penetrações na comunidade de concreto. O Instituto também iniciou e implantou com sucesso, sob o aval do INMETRO, o sistema nacional de certificação de mão de obra no setor de concreto, além de oferecer cursos de pós-graduação latu sensu (MASTER-
Termino o meu espaço neste Editorial, mas ainda teria muito a comentar sobre a transcendente contribuição técnica e científica do Instituto ao mercado de concreto no país e ao desenvolvimento, reconhecimento e consolidação das vantagens e benefícios das obras de concreto à sustentabilidade e qualidade de vida, em benefício da sociedade brasileira.
PEC) visando manter atualizados os melhores profissionais do setor.
Venha fazer parte desta Comunidade! Junte-se ao maior grupo formador de opinião em con-
O estatuto do IBRACON também prevê ainda a criação
creto no país!
de Comitês Técnicos (CT) que reúnem grupos de profisPAULO HELENE
sionais para, voluntariamente, redigir textos de interesse do setor. 8 | CONCRETO & Construções
D iretor
de
P ublicações
e
D ivulgação T écnica
u coluna institucional
O maior evento sobre o concreto pela primeira vez em Mato Grosso do Sul
S
into-me honra-
deram constatar a excelência da
da pelo convite
infraestrutura local para receber
de escrever a
eventos técnico-científicos.
Coluna Institu-
A importância em sediar o
cional da 79ª
maior evento técnico-científico
edição da revista CONCRETO &
nacional sobre a tecnologia do
Construções, que vai ser distri-
concreto e as estruturas de
buída aos participantes do 57º
concreto está no fato do evento
Congresso Brasileiro do Con-
propiciara integração dos profis-
creto (57º CBC), do qual sou
sionais da cadeia produtiva do
coordenadora da Comissão Or-
concreto, a troca de experiências
ganizadora Regional, e que tem
e as transferências de conhe-
como sua bandeira “O futuro do
cimento e tecnologia de outros
concreto para a sustentabilidade nas construções”.
polos do Brasil e do mundo para a região. O evento ajudará a
O tema escolhido não poderia ser outro, levando em
fortalecer a economia local, bem como incentivará ainda mais
conta o local de realização do 57º CBC, a cidade de Bonito,
o turismo de Bonito. Um dos critérios que pautam o trabalho
no Mato Grosso do Sul, foi eleita como o melhor destino de
da Comissão Organizadora Regional é tomar o cuidado de uti-
turismo sustentável do mundo na World Travel Market, con-
lizar toda a infraestrutura oferecida na região, fazendo com que
siderada uma das maiores feiras da indústria de turismo da
população e fornecedores locais sejam beneficiados.
Europa. A cidade acolhedora, com seus 19 mil habitantes,
A passagem do Congresso em Bonito deve deixar
oferece mais de 35 atrações naturais e recebe cerca de 230
também um legado arquitetônico: durante a realização
mil turistas por ano.
do evento vai acontecer a 8ª edição do Concurso OUSA-
Para trazer o Congresso para o Centro-Oeste, formamos
DIA, que desafia os estudantes dos cursos de Engenharia
em 2007 uma equipe para captar o evento. Após diversas
Civil, Arquitetura e Tecnologia no país e no exterior ade-
articulações e com o apoio do Bonito Convention & Visitors
senvolverem um projeto de um Portal de Entrada com um
Bureau (Bonito CVB), ganhamos a candidatura em 2014.
Centro de Informações Turísticas para a cidade. O planeja-
Com a visita dos organizadores nacionais à cidade, eles pu-
mento deve conciliar os elementos paisagísticos do local e CONCRETO & Construções | 9
a busca contínua da redução dos impactos ambientais por
Neste ano, teremos ainda eleições para o Conselho Diretor
parte das construções. O projeto vencedor do Concurso
do Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON.
Ousadia será entregue à Prefeitura de Bonito, que deve usá-
A comissão organizadora do Mato Grosso do Sul está agradecida pela colaboração de todos os profissionais, as
-lo para a construção do Portal da cidade. Nesta edição do CBC, para que os congressistas possam
empresas e entidades do setor de construção civil, que acre-
usufruir das atrações turísticas da cidade, nós, Comissão
ditam e apoiam a realização do 57º Congresso Brasileiro do
Organizadora Regional e Nacional, concentramos as ativida-
Concreto em Bonito. Sabemos das dificuldades enfrentadas
des dos quatro dias do evento nos períodos verpertino e no-
pelo setor da construção civil no ano corrente, mas acredita-
turno. A extensão e profícua programação, característica do
mos que conhecimento, pesquisa, informação, tecnologia e
CBC, foi mantida, com a apresentação de trabalhos técnico-
experiências são bem-vindos para superar a crise e para nos
-científicos de pesquisadores de universidades e institutos
preparamos para uma nova fase de crescimento.
de pesquisa nacionais e estrangeiros, com as palestras de
Sejam todos bem-vindos ao Congresso!
especialistas internacionais, com os seminários e conferências paralelos, com os concursos estudantis, com a XI Feira
SANDRA REGINA BERTOCINI
Brasileira das Construções em Concreto (Feibracon) e todas
Coordenadora da Comissão Organizadora
as demais atividades tradicionais e consagradas do evento.
Regional do 57º CBC
A INDÚSTRIA DE ESTRUTURAS PRÉ-MOLDADAS NO BRASIL TEM VIABILIZADO IMPORTANTES PROJETOS.
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Eficiência Estrutural; Flexibilidade Arquitetônica; Versatilidade no uso; Conformidade com requisitos estabelecidos em normas técnicas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas); Velocidade de Construção; Uso racional de recursos e menor impacto ambiental.
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u converse com o ibracon ENVIE SUA PERGUNTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br PERGUNTAS TÉCNICAS A partir de qual volume de concreto é necessário considerar em projeto o controle térmico de uma fundação quanto ao calor de hidratação?
ADRIANO JUSTINO (Bauru - SP)
Especificar um número para esse volume é muito difícil. Já tive a oportunidade de ver blocos de cerca de 30m³ fissurados devido ao efeito térmico e, diga-se de passagem, esses blocos tinham pouca armadura no topo e nas laterais. Óbvio que não foi a taxa de amadura o agente causador das fissuras, mas poderia ter evitado a fissuração. Sabemos ainda que muitos blocos são armados sem esse tipo de armadura superior, o que pode contribuir muito para o aumento da fissuração. Pela definição do IBRACON sobre concreto massa, qualquer peça de concreto que tenha dimensão a partir de 0,50 m em pelo menos uma direção, deve ser tratada como concreto massa e ser verificada quanto o efeito térmico. Normalmente, em blocos de fundação usuais, apenas medidas preventivas de projeto podem ser suficientes para controlar a fissuração, como, por exemplo, adotar uma taxa de armadura (superior e lateral) um pouco maior que a de costume, ou ainda prever a execução por camadas de concretagem. A recente revisão da ABNT NBR 6118:2014 incluiu em seu item 22.7.4.1.5 a obrigatoriedade da colocação de armaduras laterais e superiores em blocos sobre duas ou mais estacas, e também chama a atenção para a avaliação de blocos de grandes volumes, entretanto não é dito qual volume é esse. Como vemos é um assunto complexo e interessante, e especificar a partir de qual volume se deve ter um cuidado especial quanto a questão térmica é uma tarefa complicada, pois depende de
muitos fatores. Blocos pequenos com pouca armadura e muito cimento podem fissurar. Blocos grandes, sem os devidos cuidados, podem fissurar mais ainda. O ideal é que se tenha um critério de detalhamento de armaduras que atenda a maior parte dos casos, e sempre que possível solicitar um estudo térmico mais detalhado. ENG. DOUGLAS COUTO, PhD Engenharia
Pelo que sei, mas posso estar mal informada, as concreteiras e indústrias de pré-fabricação do Brasil não costumam usar aditivo modificador de viscosidade nos concretos autoadensáveis que produzem, ou seja, adotam os chamados “powder type SCC”. Estou muito curiosa sobre as razões que têm levado a esta escolha.
Primeiro, imaginei que puEntretanto, a dosagem desse aditivo costuma ser baixa. E, por outro lado, esse aditivo traria mais robustez ao concreto e possibilitaria a adoção de menos pasta, o que seria vantajoso sob vários aspectos. Você poderia fazer a gentileza de me esclarecer: – se estou certa acerca do não uso do desse ser o custo desse aditivo.
aditivo modificador de viscosidade pela indústria brasileira? – os motivos desta indústria para a escolha do concreto autoadensável com maior teor de pasta? – se a escolha do tipo de concreto autoadensável no Brasil corresponde ao que tem sido feito em outros países?
LIDIA SHEHATA (UFRJ)
Pergunta interessante e complexa. Consultei a fina flor dos entendidos no tema: Basf, Viapol, Mc-Bauchemie, Grace, Engemix, Polimix, ABESC e colegas. Meu resumo: 1. Cerca de 90% do concreto dito, chamado ou vendido como autoadénsável no Brasil é, na verdade, um concreto fluído que não atende
aos ensaios e requisitos previstos na ABNT NBR 15823 (Classes SF1, SF2 e SF3). É comum eu ser chamado para avaliar paredes de concreto com autoadensáveis e encontrar uma junta de concretagem bem inclinada, a 60 graus, quando deveria ser horizontal! Nesses concretos o preço não comporta VEA (aditivos modificadores de viscosidade). 2. Em 95% das obras em concreto autoadensável (que, na verdade, são apenas fluidos), os aditivos superplastificastes são adicionados no canteiro, na hora do lançamento. Portanto, não é necessária a robustez no traço. Concretos autoadensáveis (SCC) dosados e orientados pela PhD sempre saem prontos da Central e não se adiciona nada no canteiro. Neste caso, muitas vezes é vantajoso usar VEA. 3. A indústria de pré-moldados tem a Central de mistura ao lado da produção e dispensa robustez nos concretos e dispensa VEA. 4. Um concreto SCC geralmente resulta em fcks superiores a 40MPa aos 28dias e bem poucas obras requerem concretos com fck superior a 40MPa. A grande maioria pede SCC e fck de 30MPa. Óbvio que recebe concreto fluido e não SCC. 5. Existe inércia e certo preconceito na indústria do concreto com relação a usar muitos aditivos. 6. Alguns aditivos mais caros e mais sofisticados oferecidos no Brasil já têm VEA incorporado no superplastificante. 7. É muito interessante usar adições (sílica e metacaulim) por conta da durabilidade, para reduzir risco de AAR (Reação Álcali-Agregado), para aumentar fck, para modificar módulo, para alterar cor, para alterar absorção, para reduzir cloretos, para reduzir consumo de clínquer, CONCRETO & Construções | 11
ou seja, as adições são mais necessárias e versáteis que os VEAs e, por isso, são mais utilizadas. 8. Os agregados do RJ são ruins e com granulometria mal equilibrada. Os VEAs funcionam bem e melhoram a trabalhabilidade. Foram utilizados, por exemplo, nas megavigas da Cassol, na ponte de Manaus e no Estaleiro Atlântico. 9. Grande parte dos cimentos nacionais têm adições incorporadas, enquanto nos USA, eles não têm. Portanto, fica menos interessante o uso de VEA no Brasil. 10. Nas obras, as concretagens são empreitadas por m3 ou m2 e realizadas por terceiros (gatos). Melhorar o concreto, reduzir ruídos, reduzir prazos, reduzir pessoal não altera o preço dos serviços de concretagem (gatos). Portan-
to, melhorar o concreto fica como algo secundário. 11. Praticamente em todas as Centrais, a administração de aditivos é manual e precária. Depende de gente para dosar cada aditivo e subir na escada e lançar o aditivo. Na Europa e USA, usam-se dispensados automáticos. No Brasil, depende-se do peso e quanto menos tipos diferentes de aditivo, bem menor os riscos de erros humanos. 12. Se o pedido é concreto fluido ou pseudo SCC, com fck de 25MPa e sem nenhuma exigência de exsudação, homogeneidade ou segregação, adicionar água à vontade é o caminho mais rápido e mais barato. 13. Tem serviços de concretagem com concretos de slump 60mm, porque é mais barato. Na obra, ao Construtor tanto faz que os operários do
subempreiteiro fiquem concretando 2h ou 6h, pois pagam igual ao (gato) subempreiteiro. Daí, vibram demais ou de menos, fica abrindo ferragem com alavancas, deixam bicheiras, juntas frias, destroem as fôrmas, etc. 14. Os VEAs são muito utilizados em argamassa de base cimento. Eu sempre uso para revestimentos de tanques, piscinas e parques aquáticos, tipo “Wet and Wild”. Concluindo: u Os VEAs são uma boa opção para os SCC de verdade; u Motivos vários impedem seu maior uso. Estou à sua disposição para ampliarmos a discussão. PAULO HELENE,
diretor de publicações técnicas do
IBRACON e diretor da PhD Engenharia
Ao utilizar a fôrma 80x72,5 cm, o cliente encontra à sua disposição alguns fornecedores, podendo negociar melhores preços.
12 | CONCRETO & Construções
u encontros e notícias | LIVROS
Comentários e Exemplos de Aplicação da ABNT NBR 6118:2014
A
publicação
co-
tas do Instituto Brasileiro do
mentários e exemplos
Concreto (IBRACON) e da As-
de aplicação da nova nor-
sociação Brasileira de Enge-
ma brasileira para projetos
nharia e Consultoria Estrutural
de estruturas de concreto
(ABECE),
- ABNT NBR 6118:2014,
zar o Concreto Estrutural, a
objetivando esclarecer os
obra é voltada para enge-
conceitos e exigências nor-
nheiros
mativas e, assim, facilitar
tecnologistas.
seu uso pelos escritórios
A publicação contou com
de projeto.
o patrocínio da Ancora Pro,
Fruto do trabalho do Comi-
Engeti, Equilibrata, Gerdau,
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u encontros e notícias | LIVROS
Projeto da Durabilidade de Estru
A
vida útil da estrutura no projeto é relativamente recente. Foi introduzida na década de 1990 na Europa e nos
Estados Unidos e, em 2003 no Brasil, com a publicação da ABNT NBR 6118. O conceito foi reforçado no país com a publicação, em 2013, da ABNT NBR 15575, que considera a durabilidade das estruturas de concreto como um dos critérios de desempenho das construções civis. Pela recente introdução do conceito, faltam dados seguros e confiáveis sobre a durabilidade de obras existentes nos quais o projetista pode se apoiar. Neste contexto, o livro “Projeto da Durabilidade de Estruturas de Concreto em Ambientes de Severa Agressividade” vem suprir uma lacuna na engenharia de estruturas. Repassando para a obra grande parte de sua longa experiência em observação, estudo, inspeção e diagnóstico de estruturas portuárias e em alto-mar, Odd Gjorv
RAPiDEz E EConomiA PARA SuA oBRA. Concretos Especiais
Concreto Autoadensável
Concreto de Alto Desempenho (CAD)
Tipos de Aplicação
Bombeável
Concreto Permeável
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Convencional
Ecomix
Projetado
www.mapadaobra.com.br 14 | CONCRETO & Construções
Submerso
Usado em obras de pequeno porte, quando não é possível bombear o concreto.
u encontros e notícias | LIVROS
uturas de Concreto em Ambientes de Severa Agressividade trata com profundidade o tema da du-
Deste modo, o livro é obra de consul-
-Gobain, a versão brasileira, editada
rabilidade de estruturas em ambientes
ta obrigatória para os profissionais da
pela Oficina de Textos, teve super-
marinhos, com foco na penetração de
engenharia de concreto no país, per-
visão técnica de Paulo Helene (Es-
cloretos e a corrosão de armaduras. A
mitindo aos projetistas estruturais ob-
cola Politécnica da Universidade de
obra trata dos procedimentos e espe-
ter conceitos e dados práticos para a
São Paulo – Poli-USP) e Enio Pazini
cificações de dosagem do concreto
tomada de decisões quanto à introdu-
(Escola de Engenharia Civil da Uni-
para assegurar sua durabilidade fren-
ção da durabilidade no projeto de es-
versidade Federal de Goiás – EEC/
te ao ataque por cloretos, especifica
truturas de concreto. O livro também
UFG). Ela será lançada no 57º Con-
requisitos prescritivos de durabilidade
aborda o controle de qualidade na
gresso Brasileiro do Concreto, que
baseados no desempenho da estru-
execução de obras e suas consequ-
acontece de 27 a 30 de outubro,
tura para o controle da qualidade du-
ências em relação à vida útil, servindo
em Bonito, Mato Grosso do Sul.
rante a execução da obra e apresenta
como referência a consultores, tecno-
Os participantes do evento pode-
os procedimentos para inspeção e
logistas, construtores, laboratoristas,
rão autografar seu livro com o autor,
avaliação da estrutura e para sua ma-
pesquisadores e gestores.
que também proferirá uma palestra
nutenção preventiva.
Com patrocínio da Weber Saint-
no Congresso.
CONCRETO & Construções | 15
u encontros e notícias | LIVROS
Sistemas de Fôrmas para Edifícios – 2ª edição livro “Sistemas de Fôr-
O
pliada e atualizada, aborda desde
mas para Edifícios: reco-
o projeto arquitetônico e o lança-
mendações para a melhoria
mento estrutural frente à constru-
da qualidade e da produtivi-
tibilidade da estrutura, passando
dade com redução de custo”,
pela caracterização dos materiais
do Eng. Antonio Carlos Zorzi,
componentes do molde de ma-
propõe diretrizes para a ra-
deira, do projeto de produção e
cionalização de sistemas de
fabricação das fôrmas, do cim-
fôrmas empregados na exe-
bramento, da montagem e da
cução de estruturas de con-
desfôrma, até o treinamento e
creto armado e que utilizam o
qualificação de mão de obra.
molde em madeira.
A publicação, com patrocínio da
Tendo por base a experiência
Peri, é voltada aos engenheiros
profissional do autor junto às
civis, projetistas, construtores e
construtoras Encol e Cyrela, a
gerenciadores da qualidade da
segunda edição da obra, am-
construção.
Para construir seus projetos mais importantes, conte com a força do vergalhão Gerdau GG 50. A força da transformação.
O aço da Gerdau tem a força da transformação.
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16 | CONCRETO & Construções
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/gerdau
/gerdausa
u encontros e notícias | LIVROS
Propriedades do Concreto O livro oferece uma visão abran-
Departamento da Universidade
gente e detalhada do concreto
de Leeds e reitor da Universi-
como material de construção.
dade de Calgary. A tradução
Em sua quinta edição, seu ob-
da quinta edição em inglês
jetivo é fornecer aos projetistas,
coube ao professor do Depar-
empreiteiros e fornecedores o en-
tamento de Engenharia Civil da
tendimento consolidado do com-
Universidade do Rio Grande
portamento do concreto, seja em
do Sul, Ruy Cremonini.
laboratório, seja em estruturas
Editado pela Bookman, a nova
reais, para facilitar a obtenção de
edição contém tópicos adi-
construções em concreto com
cionais: formação de etringita
maior qualidade.
tardia, agregado reciclado de
Seu autor, Adam Neville, tem lar-
concreto, concreto autoaden-
ga experiência como professor,
sável, ataque de sulfatos, além
pesquisador e consultor em en-
das atualizações dos tópicos
genharia civil. Foi diretor da Uni-
das edições anteriores.
versidade de Dundee, chefe de
à Informações: www.grupoa.com.br
CONCRETO & Construções | 17
u encontros e notícias | LIVROS
Concreto Autoadensável
18 | CONCRETO & Construções
livro Concreto Autoaden-
O
resolver um dos maiores gargalos
sável, de Bernardo Tutikian
relacionados à disseminação do
e Denise Dal Molin, está em
material no Brasil: o custo eleva-
sua segunda edição, revisada
do. A partir de tais métodos, foi
e ampliada. Resultado de mais
possível que o concreto autoa-
de quinze anos de estudos, a
densável tivesse custos compe-
publicação tem início com uma
titivos em relação aos concretos
extensa revisão bibliográfica do
convencionais, tornando o pro-
concreto autoadensável (CAA),
cesso de produção de estruturas
ressaltando aplicações, vanta-
com CAA viável economicamen-
gens, desvantagens e equipa-
te, como demonstrado nos capí-
mentos de verificação da traba-
tulos seguintes.
lhabilidade, entre outros tópicos
Lançado pela Editora PINI com
abordados. No capítulo 5 são
patrocínio da MC Bauchemie, o
apresentados dois métodos de
livro foi lançado na feira Concrete
dosagem que foram desenvolvi-
Show South America, ocorrida
dos para CAA com o intuito de
em agosto último.
u encontros e notícias | EVENTOS
2º Congresso Brasileiro de Patologia das Construções
A
Associação Brasileira de Pa-
de Belém, no Pará, o 2° Congresso
as pesquisas científicas e tecnológicas
tologia das Construções (AL-
Brasileiro de Patologia das Constru-
sobre estes importantes temas e áreas
CONPAT BRASIL), com apoio do
ções (2º CBPAT).
correlatas, o 2º CBPAT está recebendo
Instituto
Concreto
Fórum de debates sobre o controle da
artigos técnico-científicos.
(IBRACON), promove, entre os dias
qualidade, a patologia e a recuperação
à Informações:
18 e 20 de abril de 2016, na cidade
de estruturas, com intuito de divulgar
http://alconpat.org.br/cbpat2016/
Brasileiro
do
Conferência Internacional sobre Concreto Estrutural Sustentável
F
órum internacional para cientistas,
Estrutural Sustentável acontece de 15
Treinamento Multidisciplinar para a
engenheiros, empresários e cons-
a 18 de setembro de 2015, na cidade
Investigação Tecnológica (LEMIT) e
trutores discutirem os avanços no co-
de La Plata, na Argentina.
União dos Laboratórios e Especialistas
nhecimento técnico, nas pesquisas e
Promovida pela Associação Argentina
em Materiais, Sistemas e Estruturas
inovações sobre o concreto sustentá-
de Tecnologia do Concreto (AATH),
(RILEM).
vel sob diversas perspectivas, a Con-
Associação Argentina do Concreto
à Informações:
ferência Internacional sobre Concreto
Estrutural (AAHES), Laboratório de
www.sustainconcrete2015.com.ar
CONCRETO & Construções | 19
u encontros e notícias | EVENTOS
18º Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural (Enece 2015)
S
ob o tema “O papel das estruturas
painéis com palestras de especialis-
No dia seguinte, haverá um painel que
e a viabilidade do empreendimen-
tas. Kaare Dahl, engenheiro estrutural,
vai abordar importantes normas que
to”, o 18º Encontro Nacional de Enge-
gerente de projeto na Ramboll (Nova
norteiam o cotidiano do engenheiro
nharia e Consultoria Estrutural (Enece
Delhi, Índia) é o convidado do painel
estrutural e os principais comitês em
2015) acontece nos dias 8 e 9 de ou-
“Construtor versus Estruturas”, onde
andamento para atualização e revisão
tubro, no Milenium Centro de Conven-
os especialistas debaterão as principais
dessas normalizações. A programa-
ções, em São Paulo. As inscrições para
necessidades de quem projeta e de
ção será encerrada com a cerimônia
o evento já estão abertas.
quem executa os empreendimentos.
de entrega do 13º Prêmio Talento En-
Promovido pela Associação Brasileira
O segundo painel contemplará impor-
genharia Estrutural, que revelará os
de Engenharia e Consultoria Estrutural
tantes cases de estruturas, fechando o
vencedores dos melhores projetos es-
(Abece), o evento será formado por três
primeiro dia do evento.
truturais de 2015.
14º Congresso Internacional sobre Química do Cimento 14º Congresso Internacional sobre
O
cimento de baixa emissão de carbono e
Materiais de Construção, ao Escritório em
Química do Cimento será realiza-
o desenvolvimento sustentável no setor.
Pequim da Barragem das Três Gargantas
do de 13 a 16 de outubro de 2015, em
Durante o evento, serão realizadas as vi-
Pequim, na China, tendo como tema o
sitas técnicas a Academia Chinesa de
e a Fábrica de Cimento de Pequim. à Informações: www.iccc2015beijing.org
20 | CONCRETO & Construções
u encontros e notícias | EVENTOS
Congresso Internacional em Reabilitação de Construções
O
Congresso
em
ções. Está prevista a apresentação de
os workshops “Vida útil das Cons-
Construções
cerca de 400 trabalhos técnico-cientí-
truções”, “Patologia e manutenção
(Conpat 2015) vai ocorrer no Instituto
ficos de pesquisadores de 19 países.
das
Superior Técnico, em Lisboa, Portu-
Promovido pela Alconpat (Associa-
na melhoria do desempenho de so-
gal, de 08 a 10 de setembro de 2015,
ção de Patologia das Construções),
luções de revestimento” e “Constru-
com a finalidade de divulgar as me-
o evento oferecerá também os cur-
ções Sustentáveis”.
lhores estratégias e tecnologias para
sos “Patologia das Construções” e
à Informações:
o setor de reabilitação das constru-
“Reabilitação das Construções”, e
www.conpat2015.com
Reabilitação
Internacional de
construções”,
“Nanomateriais
2ª Conferência Internacional sobre Sustentabilidade do Concreto
C
om a finalidade de discutir tec-
Internacional sobre sustentabilidade
nica de Madri (UPM) e co-organizada
nologias redutoras de impactos
do concreto (ICCS16) vai acontecer de
pela Ache, ACI, Alconpat, fib, Rilem e
ambientais, aspectos de durabilidade
13 a 15 de junho de 2016, em Madri,
JCI, a Conferência recebe artigos técni-
de projetos de obras e materiais e es-
na Espanha.
cos até 31 de outubro.
truturas sustentáveis, a 2ª Conferência
Organizada pela Universidade Politéc-
à Informações: www.iccs16.org
CONCRETO & Construções | 21
u encontros e notícias | EVENTOS
A Normalização Brasileira de Estruturas de Concreto enfrenta novo desafio internacional
N
FSB
o próximo mês de outubro a cidade de Seoul, na Coréia do Sul, receberá representantes do mundo todo para a reunião anual do ISO/TC71 - International Committee of Concrete, Reinforced Concrete and Pre-Stressed Concrete. Em sua 21ª edição, o evento será realizado no período de 26 a 29 de outubro 2015, sob o patrocínio do KATS – Korean Agency for Technology and Standards, que é o organismo de normalização nacional do País. Para o Brasil esse pode ser um momento histórico, pois a nossa Norma de Projeto de Estruturas de Concreto, ABNT NBR 6118, será submetida a uma nova avaliação para revalidação de seu registro na ISO - International Organization for Standadization. A conquista obtida em 2008, quando pela primeira vez a Norma Brasileira foi considerada como documento de validade internacional por cumprir com as exigências da ISO 19338 Performance and assessment requirements for design standards on structural
para escrever a história de um país, é preciso cuidar dele.
Para um país crescer, é preciso investimento. Mas é necessário também pensar no meio ambiente, na sociedade e nas futuras gerações. A indústria do cimento investe em qualidade e utiliza as tecnologias mais avançadas para promover um desenvolvimento sustentável. Colabora ainda para tornar o meio ambiente mais limpo com o co-processamento: a destruição de resíduos industriais e pneus em seus fornos. Onde tem gente tem cimento.
22 | CONCRETO & Construções
u encontros e notícias | EVENTOS
concrete, deve se repetir este ano, quando
agora, para a reunião do TC71 de 2015.
encaminhamento de sugestões e votos bra-
a revalidação do registro está sendo exigida
Na reunião a ser realizada em Seoul, o Bra-
sileiros para os documentos internacionais
de todos os países, em vista da revisão da
sil será representado pela Coordenadora da
nesse âmbito, ao longo dos últimos dez anos
ISO 19338.
Comissão de Estudo da ABNT e do CT 301
de atuação, têm garantido ao Brasil uma pre-
Muito trabalho foi empreendido nos últimos
IBRACON/ABECE, Engª Suely Bacchereti
sença forte, técnica e muito positiva.
anos com a revisão da Norma Brasileira e
Bueno, pela Prof. Dra. Sofia Maria Carrato
A Diretoria do IBRACON participa desse
de seus documentos complementares, de
Diniz e pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Pinto da
trabalho com a atuação de seu Presiden-
forma a ser mantido o estágio de atualiza-
Silva Filho.
te, Prof. Dr. Túlio Bittencourt, de seus Vice-
ção com relação às exigências internacio-
Toda a documentação exigida pela ISO foi já
-Presidentes, Engo. Júlio Timerman e Engo.
nais, mas vale salientar que a mais expres-
oficialmente enviada pelo Brasil, através de
Nelson Covas, do seu Diretor de Publica-
siva modificação da ABNT NBR 6118 com
seu organismo nacional de normalização,
ções, Prof. Dr. Paulo Helene, da Diretora de
relação ao documento apresentado à ISO
a ABNT. No dia 28 de outubro, os repre-
Cursos, Enga. Íria Lícia Oliva Doniak e da
em 2008 é a ampliação de seu escopo,
sentantes brasileiros devem apresentar ao
Diretora Técnica, Enga. Inês Battagin, que
abrangendo agora as estruturas de concre-
TC71/SC4 informações sobre o conteúdo
responde também pela Superintendência
to de alto desempenho.
da Norma Brasileira e de que forma ela
do ABNT/CB18.
O CT 301 – Comitê Técnico IBRACON/
atende às exigências estabelecidas na nova
No 57º Congresso Brasileiro do Concreto
ABECE de Projeto de Estruturas de Concre-
ISO 19338.
do IBRACON, que será realizado em Boni-
to atuou fortemente para esses resultados,
Na programação estão previstas muitas ou-
to, Mato Grosso do Sul, no mês de outubro,
tendo preparado os textos-base encami-
tras atividades nas reuniões dos subcomitês
será lançado o caderno de Práticas Reco-
nhados à Associação Brasileira de Normas
do ISO/TC 71, que serão realizadas como
mendadas IBRACON/ABECE, elaborado
Técnicas (ABNT) para a revisão da Norma
apresentado no Quadro. A presença dos
pelo CT 301, com Comentários e Exemplos
em 2003 e 2014, bem como a documen-
representantes brasileiros em todas elas e
de Aplicação da versão de 2014 da ABNT
tação para seu registro na ISO em 2008 e,
o trabalho desenvolvido com a análise e o
NBR 6118.
ǧ
Com a , você tem a solução ideal para todo tipo de projeto. Conheça a nossa linha completa de produtos para reparos, reforços e proteções de estruturas de concreto.
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CONCRETO & Construções | 23
u encontros e notícias | CURSOS
Estruturas pré-fabricadas de concreto: do projeto à obra pronta
C
om uma introdução geral do
ção
processo construtivo com pré-
cas, o curso é destinado a profis-
de pré-fabricados.
-fabricados de concreto, envolven-
sionais e empresários do setor de
Data: 28/10/2015
do projeto, produção e montagem,
pré-fabricação.
Horário: 9:00h às 13:00h
com ênfase em ligações e proten-
O curso será ministrado pelo en-
Carga horária: 4 horas
são, padronização e certificação
genheiro civil Luís Otávio Livi, com
Créditos Master Pec: 4 créditos
das
aspectos
atuação como projetista de estrutu-
Local: Centro de Convenções de Bonito
normativos da ABNT NBR 9062 e
ras na Cassol Pré-fabricados (2006-
Realização: Instituto Brasileiro do Concreto
ABNT NBR 14861, contratação e
2012) e, atualmente, como consultor
principais aplicações, e a preven-
em projetos, implantação e desen-
– IBRACON à Informações: www.ibracon.org.br
peças,
incluindo
de
manifestações
patológi-
volvimento de plantas de produção
Projeto de lajes em concreto armado e protendido
O
curso apresenta uma visão geral
aspectos de cálculo (vãos máximos,
punção e vibrações).
do projeto de lajes, desde seus
espessuras mínimas, ações atuan-
Voltado para engenheiros, projetis-
tipos, principais conceitos envolvi-
tes, metodologias), até considera-
tas, técnicos de edificações, arquite-
dos no dimensionamento e materiais
ções sobre suas condições em ser-
tos e estudantes em final de curso, o
usados, passando pelos principais
viço (flechas, fluência, fissuração,
curso será oferecido aos participantes
PROGRAMA
MASTER PEC IBRACON
ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS DE CONCRETO: DO PROJETO À OBRA PRONTA Data: 28/10/2015 Horário: 9h00 / 13h00 PROJETO DE LAJES EM CONCRETO ARMADO E PROTENDIDO Data: 29/10/2015 Horário: 9h00 / 18h00 LOCAL
Centro de Convenções de Bonito – MS
24 | CONCRETO & Construções
CORROSÃO DAS ARMADURAS: ESTADO DA ARTE Data: 30/10/2015 Horário: 9h00 / 18h00
INFORMAÇÕES
Tel.: 11-3735-0202 e-mail: vanessa@ibracon.org.br site: www.ibracon.org.br
u encontros e notícias | CURSOS
do 57º Congresso Brasileiro do Con-
das Faculdades Metropolitanas de
Créditos Master Pec: 8 créditos
creto. Seu ministrante é diretor do
Campinas (Verismetrocamp).
Local: Centro de Convenções de Bonito
Escritório Brasileiro de Protensão e
Data: 29/10/2015
Realização: Instituto Brasileiro do Concreto
ex-professor do Centro Universitário
Horário: 9:00h às 18:00h
Adventista de São Paulo (Unasp) e
Carga horária: 8 horas
– IBRACON à Informações: www.ibracon.org.br
Corrosão de armaduras: estado da arte
M
inistrado por uma equipe de
Brasileiro do Concreto, sendo minis-
de São Paulo (Poli-USP), Prof. Paulo
especialistas na área de dura-
trado pela pesquisadora do Instituto
Helene, e pelo professor da Escola
bilidade das estruturas de concreto,
de Ciências da Construção Eduardo
de Engenharia Civil da Universidade
o minicurso vai discutir os mecanis-
Torroja (CSIC), na Espanha, Eng.
Federal de Goiás (EEC/UFG), Prof.
mos associados à corrosão de ar-
Maria Del Carmen, pelo professor
Ênio Pazini.
maduras, os aspectos de projeto de
emérito da Universidade Noruegue-
Data: 30/10/2015
estruturas duráveis, a vida útil das
sa de Ciência e Tecnologia (NTNU),
Horário: 9:00h às 18:00h
ção da deterioração das estruturas
Conselho Nacional de Investigações
Créditos Master Pec: 8 créditos
e as estratégias de intervenção para
Científicas e Técnicas, na Argenti-
Local: Centro de Convenções de Bonito
recuperar e prolongar sua vida útil.
na, Prof. Yuri Villagran, pelo diretor
Realização: Instituto Brasileiro do Concreto
O minicurso vai ser oferecido aos
da PhD Engenharia e professor da
– IBRACON
participantes
Escola Politécnica da Universidade
à Informações: www.ibracon.org.br
Authors are kindly invited to submit 300 word abstracts before May 15th, 2015, through the online construções, os métodos de avalia- Prof. Odd Gjorv, pelo pesquisador do Carga horária: 8 horas submission system which will soon be available at the Conference website (http://www.iabmas2016.org).
do
57º
Congresso
8th International Conference on
Bridge Maintenance, Safety and Management (IABMAS2016) June 26-30, 2016 | Foz do Iguaçu | Paraná | Brazil
w w w. i a b m a s 2 0 1 6 . o r g T
O
P
I
Advanced Materials u Aging of Bridges u Assessment and Evaluation u Bridge Codes u Bridge Diagnostics u Bridge Management
C
S Systems Damage Identification u New Design Methods u Deterioration Modeling u Earthquake and Accidental u
Loadings u Fatigue u Foundation Engineering
Systems Field Testing u Health Monitoring u Load Models u Life-Cycle Assessment u Maintenance Strategies u Non-destructive Testing u Prediction of Future Traffic u
Demands Repair and Replacement u Residual Service Life u Safety and Serviceability u Service Life Prediction u Sustainable Bridges
u
I N F O R M A T I O N SECRETARIAT Ms. Tatiana Razuk secretariat@iabmas2016.org
CONCRETO & Construções | 25
u personalidade entrevistada
Oswaldo
Cascudo &
Helena
Carasek
26 | CONCRETO & Construções
O
swaldo Cascudo e Helena Carasek são professores e pesquisadores da Escola de Engenharia Civil
IBRACON – Conte-nos resumidamente
totalmente novo, que definiu a
sobre suas carreiras profissionais,
trajetória que eu seguiria por toda
começando pela escolha do curso de
minha vida profissional até os dias
engenharia civil, as motivações para a
de hoje. A partir dele, adentrei a
especialização e as razões para seguir a
área de durabilidade do concreto e
carreira acadêmica.
de corrosão das armaduras, áreas
da Universidade Federal de Goiás
Oswaldo Cascudo – Desde tenra
principais de minha atuação como
(UFG), ligados ao seu Programa
idade, tenho memória da engenharia
docente, pesquisador e consultor.
de Pós-Graduação em Geotecnia,
como algo que me fascinava.
O doutorado, também na EPUSP,
Estruturas e Construção Civil.
A grandiosidade das obras e a
consolidou minha formação e me
Formados em Engenharia Civil,
capacidade de transformação dos
deu maturidade e profundidade de
ele pela Universidade Federal
espaços dada pela engenharia
conhecimento. Um pós-doutorado
da Paraíba (1987), ela pela
de construção sempre me
em Toulouse, na França, em
Universidade do Vale do Rio dos
emocionaram. Era como um “passe
2003/2004, propiciou-me uma rica
Sinos (1987), no Rio Grande do
de mágica” ver um terreno vazio se
experiência, um “olhar” internacional
Sul, conheceram-se durante o
transformar em uma grande obra
para todo o conteúdo agregado no
doutorado na Universidade de São
ou em uma habitação, e isso mudar
mestrado e doutorado.
Paulo (1996).
a vida das pessoas. A escolha da
Sou docente e pesquisador da
Engenharia Civil veio, então, como
Universidade Federal de Goiás (UFG)
Helena é consultora na área
decorrência espontânea desse
desde 1992. Esta instituição me
de argamassas, alvenarias,
sentimento infanto-juvenil, algo
possibilitou o desenvolvimento da
revestimentos, patologia e terapia
muito natural, apesar de filho e
carreira profissional na docência.
das construções e durabilidade
irmão de médicos e de uma família
Também me deu o lastro para
do concreto. É autora do livro
eminentemente ligada à área da
atuação como pesquisador.
“Argamassas de Revestimentos:
saúde. O curso de engenharia
Atualmente, no Programa de Pós-
características, propriedades e
civil na Universidade Federal da
Graduação em Geotecnia, Estruturas
métodos de ensaio”.
Paraíba (atualmente Universidade
e Construção Civil (PPG-GECON),
Federal de Campina Grande),
estamos criando as bases para a
Oswaldo é consultor em tecnologia
entre 1983 e 1987, foi o esteio de
construção de um programa de
do concreto, patologia e terapia
minha vida profissional, por ser um
doutorado, o primeiro em engenharia
das construções e durabilidade do
exemplo de curso organizado e
civil no estado e região. No momento
concreto, com atuação destacada
bem estruturado, no seio de uma
como Professor Associado,
na avaliação e diagnóstico
universidade de referência para toda
preparo-me, no ano que vem, para
de corrosão de armaduras e
a região Nordeste. Foi, contudo,
a progressão ao último estágio da
recuperação estrutural. É autor do
o mestrado na Escola Politécnica
carreira, o de Professor Titular, a
livro “O controle da corrosão de
da Universidade de São Paulo
posição mais alta e nobre na carreira.
armaduras em concreto: inspeção e
(EPUSP), que me abriu um cenário
Helena Carasek – Pode-se dizer que
técnicas eletroquímicas”. Recentemente, Oswaldo e Helena coordenaram a tradução e edição do livro “Durabilidade do Concreto: bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente”, lançado pelo IBRACON.
“
CASCUDO: “A GRANDIOSIDADE DAS OBRAS E A CAPACIDADE DE TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS DADA PELA ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO SEMPRE ME EMOCIONARAM”
“
CONCRETO & Construções | 27
“
CASCUDO: “INICIALMENTE CALCADA EM AVALIAÇÕES SINTOMATOLÓGICAS DE FENÔMENOS, A ABORDAGEM DA DURABILIDADE CAMINHA AGORA PARA UMA ABORDAGEM BASEADA NO DESEMPENHO”
“
a minha carreira profissional começou
de que estava na profissão certa
concentração de estruturas, com
em 1982, quando fiz vestibular para o
e com desejo de me aperfeiçoar
uma dissertação sobre alvenaria
curso de Engenharia Civil na UNISINOS,
mais, ingressei no mestrado. Nessa
estrutural. Quando terminei o
em São Leopoldo, no Rio Grande do
época, novamente, muito por
mestrado, decidi continuar a minha
Sul. Após as dúvidas normais de uma
influência do exemplo do meu pai,
formação, fazendo prontamente o
adolescente, decidi por essa profissão
que apesar de atuar com sucesso
doutorado. A minha pesquisa de
com base em um teste vocacional, mas
como engenheiro mecânico na
mestrado, por tratar do sistema
também inspirada no meu pai, também
direção de uma indústria, sempre
construtivo alvenaria estrutural, abriu
engenheiro. Rapidamente descobri que
encontrou tempo para lecionar
a possibilidade para trabalhar também
tinha acertado na escolha da profissão,
engenharia, eu já pensava em ser,
na área de construção civil, e, por
principalmente quando ingressei no
além de engenheira, professora.
essa razão, optei por continuar as
ciclo profissional da faculdade. Com
Incentivada pela família e também
investigações com foco nos materiais
boas notas e me destacando em
pelo Prof. João Luiz Campagnolo
de construção. Então, busquei o que
relação aos colegas, gostava de todas
(UFRGS), estimado amigo, ingressei
de melhor existia no país, em termos
as matérias e de fazer qualquer tipo de
no Curso de Pós-Graduação em
de pós-graduação “stricto-sensu” na
projeto de engenharia.
Engenharia Civil da UFRGS.
área de construção civil, ingressando
Ao concluir a faculdade, convicta
Defendi o meu mestrado na área de
na tradicional Escola Politécnica da USP. Foi nessa época que o Oswaldo e eu nos conhecemos; depois de um rápido namoro nos casamos e, a partir daí, a nossa trajetória pessoal e profissional se mistura, como, por exemplo, na realização do PósDoc na França, que o Oswaldo já comentou, e toda a trajetória como docentes e pesquisadores na UFG. Quando estava próxima a conclusão do meu doutorado, fiz concurso para docente na UFG e tomei posse em 1994. Esta ação representou a tomada de decisão mais relevante da minha carreira profissional, uma vez que definiu meu domicílio pessoal e minha filiação institucional, dando-me assim condições para que eu pudesse desenvolver minhas atividades como engenheira e como
Pavilhão de Portugal no Parque das Nações, em Lisboa. Esbeltez, forma e audácia no elemento em concreto da cobertura do vão 28 | CONCRETO & Construções
docente e pesquisadora. Desde então, já são mais de 20
anos como docente da UFG,
abstrato, evoluindo para algo real,
preponderantes de deterioração
instituição que apreendi a respeitar e
fruto de ações absolutamente
relativos à armadura; e mecanismos
a defender. Recentemente, progredi
sistêmicas. No campo das estruturas
de deterioração da estrutura
para a classe de Professor Titular.
de concreto, a compreensão científica
propriamente dita.
Foi uma honra ter na minha banca
dos materiais e o aprofundamento
Inseridos nos mecanismos
os professores titulares Paulo Helene
nos mecanismos físico-químicos
de envelhecimento relativos
(USP), Geraldo Isaia (UFSM), Almir
e eletroquímicos dos fenômenos
especificamente ao concreto estão
Sales (UFSCar) e Antônio Baleeiro
patológicos e de degradação
os processos químicos, tais como:
(UFG), para me avaliar.
e envelhecimento estrutural,
a lixiviação, os ataques por sulfatos
propiciaram um avanço extraordinário,
(externos e internos), os ataques
que mudou a abordagem de
ácidos e alcalinos, troca iônica, bem
de compreensão científica e técnica
durabilidade. Inicialmente calcada
como a reação álcali-agregado. Já
passou o conceito de durabilidade nos
em avaliações sintomatológicas de
os mecanismos de deterioração
últimos anos?
fenômenos, caminha agora para uma
das armaduras dizem respeito ao
Oswaldo Cascudo – O conceito
abordagem baseada no desempenho.
problema da corrosão das barras de
de durabilidade evoluiu muito nos
Esta nova abordagem permite, com
aço inseridas no concreto (armado
últimos anos. Passou de mera
boa margem de segurança, por meio
e protendido), onde os processos
constatação daquilo que “vence” ao
dos parâmetros de desempenho e
podem ser iniciados por carbonatação
tempo, para algo que mantém seus
dos modelos de previsão de vida útil,
e por ação de cloretos. Por fim,
aspectos funcionais e propriedades
conceber uma estrutura de concreto
os mecanismos de deterioração
fundamentais ao longo do tempo.
para “vencer” certa durabilidade.
da estrutura propriamente dita são
IBRACON – Por
quais mudanças
Deixou de ser um conceito qualitativo,
aqueles relacionados às ações
algo que se conquista ao acaso ou
IBRACON – Quais são os mecanismos
mecânicas, movimentações de
por métodos empíricos, para algo
principais de envelhecimento das
origem térmica, impactos, ações
palpável e mensurável, por meio da
estruturas de concreto?
cíclicas, retração, fluência e relaxação,
inserção do conceito de vida útil. A
Helena Carasek – Existem várias
bem como as diversas ações que
durabilidade pode ser inserida no
formas de classificar os mecanismos
atuam sobre a estrutura.
projeto, por meio do conceito de
de envelhecimento das estruturas
vida útil de projeto, que sinaliza uma
de concreto, como, por exemplo,
IBRACON – Quais são as
expectativa de durabilidade, a ser
em função dos processos de
manifestações patológicas mais comuns
conquistada com a boa execução,
deterioração: físico-mecânicos,
em estruturas de concreto?
com a definição correta e conforme
químicos, biológicos e eletroquímicos
Oswaldo Cascudo – As manifestações
dos materiais e componentes de
(das armaduras). Eu acho, no entanto,
patológicas em estruturas de
construção, e com um adequado uso
interessante, a forma como a ABNT
concreto são oriundas do projeto
e operação, que contemple as ações
NBR 6118 divide os mecanismos de
ruim e da especificação inadequada
de manutenção preventiva e, quando
deterioração, em 3 tipos: mecanismos
do concreto, evidentemente
necessária, corretiva. A durabilidade,
preponderantes de deterioração
potencializadas pelos mais altos níveis
portanto, deixou de ter um significado
relativos ao concreto; mecanismos
de agressividade ambiental. Há na
“
CARASEK: “A ABNT NBR 6118 DIVIDE OS MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO EM TRÊS TIPOS: RELATIVOS AO CONCRETO, À ARMADURA E À ESTRUTURA PROPRIAMENTE DITA”
“
CONCRETO & Construções | 29
de hidratação deixaram de ser um problema exclusivo do concreto massa de barragens. Agora, passa a ser algo muito presente nos blocos de transição, constituintes das fundações nos edifícios de grande altura. Como os blocos são cada vez maiores, em função de carregamentos elevados de edifícios muito altos, com fcks cada vez mais altos, esta é uma questão da ordem do dia, cuja solução passa por ações preventivas de cálculo térmico, bem como pela correta especificação do concreto e por ações específicas na concretagem. Falhas de projeto e executivas para captação e escoamento de água pluvial em lajes abertas impermeabilizadas e falhas gerais nos sistemas de impermeabilização Avaliação da frente de carbonatação do concreto por meio do indicador fenolftaleína
têm produzido muitos problemas de
incidência de problemas patológicos
por secagem são responsáveis por
problemas estéticos pela deposição
em estruturas de concreto um forte
muitos casos de trincas e fissuras em
de produtos esbranquiçados
componente regional, seja pelas
elementos estruturais. As questões
na superfície do concreto, mas,
características climáticas e de
de retração térmica por variação de
sobretudo, desencadeia casos de
agressividade ambiental, seja pelas
temperatura do ambiente são também
corrosão das armaduras, o que é uma
questões culturais e de conhecimento
muito presentes em todo o país, pela
questão mais grave. Os fenômenos
tecnológico ou de disponibilidade de
tropicalidade do seu clima, o que tem
químicos de ataque por sulfatos e
materiais e insumos à concepção do
gerado muitas fissuras no concreto
de reação álcali-agregado (RAA) são
concreto. Nas atmosferas marinhas
e na ligação alvenaria-estrutura,
manifestações patológicas graves
(cidades litorâneas) e urbano-
notadamente nos andares de
e muitas vezes de difícil solução. O
industriais (grandes cidades), a
cobertura dos edifícios de múltiplos
ataque por sulfatos pode aparecer em
corrosão das armaduras está muito
pavimentos ou onde haja muita
estruturas marítimas, em estruturas
presente. Em atmosferas quentes e
incidência solar e fortes gradientes
de fundações de solos agrícolas
de baixa umidade relativa, como na
térmicos. As trincas de grande
e no concreto de tubulações de
região Centro-Oeste, por exemplo,
magnitude em elementos estruturais
esgoto ou no concreto em contato
fenômenos físicos como a retração
devidas à retração térmica por calor
com efluentes industriais. A RAA
“
lixiviação do concreto. A lixiviação traz
OSWALDO: “O MELHOR CAMINHO PARA O COMBATE DESSAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS É PREVENTIVO,
30 | CONCRETO & Construções
LANÇANDO-SE MÃO DO BOM CONHECIMENTO ATUALMENTE EXISTENTE SOBRE O ASSUNTO”
“
“
HELENA: “EM TERMOS APLICADOS, UM BOM COMEÇO PARA SE PREVENIR AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS É SEGUIR AS NORMAS TÉCNICAS EXISTENTES, TAIS COMO A ABNT NBR 6118 E 14931”
“
tem sido registrada em grandes
IBRACON – Há conhecimento
além da relação água/cimento
obras de barragens de concreto
suficiente sobre como evitar
máxima, fck para a elaboração do
e em elementos de fundações,
problemas patológicos nas estruturas
concreto, abertura máxima de fissura
decorrente do uso de agregados
de concreto, ou seja, é bem conhecida
e quantidade de cimento por metro
potencialmente reativos e de sua
a chamada profilaxia das estruturas
cúbico. Esse é o primeiro passo para
interação negativa com o cimento.
de concreto?
elaborar estruturas duráveis. A norma
O melhor caminho para o combate
Helena Carasek – Acredito que sim.
também indica, mas de forma bem
dessas manifestações patológicas é
Em nível científico, o conhecimento
genérica e superficial, outras medidas
preventivo, lançando-se mão do bom
já está bem avançado. Para evitar
importantes como a realização
conhecimento atualmente existente
os problemas é necessário o pleno
de proteções por revestimentos
sobre o assunto.
entendimento dos mecanismos
e mesmo a drenagem das águas.
de deterioração e creio que já
Este último é um dos aspectos ao
IBRACON – Qual é a ordem de
avançamos muito, nacional e
qual eu reputo grande importância,
grandeza e o período de tempo médio
internacionalmente, nas pesquisas
mas que nem sempre é cuidado
com os quais se encontram essas
neste campo. Claro que ainda há
pelos engenheiros e arquitetos. A
manifestações patológicas em obras
muito o que se pesquisar para
água é um dos principais agentes
de concreto?
preencher as lacunas existentes,
deletérios das construções de forma
O swaldo Cascudo – As
mas grande parte do conhecimento
geral e, por essa razão, deve ser
manifestações patológicas em
gerado nas pesquisas já poderia ser
evitada a sua acumulação sobre a
estruturas de concreto são
aplicado nas nossas construções.
superfície das estruturas de concreto.
diversas e de grande abrangência.
Em relação à composição do
Essa preocupação deve se iniciar
Problemas como a fissuração
concreto, alguns aspectos básicos,
na concepção e no projeto da
por retração plástica do concreto
hoje consagrados para evitar a
estrutura, nos detalhes arquitetônicos
podem ocorrer algumas horas após
deterioração do concreto, como
adequados, proteções e caimentos,
o adensamento e acabamento
limitar a relação água/aglomerante
por exemplo, além da realização de
do concreto, ou seja, dentro das
e utilizar adições minerais (como
uma boa impermeabilização. Esses
primeiras 24 horas do período
o metacaulim e a sílica ativa), são
são aspectos básicos que não podem
pós-concretagem, ao passo que há
provenientes dos resultados das
ser negligenciados.
registro de algumas manifestações
pesquisas do passado.
Além do que está previsto na ABNT
patológicas, como a reação
Em termos aplicados, um bom
NBR 6118 quanto aos mecanismos
álcali-agregado, por exemplo,
começo para se prevenir as
de deterioração, nós já temos normas
que pode ocorrer desde poucos
manifestações patológicas é seguir
que abordam problemas específicos
anos até 30 anos após a entrada
as normas técnicas existentes, tais
como a reação álcali-agregado (ABNT
da estrutura em serviço. Tudo
como a ABNT NBR 6118 (projeto)
NBR 15577, partes 1 a 6), onde está
depende da cinética da degradação,
e a ABNT NBR 14931 (execução).
bem clara a forma de prevenção.
que envolve as características e
Na ABNT NBR 6118, a partir de
Creio que ainda precisamos avançar
propriedades do concreto, assim
uma adoção correta da classe de
em outras normas, como, por
como a agressividade ambiental e as
agressividade ambiental, define-se
exemplo, diretrizes específicas
questões climáticas e de intempéries.
a espessura do cobrimento mínima,
sobre os ataques por sulfatos e a CONCRETO & Construções | 31
“
OSWALDO: “A TERAPIA EXITOSA PRECISA, PORTANTO, ANULAR AS FONTES CAUSADORAS DO PROBLEMA E BLOQUEAR OS MECANISMOS DELETÉRIOS. A EXPECTATIVA É DE RESGATE DO DESEMPENHO MECÂNICO-ESTRUTURAL E DA DURABILIDADE DA ESTRUTURA”
“
carbonatação do concreto. Nesse
adequados de compactação e cura,
aquisição do concreto, o que se vê,
sentido, o IBRACON, por meio
etc.), mas tenho visto, inclusive,
com frequência, é que a concreteira
dos seus Comitês Técnicos, tem
problemas com os concretos
atende contratualmente ao que foi
importante atuação na discussão e
fornecidos por usinas, que, por
solicitado, porém com o ônus da
elaboração de textos-base para a
vezes, têm sido elaborados com
não conformidade em relação às
futura normalização, como é o caso
relação água/cimento mais alta do
prescrições da ABNT NBR 6118
do comitê, do qual participamos, que
que os limites especificados na
(especificamente nessa questão da
está trabalhando sobre a temática da
ABNT NBR 6118. Evidentemente
relação a/c). Aí não adianta muito
carbonatação do concreto.
que a “culpa” nesses casos pode ser
avançar em pesquisas científicas se
No entanto, o que eu observo
compartilhada, seja pela existência
isso, de fato, não chega às obras.
na prática é que grande parcela
de um projeto incompleto, que não
Precisamos também trabalhar na
das estruturas que se deteriora
especifica a relação água/cimento
conscientização do meio técnico.
precocemente não seguiu nem as
máxima, seja por falhas na aquisição
prescrições básicas existentes. Em
do concreto, em que os construtores
IBRACON – E a terapia das estruturas
parte por problemas de execução
não solicitam o material de forma
de concreto, porque não
(não garantindo o cobrimento mínimo,
adequada. Nessas situações de
há normalização nem consenso?
não realizando procedimentos
deficiência de informações na
Oswaldo Cascudo – A terapia das estruturas de concreto é uma vertente da engenharia que se ocupa das ações de reabilitação de estruturas, onde operam as ações de manutenção corretiva, e por meio da qual são resgatadas as funções estruturais perdidas (total ou parcialmente), em razão de algum tipo de manifestação patológica. Mais do que isso, um procedimento terapêutico adequado aplicado a uma estrutura de concreto (que contém uma manifestação patológica instalada) é como um remédio certo administrado a um doente, cuja ação tem que promover a cura. No caso das estruturas, a terapia exitosa precisa, portanto, anular as fontes causadoras do problema e bloquear os mecanismos deletérios.
Realização de cura úmida em pilar de concreto de alto desempenho no empreendimento Órion Business & Health Complex, em Goiânia – GO 32 | CONCRETO & Construções
A expectativa é de resgate do desempenho mecânico-estrutural
e da durabilidade da estrutura ou de parte dela, consoante a terapia aplicada. Este setor da engenharia, historicamente, tem uma expressiva contribuição de grandes empresas multinacionais, que, por meio de seus departamentos de pesquisa, desenvolvem materiais, produtos, soluções e terapias voltadas à recuperação e à reabilitação estrutural. As universidades e centros de pesquisa têm também prestado sua contribuição, mas é inegável a participação do setor privado de grandes marcas. Embora tenha havido muita evolução técnica nos últimos anos nesse campo, talvez o forte lado comercial e de mercado atrapalhe um pouco a imparcialidade e a credibilidade das soluções e procedimentos terapêuticos, assim
Corrosão de armadura de um pilar, comprometendo sua durabilidade
como a padronização e o consenso.
das estruturas de concreto armado e
de processamento, culminando
O resultado é um ritmo mais lento
protendido são constituídas de aço
com os tratamentos de têmpera
da normalização, que, contudo, é
carbono, que é um material metálico
ou de trefilação, que imputam
essencial que ocorra. O histórico de
que possui excelentes propriedades
tensões internas ao material. O
consolidação dos procedimentos
mecânicas. Em especial no caso
resultado é um nível entálpico
terapêuticos em estruturas de
do concreto armado, as armaduras
muito alto, a grosso modo, “muita
concreto no meio técnico-profissional
são, normalmente, constituídas
energia incorporada”. Também
brasileiro guarda certa semelhança
de aço temperado (CA-50) ou aço
o aço possui um nível entrópico
com o que se tem para os sistemas
trefilado (CA-60). Esses tipos de aço
muito baixo, já que ele possui uma
de impermeabilização.
carbono não possuem nenhuma
estrutura interna com um grau
característica resistente à corrosão,
de organização muito elevado.
IBRACON – Porque a armadura
tais como: elementos de liga (que
Termodinamicamente, a corrosão
de aço no concreto é considerada
atuam na composição do aço, como,
do aço é um fenômeno espontâneo,
o ponto mais sensível e de mais
por exemplo, o aço inoxidável) ou
já que na natureza os sistemas
fácil deterioração das estruturas
tratamentos superficiais (pinturas
evoluem para níveis entálpicos mais
de concreto?
anticorrosivas). Por outro lado,
baixos e para níveis entrópicos
Oswaldo Cascudo – As armaduras
são elementos com altíssimo grau
mais altos (maior desorganização).
“
OSWALDO: “TERMODINAMICAMENTE, A CORROSÃO DO AÇO É UM FENÔMENO ESPONTÂNEO, JÁ QUE NA NATUREZA OS SISTEMAS EVOLUEM PARA NÍVEIS ENTÁLPICOS MAIS BAIXOS E PARA NÍVEIS ENTRÓPICOS MAIS ALTOS”
“
CONCRETO & Construções | 33
Ocorre que o concreto bloqueia
apenas do material e sim da estrutura
Oswaldo Cascudo – As normas
essa tendência natural. Como o
de concreto como um todo, e aí entra
prescritivas estabelecem requisitos
concreto propicia um ambiente
a necessidade de um bom projeto
com base no uso consagrado
interno de alta alcalinidade, há um
e dos detalhes construtivos para
de materiais, produtos ou
alentador fenômeno na interface
prevenção dos problemas, como eu
procedimentos, por meio do
com a superfície metálica, que é a
comentei anteriormente. A grande
controle de parâmetros ou
deposição natural de um filme de
vantagem do material concreto é
propriedades básicas, de maneira
óxidos de ferro de caráter protetor, a
que ele tem uma boa resistência à
que o atendimento aos requisitos
película de passivação. Por barreira,
água (desde que bem controlada a
dos usuários se dá de forma indireta.
esse filme interfacial protege o aço
sua porosidade e permeabilidade)
Já a abordagem de desempenho
da corrosão, impedindo assim a
comparativamente a outros materiais
traduz requisitos dos usuários em
degradação metálica. A armadura
estruturais como os aços comuns e
critérios e especificações, por meio
é, justamente, o ponto sensível
a madeira. Além disso, o concreto
de parâmetros e propriedades
desse material compósito, porque
permite a produção de elementos
estritamente ligadas aos aspectos de
se essa proteção passiva for perdida
estruturais de formas e tamanhos
desempenho estabelecidos. Neste
as leis da termodinâmica serão
variados (capacidade de se moldar)
caso, o atendimento aos requisitos
implacáveis contra ela, provocando
a um custo relativamente baixo
dos usuários se dá de forma direta.
corrosão. A perda do filme passivo
comparado com outros materiais
Embora as normas prescritivas e de
se dá, basicamente, caso o concreto
estruturais. Mas, para algumas
desempenho sejam complementares
apresente redução da alcalinidade
situações específicas, como,
e não entrem em competição entre si,
interna, como nos processos de
por exemplo, ambientes de alta
é evidente que a abordagem baseada
carbonatação ou de lixiviação do
agressividade química, com ácidos
no desempenho significa um avanço
concreto, ou mesmo por efeito
fortes, amônia, etc., o concreto pode
considerável em comparação à
dos ataques ácidos. Também, por
não apresentar durabilidade adequada,
abordagem estritamente prescritiva.
mecanismos muito particulares, os
uma vez que o cimento é solúvel em
Tratar a durabilidade baseada no
cloretos são agentes muito agressivos,
ácidos fortes. Contudo, cabe uma
desempenho significa conhecer
que despassivam a armadura e
ressalva de que nesses ambientes
razoavelmente bem as propriedades
contribuem para a corrosão.
químicos muito agressivos, também o
de transporte de massa no concreto,
aço e a madeira sofrem enormemente,
assim como os mecanismos de
IBRACON – Comparativamente a
de sorte que todos esses materiais
degradação e envelhecimento. A
outros materiais estruturais, quais
(incluindo o concreto) necessitam
partir daí, é possível identificar bem
são as vantagens e desvantagens do
de proteções especiais para que
os parâmetros de desempenho,
concreto no quesito durabilidade?
alcancem a durabilidade desejada.
os chamados indicadores de
Helena Carasek – O concreto, desde
durabilidade. Controlando bem
que bem concebido e elaborado, é
IBRACON – Qual é o ganho advindo
esses parâmetros diretamente
um material de alta durabilidade na
da comparação entre as normas
ligados à durabilidade, a chance
maioria dos ambientes naturais e
prescritivas e as normas de desempenho
de especificar concretos duráveis é
industriais. Mas a visão não pode ser
quanto ao quesito da durabilidade?
muito maior do que controlar apenas
“ 34 | CONCRETO & Construções
CARASEK: “O CONCRETO, DESDE QUE BEM CONCEBIDO E ELABORADO, É UM MATERIAL DE ALTA DURABILIDADE NA MAIORIA DOS AMBIENTES NATURAIS E INDUSTRIAIS”
“
“
OSWALDO: “EMBORA AS NORMAS PRESCRITIVAS E DE DESEMPENHO SEJAM COMPLEMENTARES E NÃO ENTREM EM COMPETIÇÃO ENTRE SI, É EVIDENTE QUE A ABORDAGEM BASEADA NO DESEMPENHO SIGNIFICA UM AVANÇO CONSIDERÁVEL”
“
parâmetros gerais do concreto,
atrasados na normalização
IBRACON – Seu livro sobre corrosão
como a relação água/cimento ou
de ensaios de durabilidade. O
de armaduras foi o segundo no tema
a resistência à compressão do
IBRACON tem feito esforços para
publicado no país.
concreto. A sofisticação dentro
dinamizar essa discussão dentro
colaborou para minimizar o problema?
da abordagem do desempenho
de seus comitês técnicos, de
Oswaldo Cascudo – Sim, de fato,
vem, justamente, com os modelos
forma a subsidiar a normalização
quando lancei o meu livro sobre
preditivos de vida útil, sejam eles
técnica oficial desses ensaios, via
corrosão das armaduras em 1997,
determinísticos ou probabilísticos
ABNT (Associação Brasileira de
a partir de um forte incentivo da
(sendo estes últimos, o que de mais
Normas Técnicas). Um exemplo é
Helena (que identificou no conteúdo
avançado existe no contexto da
a discussão atual (para os fins de
da minha dissertação de mestrado
durabilidade). Dessa forma, a partir
normalização) do ensaio acelerado de
o potencial para um livro), havia uma
do controle de alguns parâmetros
carbonatação do concreto, a partir
única publicação de referência no
de desempenho e por meio de uma
de uma norma ISO (International
país, o livro de corrosão do Prof.
adequada caracterização do ambiente
Organization for Standardization).
Paulo Helene, lançado em 1986.
no qual se inserirá a estrutura, e com
Ensaios de difusão de cloreto são
Acho que toda a boa literatura
o emprego de modelos preditivos de
outra necessidade premente.
técnica e científica é primordial
Você considera que
vida útil, é possível projetar a estrutura e especificar o concreto com a garantia plena do desempenho, assegurando a vida útil de projeto. Grandes obras de engenharia no mundo vêm tendo suas estruturas concebidas dessa forma, como a Ponte Vasco da Gama (Portugal), o Viaduto Millau (França), a Ponte Rion-Antirion (Grécia) e a Ponte da Confederação (Canadá), entre outras. Essa é a abordagem contemporânea que se apresenta com confiabilidade nas análises preditivas, possibilitando a garantia de durabilidade. IBRACON – Porque a norma brasileira ABNT NBR 6118 ainda controla durabilidade de forma indireta e não através de ensaios de durabilidade?
Oswaldo Cascudo – A ABNT NBR 6118 ainda controla durabilidade de forma indireta, porque estamos
Ponte Vasco da Gama, sobre o Rio Tejo: 5ª maior ponte do mundo e uma das primeiras obras em que a durabilidade foi considerada com base em uma abordagem de desempenho CONCRETO & Construções | 35
“
OSWALDO: “A ABNT NBR 6118 AINDA CONTROLA DURABILIDADE DE FORMA INDIRETA, PORQUE ESTAMOS ATRASADOS NA NORMALIZAÇÃO DE ENSAIOS DE DURABILIDADE”
“
para a difusão do conhecimento e,
me pelo livro e pela oportunidade
com significativas mudanças em
dessa forma, fundamental para o
de apreender e de evoluir no tema.
2003. A partir daí ela passou a
avanço em termos de formação e de
Senti naquele momento uma grande
ter um capítulo exclusivo sobre
qualificação profissional. Estimulado
emoção, que me fez ter certeza que
durabilidade, tendo introduzido as
pela importante e pioneira publicação
valeu à pena o esforço.
classes de agressividade ambiental
do Paulo Helene, trouxe em meu livro
(CAA I, II, III e IV) para subsidiar o
uma contribuição no aprofundamento
IBRACON – Qual tem sido
projeto de estruturas de concreto
conceitual da corrosão, além de
a contribuição de vocês quanto à
durável. Foi um grande marco para
uma vasta parte concernente às
normalização no país nesse campo da
a engenharia nacional, mas agora
técnicas de avaliação e diagnóstico
durabilidade e ensaios?
precisamos evoluir mais na questão
da corrosão do aço no concreto.
Oswaldo Cascudo – Particularmente,
da durabilidade, introduzindo
Muito me orgulha essa publicação,
no campo da durabilidade de
na normalização brasileira os
pois mesmo sendo um livro esgotado,
estruturas de concreto, participei
indicadores de durabilidade e, se
ele ainda é muito veiculado, sem
ativamente das reuniões de uma
possível, modelos de previsão de
falar que recebo constantemente
comissão de estudo do CB 1 (Comitê
vida útil, de forma a tratar a questão
demandas para a sua atualização e
Brasileiro de Mineração e Metalurgia)
da durabilidade de forma mais
reedição. A produção de um livro de
da ABNT, no final dos anos 80,
efetiva e calcada no desempenho.
bom conteúdo envolve uma grande
durante o meu período de mestrado.
Temos que normalizar, também, os
energia. No modelo de avaliação
Na época, por indicação do Prof.
ensaios acelerados de carbonatação
curricular ao nível da pós-graduação
Paulo Helene, eu representava
do concreto e ensaios para
no Brasil, esse tipo de publicação
a Escola Politécnica da USP na
determinação de parâmetros de
é, infelizmente, pouco considerado.
comissão de normalização abrigada
transporte de cloretos.
É uma pena, pois os livros técnicos
nesse comitê, que foi a primeira
atingem tanto os ambientes
comissão a estudar e a se preocupar
IBRACON – Para aonde devem
acadêmicos quanto os profissionais,
com a normalização sobre corrosão
caminhar as pesquisas para haver
com penetração que vai além das
de armaduras em estruturas de
avanços na prevenção de problemas
fronteiras nacionais. É democrática
concreto. Essas reuniões ocorriam
patológicos precoces?
sua ação! Verdadeiramente, os
na sede da ABRACO – Associação
Helena Carasek – São vários temas
livros cumprem um importante papel
Brasileira de Corrosão, no Rio de
de pesquisa ainda necessários. Para
social. Só para compartilhar um fato,
Janeiro. Em meados dos anos
citar um deles, creio que poderemos
em recente participação minha em
90, particularmente nos anos de
avançar na prevenção de problemas
um evento em Portugal, ao final da
1995 e 1996, participei em São
patológicos por meio de pesquisas
apresentação, veio me cumprimentar
Paulo de reuniões para a revisão
que visem o desenvolvimento de
um congressista de Moçambique.
da ABNT NBR 6118, a principal
modelos de previsão de vida útil. A
Ele se aproximou de mim, com muita
norma de estrutura de concreto do
ideia é a modelagem dos mecanismos
deferência, dizendo que me conhecia
país. Depois de muitos anos de sua
de deterioração das estruturas
há anos, por intermédio do livro de
revisão anterior (em 1978/1980),
de concreto (como, por exemplo,
corrosão e pelas muitas horas de
essa norma teve uma grande revisão
a corrosão das armaduras, por
leitura e estudo. Por fim, agradeceu-
nos anos 90, tendo sido editada
carbonatação e/ou cloretos, ou a
36 | CONCRETO & Construções
reação álcali-agregado), de forma que
projetos ativos de mobilidade
Voltando para o hotel naquele dia,
esses modelos, no futuro, possam
estudantil, no âmbito da graduação
nos demos conta da missão “quase
ser aplicados na prática pelos
em engenharia civil. Nesses últimos
impossível” que seria essa tradução,
profissionais para quantificar a vida útil
anos, enviamos e recebemos vários
uma vez que o livro continha cerca
de uma estrutura.
alunos de graduação dentro desse
de 800 páginas de um conteúdo
acordo bilateral Brasil-França, para
muito denso e científico. Tarde demais
IBRACON – O convênio França-Brasil
ricos intercâmbios anuais. Mais
para voltar atrás! O compromisso,
na área de durabilidade tem funcionado
do que a valorosa contribuição
mesmo que apenas verbal, já havia
bem e vocês consideram importante o
à formação profissional desses
sido firmado. A solução era, então,
intercâmbio internacional?
alunos intercambistas, algo difícil
enfrentar mais esse grande desafio.
Oswaldo Cascudo – Quando, nos
de mensurar, os projetos Brafitec
Assim, colocada a missão de
anos 90, por ocasião de um curso na
nos têm propiciado manter “acesa a
coordenar o trabalho de tradução,
pós-graduação da Escola Politécnica
chama” com a França, em especial
partimos para a sua execução. A
da USP, fomos apresentados ao Prof.
no campo da pesquisa e da produção
ação imediata foi constituir uma
Jean-Pierre Ollivier, ali começaria
científica, por meio das missões de
equipe competente de tradução.
uma profícua trajetória envolvendo
trabalho.
Nosso critério na escolha dos
esse fascinante país, a França. Por
tradutores foi calcado na experiência
intermédio da Prof . Maria Alba
IBRACON – Como
Cincotto, nossa incentivadora-mor
o livro de durabilidade do concreto
e, evidentemente, na familiaridade
e madrinha para todos os assuntos
via IBRACON, ano passado?
temática do conteúdo do livro.
e questões francesas, conhecemos
é a importância do livro no contexto
Foram convidados oito professores
o Ollivier, com quem mantivemos
brasileiro?
e pesquisadores de importantes
uma duradoura relação no campo da
Helena Carasek – Em uma dessas
universidades brasileiras (Arnaldo
pesquisa. Tivemos a oportunidade
idas e vindas à França, tivemos um
Carneiro, Cristiane Pauletti, Geraldo
de recebê-lo diversas vezes no
encontro com o Prof. Ollivier, em
Maciel, Geraldo Isaia, Maria Alba
Brasil, em trabalhos de colaboração
uma de suas viagens a trabalho em
Cincotto, Mônica Pinto Barbosa,
em pesquisa e na realização de
Paris. Ao final do dia, em um pequeno
Pedro Kopschitz Bastos e Valdecir
eventos científicos, o que culminou
restaurante, conversávamos sobre
Quarcioni), os quais, conosco,
com a realização de nosso pós-
vários assuntos. O professor Jean-
compuseram um grupo de
doutorado nos anos de 2003 e
Pierre nos presenteou, então, com
10 tradutores.
2004, no Laboratoire Matériaux et
um exemplar de seu livro (ele é um
Em paralelo à constituição dessa
Durabilité des Constructions (LMDC),
dos editores e também autor), La
equipe de tradutores, buscamos a
do Institut National des Sciences
Durabilité des Bétons, que acabara
definição de uma instituição para
Appliquées (INSA), de Toulouse.
de ser lançado na França (em 2008).
assumir os trabalhos de edição da
Desde então, a relação com a
Imediatamente, sem pensar muito,
obra no Brasil. Foi aí que entrou o
França tem se perpetuado por meio
eu perguntei a ele se nós poderíamos
IBRACON, por meio de sua diretora
dos editais CAPES-BRAFITEC,
traduzir o livro para o português. Ele
de publicações, a Eng. Inês Battagin,
que têm nos possibilitado manter
ficou muito contente com a ideia.
que acolheu prontamente a ideia,
a
“
ocorreu publicar
Qual
prévia das pessoas com a França
OSWALDO: “AGORA PRECISAMOS EVOLUIR MAIS NA QUESTÃO DA DURABILIDADE, INTRODUZINDO NA NORMALIZAÇÃO BRASILEIRA OS INDICADORES DE DURABILIDADE E, SE POSSÍVEL, MODELOS DE PREVISÃO DE VIDA ÚTIL”
“
CONCRETO & Construções | 37
Livro “Durabilidade do Concreto: bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente”
O livro condensa um vasto conteúdo
um Projeto da FINEP (PROMOVE)
que reúne, de forma atualizada, o
que viabilizou a construção do
conhecimento e a experiência de 30
tão sonhado laboratório para a
autores franceses, produzindo uma
realização das investigações nas
das obras mais atuais e completas
áreas de materiais, componentes e
do mundo sobre durabilidade do
sistemas construtivos, o LABITECC –
concreto. Assim, a partir da tradução
Laboratório de Inovação Tecnológica
e adaptação dessa obra para o
em Construção Civil, inaugurado
português, viabilizamos a difusão
em dezembro de 2012. Esse
desse importante conteúdo no
laboratório tem cerca de 1200 m2
Brasil e em outros países de língua
de área construída, distribuída em
portuguesa. Pelo seu conteúdo e
dois pavimentos e está localizado
abordagem, o livro tem aplicabilidade
na Escola de Engenharia Civil
em nível acadêmico (nos cursos de
da UFG. No primeiro pavimento
graduação e de pós-graduação em
estão alocados os laboratórios de
engenharia civil), mas também é
Ensaios Mecânicos e Estruturais,
voltado às necessidades e interesses
de Química dos Materiais, de
do mercado profissional.
Durabilidade e de Argamassas e
dando, assim, “start” ao projeto.
Revestimentos. O LABITECC conta,
Com o sinal verde do IBRACON
IBRACON – Qual a importância dos
ainda, com uma laje de reação
para realizar esta primeira edição do
cursos de pós-graduação e dos
para ensaios estruturais, prensas
livro, os trabalhos se iniciaram, mas
Centros
não imaginamos que seria tão árduo
crescimento do saber, considerando
climatizadas, ponte rolante e salas
o caminho a percorrer. O trabalho
que vocês acabam de montar um
de caracterização dos materiais
de tradução é muito meticuloso,
tremendo
de
Pesquisa
automatizadas, câmaras úmida e
para o
Laboratório
de
Pesquisas
na
e de concretagem, entre outros
pois sem alterar a ideia e o teor do
UFG
texto original, há que se produzir um
Helena Carasek – O crescimento
está alocado o Laboratório de
texto fluente na língua final. Foram
do saber vem, em grande parte,
Mecânica Computacional, onde são
alguns anos e certos momentos de
como resultado das pesquisas. E
realizados os estudos numéricos e
letargia, até que um fato mudou esse
a pós-graduação e os centros de
de modelagem computacional. No
ritmo de trabalho e de produção
pesquisa entram aí, garantindo,
momento, de forma a implementar os
do livro: a efetiva participação do
por meio de mão de obra
equipamentos do LABITECC, além
Paulo Helene, em 2014, recém
qualificada e da infraestrutura, o
de outros projetos e editais de rotina,
assumindo a diretoria de publicações
desenvolvimento de pesquisas de
recentemente submetemos à FINEP
do IBRACON. Ele deu uma dinâmica
ponta. Nesse sentido, tendo em
uma proposta para participação
relevante à produção do livro,
vista a necessidade de ampliação
na Rede Sibratec de Desempenho
sendo peça-chave para a sua
da nossa capacidade de pesquisa
Habitacional e tivemos o nosso projeto
“concretização”.
no PPG-GECON, nós coordenamos
habilitado para a 2ª Fase na área de
“
com apoio da
FINEP?
espaços. No segundo pavimento
CARASEK: “A IDEIA É A MODELAGEM DOS MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO, DE FORMA QUE ESSES MODELOS, NO FUTURO, POSSAM SER APLICADOS NA PRÁTICA PELOS PROFISSIONAIS PARA QUANTIFICAR A VIDA ÚTIL DE UMA ESTRUTURA”
38 | CONCRETO & Construções
“
“
HELENA: “É SEMPRE IMPORTANTE O ESTUDANTE E O PROFISSIONAL PARTICIPAREM DE CONGRESSOS E DE CURSOS DE ATUALIZAÇÃO, POIS A GERAÇÃO DE CONHECIMENTO É MUITO DINÂMICA”
“
durabilidade. Isto permitirá a realização
são várias as pesquisas que vêm
Helena Carasek – Sem dúvida
de novas pesquisas nessa temática.
sendo desenvolvidas ao longo dos
nenhuma. Um traço marcante
anos na EEC sobre durabilidade do
das nossas carreiras na UFG (do
concreto, das quais, também, alunos
Oswaldo e a minha) é a orientação
de engenharia civil tem focado
de graduação têm oportunidade
de alunos em todos os níveis
devidamente a questão da durabilidade
de participar. Mesmo assim,
(iniciação científica, trabalho final
nas obras, ou se fazem necessários
sempre é importante o estudante e
de curso, mestrado e monografia
cursos de atualização e eventos que
também o profissional participarem
de especialização). Nós dois juntos
complementem essa formação?
de congressos e de cursos de
já orientamos mais de 300 alunos
Helena Carasek – Esta é uma
atualização, pois a geração de
nos diversos níveis. Eu partilho dos
pergunta complexa de responder,
conhecimento é muito dinâmica.
preceitos do filósofo do Império
IBRACON – O
ensino de graduação
pois acredito que dependa
Romano Sêneca, que afirmou
muito da grade curricular de
IBRACON – Considerando
cada universidade, que, por sua
a
vez, é função do seu quadro de
dissertações de mestrado, vocês
obtidos por meio de exemplos
professores. Falando especificamente
acham que esses trabalhos ajudam
são mais imediatos e eficazes”.
da EEC-UFG, nós contemplamos
na formação do futuro engenheiro?
Nesse sentido, sempre me esforço
Helena
que
já orientou mais de
40
que “os progressos obtidos por meio do ensino são lentos; já os
em algumas disciplinas essa temática, tanto na graduação como na pós-graduação. A questão da durabilidade das estruturas é abordada na nossa graduação desde as disciplinas básicas de Materiais de Construção (ministrada pelo Oswaldo) e de Construção Civil (ministrada por mim), assim como, de forma mais direta, na disciplina de Patologia e Terapia das Construções (esta disciplina foi instituída na grade curricular da engenharia em 1992, quando o Oswaldo foi contratado na UFG; desde essa época, ela tem sido ministrada por ele ou por mim todos os anos). Assim, o aluno da UFG sai com um bom conhecimento básico no tema. Já em nível de mestrado, temos uma disciplina específica de durabilidade das estruturas de concreto. Além disso,
LABITECC, construído em concreto pré-moldado, onde se observam a ponte rolante e o pórtico de reação CONCRETO & Construções | 39
“
CASCUDO: “EM PEQUENA ESCALA, ‘FAZÍAMOS ENGENHARIA’, NA MEDIDA EM QUE TRABALHÁVAMOS NO PROJETO, VIVÍAMOS A TECNOLOGIA DO CONCRETO E EXECUTÁVAMOS METICULOSAMENTE O CONCRETO DESSES APARATOS [PARA O APO E O CONCREBOL]”
“
para atuar de forma mais próxima
engenharia”, na melhor acepção
sustentável. Por fim, acreditamos que
dos alunos, orientando trabalhos
da palavra, na medida em que
o IBRACON, por meio de seus comitês
experimentais e mostrando-lhes os
trabalhávamos intensamente no
técnicos, possa ser um uma espécie
exemplos. A pesquisa científica é
projeto (calculando e dimensionando
de “catalizador” da normalização
de extrema importância na formação
o APO ou a bola do Concrebol),
técnica específica de concreto no
do profissional, pois ela contribui
vivíamos a tecnologia do concreto
Brasil, potencializando e dinamizando
para ampliação dos conhecimentos
na formulação das misturas e
a produção de textos-base para as
específicos, além de contribuir com
executávamos meticulosamente
comissões de estudo da ABNT.
o desenvolvimento de habilidades
o concreto desses aparatos.
como a autorreflexão e a gestão e
A expectativa do resultado e a
IBRACON – O
organização no trabalho.
sensação da vitória, embaladas
fazer no tempo livre?
que vocês gostam de
pela alegria dos alunos, foram
Helena Carasek – Realmente, ainda
experiências inesquecíveis vividas
não sobra muito tempo livre. Mas eu
vários prêmios orientando grupos de
nos Congressos Brasileiros do
estou buscando melhorar um pouco
alunos nos concursos do IBRACON.
Concreto, do IBRACON.
a minha qualidade de vida, pois,
IBRACON – Vocês
Qual a importância
já ganharam
apesar de adorar trabalhar, sei que
disso?
Oswaldo Cascudo – Os concursos do
IBRACON – Qual
IBRACON, que envolvem os alunos,
do papel de entidades técnicas,
de escape”, principalmente quando
são ações muito importantes, que
como o IBRACON, para o setor
a idade vai chegando (rsrsrs). Nas
dão ao Congresso Brasileiro do
construtivo?
horas vagas, eu gosto de cozinhar,
Concreto uma dinâmica bastante
Helena Carasek e Oswaldo Cascudo
cuidar de plantas, fazer artesanato,
interessante e uma vivacidade
– Cremos que entidades técnicas,
passear com o cachorro e assistir
agregadora que vem da juventude.
como o IBRACON, têm um papel
filmes com as nossas filhas, além, é
Para os alunos, professores e
muito importante na conscientização
claro, de viajar com a família e tomar
universidades, tais concursos
dos profissionais, visando à difusão
um bom vinho.
também são muito interessantes
das boas práticas de construção. No
Oswaldo Cascudo – Desde jovem,
e estimulantes. No nosso caso,
caso específico, o cuidado com os
pratico muitos esportes. Gosto da
sempre houve muito compromisso
materiais, com o projeto e com as
competitividade no esporte, de modo
por parte dos alunos, que ficavam
técnicas construtivas para execução
que nas horas vagas costumo jogar
focados e motivados em ganhar
das estruturas de concreto são
futebol. Às vezes, esse esporte me
os concursos. Havia uma sinergia
algumas ações indissociáveis da
traz prejuízos, como, recentemente, a
incrível entre alunos e professores, e
missão do IBRACON. Além disso,
ruptura do ligamento cruzado anterior
o aprendizado sobre o concreto era
um de seus importantes papéis é
do joelho. Coisas de craque! A leitura
sempre o principal legado. Tínhamos
a atualização dos conhecimentos
e as viagens são outros hobbies que
em mente buscar o que existia de
técnicos junto ao meio profissional,
tenho para as horas livres do trabalho,
mais vanguarda na ciência, em prol
já que é alta a dinâmica do
mas, também, curto muito estar em
da experimentação pelo grupo, o
conhecimento, com contribuições
casa sem fazer nada, só refletindo
que produzia um rico aprendizado.
efetivas em termos da inovação
sobre a vida, ao lado da família e na
Em pequena escala, nós “fazíamos
tecnológica e do desenvolvimento
companhia de um bom vinho.
40 | CONCRETO & Construções
é sua avaliação
é necessário ter algumas “válvulas
u obras emblemáticas
Aquário do Pantanal: desafios de projeto e construção SÉRGIO DONIAK • HUGO CORRES
MARIANA CARVALHO
PAULO HELENE
FHECOR do Brasil
PhD Engenharia
Universidade de São Paulo
cados) estanque, de alta resistência e
aquário nacional e primeiro de porte in-
CEPRIC, conhecido como
aparente em alguns trechos. Os resul-
ternacional do Brasil (com padrão cha-
Aquário do Pantanal, é
tados demonstraram que o projeto es-
mado de “World Class Aquarium”). O
um aquário de água doce
trutural, os procedimentos executivos
aquário possui propósitos contempla-
dentro do Parque das Nações Indí-
e o concreto utilizado foram determi-
tivos, turísticos, educacionais e cien-
genas, na cidade de Campo Grande,
nantes no sucesso da obra e conse-
tíficos, sendo a finalidade do projeto
Mato Grosso do Sul (Brasil). Projetado
guiram atender aos desafios rigorosos
incentivar o desenvolvimento de pes-
pelo renomado Arquiteto Ruy Ohtake,
do projeto arquitetônico, resultando em
quisas e diálogos com universidades
é considerado o maior aquário de água
elementos estruturais com integridade
nacionais e internacionais, fortalecer a
doce do mundo, com 18.635m², sen-
e durabilidade condizentes com a im-
educação ambiental e ainda funcionar
do constituído por 23 grandes aquários
portância desta obra emblemática para
como um espaço de turismo e lazer
dentro do edifício e 9 na área externa,
a região e o país.
para a população campo-grandense e
RESUMO
O
a sociedade brasileira.
totalizando um volume de água de aproximadamente 6 milhões de litros,
1. INTRODUÇÃO
que vão abrigar 263 espécies da fau-
Localizado no Parque das Na-
peixes, anfíbios e répteis da fauna sul-
na aquática. Este artigo apresenta os
ções Indígenas, o Aquário do Panta-
-mato-grossense, parte das espécies
desafios e engenhosidades envolvidos
nal, nome popular para o Centro de
vegetais locais, além de espécies da
no projeto e construção da estrutura
Pesquisa e Reabilitação da Ictiofau-
Amazônia, Bacia do Paraná e do lito-
de concreto (cerca de 17.500m³ apli-
na Pantaneira (CEPRIC), será o maior
ral brasileiro, tornando-se referência
O aquário apresentará espécies de
u Figura 1 Vista externa e seções (longitudinal e transversal) do pavilhão central
CONCRETO & Construções | 41
concreto armado é constituída por uma malha de vigas com altura variável entre 40cm e 90cm, dispostas nas direções principais e ortogonais entre si, conectadas por uma viga de borda circular em planta. Os vazios entre as lajes superiores e inferiores foram preenchidos com blocos de EPS (poliestireno expandido). Na área interna da edificação estão
u Figura 2 Auditório: vista em planta (vigas protendidas hachuradas) e corte transversal
dispostos 10 aquários em concreto armado, que formam o circuito dos aquários internos, todos no mesmo nível que o hall de entrada. Os aquários são
veis de arquibancadas de planta circu-
formados por uma estrutura de con-
É formado por duas grandes estru-
lar que ficam em balanço, suportadas
creto com formato quase elipsoidal em
turas conectadas: o pavilhão central e
por quatro vigas protendidas de com-
planta e fachada exterior composta por
os aquários, que têm em comum um
primentos entre 16 e 19m, com inclina-
painéis de vidro transparente até meia
jardim central dedicado à biodiversida-
ção de 21º (Figura 2).
altura, com o objetivo iluminar natural-
mundial como aquário de água doce.
de do Pantanal. O pavilhão central é
Existe ainda uma quinta viga proten-
mente os aquários do túnel e de garan-
formado por uma estrutura metálica de
dida, ortogonal às anteriores e disposta
tir que os visitantes possam desfrutar
formato quase elipsoidal, com 88m de
na metade do trecho inclinado, com a
do jardim interno ao longo de todo o
comprimento, 42m de largura e 17m
função de minimizar e equalizar as de-
caminho (Figura 4).
de altura, dividido em três partes dis-
formações produzidas no trecho em
tintas ao longo do eixo longitudinal do
balanço do auditório.
A estrutura tipo dos aquários em concreto armado consiste em uma laje
A biblioteca, em concreto armado e
de fundo e três paredes de espessura
No seu interior se localizam dois ele-
aparente, é constituída de uma laje de
variável, dependendo da altura do nível
mentos singulares do edifício: o auditó-
planta circular com 14m de diâmetro e
de água (entre 1m e 3m). Na quarta
rio e a biblioteca.
altura variável, apoiada em um único pilar
parede há uma abertura com painel
central de 1,40m de diâmetro (Figura 3).
acrílico, que permite aos visitantes
edifício (Figura 1).
O auditório, em concreto protendido e aparente, é composto por 10 ní-
A estrutura de suporte da laje de
u Figura 3 Biblioteca: vista geral e detalhe do pilar central
42 | CONCRETO & Construções
observar o interior do tanque. Para o
concreto, para enfrentar a complexidade da obra, que apresenta um projeto arquitetônico de aparente leveza, mas com grandes massas de água sob a forma dos tanques de circulação e de peixes vivos (ecossistemas), gerando cargas muito significativas, esforços de flexão vultosos, necessidade de absoluta estanqueidade e muitas cortinas (paredes de tanques e divisórias). Outros aspectos relevantes da concepção da estrutura são a alta resistência do material concreto (especificada como fck 50MPa aos 28dias de idade por razões de durabilidade e estanqueidade) e a necessidade de atendimento
u Figura 4 Planta da área interna da edificação e disposição dos aquários
a requisitos estéticos nos trechos em concreto aparente. Dada a complexidade da obra e por se tratar de estru-
suporte do acrílico, alguns com espes-
largura. As paredes laterais do tanque
turas diferenciadas, foi imprescindível a
sura de até 30cm, foi disposta uma
em concreto armado possuem espes-
adoção de concretos especiais, assim
viga superior embutida nas paredes la-
sura de 25 a 40cm, e são engastadas
como a execução de um rigoroso con-
terais, e na parte inferior foi executado
à laje em sua base. Neste trecho há um
trole tecnológico do concreto. Nesta
um ressalto em forma de dente na laje
túnel de acrílico ao longo do aquário
obra foram empregados 14.736m³ de
(Figura 5).
(Figura 6).
concreto de fck = 50MPa, 458m³ de
O aquário interno de maiores di-
Com elementos em diversas formas
concreto de fck = 60MPa, 178m³ de
mensões é o chamado “Rio Paraguai”,
e angulações, durante a execução des-
concreto de fck = 20MPa e 236m³ de
com uma altura de lâmina de água de
ta superestrutura, mostrou-se necessá-
concreto de fck = 15MPa.
5m, 29m de comprimento e 17m de
rio agregar tecnologia especializada em
O tipo de concreto empregado,
u Figura 5 Tipologia dos aquários, com abertura para painel de acrílico
CONCRETO & Construções | 43
u Figura 6 Rio Paraguai: elevações das paredes do aquário e vista do túnel de acrílico bem como algumas práticas de bem
de serviço com relação às estruturas
cionados com a técnica de bem cons-
construir e outras engenhosidades, fo-
convencionais (ACI 350-06).
truir, requerendo cuidados especiais
ram determinantes para a obtenção de
É importante esclarecer que imper-
durante a execução, de modo a evitar
elementos estruturais íntegros e ade-
meabilidade de um material e estan-
ninhos de concretagem, adensamento
quados às especificações de projeto e
queidade de uma estrutura são concei-
inadequado, fissurações não previstas
às necessidades da obra. A maior parte
tos distintos. O concreto, quando visto
e juntas frias ou de concretagem não
dos conceitos e procedimentos empre-
exclusivamente como um material, é
estanques, através das quais possa ha-
gados consta nas premissas das nor-
capaz de prover condições suficientes
ver, eventualmente, percolação ou infil-
malizações nacionais vigentes à época
de baixíssima permeabilidade, promo-
tração de água [5].
(ABNT NBR 6118:2007, ABNT NBR
vendo uma barreira eficiente à percola-
Corroborando esse ponto de vista,
12655:2006, ABNT NBR 14931:2004,
ção de água, ou seja, pode ser consi-
o ACI 350-06 destaca que usualmente
ABNT NBR 15823:2010) e em literatu-
derado impermeável para a maioria dos
é mais econômico e seguro garantir a
ras consagradas [1][2][3][4].
usos (piscinas, coberturas, tanques,
estanqueidade de uma estrutura com
fundações, paredes diafragma etc.).
uso da qualidade do material concre-
2. BOAS PRÁTICAS: ESTANQUEIDADE E CONCRETO AUTOADENSÁVEL
Por outro lado, uma estrutura de
to (dosagem adequada) e de procedi-
concreto estanque é aquela capaz de
mentos executivos condizentes com
não permitir a percolação de água por
as boas práticas de construção (lan-
A partir do entendimento da função
nenhuma imperfeição, ou fissura, ou
çamento, adensamento, cura, juntas
das estruturas do Aquário do Pantanal
insert nas paredes e laje que a confinam,
bem executadas e projetadas, entre
percebe-se que, especialmente para a
e envolve principalmente aspectos rela-
outros) do que através da aplicação de
região do circuito dos aquários, a estanqueidade dos tanques é uma necessidade e premissa de projeto [ACI 224.3R-95 (Reapproved 2008)]. Esse cuidado com a estanqueidade é fundamental, pois essas estruturas estão sujeitas a cargas diferenciadas, condições de exposição mais severas (forte preocupação com as questões de durabilidade) e exigências mais restritivas 44 | CONCRETO & Construções
u Declaração do ministro-chefe da
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira, para o Diário Digital de Campo Grande, por conta de sua visita obras do Aquário do Pantanal no último dia 8 de julho
às
“É uma imensa oportunidade de colocar o Brasil e o Mato Grosso do Sul na vanguarda do grande projeto nacional que é a mudança da educação no Brasil”.
u Arquiteto
Ruy Ohtake,
autor do
Projeto
do
Aquário
do
Pantanal
“Arquitetura inovadora e significativa que a todos deve empolgar. Imbuídos de entusiasmo para o início do funcionamento do Complexo, que além de evidenciar os animais (peixes, jacarés, etc.), ressalta a grande importância do meio ambiente, agregando pesquisa da biodiversidade e contribuição para os aspectos turísticos, educativos, culturais e sociais”.
barreiras ou revestimentos protetivos,
ceder com a elaboração de um con-
ou seja, o concreto bem especificado e
creto especial, fino, fluido e com maior
executado é suficiente para promover a
plasticidade, além de teor de argamas-
estanqueidade.
sa e granulometria compatíveis com as
As dimensões dos elementos estru-
de aditivos superplastificantes e agregados com menores granulometrias, e também pode representar produtividade e redução de mão de obra. Nesta obra, foram empregados 14.736m³ de concreto autoadensável, 1.840m³ de concreto fluido (abatimento > 220mm) e 872m³ de concreto convencional bombeável (abatimento entre 100mm e 160mm).
3. PROJETO, INSUMOS E PROCEDIMENTO EXECUTIVO 3.1 Projeto: dimensionamento estrutural e modelos de cálculo
necessidades do projeto.
turais impostas pelo projeto básico da
Neste contexto, o concreto au-
O projeto estrutural executivo foi
obra resultaram em um Projeto Estrutu-
toadensável é um material que pode
elaborado pela FHECOR DO BRASIL, a
ral Executivo densamente armado, onde
atender a todos estes requisitos, pois
partir de um projeto básico já existente.
a dificuldade de concretagem tornou-se
é capaz de fluir e autoadensar pelo seu
Para determinar as cargas emprega-
outro grande desafio, exigindo grande
peso próprio, preenchendo adequa-
das no dimensionamento estrutural foi
esforço de montagem de fôrmas e ar-
damente as fôrmas e envolvendo em-
utilizada a norma vigente para estruturas
maduras, com pouco ou nenhum espa-
butidos (armaduras, dutos e insertos),
de edificações ABNT NBR 6120:1980.
ço para vibração e adensamento ade-
enquanto mantém sua homogeneidade
Versão corrigida: 2000. As cargas con-
quados do concreto (Figura 7).
(ausência de segregação) nas etapas
sideradas foram as seguintes:
Esta característica, somada às for-
de misturas, transporte, lançamento e
u Cargas permanentes: incluem as
mas diversas dos elementos estruturais,
acabamento (ABNT NBR 15823:2010).
cargas de peso próprio dos dife-
consistiu um grande inconveniente para
Este concreto apresenta um equi-
rentes elementos estruturais, assim
o emprego de um concreto convencional.
líbrio entre elevada fluidez e moderada
como as cargas permanentes dos
Diante disso, fez-se necessário pro-
viscosidade, obtido através da utilização
pavimentos e divisórias, além dos
u Figura 7 Aquário do Pantanal: trechos de armadura de vigas e lajes
CONCRETO & Construções | 45
e as vigas. O dimensionamento dos tanques foi realizado através da análise dos esforços e deformações. A partir das cargas obtidas nos modelos dos tanques, também foram dimensionadas as lâminas de EPS dispostas entre os tanques e as lajes do edifício sobre a qual se apoiam. No dimensionamento dos aquários internos a ação principal considerada foi a pressão hidrostática sobre as paredes dos tanques. As Figuras 8 e 9 apresentam os esforços nas vigas da parte superior do tanque e nas paredes verticais, resultantes dos modelos de cálculo. Na
u Figura 8 Momento fletor nas vigas superiores
Figura 8, pode-se perceber que é na ligação das vigas superiores e inferiores com as paredes que ocorre gran-
enchimentos técnicos de contrapiso;
A utilização de modelos de ele-
u Sobrecargas de uso: os valores
mentos finitos facilitou o dimensio-
adotados baseiam-se na utilização
namento dos diferentes elementos
As deformações e esforços na laje
a que se destina o elemento anali-
estruturais, permitindo a confecção
de fundo do tanque também são re-
sado, podendo variar entre os 3kN/
de um modelo tridimensional de todo
sultados obtidos do lançamento da
m para as zonas técnicas do nível
o edifício, combinando elementos do
estrutura no software. Nesse caso, as
subsolo, 4kN/m para as zonas de
tipo placa, para a representação de
maiores tensões se concentram nos
acesso ao público e 7,5kN/m nas
lajes e muros, com elementos tipo
cantos dianteiros, que recebem a car-
áreas de instalações;
barras, para representar os pilares
ga transmitida pelo pórtico formado
2
2
2
de concentração de tensões.
u Sobrecargas de água: no caso das
zonas de aquários, foi introduzida a carga variável do peso da coluna d’água associada à capacidade máxima dos tanques. Esta carga alcançou em alguns casos valores de 50kN/m2, correspondente a 5 metros de coluna d’água; u Sobrecarga de vento: foi deter-
minada em função da localização da obra e da altura da edificação, com base no indicado na norma. Dadas as inúmeras possibilidades de variação nos carregamentos de água, foram simuladas várias hipóteses de carga, para se considerar a mais crítica envoltória nos dimensionamentos das estruturas que suportam os tanques. 46 | CONCRETO & Construções
u Figura 9 Esforço fletor nas paredes laterais. Tanque 4
u Tabela 1 – Traço de concreto autoadensável desenvolvido para Aquário do Pantanal
u Figura 10 Envoltória de momentos fletores na laje de fundo pelos muros laterais e a viga dianteira
do Rio Paraguai levou em conta o su-
(Figura 10).
porte de maiores cargas de pressão hi-
Traço do concreto
fck 50MPa; slump-flow > 650mm
Consumo de cimento CPIIF32 por m³
489 kg
Relação água/cimento
0,35
Teor de argamassa seca
57%
Areia artificial por m³
245 kg
Areia natural por m³
515 kg
Pedrisco por m³
941 kg
Água por m³
170 L
Aditivo plastificante por m³
3,400 L
Aditivo superplastificante por m³
4,150 L
Assim, para aumentar a área de
drostática. O modelo realizado permitiu
distribuição da carga transmitida pelo
obter os esforços nas paredes laterais
tanque sobre a laje de fundo, foram
que formam o tanque, considerando
dispostas chapas metálicas abaixo dos
adição do efeito conjunto de todas as
dosagem, foi escolhido e empregado o
cantos dianteiros do tanque, conecta-
paredes (Figuras 12 e 13).
seguinte traço referência de concreto
das à estrutura de concreto por pinos tipo Stud (Figura 11). Por ser o de maior capacidade do aquário, o dimensionamento do tanque
resultante, que pode ser observado na
3.2 Concreto e procedimentos executivos
Tabela 1.
A partir de um cuidadoso estudo de
binação do calor produzido pela
Em estruturas massivas, a com-
u Figura 11 Detalhe das chapas de distribuição abaixo dos cantos dianteiros da laje de fundo
CONCRETO & Construções | 47
foram orientados com relação ao procedimento que deveria ser empregado nas concretagens especiais, ensaios e controles, de modo que as responsabilidades de cada interveniente foram bem definidas. Além disso, ressalta-se que, apesar de todo o conhecimento técnico e teórico de obras envolvendo os conceitos de estanqueidade e o uso de concreto autoadensável, a experiência tem demonstrado que o uso de simu-
u Figura 12 Cargas de pressão hidrostática sobre as paredes laterais. Tanque Rio Paraguai
lações em campo e protótipos é uma ferramenta necessária e indispensável em projetos de alta complexidade [6], como neste caso. No auditório, por exemplo, foi
hidratação do cimento e condições
to, nos locais com características de
construída uma viga de sacrifício (Figu-
relativamente baixas de dissipação
concreto massa.
ra 14) com todas as características da
do calor resulta em grande eleva-
O programa planejado compreen-
peça original (elevada taxa de armadu-
ção da temperatura do concreto
deu treinamentos para as equipes da
ra, fôrma inclinada e aberta, concreto
nas primeiras idades, e o resfria-
obra, numa temática variada que in-
de alto desempenho e impossibilidade
mento até a temperatura ambiente
cluiu prática e teoria para os operários
de adensamento por vibração).
pode fissurar o concreto. O contro-
e engenheiros participantes. Também
le da temperatura de lançamento
os demais envolvidos no processo
do concreto é uma das formas mais
(Empresa de Serviços de Concretagem
Considera-se que o conjunto for-
eficientes de evitar fissuração de
e Laboratório de Controle Tecnológico)
mado pelo estudo e desenvolvimento
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
origem térmica [2]. Tendo em vista a importância e a diversidade das peças concretadas, além do grande volume de concreto aplicado em diversas concretagens, foi necessário elaborar um planejamento detalhado dos eventos de execução das estruturas, envolvendo tecnologia avançada quanto ao controle do carregamento dos escoramentos (inclusive, com realização da concretagem em camadas e monitoramento topográfico das deformações, com o intuito de possibilitar a suspensão da concretagem caso fosse verificada uma movimentação inadequada ou perigosa dos escoramentos), concreto autoadensável e uso de gelo em substituição à água de amassamen48 | CONCRETO & Construções
u Figura 13 Esforço axial nas paredes laterais. Tanque Rio Paraguai
u Figura 14 Viga de sacrifício (protótipo), com detalhe na região da junta de concretagem de um traço de concreto apropriado, a
somente no que diz respeito à arquitetura,
ciais de Engenharia (como o caso da
concepção de protótipos e uma execu-
mas também às demais considerações
protensão), assim como à realização
ção adequada e em conformidade com
relacionadas com a estrutura, sujeita a es-
de um rigoroso Controle de Qualida-
as normas vigentes e práticas de bem
forços não convencionais, e às interfaces
de de Projeto (CQP) por parte do pro-
construir foram determinantes para a
com outros sistemas construtivos, como a
prietário (governo do Estado), que foi
execução da estrutura de concreto do
estrutura metálica de cobertura.
imprescindível para os bons resultados
Aquário do Pantanal, resultando em in-
Sem dúvida, a garantia de de-
tegridade, estanqueidade e durabilidade
sempenho frente aos requisitos de
condizentes com as necessidades da
estética, forma e função deve-se, es-
5. AGRADECIMENTOS
obra (Figura 15).
pecialmente, à interdisciplinaridade e
Os autores agradecem aos parceiros
O estudo de caso apresentado neste
integração das equipes de Arquitetu-
arquiteto Ruy Ohtake e sua equipe, à
artigo demonstra claramente uma obra
ra, Estrutura, Tecnologia do Concreto,
Profa. Sandra Regina Bertocini, ao Eng.
emblemática de grande singularidade, não
Controle Tecnológico, Serviços Espe-
Egydio Hervé Neto, ao Eng. Paulo Sérgio
obtidos ao longo da obra.
u Figura 15 Aquário do Pantanal: integridade, estanqueidade e durabilidade
CONCRETO & Construções | 49
(Diretor da SERMIX Serviços e Concretagem Ltda.), ao Eng. Egídio Vilani Comin (Diretor da Egelte Engenharia Ltda.) e sua equipe, ao Eng. Pedro Marcondes Machado (Diretor da Proteco Construções Ltda.), e ao Governo do Estado do MS, na pessoa do Eng. Domingos Sávio Mariuba [Fiscal da Agência Estadual de Gestão de Empreendimento (AGESUL)], sem os quais seria impossível atingir as metas e o resultado desejado.
u Ficha técnica Cliente Governo do Estado do MS.
Tecnologia do Concreto PhD Engenharia Ltda.
Construção EGELTE Engenharia Ltda. e PROTECO Construções Ltda.
Empresa de Serviços de Concretagem SERMIX Serviços e Concretagem Ltda.
Arquitetura RUY OHTAKE Arquitetura e Urbanismo Ltda.
Protensão MAC Sistema Brasileiro de Protensão Ltda.
Projeto Estrutural FHECOR DO BRASIL Engenharia Ltda.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] HELENE, Paulo R. L.; TERZIAN, P. R.; SARDINHA, V. L. A. Considerações sobre estanqueidade de estruturas de concreto. In: Anais do 2º Simpósio Brasileiro de Impermeabilização. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Impermeabilização, 1980, p. 176-197. [02] MEHTA, P.; K; MONTEIRO, J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. IBRACON, 2ª edição. São Paulo, 2014. [03] NEVILLE, A. M.; BROOKS, J. J. Concrete Technology. New York: Longman Scientific & Technical, 1987. 438 p. [04] KOSMATKA, Steven H.; WILSON, Michelle L. Design and control of concrete mixtures. 15ª edição. Illinois: Portland Cement Association, 2011. [05] BRITEZ, Carlos; HELENE, Paulo; BUENO, Suely; PACHECO, Jéssika. Estanqueidade de Lajes de Subpressão. Caso MIS-RJ. Trabalho apresentado ao 55º Congresso Brasileiro do Concreto (55º CBC), Gramado, 2013. [06] BRITEZ, C.; PACHECO, J.; BUENO, S.; HELENE, P. Recomendações para a concepção de pilares inclinados em concreto aparente. Caso MIS-RJ. 2014. Trabalho apresentado ao 56º Congresso Brasileiro do Concreto – CBC2014, Natal, 2014.
MARQUE PRESENÇA! O 57º Congresso Brasileiro do Concreto é o maior evento técnico-científico sobre tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos 27 a 30 de outubro | Bonito - MS Presença institucional da empresa/instituição à Exponha suas pesquisas e inovações no Seminário de Novas Tecnologias à Apresente seus produtos e serviços na XI Feibracon – Feira Brasileira das Construções em Concreto à Estreite relacionamentos com seus clientes em coquetéis, jantares e premiações à Participe ativamente das discussões e conheça os mais recentes avanços nas pesquisas e inovações sobre o concreto
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O 57º Congresso Brasileiro do Concreto é destinado à divulgação técnica do bom uso do concreto e enquadra-se no Fundo de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que permite às empresas patrocinadoras e expositoras deduzirem do Imposto de Renda o valor da contribuição. 50 | CONCRETO & Construções
u obras emblemáticas
Análise simplificada da cúpula do Panteão de Roma MILTON EMÍLIO VIVAN – Engenheiro Civil PEDRO HENRIQUE DELLAMANO LARANJEIRA – Engenheiro Civil
E
sta publicação objetiva disponibilizar análise simplificada sobre o comportamento,
ao longo de cerca de 2000 anos, de uma estrutura magnânima construída entre os anos de 118 e 128, durante o império de Adriano, com o emprego de materiais até hoje pouco conhecidos em vários países e com uma concepção estrutural arrojada. Na construção desse edifício, os romanos empregaram todo o conhecimento sobre construção com concreto que
u Figura 1 Geometria utilizada no modelo
Foto 1 - Vista externa do Panteão, edificação dedicada aos deuses romanos
Foto 2 – Cúpula do Panteão, maior vão livre em concreto não armado
u Figura 2 Parâmetros do concreto utilizados no modelo
CONCRETO & Construções | 51
Foto 4 – Detalhe do encontro da cúpula com a parede do Panteão
Com base no material disponibilizado , foi definida a geometria aproxima1, 2
da do Panteão a ser utilizada no modelo (figura 1). Como pode ser observado, foram feitas aproximações na geometria
u Figura 3 Vista isométrica do modelo
para facilitar a execução do modelo: u As paredes foram tomadas com es-
possuíam na época, bem como toda
ra, o que inspirou a mesma solução
pessura constante ao longo de todo
a experiência de construção com al-
em diversas outras cúpulas pelo mundo.
o perímetro, apesar de conter vários
venaria estruturada por arcos. Com
Uma medida de natureza prática foi a
nichos e galerias: como o interesse
43,4 m, a cúpula do Panteão foi, por
construção de “degraus” na parte baixa
maior é pelo domo e as paredes
mais de mil anos, o maior vão livre
da cúpula para evitar o escorrimento do
apresentam geometria bastante irre-
do mundo, permanecendo funcional
concreto fresco, resultando na configura-
gular, com galerias e nichos para as
até hoje, quase dois milênios depois
ção de reforço por 7 anéis nessa região
estátuas, essa aproximação é bas-
de construída. Ainda é a estrutura de
inferior da cúpula. O mais claro sinal de
tante razoável (mesma aproximação
maior vão de concreto não armado já
que os romanos sabiam o que estavam
feita por Mark e Hutchinson);
construída em todo o mundo.”
fazendo foi a utilização de concretos mais
u Não considerados os nichos na
Na construção do Panteão, várias
leves em cima e de maior densidade em-
cúpula porque o alívio causado pe-
providências adotadas pelos romanos
baixo, conseguidos com a variação de
los nichos representa menos do
indicam o grau de domínio da tecno-
peso dos agregados utilizados.
que 5% do peso total do domo,
logia de construção de estrutura em cúpula, mesmo que totalmente empírico. Um primeiro detalhe que chama a atenção é a presença de nichos no interior da cúpula, que, além do efeito visual e arquitetônico, acaba por aliviar um pouco também o peso da estrutu-
Foto 3 - Vista interna do Panteão, com destaque do altar da Basílica Santa Maria ad Martires 52 | CONCRETO & Construções
u Figura 4 Vista lateral do modelo com as propriedades (espessuras) exibidas por cores
A escolha do modelo com elementos planos, ao invés de elementos tridimensionais sólidos, foi feita por simplicidade, sem perda significativa de precisão. Os elementos planos situam-se no eixo geométrico da estrutura e suas espessuras correspondem à geometria definida anteriormente. As dimensões dos elementos são variáveis, estando o modelo com a malha mais refinada no domo. Nas figuras 3 a 6,
u Figura 5 Vista em planta do modelo com as propriedades (espessuras) exibidas por cores mesma hipótese adotada por Mark
2. O módulo de elasticidade E = 15 GPa
e Hutchinson;
foi adotado por recomendação do eng.
u As paredes foram consideradas
apoiadas no nível do solo.
Renato Zuccolo. A partir das características da estru-
O concreto romano era feito com
tura, foram avaliadas as tensões com o
cal, pozolana (cinzas do Vesúvio) e pe-
programa STRAP, através de modelo
dras, apresentando características dife-
matemático tridimensional de elemen-
rentes do concreto de cimento Portland
tos de placa, considerando a estrutura
moderno, tornando difícil a adoção de
não fissurada. Não se sabe se as fissu-
seus parâmetros. Para os pesos especí-
ras observadas na face interna também
ficos, foram adotados aqueles indicados
atingiram a região externa e foram se-
no estudo de Mark e Hutchinson, con-
ladas em alguma intervenção de manu-
forme o esquema apresentado na figura
tenção da estrutura.
são apresentadas vistas do modelo. Aplicando as cargas do peso próprio e calculando o modelo, foram obtidas as s tensões de tração discriminadas nas Figuras 7 e 8. Essas tensões encontram-se na direção horizontal, conforme esperado (Figura 9). Dessa forma, a máxima tensão de tração encontrada foi de 0,82 kgf/cm², localizada na face externa e próxima ao início da curvatura. Ao compararmos este resultado com os obtidos por Mark e Hutchinson, percebe-se que apresentam a mesma ordem de grandeza. A máxima tensão de tração encontrada por Mark e Hutchinson foi de 0,6 kgf/cm², localizada na mesma posição e direção destes resultados. As tensões são pequenas e, por si só, não parecem ter sido responsáveis pela fissuração existente. Há várias hipóteses para a causa dessa fissuração e algumas podem ser simultâneas e de
u Figura 6 Vista renderizada do modelo
Foto 5 - Detalhe da vista lateral do Panteão
CONCRETO & Construções | 53
intensidade diferente. Uma delas é a diferença de temperatura entre a face superior e inferior. Num dia de extremo calor, se a diferença de temperatura externa x interna chegar a 10º C, poderão ocorrer tensões de tração da ordem de 10 kgf/cm² na face interna e tensões pequenas de compressão na face externa. Se a origem for esta, as fissuras podem não ser passantes. Outra hipótese é que tenham sido originadas pela ação de sismos. Pela localização, em todo perímetro, das fissuras, não parece ser uma causa provável. Acelerações horizontais deveriam produzir fissuras assimétricas e aceleração vertical não seria a causa pela ordem de grandeza das tensões que seriam geradas quando comparadas com as obtidas só com o peso próprio. A estrutura não apresenta volumes significativos. Os volumes diários concretados também devem ter sido pequenos. Sabe-se também que concretos pozolânicos desenvolvem baixo calor de hidratação, mas não se sabe se os romanos curavam o concreto. Então, outra hipótese é que podem ter ocorrido tensões
u Figura 7 Distribuição das tensões principais na face externa cimento das posições e profundida-
de “fatias” de arcos independentes,
des das fissuras. Mas sabe-se que o
o que reduz ainda mais as tensões
comportamento estrutural é alterado,
de tração (ou até torna a estrutura
com provável mudança na direção
totalmente comprimida) e aproxima
das tensões de tração. Na cúpula, as
o comportamento estrutural do Pan-
maiores tensões são tangenciais e,
teão àquele amplamente utilizado pe-
nos arcos, na direção radial. O com-
los romanos em suas grandes estru-
portamento esperado deve ser próxi-
turas – o arco.
mo daquele exposto por Mark e Hutchinson e por Jacques Heyman (“The
AGRADECIMENTOS
plasticity of unreinforced concrete”):
Este estudo foi realizado por su-
a partir da fissuração, a estrutura co-
gestão do Eng. Renato Zuccolo, para
meça a se comportar como uma série
estimar as tensões de tração atuantes
devidas à retração do concreto já nas primeiras camadas concretadas, que são as mais espessas da cúpula. Essas fissuras podem ter se propagado para as demais camadas superiores. Na hipótese de concreto fissurado, o estudo fica limitado pelo desconhe-
Foto 6 - Detalhe da construção da alvenaria estruturada por arcos
54 | CONCRETO & Construções
u Figura 8 Distribuição das tensões principais na face interna
na cúpula do Panteão romano. Para a tarefa, Zuccolo nos forneceu vasto e interessante material sobre a história da estrutura, características do edifício, métodos construtivos e outras construções da época do império romano, além de outras análises já realizadas por outros engenheiros (inclusive, pelo próprio Zuccolo). Algumas informações foram fornecidas pelo Eng. Francisco Rodrigues Andriolo. A principal referência utilizada para este estudo foi o
u Figura 9 Direção das tensões principais máximas
artigo de Mark e Hutchinson – “On the Structure of the Roman Pantheon”.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] [02] [03] [04] [05]
Anotações do Eng. Renato Zuccolo. On the Structure of the Roman Pantheon – Robert Mark and Paul Hutchinson. The plasticity of unreinforced concrete – Jaques Heyman. The Panteon – David Moore. The creative response to concrete cracking – D.P. Billington & P. Draper.
3rd International Conference on Best Practices for Concrete Pavements 27 a 30 de outubro, em Bonito, Mato Grosso do Sul PALESTRAS EM DESTAQUE DESAFIOS PARA OBTENÇÃO DE PAVIMENTOS DE CONCRETO FOTOCATALÍTICOS CAPAZES DE PURIFICAR O AR Anne Beeldens (Centro Belga de Pesquisa Rodoviária e da Universidade de Leuven, na Bélgica) PAVIMENTOS DE CONCRETO DE BAIXO RUÍDO Luc Rens (Federação da Indústria Cimenteira da Bélgica – Febelcem e Associação Europeia de Pavimentação em Concreto - Eupave)
PAVIMENTOS PERMEÁVEIS DE CONCRETO Liv Haselbach (Universidade Estadual de Washington, nos Estados Unidos) DESEMPENHO DA INFRAESTRUTURA QUANTO AO GERENCIAMENTO DO CARBONO Franz-Josef Ulm (Instituto de Tecnologia de Massachussetts, Estados Unidos)
PROJETO E CONSTRUÇÃO DE PAVIMENTOS DE CONCRETO AEROPORTUÁRIOS EM FACE DAS NOVAS DIRETRIZES QUE SERÃO IMPLEMENTADAS NESTE ANO PELA AGÊNCIA FEDERAL DE AVIAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS (FAA) David Brill (FAA) ORGANIZAÇÃO
INFORMAÇÕES www.ibracon.org.br CONCRETO & Construções | 55
u mantenedor
Investimentos com visão de longo prazo MAURÍCIO RUSSOMANNO – Diretor de Vendas e Marketing Votorantim Cimentos
A
Votorantim Cimentos bus-
No Brasil, a prioridade é ampliar a
próximas para ouvir o cliente em todo
ca a evolução constante de
produção nas regiões Centro-Norte e
o País e entender suas expectativas –
seus produtos, por meio de
Nordeste. A empresa, que segue uma
seja em relação ao nível de serviço ou
pesquisas e inovação, e o aperfeiço-
forte estratégia de longo prazo, vê nes-
ao produto, com maior rentabilidade
amento de seu modelo de negócio,
sas regiões espaço para crescimento
para obra. Nossa força de vendas ofe-
pautando-se sempre pelo foco no
do setor de construção e do consumo
rece todos os produtos e serviços da
cliente, pela excelência operacional,
de cimento. Até 2017, serão inaugura-
VC de forma integrada para o cliente,
por práticas sustentáveis e por funcio-
das cinco unidades: Edealina (GO), Pri-
do início ao fim da obra – do concreto
nários com autonomia. Esses quatro
mavera (PA), Sobral (CE), Pecém (CE) e
ao acabamento final.
pilares guiam a atuação da empresa
Caaporã (PB).
Em paralelo com a nossa crescente
em todas as regiões do Brasil e nos
Os investimentos da companhia
aproximação com os clientes de todo
outros 13 países onde estamos pre-
estão sempre alinhados ao seu perfil
o País e dos 13 países nos quais a Vo-
sentes. Ao todo, são 26 unidades de
de forte disciplina financeira, com perfil
torantim Cimentos atua, investimos em
cimento em operação no Brasil e 30
conservador de endividamento e uma
inovação, que consideramos um “dri-
no exterior.
cultura de busca da eficiência opera-
ver” estratégico para a companhia. A
Apesar do cenário econômico de-
cional contínua. Como reconhecimento
empresa tem intensificado os estudos e
safiador, nossa perspectiva de longo
aos bons resultados no balanço entre
pesquisas visando à oferta de produtos
prazo permite a continuidade de um
investimentos e disciplina financeira, a
e serviços que reduzem os custos das
plano de investimentos robusto: até
companhia tem grau de investimento
obras de seus clientes.
2018, serão R$ 5 bilhões direcionados
global, pelas principais agências classi-
Os investimentos em inovação sob
a cinco fábricas no Brasil, uma na Tur-
ficadoras de risco - Fitch Ratings, Stan-
a perspectiva do cliente nos permiti-
quia e uma na Bolívia, ampliação nos
dard & Poor’s e Moody’s.
ram desenvolver produtos inovadores,
EUA, além da modernização de unidades já existentes.
Unidade Rio Branco do Sul, vista à noite
56 | CONCRETO & Construções
Entretanto, para a Votorantim Ci-
como concreto de alta resistência, que
mentos, investir não é apenas inaugurar
reduz o número de pilares de grandes
novas unidades. Também investimos na
construções, ampliando a área disponí-
aproximação com nossos clientes, em
vel nos edifícios; o concreto auto-aden-
inovação, no aperfeiçoamento de nossa
sável, que não necessita ser espalha-
governança e em sustentabilidade.
do, demandando menos mão de obra e
Para melhor atender aos nossos
finalizando o trabalho com mais agilida-
clientes, implementamos um novo mo-
de; e o concreto permeável - adequado
delo de negócio, estruturando as áreas
para captação e reaproveitamento de
comerciais em quatro grandes seg-
água da chuva.
mentos: Autoconstrução, Imobiliário,
Além de concretos inovadores,
Industrial e Infraestrutura. A partir desta
outro “case” da companhia é o do ci-
nova estratégia, definimos equipes de-
mento de menor impacto ambiental,
dicadas para cada segmento e mais
produzido a partir da argila pozolana.
O processo de fabricação deste ci-
dade; e Segurança. Essas
mento alcançou reduções significativas
linhas foram definidas a par-
na emissão de gases e resíduos, no
tir do diálogo permanente
uso de água e energia e até no custo
com nossos “stakeholders”
de produção: em comparação com o
para compreensão de suas
processo convencional, emite 50% me-
expectativas.
nos CO2, gera 10% menos resíduos, e
O direcionamento para
consome menos 25% energia elétrica,
alinhar as ações de rela-
10% energia térmica e 40% de água. O
cionamento com o cliente,
projeto já recebeu diversas premiações
inovação e sustentabilidade
e reconhecimento internacional.
em 14 países é conduzido
O trabalho de redução de impacto
por um novo modelo de
DIVULGAÇÃO – VOTORANTIM CIMENTOS
Unidade Santa Helena – primeira fábrica da Votorantim Cimentos
ambiental – uma constante em nosso
governança corporativa: o One Team,
tro pilares estratégicos: foco no clien-
processo de produção e na concep-
One Company. Por meio desse movi-
te, gente com autonomia, excelência
ção de novos produtos – tem como
mento, são implementados diariamente
operacional e práticas sustentáveis.
linha condutora compromissos em sus-
processos globais de governança, bus-
São esses os pilares e a direção que
tentabilidade assumidos pela Votoran-
cando maior integração e sinergia entre
conduzem a Votorantim Cimentos a
tim Cimentos até o ano de 2020. As
nossos negócios, com um desenho de
investir não só em novas unidades de
quatro linhas condutoras nesse trabalho
estrutura mais simples e ágil. Também
produção, mas em nossos clientes, em
são: Engajamento Comunitário; Ecoefi-
a partir do One Team, One Company,
produtos inovadores, na sustentabilida-
ciência e Inovação; Ética e Conformi-
definimos nosso Norte a partir de qua-
de e nas comunidades locais.
LIVRO
DURABILIDADE DO CONCRETO
à Editores
Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot
à Editora francesa
Presses de l'École Nationale des Ponts et Chaussées - França
à Coordenadores da edição em português
Oswaldo Cascudo e Helena Carasek (UFG)
à Editora brasileira IBRACON
Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos professores JeanPierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro "Durabilidade do Concreto: bases cientí cas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente" condensa um vasto conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a experiência de parte importante de membros da comunidade cientí ca europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto. A edição brasileira da obra foi enriquecida com o trabalho de tradução para a língua portuguesa e sua adaptação à realidade técnica e pro ssional nacional. à Informações: www.ibracon.org.br CONCRETO & Construções | 57
u normalização técnica
A Durabilidade das Estruturas de Concreto como parâmetro de Sustentabilidade INÊS BATTAGIN Superindentente do CB-18/ABNT e Diretora Técnica do IBRACON
tes das principais economias mundiais
ambiente e responsabilidade social)
sustentá-
para a discussão de temas estratégicos
tem sido amplamente divulgado, mas
vel é aquele que atende às
sobre meio ambiente. Nessa linha, em
apenas o processo de aculturamento
necessidades do presente,
1993 deu-se início aos trabalhos de nor-
da sociedade pode gerar o necessário
sem comprometer a possibilidade das
malização com a formação do ISO/TC
comprometimento, para que em todas
gerações futuras atenderem às suas
207 – International Technical Committee
as esferas se pratiquem ações que
próprias necessidades, segundo o Re-
of Environmental Management, com for-
levem essa mesma sociedade, como
latório da Comissão Brundland “Nosso
te participação do Brasil.
um todo, a uma melhor qualidade de
1. INTRODUÇÃO
D
esenvolvimento
Futuro Comum, 1987” da Organização
O envolvimento da ISO nas ques-
vida ao longo do tempo.
tões da sustentabilidade transcen-
O tema deste artigo está inserido no
Apesar de simples em sua essên-
de os ideais e limites de governos e
campo das construções, onde o con-
cia, esse conceito vem exigindo mu-
possibilita soluções que agreguem di-
sumo de materiais e energia é ainda ex-
danças sociais importantes, pois o
ferentes culturas e amenizem os efei-
pressivo, assim como a geração de ga-
modelo de crescimento econômico
tos de opiniões antagônicas, pois a
ses do efeito estufa e resíduos diversos.
tradicional tem deixado de ser viável
normalização é, em sua essência, um
Especialmente ao longo dos úl-
(ou sustentável), passando a depender
veículo para a discussão de temas de
timos vinte anos, muitos estudos,
de outros fatores, antes relegados a
interesse da sociedade, possibilitando
pesquisas e ações, tanto da iniciativa
um segundo plano.
a popularização do conhecimento e o
privada como pública, têm gradativa-
desenvolvimento com base técnica e
mente minorado os valores específicos
consenso social.
(unitários) desses impactos, porém é
das Nações Unidas.
Há alguns anos a preservação ambiental passou a ser vista como funda-
A barreira cultural é de tal forma ex-
ainda pequeno o resultado final (total)
possibilitando
pressiva que, somente dez anos após
em função do aumento populacional e
a manutenção dos recursos naturais
o início dos trabalhos na área ambien-
do consequente anseio da população
indispensáveis à industrialização; mais
tal, foi possível divulgar as iniciativas da
por conforto (moradia, saneamento,
recentemente essa preocupação foi
ISO para as questões relacionadas à
infraestrutura de transporte, etc).
estendida à preservação da própria hu-
responsabilidade social. A publicação
Como o concreto é o material de
manidade. Diversos países voltaram sua
da ISO 26000 Social Responsibility,
construção mais utilizado no mundo,
atenção para essa necessidade e, em
em 2010, trazendo apenas diretrizes
sua composição, aplicações, durabi-
1990, foi criado pela ISO (International
gerais, mostra de forma velada as difi-
lidade e possibilidades de reciclagem
Organization for Standardization) o Stra-
culdades enfrentadas nesse processo.
têm sido objeto de muitas pesquisas,
tegic Advisory Group on Environment,
O tripé da sustentabilidade (cres-
dispondo-se atualmente de vasto ca-
que possibilitou agregar representan-
cimento econômico, respeito ao meio
mental para a continuidade do crescimento
econômico,
58 | CONCRETO & Construções
bedal de informações.
Verifica-se, no entanto, que mesmo
Vale aqui mencionar que o Brasil faz
sem deixar de considerar os avanços
no meio técnico formal há bastante
parte do CSI, sigla em inglês para Ini-
observados em normas de outros paí-
desconhecimento e até mesmo des-
ciativa Mundial da Sustentabilidade do
ses, em especial o pragmatismo ame-
caso com relação a muitas das pos-
Cimento, no âmbito do WBCSD (World
ricano no desenvolvimento de meto-
sibilidades de uso que reflitam em res-
Business
dologias de ensaios.
postas mais adequadas ao momento
Development), e é referência no cam-
Seguindo a linha proposta pelo
atual.
Council
for
Sustainable
po da adequação ambiental pelos bai-
Eurocode 2 (EN 1992:2004 Design of
São apresentadas a seguir as prin-
xos consumos energéticos e por um
concrete structures) e complementada
cipais ações na área da normalização
inventário de lançamento e monitora-
pela EN 206-1:2000 (Concrete – Spe-
técnica (especialmente de concreto)
mento de gases do efeito estufa, que
cification,
visando ações de sustentabilidade e
também é benchmark mundial.
and conformity), foram introduzidos,
discutidos os caminhos para sua implementação e as lacunas existentes.
performance,
production
O concreto, por sua vez, é um
no início dos anos 2000, parâmetros
compósito à base de cimento Portland
de durabilidade nas Normas Brasilei-
com grande quantidade de agregados
ras ABNT NBR 6118 (Projeto de Es-
2. DIRETRIZES ISO PARA A GESTÃO AMBIENTAL
(normalmente 60% a 70% em massa),
truturas de Concreto) e ABNT NBR
além de outros materiais utilizados em
12655 (Concreto de cimento Portland:
A ISO publicou em 1993 um Guia
menor escala, como água, aditivos e
preparo, controle, recebimento e acei-
que estabelece a inclusão de aspec-
eventualmente adições, como meta-
tação), atualmente em novas versões,
tos de gestão ambiental em normas de
caulim, sílica ativa ou outros materiais
revisadas e complementadas (2014 e
produtos (ISO Guide 64 ), documento
pozolânicos. É, portanto, um insumo
2015, respectivamente).
que foi revisado em 2003 e novamente
que utiliza materiais disponíveis em
Conceitos de vida útil e desempe-
em 2008, tendo sido uma das bases
praticamente todo o globo terrestre,
nho em serviço passaram a fazer parte
para o desenvolvimento das Normas
de baixo custo/benefício e fácil reci-
da agenda de discussões para o de-
da série ISO 14000 (Environmental
clagem, é considerado pouco agres-
senvolvimento de novas construções.
management).
sivo ao meio ambiente, especialmente
Exigências relativas ao cobrimento
se comparado a outros materiais de
das armaduras (espessura e qualidade
construção.
do concreto) em função da classe de
1
Um exemplo de sucesso nesse campo são as normas brasileiras de cimento Portland, que seguindo a li-
Com o advento da série ISO
agressividade ambiental colocaram em
nha europeia, consideram a possibi-
14000, que contempla exigências de
evidência a necessidade de se preve-
lidade de incorporação de diversos
avaliação do ciclo de vida e rotula-
nir os efeitos do meio ambiente sobre
materiais,
outros
gem ambiental dos produtos, além da
as estruturas, para que estas possam
segmentos industriais, como matérias
avaliação ambiental dos processos, o
durar mais e, consequentemente, pos-
primas para a fabricação do cimento.
concreto tornou-se ainda mais atrativo
sibilitar um melhor gerenciamento das
A redução do consumo energético de
do ponto de vista ambiental, conside-
questões ambientais.
fabricação, o aumento da vida útil das
rando sua durabilidade.
descartados
de
jazidas e a mitigação das emissões
Paralelamente, como forma de avançar na prevenção de desgastes
3. NORMAS BRASILEIRAS DE CONCRETO E ESTRUTURAS
prematuros das estruturas, investiu-se
obtidos com essa medida. Atualmente, com as novas tecnologias de fa-
No campo da normalização técnica
tituintes do concreto e de estruturas
bricação, tem sido possível também
de concreto, seus materiais constituin-
pré-fabricadas de concreto, sendo
a queima de combustíveis alternativos
tes, estruturas e outras aplicações, o
aprovadas e publicadas no Brasil:
e resíduos diversos nos fornos rotati-
Brasil conta com um acervo de mais
u A ABNT NBR 15900:2010 – Água
vos, com a manutenção da qualidade
de 300 títulos, que tem na normaliza-
de amassamento do concreto,
do produto final.
ção europeia sua principal referência,
alinhada à ISO 12439:2010, mas
são os principais ganhos ambientais
na normalização dos materiais cons-
Os Guias ISO são documentos que estabelecem diretrizes gerais e devem ser considerados no desenvolvimento das Normas Técnicas Internacionais e Nacionais dos países membros da ISO.
1
CONCRETO & Construções | 59
etapas de concretagem e do ruído gerado nesse processo, requisitos importantes especialmente para a indústria da pré-fabricação; u A ABNT NBR 15577:2008 Agrega-
dos – Reatividade álcali-agregado (seis Partes), onde, além da avaliação dos agregados a serem utilizados no concreto, são estabelecidas diretrizes para a classificação de estruturas/elementos estruturais, em função da probabilidade de estes estarem sujeitos à ocorrência da reação álcali-agregado, sendo
u Figura 1 Esquema dos conceitos que serviram de base à ABNT NBR 15575 para o estabelecimento dos tempos de vida útil de projeto dos sistemas que compõem a edificação
indicadas as medidas preventivas adequadas em cada situação; u A ABNT NBR 12655:2015, que
complementa a ABNT NBR 6118, a adequada à realidade brasileira,
concreto (diretamente ou presen-
ABNT NBR 9062:2006 (Projeto de
contemplando a necessária meto-
tes nos cimentos compostos) pro-
execução de estruturas pré-molda-
dologia de ensaios e trazendo não
porcionam redução da porosidade
das de concreto) e outras Normas,
apenas a possibilidade de avalia-
e da permeabilidade, colmatando
detalhando requisitos de composi-
ção da qualidade da água disponí-
os poros e gerando aumento da
ção do concreto e estabelecendo:
vel para a preparação do concre-
resistência aos agentes agressivos
– limites para a avaliação da quan-
to, mas também uma proposta de
(como sulfatos e íons cloreto), com
tidade de cloretos trazidos à matriz
processo de gestão ambiental, que
a redução da ocorrência de eflores-
pelos materiais constituintes em fun-
inclui o aproveitamento da água re-
cência; proporcionam ainda a mi-
ção do tipo de estrutura (armada,
cuperada do processo produtivo e
tigação da reação álcali-agregado
protendida ou de concreto simples);
de outros usos relacionados;
e o aumento da resistividade elétri-
– critérios de qualidade do con-
ca e das resistências à tração e à
creto para as situações de exposi-
zolânicos (ABNT NBR 12653:2014),
compressão ao longo do tempo;
ção a cloretos (do meio externo) e
incluindo documentos específicos
u A ABNT NBR 15823:2010 Con-
para o metacaulim (ABNT NBR
creto autoadensável (seis Partes),
15894:2010) e a sílica ativa (ABNT
que estabelece requisitos para
lidade de estruturas em contato
NBR 13956:2012), que estabele-
o controle no estado fresco dos
com meios agressivos, notada-
cem critérios para controle e uso
concretos que dispensam a eta-
mente elementos enterrados ou
desses materiais com cimento
pa de adensamento na obra. Este
em contato com o solo (como
Portland em concreto, argamassa
tipo de concreto tem sido cada
fundações) e limites de composi-
e pasta, de forma a se ter o me-
vez mais exigido para a execução
ção para o concreto dessas es-
lhor resultado em termos de dura-
de estruturas com grande con-
truturas em função da agressivi-
bilidade e desempenho mecânico
centração de armadura e possi-
u As novas Normas de materiais po-
sulfatos (da água e do solo);
– recomendações para a durabi-
dade do meio.
- estudos mostram que, se bem
bilita a obtenção de superfícies
u Uma nova geração de normas
controlados e utilizados, os mate-
bem acabadas, com redução da
para estruturas pré-fabricadas de
riais pozolânicos adicionados ao
quantidade de mão de obra nas
concreto (ABNT NBR 14861:2011,
Revisada em 2015, em fase final de aprovação para publicação.
2
60 | CONCRETO & Construções
u Quadro 1 – Estrutura do ISO/TC71 Subcomitê
Título
Secretaria
SC1
Test Methods for Concrete
SII (Israel)
SC3
Concrete production and execution of concrete structures
SN (Noruega)
SC4
Performance requirements for structural concrete
ANSI/ACI (USA)
SC5
Simplified design standards for concrete structures
ICONTEC (Colômbia)
SC6
Non-Traditional reinforcing materials for concrete structures
JISC (Japão)
SC7
Maintenance and repair of concrete structures
KATS (Coréia)
SC8
Environmental Management for Concrete Structures
JISC (Japão)
de lajes alveolares, ABNT NBR
como um todo integrado e aos seus
o conceito de vida útil de projeto da
16258:2014, de estacas pré-fa-
sistemas,
ABNT NBR 6118 publicada em 2003.
bricadas e Projeto 18:600.19-001,
materiais utilizados na construção.
independentemente
dos
Tendo em vista incentivar o cres-
que trata de painéis de parede,
No quesito durabilidade, a im-
cimento dos setores da construção
em fase final de aprovação), que
portância da Norma de Desempe-
com base em critérios de desempe-
seguem a linha estabelecida por
nho está nos conceitos trazidos da
nho ideais, como os praticados em
sua norma-mãe, a ABNT NBR
BS 7543:2003 (Guide to durability of
países desenvolvidos, a ABNT NBR
9062, estabelecendo os requisitos
buildings and building elements, products
15575 traz um anexo de caráter in-
específicos para os processos de
and components) e no estabelecimento
formativo com dados de desempe-
produção, controle e montagem
de prazos para a vida útil de projeto.
nho denominados de intermediário (I)
3
das estruturas com esses elemen-
O efeito de uma falha no desempe-
e superior (S) para alguns requisitos.
tos - vale destacar os requisitos
nho (da estrutura, do elemento, do sis-
No caso da vida útil de projeto das
estabelecidos para a qualidade
tema, etc.), o grau de dificuldade nas
estruturas, tem-se, na Parte 1 dessa
da execução das estruturas pré-
operações de manutenção e reparação
Norma, os valores recomendados de
-fabricadas, onde os controles
e o custo envolvido, são os três fatores
63 anos para o desempenho interme-
industriais proporcionam aumento
considerados pela BS 7543, e também
diário e 75 anos para o superior.
na durabilidade, com relação aos
pelas ABNT NBR 15575 e ISO 15686-
O significado da vida útil de proje-
padrões convencionais.
1:2000 , para as avaliações de durabili-
to segundo a ABNT NBR 15575:2013
dade e estabelecimento dos prazos de
está a seguir registrado:
4. NORMA DE DESEMPENHO
vida útil de projeto. A Figura 1 exemplifica
3.43
Marco inovador no setor da cons-
esse processo e nela verifica-se que, no
Vida Útil de Projeto (VUP)
trução civil, a ABNT NBR 15575, pu-
caso das estruturas, a vida útil de projeto
Período estimado de tempo
blicada em segunda versão em 2013,
deve sempre ser a maior dentre os siste-
para o qual um sistema é pro-
compila o conteúdo de um acervo
mas que compõe uma edificação.
jetado a fim de atender aos
4
normativo construído ao longo dos
A lógica do crescimento continua-
requisitos de desempenho es-
anos e nem sempre absorvido pelo
do no campo da normalização técni-
tabelecidos nesta Norma, con-
meio técnico de maneira adequada,
ca merece aqui ser explicitada, pois a
siderando o atendimento aos
estabelecendo requisitos e critérios
Norma de Desempenho reafirma a ida-
requisitos das normas aplicá-
de desempenho para o conforto dos
de mínima de 50 anos para estruturas
veis, o estágio do conhecimen-
usuários de edificações habitacionais.
de qualquer material, prazo já previsto
to no momento do projeto e
A Norma, composta de seis Par-
pela ABNT NBR 8681:2004 (Ações e
supondo o cumprimento da pe-
tes, aplica-se ao edifício habitacional
segurança nas estruturas), e também
riodicidade e correta execução
A edição mais recente da BS 7543 foi publicada em abril de 2015 pelo BSI – British Standards Institution. ISO 15686 Buildings and constructed assets – Service life planning, composta de 11 Partes, sendo que a primeira, de Princípios Gerais, foi publicada no ano 2000 e revisada em 2011.
3 4
CONCRETO & Construções | 61
u Figura 2 Fluxograma de Projeto para a Vida Útil em Serviço da Estrutura de Concreto dos processos de manutenção
vés dos Comitês Brasileiros da Asso-
seus SCs, é sempre realizada em dife-
especificados
respectivo
ciação Brasileira de Normas Técnicas
rentes países (e preferencialmente em
Manual de Uso, Operação e
que atuam nessa área (ABNT/CB-18
continentes diferentes), de forma a di-
Manutenção (a VUP não deve
Cimento, Concreto e Agregados e
vulgar o trabalho do Comitê.
ser confundida com tempo de
ABNT/CB-02 Construção Civil).
no
A normalização com foco na dura-
Atualmente com sete subcomitês
bilidade das estruturas de concreto tem
garantia legal e certificada).
(SC) ativos (ver Quadro 1) e a Secre-
sido o principal aspecto de atenção dos
Nota: A VUP é uma estimativa
taria Geral sendo administrada pelo
trabalhos do ISO/TC71, envolvendo
teórica de tempo que compõe
American Concrete Institute (ACI), o
todos os seus subcomitês, em temas
o tempo de vida útil. O tempo
ISO/TC71 é um dos mais ativos Co-
de seu escopo, que possam convergir
de VU pode ou não ser confir-
mitês Internacionais, congregando 95
para a perfeita conceituação e o esta-
mado em função da eficiência
países, com a soma de seus mem-
belecimento de requisitos nessa área.
e registro das manutenções, de
bros participantes (P) e observadores
alterações no entorno da obra,
(O, sem direito a voto).
vida útil, durabilidade, prazo de
5
Assim, em 2012, foi possível a publicação da ISO 16204 Durabili-
O ACI assumiu os trabalhos de co-
ty – Service Life Design of Concrete
ordenação do ISO/TC71 em 1993 e
Structures, a partir de trabalhos de-
5. O ISO/TC71 E O MODEL CODE 2010 DA fib
nesses vinte anos tem atuado de forma
senvolvidos ou em desenvolvimento
dinâmica e competente, conseguindo
na ocasião, como os a seguir:
O Brasil participa da Normalização
agregar países e grupos econômicos
u metodologias de ensaios prepara-
Internacional de Concreto, a cargo do
no trabalho de desenvolvimento de
das pelo SC1, como as estabele-
ISO/TC71 (Concrete, Reinforced Con-
normas técnicas.
cidas na ISO 1920 – Parte 11:2013
fatores climáticos, e outros.
crete and Prestressed Concrete) atra-
A reunião anual do ISO/TC71, e
(Determination
of
the
chloride
A ANSI – American National Standards Institute é o organismo oficial responsável por representar os EUA na ISO, tendo indicado o ACI para gerenciar a Secretaria Geral do ISO/TC71, por este último atuar especificamente na área de concreto e estruturas de concreto.
5
62 | CONCRETO & Construções
resistance of concrete, unidirectional
diversos outros documentos normati-
No entanto, muito trabalho há ain-
diffusion) e ISO 1920 – Parte 12:2015
vos estrangeiros, que têm servido de
da pela frente, para que seja possível
(Determination of the carbonation
base aos trabalhos internacionais de
desenvolver todos os itens previstos
resistance of concrete — Accelerated
normalização e também de iniciativas,
no fluxograma proposto pelas entida-
carbonation method);
como a da Colômbia, de aproveitar a
des internacionais (ISO e fib), inician-
u procedimentos de preparação e
normalização internacional para gerar
do pelo monitoramento, inspeção e
controle da qualidade do concre-
normas nacionais sobre a durabilida-
inventário das estruturas existentes ou
to, elaborados pelo SC3, dando
de das estruturas de concreto. No
em execução.
origem à ISO 22965:2007 (Part 1:
entanto, essa lista poderia se tornar
O tema desta edição da Revista
Methods of specifying and guid-
extremamente extensa e a literatura
Concreto & Construções do IBRACON
ance for the specifier e Part 2: Spec-
técnica disponível sobre o tema já
leva-nos a uma série de reflexões, ne-
ification of constituent materials,
traz preciosas informações a respei-
cessárias neste momento em que a
production of concrete and compli-
to, recomendando-se uma consulta
economia brasileira, uma vez mais, dá
ance of concrete);
aos Livros publicados pelo IBRACON,
sinais de fraqueza.
6
u procedimentos de manutenção es-
tabelecidos pelo SC7, publicados
conforme referências bibliográficas deste artigo.
como ISO 16311:2014 (Maintenan-
A construção civil é um dos grandes motores da economia, mas responde também pelos maiores des-
ce and repair of concrete structu-
6. CONCLUSÕES
perdícios de materiais e, com isso, de
res), composta de quatro Partes.
A normalização brasileira de con-
geração de resíduos. É fundamental
A ISO 16204, que trata do projeto
creto e estruturas de concreto tem
desenvolver processos de divulgação
para a durabilidade a partir das ações
acompanhado as tendências interna-
que informem sobre as normas bra-
ambientais e seu efeito sobre as es-
cionais e, em alguns casos, sido pro-
sileiras que podem ser aplicadas em
truturas de concreto, teve como base
ativa no desenvolvimento de normas
cada caso (como, por exemplo, as
os princípios das ISO 2394 (General
técnicas para temas específicos.
Normas que viabilizam a reciclagem
principles on reliability for structures),
Nos últimos anos, os Comitês Bra-
de concreto e a utilização de resíduos
ISO 13823 (General principles on the
sileiros de normalização atuaram for-
de demolição da construção civil em
design of structures for durability), do
temente na atualização do acervo da
concreto sem função estrutural ou ca-
ISO/TC 98, e do Model Code 2010 da
ABNT, no intuito de atender a neces-
madas de pavimentação).
fib (Fédération Internationale du Béton).
sidade impostas pela ISO, que vão ao
Os setores industriais têm buscado
A Figura 2 ilustra o fluxo de deci-
encontro dos anseios da própria so-
reduzir o impacto de seus processos,
ciedade técnica.
considerando aspectos legais, norma-
sões e as atividades de projeto necessárias em um processo racional para a
Algumas tentativas para o desen-
tivos e mercadológicos, conscientes
vida útil de serviço de uma estrutura,
volvimento de normas brasileiras es-
de que no momento atual sua ima-
com um nível estabelecido de confia-
pecíficas de avaliação dos efeitos de
gem frente aos consumidores pode
bilidade, segundo a ISO 16204 e que
agentes agressivos às armaduras de
ser o fator decisivo para o sucesso. Os
está de acordo com o previsto no Mo-
aço das estruturas de concreto (como
processos de qualidade e gestão am-
del Code 2010 da fib.
a carbonatação e a difusão de cloretos)
biental, propostos pela ISO (séries ISO
O ICONTEC – Instituto Colombiano
geraram propostas de ensaios e pro-
9000 e ISO 14000) certamente são
de Normas Técnicas y Certificación, pu-
cedimentos comparáveis aos recente-
um diferencial, mas a certificação dos
blicou em 2012 a NTC 5551 Durabilidad
mente publicados pela ISO, o que nos
produtos, por sua conformidade às
de Estruturas de Concreto, com base
incentiva a retomar esse trabalho e, se
normas específicas, é uma segurança
nos requisitos das Normas Internacio-
for o caso, adotar as normas interna-
importante para os consumidores.
nais ISO anteriormente mencionadas.
cionais ou propor melhorias para sua
Seria possível listar e comentar
próxima revisão.
O concreto tem provado ao longo dos anos que é um excelente material
Similar, de forma geral, à Norma Brasileira ABNT NBR 12655:2015.
6
CONCRETO & Construções | 63
de construção. Por sua versatilidade
do país que se propõem a desenvolver
do a presença de professores, mestres
e baixo custo está presente em todo
essa tarefa.
e doutores nos trabalhos de elabora-
o globo, suportando as mais diversas
É possível perceber a necessidade
ção das normas brasileiras. Esse qua-
solicitações, sejam cargas de projeto,
de incentivo para algumas atividades
dro deve ser mudado para que as
ações de incêndio ou a agressividade
ainda pouco expressivas na cultura
normas técnicas sejam cada vez mais
do meio ambiente. O Brasil tem forte
nacional, como a normalização técni-
uma ferramenta de trabalho à dispo-
tradição na construção em concreto e
ca, que muito pouco é ensinada nas
sição da sociedade técnica e reflitam
participa dos foros internacionais, sen-
escolas de graduação e não compete
o real estágio de desenvolvimento do
do reconhecido por sua atuação. No
em igualdade de condições com ou-
país, possibilitando um crescimento
entanto, são poucos os representantes
tras atividades acadêmicas, dificultan-
contínuo e harmônico.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, ABNT. ABNT NBR 6118 Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. [02] ______. ABNT NBR 12655 Concreto de cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. [03] ______. ABNT NBR 15575 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho (6 Partes). Rio de Janeiro: ABNT, 2013. [04] BRITISH STANDARDS INSTITUTION, BSI. Guide to durability of buildings and building elements, products and components. London, 2003. [05] COMITÊ EUROPEU DE NORMALIZAÇÃO, CEN. EN 206-1 Concrete. Specification, performance, production and conformity. Brussels, 2000. [06] ______. Eurocode 2 (EN 1992). Design of concrete structures, Brussels, 2004. [07] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. fib Model Code for Concrete Structures 2010. Lausanne, 2013. [08] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, ISO. ISO/Guide 64 Guide for addressing environmental issues in product standards. Geneva, 2008. [09] ______. ISO 16204 Durability – Service Life Design of Concrete Structures. Geneva, 2012. [10] ISAIA, G. (Ed). Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. 2v. São Paulo: IBRACON, 2010. [11] ISAIA, G. (Ed). Concreto: Ciência e Tecnologia. 2v. São Paulo: IBRACON, 2011.
SIMPÓSIO SOBRE
ESTRUTURAS DE FUNDAÇÕES
ASPECTOS ESTRUTURAIS E GEOTÉCNICOS 28 de outubro | Centro de Convenções de Bonito – MS Fundações são projetos multidisciplinares por serem interfaces entre a estrutura e o solo, envolvendo análises estrutural e geotécnica e suas respectivas interações, bem como a compatibilização de seus aspectos construtivos PALESTRAS DE DESTAQUE PROBLEMAS DE NATUREZA GEOTÉCNICA NO PROJETO DE FUNDAÇÕES DE AEROGERADORES Jarbas Milititsky (consultor de obras geotécnicas)
Organização
ANÁLISE COMPUTACIONAL DE BLOCOS DE COROAMENTO DE ESTACAS Rafael Alves de Souza (professor da Universidade Estadual de Maringá) Apoio institucional
Informações www.ibracon.org.br
64 | CONCRETO & Construções
u normalização técnica
Discussão sobre as ações variáveis de projeto segundo os requisitos mínimo, intermediário e superior de desempenho da ABNT NBR 15575 FABRICIO BOLINA – Engenheiro Civil e Analista de Projeto VITOR PERRONE – Engenheiro Civil e Projetista Estrutural do Estádio 3 BERNARDO TUTIKIAN – Engenheiro Civil e Coordenador Geral ITT Performance/Unisinos e Diretor Regional do Ibracon
1. INTRODUÇÃO
2013, a estrutura deve conservar a
atendimento dos requisitos. A con-
Com a entrada em vigor da ABNT
segurança, estabilidade e aptidão
cepção de uma estrutura segundo as
NBR 15575 – Edificações Habitacio-
em serviço durante o período corres-
exigências de durabilidade é remeti-
nais – Desempenho, em 2013, pro-
pondente à sua vida útil (item 14.1). A
da ao conjunto de normas brasileiras
jetistas, fornecedores e construtores
estrutura principal e seus elementos
de projeto e dimensionamento apli-
ficaram incumbidos de construir edi-
devem ser projetados e construídos
cáveis a este fim.
ficações que atendam a requisitos
de modo que, sob condições pré-
Se, por um lado, tem-se a ABNT
mínimos de desempenho. Privilegian-
-estabelecidas de uso, mantenham
NBR 15575:2013, a qual estabele-
do os usuários, que respondem pelo
sua capacidade funcional durante a
ce níveis de desempenho a serem
uso adequado do imóvel, devendo
vida útil do projeto. Uma estrutura
cumpridos, por outro, o leque de
promover as ações de manutenção
deve ser concebida para atender a
normas nacionais prescritivas ainda
previstas, a norma foca as exigên-
um desempenho mínimo, interme-
não fornece todos os índices para
cias de (a) sustentabilidade, (b) ha-
diário ou superior de durabilidade,
o cumprimento dessas exigências,
bitabilidade e (c) segurança que os
devendo o projetista estrutural, para
principalmente quanto aos requisi-
sistemas construtivos devem cumprir
tanto, estabelecer uma Vida Útil de
tos de desempenho intermediário e
Projeto (VUP) de 50, 63 ou 75 anos,
superior de durabilidade e vida útil.
respectivamente .
Dentre essas necessidades está a
100quando 95 75
em uso, definindo em níveis
mínimo, intermediário e superior os
1
critérios de qualificação destes. Den-
O fato da norma de desempenho
prescrição das ações variáveis a se-
tre os sistemas abordados pela nor-
ter uma linguagem predominante-
rem admitidas no dimensionamento
ma, está o estrutural.
mente qualitativa faz com que ela se
do sistema estrutural, principalmente
apoie em normas prescritivas para o
devido ao conceito de probabilidade
Segundo a ABNT NBR 15575-2: 25
Segundo a Norma de Desempenho, projetistas, construtores e incorporadores são responsáveis pelos valores teóricos de Vida Útil de Projeto que podem ser confirmados por meio de atendimento às normas Brasileiras ou Internacionais (exemplo: ISO e IEC) ou Regionais (exemplo: Mercosul) e não havendo estas, podem ser consideradas normas estrangeiras na data do projeto.
1
5 0
CONCRETO & Construções | 65
de ocorrência empregado na sua aná-
de estruturas de edificações (ABNT
possuem uma probabilidade de 25%
lise. A ABNT NBR 8681:2003 define
NBR 6120:1980) define que estas
a 35% de serem ultrapassados duran-
a intensidade das ações variáveis e
podem ser classificadas em duas
te um período de 50 anos, no Brasil.
estabelece os valores característicos
categorias: (a) permanentes e (b) aci-
Portanto, entende-se que as pre-
para um período de retorno de 50
dentais. As permanentes não pos-
missas de durabilidade das estrutu-
anos, não havendo qualquer indica-
suem uma variação no tempo, pelo
ras de concreto conforme as ABNT
ção para tempos de retorno de 63 e
fato de serem ações inertes e, teori-
NBR 6118 – Projeto de estruturas
75 anos para essas ações.
camente, constantes, como o peso
de concreto armado – Procedimento
Visando contribuir para este de-
próprio dos sistemas construtivos.
(2014) e ABNT NBR 12655 – Con-
bate e preencher esta lacuna nor-
As acidentais, no entanto, pelo fato
creto de cimento Portland – Preparo,
mativa, o presente trabalho analisou
de abranger ações que comtemplam
controle, recebimento e aceitação
estas ações, propondo valores de
o uso da edificação (pessoas, mó-
– Procedimento (2015) são válidas
cargas variáveis a serem admitidas
veis, ventos, sismos, etc.), apresen-
para uma vida útil de 50 anos. Con-
nos cálculos estruturais para tempos
tam variabilidade no tempo, o que
tribuições ao avanço dos estudos
de retorno de 63 e 75 anos, compa-
impossibilita uma definição concreta
para o estabelecimento obrigatório
rando com os valores estabelecidos
e absoluta de sua magnitude para
de prazos de vida útil maiores, com
para ações desta natureza pelas
outros períodos de retorno além dos
base nos parâmetros de dimensio-
principais normas internacionais.
50 anos, sendo admitida a probabili-
namento em termos de durabilidade
dade de ocorrência.
dessas estruturas (cobrimento das
2. ANÁLISE DO SISTEMA NORMATIVO BRASILEIRO
A combinação das ações gera-
armaduras, resistência do concreto,
das por essas cargas é estabelecida
relação água/cimento e consumo de
Segundo a norma de desempe-
pela ABNT NBR 8681:2003, a qual
cimento), já foram apresentados por
nho (ABNT NBR 15575:2013), uma
determina que as ações acidentais,
Bolina e Tutikian (2014), extrapolando
estrutura é dimensionada, dentre ou-
definidas como variáveis, podem ser
as recomendações das ABNT NBR
tros fatores, considerando as normas
classificadas como (a) ações variá-
6118:2014 e ABNT NBR 12655:2015
que definem as cargas de uso (ABNT
veis normais e (b) ações variáveis es-
para os níveis de desempenho in-
NBR 6120:1980), de vento (ABNT
peciais. As ações variáveis normais
termediário (63 anos) e superior (75
NBR 6123:1988), as combinações
são aquelas com probabilidade de
anos) da norma de desempenho.
destas (ABNT NBR 8681:2003) e as
ocorrência suficientemente grande
Adotando o cenário praticado
que propõem o dimensionamento
para que sejam admitidas no cálcu-
pela ABNT NBR 8681 – Ações e
dos elementos estruturais segun-
lo estrutural, tais como as de uso da
segurança nas estruturas – Proce-
do estas combinações (ABNT NBR
edificação. As ações variáveis espe-
dimento (2003), é entendido que as
6118:2014 para concreto armado,
ciais provêm de situações não corri-
cargas de uso estabelecidas pela
ABNT NBR 8800:2008 para es-
queiras, tais como sismos. Este arti-
ABNT NBR 6120 – Cargas para o
truturas metálicas compostas por
go se concentrou nas primeiras.
cálculo de estruturas de edificações
perfis laminados e estruturas mis-
Os valores característicos des-
(1988) são as que devem ser prati-
tas de concreto e aço e ABNT NBR
sas ações praticados pelas normas
cadas no projeto estrutural de edifi-
7190:1997 para estruturas de ma-
brasileiras são dados em função da
cações habitacionais. Algumas das
deira). As ações ambientais também
variabilidade e intensidade de suas
cargas constantes dessa Norma,
são abordadas nestas, pelo fato do
ocorrências. Define a ABNT NBR
aplicadas a edificações residenciais,
ambiente promover uma degradação
8681:2003 que, para as ações que
estão transcritas na Tabela 1.
dos elementos estruturais , influen-
apresentam variabilidade no tempo,
Cabe destacar que os coeficien-
ciando o desempenho e, por conse-
admite-se um período convencional
tes de ponderação são propostos
guinte, a vida útil da edificação.
de referência para que essas ações
segundo as incertezas associadas
A norma que estabelece as car-
sejam ultrapassadas. Esses valores
aos materiais, ações, modelos, teo-
gas a serem admitidas para o cálculo
são estabelecidos por consenso e
ria e execução, visando controlar o
66 | CONCRETO & Construções
variáveis são divididas em categorias.
u Tabela 1 – Valores mínimos de algumas cargas verticais praticadas na ABNT NBR 6120:1980
(2002) requerer uma vida útil mínima
Descrição
Carga (kN/m²)
Dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro
1,5
ções habitacionais convencionais, tal
Despensa, área de serviço e lavanderia
2
como a ABNT NBR 15575:2013, par-
Com acesso ao público
3
Sem acesso ao público
2,5
Sem acesso ao público
2
Com acesso ao público
3
do Eurocode aborda as ações variá-
Inacessível a pessoas
0,5
veis derivadas das ações ambientais,
Tipo
Escadas
Terraços
po de retorno. Pelo fato da EN 1990 – Eurocode – Basis of structural design
Local
Edifícios residenciais
No entanto, não é especificado o tem-
de projeto de 50 anos para as edifica-
te-se do pressuposto que as ações variáveis características nela estabelecidas empregam este mesmo período de retorno. A nota do item 4.1.2
evidenciando um período de retorno risco de falha (SOUZA JUNIOR,
damentada na consequência de um
de 50 anos para estas, com probabi-
2008). Explica o autor que os coe-
colapso da edificação - interpreta-
lidade de 2% ao ano de serem ultra-
ficientes parciais de segurança pra-
do segundo a magnitude de perdas
passadas, o que sugere esta mesma
ticados
brasileiras
sociais, econômicas e de vidas - a
presunção para as ações variáveis de
não passaram pelo processo de
norma determina a probabilidade da
uso. A norma aborda vida útil de 100
calibração em termos de confiabili-
ação variável ser excedida para uma
anos para obras de infraestrutura,
dade, possuindo origem em normas
vida útil de projeto de 5, 25, 50 e 100
onde não se aplicam as ações cor-
estrangeiras correlatas, não sendo
anos. No entanto, as ações variáveis
riqueiras de uso. Nesta lógica, a BS
realizada análise sistemática das in-
que esta norma admite são o vento,
6399-1 – Loading for buildings – Part
certezas para a realidade brasileira.
a neve e o terremoto, não estabe-
1 – Code of practice for dead and im-
As bases gerais dos fatores estabe-
lecendo referências para as cargas
posed loads (1996) apresenta valores
lecidos pelas normas europeias pos-
variáveis de uso. Para estas, a AS/
mínimos de ações variáveis a serem
suem uma calibração baseada na
NZS 1170.0:2002 remete para a AS/
admitidas nos projetos residenciais,
longa tradição do uso e aplicação,
NZS 1170.1 – Structural design ac-
com critérios semelhantes do Euro-
sem fundamentação minuciosa dos
tion – Part 1 – Permanent imposed
code, mas não apresentando citação
valores praticados.
and other actions (2002), que define
referente ao período de retorno.
pelas
normas
Os coeficientes de ponderação
as cargas variáveis características
A norma indiana IS 456 – Plain
dessas ações não fazem parte do
representativas de uma vida útil de
and reinforced concrete (2000) faz
escopo deste trabalho.
projeto de 50 anos, com probabili-
referência, em termos de parâmetros
dade de 5% de serem ultrapassa-
de durabilidade para os elementos de
3. ANÁLISE DO SISTEMA NORMATIVO INTERNACIONAL
das, ou seja, bem menor do que a
concreto (cobrimento, relação água/
faixa dos 25% a 35% praticadas pela
cimento e resistência à compressão)
Para as estruturas projetadas na
ABNT NBR 8681:2003. O valor ca-
a uma vida útil de 50 anos, tal como
Austrália e Nova Zelândia, a AS/NZS
racterístico dessas ações é apresen-
indiretamente propõe a ABNT NBR
1170.0 – Structural design action
tado na NZS 4203 – General struc-
6118:2014, sendo, contudo, mais
- Part 0 – General principles (2002)
tural design and design loadings for
conservadora do que esta. Para a de-
apresenta dois capítulos (um para
buildings (1992).
terminação das ações, a IS 456:2000
cada país) destinados ao cálculo da
Já na Europa, a EN 1991-1-7 –
remete a IS 875 – Code of practice for
probabilidade anual de uma ação
Eurocode 1 – Actions on structures –
design loads (other than earthquake)
variável ser ultrapassada. Admitin-
Part 1-7: General actions – Accidental
for buildings and structures (1987),
do uma classificação de riscos fun-
actions (2006) define que as ações
com uma proposta de classificação CONCRETO & Construções | 67
u Tabela 2 – Comparativo das ações de uso recomendadas por diferentes normas para edificações residenciais Carga (kN/m²) Descrição ocupação
Norma NBR 6120
NZ 4203
EN 1991
IS 875
BS 6399
ASCE 7-05
Quartos
1,5
1,8
1,5 a 2,0
2,0
1,5
1,44
Cozinhas
1,5
1,8
1,5 a 2,0
2,0
1,5
1,92
Salas de jantar
1,5
1,8
1,5 a 2,0
2,0
1,5
1,92
Banheiros
1,5
1,8
1,5 a 2,0
2,0
2,0
1,92
Área de serviço
2,0
1,8
1,5 a 2,0
2,0
2,0
1,92
Lavanderias
2,0
1,8
1,5 a 2,0
2,0
2,0
1,92
Escadas
2,5 a 3,0
1,8
2,0 a 4,0
3,0
3,0
1,92-4,79
Terraços
2,0 a 3,0
1,8
1,5 a 2,0
3,0
3,0
3,83
de ocupação muito semelhante a
4. DEDUÇÃO E PROPOSIÇÃO DE AÇÕES PARA AS DEMAIS VUP
vel aleatória com distribuição normal
apresentada pela norma neozelandesa, embora com valores distintos das
Utilizando princípios fundamen-
relacionar o valor característico esta-
ações. No entanto, a IS 875:1987 não
tais da estatística aplicada, pode-se,
belecido para um período de 50 anos
faz qualquer referência para as cargas
através dos critérios apresentados
com o valor estabelecido para outros
variáveis por ela propostas, levando-
por normas, realizar deduções.
períodos através da equação (1).
-nos a entender que trata-se de um
Segundo
a
ABNT
média μ e desvio padrão σ, pode-se
NBR
período de retorno de 50 anos pelas
8681:2003, o valor característico
presunções identificadas.
das cargas acidentais apresenta um
[1] Sendo:
Para os Estados Unidos, a ASCE
risco entre 25% e 35% de serem ul-
7-05: Minimum design loads for
trapassadas em um período de 50
R – Risco permissível do valor ser atin-
buildings and other structures (2005)
anos. Algumas normas internacio-
gido ou ultrapassado durante a vida útil;
define que as ações variáveis pos-
nais apresentam valores inferiores a
T – Período de retorno em anos;
suem a chance de 1% de serem
este, tal como a australiana e neo-
p – Probabilidade de ocorrência (p=1/T);
igualadas ou excedidas anualmente,
zelandesa. No entanto, para efeitos
n – Vida útil considerada em anos.
diferentemente do que o Eurocode
desta dedução, adotando-se um
Através deste critério calcula-se o
propõe (2%). No entanto, para as
risco de 35%, entende-se estar tra-
período de retorno, a probabilidade
ações variáveis de neve e sismos, a
balhando com uma hipótese conser-
de ocorrência e o desvio padrão para
norma cita a fundamentação de seus
vadora e já plenamente consagrada
cada período admitido nos diferentes
princípios em 50 anos de período
pela norma brasileira.
níveis de desempenho estipulados
de retorno. A Tabela 2 mostra um compa-
pela ABNT NBR 15575:2013, con-
Ainda, assumindo o valor das
forme Tabela 3.
cargas acidentais como uma variá-
rativo entre ações variáveis de uso (normalmente empregadas no cál-
u Tabela 3 – Correlação entre os parâmetros estatísticos empregados na dedução
culo de estruturas convencionais) praticadas pelas principais normas
T (anos)
p
Vida útil (anos)
R
Q
internacionais, válidas para edifica-
116,6
0,00858
50
35%
2,38
ções residenciais.
146,7
0,00681
63
35%
2,47
174,6
0,00573
75
35%
2,53
Observa-se que não há uma diferença significativa entre estas ações. 68 | CONCRETO & Construções
cular este fator. Como não são co-
u Tabela 4 – Fator de correlação das ações variáveis
nhecidos os valores de distribuição estatística das cargas acidentais
Vida
Vida
Vida
(valores médios e desvios medidos
μ/σ
Fk50
Fk63
Fator Fk63/Fk50
Fk50
Fk75
Fator Fk75/Fk50
experimentalmente), partiu-se para
1
3,38
3,47
1,027
3,38
3,53
1,044
de maneira geral, conforme se apre-
1,5
3,88
3,97
1,023
3,88
4,03
1,039
2
4,38
4,47
1,021
4,38
4,53
1,034
Observa-se que, quanto maior a
2,5
4,88
4,97
1,018
4,88
5,03
1,031
variabilidade considerada nas car-
3
5,38
5,47
1,017
5,38
5,53
1,028
gas acidentais, traduzida pela corre-
a tentativa de produzir um critério senta na Tabela 4.
lação entre a média μ e o desvio paA função quantil (Q) é a função
ca) para uma distribuição normal
drão σ, menor é a correlação entre
inversa da função distribuição acu-
P(μ,σ) diferente da padrão, tem-se
a carga variável característica de 50
mulada e indica, para uma dada
Q=(Fk-μ)/σ, ou Fk = μ + Q.σ. Essa
probabilidade de uma variável ale-
expressão serve para converter uma
anos ( Fk,50 ) e 75 anos ( Fk,75 ). A hipótese mais crítica é aquela na qual a
atória, o valor da variável que essa
distribuição normal padrão e não-
correlação entre esses fatores esta-
probabilidade possui de ser igualada
-padrão, conforme a equação (2).
tísticos é igual a 1. Para uma VUP de
ou superada. Utilizando a função de
63 anos, o incremento de cada ação
[2]
distribuição de probabilidade normal
variável é menor do que 3% (1,027)
padrão N(0,1) (média=0 e desvio=1),
e, para uma VUP de 75 anos, este
resulta que Q(p)=x. Como exemplo,
Através deste princípio é possível
aumento é menor do que 5% (1,044).
Q(0,00573)=2,53, indicando que va-
analisar a variabilidade das cargas
A partir disso, é possível elaborar a
lores com 2,53 desvios padrões aci-
acidentais, representada pela rela-
Tabela 5, com as cargas acidentais
ma da média apresentam 0,00574
ção entre μ e σ. Esta correlação se
para períodos de retorno de 63 e
de probabilidade de ocorrer.
faz necessária para fixar média ou
75 anos.
desvio para se calcular os fatores
Conforme a dedução proposta,
pa-
que correlacionam VUP diferentes.
é possível observar que a variação
drão N(0,1), então para obter o
No momento em que a relação entre
dos valores característicos das car-
Fk
ambos é conhecida, pode-se cal-
gas acidentais é pouco significativa
O para
valor a
de
Q
distribuição
(carga
variável
é
calculado
normal
característi-
u Tabela 5 – Valores de algumas cargas verticais propostas para uma vida útil mínima, intermediária e superior de durabilidade Local Tipo
Edifícios residenciais Escadas
Terraços
Carga (kN/m²) VUP (anos)
Descrição 50
63
75
Dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro
1,5
1,55
1,57
Despensa, área de serviço e lavanderia
2
2,05
2,09
Com acesso ao público
3
3,08
3,14
Sem acesso ao público
2,5
2,57
2,61
Sem acesso ao público
2
2,06
2,09
Com acesso ao público
3
3,08
3,13
Inacessível a pessoas
0,5
0,51
0,52
CONCRETO & Construções | 69
quando comparados períodos de
No entanto, apesar das cargas
estão praticamente estabilizadas aos
retorno de 50, 63 e 75 anos, ad-
permanentes serem inertes e não
50 anos, ainda assim, pode ter algu-
mitindo a probabilidade de 35% de
produzirem uma variação significativa
ma pequena variação que deve ser
serem atingidos ou extrapolados.
no tempo, deve-se realizar uma análi-
considerada nos cálculos.
Esta pequena variação pode justifi-
se da influência do efeito Rusch para
car o fato de algumas normas inter-
que se interprete a magnitude da va-
nacionais, apesar de apresentarem
riação da relaxação do concreto ao
Conclui-se que, para realizar um
parâmetros de durabilidade do con-
longo do tempo e as consequências
projeto estrutural visando atender o
creto para vidas úteis superiores a
que esta pode trazer no dimensiona-
nível mínimo, intermediário ou su-
50 anos, tal como a australiana (60
mento dessas estruturas, admitindo
perior de durabilidade da norma de
anos) e a britânica (100 anos), não
uma VUP de 63 e 75 anos. Ainda, é
desempenho, as considerações pra-
diferenciam os valores de ações va-
necessário considerar o crescimento
ticadas neste artigo tornam-se uma
riáveis. Isto evidencia uma lacuna
da resistência dos concretos após
fonte de referência para a dedução
normativa semelhante a que se en-
os 50 anos. Ambas as ações, efeito
das ações variáveis a serem admiti-
contra na brasileira.
Rusch e crescimento da resistência,
das em projeto.
5. CONCLUSÃO
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] BOLINA, F.; TUTIKIAN, B. Especificação de parâmetros da estrutura de concreto armado segundo os preceitos de desempenho, durabilidade e segurança contra incêndio. Revista Concreto e Construções, n. 76, p. 24–38, 2014. [02] SOUZA JUNIOR, A. C. Aplicação de confiabilidade na calibração de coeficientes parciais de segurança de normas brasileiras de projeto estrutural. Dissertação (Mestrado em Engenharia). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo: 2008.
II Simpósio sobre Durabilidade
das Estruturas de Concreto 29 de outubro I Centro de Convenções de Bonito – MS Discussão dos mais recentes avanços nas pesquisas, nos projetos e na execução de obras de concreto com maior durabilidade, bem como nos procedimentos para mantê-las e reabilitá-las com maior eficiência PALESTRAS DE DESTAQUE • Modelos de vida das estruturas de concreto em serviço Maria del Carmen Andrade Perdrix (Instituto de Ciências da Construção Eduardo Torroja – CSIC, Espanha) • Projeto de estruturas de concreto em ambiente severo Odd Gjorv (Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia – NTNU) INFORMAÇÕES www.ibracon.org.br Organização
70 | CONCRETO & Construções
Apoio Institucional
u entidades da cadeia
Programa Edificação + Segura - Redução de riscos e aumento da vida útil de estruturas: avanços e ações futuras BERNARDO FONSECA TUTIKIAN
LUIZ CARLOS PINTO DA SILVA FILHO
LUIZA SEGABINAZZI PACHECO
Presidente da ALCONPAT Brasil
Diretor da ALCONPAT Brasil
Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em
Conselheiro e Diretor Regional Sul do IBRACON
Coordenador do Comitê Técnico de Durabilidade
Engenharia Civil da UFRGS Universidade Federal
do
IBRACON
do
Rio Grande do Sul
EDUARDO BARROS MILLEN Diretor da Zamarion e Millen Consultores
MARIA ANGELICA COVELO SILVA
Conselheiro da ABECE
Diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento
E
m
2012,
representantes
do IBRACON – Instituto Brasileiro do Concreto, da
realização de inspeções de estruturas
sabilidade da ABECE e da ALCONPAT,
de concreto em edificações.
com a coordenação geral da NGI Con-
O curso é conduzido sob a respon-
Caberá ao IBRACON, numa se-
ALCONPAT – Associação Brasileira de Patologia das Construções, e da ABECE – Associação Brasileira de
u Tabela 1 – Conteúdo e distribuição de carga horária entre os módulos
iniciaram uma série de reuniões para Conteúdo
1
Conceitos e fundamentos para a conservação de estruturas
16
2
Mecanismos de deterioração de estruturas de concreto
12
3
Metodologia e procedimentos de inspeção de estruturas de concreto
20
Princípios para recuperação de estruturas de concreto
16
lização e a difusão do conhecimento no Brasil. Nascia o “Programa de redução de riscos e aumento da vida útil de estruturas” ou Programa Edificação + Segura, cujas primeiras ações foram: a estruturação de um curso de capacitação em inspeção de estruturas de concreto voltado às edificações, a produção de material didático para este curso e a elaboração de um método recomendado para orientar a
Carga horária (horas/ aula)
Módulo
setorial visando fomentar a especiareferente à conservação de estruturas
gunda fase do Programa, desenvolver e implementar o método de certificação de profissionais de inspeção
Engenharia e Consultoria Estrutural estruturar uma proposta de programa
sultoria e Desenvolvimento.
4
de estruturas. O curso foi organizado em módulos, que tratam de grandes temas relacionados à inspeção, que abrangem desde uma revisão de fundamentos sobre os mecanismos de degradação atuantes em estruturas de concreto e chegam até à discussão de princípios norteadores para eventuais atividades de reabilitação necessárias para restaurar o desempenho (Tabela 1). O curso conta com 9 instrutores de relevante experiência e reconhecida competência em suas respectivas áreas de atuação. A equipe foi montada considerando a necessidade de
CONCRETO & Construções | 71
NGI CONSULTORIA
adequadamente e de forma efetiva inspeções de estruturas de concreto de edificações, dando subsídio ao sistema de conservação do nosso patrimônio construído. Os profissionais que vêm participando dos cursos possuem perfil de formação e experiência profissional ligados ao tema, sendo distribuídos entre profissionais que atuam na área de perícias e vistorias técnicas de edificações, projeto e consultoria em estruturas, nas áreas de obras ou asAula na turma de São Paulo, em 2014, proferida pelo projetista e professor Eng. Francisco Paulo Graziano, da Escola Politécnica da USP e da Pasqua & Graziano Associados
sistência técnica pós-entrega de empresas construtoras e, ainda, professores universitários.
ofertar uma abordagem multidiscipli-
alunos. Novas turmas já estão sendo
O curso inclui a realização de uma
nar, altamente focada e prática, em-
planejadas para Belo Horizonte, Rio
prova, para testar conhecimentos es-
basada no conhecimento mais atual
de Janeiro e Porto Alegre.
pecíficos na área, e de um trabalho
e qualificado disponível no país e in-
Em setembro de 2015, com a con-
prático como condições optativas,
ternacionalmente sobre os diversos
clusão da 2ª Turma em São Paulo, o
podendo o profissional optar por re-
aspectos relacionados à inspeção de
Programa deverá atingir mais de 80
ceber um certificado de participação,
estruturas de concreto.
profissionais capacitados, gerando
caso não realize a prova e desenvolva
Para atingir esse objetivo, o cor-
uma quantidade importante de profis-
o trabalho com nota mínima de apro-
po docente mescla professores/pes-
sionais que receberam conhecimento
vação, e desde que tenha tido a fre-
quisadores de renome ligados a três
teórico e treinamento para realizar
quência mínima. Realizando a prova e
res e projetistas atuantes e reconhecidos pelo mercado pelo conhecimento específico na área de estruturas de
MITÚ DIGITAL
instituições de ensino com consulto-
concreto, além do advogado Carlos Pinto Del Mar, especialista em questões que envolvem responsabilidades na construção civil. Em 2014, foram concluídas as duas primeiras turmas do programa, uma em São Paulo e outra em Porto Alegre, nas quais foram capacitados 47 profissionais. Em março de 2015, foi iniciada a terceira turma do curso, novamente em São Paulo, composta por 36 72 | CONCRETO & Construções
Turma São Paulo 2014
frequência mínimas, o aluno recebe o certificado de conclusão do curso. As aulas são realizadas a cada 15 dias com duração de quatro horas. No Módulo 3, há uma aula prática
MARTA MORALES FOTOGRAFIAS
elaborando o trabalho com a nota e
que simula a inspeção de uma estrutura real de uma edificação na qual os alunos, com o acompanhamento de professores, examinam o estado de desempenho da estrutura e aplicam parte do procedimento do Programa Edificação + Segura discutido em aula.
Turma Porto Alegre 2014
As avaliações que vêm sendo realizadas demonstram elevada sa-
cimo de conhecimento ao trabalho,
da contratação de profissionais capa-
tisfação dos alunos e, a cada tur-
decorrente da experiência e formação
citados para esta atividade.
ma, professores e a coordenação
do profissional que realiza a inspeção.
Também está programado o iní-
conteúdos
Este trabalho, que envolve um
cio de ações de difusão de melhores
e método com base na experiên-
intenso esforço do conjunto de pro-
práticas com o objetivo de conscienti-
cia de aplicação e “feedback” dos
fessores e das entidades envolvidas,
zar quem projeta, constrói e utiliza as
participantes.
conta nesta primeira fase com o
edificações sobre procedimentos que
No desenvolvimento do conteú-
apoio financeiro e técnico da ABESC
contribuem para a redução de riscos
do do curso, houve a preocupação
– Associação Brasileira das Empre-
e aumento da vida útil das estruturas
de organizar conceitos que permitam
sas de Serviços de Concretagem,
de concreto.
um diagnóstico seguro do estado de
da Anchortec Quartzolit, do IBTS –
O Programa Edificação + Segura
desempenho da estrutura, bem como
Instituto Brasileiro de Telas Soldadas
lançou no mês de agosto seu website,
a elaboração, a várias mãos entre os
e do ICZ – Instituto de Metais Não
que pode ser consultado para conhe-
professores do curso, de um método
Ferrosos. Sem este apoio não teria
cimento da programação completa
que foi consolidado em um procedi-
sido viável chegar até o ponto atual e
do curso, dos alunos já capacitados
mento de inspeção de estruturas de
poder assim seguir com o desenvol-
(aqueles que autorizam a publicação
concreto de edificações.
vimento do Programa.
de seus dados) e de notícias e ações
vão
aperfeiçoando
os
Este método deve se tornar uma
Nos próximos passos do Progra-
relacionadas ao tema da conservação
referência de mercado e, futuramen-
ma, além de continuar oferecendo o
de estruturas – www.edificacaomais-
te, deverá se incorporar à norma de
curso de capacitação em inspeção
segura.org.
inspeção predial, pois é fundamental
de estruturas de concreto, serão ini-
Por meio do website é possível
estabelecer métodos que permitam
ciadas as ações para viabilizar o sis-
também fazer sugestões e contribui-
equalizar a forma de atuar dos pro-
tema de certificação de profissionais
ções técnicas ao Programa. Espera-
fissionais neste campo, orientando
e ações para difundir, entre proprietá-
mos que a comunidade técnica se en-
também os contratantes para buscar
rios e administradores de edificações,
volva cada vez mais com as questões
profissionais que sigam estes méto-
a importância da contratação dos
relacionadas à segurança e vida útil
dos, sem, no entanto, inibir o acrés-
serviços de inspeção de estruturas e
das estruturas. CONCRETO & Construções | 73
u entendendo o concreto
Estudo comparativo entre concretos de alto desempenho e compósitos cimentícios avançados ROBERTO CHRIST – Professor Ms, Gerente técnico BERNARDO TUTIKIAN – Professor Doutor, Coordenador geral Unisinos / itt Performance
FERNANDA PACHECO – Pesquisadora e Analista de Projetos itt
Performance
trabalhabilidade, e fibras, que am-
sagem, mistura e cura) (TUTIKIAN;
desenvolvimento de con-
pliam a propriedade dúctil das matri-
ISAIA; HELENE, 2011).
cretos avançados à base
zes. Assim, verifica-se no mercado
Os concretos avançados apre-
de cimento Portland fez
da construção civil que os concretos
sentam maior consumo de cimento,
surgir a “ciência do concreto”, que
convencionais estão sendo substitu-
comparado com os concretos con-
utiliza equipamentos cada vez mais
ídos pelos concretos de alto desem-
vencionais, porém elevado desem-
sofisticados para estudar a micro e
penho em várias situações, nas quais
penho mecânico, proporcionando à
nanoestrutura das misturas. O sur-
se almeja propriedades específicas
estrutura maior durabilidade e me-
gimento do concreto de alto desem-
não alcançadas com as corriqueiras
nor consumo dos materiais para seu
penho ocorreu por volta do ano de
composições e processos de produ-
uso, dada sua elevada capacidade
1990, tendo sido desenvolvido por
ção.
portante e a consequente diminuição
1. INTRODUÇÃO
O
Mehta e Aïtcin. Este material pos-
O avanço decorrente do surgi-
sui um comportamento superior em
mento e do desenvolvimento da ci-
Segundo Tutikian, Isaia e Hele-
relação ao concreto convencional,
ência do concreto proporcionou a
ne (2011), a utilização deste material
com propriedades específicas que
evolução do concreto convencional
em edifícios no Brasil ocorreu de ma-
atendem a grande maioria dos parâ-
(CC) para o concreto de alta resis-
neira pioneira no município de São
metros de exigência dos projetistas,
tência (CAR), com a utilização de
Paulo no edifício e-Tower, na região
frente à durabilidade das estruturas
aditivos redutores de água e com
sudeste do país, em 2001, com um
de concreto armado.
a ampliação de suas propriedades
concreto de 125 MPa de resistência à
O progresso desses novos pro-
mecânicas; com o aprimoramento
compressão. Todavia, o material não
dutos fomenta o desenvolvimento
deste obtém-se o concreto de alto
se restringe apenas ao melhor de-
de misturas com maior resistência
desempenho (CAD). Os materiais
sempenho mecânico, apresentando
mecânica e durabilidade. Os con-
utilizados na produção de CAD são
ainda boa trabalhabilidade, bom aca-
cretos modernos são compostos
praticamente os mesmos do CC, po-
bamento final nas peças, integridade
por minerais selecionados, como
rém com algumas adições e procedi-
e, principalmente, durabilidade frente
aditivos químicos, que melhoram a
mentos especiais de execução (do-
aos agentes agressivos do meio.
74 | CONCRETO & Construções
das seções transversais.
Na sequência de evolução dos concretos, os concretos de alto desempenho são superados pelos compósitos cimentícios avançados. Estes compósitos são materiais à base de cimento Portland, compostos por agregados com diâmetro não maior do que 0,6mm, um elevado teor de adições pozolânicas e aditivos, podendo ser citado como exemplo o concreto de pós-reativos (CPR), também conhecido como Ultra High Performance Concrete (UHPC).
u Figura 1 Representação esquemática de duas pastas de cimento frescos, com uma relação água/aglomerante de 0,65 e 0,25, respectivamente (Aïtcin 2004)
2. CONCRETOS DE ALTO DESEMPENHO
lidade; cimento Portland, cujo tipo
Mehta e Monteiro (2014) definem
depende da utilização da estrutura,
os concretos de alto desempenho
com consumo em torno de 450/550
como concretos que possuem ca-
kg/m ; sílica ativa entre 5 a 15% em
racterísticas específicas vitais para
relação à massa total de cimento;
Sendo o passo seguinte aos con-
alguns tipos de aplicação, além da
aditivos químicos, para contribuir na
cretos de alto desempenho, este ma-
elevada resistência mecânica, sendo
plasticidade do material; e uma baixa
terial apresenta em sua composição
essas:
relação água/aglomerante, que se si-
agregados similares aos utilizados nos
u Facilidade de aplicação;
tua entre 0,20 a 0,25.
CAD, porém limitando-se ao diâmetro
u Adensamento sem segregação; u Resistência mecânica nas primei-
ras idades; u Resistência de longo prazo e pro-
3
jetado e características geométricas.
3. COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS AVANÇADOS
A quantidade de água presente
máximo de 0,6 mm e contando com
na mistura dos concretos de alto
a incorporação de microfibras. Devi-
desempenho é uma característica
do a isso, este material se assemelha
fundamental para que o material
priedades mecânicas;
alcance o desempenho desejado.
u Reduzida permeabilidade;
Aïtcin (2004) ilustra que, quando a
u Elevada densidade;
relação de água/cimento é reduzida,
u Reduzido calor de hidratação;
as partículas de cimento acabam
u Tenacidade;
se aproximando mais dos demais
u Estabilidade de volume;
agregados. A consequência dessa
u Longa vida útil em ambientes
aproximação é uma menor existên-
agressivos.
cia de poros capilares e vazios, miti-
O concreto de alto desempenho
gando a possibilidade de ataque por
pode ser definido como material que
agentes deletérios, que migram do
atende uma combinação especial
exterior para o interior do concreto
entre o desempenho e os requisitos
(Figura 1).
de uniformidade, que não é alcança-
A utilização deste tipo de concreto
da com os concretos usuais. Para
visa, conforme citado, um desempe-
tal, estes materiais são constituídos
nho satisfatório e durável, que é vin-
por: agregados comuns graúdos e
culado a uma série de requisitos que
miúdos, porém com processos rigo-
variam em função do ambiente de in-
rosos de seleção e controle de qua-
serção da estrutura, de seu uso pro-
u Figura 2 Visualização em 3D do empacotamento das partículas de uma mistura (Fidjestol; Thorsteinsen; Svenneving, 2012)
CONCRETO & Construções | 75
a uma argamassa, por não possuir agregados graúdos em sua composição, mas com propriedades mecânicas e de durabilidade mais próximas
u Figura 3 Comparação entre os constituintes do concreto de alto desempenho e do compósito cimentício (Resplendino, 2006)
a de um concreto com elevada capacidade portante. As propriedades mecânicas deste tipo de material são elevadas, considerando-se que são alcançados valores de 200 MPa de resistência à compressão, 45 MPa de resistência à tração e elevados índices de tenacidade. A composição supracitada dos concretos visa à máxima compacidade possível e a inexistência de vazios, quando elaborado um empacotamento perfeito. A etapa prévia para alcançar este empacotamento é o conhecimento das diferentes dimensões granulométricas que o compõe. Utilizando-se métodos de empacotamento são quantificados os teores de uso de cada dimensão de partícula, visando o mínimo teor de
u Figura 4 Comparação entre as proporções de misturas de compósito cimentício e concreto convencional (Naaman, Wille; 2012)
vazios possível na matriz. A Figura 2 mostra uma ilustração referente a um estudo de empacotamento de diferentes partículas dentro de um volume. Visualiza-se que a disposição é de grãos maiores circundados por grãos menores, ocorrendo o fechamento dos poros existentes. Resplendino (2006) elucida, através da Figura 3, a comparação entre o concreto de alto desempenho e o compósito cimentício. Percebe-se que os concretos de alto desempenho são materiais heterogêneos. Já,o composto cimentício pode ser considerado um material mais homogêneo, por não conter zonas de interface, sendo, por consequência, menos frágil.
u Figura 5 Porosimetria por intrusão de mercúrio em diferentes concretos e compósitos cimentícios (Schmidt, 2003)
76 | CONCRETO & Construções
Naaman e Wille (2012) apresentam uma comparação entre as composições dos concretos comuns
e dos compósitos cimentícios. Nota-se que a maior parte da composição do concreto de alto desempenho é constituída pelos agregados, já nos compósitos cimentícios a maior parte do material é constituída pelos aglomerantes, que não se restringem ao cimento, mas incluem também os materiais pozolânicos (Figura 4). Devido à elevada compacidade e reduzida existência de vazios, os compósitos cimentícios apresentam excelentes propriedades mecânicas e de durabilidade. Tais características relacionam-se diretamente com
u Figura 6 Resultados do ensaio de ataque de cloretos em diferentes concretos e compósito cimentício (Schmidt, 2003)
os parâmetros de dosagem e sua otimização granular. A Figura 5 apre-
pósitos cimentícios apresentam uma
Denota-se que o compósito ci-
senta uma comparação da porosi-
menor probabilidade de penetração
mentício apresentou melhor com-
dade entre o CAD com resistência à
de íons cloretos comparados com
portamento durável em relação aos
compressão de 105 MPa, o concreto
concretos convencionais e concre-
concretos de alto desempenho, sen-
convencional com resistência à com-
tos que tenham em sua composição
do a frente de carbonatação menor
pressão de 50 MPa e dois compó-
alguma espécie de repelente que
naqueles materiais, dada sua reduzi-
sitos cimentícios, um com resistên-
não diminuem a quantidade de po-
da porosidade, já citada.
cia à compressão de 180 Mpa, com
ros, mas sim a quantidade de água
Tal superioridade do compósi-
agregados graúdos de dimensões de
no composto. De maneira análoga, a
to cimentício avançado atesta sua
até 8 mm, e outro com resistência de
Figura 7 apresenta um comparativo
evolução, fazendo com que seu uso
240 MPa e agregados miúdos de di-
do ensaio de carbonatação acelerada
transpasse as barreiras acadêmicas e
mensões menores do que 0,5 mm.
entre compósito cimentício avançado
laboratoriais, sendo almejada a viabili-
e concreto de alto desempenho.
dade de sua produção e comércio em
Observa-se que a porosidade dos compósitos cimentícios é muito inferior à do CAD e do concreto convencional. A porosidade dos materiais interfere diretamente na durabilidade do concreto armado, já que as ações deletérias são mais acentuadas em concretos mais porosos. Os compósitos cimentícios são materiais de baixíssima porosidade, favorecendo seu comportamento e sua expectativa durável. A Figura 6 mostra um estudo comparativo entre um concreto convencional, concretos com hidrofugantes (repelentes de água) e compósito cimentício diante do ensaio de penetração de íons cloreto. Pode-se perceber que os com-
u Figura 7 Resultados de ensaio de carbonatação em concreto de alto desempenho e em dois compósitos cimentícios (Schmidt, 2003)
CONCRETO & Construções | 77
larga escala. Pesquisadores de dife-
de manutenção. Países como Alema-
çado passa a ser uma excelente
rentes países desenvolveram compó-
nha, Canadá, Coréia do Sul, Estados
opção para estruturas de concreto
sitos com baixo consumo de cimento
Unidos, entre outros, possuem estru-
em obras especiais, por apresentar
e com elevada resistência mecânica
turas viárias e de fluxo de pedestres
elevada durabilidade, mesmo em
e de elevada durabilidade. Este fato
com a utilização deste tipo de mate-
ambientes
torna o material competitivo, sendo
rial estrutural.
Cada vez mais pesquisadores e pro-
uma opção viável e vantajosa para
altamente
agressivos.
fissionais vêm utilizando este mate-
utilização em obras públicas e priva-
4. CONCLUSÃO
rial e, em futuro breve, terá um uso
das, dada sua reduzida necessidade
O compósito cimentício avan-
mais difundido.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] AÏTCIN, P. C. High Performance Concrete. 2004. Canadá. ISBN 0419192700. [02] FIDJESTOL, P.; THORSTEINSEN, R. T.; SVENNEVIG, P. Making UHPC with local materials – The way forward. 3rd International Symposium on UHPC and nanotechnology for High Performance Construction Materials, Kassel, 2012. [03] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. . Concreto microestrutura, propriedades e materiais. 2°ed. São Paulo: Ibracon, 2014. [04] NAAMAN, A. E.; WILLE, K. The Path to Ultra-High Performance Fiber Reinforced Concrete (UHP-FRC): Five Decades of Progress. 3rd International Symposium on UHPC and nanotechnology for High Performance Construction Materials, Kassel, 2012. [05] RESPLENDINO, J. Les bétons fibrés ultra performance (BFUP). Perspectives offertes vis-à-vis de lá pérennité et la maintenace des ouvrages. In Colloques sur lês Ouvrages d1Art, Toulouse, 2006. [06] SCHMIDT, M. Ultra-Hochleistungsbeton – Ausgangsstoffe, Eigenschaften und Leistungsfähigkeit. Planung und Bau der ersten Brücke mit UHPC in Europa. Kassel. 2003. [07] TUTIKIAN, B. F.; ISAIA, G. C.; HELENE, P. Concreto de Auto e Ultra-Alto Desempenho. Concreto: Ciência e Tecnologia. G.C. Isaia. 1. ed. São Paulo, IBRACON, 2011. 2v.
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ORGANIZAÇÃO
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APOIO
u estruturas em detalhes
Agressividade de solos e água em contato com estruturas enterradas de concreto ARNALDO FORTI BATTAGIN – Geólogo e Gerente do Laboratório de Tecnologia Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
1. INTRODUÇÃO
D
e uma maneira geral, as estruturas
de
concreto
apresentam desempenho
satisfatório quando expostas a variadas condições ambientais, incluindo o contato com água e solos contendo agentes agressivos. Entretanto, determinadas condições de exposição podem comprometer a vida útil de uma estrutura, caso não sejam tomadas medidas adequadas para prevenir ou reduzir o risco potencial de deterioração. A frequência cada vez maior de solos contaminados resultantes de atividades industriais no passado, quando as preocupações com o meio ambiente e a legislação eram brandas ou inexistentes, leva à necessidade nos dias atuais de estudos mais abrangentes desses terrenos. A Figura 1 esquematiza o ataque de íons agressivos, mostrando as condições para ocorrência de 100danos 95 75
ao concreto
Para serem nocivos ao concreto, os agentes químicos agressivos devem estar numa determinada proporção, diluídos nas soluções aquosas, uma vez que normalmente o concreto
25 5 0
não é atacado por substâncias sólidas (ACI, 2008). Por esse motivo, para estruturas enterradas de concreto tem
u Figura 1 Condições para a ocorrência de ataque do concreto por íons agressivos contidos nos solos e águas subterrâneas importância a análise da água e da par-
tes componentes para definir o grau
te solúvel dos solos em contato com a
de agressividade:
estrutura. Diversas normas internacio-
u Água: determinação do pH, CO2
nais e também nacional (ABNT NBR
agressivo, magnésio, amônia, teor
12655:2015)
critérios
de sólidos e íons sulfatos; é neces-
para classificar o grau de agressivida-
sário tambem conhecer o teor de
de da água e do solo ao concreto e a
álcalis por conta da reação álcali-
partir dessa classificação projetar para
-agregado, caso o agregado cons-
o concreto determinadas propriedades,
tituinte do concreto a ser aplicado
entre elas as decorrentes da relação
seja comprovadamente reativo e,
água/cimento e da resistência caracte-
para, então, tomar as medidas ca-
rística à compressão (fck), com vistas a
bíveis de prevenção;
estabelecem
aumentar a sua durabilidade e vida útil. Assim, segundo essas normas, devem ser considerados os seguin-
u Solos: determinação do grau de
acidez e teor de sulfatos. As normas europeias EN-206-1 e CONCRETO & Construções | 79
u Tabela 1 – Grau de agressividade em função dos compostos dissolvidos na água Condições de exposição em função da agressividade
pH
CO2 agressivo mg/L
Íon magnésio mg/L
Íon amônia mg/L
Resíduo sólido mg/L
Sulfato solúvel (SO4) mg/L
Fraca
7a6
< 30
< 100
< 100
> 150
0 a 150
Moderada
6 a 5,5
30 - 45
100 - 200
100 - 150
150 a 50
150 a 1.500
Severa
< 5,5
> 45
> 200
> 150
< 50
Acima de 1.500
Fonte: Adaptação da ABNT NBR 12655:2015
suas versões nacionais estabelecem
reza da água. Considera-se bastante
deletéria de despassivação das arma-
critérios para definir o grau de agres-
oportuno a norma brasileira ter incluído
duras, os cloretos até seriam desejá-
sividade, com pequenas variações ou
esse parâmetro, pois as águas puras
veis quando da presença de sulfatos,
com adoção de normas específicas
correntes têm forte efeito na lixiviação
pois poderiam impedir o ataque destes
complementares, como, por exemplo,
dos compostos hidratados da pasta
ao concreto.
a BS 8500 (inglesa), a Instrucción de
de cimento. Por outro lado, apesar de
A Tabela 3 mostra os critérios es-
Hormigón Estrutural EHE (espanhola)
parâmetros idênticos, os valores são
tabelecidos pela norma europeia EN
e a ACI 318 (norte-americana). A ver-
divergentes, sendo a norma brasileira
206-1 para classificação dos graus de
são de 2015 da ABNT NBR12655 está
de maneira geral mais rigorosa; a ex-
agressividade.
bem completa, com inclusão de todos
ceção são os íons NH4 . Isso se deve
os agentes agressivos citados em ane-
ao fato de que ambas as normas não
xo próprio e considerando os mesmos
estabelecem a limitação em função da
compostos tratados na EN 206-1.
combinação dos cátions (Mg e NH4)
+
A Tabela 1, adaptada da ABNT
com ânions ( cloretos, sulfatos e nitra-
NBR 12655:2015, mostra os critérios
tos), mas sim da limitação isolada de
para classificação do ambiente, em
íons e cátions. Algumas combinações
função dos componentes dissolvidos
são mais danosas ao concreto do que
na água.
2. AS RAZÕES DA LIMITAÇÃO DOS COMPOSTOS CONSIDERADOS AGRESSIVOS AO CONCRETO 2.1 Por que limitar os Sulfatos?
outras. Por exemplo, é conhecido o
O ataque da pasta de cimento por
A água do mar é considerada para
fato do sulfato de magnésio ser muito
águas sulfatadas é bastante conhe-
efeito do ataque de sulfatos como con-
mais agressivo que o sulfato de só-
cido e, se medidas preventivas não
dição de agressividade moderada, em-
dio ou potássio e o sulfato de amônio
forem tomadas, pode ocorrer o com-
bora o seu conteúdo de SO4 seja acima
ser o mais agressivo de todos. Outro
prometimento da obra decorrente da
de 1500 ppm, devido ao fato de que a
exemplo são os cloretos, sendo o clo-
expansão causada pela formação de
etringita é solubilizada na presença de
reto de magnésio mais agressivo que
componentes deletérios.
cloretos.
o cloreto de sódio. Não fosse sua ação
Embora o mecanismo efetivo do
Para solos, as exigências da Tabela 2 são as mais comumente estabeleci-
u Tabela 2 – Grau de agressividade em função das características do solo
das, sendo que, no Brasil, a ABNT NBR 12655: 2015 não estabelece exigência quanto ao grau de acidez do solo, focando apenas no seu teor de sulfatos. Para água, a norma Europeia EN206 considera os mesmo parâmetros, com exceção da limitação de resíduos sólidos para estabelecer o grau de pu-
80 | CONCRETO & Construções
Norma Europeia EN 206-1
ABNT NBR12655
Condições de exposição em função da agressividade
Grau de acidez BAUMANN-GULLY (ml/kg)
Sulfato solúvel em ácido (SO4) no solo % em massa
Sulfato solúvel em água (SO4) no solo % em massa
Fraca
> 200
0,2-0,3
0,00 a 0,10
Moderada
–
0,3-1,2
0,10 a 0,20
Severa
–
1,2-2,4
Acima de 0,20
u Tabela 3 – Classificação dos graus de agressividade da água segundo EN 206-1 Condições de exposição em função da agressividade
pH
CO2 agressivo mg/L
Íon magnésio mg/L
Íon amônia mg/L
Resíduo sólido mg/L
Sulfato solúvel (SO4) mg/L
Fraca
6,5 - 5,5
15 - 40
300 - 1.000
15 - 30
–
200 - 600
Moderada
5,5 - 4,5
40 - 100
1.000 - 3.000
30 - 60
–
600 - 3000
Severa
4,5 - 4,0
> 100 até saturação
> 3000 até saturação
60 - 100
–
3.000 - 6.000
Fonte: Adaptação da EN 206-1
ataque do concreto por sulfatos não esteja totalmente esclarecido até hoje, os pesquisadores são unânimes em considerar que as fases de aluminato de cálcio do clínquer são as principais responsáveis pelo fenômeno. De fato, o ataque por sulfatos se dá em duas fases sequenciais. Primeiramente ocorre a lixiviação dos componentes cálcicos: Ca(OH)2 e C-S-H da pasta hidratada do cimento, que concorre para deixar o concreto mais poroso e que, reagindo com os sulfatos disponíveis, leva à formação de gipsita secundária. O aumento da porosidade repercute no aumento da permeabilidade e difusividade do concreto, tornando-o mais vulnerável aos agentes agressivos. Na sequência tem início a segunda fase, quando há formação da etringita (trissulfoaluminato cálcico
u Figura 2 Formação de cristais aciculares de etringita ( parte clara central), denotando ataque de sulfatos no concreto. Observação sob microscópio estereoscópico, ampliação 25 x (crédito: Ana Lívia Silveira, ABCP)
hidratado), à custa da reação dos aluminatos hidratados com a gipsita. (ver
A precipitação da etringita secun-
o cimento seja fonte expressiva de alu-
Figura 2). BAKKER (1981) resume as
dária pode conduzir a expansões e fis-
minatos cálcicos, razão pela qual o uso
seguintes reações genéricas do ataque
surações consideráveis no concreto.
de cimentos resistentes a sulfatos tem
dos sulfatos:
Para sua formação é imprescindível que
sido uma das medidas necessárias para garantir a durabilidade do concreto em
[1]
ambientes sulfatados. Muitas teorias têm surgido para explicar o mecanismo de expansão da etringita, dentre elas a pressão de cristalização, absorção de
[2]
água da etringita coloidal, aumento de volume, etc. A etringita que precipita nos poros não é expansiva, pois estes consCONCRETO & Construções | 81
tituem espaços livres para seu cresci-
como ácida quando apresentar pH <
como de agressividade severa quando
mento, sendo expansiva apenas aquela
7, ou seja, se contiver dióxido de car-
apresentar
mal cristalizada, que,
pH já abaixo de 5,5.Isso
quando exerce
bono livre, ácidos minerais ou orgâni-
se deve ao fato do grau de ataque de-
pressões superiores à resistência à tra-
cos (ácidos húmicos), ou ainda sais de
pender expressivamente da velocidade
ção do concreto, leva à sua fissuração.
ácidos fortes e bases fracas. A água é
de movimento da água, ou seja, de seu
Por fim, é necessário esclarecer que
classificada como básica quando apre-
poder de renovação do ataque.
o grau de agressividade dos sulfatos vai
sentar pH > 7, ou seja, se contiver car-
u Águas subterrâneas que não são mó-
depender fundamentalmente do cátion
bonatos, bicarbonatos ou íons hidroxila
veis parecem ter pouco efeito sobre a
a que esteja associado, se cálcio, só-
OH . A norma de metodologia prescrita
estrutura enterrada de concreto;
dio, potássio, magnésio, amônio, etc.
pela ABNT NBR 12655:2015 para de-
u Águas com pH próximo de 5,5 ata-
(BRE, 2005).
terminação do pH é a norma espanhola
cam significativamente o concreto,
u Os sulfatos de cálcio, presentes
UNE 83954:2008. As águas ácidas são
mas a taxa de ataque é extrema-
nos solos sob a forma de gipsita e
agressivas ao concreto. O efeito princi-
mente lenta; isso ocorre geralmente
anidrita ou em águas subterrâneas,
pal de qualquer tipo de ataque ácido
quando os ácidos são de origem
são agressivos diante do concreto
no concreto é a dissolução da pasta
orgânica, como os húmicos, cujos
apesar de sua baixa solubilidade,
de cimento, deteriorando a região afe-
produtos da reação na superfície do
constituindo um processo mais len-
tada, mas, ao contrário do ataque de
concreto são insolúveis, formando
to que o observado com os sulfatos
sulfato, essa degradação não envolve
uma camada que dificulta o prosse-
de magnésio e de amônio;
fenômenos de expansão. Uma explica-
guimento do ataque.
-
u Os sulfatos de sódio ou de potás-
ção para esse comportamento liga-se
sio, muito mais solúveis, conduzem
ao fato de que a etringita não é está-
a degradação mais rápida pela for-
vel em soluções ácidas, de modo que
mação de gipsita e de etringita, bem
o principal produto de reação de um
O magnésio é um elemento co-
como a lixiviação da cal da portlan-
ataque de ácido sulfúrico será sulfato
mum em solos e águas subterrâneas,
dita e do C-S-H;
de cálcio (ESCADEILASS et al, 2012).
sendo danoso ao concreto quando
u Os sulfatos de magnésio, muito so-
Em concreto com agregados silicosos,
presente em concentrações elevadas
lúveis, são extremamente agressi-
granitos ou basaltos, o ataque da su-
ou em combinação com determinados
vos, com mecanismo detalhado no
perfície do concreto terá a aparência
agentes químicos, dentre os quais se
item 2.3;
2.3 Por que limitar o Magnésio?
de agregado exposto. No entanto, em
destacam os sulfatos. É bem difundi-
u O sulfato de amônio é provavelmen-
concreto contendo agregados calcá-
do na literatura técnica que o sulfato
te o mais agressivo dentre todos os
rios, estes podem ser atacados a uma
de magnésio (MgSO4) em concentra-
sulfatos frente à pasta de cimento
velocidade semelhante à da pasta de
ções equivalentes de sulfato de sódio
Portland, sendo tratado no item 2.5.
cimento,deixando a superfície mais lisa.
(Na2SO4) é muito mais agressivo que
Cumpre esclarecer que há uma lacu-
Os ácidos mais comumente encon-
este último. Quando combinado com
na na ABNT NBR 12655: 2015, pois não
trados em águas subterrâneas naturais
cloretos também se revela bastante
estabelece a metodologia aplicada na de-
são o ácido carbônico, ácido húmico
prejudicial ao concreto. Assim, sua
terminação do íons sulfatos solúveis em
e ácido sulfúrico. Os dois primeiros
limitação no concreto como medida
água, tanto para a água quanto para so-
são moderadamente agressivos e não
preventiva para evitar manifestações
los. Na falta dessa indicação tem se ado-
irão produzir um pH inferior a 3,5, ao
patológicas não deveria levar em conta
tado a metodologia prevista pelas ABNT
contrário do ácido sulfúrico que pode
apenas o seu teor, mas também a forma
NBR 15900- 7: 2009 e UNE 83956:2008.
resultar em um pH inferior a 2. Outros
de combinação. Na prática altos teores
tipos de ácidos minerais poderão ser
de magnésio são encontrados apenas
encontrados ocasionalmente em ter-
em soluções aquosas em contato com
renos contaminados por processos
solos contaminados por determina-
O pH da água indica o seu caráter
industriais (BRE, 2005). Interessante
dos resíduos industriais. Um dos mo-
ácido ou básico. A água é classificada
notar que a Tabela 1 classifica a água
delos propostos para explicar a ação
2.2 Por que limitar o pH?
82 | CONCRETO & Construções
degenerativa do magnésio no concreto
nado como carbonatos e bicarbonatos
é a sua substituição do cálcio no prin-
mais o CO2 livre (ver Figura 3).
cipal produto de hidratação da pasta
Existem, por sua vez, duas formas
Por fim, é necessário esclarecer que o dióxido de carbono agressivo está geralmente presente apenas em
de cimento, o silicato cálcico hidra-
de CO2 livre:
águas naturais puras. Como as águas
tado, representado por C-S-H. A for-
u CO2 livre de equilíbrio da reação
geralmente contêm sais dissolvidos, a
mação de M-S-H, fase extremamente
H2O + CO2 + CaCO3 ⇄ Ca (HCO3)2,
presença de carbonato de cálcio é su-
porosa, causa perda das proprieda-
que corresponde ao necessário
ficiente para combinar com o dióxido
des ligantes (BATTAGIN,1990). Para-
para manter os bicarbonatos em
de carbono, formando bicarbonato de
lelamente, o magnésio substitui o cál-
solução;
cálcio, que, ao contrário do CO2 agres-
cio da portlandita Ca(OH)2, formando
u CO2 livre agressivo.
sivo, não é danoso ao concreto.
Mg (OH)2 (brucita). Por essa razão, um
O dióxido de carbono agressivo re-
dos elementos de diagnose de ataque
presenta o dióxido de carbono livre em
do magnésio na pasta de cimento é
excesso em relação ao dióxido de car-
a presença de silicatos hidratados de
bono em equilíbrio, disponível para for-
Os íons NH4+ são considerados ra-
magnésio e brucita. A norma de me-
mar ácido carbônico, sendo responsá-
ros em águas subterrâneas, a menos
todologia prescrita pela ABNT NBR
vel pela dissolução do carbonato, daí o
que se tratem de interação destas com
12655: 2015 para determinação de
nome de dióxido de carbono agressivo.
solos contaminados por resíduos in-
íons magnésio é a UNE 83955:2008.
2.4 Por que limitar o CO2 agressivo?
2.5 Por que limitar o Amônio?
Ao contrário, se o teor de dióxido
dustriais ou em caso mais específico
de carbono livre for inferior ao teor de
de atividades ligadas ao uso de fertili-
dióxido de carbono de equilíbrio, há
zantes em agricultura (BRE, 2015).Por
precipitação de carbonato. Neste caso,
esse motivo análises rotineiras para de-
a água é incrustante, ao contrário do
finir o grau de agressividade de águas e
O dióxido de carbono (CO2) agressi-
caso anterior, em que é dissolvente
solos são raramente realizadas quanto
vo corresponde ao dióxido de carbono
(CINCOTTO, 1995). Daí a importância
aos íons NH4+, embora a normalização
dissolvido na água que, sob a forma de
de adotar uma metodologia adequa-
nacional e internacional preveja essa
ácido carbônico (H2CO3), apresenta po-
da para a determinação do dióxido de
possibilidade.Os sais de amônio atuam
tencial para atacar o concreto. O ácido
carbono agressivo. Não existe norma
como agentes de troca catiônica com o
carbônico reage com a pasta de cimen-
brasileira de determinação do dióxido
cálcio, transformando os produtos cál-
to ou até com os agregados,quando
de carbono agressivo, sendo que o
cicos insolúveis da hidratação da pas-
estes forem de origem calcária. É ne-
meio técnico recorre à norma espanho-
ta endurecida de cimento em sais de
cessário enfatizar que o CO2 total cor-
la UNE 13577:2007, que é a prescrita
cálcio solúveis que são lixiviados pela
responde a somatória do CO2 combi-
pela ABNT NBR 12655: 2015.
água (CETESB,1988). Simultaneamente há desprendimento de gás amônia que resulta num aumento da porosidade do concreto, deixando-o vulnerável a outros ataques. Os sais de amônio comportam-se como ácidos fracos e colaboram para atacar a pasta endurecida, removendo o hidróxido de cálcio, embora numa taxa lenta. Não se deve negligenciar a presença de sulfato de amônio ((NH4)2SO4) em ambientes sujeitos a derramamento de fertilizantes,
u Figura 3 Esquema dos tipos de CO 2 em água em contato com estruturas de concreto
pois é considerado um dos agentes mais agressivos ao concreto, sendo que esse ataque pode ser duplo pelos CONCRETO & Construções | 83
íons NH4+ e pelos íons SO42-. Outros sais de amônio como os nitratos, cloretos, acetatos e fosfatos são também agressivos. Por exemplo, o nitrato de amônio, também presente nos fertilizantes, apresenta a seguinte reação: Ca(OH)2 + 2 NH4NO3 → Ca(NO3)2 + 2H2O + NH3gas
[3]
Forma-se nitrato de cálcio muito solúvel e simultaneamente com desprendimento gasoso de amônia. A redução da basicidade devida ao desprendimento de amônia impede a reação de atingir seu equilíbrio. Como consequência ocorre lixiviação progressiva da cal da portlandita e do C-S-H, comprometendo as propriedades mecânicas do concreto. O mesmo ocorre com cloreto de amônio, formando cloreto de cálcio muito so-
u Figura 4 Formação de gel esbranquiçado compacto como produto da reação álcali –agregado. Observação sob microscópio estereoscópico, ampliação 25 x (crédito: Ana Lívia Silveira, ABCP)
lúvel e com mecanismo de degradação similar. A norma de metodologia
água para que possa produzir o gel de
dem ser provenientes das adições, dos
prescrita pela ABNT NBR 12655:2015
silicato alcalino que aumenta de volu-
agregados, da água de amassamen-
para determinação de amônio é a nor-
me com a absorção de umidade (ver
to e, para o que mais interessa neste
ma espanhola UNE 83954:2008.
Figura 4). A quantidade de gel formada
caso, do meio aquoso em contato com
e as pressões exercidas são muito vari-
o concreto (BATTAGIN et al.,2009).
2.6 Por que limitar os Álcalis?
áveis, dependendo da temperatura am-
A norma ABNT NBR 12655:2015,
biente, tipo e proporções dos materiais,
quando faz referência aos álcalis, es-
A reação álcali-agregado é uma
composição do gel e de outros fatores.
tabelece que devem ser obedecidos
das reações químicas indesejáveis que
As pressões são suficientemente eleva-
os requisitos da ABNT NBR 15577-
podem ocorrer no concreto, ao con-
das para induzir o desenvolvimento e
1:2008. Esta norma, por sua vez, esta-
trário das reações de hidratação do
propagação de microfissuras no con-
belece a realização de análise de risco
cimento, que sempre ocorrem e que
creto que, por sua vez, podem conduzir
da ocorrência da reação álcali- agre-
levam a formação dos silicatos cálcicos
a sua expansão e mesmo rompimento
gado e, para o caso de fundações de
hidratados, responsáveis pelas suas
do concreto nas regiões afetadas.
concreto em contato com água, a ação
características ligantes de desenvolver resistência, mesmo embaixo d’água.
Os principais efeitos deletérios da
preventiva a ser aplicada deve ser sem-
reação álcali-agregado são a expansão
pre a forte. Esse fato implica que se o
A reação álcali-agregado envolve os
e fissuração, com consequente desa-
agregado for potencialmente reativo há
hidróxidos alcalinos, normalmente deri-
linhamento de elementos estruturais,
necessidade de tomada de medidas de
vados dos álcalis presentes no cimento
fragmentação da superfície com forma-
mitigação de possível expansão.
anidro usado no concreto, e fases rea-
ção de “pop-outs” e a presença do gel
As medidas de mitigação para ação
tivas de sílica presentes no agregado.
nas fraturas, que garante a continuida-
preventiva forte estão bem estabeleci-
Essa reação química, de natureza muito
de da patologia (ver Figura 5)
das e incluem a necessidade de utiliza-
lenta (chega a demorar até 10-15 anos
A fonte principal de álcalis está no
ção de materiais inibidores da reação
para se manifestar) também requer
cimento, mas compostos alcalinos po-
álcali-agregado, dentre os quais se
84 | CONCRETO & Construções
contrados nas águas e solos, princi-
2015 preconiza consumos mínimos
palmente sob a forma de sulfatos e,
de cimento, também em função do
por serem muito solúveis, podem es-
grau de agressividade do ambiente.
tar disponíveis para o ataque por sul-
Especificamente para estruturas en-
fatos e também para a reação com os
terradas de concreto, somente em
agregados álcali-reativos do concre-
sua versão de 2015, a ABNT NBR
to, fato que exige projetar o concre-
12655 começou a abordar o tema
to com determinadas propriedades,
de maneira mais ampla, antes restri-
para aumentar a sua durabilidade,
to à influência dos sulfatos apenas.
assunto a seguir tratado no item 3.
De fato, o concreto, quando em contato com águas e solos com certas
u Figura 5 Bloco de fundação com fissuras (salientadas por giz) de edifício no Recife, PE decorrentes da reação álcali-agregado. Uma das fontes de álcalis é a água salobra do lençol freático (Crédito: autor) destacam os cimentos CPIII e CPIV, ou a substituição parcial do cimento por materiais pozolânicos, como sílica ativa e metacaulim. Pode se defrontar
com situações
em que
esses materiais não estejam disponíveis, então uma apreciação do teor de álcalis no concreto, com aporte de todos seus componentes, deve ser apreciado. Nesse caso não deve ser negligenciada a análise da água subterrânea em contato com o elemento de concreto. Sódio e potássio são en-
3. CARACTERÍSTICAS RECOMENDADAS PARA O CONCRETO EM FUNÇÃO DA CLASSE DE AGRESSIVIDADE
características, também deve apre-
A ABNT NBR6118: 2014 – Pro-
terística à compressão (fck). Essas
jeto de estruturas de Concreto pre-
características impostas ao concreto
vê critérios para o estabelecimento
são função da condição de agressivi-
da classificação
dade do meio com vistas a aumentar
da agressividade
do meio, em função do tipo de am-
sentar determinadas propriedades, entre elas as decorrentes da relação água/cimento e da resistência carac-
a sua durabilidade e vida útil.
biente, por exemplo, rural, atmosfera
A Tabela 4, compilação de pro-
urbana, ambiente industrial, zona de
cedimentos e normas internacionais
influência de marés, etc. Em função
e adaptação da norma ABNT NBR
da classe de agressividade do am-
12655:2015, mostra algumas pro-
biente são estabelecidos requisitos
priedades
mínimos para cobrimentos das ar-
truturas enterradas de concretos em
maduras, bem como classes míni-
função dos níveis de agressividade
mas de resistência estrutural. Isso
ambiental, como medidas preventi-
se deve ao fato de que ABNT NBR
vas para evitar a deterioração preco-
6118: 2014 preconiza que, quando
ce das estruturas.
recomendadas para es-
atendidos os critérios estabelecidos pelo projeto, a durabilidade das es-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
truturas é diretamente dependente
Determinados compostos quími-
das características do concreto. Adi-
cos presentes em solos e águas sub-
cionalmente, a ABNT NBR 12655:
terrâneas quando em contato com
u Tabela 4 – Características recomendadas para concreto armado exposto a soluções aquosas agressivas ABNT NBR 12655 Grau de agressividade
Norma Europeia EN-206
Máxima relação água/cimento
Mínimo fck MPa
Máxima relação água/cimento
Mínimo fck MPa
Consumo mínimo de cimento
Penetração máxima de água (mm) (*)
Fraca
0,65
20
0,50
30
325
50
Moderada
0,50
35
0,50
35
350
50
Severa
0,45
40
0,45
35
350
30
(*) Requisito da versão espanhola da EN 206-1 (MUNÕZ SALINAS et al, 2012)
CONCRETO & Construções | 85
estruturas de concreto podem ser
nais e, particularmente a ABNT NBR
agressivos e resultar em deterioração
12655: 2015, estabelecem critérios
crescente, tendo em vista a ocor-
precoce dessas estruturas, com perda
para classificar o grau de agressivi-
rência cada vez maior de águas sub-
de sua vida útil.
dade a que as estruturas enterradas
terrâneas e
A prevenção dessas manifestações
estão sujeitas, bem como impõem re-
principalmente em ambientes urba-
patológicas deve proceder por ações
quisitos mínimos para o concreto para
nos que experimentaram mudanças
já na fase projeto. Normas internacio-
a garantia da durabilidade.
de ocupação.
O tema assume
solos
importância
contaminados,
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 201.2R Guide to Durable Concrete, reported by ACI Committee 201. 2008. p. 1-53. [02] BATTAGIN, I.L.S. et al ii. A norma técnica brasileira de reação álcali-agregado faz seu primeiro aniversário. Concreto & Construções, v 54, abril- junho 2009, IBRACON. São Paulo. [03] BAKKER, R.F.M. About the case of resistance of blastfurnace cement concrete to the alkali silica reaction-In: International conference on alkali aggregate reaction in concrete, 5th cape town, south africa,1981 [04] BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT. BRE Special Digest 1 – Concrete in Agressive Ground. Third edition, London. 2005. [05] SCADEILLAS, G. et HORNAIN,H. La durabilité des betons vis-a-vis des environnements chimiquement agressifs. In Olivier, J.P. et Vichot, A. La Durabilité dês Bétons, Presses Pont et Chaussés, cap.11 2a Ed., 2008 [06] COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. CETESB L1.007 – Determinação do grau de agressividade do meio aquoso ao concreto – Procedimento. São Paulo. 1988 [07] CINCOTTO, M. A. - Avaliação do grau de agressividade do meio aquoso em contato com o concreto. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. IPT: 2332. São Paulo. 1995. [08] BATTAGIN, A.F. Contribuição ao conhecimento das propriedades do Cimento Portland de Alto Forno. ESTUDO TECNICO 90, ABCP, SÃO PAULO, 1990. [09] SALINAS, F. M.; ESCOBEDO, C. J. M. La durabilidad en las estructuras de concreto reforzado desde la perspectiva de la norma española para estructuras de concreto. IMCYC: Concreto y Cemento, v. 4, nº 1, p. 63-86. México. 2012.
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Sob consulta
Sob consulta
u inspeção e manutenção
Durabilidade de armaduras enterradas sob processo de corrosão natural CARLOS EDUARDO TINO BALESTRA – Engenheiro MSc MARYANGELA GEIMBA DE LIMA – Professora Doutora Programa de Pós Graduação em Infraestrutura Aeronáutica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica
RONALDO ALVES DE MEDEIROS-JUNIOR – Professor Doutor Departamento de Construção Civil, Universidade Federal do Paraná
1. INTRODUÇÃO
O
emprego de armaduras no concreto,
dando
origem
ao compósito denominado
concreto armado, possibilitou superar a limitação daquele como material prioritariamente resistente à compressão, permitindo a construção de estruturas mais esbeltas e capazes de vencer vãos maiores graças ao melhoramento das propriedades mecânicas, garantindo, assim, a difusão de seu uso em diversos segmentos da construção civil, abrangendo desde obras de uso residencial até obras de infraestrutura. Todavia, problemas relacionados à corrosão das armaduras são observados com uma alta frequência, sendo uma das principais
Armaduras de espera das fundações da Ala Zero do Instituto Tecnológico de Aeronática (ITA), em São José dos Campos
causas de degradação em estruturas de
e o dióxido de carbono presentes no
armaduras exercendo tensões radiais
concreto armado, envolvendo aportes
ambiente, penetram através da camada
ao eixo das barras, que não são supor-
financeiros significativos para a reabilita-
de cobrimento do concreto atingindo a
tadas pela limitada deformação plástica
ção das mesmas.
região das armaduras e destruindo este
do concreto, levando, assim, à fissura-
O pH da solução presente nos poros
filme, criando condições para o desen-
ção e posterior destacamento da cama-
do concreto propicia condições à esta-
cadeamento de um processo corrosivo
da de cobrimento.
bilidade de um filme de passivação que
delas, havendo, consequentemente, a
A corrosão das armaduras não ape-
reveste as armaduras no interior do con-
formação de produtos de corrosão de
nas gera um impacto visual pela forma-
creto, protegendo-as frente à corrosão,
caráter expansivo. Estes produtos de
ção de fissuras, destacamento do cobri-
porém agentes externos, como cloretos
corrosão depositam-se no entorno das
mento e aparecimento de manchas nas CONCRETO & Construções | 87
superfícies das estruturas, mas também acaba levando a uma perda do monolitismo entre a armadura e o concreto e a uma redução da capacidade portante das estruturas, devido à redução da seção transversal das armaduras com a concentração de tensões nestes pontos, que, em casos extremos e de avançada degradação, podem levar ao colapso repentino delas. Embora haja um número expressivo
Detalhe da fundação
de pesquisas sobre a corrosão das ar-
Os materiais utilizados nesta pes-
maduras, pouco enfoque é dado à cor-
quisa são provenientes de um antigo
rosão de armaduras em estruturas de
conjunto de fundações da denomina-
concreto que permanecem em contato
da Ala Zero do Instituto Tecnológico
direto com o solo, como no caso das
de Aeronáutica – ITA, em São José
fundações, reservatórios enterrados ou
dos Campos. As fundações destas
O solo é reconhecidamente um dos
semienterrados, estruturas de cascas de
edificações eram compostas por esta-
principais e mais complexos meios cor-
túneis e outras, fato este possivelmente
cas, blocos de fundação e armaduras
rosivos, tendo em vista a atuação de
relacionado às dificuldades de acesso,
de espera, que foram executadas na
diversos fatores, como a resistividade,
inspeção e manutenção dessas estrutu-
década de 50, porém, devido à im-
pH, atividade de microrganismos, umi-
ras. A falta de planos de monitoramento,
possibilidade de continuar as obras na
dade, aeração, entre outros. Sob esta
aliada a uma lacuna de conhecimento
época, essas armaduras permanece-
perspectiva, a resistividade do solo é
sobre o estado de degradação deste
ram enterradas por um período de 60
apresentada na literatura como uma
tipo de estrutura, pode comprometer
anos. No ano de 2008, este conjunto
alternativa para avaliar a corrosão de
seu desempenho, com consequente re-
de fundações foi desenterrado para
metais em contato direto com o solo.
dução de vida útil.
avaliar a possibilidade de seu uso na
Desta forma, a Tabela 1 apresenta os
Desta forma, o presente trabalho
retomada das obras, porém, devido ao
valores de resistividade e sua correlação
visa contribuir no âmbito da discussão
estado de degradação destes elemen-
com a agressividade do solo segundo
sobre a durabilidade de armaduras ex-
tos, essa possibilidade foi descartada
National
traídas de um bloco de fundação, exe-
e novas fundações foram executadas
Engineers – NACE (2014), sendo estes
cutado em concreto armado, e de arma-
para a continuidade das obras, sendo
os critérios utilizados nesta pesquisa.
duras de espera que permaneceram em
as armaduras de espera e as armadu-
Para avaliar a resistividade do solo
contato direto com o solo por 60 anos,
ras de um dos blocos de fundação co-
foi utilizado um terrômetro analógico,
sendo corroídas naturalmente. Assim,
letadas para pesquisas.
sendo escolhidos cinco pontos na área
2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Avaliação da agressividade do solo por meio da resistividade
Association
of
Corrosion
serão discutidos resultados referentes à agressividade do solo como meio
u Tabela 1 – Agressividade do solo segundo sua resistividade (NACE, 2014)
corrosivo, à verificação da proteção química oferecida pela solução dos po-
Resistividade do solo (Ω.cm)
Índice de agressividade
ros do concreto às armaduras no bloco
>20000
Essencialmente não corrosivo
de fundação, às tipologias, velocidades
10000 a 20000
Moderadamente agressivo
e grau de corrosão das armaduras de
5000 a 10000
Moderadamente corrosivo
espera, e uma análise da resistência ao
3000 a 5000
Corrosivo
escoamento das armaduras de espe-
1000 a 3000
Altamente corrosivo
ra segundo seu grau de corrosão por
< 1000
Extremamente corrosivo
meio de ensaios de tração. 88 | CONCRETO & Construções
fundação mostrou-se como um meio
ma de 0,01 mm/ano indica uma alta taxa
protetor às armaduras frente à corro-
de corrosão.
são sob uma perspectiva da alcalinidade, permitindo, assim, utilizar as propriedades mecânicas dos corpos de prova tomados a partir destas armaduras como referência.
u Figura 1 Verificação da alcalinidade que envolve as armaduras no bloco de fundação
æ DCx ö ç ÷ 2 ø Vcorr = è n
[1]
O grau de corrosão dos corpos de
Das armaduras presentes no blo-
prova (Gc) foi determinado através da
co de fundação foram extraídos cinco
Equação 2, onde M0 corresponde a mas-
corpos de prova (BL1 – BL5) com diâ-
sa do corpo de prova não corroído e Mc,
metro original de 15,88 mm, aptos ao
à massa do corpo de prova corroído. A
ensaio de tração.
massa M0 foi calculada segundo o produto entre o diâmetro original das barras,
onde as fundações estavam presentes
2.3 Armaduras de espera
obtido através do projeto das antigas fundações (φ = 15,88 mm), o peso específi-
(R1-R5) em função do tamanho da área. Foram feitas duas medidas em cada um
A tipologia, a velocidade e o grau
co das barras, definido pelas normas da
dos pontos, variando a distância das es-
de corrosão das armaduras de espera
época como 7,850 x 10-6 kg/mm³ (NB1,
tacas do terrômetro em 5 e 10 metros.
foram avaliadas a partir de corpos de
1940*), e o comprimento dos corpos de
prova extraídos delas. Neste caso, fo-
prova em milímetros. A massa Mc foi obti-
ram analisados vinte corpos de prova
da diretamente através da pesagem dos
com diâmetro original de 15,88 mm
corpos de prova em uma balança com
segundo os projetos originais de fun-
precisão de 0,01 gramas.
2.2 Armaduras do Bloco de Fundação As armaduras tomadas dos blocos
dação (PB1- PB20). Estes corpos de
de fundação visaram à obtenção de cor-
prova foram primeiro submetidos a um
pos de prova para o ensaio de tração,
procedimento de decapagem química
cujas propriedades mecânicas fossem
segundo a Norma ASTM G1 (2003),
utilizadas como parâmetro referencial
para a remoção dos produtos de cor-
para comparações junto às proprie-
rosão aderidos à sua superfície. Após
dades mecânicas obtidas a partir das
isso, micrografias com aumento de 10x
Os corpos de prova foram subme-
armaduras de espera corroídas natu-
foram obtidas com um microscópio
tidos a um ensaio de tração em uma
ralmente pelo solo. Esta premissa sur-
digital visando detectar a presença de
máquina universal com capacidade de
ge tendo em vista a proteção química
corrosão por pites ao longo deles.
20000 kgf. Os resultados de resistência
Gc (% ) =
M0 - Mc *100 Mc
[2]
2.4 Ensaio de tração
oferecida pela solução alcalina presente
Para a determinação da velocidade
ao escoamento foram analisados, sen-
nos poros do concreto, que propiciam
de corrosão, a menor seção transversal
do que o valor médio obtido dos corpos
a formação do filme de passivação que
dos corpos de prova foi medida com uso
de prova provenientes das armaduras
reveste a armadura. Com o objetivo de
de um micrômetro dotado de ponteiras
presentes no bloco de fundação foi utili-
validar esta hipótese, uma solução de
cônicas com precisão de 0,004 mm,
zado como referência para fins compa-
Fenolftaleína foi preparada e pulveriza-
sendo feitas, no mínimo, trinta medidas
rativos com as propriedades dos corpos
da sobre o concreto recém-fraturado no
ao longo do comprimento dos corpos de
de prova das armaduras de espera,
ato da extração das armaduras do bloco
prova. A velocidade de corrosão foi cal-
conforme justificativa já discutida.
de fundação, segundo prescreve a reco-
culada através da Equação 1, sendo Vcorr
mendação da EN-14630 (2006).
a velocidade de corrosão (mm/ano), DCx
A coloração rosa/carmim observa-
a menor seção transversal da barra (mm)
da imediatamente após a pulverização
e n o número de anos em que a armadura
da solução é mostrada na Figura 1,
permaneceu enterrada (igual a 60 anos).
atestando que o concreto do bloco de
Segundo CEMCO (2001), um valor aci-
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Resistividade do solo Os valores de resistividade do solo
* Nota: Atualmente, após diversos processos de revisão, trata-se da ABNT NBR 6118:2014 Projeto de estruturas de concreto
CONCRETO & Construções | 89
variaram de 24.300 à 100.000 Ohm.cm em todos os pontos. Foi observado que, mesmo dobrando a distância entre as estacas de medição, os valores de resistividade apresentaram uma variação inferior a 5%, sendo que os valores obtidos são superiores aos valores propostos pela NACE (2014), caracterizando o
u Figura 3 Formação de produtos de corrosão de coloração distinta sobre a superfície das armaduras
solo como essencialmente não agressivo em todos os pontos determinados,
sentido, os pites produzem excentrici-
representando que o solo local apresen-
dades entre o eixo da seção transversal
ta boa resistência ao fluxo iônico. Assim,
original da barra e o eixo da seção cor-
As velocidades de corrosão dos cor-
como o solo local foi caracterizado como
roída por pites, sendo que, quanto maior
pos de prova são apresentadas na Figu-
essencialmente não corrosivo pelo crité-
esta excentricidade, maior o impacto
ra 4, onde é possível observar altas velo-
rio proposto, era esperado que as arma-
sobre as propriedades mecânicas das
cidades de corrosão segundo o critério
duras de espera não apresentassem um
armaduras. Portanto, embora pequenas
do CEMCO (2001).
estágio de corrosão acentuado.
variações de massa possam ser verifica-
As velocidades observadas demons-
das, os pites causam um grave impacto
tram que, mesmo o solo sendo caracte-
à durabilidade das estruturas de concre-
rizado como essencialmente não corro-
to armado, com a consequente redução
sivo pelo critério da resistividade, uma
de seu desempenho e vida útil.
alta taxa de corrosão das armaduras de
3.2 Tipologias de corrosão verificadas nas armaduras de espera
3.3 Velocidades de corrosão
As armaduras de espera apresen-
espera foi observada ao longo do perí-
Por meio das micrografias foi pos-
taram diferentes produtos de corrosão
odo em que estas permaneceram en-
sivel observar a presença de pites em
aderidos à sua superfície conforme
terradas. Tal fato pode estar associado
todos os corpos de prova obtidos das
observado na Figura 3. Neste caso, a
a duas hipóteses. (1) A classificação da
armaduras de espera, conforme obser-
coloração apresentada pelos produtos
agressividade do solo. Neste caso, uma
vado pela Figura 2. Os pites tem como
de corrosão está associada à forma-
classificação unicamente pelo critério da
caracteristicas produzir pequenas varia-
ção de um determinado tipo de óxido,
resistividade pode ser insuficiente, uma
ções de massa, porém danos conside-
sendo que colorações mais escuras in-
vez que a ação de outros fatores não é
raveis às seções transversais das bar-
dicam condições de baixa aeração na
levada em consideração, assim como
ras, com decréscimos significativos das
formação dos óxidos e colorações que
uma análise pontual do microambiente
propriedades mecânicas delas. Neste
tendem ao avermelhado/alaranjado in-
onde as fundações estão presentes, ou,
dicam condições de boa aeração. Isto
por outro lado, a classificação proposta
demonstra que, mesmo presentes em
pelo CEMCO (2001) apresenta-se com
um mesmo meio corrosivo, diferentes
valores restritivos. (2) A presença dos
condições de aeração podem levar à
pites observada nas barras tem sua
formação de diferentes produtos de
formação associada a fontes externas
corrosão; dessa forma, o microambien-
de íons cloreto. Neste caso, deve ser
te também pode ser um fator importan-
pontuado que o entorno da área onde
te para contribuir com a durabilidade
as antigas fundações estavam presen-
de armaduras enterradas. A determina-
tes apresentam edificações construídas;
ção química dos produtos de corrosão
assim, o uso e descarte no solo de ma-
encontrados não faz parte do objetivo
teriais de limpeza a base de cloro denota
deste artigo; portanto, a análise aqui
uma potencial fonte externa de íons clo-
realizada é qualitativa, baseada nas co-
reto que contribui para o surgimento dos
lorações observadas.
pites. Os íons cloreto são responsáveis
u Figura 2 Exemplo de pite observado na superfície das barras – aumento de 10x
90 | CONCRETO & Construções
ras, entretanto, a possibilidade de avaliação de propriedades mecânicas de corpos de prova corroídos naturalmente por décadas se mostra como uma oportunidade ímpar de estudo, sendo necessários mais pesquisas nesta área para validação de um valor tolerável.
4, CONCLUSÕES Foram discutidos neste artigo aspectos a respeito da agressividade do solo como meio corrosivo, além das tipologias de corrosão e seus efeitos sobre as
u Figura 4 Velocidades de Corrosão das armaduras de espera
propriedades mecânicas de armaduras de espera corroídas naturalmente por um período de 60 anos. As principais
por reduzir drasticamente a vida útil de
são de 12%, há uma tendência geral de
conclusões apresentadas são:
estruturas de concreto armado devido à
decréscimo das propriedades mecânicas,
u Mesmo com medidas de resistivi-
corrosão localizada nas armaduras.
com uma redução maior em valores resis-
dade do solo superiores aos níveis
tentes à medida que o grau de corrosão
recomendados, altas velocidades
atinge 25%, indicando, assim, que a par-
de corrosão foram evidenciadas nas
tir de um grau de corrosão da ordem de
armaduras de espera. Tal fato pode
12% há uma aceleração progressiva no
estar associado a: (1) sinergia de di-
decréscimo das propriedades mecânicas
versos fatores atuando em conjunto,
de barras submetidas à tração.
demonstrando que classificar o solo
3.4 Propriedades mecânicas e grau de corrosão dos corpos de prova O valor médio correspondente à resistência ao escoamento dos corpos de
Deve ser ressaltado que trata-se de
unicamente segundo o critério da
prova tomados como referência foi de 262
um conjunto de corpos de prova limita-
resistividade pode ser insuficiente,
MPa. As relações entre o grau de corrosão
do para o estabelecimento de um grau
ou ainda que o limite proposto para
e a resistência ao escoamento dos corpos
de corrosão tolerável para as armadu-
determinar a alta velocidade de cor-
de prova provenientes das armaduras de
rosão assumido neste artigo é muito
espera é apresentada na Figura 5. De acordo com a Figura 5, é possível observar que mesmo corpos de prova com grau de corrosão de até 7% apresentam valores de resistência ao escoamento equiparáveis ao valor médio observado nos corpos de prova de referência, fornecendo, assim, um possível indicativo a respeito de um grau de corrosão tolerável, onde a variação das propriedades mecânicas das armaduras corroídas não foi muito diferente em relação às propriedades mecânicas das armaduras de referência. Por outro lado, é possivel observar que, a partir de um grau de corro-
u Figura 5 Propriedades mecânicas das armaduras de referência
CONCRETO & Construções | 91
restritivo; (2) fontes externas de íons
grau de corrosão da ordem de 5%;
grau de corrosão tolerável; por outro
cloretos, capazes de desencadear
além disso, as diferentes tonalidades
lado, um decréscimo progressivo
um processo corrosivo nas armadu-
de cor dos produtos de corrosão ob-
das resistências medidas foi obser-
ras, foram preponderantes;
servados indicam condições de boa
vada nos corpos de prova com grau
e má aeração no solo do local;
de corrosão superior à 12%.
u As micrografias obtidas indicaram a
presença de pites notáveis nos cor-
u Armaduras com grau de corrosão
Finalmente, o grau de corrosão veri-
pos de prova, possíveis de serem
de até 7% apresentaram resistên-
ficado em armaduras corroídas natural-
observados com aumento microscó-
cia ao escoamento equiparável à
mente aliado à dificuldade de inspeção
pico de 10x. A presença de pites gera
resistência ao escoamento média
em elementos estruturais enterrados ele-
pequenas variações de massa nas
apresentada por corpos de prova de
vam a importância deste tipo de investi-
barras, conforme verificado na maio-
referência (não corroídos), indicando
gação quanto aos impactos na vida útil e
ria das barras que apresentaram um
um valor possível que represente um
durabilidade deste tipo de estrutura.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS - ASTM G1 – Standard Practice for Preparing, Cleaning, and Evaluating Corrosion Test, Pennsylvania, United States of America, 2003. [02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS – ABNT - NB-1– Cálculo e execução de obras de concreto armado – Rio de Janeiro, 1940, 23p. [03] CEMCO – Durabilidad del Hormigón y Evaluacion de Estructuras Corroídas – Instituto de Ciências de la Construccíon Eduardo Torroja, CSIC, 2001. [04] European Standards - EN 14630 - Products and systems for the protection and repair of concrete structures – test methods – determination of carbonation depth in hardened concrete by the phenolphthalein method- Committee B/517/8, Brussels, 2006. [05] NATIONAL ASSOCIATION OF CORROSION ENGINEERS - NACE – Soil Corrosion – Disponível em: http://www.nace.org/StarterApps/Wiki/Wiki.aspx?wiki=141; Acessado em 24 de setembro de 2014.
Livro
92 | CONCRETO & Construções
u inspeção e manutenção
Termografia de infravermelho na identificação e avaliação de manifestações patológicas em edifícios ELTON BAUER – Professor-Doutor ELIER PAVÓN – Doutorando Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília
regiões de umidade, identificar hetero-
empregada, principalmente pelos ele-
ada vez mais é necessá-
geneidades superficiais, dentre outras
vados custos dos equipamentos. Para
rio empregar técnicas que
aplicações. A inspeção é feita coletan-
aplicação no estudo da degradação e
permitam conhecer, iden-
do-se imagens termográficas (distri-
das patologias dos elementos e ma-
tificar e avaliar os materiais empre-
buição das temperaturas sobre a su-
teriais, ainda é necessário estabelecer
gados na construção civil. Quando é
perfície dos elementos, por exemplo,
um conjunto importante de critérios e
necessário investigar tanto a questão
sobre a superfície da fachada), que
padrões que permitam identificar as
da durabilidade quanto dos estudos
pode ser feita a distâncias significati-
anomalias com segurança. Todavia,
das manifestações patológicas, faze-
vas (até 20 metros com equipamentos
a técnica tem grande potencialidade,
mos uso de técnicas, muitas vezes
usuais), e de forma instantânea. Ou
principalmente com técnica para iden-
não destrutivas que nos permitem in-
seja, a mensuração das temperaturas
tificação de anomalias principalmente
ferir sobre causas, comportamentos e
na imagem (termograma) é feita sem
pela agilidade e simplicidade na inspe-
anomalias, bem como identificar e ma-
contato e em tempo real: o que ocorre
ção, possuindo um leque significativo
pear regiões de danos nas estruturas
no objeto alvo é observado na câmera
de possíveis outras novas aplicações.
e nos demais sistemas dos edifícios
termográfica [1] [2]. O conjunto de in-
Organização impermea(alvenarias, revestimentos,
formações fornecidas por esta aborda-
bilização, dentre outros).
gem pode auxiliar na inspeção de edi-
1. INTRODUÇÃO
C
Entre os métodos não destrutivos,
fícios e no diagnóstico e mapeamento
A termografia infravermelha em-
a termografia de infravermelho vem ao
de patologias, a partir da mensuração
prega termovisores (câmeras infra-
encontro da necessidade de estudos
e identificação das diferenças de tem-
vermelhas), que coletam e medem a
para estabelecer parâmetros e índices
peratura observadas na superfície dos
intensidade da radiação infravermelha
que contribuam com a realização de
elementos e componentes do edifício
emitida pela superfície dos objetos e a
inspeções com diferentes finalidades,
(o Delta-T é um dos critérios para iden-
converte em sinais elétricos, os quais
de forma rápida e mais eficiente.
tificar a existência de anomalias).
através de softwares apropriados per-
100 95 75
25 5
2. TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA
Com a inspeção termográfica é
Embora essa técnica seja de uso
mitem obter imagens térmicas [1]. Esta
possível localizar elementos estrutu-
consagrado na engenharia, na cons-
técnica, com base na análise do cam-
rais, observar e delimitar fissuras e
trução civil brasileira ainda ela é pouco
po de temperaturas, permite identificar
0
CONCRETO & Construções | 93
anomalias internas aos materiais (defeitos), porque a presença de defeitos causa uma resistência térmica, influenciando o transporte de calor no material, que pode ser detectada na superfície [2]. A abordagem é similar ao que acontece no ensaio de ultrassom, onde a velocidade de onda muda pela presença de defeitos internos dentro do elemento. No caso da inspeção termográfica, os defeitos também causam uma perturbação, só que no fluxo de calor (entre o elemento e o meio ambiente). Essa perturbação gera pequenas diferenças de temperatura que são identificadas na superfície permitindo a
a
Imagem digital do impacto do esclerômetro
b
Termograma da superfície do concreto após o impacto do esclerômetro
u Figura 1 Diferenças de temperaturas geradas pelo impacto do esclerômetro em uma superfície de concreto
identificação e análise das anomalias. Embora possam ser detectadas ano-
a metodologia de emprego da técni-
e resolução geométrica) estabelecem
malias internas, a termografia de infra-
ca. Considera-se termografia passiva
o alcance das inspeções, definindo o
vermelho é considerada, em geral, uma
quando existe um diferencial natural
tamanho das anomalias a serem ana-
técnica superficial, já que as anomalias
de temperatura entre a amostra (objeto
lisadas e a distância a que pode ser
que podem ser facilmente identificadas
alvo) e o meio no qual se encontra, ou
feito o estudo (precisão da imagem). A
são as que ficam próximas da superfície.
seja, o caso onde não é utilizada uma
mensuração das variáveis temperatura
O resultado da medição termográ-
estimulação térmica artificial para a de-
ambiente, umidade relativa, tempera-
fica é a distribuição da temperatura em
tecção de anomalias. Já para a termo-
tura aparente refletida e emissividade
um plano em tempo real (termograma).
grafia ativa, um estímulo externo é in-
(associadas ao alvo) vão permitir ob-
É necessário conhecer ou determinar
dispensável para induzir os contrastes
ter termogramas com os valores reais
vários parâmetros termográficos, os
térmicos na amostra, capazes de iden-
e precisos das temperaturas. Todas
quais são tratados pelos algoritmos es-
tificar falhas ou defeitos [6]. Os estímu-
essas variáveis afetam em maior ou
pecíficos do equipamento, de modo a
los térmicos empregados podem ser os
menor medida a qualidade dos resul-
se ter a adequada precisão das tempe-
pulsos, os ciclos de pulsos, os ciclos de
tados e a sua interpretação; por isso
raturas apresentadas no termograma.
calor, a vibro-termografia, entre outros.
é de muita importância conhecer ou
Regiões com temperaturas diferentes
A obtenção e a correta interpreta-
mensurar cada uma delas. Também é
em um termograma são resultado da
ção dos termogramas vão depender
necessário que o termografista evite os
presença de heterogeneidades na su-
da adequada aquisição da imagem
problemas de reflexão e que respeite
perfície ou perto dela ou resultado de
pelo termografista e do conhecimento
os ângulos limites de modo a não indu-
ações recentes. Na figura 1, pode-se
e mensuração das variáveis envolvi-
zir erros no termograma.
observar a diferença de temperatura
das nas medições termográficas. É
gerada pelo impacto de um esclerôme-
necessário que as análises sejam fei-
tro na superfície do concreto, em uma
tas tendo uma base científica sólida
imagem feita instantes posteriores ao
sobre termografia.
3. APLICAÇÕES DA TERMOGRAFIA A PATOLOGIAS DE EDIFÍCIOS
impacto. A energia de impacto eleva a
As variáveis termográficas podem
A termografia passiva é utilizada em
temperatura do ponto instantaneamen-
ser divididas em dois grupos: as que
monitoramentos nas áreas de enge-
te em cerca de 5º C.
têm a ver com o equipamento e as re-
nharia elétrica, metalúrgica, mecânica e
A termografia pode ser classificada
lacionadas com o alvo. As variáveis re-
de processos, além de ter aplicações
em ativa ou passiva, de acordo com
lacionadas ao equipamento (foco, lente
na indústria médica e na segurança.
94 | CONCRETO & Construções
térmica de uma fachada com revestimento de placas cerâmicas, a presença de destacamentos (Fig 2-a) (D), não visíveis na inspeção visual (Fig 2-b). Essa inspeção foi efetuada à noite, com fluxo de calor reverso (da fachada para o ambiente), sendo a região destacada identificada por temperaturas mais bai-
a
b
Termograma
xas (mais escuras no termograma) Fotografia digital da área inspecionada
u Figura 2 Detecção de destacamentos em uma fachada com revestimento cerâmico com termografia infravermelha (termografia passiva)
Em estudos de laboratório, onde são controladas cada uma das variáveis relacionadas com a técnica e com o defeito, comprovou-se que falhas de aderência ou ausência de argamassa por trás da cerâmica são facilmente
Na engenharia civil, os principais estu-
seu funcionamento. Um componente
identificáveis e quantificáveis com essa
dos desenvolvidos com aplicação da
elétrico defeituoso que emite calor ex-
técnica (Bauer et al., 2015). Na figura
termografia de infravermelho são os
cessivo é muito facilmente detectável
3, observa-se, em um estudo realizado
relativos à avaliação das características
pela termografia.
em placa de argamassa revestida com
térmicas da envolvente de edifícios e a
Com a termografia infravermelha
cerâmica, como a ausência de material
eficiência energética, e os relativos ao
podem-se detectar somente anomalias
por trás da cerâmica (A) é identificável
estudo de anomalias e manifestações
associadas a modificações mensurá-
com precisão no termograma, quando
patológicas em edificações. A identifi-
veis das características térmicas (fluxo
a placa é aquecida artificialmente. Nes-
cação e quantificação de anomalias e
de calor e temperaturas resultantes) e
te caso o fluxo de calor é da placa para
manifestações patológicas em edifica-
patologias com profundidades limita-
o meio ambiente (fluxo reverso).
ções com termografia é bem complexa,
das (próximas à superfície). Com base
Os elementos estruturais de uma
porque as diferenças de temperatura
nessas características e limitações, têm
edificação, por ser geralmente de mate-
entre as zonas com e sem anomalias
sido estudadas diferentes incidências
riais diferentes da alvenaria, ou por ter
são relativamente pequenas, se com-
patológicas nas edificações, principal-
inércia térmica diferente, são regiões fa-
paradas com outras áreas da engenha-
mente em fachadas. A figura 2 mostra
cilmente identificáveis nos termogramas.
ria onde se estudam componentes e
como é possível detectar na imagem
Um exemplo de localização de elemen-
equipamentos que geram calor durante
a u Figura 3 Detecção da falta de argamassa por trás da cerâmica em placas de laboratório
Termograma evidenciando as diferentes temperaturas e os elementos
b
Fotografia digital da região inspecionada
u Figura 4 Identificação dos elementos estruturais de concreto com termografia infravermelha
CONCRETO & Construções | 95
a
u Figura 5 Identificação e mapeamento de fissuras em fachadas com revestimento em argamassa e pintura
b
u Figura 6 Avaliação de problemas de umidade no interior de uma edificação com termografia infravermelha no termograma se conseguiu avaliar a
analisado com esta técnica, além de
magnitude do problema de umidade (A)
ser identificado, é possível definir sua
tos estruturais em uma fachada revesti-
na união entre a laje e a parede (cortina
magnitude. A figura 7 mostra um estu-
da com argamassa e pintada pode ser
em concreto). As inspeção foi feita na
do de absorção de água por capilari-
observado na figura 4. Note-se, neste
face inferior de uma laje, no encontro
dade (A) onde se define claramente a
caso, como são facilmente identificadas
com a cortina de concreto, em uma
altura da franja de água no corpo de
as vigas (A) e os pilares (B) que formam
garagem em subsolo que apresentava
prova prismático. Note-se aqui que em-
a estrutura porticada de concreto da
problemas de infiltração na laje (falha
bora a franja seja relativamente visível
edificação. Aparecem aqui como zonas
da impermeabilização). A evaporação
na fotografia digital (o que nem sempre
mais frias na imagem térmica.
de água na superfície do objeto alvo
ocorre), no termograma ela passa a ser
Para o caso de fachadas revestidas
(superfície de concreto) faz com que
identificada e mensurada pela redução
com argamassa e pintura, é possível
diminua a temperatura na superfície,
de temperatura superficial que a evapo-
identificar também outros tipos manifes-
sendo essa diferença de temperatura
ração proporciona.
tações patológicas, como as fissuras. A
detectada no termograma.
4. ERROS E DIFICULDADES NA APLICAÇÃO DA TERMOGRAFIA
figura 5 mostra a imagem térmica com
Os problemas de umidade causa-
a localização das fissuras (A) na fachada
dos por capilaridade são detectados
em um estudo de mapeamento de ano-
também com o uso da termografia in-
A aplicação da termografia infra-
fravermelha. Quando este problema é
vermelha na detecção de patologias
malias. Observa-se que, na inspeção visual, essas anomalias não são detectáveis (aspecto similar ao da figura 4(b)). Na análise da inspeção global efetuada, constatou-se que essa fissuração ocorreu na alvenaria, sendo as mesmas mapeadas pela inspeção termográfica. Com a termografia infravermelha também podem ser detectados problemas de umidade em diferentes elementos da edificação. Isso ocorre porque a evaporação da água causa
a
Termograma indicando as franjas de umidade
b
Fotografia digital do experimento
uma redução da temperatura superficial, sendo essa alteração captada no termograma. Note-se, na figura 6, que 96 | CONCRETO & Construções
u Figura 7 Avaliação da capilaridade em amostras de concreto celular
mente quando os estudos são feitos sobre uma forte incidência solar, podendo limitar a aplicação da técnica. Na figura 9, pode ser observada uma situação de grande reflexão em edifí-
a
Inspeção efetuada pela manhã
b
Inspeção efetuada pela noite
u Figura 8 Visualização de um destacamento em diferentes horários do dia [5]
cios. Observa-se a reflexão da torre do prédio da esquerda (que não era objeto de análise) na imagem termográfica do prédio da direita (objeto alvo). Na região onde se identifica a
torna-se difícil e complexa pela gran-
foi realizada no começo da manhã e
reflexão (A), aparecem falsos valores
de quantidade de variáveis envolvidas
a imagem térmica da direita (Fig. 8-b),
de temperaturas no termograma, nes-
no processo de inspeção e análise de
no início da noite. Note-se que, na ma-
te caso, superiores aos reais.
resultados. As dificuldades e a não
nhã, o mesmo defeito aparece como
O ângulo e a geometria do alvo são
mensuração das principais variáveis
uma zona mais quente e, pela noite,
outras dificuldades que se apresentam
levam a se cometer importantes erros,
como uma zona mais fria. O diagnós-
na realização das inspeções termográ-
que podem conduzir a incorretas inter-
tico, portanto, não é evidente a partir
ficas. Os valores de temperaturas em
pretações ou a diagnósticos equivoca-
de uma simples observação direta do
zonas com ângulo muitos altos (>45°)
dos. Uma das principais dificuldades
termograma, mas da análise do fluxo
e superfícies arredondadas apresen-
na aplicação da termografia é a defini-
térmico e da adequação de critérios
tam falsos valores de temperatura nos
ção do momento do dia (ou da noite)
para identificação das patologias [5].
termogramas. Na figura 10, pode-se
para a realização da inspeção. Esta
Seguramente, entre os dois momen-
observar este problema. Note-se que o
dificuldade é devida ao fluxo térmico,
tos das imagens da Figura 8 ocorre
canto esquerdo da fachada tem forma
o qual não é controlado nas medições
um momento em que o defeito não é
arredondada e que o ângulo, no qual
em campo (termografia passiva). A for-
identificável no termograma, ou seja,
foi feita a imagem em relação à parte
ma e o momento em que aparecerá o
ele tem a mesma temperatura da re-
superior do edifício, é alto. Por esses
defeito dependerá do sentido e mag-
gião circunvizinha [3].
motivos, os valores de temperatura nessa área (A) aparecem menores ao
nitude do fluxo de calor [3]. Na figura
A reflexão é outra das dificulda-
8, mostram-se as imagens térmicas
des da termografia, principalmente
de uma fachada com presença de um
nas medições em campo. Materiais
Outra dificuldade nas inspeções
destacamento na placa cerâmica. A
e elementos de construção com aca-
termográficas é a presença de ma-
imagem térmica da esquerda (Fig. 8-a)
bamentos muito lisos e com brilho
teriais e elementos de composição
que realmente são.
refletem a radiação infravermelha de outros corpos (edifícios vizinhos, veículos, instalações e redes elétricas, dentre outros), causando uma interpretação incorreta dos termogramas. Por isso, o termografista deve ser experiente para eleger cuidadosamente a posição da qual irá fazer a aquisição do termograma, para evitar as reflexões. Além disso, deve saber identi-
u Figura 9 Problemas da reflexão em termogramas de fachadas de edifícios
ficar na imagem térmica a ocorrência deste problema. Este problema nas avaliações de fachadas de edifícios (reflexão) é muito frequente, principal-
u Figura 10 Problemas com o ângulo da aquisição do termograma e geometria do alvo
CONCRETO & Construções | 97
diferente (metais, polímeros, dentre
timadas, levam a erros significativos
outros) e também com textura super-
nos valores de temperatura e posterior
ficial dieferenciada na fachada (lisos,
interpretação dos termogramas. A uti-
rugosos, polidos). Nestes casos, o va-
lização de valores incorretos desses
lor da emissividade é diferente, obvia-
parâmetros pode gerar grandes dife-
mente em função da natureza de cada
renças de temperatura comparadas
material, o que pode levar a incorretas
com o valor real. Em estudos recentes
interpretações dos termogramas caso
foram quantificadas estas diferenças
não se busque corrigir essa informa-
em revestimento com placas cerâmi-
ção na análise. Pela utilização de um
cas e revestimentos em argamassa
único valor de emissividade na análise
[4], comprovando-se que os maiores
da imagem térmica, podem aparecer
erros aparecem quando são utilizados
zonas quentes ou zonas frias geradas
valores incorretos de emissividades e
pelos erros na emissividade, tornando
quanto maior for a temperatura média
cações mensuráveis das caracterís-
difícil a análises para a determinação
da superfície estudada.
ticas térmicas, como destacamen-
de anomalias. Este problema pode ser observado na figura 11, corresponden-
u Figura 11 Imagem térmica de uma fachada com diversos materiais
tos, fissuras e umidades;
5. CONCLUSÕES
u As principais dificuldades da aplica-
te à imagem térmica de uma fachada
Após a análise das potencialidades
ção da termografia infravermelha es-
no horário da manhã, onde aparecem
e limitações da termografia infraverme-
tão relacionadas com o fluxo de calor
zonas muitos quentes não reais, pos-
lha aplicada ao estudo de manifesta-
e a reflexão; é fundamental a mensu-
sivelmente geradas pelos menores
ções patológicas de edificações, pode-
ração das variáveis, como a emissivi-
valores de emissividades desses ma-
-se concluir que:
dade, temperatura aparente refletida,
teriais (polímeros constituintes dos tol-
u Para este tipo de estudo, é neces-
umidade relativa e distância;
sário ter formação de termografis-
u Em função da rapidez e versatilida-
O ângulo, os diferentes tipos de
ta e uma forte base teórica sobre
de na aquisição das imagens, a ins-
materiais e a textura superficial cau-
termografia para a realização das
peção termográfica é uma técnica
sam alterações da emissividade, a
inspeções e posterior análise dos
de inspeção de grande potenciali-
qual é considerada uma das variá-
resultados dada a quantidade de
dade, desde que corretamente efe-
veis de maior importância na obten-
variáveis e dificuldades que apre-
tuada e adequadamente analisada;
ção dos termogramas. Outras variá-
senta a aplicação desta técnica;
vários fenômenos de degradação
veis mensuráveis em campo, como a
u Com a termografia infravermelha,
podem ser monitorados e quantifi-
temperatura ambiente, a temperatura
pode-se detectar somente patolo-
cados; também o mapeamento de
aparente refletida e a distância, quan-
gias superficiais ou anomalias perto
anomalias pode ser muito agilizado
do desconsideradas ou somente es-
da superfície associadas a modifi-
com o emprego da termografia.
dos na imagem).
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] BARREIRA, E.; DE FREITAS, V. P. Evaluation of building materials using infrared thermography. Construction and Building Materials, v. 21, n. 1, p. 218–224, jan. 2007. [02] BAUER, E.; CASTRO, E. K.; HILDENBERG, A.; PAVON, E. Critérios para a aplicaçao da termografia de infravermelho passiva como técnica auxiliar ao diagnóstico de patologias em fachadas de edifícios. Revista Politecnica (Instituto Politécnico Bahia), v. 26, p. 266–277, 2014. [03] BAUER, E.; FREITAS. V. P.; MUSTELIER, N.; BARREIRA, E.; FREITAS, S. Infrared thermography – evaluation of the results reproducibility. Structural Survey, v. 31, n. 3, p. 181–193, 2015a. [04] BAUER, E.; PAVON, E.; HILDENBERG, A. Erros na utilização de parâmetros termográficos da argamassa e da cerâmica na detecção de anomalias em revestimentos. XI Simpósio Brasileiro de tecnologia das Argamassas. Anais...Porto Alegre: SBTA, 2015b. [05] BAUER E, CASTRO E.K, PAVON E, OLIVEIRA A.H.S. Criteria for application and identification of anomalies on the facades of buildings with the use of passive infrared thermography. In: Freitas VP, editor. 1st Int. Symp. Build. Pathol., Porto, Portugal: 2015c, p. 12. [06] MALDAGUE, X. Theory and Practice of Infrared Technology for Nondestructive Evaluation. Michigan: Wiley Series, 2001. p. 704.
98 | CONCRETO & Construções
u pesquisa e desenvolvimento
Análise comparativa da eficiência de transferência de cargas em pavimentos de concreto simples e continuamente armados LUCIO SALLES DE SALLES – Candidato a Doutorado JOSÉ TADEU BALBO – Professor Associado Universidade de São Paulo
volvimento, como o Chile e a Indonésia,
enfraquecimento do concreto (serra-
construção de rodovias e
apresentam também uma vasta malha
gem) de forma que a concentração de
vias urbanas de alto tráfego
rodoviária em concreto. Portanto é in-
tensões durante a cura ocorra exata-
no Brasil, antes inteiramen-
teressante para o desenvolvimento da
mente naquele ponto, gerando a fis-
te baseada em pavimentos asfálticos,
infraestrutura rodoviária do país o in-
sura. Em relação à descontinuidade
começa lentamente a demonstrar inte-
vestimento pesado em estruturas que
física gerada pela fissura, são projeta-
resse por tecnologias mais duradouras
apresentem alta durabilidade, como os
das e instaladas barras de transferên-
com concreto. Para uma comparação
pavimentos de concreto.
cia abaixo do corte, fazendo a união
1. INTRODUÇÃO
A
rápida do número de pavimentos de
Entretanto, o já pouco incentivo na-
das placas e provendo a transferência
concreto no Brasil e em outros países,
cional na pavimentação em concreto é
de carga entre elas. Esse é o conceito
confrontam-se informações de Bal-
totalmente baseado em pavimentos de
das juntas de retração em PCS, são
bo (2009). Nos EUA, em números de
concreto simples (PCS), ou seja, pavi-
elementos estruturais que induzem a
1999, estima-se que a porcentagem de
mentos de concreto em placas com
fissura e dos quais depende todo o
rodovias de concreto seja de aproxima-
juntas de retração. Devido à liberação
desempenho do pavimento.
damente 20%. Na Alemanha, constam
de calor durante a hidratação do con-
Contudo, a eficácia de tais elemen-
incríveis 40% (em quilômetros totais,
creto, grandes massas do material fa-
tos é extremamente dependente da
valor inferior ao dos EUA). Já no Bra-
zem com que o grau de concentração
perfeita execução das juntas (posicio-
sil, há algo em torno de 2% de rodovias
de tensões durante a cura seja muito
namento correto das barras de trans-
em concreto do total pavimentado.
grande. Para aliviar tais tensões, sur-
ferência e serragem na profundidade
Pavimentos de concreto são mais co-
gem fissuras de retração aleatórias nas
e no tempo certo), o que corriqueira-
mumente encontrados em nações alta-
placas, o que é bastante problemático
mente não acontece na pavimentação
mente industrializadas, como os países
visto que a estrutura antes contínua
nacional. Erros na serragem levam ao
da Comunidade Europeia e da América
passa a ser seccionada, inviabilizan-
aparecimento de fissuras fora do local
do Norte, tendo os EUA como princi-
do a perfeita resistência às cargas dos
projetado e barras mal posicionadas di-
pal precursor e incentivador da técnica.
veículos. Com o objetivo de contornar
ficultam a transferência de carga levan-
Existem exceções: países em desen-
essa situação, são criados pontos de
do ao surgimento de esborcinamento CONCRETO & Construções | 99
e escalonamento entre placas. Casos, como o do rodoanel Mario Covas em São Paulo, onde houve a fissuração irregular de algumas placas, são exemplos do problema. Balbo (2009), por fim, cita que, de cada seis defeitos mais comuns na pavimentação em concreto, quatro estão relacionados com as juntas de retração. Com isso, se o problema dos pavimentos de concreto está nas juntas, por que não construir um pavimento de concreto sem juntas? É nessa premissa que se insere a ideia do Pavimento de Concreto Continuamente Armado (PCCA): um pavimento de concreto sem juntas. Explica-se:
o
concreto
no
u Figura 1 Diferenças básicas de PCCA e PCS
PCCA à
sempenham um papel semelhante às
manutenção frente à cargas de trá-
PCS,
juntas do PCS, entretanto, frisa-se que
fego pesado e à condições ambien-
a
o desempenho das primeiras é muito
tais intimidantes. Para exemplificar
indução da fissuração, o concreto
menos suscetível a erros construtivos
as qualidades do PCCA, a Tabela 1
fissura livremente; o controle está no
do que o da segunda. A Figura 1 com-
traz uma compilação de resultados
espaçamento e, principalmente, na
para as seções longitudinais e trans-
que Tayabji et al. (1998 – 2012) in-
abertura das fissuras que irão surgir.
versais do PCS e do PCCA.
vestigaram nos estados norte-ameri-
apresenta
a
fissuração
do
porém
no
mesma
tendência
concreto
PCCA
não
no
existe
canos, em alguns países da Europa e
Para isso, existe uma armadura longitudinal, acima da linha neutra da placa, em altas taxas, cujo único papel é man-
1.1 PCCA: durabilidade e mínimo de manutenção
no Canada. Deve ser notado que alguns projetos iniciais apresentaram problemas
ter as fissuras fortemente apertadas de modo que se tornem imperceptíveis ao
A primeira aplicação do PCCA data
com o PCCA; de modo geral, o tipo de
tráfego e que mantenham altos níveis
de 1938 e foi realizada no estado norte-
base, a taxa de armadura e a posição
de transferência de carga pelo intertra-
-americano de Indiana. Nos próximos dez
da armadura têm influência no compor-
vamento de agregados. Diferentemen-
anos, vários trechos experimentais foram
tamento da estrutura e no surgimento
te dos pavimentos de concreto arma-
executados em diversos estados do país,
das fissuras, como será discutido no
do (PCA), a armadura do PCCA não
com dedicação especial do Texas e de
decorrer do artigo. Porém, perante os
possui papel estrutural no pavimento,
Illinois. Porém, foi somente em meados
anos de sucesso comprovado do pavi-
portanto, a espessura de concreto das
dos anos 1950 que a técnica começou a
mento no exterior e da possibilidade de
placas é similar àquela corriqueiramen-
ganhar popularidade; em 1958, existiam
uma rodovia ou corredor urbano com
te empregada em PCS. Pela quantida-
127 km de rodovias com o PCCA. Foi a
durabilidade de mais de 30 anos, de-
de de aço necessário, o custo inicial
partir também dos anos 1950 que a ideia
cidiu-se importar a técnica e construir
do PCCA é de aproximadamente 40%
do PCCA migrou para o continente Euro-
quatro seções experimentais desse pa-
superior do que o do PCS, porém a
peu, tendo a Bélgica como sua precurso-
vimento no campus da Universidade de
baixa necessidade de manutenção e
ra. Atualmente, só nos EUA existem em
São Paulo (USP). Esse artigo apresenta
a durabilidade recompensam o inves-
operação mais de 50 mil quilômetros de
os conceitos fundamentais do PCCA,
timento inicial. Pode-se afirmar, numa
rodovias construídas com o PCCA.
além de trazer o relato do projeto e da
visão prática e simplificada, que as
O PCCA tem fama de apresentar
construção das seções experimentais e
fissuras que irão surgir no PCCA de-
alta durabilidade com um mínimo de
comparar a eficiência de transferência
100 | CONCRETO & Construções
de carga nas fissuras/juntas (LTE) do
das de ônibus em corredores urbanos
do concreto foi fixada em 4,5 MPa (aos
PCCA com um PCS experimental.
(sem laje de transição ou ancoragem).
28 dias); o concreto comercialmente
O tráfego diário na avenida é com-
2. PROJETO E CONSTRUÇÃO DO PCCA
posto
disponível empregou agregados graníti-
de aproximadamente 800 ôni-
cos e consumo de cimento de 350 kg/
bus urbanos, junto com algumas dúzias
m³. A Tabela 2 traz o controle tecnoló-
As seções da pista experimental fo-
de caminhonetes médias e 1.500 car-
gico do concreto na obra.
ram construídas entre julho e setembro
ros. O antigo pavimento asfáltico, que
Nota-se que, salvo a porcentagem
de 2010, no período seco do inverno
havia sido construído quase 40 anos
de armadura longitudinal, as quatro se-
paulistano, localizadas na Av. Prof. Al-
antes, foi completamente removido. As
ções possuem as mesmas característi-
meida Prado, no campus da USP em
seções possuem largura constante de
cas de projeto. A armadura longitudinal
São Paulo. Como o objetivo inicial era
5,05 m, que coincide com uma faixa
possui taxa variável (0,4 a 0,7% da se-
simular uma parada de ônibus, a exten-
de rolamento em vias de pista simples
ção transversal da placa); a armadura
são das seções foi de 50 m, curta em
do campus (10 m de largura aproxima-
transversal é composta de barras es-
relação ao PCCA tradicional que pode
damente). As seções são compostas
paçadas 0,9 m entre si, com barras de
alcançar mais de 400 m, dependendo
de placas de concreto com 240 mm
diâmetro de 20 mm. Todo o aço em-
do período de concretagem contínua.
de espessura. A espessura foi definida
pregado foi do tipo CA-50. A decisão
Não há ancoragem no final das seções,
com base no tráfego e também com
das diferentes taxas foi tomada com
dando liberdade ao deslocamento lon-
experiência internacional da utilização
referência aos PCCA citados na litera-
gitudinal das placas de concreto, como
desse pavimento em vias urbanas. A
tura técnica. Sabe-se que maiores ta-
seria no caso de construções em para-
resistência à tração na flexão de projeto
xas de armadura causam uma maior
u Tabela 1 – Experiência internacional com PCCA Local
Experiência
Texas
PCCA construídos entre 1967 e 1994 suportaram um tráfego maior do que aquele de projeto.
Texas
PCCA com 33 anos apresentando LTE nas fissuras sempre maior do que 90%.
Califórnia
Ótimo desempenho de seções construídas nos anos 1970.
Califórnia
Durabilidade e baixo custo de manutenção compensa o investimento inicial.
Califórinia
Projetos para tráfego pesado e locais de difícil acesso para manutenção.
Connecticut
Rodovias construídas nos anos 1960 só apresentaram defeitos após suportar o dobro do tráfego de projeto.
Georgia
PCCA com 20 anos de operação em ótimo desempenho.
Georgia
Sucesso com recapeamento de pavimentos asfálticos e de PCS com PCCA.
Illinois
PCCA da década de 1960 suportando um tráfego maior do que aquele de projeto.
Illinois
Recapeamento de PCCA com asfalto não apresenta reflexo de fissuras.
Mississippi
Desempenho altamente satisfatório das 89 seções com PCCA.
Oklahoma
De 36 seções construídas nos anos 1970, somente duas precisaram de reabilitação.
Oregon
Desempenho excelente; anos em operação maiores do que o tempo de projeto.
Virginia
PCCA com 25 anos de serviço em ótimo estado.
Canada
Sucesso do PCCA, apesar das variações de mais de 60 ºC de uma estação para a outra .
França
Poucas seções se aproximando dos 15 anos de serviço sem defeitos.
Bélgica
Projetos de 1970 recebendo os primeiros recapeamentos 30 anos depois
Reino Unido
Alguns PCCA em operação desde 1980. Técnica abandonada pelo alto custo inicial (primeiro fator de decisão)
Espanha
Construção desde 1975 com ótimo desempenho e exigindo um mínimo de manutenção
Holanda
Experiência excelente com seções construídas durante os anos 1980
CONCRETO & Construções | 101
u Tabela 2 – Parâmetros obtidos com corpos de prova moldados durante a concretagem
tração do concreto, o processo de cura no PCCA é bastante importante. Alguns estudos aconselham a execução da con-
Seção
Resistência à compressão* (MPa)
Módulo de ruptura* (MPa)
Módulo de elasticidade** (MPa)
2
38.4
5.02
21,526 / 28,614 / 28,350
3
34.5
–
–
4
29.5
–
–
* Valores médios; ** Valores individuais.
cretagem ao final do dia ou à noite para evitar uma rápida secagem da massa de concreto. Em geral, as especificações internacionais limitam a execução da placa de PCCA entre temperaturas de 10 e 32 ºC. O umedecimento da base asfáltica aliada à utilização de compostos químicos de cura e mantas úmidas na placa
fissuração, diminuindo o espaçamento,
do à pequena abertura das fissuras, o
também são apontados como proce-
o que pode ser prejudicial pelo potencial
PCCA não sofre corrosão da armadu-
dimentos adequados de cura. No caso
de intersecção de fissuras. Entretanto,
ra; em dados de pavimentos de mais
das seções experimentais aqui descri-
altas taxas também provêm uma aber-
de 20 anos de operação na Holanda e
tas, utilizou-se manta úmida durante os
tura de fissuras mínima. No início dos
Bélgica, a perda média da seção foi de
primeiros dias após a concretagem. Na
anos 1990, houve uma mudança no
menos de 0,04%, ou seja, irrisória. No
Figura 2, são apresentados os dados de
foco das análises de desempenho do
projeto aqui descrito, a profundidade
temperatura e umidade relativa do ar du-
PCCA; anteriormente, todo o dimensio-
da armadura está a 100 mm da super-
rante o mês de construção. Nota-se que
namento era baseado no espaçamento
fície, 20 mm da meia altura da placa.
as seções 3 e 4 sofreram variações de
de fissuras (ideal de 0,9 a 2,4 m); com
Segundo alguns estudos, bases as-
temperatura nos dias seguintes à cons-
isso, as taxas ficavam entre 0,5 e 0,6%;
fálticas apresentam um melhor desem-
trução muito mais severas do que as se-
porém, observou-se que, embora as
penho do que bases granulares e em
ções 1 e 2. Supõe-se que este fato ajude
fissuras estivessem mais bem espaça-
concreto para o PCCA pelo baixo poten-
a explicar o menor número de fissuras
das, a transferência de carga entre elas
cial de erosão que elas apresentam. Por
visíveis na superfície nas seções 1 e 2. A
era pouco satisfatória, levando ao acú-
isso, deliberou-se pelo uso do material
Figura 3 traz o resumo geral do projeto
mulo de tensões na placa e causando o
asfáltico como base em todas as seções;
das seções experimentais.
aparecimento de fissuras longitudinais
a camada possui 60 mm de espessura.
por fadiga. Passou-se, então, a focar o
Devido à fissuração ocorrer pela re-
projeto na abertura da fissura (máxima de 1 mm) e na utilização de taxas mais altas (entre 0,7 e 0,8%). A posição da armadura longitudinal também é muito discutida. Sabe-se que, quanto mais perto da superfície, mais apertadas ficam as fissuras e melhor é a transferência de carga entre elas. Todavia, normas internacionais regulam um cobrimento mínimo de 76 mm para evitar a corrosão da armadura pela infiltração de água. Em relação à perda da seção da armadura pela oxidação, alguns estudos se empenharam em quantificar tal perda pelo tempo de serviço do pavimento. A conclusão da grande maioria deles é que, devi102 | CONCRETO & Construções
u Figura 2 Dados climáticos do mês de construção
As imagens das Figuras 4 e 5 mostram detalhes do processo construti-
vo das seções experimentais e a pista
cas fissuras emergissem na superfície
fissuras estejam em todas as placas,
em operação.
da placa. Como resultado, o mapa de
porém imperceptíveis na superfície.
fissuração (Figura 6) do PCCA de cur-
As Figuras 7 e 8 mostram a evolução
3. ESPAÇAMENTO E ABERTURA DE FISSURAS
ta extensão foi muito diferente daquele
do espaçamento médio entre fissuras
encontrado em PCCA tradicionais. A
através do tempo e a distribuição per-
A falta de ancoragem permitiu uma
seção 1, por exemplo, ainda não apre-
centual do espaçamento nas seções
senta nenhuma fissura.
3 e 4, respectivamente; na Figura 7,
maior movimentação do volume de concreto durante a retração inicial. Isso,
O conhecimento básico de con-
o comprimento total da seção (50 m)
aliado a pouca aderência da base as-
creto diz que uma superfície de 50
foi considerado como o espaçamen-
fáltica e ao efeito de amarração da ar-
m sem fissuras ou juntas é altamente
to inicial; este valor só foi modificado
madura longitudinal, fez com que pou-
improvável; supõe-se, então, que as
com a visualização da primeira fissura
Posicionamento das Barras da Armadura
Lado Direito
Lado Esquerdo SEÇÃO 4
Seção 2
Espessura do Concreto 240 mm
Espessura do Concreto 240 mm
Espessura da base CAUQ 60 mm
Espessura da base CAUQ 60 mm
Espessura da sub-base (Macadame Seco) 300 mm
Espessura da sub-base (Macadame Seco) 300 mm
Taxa de Armadura CA-50 com 0,4% a cada 300 mm (Diâmetro das Barras = 20mm)
Taxa de Armadura CA-50 com 0,7% a cada 170 mm (Diâmetro das Barras = 20mm)
Barras transversais Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m
Barras transversais Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m
SEÇÃO 3
Seção 1
Espessura do Concreto 240 mm
Espessura do Concreto 240 mm
Espessura da base CAUQ 60 mm
Espessura da base CAUQ 60 mm
Espessura da sub-base (Macadame Seco) 300 mm
Espessura da sub-base (Macadame Seco) 300 mm
Taxa de Armadura CA-50 com 0,5% a cada 230 mm (Diâmetro das Barras = 20mm)
Taxa de Armadura CA-50 com 0,6% a cada 200 mm (Diâmetro das Barras = 20mm)
Barras transversais Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m
Barras transversais Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m
u Figura 3 Detalhes das seções da pista experimental
CONCRETO & Construções | 103
em outubro de 2011 na seção 3, qua-
começou a diminuir mais rapidamen-
visível só foi identificada após 500
se 400 dias após a construção. Com
te nas seções 3 e 4 até que alcan-
dias da construção e diferentemente
o aparecimento da primeira fissura,
çou um aparente patamar em dois
das seções 3 e 4, o decréscimo do
o espaçamento médio entre fissuras
anos. Na seção 2, a primeira fissura
espaçamento tem sido mais lento.
a Armadura longitudinal (seção 1)
b Base asfáltica (seção 4)
c Cura
d Concretagem (seção 2)
e Adensamento (seção 4)
u Figura 4 Detalhes da execução da pista experimental
104 | CONCRETO & Construções
f Concretagem (seção 2)
O espaçamento médio entre fissuras
agravada pelo fato de que o último
cam o intervalo de espaçamento reco-
do PCCA curto (seções 3 e 4) é mais
patamar de espaçamento é alcança-
mendado por estudos internacionais;
que o dobro daquele encontrado em
do em menos de um ano. As linhas
o gráfico mostra que somente 27%
PCCA tradicionais; uma diferença
vermelhas e verticais na Figura 8 mar-
do espaçamento da seção 3 pode
a Acabamento (seção 3)
b Texturização (seção 1)
c Junta entre a pista e o pavimento intertravado (seção 1)
d Armadura longitudinal (seção 4) e cura (Seções 1 e 2)
e Pista em operação (vista da seção 4)
f Pista em operação (vista da seção 3)
u Figura 5 Detalhes da execução da pista experimental
CONCRETO & Construções | 105
que as seções 3 e 4 apresentaram 0,55 e 0,33 mm, respectivamente; a
1
temperatura média durante o levantamento foi de 16 ºC. Em contraste, 29,8
16,25
em um dia quente de verão em janeiro
3,95
de 2013, as médias foram de 0,1 mm
2
(seção 2), 0,37 mm (seção 3) e 0,26 mm (seção 4). A temperatura alcançou os 27 ºC naquele dia em particular; as duas fissuras na seção 2 estavam quase invisíveis.
3 9,97
6,52
8,12
4,68
3,61 3,48 2,25 2,25 1,6 3,63
OUT/2011 JAN/2012 FEV/2012 MAR/2012
4 4,37
5,29
6,57
9,53
4. TRANSFERÊNCIA DE CARGA EM FISSURAS E JUNTAS
3,9
6,64
5,64
7,3
4,66
SET/2012 NOV/2012
O método mais usual para aferir a transferência de carga entre fissuras/ juntas (LTE) é a utilização de um teste com o Falling Weight Deflectometer (FWD). O FWD é classificado como um ensaio não destrutivo onde, através
u Figura 6 Mapa de fissuras atualizado (maio/2014)
de sensores em posições preestabelecidas, é possível captar as ondas de acelerações verticais (deslocamentos)
ser considerado como ideal; também
com uma régua (Figura 9); este méto-
que ocorrem na superfície, decorren-
é visível que, para ambas as seções,
do, embora rápido, permite somente
tes de uma carga. Para a determina-
não existem espaçamentos menores
a determinação da abertura na super-
ção das deflexões (descolamentos
do que 1,5 m, o que implica uma pe-
fície do pavimento. A abertura média
verticais) sofridas pelo pavimento,
quena possibilidade de aglomeração
das fissuras no último levantamento,
essas ondas de deslocamento são
de fissuras e consequentes intersec-
realizado em maio de 2013, foi de
duplamente integradas por um sof-
ções de fissuras. A experiência com
0,17 mm para a seção 2, enquanto
tware acoplado ao equipamento. O
PCCA tradicionais mostra que a porcentagem cumulativa do espaçamento entre fissuras atinge 100% com um espaçamento menor que 3,0 m para pavimentos com dois anos de idade e que, para pavimentos com um desempenho satisfatório, os limites recomendados englobam de 50 a 90% do espaçamento. Por outro lado, de maneira análoga aos PCCA tradicionais, os levantamentos de abertura da fissura comprovaram a influência da porcentagem de armadura e principalmente da temperatura nesse parâmetro. A mensuração da abertura foi realizada 106 | CONCRETO & Construções
u Figura 7 Evolução do espaçamento médio
Porcentagem acumulada
100% 90% 80% 70% 60% 50%
Seção 3
40%
Seção 4
30% 20% 10% 0%
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Espaçamento entre fissuras (m) u Figura 9 Medição da abertura da fissura
u Figura 8 Espaçamento nas seções 3 e 4
equipamento surgiu como uma solu-
sura/junta; nela, a porcentagem de
ção muito mais precisa e de excelente
transferência de carga é determinada
repetitividade na medida de deflexões
por meio de testes com aplicação de
em comparação com a Viga Benkel-
carga adjacente à fissura/junta, sendo
man, justamente pela mínima influên-
mensuradas a deflexão na placa sob
cia do operador nas leituras.
a carga aplicada e a deflexão na placa
[1] Onde: δ1 = Deflexão na placa carregada; δ2 = Deflexão na placa sem carregamento. Nos estudos aqui comparados,
Para determinar a LTE das fissu-
sem o carregamento, ou seja, à mesma
descritos anteriormente por Salles e
ras, a maneira mais simples e mais
distância da fissura, sendo considera-
Balbo (2014) e Colim et al. (2011), a
corriqueiramente utilizada é a relação
das deflexões em simetria. O cálculo é
configuração de sensores do equipa-
entre deflexões antes e depois da fis-
realizado através da Equação 1.
mento utilizado era de 0, 20, 30, 45, 60, 90 e 120 cm, sendo o prato de aplicação de carga com diâmetro de 30 cm posicionado no primeiro sensor, decidiu-se utilizar as deflexões medidas pelo sensor nos pontos 0 e 30, conforme mostra a Figura 10. A carga estipulada previamente foi de 60 kN em função da necessidade de um melhor detalhamento das leituras de deflexões, o que uma carga menor poderia não fornecer visto a elevada rigidez de um pavimento de concreto com altas taxas de armadura. O PCS experimental descrito por Colim et al. (2011) é composto de
u Figura 10 Posicionamento do equipamento para medir a LTE da fissura/junta
15 placas em uma área de estacionamento bastante próxima à pista experimental de PCCA. São placas com CONCRETO & Construções | 107
u Tabela 3 – Seções de pavimento de concreto simples na USP Seção
A
B
C
D
E
Placa
Comp. (m)
Esp. (mm)
Base
Esp. da base (mm)
A1
4
150
GRA
200
A2
5.5
150
GRA
200
A3
7.5
150
GRA
200
B1
4
150
CCR
200
B2
5.5
150
CCR
200
B3
7.5
150
CCR
200
C1
4
250
CCR
100
C2
5.5
250
CCR
100
C3
7.5
250
CCR
100
D1
4
250
GRA
100
D2
5.5
250
GRA
100
D3
7.5
250
GRA
100
E1
5.5
250
GRA
100
E2
5.5
250
GRA
100
E3
5.5
250
GRA
100
Barras
Em ambas as juntas
Somente nas placas E1 e E2
espessura de 150 e 250 mm sobre
res de LTE acima de 90%, ou seja, al-
namento das barras de transferência,
bases granulares ou de concreto com-
tamente satisfatórios. Nas juntas com
tão comuns no segundo, são evitados
pactado com rolo (CCR). Somente uma
barras de transferência do PCS, os va-
no primeiro.
das placas não apresenta barras de
lores também são altos, porém algu-
transferência nas juntas. A tabela 3 traz
mas juntas (B1, B3 e C3) apresentam
5. CONCLUSÕES
a descrição das seções.
valores abaixo de 90%, o que pode ser
Neste artigo foi apresentado o pa-
um indicativo de problema construtivo
vimento de concreto continuamente
leve. Nas juntas sem barras de transfe-
armado (PCCA) com destaque ao reco-
4.1 Resultados de LTE
rência, o LTE foi baixo justamente por-
nhecido sucesso internacional da estru-
Na Figura 11, são apresentados
que nesses pontos a transferência de
tura devido a sua elevada durabilidade
os valores individuais de LTE para as
carga dá-se somente por intertrava-
e baixa necessidade de manutenção.
fissuras do PCCA (numeradas con-
mento de agregados. A superioridade
Os detalhes construtivos de quatro se-
forme a Figura 6) e para as juntas do
das fissuras do PCCA está no conceito
ções experimentais de curta extensão
PCS. Nos PCA foram coletados dados
de que nesta estrutura a transferência
mostram que a ausência de juntas de
em junho de 2006 e março de 2007
de carga também ocorre unicamente
retração facilita o processo de execu-
contemplando estações climáticas di-
por intertravamento de agregados; a
ção desse pavimento e o torna menos
ferentes. Nota-se um pequeno aumen-
armadura longitudinal somente man-
suscetível a erros de projetos típicos do
to da LTE média quando as tempera-
tém as fissuras apertadas. Portanto,
pavimento de concreto simples (PCS).
turas estão mais quentes, resultado da
mesmo sem barras de transferência
A análise do padrão de fissuração
expansão natural do concreto, que au-
e no inverno, onde as fissuras ficam
do PCCA de curta extensão mostra
menta o contato entre agregados faci-
mais abertas, o PCCA apresenta va-
que a falta de ancoragem, aliada à ri-
litando a transferência de carga. Para o
lores de LTE maiores que 90%. Além
gidez da base e à presença de uma
PCCA, somente foram obtidos dados
disso, devido ao processo construtivo
elevada taxa de armadura, faz com
de julho de 2013. Como visto, todas
do PCCA ser mais homogêneo do que
que nem todas as fissuras fiquem apa-
as fissuras do PCCA apresentam valo-
no PCS, erros localizados no posicio-
rentes na superfície da placa. Como
108 | CONCRETO & Construções
F4.7 F4.6 F4.5 F4.4 F4.3 F4.2 F4.1 F3.10 F3.9 F3.8 F3.7 F3.6 F3.5 F3.4 F3.3 F3.2 F3.1 F2.2 F2.1 A1 B1 C1 D1 E1 A3 B3 C3 D3 E3
98 96 94 92 90 88 86 84 82 80 78 76 74 72 70
PCCA
PCS Inverno
Verão
u Figura 11 Comparação de LTE em juntas e fissuras resultado disso, o espaçamento entre
vamente, foram analisados dados de
fissuras é muito maior do que aquele
LTE de um PCS experimental localiza-
comumente encontrado em referên-
do nas proximidades do PCCA. O efei-
cias internacionais. Porém, apesar das
to da expansão natural do concreto
Os autores são gratos à Fundação
diferenças no número de fissuras, o
faz com que haja mais contato entre
de Apoio à Pesquisa do Estado de São
principal parâmetro de avaliação do
os agregados na junta, favorecendo a
Paulo (FAPESP) pelo suporte forneci-
PCCA – a abertura de fissuras – apre-
transferência de carga em dias quen-
do ao estudo por meio do processo #
senta valores mínimos condizentes
tes. A comparação de valores mostra
98/11629-5, ao Prof. Dr. Antonio Marcos
com exemplos de pavimentos com
que, apesar das fissuras do PCCA não
de Aguirra Massola, da EPUSP (Prefeito
ótimo desempenho.
apresentarem barras de transferência,
do Campus USP, Campus da Capital do
Testes com FWD nas fissuras per-
a LTE é maior do que nas juntas dos
Estado de São Paulo entre 2008 e 2010,
mitiram o cálculo da transferência de
PCS com esses elementos. Além
responsável pelo projeto de implantação
carga entre fissuras (LTE). Os resulta-
disso, a uniformidade de valores da
dos pavimentos experimentais) e a CA-
dos apontam uma LTE bastante eleva-
LTE comprova a superioridade cons-
PES (Ministério de Educação) pela bolsa
da para todas as fissuras. Comparati-
trutiva do PCCA em relação ao po-
concedida ao primeiro autor.
tencial de erros em juntas do PCS.
6. AGRADECIMENTOS
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] BALBO, J. T. (2009). Pavimentos de concreto. Oficina de Textos, São Paulo. [02] COLIM, G. M.; BALBO J. T.; KHAZANOVICH, L. (2011) Effects of temperature changes on load transfer in plain concrete pavement joints. Ibracon Structures and Materials Journal, Vol. 4, p. 405-437. [03] SALLES, L. S.; BALBO, J. T. (2014) Experimental short continuously reinforced concrete pavement: crack pattern and load transfer efficiency across cracks. Anais do 12th International Symposium on Concrete Roads, EUPAVE, Praga. [04] TAYABJI, S. D. (2012) Continuously reinforced concrete pavement performance and best practices. TechBrief. FHWA-HIF-12-039. [05] TAYABJI, S. D.; STEPHANOS, P. J.; VEDEREY, J. R; GAGNON, J. S.; ZOLLINGER, D. G. (1998) Performance of Continuously Reinforced Concrete Pavement. Volume I, II and III: Field Investigations of CRC Pavements. FHWA-RD-94-149, FHWA, U.S. Department of Transportation.
CONCRETO & Construções | 109
u pesquisa e desenvolvimento
Grau de saturação nos modelos de durabilidade do concreto armado para ataque por cloretos ANDRÉ T. C. GUIMARÃES – Professor-Doutor JORGE L. S. BANDEIRA – Mestrando Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
JESUS M. B. CAMACHO – Professor-Doutor Universidad Autónoma de Sinaloa – México
to, por ser aproximadamente o teor
ção RC, RT, RGS, RSC, respectivamente,
s modelos deterministas
de despassivação do aço no interior
a partir de coeficientes de difusão ob-
de penetração de agentes
do concreto) depende da concen-
tidos em laboratório executados com
agressivos
concreto
tração de cloretos na superfície da
cimento Portland comum e com GS
normalmente levam em consideração a
estrutura, da temperatura, do tem-
de 100%:
segunda lei de Fick.
po de exposição e do coeficiente de
1. INTRODUÇÃO
O
no
CcCl - C O x = erfc C Seq - C O 2 D.t
difusão do concreto. Por sua vez, o
[1]
Sendo: CcCl: concentração de cloretos na profundidade x, no tempo t;
Dconst.Cl- (ef) = Dconst.Cl- (lab.). RC.RT.RGS.RSC
[2]
coeficiente de difusão do concreto depende das características do con-
Sendo:
creto e do meio ambiente em que
Dconst.Cl- (ef) : coeficiente de difusão consi-
está inserido.
derando as condições de exposição no
GUIMARÃES e HELENE (2000),
micro- ambiente;
CO: concentração inicial de cloretos no
CLIMENT et al. (2002) e NIELSEN e
Dconst.Cl-
interior do concreto do componente
GEIKER (2003) demonstraram que o
obtido em laboratório na condição
estrutural;
grau de saturação do concreto (GS)
de concreto saturado (GS =100%),
CSeq: concentração de cloretos na su-
tem grande influência na difusão
executado com cimento Portland
perfície do componente estrutural de
de cloreto.
comum;
(lab.)
: coeficiente de difusão
RODRIGUES
RC : coeficiente relacionado ao cimento;
D: coeficiente de difusão, admitido
(2010), ao estimar o coeficiente do
RT : coeficiente relacionado à temperatura;
constante;
concreto, considera a influência do
RGS: coeficiente relacionado ao GS;
erfc(z): função complementar de erro
tipo de cimento, da temperatura mé-
RSC: coeficiente relacionado à superfície.
de Gauss.
dia por estação do ano, do GS e da
Este trabalho tem o objetivo de
Na equação 1 a profundidade de
posição da superfície de ataque em
mostrar os avanços obtidos em pes-
penetração de teor de cloretos (nor-
relação à superfície de concretagem
quisas realizadas até a presente data
malmente considerado ao redor de
sobre o coeficiente de difusão do clo-
sobre a influência do GS na vida útil
0,4% em relação à massa de cimen-
reto, aplicando coeficientes de redu-
de projeto.
concreto, admitida constante;
110 | CONCRETO & Construções
GUIMARÃES
e
1,4E-11 1E-11
D/Dmax
D - m2/s
1,2E-11 8E-12 6E-12 4E-12 2E-12 0 40,0
60,0
80,0
100,0
1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 40,0
Traço/a/c H1/0,54 H2/0,45 H3/0,63 P1/0,54 P2/0,45 P3/0,63
60,0
80,0
100,0
GS - %
GS - %
u Figura 1 Variação do coeficiente de difusão em relação ao GS de concretos executados com cimento de alta resistência inicial com adição de fábrica de 12% de cinza volante, com abatimento de 10±1 cm – H (RODRIGUES e GUIMARÃES, 2008) e com cimento pozolânico - P (GUIMARÃES e HELENE, 2007) Os corpos de prova não saturados são
O melhor desempenho do concreto
mantidos em sacos plásticos (no míni-
executado com cimento pozolânico em
mo 2) com massa relativa à umidade
relação ao cimento ARI, conforme Fig. 1,
do GS desejado, sendo o excesso de
é confirmado pelo ensaio de distribuição
ar retirado e os sacos plásticos lacra-
de poros por intrusão de mercúrio (PIM),
dos. Após aproximadamente 30 dias,
apresentado na Fig. 2. Os concretos exe-
os corpos de prova são contaminados
cutados com cimento pozolânico apre-
GUIMARÃES e HELENE (2007) mos-
no topo com cloreto de sódio finamente
sentam um refinamento de poros, obten-
tram a influência do GS na difusão de
moído e novamente armazenados até
do valores de percentual de poros mais
cloretos em diversos traços de concreto
as idades de desgaste para obtenção
interligados (D > Dcrit) bem inferiores aos
com cimento pozolânico. RODRIGUES
do perfil de cloretos.
concretos executados com cimento ARI.
2. MODELOS DE INFLUÊNCIA DO GS NA DIFUSÃO DE CLORETOS
2.1 Cimento Portland pozolânico e cimento de alta resistência inicial
e GUIMARÃES (2008) utilizam concreto com cimento de alta resistência inicial – ARI, com adição de fábrica de 12% de cinza volante, e apresentam modelo da variação de D/Dmáx em função do GS (Fig. 1), sendo D o coeficiente de difusão para um GS e Dmáx o maior valor de coeficiente de difusão do concreto. GUIMARÃES e HELENE (2007) utilizam corpos de prova de argamassa peneirada do concreto de aproximadamente 30 mm de diâmetro e 45 mm de altura e tempo de cura de 6 meses no mínimo. Os corpos de prova saturados são mantidos parcialmente submersos em recipiente hermeticamente fechado.
100%
100%
80%
80%
60%
60%
40%
40%
50<diam<Dcrit
20%
20%
diam>Dcrit
0%
P1
P2
P3
GUIMARÃES e HELENE (2007)
0%
diam<50
H1
H2
H3
RODRIGUES e GUIMARÃES (2008)
u Figura 2 Distribuição de poros conforme ensaio de porosimetria por intrusão de mercúrio – diâmetro crítico (Dcrit) de 106 nm, 110 nm e 110 nm, respectivamente, para P1, P2 e P3(GUIMARÃES e HELENE, 2007); e 141 nm 119 nm e 163 nm, respectivamente, para H1, H2 e H3 (RODRIGUES e GUIMARÃES, 2008)
CONCRETO & Construções | 111
1.6E-11
D = 1.483 .10- 15 . SD 2 - 2.420 .10- 14 . SD - 5.486 .10- 13
1.4E-11
r = 0.964
2
D [m /s]
1.2E-11
corpos de prova de 70 x 100 x 100 mm3
1.0E-11
de argamassa executada com cimento
8.0E-12
de alta resistência inicial e curados por
6.0E-12
6 meses. A contaminação dos corpos
4.0E-12
de prova, após estabilização do GS, é
2.0E-12
obtida por imersão em solução de 26%
0.0E+00 20
40
60
80
100
120
Saturation degree [%] H-25
de NaCl por duas horas e secos com secador de cabelo, sendo novamente armazenados por 60 dias, quando são
H1
obtidos os perfis de cloretos. Os corpos de prova saturados são de 60 x
u Figura 3 Comparação entre coeficientes de difusão para o concreto H1 e de CLIMENT et al. (2002), para concreto H25 (GUIMARÃES e RODRIGUES, 2010)
100 x 100 mm3, os quais são mantidos em uma solução de 3% de NaCl por 30 dias, quando são desgastados para obtenção dos perfis de cloreto.
perfis de cloretos.
2.2 Comparação com resultados de CLIMENT et al. (2002)
Na Fig. 4 são comparados os re-
GUIMARÃES e RODRIGUES (2010)
sultados de concretos similares de
comparam valores de coeficiente de di-
RODRIGUES e GUIMARÃES (2008) e
CLIMENT et al. (2002) utiliza corpos
fusão em função do GS para o concreto
NIELSEN e GEIKER (2003). Os resulta-
de prova de concreto de 100 mm de
H1 e valores obtidos por CLIMENT et al.
dos são muito próximos, sendo os mé-
diâmetro e 200 mm de altura., sendo
(2002) para concreto similar (H-25) (Fig.
todos de ensaio diferentes.
curados por aproximadamente 6 me-
3). Embora os métodos utilizados apre-
ses. Os corpos de prova são mantidos
sentem significativas diferenças, a curva
em câmaras com umidade relativa con-
ajustada apresenta boa correlação.
2.4 Comparação com resultados de BANDEIRA et al. (2014)
trolada para obtenção do GS desejado e a contaminação do topo é feita em câmara de queima de PVC. Após tem-
2.3 Comparação com resultados de NIELSEN e GEIKER (2003)
pos pré-determinados, os corpos de prova são desgastados e obtidos os
BANDEIRA et al. (2014) realizam ensaios seguindo o método de GUIMARÃES e HELENE (2007), utilizando
NIELSEN e GEIKER (2003) utilizam
corpos de prova de aproximadamente 100 mm de diâmetro e 50 mm de altura. Utilizam concretos denominados
1,60E-11
M1, M2 e M3, todos executados com
1,40E-11
cimento espanhol ARI, sendo M2 e M3
D - m2/s
1,20E-11
com adição, conforme Tab. 1.
1,00E-11
H1
8,00E-12
NIELSEN
6,00E-12
A Fig. 5 apresenta a comparação dos resultados de BANDEIRA et al. (2014) com concreto H2 de RODRI-
4,00E-12
GUES e GUIMARÃES (2008) e P2 de
2,00E-12
GUIMARÃES e HELENE (2007), aqui
0,00E+00 40
50
60
70
80
90
100
GS - %
denominado T2, ambos com relação a/c de 0,45, sendo H2 executado com cimento ARI e P2 com cimento
u Figura 4 Comparação entre coeficientes de difusão para o concreto H1 (RODRIGUES e GUIMARÃES, 2008) e de NIELSEN GEIKER (2003), ambos com cimento ARI e traços similares
112 | CONCRETO & Construções
CP IV – 32. O concreto H2, executado com cimento ARI com resistência de 48 MPa e 12% de cinza volante apresenta
30,00
D (10-6. mm2/s)
25,00 M1
20,00
M2
a/c, maior o GS. Possivelmente isso se deve ao refinamento dos poros, retendo a umidade no interior do concreto
15,00
M3
10,00
H2
Concretos expostos a uma distância
T2
maior da água do mar apresentam GS
5,00 0,00
por mais tempo.
menores, como pode ser observado na Figura 8, comparando os testemunhos
0
20
40
60
80
100
120
GS (%)
PS expostos no pavilhão do TECON (Fig. 7d) e Rack-Poz-L, que apresentam características similares e foram executados com cimento pozolânico CP
u Figura 5 Coeficiente de difusão em função do GS e tipo de cimento (BANDEIRA et al.; 2014)
IV - 32. Os testemunhos PS expostos no paramento do cais, junto ao ponto de extração (Fig. 7a), apresentaram GS
desempenho aproximado ao concreto
ambiente. O mesmo observaram RO-
menores que testemunhos PS expos-
M3, com cimento ARI com 52,5 MPa de
DRIGUES e GUIMARÃES (2008) para
tos no pavilhão, possivelmente devido à
resistência e com adição de 20% de es-
concretos utilizando o mesmo aglome-
grande movimentação de navios, fican-
cória de alto forno. O concreto M1, com
rante, ou seja, quanto menor a relação
do os testemunhos confinados junto ao
cimento ARI, mesmo com relação a/c de 0,40, apresentou desempenho bem inferior aos demais concretos. Já o M2,
u Tabela 1 – Dosagem dos concretos utilizados no estudo experimental BANDEIRA et al. (2014)
com 10% de micros-sílica, aproximou-se em desempenho do concreto T2,
M1
M2
M3
CP
CPHS
CPEAH
Kg/m³
400
320
320
Sílica Ativa (10% e K=2)
Kg/m³
0
40
0
Escória de alto forno (20% e K=1)
Kg/m³
0
0
80
SP (%) * superplastificante
%
1,5
1,5
1,1
Fator água/cimento**
–
0,40
0,45
0,45
Materiais
Unidade
sempenho inferior para graus de satura-
Cimento CEM I 52,5 R (UNE-EM 197-1, 2000)
ção abaixo de aproximadamente 90%.
com cimento CP IV – 32, sendo seu de-
3. MEDIÇÕES DE GS GUIMARÃES e HELENE (2007) apresentam método para medição do
(*) % referente ao peso do material cimentício; (**) M1=a/c, M2 e M3= a/(c+KF), onde F=adição.
GS do concreto por gravimetria (Fig. 6a), sendo utilizado para monitoramento de testemunhos de concreto para pesquisa (testemunhos em rack) (Fig. 6b) ou para monitoramento de estruturas existentes (Fig. 7). A Fig. 8 apresenta alguns valores de GS (GUIMARÃES e RODRIGUES, 2010). Observa-se que concretos de melhor qualidade apresentam GS maiores
a
b
em relação a concretos mais pobres, quando se compara concreto executado com cimento pozolânico com concreto executado com cimento ARI de mesmo traço (Fig. 8), para um mesmo
u Figura 6 a) Medição de GS por Gravimetria, b) exposição de testemunhos em rack a 1.200 m de distância da água do mar, no extremo sul do Brasil (GUIMARÃES e HELENE, 2007)
CONCRETO & Construções | 113
cais e, portanto, parcialmente protegidos de intempérie.
4. ESTUDOS DE CASO A seguir são apresentados resultados de estudos de caso onde foram obtidos perfis de cloretos em estruturas em uso com idade superior a 20 anos. Foram comparados os perfis medidos na idade da extração das amostras com os resultados do modelo determinístico baseado na segunda lei de Fick não considerando o GS e considerando o GS. A Figura 9 apresenta valores de coeficiente de penetração de íons cloreto (k), conforme equação 3, para o ponto PS – TECON (GUIMARÃES e RODRI-
u Figura 7 Medição de GS no extremo sul do Brasil: a) Cais do Terminal de Conteiners - TECON- pontos PS e PI – cimento CP IV-32, b) Cais do TECON – pontos ES e EI – cimento CP IV-25, c) Torre de telecomunicações – medição a 40 m de altura e à 500 m do mar – cimento Portland comum, d) Testemunhos do ponto PS expostos em pavilhão no TECON, ponto a 10 m de altura e à 120 m do mar (GUIMARÃES e RODRIGUES, 2010)
GUES, 2010), relativo à viga de paramento de cais marítimo no extremo sul
cais, relativo a estacas prancha (Fig.
o GS, foi de 150% e, considerando o
do Brasil (Fig. 7a). O concreto desta
7b), o erro não considerando o GS e
GS, este erro baixa para 61%. Para os
estrutura foi executado com cimento
considerando o GS foram de 141% e
pontos ES e EI, os erros considerando
pozolânico.
45%, respectivamente. Para o ponto
o GS ainda são altos, embora tenha
EI (Fig. 7b), o erro, não considerando
reduzido muito em relação ao modelo
c = k(t)1/2
[3] 90
c: profundidade de ataque - mm; k: coeficiente de penetração do cloreto
80
– mm.ano-1/2; Conforme equação 3, k é proporcional a profundidade de ataque, sendo kmedido obtido diretamente no perfil de cloretos obtido na estrutura (Figura 9a) e Kestimado, considerando ou não o GS, obtido através das equações 1, 2
ES
Grau de Saturação - %
t: tempo de ataque – ano.
PS EI
70
Pavilhão Torre
60
Rack-Poz-L Rack-Poz-b
50
Rack-Poz-i Rack-ARI-L Rack-ARI-b
40
e 3, sendo Dconst.Cl- (lab.) o coeficiente de difusão para concreto saturado (HELENE;1994) (Figs. 9b, 9c e 9d). Observa-se que o modelo apresenta um erro de 128% quando não
Rack-ARI-i
30 verão
outono
inverno
primavera
*L – testemunho com superfície lateral, em relação à superfície de concretagem, exposta para o sul; b – testemunho com superfície exposta para baixo (ambiente aberto protegido de intempérie; i – testemunho exposto ao ambiente de laboratório (interno).
considerado o GS (Fig. 9d) e que este erro cai para 3,6% quando considerado o GS (Fig. 9b), em relação ao valor obtido no perfil medido aos 22 anos (Fig. 9a). Para o ponto ES do mesmo 114 | CONCRETO & Construções
u Figura 8 Valores de GS para os pontos PS, ES, EI; testemunhos de PS expostos no pavilhão do TECON; Torre; rack para o traço P1(Poz) e para o traço H1(ARI) (GUIMARÃES e RODRIGUES, 2010)
16,00
14,81
14,00 12,00
não considerando o GS, provavelmente porque as estacas pranchas foram executadas com cimento CP IV – 25 e os modelos da influência do GS sobre a difusão de cloretos foram realizados com concretos executados com ci-
10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00
5,57
5,77 1,000
a
mento CP IV – 32.
em ambiente marítimo (Fig. 7c), o erro não considerando o GS foi de 106%, diminuindo para 17% quando considerado o GS. Observa-se uma grande influência do GS na difusão de cloretos no con-
2,659 1,036 b
c
K(mm.ano-1/2)
Para um ponto situado a 40 m de altura da Torre de telecomunicações
12,74
2,287 d
K/Kmedido
u Figura 9 Coeficiente de penetração de íons cloretos – K(mm.ano-1/2) – Ponto PS a) Medido aos 22 anos: obtido através da curva teórica por regressão; b) Modelo: considerando o modelo com os fatores (fck – variação da resistência; Cimento – tipo de cimento; T – variação da temperatura; GS – variação do Grau de saturação; SE – posição da superfície exposta em relação à superfície de concretagem); c) Não considerando SE e GS; d) Não considerando somente GS (GUIMARÃES e RODRIGU ES, 2010)
creto, sendo, portanto, muito importante a sua consideração nos modelos de
derado constante, devido aos métodos
em relação a concretos inferiores,
vida útil.
de ensaios desenvolvidos.
quando expostos a um mesmo am-
Considerando os materiais e con-
biente.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
cretos utilizados nesta pesquisa, o
Concretos de melhor qualidade,
Mesmo utilizando métodos diferen-
cimento pozolânico apresentou co-
como os executados com cimento po-
tes, as pesquisas de GUIMARÃES e
eficientes de difusão mais baixos em
zolânico, têm o coeficiente de difusão
HELENE (2007), CLIMENT et al. (2002)
relação aos cimentos ARI, mesmo
significativamente reduzido entre 100%
e NIELSEN e GEIKER (2003) obtiveram
considerando a maior resistência do
e 90% de GS. Os piores, com cimen-
resultados muito próximos consideran-
Cimento ARI. O concreto executado
to ARI, podem ter seu coeficiente de
do cimentos similares, sendo que, nas
com cimento ARI com 10% de micros-
difusão
duas últimas pesquisas foram utilizadas
sílica foi que mais se aproximou em
para valores de GS menores que 75%,
as equações de Fick, considerando a
desempenho do concreto executado
como o concreto H3.
massa total que sofre difusão como
com cimento pozolânico de mesma
uma constante, enquanto na primeira
relação a/c.
pesquisa, o valor do teor de cloretos na
Concretos de melhor qualidade
superfície do concreto é que foi consi-
apresentam grau de saturação maior
diminuído
significativamente
Devido à influência do GS no coeficiente de difusão do concreto, considera-se muito importante considerar este fator nos modelos de vida útil.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] GUIMARÃES, A.T.C.; HELENE, P.R.L. The moisture effect on the diffusion of chloride ion in hydrated cement paste. In: Marine Corrosion in Tropical Environments, ASTM STP 1399, S.W. Dean, G. Hernandez-Duque Delgasillo, and J.B. Bushman, Eds. American Society for Testing and Materials, West Conshohocken, PA, 2000. [02] CLIMENT, M. A.; VERA, G.; LÓPEZ, J. F.; VIQUEIRA, E.; Andrade, C. A test method for measuring chloride diffusion coefficients through nonsaturated concrete – Part I: The instantaneous plane source diffusion case. Cement and concrete Research, v 32, p. 1113-1123, 2002. [03] NIELSEN, P. E.; GEIKER, M. R. Chloride diffusion in partially cementitious material. Cement and Concrete Research, v33, p. 133-138, 2003. [04] GUIMARÃES, A.T.C.; RODRIGUES, F.T. Influência do grau de saturação na difusão de cloretos no concreto: visão geral de sua importância na estimativa de vida útil. Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.15, p.11-18, 2010. [05] GUIMARÃES, A.T.C.; HELENE, P.R.L. Models of variation of chloride ion diffusion as a function of changes in the saturation degree (SD) of concrete mixes prepared with pozzolanic cement. Integral Service Life Modelling of Concrete Structures - RILEM Workshop TC-MAI,- Guimarães, p. 63-70, 2007. [06] RODRIGUES, F.T.; GUIMARÃES, A.T.C. Influência do grau de saturação na difusão de cloretos para concreto executado com cimento ARI-RS. 50º Congresso Brasileiro do Concreto, Salvador, 2008. CD. [07] BANDEIRA, J.L.S.; CAMACHO, J.M.B; GUIMARÃES, A.T.C. Influência do grau de saturação na penetração de cloretos em concretos executados com cimento de alta resistência inicial - Iº Encontro Luso-Brasileiro de Degradação em Estruturas de Concreto Armado, Salvador, 2014. [08] HELENE, P. R. L. Contribuição à normalização: A resistência sob carga mantida e a idade de estimativa da resistência característica; Durabilidade e vida útil das estruturas de concreto armado. São Paulo, 1994. (Monografias. EPUS).
CONCRETO & Construções | 115
u pesquisa e desenvolvimento
Resistência ao ataque por cloretos em concreto com cinza do bagaço da cana de açúcar ROMEL DIAS VANDERLEI – Professor doutor e Coordenador HUGO SEFRIAN PEINADO – Engenheiro Civil, Mestre e Pesquisador MARISA FUJIKO NAGANO – Engenheiro Civil, Mestre e Pesquisadora Grupo de Desenvolvimento e Análise do Concreto Estrutural da Universidade Estadual de Maringá
cesso de cogeração de energia libere di-
gado à cinza do bagaço da cana de
Brasil é o maior produtor
óxido de carbono (CO2) para a atmosfera,
açúcar, uma vez que a CBC não possui
de cana de açúcar no mun-
a quantidade de emissões é significativa-
características fertilizantes.
do e também o principal
mente menor, comparada com outras
Dependendo das condições de
exportador de seus derivados (etanol e
fontes de energia como o petróleo, em
queima do bagaço, podem ser geradas
açúcar). A Política Nacional de Biocom-
função da produção da mesma quanti-
CBC com atividade pozolânica (estado
bustíveis assegura ao setor a expec-
dade de energia, o que acaba por cor-
amorfo) ou não (estado cristalino). As
tativa de grande desenvolvimento por
roborar estudos relacionados à produção
CBC no estado amorfo podem ser uti-
meio do incentivo à participação dos
de energia com processos alternativos
lizadas como materiais pozolânicos e
biocombustíveis na matriz de combus-
e também estudos que abordem sobre
substituir parte do cimento, enquanto
tíveis brasileira, por serem resultantes
possíveis aplicações técnicas com valor
que as CBC no estado cristalino são
de fontes renováveis e, também, por
agregado para os resíduos oriundos de
inertes e podem ser utilizadas como fíler
trazerem contribuições econômicas,
tais atividades.
na produção de concretos.
1 INTRODUÇÃO
O
A geração da cinza do bagaço de
Assim, no estudo da cinza do baga-
Assim como o vinhoto, torta de fil-
cana de açúcar (CBC) ocorre na quei-
ço da cana de açúcar, além do desen-
tração, palha, levedura, dentre outros, o
ma do bagaço nas caldeiras durante
volvimento da tecnologia de agregados
bagaço da cana de açúcar é um subpro-
o processo de cogeração de energia,
alternativos para a indústria do concre-
duto das agroindústrias sucroalcooleiras.
sendo essa uma fase complementar do
to e de substituintes parciais para o ci-
Estima-se que toda energia necessária
aproveitamento do bagaço de cana de
mento, valoriza-se também a utilização
para o funcionamento do processo da
açúcar no processo de obtenção do
de um subproduto agroindustrial gera-
usina (mecânico, elétrico, acionamento
açúcar e álcool (FREITAS, 2005).
do nas usinas sucroalcooleiras, agre-
sociais e ambientais (BESSA, 2011).
das bombas, moendas e para o proces-
Após o processo de queima do
so de destilação e concentração do cal-
bagaço da cana de açúcar, o principal
do) pode ser abastecido pelo sistema de
destino para a CBC são os depósitos
cogeração de energia usando somente
junto ao local de saída, de onde serão
o bagaço de cana queimado nas caldei-
removidas por caminhões tendo como
ras como fonte energética, o que pode
destino a disposição em lavouras. No
tornar a usina energeticamente autossu-
entanto, conforme destacam Paula
Um concreto durável, conforme
ficiente (FREITAS, 2005). Ainda, Freitas
(2006) e Altoé (2013), esta aplicação
destacam Mehta e Monteiro (2008),
(2005) destaca que, mesmo que o pro-
é inadequada e não atribui valor agre-
deverá preservar sua forma, qualidade
116 | CONCRETO & Construções
gando novos valores há um subproduto que é descartado em lavouras.
1.1 Resistência do concreto ao ataque por cloretos
u Tabela 1 – Composição do concreto para os diversos teores de substituição % CBC
Cimento
Areia
CBC
Brita
e capacidade de usos originais quando
0
1,000
2,120
0,000
2,880
submetido aos ambientes para o qual
5
1,000
2,014
0,106
2,880
foi projetado. De acordo com a ACI
10
1,000
1,908
0,212
2,880
201.2R – Guide to Durable Concrete
15
1,000
1,802
0,318
2,880
(2008), a durabilidade do concreto de
20
1,000
1,696
0,424
2,880
cimento Portland é determinada por
25
1,000
1,590
0,530
2,880
sua capacidade de resistir à ação de
30
1,000
1,484
0,636
2,880
intempéries, ataques químicos (sulfatos
40
1,000
1,272
0,848
2,880
e cloretos, por exemplo), à abrasão ou
50
1,000
1,060
1,060
2,880
a qualquer outro tipo de deterioração. Aïtcin (2000) destaca que a expressão “durabilidade do concreto” caracteriza-
to formado apresenta maior resistên-
rística à compressão de 30 MPa, com
-se pela resistência deste material ao
cia ao ataque de agentes agressivos
traço unitário, em massa, de 1: 2,12:
ataque de agentes físicos e químicos.
físicos e químicos.
2,88 (cimento: areia: brita), sendo a rela-
Conforme
destaca
ção água/cimento definida pelo ensaio
Figueiredo
2. OBJETIVO
de Slump Test, segundo a ABNT NBR
de estruturas em concreto armado
O presente estudo se propôs a ava-
NM 67 - Concreto – Determinação da
frequentemente aborda a temática de
liar a resistência ao ataque por cloretos
consistência pelo abatimento do tronco
cloretos, ressaltando que esse é um
em paralelo à resistência à compressão
de cone (1998), para um abatimento de
dos maiores causadores de proble-
do concreto, com substituição parcial
50 ± 10mm.
mas relacionados à corrosão de arma-
da areia natural por CBC em percentu-
Foram moldados 6 CPs para cada
duras. Segundo o autor, são diversos
ais de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 40 e 50%.
um dos teores de substituição da areia
(2005), a literatura sobre durabilidade
pela CBC, conforme se observa na Ta-
os fatores que influenciam na veloci-
bela 1, sendo os teores de substituição
dos íons cloreto (até que atinjam a ar-
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
madura), sendo esses a composição,
Para a elaboração do presente es-
20, 25, 30, 40 e 50%. Empregaram-se
tipo e quantidade de cimento, a rela-
tudo, procedeu-se ao rompimento das
CPs cilíndricos (10x20cm) para avaliar
ção água/cimento, o adensamento e a
amostras para obtenção da resistência
a resistência ao ataque por cloretos (3
cura, dentre outros.
característica à compressão e à reali-
CPs por teor de substituição) e a resis-
Segundo Almeida e Sales (2014), a
zação do ensaio de penetração de clo-
tência característica à compressão (3
porosidade e a permeabilidade apre-
retos por aspersão de Nitrato de Pra-
CPs por teor de substituição).
sentam uma parcela relevante na faci-
ta (EPCANP), proposto pela AASHTO
Este ensaio consistiu basicamente
litação da penetração de cloretos no
T259 – Rapid determination of Chlo-
dos procedimentos a seguir descritos,
concreto. Segundo os autores, alguns
ride Permeability of Concrete – Stan-
de acordo com o método EPCANP da
estudos evidenciam que a incorpora-
dard Specification for Transportation of
AASHTO T259 (1980) e conforme tam-
ção de agregados mais finos ou adi-
Materials and Methods of Sampling and
bém se observa na Figura 3.
ções minerais levam à diminuição na
Testing (1980), que fornece o coeficien-
u Após o período de cura em câmara
distribuição do volume de poros na
te de difusão de cloretos do concreto
úmida de cada série, o CP cilíndrico
matriz cimentícia, podendo resultar na
a partir da profundidade de penetração
10x20cm correspondente foi corta-
redução significativa da penetração de
destes íons no corpo de prova (CP) ao
do com serra diamantada em duas
íons cloreto.
longo do tempo.
partes iguais, cada uma com as
dade de penetração e profundidade
de 0% (concreto sem CBC), 5, 10, 15,
medidas de 10x10cm (Figura 3 a);
Desse modo, estudos a respeito da
A dosagem de concreto utilizada
durabilidade de concretos com incor-
para execução dos CPs e posterior re-
u As superfícies superior e inferior dos
poração desses agregados mais finos
alização do rompimento e do ensaio de
CPs foram pintadas com 3 demãos
e adições minerais devem ser elabora-
penetração de cloretos foi desenvolvido
de verniz a base de poliuretano, no
dos, no intuito de verificar se o concre-
para que atingisse resistência caracte-
intuito de que apenas as laterais CONCRETO & Construções | 117
mar (19.380 ppm) (Figura 2), até que atingissem a idade dos ensaios (91 dias de imersão); u Na data de cada ensaio, os CPs
10x10cm foram retirados do tanque e rompidos diametralmente (Figura 3 a), resultando em duas amostras. Sobre a superfície de ruptura foi realizada aspersão de uma solução de AgNO3 (Nitrato de Prata). Desse
u Figura 1 Impermeabilização de topo e base de CPs com verniz
modo, as regiões do CP que contém uma concentração superior a
u Figura 2 Tanque com solução salina e CPs completamente imersos
0,15% de cloretos livres em relados CPs estivessem em contato
ção à massa do cimento, quando
à ferrugem, devido a formação do
com a solução de cloreto de sódio,
em contato com o nitrato de prata,
óxido de prata, conforme se obser-
conforme ilustra a Figura 1;
adquirem coloração esbranquiçada;
va na Figura 3c;
u Foram imersos os CPs em tanque
nos locais onde não há cloretos li-
u Com paquímetro de precisão foram
contendo solução salina com con-
vres (isenta de cloretos ou com clo-
realizadas as medidas da profundi-
centração de cloreto de sódio se-
retos combinados), a coloração é
dade de penetração dos íons clore-
melhante à encontrada na água do
marrom-avermelhada, semelhante
to, sendo a profundidade média de
b
a
c
u Figura 3 Metodologia do EPCANP – a) Procedimentos de Ensaio. b) Representação da face rompida do CP, demonstrando a região onde é medida a profundidade de penetração dos íons cloreto. c) Fotografia de um CP em que foi borrifada a solução de AgNO 3. A região mais clara (laterais) representa a parte do CP com cloretos livres (Saciloto (2005)
118 | CONCRETO & Construções
u Tabela 2 – Penetração média dos íons cloreto no concreto em função dos teores de substituição de areia por CBC e respectivas resistências características à compressão penetração da amostra calculada % CBC em substituição ao agregado miúdo
Penetração média de íons cloreto (mm)
Resistência à compressão aos 28 dias (sem imersão na solução de cloretos) (MPa)
0
30,60
28,72
5
28,66
28,48
cedimentos adotados pelo EPCANP,
10
26,15
29,77
com a aspersão de nitrato de prata nos
15
22,98
29,98
CPs rompidos diametralmente e com
20
19,91
30,60
o auxílio de um paquímetro digital para
25
23,45
29,75
tomada de cinco medidas de cada lado
30
24,03
27,42
de cada CP (referente à camada do
40
24,20
28,19
concreto em que houve contaminação
50
24,23
26,00
pela média de 10 leituras.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir dos rompimentos à compressão dos corpos de prova e dos pro-
por íons cloreto), os resultados médios houve substituição da areia por CBC.
ção de areia por CBC, na faixa entre 15 a
Com base nos resultados observa-
No que se refere à resistência à
25%, apresentou os menores resultados.
dos na Tabela 2, verifica-se que substi-
compressão dos CPs, observa-se que
Ressalta-se também que concretos
tuição de areia por CBC em 20% para o
as maiores resistências foram obser-
com teores de substituição de areia por
concreto utilizado na presente pesquisa
vadas na faixa de substituição de areia
CBC entre 10 e 25% apresentaram os
resultou na menor penetração de íons
por CBC entre 10 e 25%, sendo a
melhores resultados no que se refere à
cloreto nos CPs analisados, seguidos
substituição em 20% aquela que apre-
resistência à compressão.
dos percentuais de 15 e 25%. Ainda,
sentou maior resistência à compressão.
são observados na Tabela 2.
Acredita-se que esse aumento da resistência à compressão do concreto e a
vê-se que a partir dos teores de subs-
5. CONCLUSÕES
diminuição da espessura média de pene-
em 30%, a penetração média obtida
Os ensaios de penetração de cloretos
tração de cloretos na faixa de substitui-
de íons cloreto foi aproximadamente a
evidenciaram que concretos com subs-
ção entre 15 e 25% se dá em função do
mesma. Observa-se também que todas
tituição parcial de areia por CBC podem
melhor empacotamento dos agregados
as amostras de concreto com qualquer
apresentar maior resistência ao ataque
miúdos, tornando a microestrutura da
percentual de substituição apresentaram
por cloretos, uma vez que a espessura
argamassa menos permeável, aumen-
menor penetração média de íons cloreto
referente à penetração média por cloretos
tando a resistência à compressão e dimi-
que a amostra de concreto em que não
nos concretos analisados com substitui-
nuindo a penetração de cloretos.
tituição de areia por CBC no concreto
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] AÏTCIN, Pierre-Claude. Concreto de alto desempenho. Tradução: Geraldo G. Serra. 1. ed. São Paulo: PINI, 2000. [02] ALMEIDA, F.C.R; SALES, A. Efeitos da ação do meio ambiente sobre as estruturas de concreto. In: RIBEIRO, D.V. (Org.). Corrosão em Estruturas de Concreto Armado: Teoria, Controle e Métodos de Análise. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. P.51-73. [03] ALTOÉ, S.P.S. Estudo da potencialidade da utilização da mistura de cinza do bagaço de cana-de-açúcar e resíduos de pneus na confecção de concretos e pavers para pavimentação. 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2013. [04] BESSA, S. A. L. Utilização Da Cinza Do Bagaço Da Cana-De-Açúcar Como Agregado Miúdo Em Concretos Para Artefatos De Infraestrutura Urbana. 2011. Tese (Doutorado em Engenharia Urbana) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011. [05] FIGUEIREDO, E.P. Efeitos da Carbonatação e de Cloretos no Concreto. In: ISAIA, G.C. (Org.). Concreto. Ensino, Pesquisa e Realizações. São Paulo: IBRACON, 2005. vol. 2. p. 829-855. [06] FREITAS, E. S. Caracterização da cinza do bagaço da cana-de-açúcar do município de campos dos Goytacazes para uso na construção civil. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, 2005. [07] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. São Paulo: IBRACON, 2008. 674 p. [08] PAULA, M. O. Potencial da cinza do bagaço de cana-de-açúcar como material de substituição parcial de cimento Portland. 2006. 60f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2006. [09] SACILOTO, A.P. Comportamento frente à ação de cloretos de concretos compostos com adições minerais submetidos a diferentes períodos de cura. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005.
CONCRETO & Construções | 119
u pesquisa e desenvolvimento
Influência do teor de cloretos na resistividade elétrica do concreto como parâmetro de durabilidade LÍGIA VITÓRIA REAL – Mestre em Engenharia Civil MARCELO HENRIQUE FARIAS DE MEDEIROS – Professor Doutor Departamento de Construção Civil, Universidade Federal do Paraná
de do concreto, sem comprometer a
da pela aplicação de uma diferença
densidades
integridade física da estrutura (ME-
de potencial entre eletrodos posi-
brasileiras
DEIROS JR et al., 2014). A RES é
cionados sobre a superfície do con-
(acima de 100 habitan-
uma característica dos materiais em
creto. Dentre os métodos de ensaio
tes/km²) ocorrem em torno dos ei-
geral, sendo o inverso da conduti-
existentes, destaca-se o de Wenner
xos intensamente urbanizados e nas
vidade elétrica e indica a habilidade
ou dos quatro eletrodos. Original-
áreas litorâneas (IBGE, 2010). Isso
de transporte de cargas elétricas no
mente era utilizado para solos e mais
leva à urbanização e industrialização
material avaliado.
tarde foi adaptado para uso no con-
1. INTRODUÇÃO
A
s
maiores
demográficas
de uma região onde há forte agres-
A medida é realizada através da
creto. O ensaio consiste em colocar
sividade às estruturas de concreto
leitura de uma corrente elétrica gera-
quatro eletrodos em contato direto
(ABNT NBR 6118: 2014), tanto pelo processo de carbonatação quanto pelo ataque por cloretos. Atualmente, a resistência à compressão é utilizada como principal parâmetro de controle de qualidade do concreto (ABNT NBR 1265: 2006). Porém, nem sempre a avaliação da durabilidade com base nos resultados de resistência mecânica é adequada. Neste contexto, surge a necessidade de avaliar e quantificar parâmetros relacionados diretamente com a durabilidade do concreto armado. O ensaio de Resistividade Elétrica Superficial (RES) é não destrutivo e de fácil execução, que permite contínuo monitoramento da qualida120 | CONCRETO & Construções
u Figura 1 Esquema do ensaio de quatro pontos para medir resistividade (Adaptado de MEDEIROS, 2001)
com a superfície do concreto, úmi-
aquários (BROMMFIELD, 2007). Es-
da ou seca. O equipamento imprime
ses íons são encontrados na matriz
uma corrente entre os dois eletrodos
cimentícia de duas formas: livres
externos e, consequentemente, uma
(dissolvidos na água dos poros) ou
voltagem é captada pelos eletrodos
combinados com o C 3A e C 4AF (pro-
internos (IccET, 1989), como apre-
dutos da hidratação do cimento),
sentado na Figura 1.
u Tabela 1 – Probabilidade de corrosão conforme resistividade elétrica do concreto (CEB, 1989)
formando cloroferratos e cloroalumi-
Valores de resistividade elétrica (kΩ.cm)
Os resultados do ensaio de resis-
natos (sal de Friedel). Os realmente
<5
Muito alta
tividade elétrica podem ser compa-
nocivos às armaduras são os livres.
< 10
Alta
rados aos limites prescritos pelo Bo-
Esses íons cloreto livres destro-
< 20
Baixa
letim 192 do CEB (1989), indicando
em de forma localizada a película
> 20
Negligenciável
o risco de corrosão de uma estru-
passivante das armaduras do con-
tura de concreto armado (Tabela 1).
creto, provocando a corrosão por
ao comparar as resistividades elé-
Além disso, a resistividade elétri-
pite (em pontos localizados). Estes
tricas de concretos com e sem clo-
ca pode ser utilizada para controle
pontos formam o ânodo da pilha
retos. Entretanto, em 2006, Santos
de qualidade de pré-fabricados e
de corrosão e, devido à sua pro-
incorporou 0,4 e 1,0% de cloreto em
para modelagem da vida útil de es-
gressão em profundidade, podem
relação à massa de cimento e, após
truturas de concreto armado sujei-
até provocar a ruptura da barra de
7 dias, constatou uma redução de
tas à corrosão por penetração de
aço. No Brasil, a ABNT NBR 12655
28% na resistividade elétrica para o
íons cloreto.
(2014) limita o teor de cloretos so-
traço com adição de 0,4% de Cl - em
Alguns fatores podem influenciar
lúveis em água (cloretos livres) de
relação à mistura isenta de cloretos
o resultado da RES, tais como: a re-
acordo com a classe de agressivi-
e de 47% para a contaminação com
lação água/cimento, a porosidade
dade ambiental.
1% de Cl -.
Risco de corrosão
da pasta, a origem e dimensão dos
O efeito dos íons cloreto na resis-
Tendo em vista o exposto e a
agregados utilizados, a hidratação e
tividade elétrica do concreto ainda
falta de um consenso entre os pes-
tipo de cimento, a presença de adi-
é contraditório (LENCIONI, 2011).
quisadores, o objetivo deste artigo é
ções minerais, a geometria da peça,
Em 1982, Gjorv et al., apud Tuutti,
avaliar a influência do teor de clore-
a temperatura e a umidade do am-
afirmaram que a resistividade elé-
tos internos na resistividade elétrica
biente e a presença de íons cloreto
trica do concreto se reduz em 50%
superficial do concreto.
(LENCIONI, 2011).
quando o teor de CaCl 2 passa de 0
Os íons cloreto presentes no
a 4% em relação à massa de cimen-
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
concreto armado podem provir de
to (CASCUDO, 1997). De acordo
A fim de analisar a influência do
fontes internas ou externas, como,
com Brommfield (2007), a presença
teor de cloretos incorporados ao
por exemplo, do uso da água do
de cloretos não afeta fortemente a
concreto na resistividade elétrica
mar no concreto fresco, de agrega-
resistividade elétrica do concreto,
superficial, foram moldados corpos
dos contaminados ou do uso de adi-
pois, como já há uma abundância de
de prova com um traço padrão, que
tivos aceleradores de pega que con-
íons dissolvidos na água dos poros,
diferem entre si devido às concen-
tém cloreto de cálcio, amplamente
os cloretos não fariam diferença. No
trações de cloretos: 0 (referência),
utilizados até meados de 1970 (FI-
entanto, como podem ser higroscó-
1, 2, 3 e 4% de cloretos em relação
GUEIREDO; 1994). No concreto en-
picos, os íons cloreto são frequente-
à massa de cimento. Para isso, foi
durecido, os cloretos podem pene-
mente responsabilizados por reduzi-
adicionado cloreto de sódio (NaCl)
trar na estrutura pelo contato direto
rem a RES. Em concordância com
ao concreto fresco. Os traços estão
com a água do mar, pela presença
tal fato, Lencioni (2011) acrescentou
descritos na Tabela 2.
de maresia, pelos sais de degelo
ao concreto fresco 3% de cloretos
Para avaliar a resistência à com-
ou em estruturas que armazenem
em relação à massa de cimento e
pressão foram moldados 6 corpos
sal, como tanques de salmoura e
não encontrou variação significativa
de prova cilíndricos (10x20cm) por CONCRETO & Construções | 121
u Tabela 2 – Traços de concreto utilizados Traço
CP V - ARI (kg)
Areia média (kg)
Brita 1 (kg)
Água (kg)
NaCl (g)
Ccimento (kg/m³)
Slump (mm)
*0%
33,1
70,1
95,3
19,5
0,0
348
130±20
*1%
33,1
70,1
95,3
19,5
542,2
348
130±20
*2%
33,1
70,1
95,3
19,5
1084,5
348
130±20
*3%
33,1
70,1
95,3
19,5
1626,7
348
130±20
*4%
33,1
70,1
95,3
19,5
2168,9
348
130±20
* As porcentagens dos traços se referem à quantidade de cloretos em relação à massa de cimento.
dosagem, sendo rompidos 3 aos 28
25 cm (Figura 2), os quais foram
das por outros autores (LEOCINI,
dias e 3 aos 63 dias. Para mensu-
dimensionados com base nas re-
2011), a fim de simular um meio
rar a resistividade elétrica superfi-
comendações de Gowers e Millard
infinito que não influenciasse a RES
cial do concreto foram moldados 4
(1999) e Medeiros (2001). Dimen-
devido à geometria da peça. As lei-
corpos de prova cúbicos de aresta
sões semelhantes já foram adota-
turas foram realizadas aos 63 dias, com o Eletrodo de Wenner de espaçamento igual a 50 mm, em cada uma das faces do paralelepípedo, totalizando 24 resultados por concreto executado (Figura 3). A fim de não influenciar nas leituras de RES, não foram utilizados óleos ou ceras desmoldantes para as moldagens. As amostras foram desformadas com 24 horas de idade e submeti-
a
b
das à cura submersa saturada com cal por 7 dias e, em seguida, per-
u Figura 2 a) Formas dos corpos de prova cúbicos b) Corpos de prova moldados
maneceram em uma câmara úmida (a 23±2°C, umidade relativa acima de 90%) até o momento das rupturas e leituras. Assim, todas as medições de resistividade elétrica foram realizadas com o concreto saturado.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Como os traços unitários utilizados no programa experimental foram os mesmos (1: 2,12: 2,88: 0,59), variando apenas a concentração de cloretos, os concretos
u Figura 3 Leituras de resistividade elétrica do concreto
122 | CONCRETO & Construções
deveriam pertencer a mesma classe de resistência à compressão. Aos 28 dias, considerando os desvios
padrões propostos pela ABNT NBR 12655 (2006), os concretos utilizados puderam ser classificados como C30, segundo a ABNT NBR 8953 (2009). Observando os resultados de resistência à compressão aos 63 dias, pode-se dizer que houve um acréscimo de até 10% em relação aos resultados de 28 dias (Figura 4). Comparando
as
resistividades
elétricas superficiais obtidas para as amostras em estudo com os limites prescritos pelo Boletim 192 do CEB (1989) (Tabela 1), é possível observar que os concretos com 0, 1 e 2% de cloretos em relação à massa de
u Figura 4 Resultados de resistência à compressão dos traços moldados
cimento se encontram na faixa de baixo risco de corrosão, enquanto a
resultado de RES (teor de cloretos
ocorrido devido à formação de sal
dosagem com 4% está no intervalo
igual a 1%), o traço de 3% apresen-
de Friedel, que tende a se depositar
de alto risco. O traço referente aos
tou resistividade 27% inferior e o
nos grandes poros (>60mm), redu-
3% de cloretos encontra-se no limite
4% foi 44% menor. Ou seja, ao se
zindo-os e os tornando descontínu-
entre alto e baixo risco de corrosão
adicionar 1% de cloretos em relação
os e mais tortuosos, como também
(Figura 5). Apesar de alguns teores
à massa de cimento, a resistividade
defendem Wee et al. (2000). Além
de cloreto terem se apresentado com
elétrica superficial melhorou, entre-
disso, a formação de sal de Friedel
igual risco de corrosão, uma análise
tanto, a partir de 3% de adição, a
consiste em um processo de fixação
de variância (ANOVA), com 95% de
RES passou a se reduzir relação à
dos cloretos, ou seja, uma reação
confiabilidade permitiu concluir que
série de referência.
do Cl - com os aluminatos da pasta,
houve sim influência nos resultados
O fato de a resistividade elétrica
não os deixando livres para ficarem
de RES pela adição de cloretos ao
ter aumentado com a incorporação
na forma de íons dispersos na água
concreto fresco (Tabela 3).
de 1% de cloretos ao se comparar
de poro do concreto.
Também é possível observar na
com o traço de referência pode ter
Outro efeito dos cloretos no
Figura 5 que, ao se acrescentar 1% de cloretos à massa de cimento, a RES aumentou 12% em relação ao traço de referência. Porém, ao se acrescentar 2%, a resistividade diminui a um valor equivalente ao traço sem adição de cloretos, conforme indica a Comparação de Múltiplas Médias (Tabela 4). Para a quantias de 3 e 4% de cloretos, as resistividades elétricas superficiais continuam se reduzindo, sendo 18 e 37% inferiores às RES obtidas para o concreto de referência, respectivamente. Se comparadas ao melhor
u Figura 5 Resultados de resistividade elétrica aos 63 dias
CONCRETO & Construções | 123
sultados encontrados são contrários
u Tabela 3 – Análise de variância para resultados de RES aos 63 dias
à teoria proposta por Brommfield (2007) de que os íons cloreto redu-
Fonte de variação
Soma dos quadrados (SQ)
Grau de liberade (GDL)
Médias quadradas (MQ)
Teste F
F tab
% de cloretos
509
4
127
239,0
2,5
Erro (residual)
61
115
1
–
–
Total
570
119
–
–
–
Fcalculado = 239,0 > Ftabelado = 2,5 ⇒ Efeito da porcentagem de cloretos significativo.
u Tabela 4 – Comparação de múltiplas médias dos resultados de RES aos 63 dias Comparação entre as médias de RES
Consideração final
zem a RES por serem higroscópicos e aumentarem o teor de umidade do concreto. Desse modo, existiu uma influência dos íons cloretos e sua condutividade inerente. Com bases nos resultados obtidos neste estudo, é possível observar que há correlação entre a resistividade elétrica superficial e o teor de cloretos incorporado ao concreto, indicando que à medida que a porcentagem de cloreto aumenta,
yREF
- y1% =
1,50
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
yREF
- y2% =
0,12
< Ld = 0,45
Diferença não significativa entre as resistividades.
yREF
- y3% =
2,20
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
yREF
- y4% =
4,43
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
Porém, comparando a RES com
y1%
- y2% =
1,62
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
a resistência à compressão, o índi-
y1%
- y3% =
3,70
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
ce de regressão linear (R²) foi igual a
y1%
- y4% =
5,93
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
0,1066, indicando que houve baixa
y2%
- y3% =
2,08
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
correlação entre os dois parâmetros
y2%
- y4% =
4,31
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
(Figura 7). Ou seja, para este estu-
y3%
- y4% =
2,23
> Ld = 0,45
Diferença significativa entre as resistividades.
do, é possível dizer que não houve
a RES tende a diminuir. O índice de regressão linear foi igual a 74% (Figura 6).
relação entre a resistência à comconcreto é que haveria íons cloretos
to. Além disso, todas as medições
pressão e a resistividade elétrica do
não combinados que ficariam adsor-
de RES foram realizadas nos corpos
concreto. Esse resultado era espe-
vidos às camadas dos sais forma-
de prova saturados. Portanto, os re-
rado, já que a resistividade é uma
dos, também não contribuindo para a elevação da condutividade elétrica do sistema compósito de cimento Portland (BROMMFIELD, 2007). Entretanto, a partir da adição de 2% de cloretos, o sistema se saturaria em relação à fixação de cloretos e adsorção nas superfícies, além de haver o esgotamento dos aluminatos disponíveis para formação do sal de Friedel. Atingido esse ponto de saturação, os cloretos adicionados em excesso à mistura ficariam livres, em suspensão na água dos poros e, por serem íons e conduzirem eletricidade, contribuiriam para redução da resistividade elétrica do concre124 | CONCRETO & Construções
u Figura 6 Correlação entre resistividade elétrica e teor de cloretos incorporado ao concreto
propriedade
volumétrica
do
ma-
terial, que indica a capacidade de transporte de cargas no concreto, ou seja, relaciona-se com a interconectividade entre os poros, enquanto a resistência à compressão é influenciada por seus tamanhos e volumes, não pela conexão entre esses. Tal fato reforça a necessidade da avaliação dos parâmetros de durabilidade e não apenas do controle de qualidade através da resistência à compressão, pois a resistência mecânica não garante a durabilidade do concreto em condi-
u Figura 7 Correlação entre resistividade elétrica e a resistência à compressão
ções de serviço. u A partir de 2% de cloretos em re-
dade elétrica superficial do concre-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
lação à massa de cimento, a RES
to e a concentração de cloretos no
Com base nesta pesquisa, é
reduziu conforme o teor de clore-
seu interior, com índice de regres-
tos incorporados aumentou;
são linear igual a 74%;
possível ressaltar que: u A presença de cloretos incorpo-
u Há um teor máximo de cloretos
u A correlação entre a resistividade
que pode ser combinado ao ma-
elétrica superficial do concreto e
terial cimentício e, se existem
resistência à compressão foi de
cloretos no concreto acima desta
apenas 10%, reforçando a ne-
capacidade de combinação, os
cessidade da avaliação da du-
mento aumentou a resistividade
íons cloretos ficam livres e afe-
rabilidade para controle de qua-
elétrica do concreto, comparada
tam a resistividade elétrica cau-
lidade do concreto armado, além
com a do traço de referência,
sando sua redução;
do clássico e simples controle da
rados no concreto não influenciou a resistência à compressão do material; u A incorporação de 1% de clore-
tos em relação à massa de ci-
que não tem adição de cloretos;
u Existe correlação entre a resistivi-
resistência à compressão.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [01] BROMMFIELD, J. P. Corrosion of steel in concrete – Understanding, investigation and repair. E & FN SPON, Londres, 2007. [02] CASCUDO, O. Controle da Corrosão de Armaduras em concreto: inspeções e técnicas eletroquímicas. 1ª Edição. Editora PINI. São Paulo. 1 v. 1997. [03] GOWERS, K. R.; MILLARD, S. G. Measurement of concrete resistivity for assessment of corrosion severity of steel using wenner technique. ACI materials journal, v. 96-M66, p. 536–541, 1999. [04] LEOCINI, J. W. Estudos sobre resistividade elétrica superficial em concreto: análise e quantificação de parâmetros intervenientes nos ensaios. Tese (doutorado), Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, 2011. [05] INSTITUTO DE CIENCIAS DE LA CONSTRUCCIÓN EDUARDO TORROJA. Manual de inspección de obras dañadas por corrosión de armaduras. CSIC, Madrid, Coordinación Carmen Andrade, 1989, 122 p. [06] FIGUEIREDO, E. J. P. Avaliação do desempenho de revestimentos para proteção da armadura contra a corrosão através de técnicas eletroquímicas: contribuição ao estudo de reparo de estruturas de concreto armado. (Tese de doutorado). EPUSP, São Paulo, 1994. 423p. [07] MEDEIROS JR, R. A. Estudo da resistividade do concreto para proposta de modelagem de vida útil – corrosão de armaduras devido à penetração de cloretos. Tese (Doutorado), Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São Paulo, 2013. [08] MEDEIROS, M. H. F. Estudo de variáveis que influenciam nas medidas de resistividade de estruturas de concreto armado. Revista Engenharia Civil da Universidade do Minho, v.12, Guimarães, 2001. [09] WEE, T H. SURYAVANSHI, A K. TIN, S S. Evaluation of rapid chloride permeability test (RCPT) results for concrete containing mineral admixtures. ACI Mater, Journal, v. 92, p. 221–231, 2000.
CONCRETO & Construções | 125
u acontece nas regionais
57º Congresso Brasileiro do Concreto foca sustentabilidade nas construções
O
Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON promove, de 27
a 30 de outubro, em Bonito, Mato Grosso do Sul, o 57º Congresso Brasileiro do Concreto, sob o tema “O futuro do concreto para a sustentabilidade nas construções”. Fórum nacional de divulgação e debates sobre a tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos, o evento objetiva divulgar as pesquisas científicas e tecnológicas sobre o concreto e as estruturas de concreto, em termos de produtos e processos, práticas construtivas, normalização técnica, análise e projeto estrutural e sustentabilidade. As inscrições para o evento estão
Auditório Terena do Centro de Convenções de Bonito
abertas e podem ser feitas on-line a preços promocionais até 30 de se-
Leuven, Bélgica): “Desafios para
Espanha): “Tendências passadas,
tembro pelo site www.ibracon.org.br.
obtenção de pavimentos de con-
presentes e futuras sobre a mode-
Serão
creto fotocatalíticos capazes de
lagem computacional da fissura-
purificar o ar”;
ção no concreto”;
apresentados
aproximada-
mente 500 trabalhos nas mais de dez sessões científicas por pesqui-
u David Brill (Agência Federal de
u John Bolander (Universidade da
sadores, profissionais e estudantes
Aviação dos Estados Unidos -
Califórnia, em Davis, Estados Uni-
de instituições de ensino e pesquisa,
FAA): “Projeto e construção de
dos): “Recentes avanços na mo-
de associações técnicas, de empre-
pavimentos de concreto aeropor-
delagem discreta do concreto re-
sas e órgãos governamentais da ca-
tuários em face das novas diretri-
forçado com fibras”
deia produtiva do concreto no Brasil.
zes da Agência Federal de Aviação
Além disso, pesquisadores de con-
dos Estados Unidos (FAA)”;
ceituadas universidades e centros de
u Franz-Josef Ulm (Instituto de Tecno-
pesquisa internacionais apresenta-
logia de Massachussetts – MIT): “De-
rão os últimos avanços e descober-
sempenho da infraestrutura quanto
tas científicas e tecnológicas sobre o
ao gerenciamento do carbono”;
concreto em seus campos de espe-
u Gianluca
Cusatis
(Universidade
u Jussara Tanesi (American Concre-
te Institute – ACI, Estados Unidos): “Infraestrutura sustentável de concreto: já chegamos lá?” u Liv Haselbach (Universidade Esta-
dual de Washington, Estados Unidos): “Pavimentos permeáveis de
cialização. São eles:
Northwestern, Estados Unidos):
u Alfred Strauss (Universidade de
“Novo modelo computacional para
u Luc Rens (Associação Europeia de
Recursos Naturais e das Ciências
simulação do envelhecimento e da
Pavimentação em Concreto - Eu-
da Vida, Viena, na Áustria): “As fer-
deterioração das estruturas de
pave): “Pavimentos de concreto
ramentas de análise estrutural não
concreto”;
de baixo ruído”;
concreto”;
linear e os padrões de segurança”;
u Javier Oliver (Universidade Técni-
u Maria del Carmen Andrade Perdrix
u Anne Beeldens (Universidade de
ca da Catalunha, em Barcelona,
(Instituto de Ciências da Construção
126 | CONCRETO & Construções
Eduardo Torroja - CSIC, Espanha):
evento. Particularmente, a agitação
“Paredes de Concreto”. Realizado
“Modelos de vida das estruturas
estudantil nas competições Aparato
pela Comunidade da Construção e
de concreto em serviço”;
de Proteção ao Ovo (APO), Concre-
ABCP (Associação Brasileira de Ci-
u Odd Gjorv (Universidade Norue-
bol, Concreto Colorido de Alta Re-
mento Portland), o evento acontece
guesa de Ciência e Tecnologia -
sistência (Cocar) e Ousadia deixa a
nos meses de agosto, setembro e
NTNU): “Projeto de estruturas de
cada ano suas impressões positivas
outubro, no campus da Universidade
concreto em ambiente severo”.
nos congressistas por seu entusias-
Federal do Mato Grosso do Sul.
Fazem parte ainda da programação
mo, espírito de competição e de res-
A Regional apoia também, de 14 a
os eventos paralelos, como a 3rd
peito com os concorrentes.
20 de setembro, o Congresso on-line
Internacional Conference on Best
O Congresso Brasileiro do Concreto
de Estruturas de Concreto, voltado
Practices for Concrete Pavements,
é aberto aos profissionais em geral
para estudantes de engenharia civil
o Simpósio sobre Estruturas de Fun-
do setor construtivo, tecnologistas
e profissionais do setor, com o pro-
dações, o Simpósio sobre Modela-
de concreto, projetistas de estru-
pósito de difundir as boas práticas
gem Computacional de Estruturas
turas, professores e estudantes de
em projeto, sistemas construtivos,
de Concreto e o II Simpósio sobre
Engenharia Civil, Arquitetura e Tec-
materiais e propriedades, gestão e
Durabilidade das Estruturas de Con-
nologia, profissionais técnicos de
normalização, e sustentabilidade. O
creto. Neles serão apresentadas e
construtoras, empresas de ener-
evento conta com a participação de
discutidas as mais recentes pesqui-
gia, fabricantes de equipamentos e
especialistas em projeto e dosagem
sas relacionadas ao comportamento
materiais para construção, labora-
de concreto de todo país. As inscri-
físico, químico e mecânico do con-
tórios de controle tecnológico, ór-
ções são gratuitas e podem ser feitas
creto, bem como as inovações em
gãos governamentais e associações
pelo site http://coneconc.com.br/.
sua aplicação em obras de funda-
técnicas,
ções, pavimentação, edificações e
aprender mais, discutir e
infraestrutura.
se atualizar sobre a tec-
A cada edição do Congresso, é re-
nologia do concreto e de
alizada a Feira Brasileira das Cons-
seus sistemas construti-
truções em Concreto - Feibracon,
vos. Nas últimas edições,
espaço de exposição para os pro-
o evento contou com a
dutos e serviços das empresas da
participação de mais de
cadeia produtiva do concreto e
mil inscritos.
para o estreitamento de relaciona-
Além de estar coordenan-
mento dessas empresas com seus
do a organização local do
clientes e potenciais clientes. Adi-
57º Congresso Brasileiro
cionalmente, as empresas patroci-
do Concreto, a Regional
nadoras do evento têm a chance
IBRACON de Mato Gros-
de apresentar palestras técnico-co-
so do Sul apoia o Progra-
merciais no Seminário das Novas
ma de Desenvolvimento
Tecnologias, que também compõe
de Construtoras, que tem
a programação.
o objetivo de aumentar a
À parte sua extensa programação
produtividade e melhorar o
técnica, o Congresso valoriza o as-
desempenho técnico das
pecto social do congraçamento e
construtoras da região por
relacionamento
profissionais,
meio da difusão das me-
por meio de coquetéis, jantares,
lhores práticas de projeto,
premiações e concursos estudantis,
planejamento e execução
realizados durante os quatro dias do
do
dos
que
sistema
queiram
construtivo
Prof. Odd Gjorv em sua palestra no último Congresso. Além de palestra, o Prof. Gjorv fará lançamento de seu livro sobre durabilidade no 57º Congresso Brasileiro do Concreto CONCRETO & Construções | 127
Semana de Engenharia no Paraná
A
diretoria regional do IBRACON no Paraná apoiou a Semana Acadêmica de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, ocorrida de 24 a 28 de agosto último. Seus diretores, Cesar Henrique Daher e Luís César De Luca proferiram aos alunos as palestras “Concretizando sonhos: o empreendedorismo do concreto” e “Aspectos relevantes sobre patologia nas obras civis”, respectivamente. A Semana contou também com a participação do conselheiro do IBRACON, Prof. Enio Pazini Figueiredo,
que ministrou a palestra “Diagnóstico e reabilitação do Maracanã: desafiando o tempo”. A Semana de Engenharia contou com a participação de cerca de 250 acadêmicos, oferecendo a oportunidade para os diretores Alunos numa das palestras da Semana Acadêmica sensibilizarem os estudan- de Engenharia da UFPR tes sobre a importância de se filiar ao IBRACON, que reúne escom mais de 4000 artigos técnicos pecialistas em concreto de todo terrisobre o assunto, além de editar revistório nacional e dispõe de um banco tas e livros especializados.
Encontro Regional no Pará
N
os dias 01, 02 e 03 de setembro último, a Regional IBRACON no Pará realizou, na capital Belém, seu XXII Encontro Regional. O objetivo do Encontro foi disseminar conhecimentos sobre a utilização do concreto na área de materiais e estruturas e promover a integração do meio acadêmico e do meio técnico regional. Foram três dias intensos de muitas discussões sobre assuntos variados relacionados à engenharia das estruturas de concreto, entre os quais: como prever e garantir a vida útil preconizada na Norma de Desempenho; quantificação
de incertezas na engenharia estrutural; inovações construtivas pré-moldadas; vistoria e manutenção de pontes e viadutos; e desempenho das estruturas de concreto. O evento, que ocorreu no Centro de Eventos Benedito Nunes na Universidade Federal do Pará, contou com a participação de cerca de 800 pessoas, entre estudantes e profissionais do setor, e teve o patrocínio das empresas Vedacit, Votorantim, WIN Construtora, Marcon Protensão, Impermeabilização e Serviços, Link da Amazônia Construtora, Consórcio Nova Saúde, Brasilit,
Centro de Eventos Benedito Nunes da UFPA
Votorantim Cimentos, Supermassa e Círculo Engenharia. Contou ainda com apoio do CREA-PA e Sinduscon-PA.
Eventos em Minas Gerais
A
Regional IBRACON em Minas Gerais realizou, conjuntamente com o Sinduscon-MG (Sindicato da Indústria da Construção em Minas Gerais) e a Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), o seminário “O concreto não atingiu a resistência. O que fazer?” no último dia 18 de agosto, no auditório da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG). Seu objetivo foi debater as prováveis causas para o concreto dosado em central não atingir a resistência à 128 | CONCRETO & Construções
compressão especificada em projeto e as ações a serem tomadas pelo engenheiro de obras. O Seminário confrontou a visão de tecnologistas, projetistas e construtores quanto ao tema e contou também com a palestra de um advogado quanto à divisão de responsabilidades entre os profissionais frente ao problema. Tomando parte do “Programa de redução de riscos e aumento da vida útil de estruturas” (Programa Edificação + Segura), que visa fomentar a especia-
lização e a difusão do conhecimento referente à conservação de estruturas no Brasil, a Regional iniciou em 28 de agosto, no auditório da Arcelor Mittal em Belo Horizonte, a primeira turma do curso do Programa, que objetiva capacitar profissionais em inspeção de estruturas de concreto de edificações, sendo organizado conjuntamente pela Abece, Alconpat (Associação Brasileira de Patologia das Construções) e IBRACON. Mais informações sobre o curso podem ser obtidas em www.edificacaomaissegura.org.
u agenda
Congresso Internacional em Reabilitação de Construções (Conpat 2015) Data: 8 a 10 de setembro Local: Lisboa, Portugal à Realização: Alconpat à Informações: www.conpat2015.com à à
14º Congresso Internacional sobre Química do Cimento Data: 13 a 16 de outubro Local: Pequim, China à Realização: ICCC à Informações: www.iccc2015beijing.org à
Conferência Internacional sobre Concreto Estrutural Sustentável Data: 15 a 18 de setembro Local: La Plata, na Argentina à Realização: AATH, AAHES, LEMIT, RILEM à Informações: www.sustainconcrete2015.com.ar
à
à à
Seminário Desafios do projeto, produção e aplicação do concreto Data: 15 de outubro Local: São Paulo, SP à Realização: ABCP à Informações: www.abcp.org.br à
Seminário da Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição Data: 17 de setembro Local: São Paulo, São Paulo à Realização: Abrecon à Informações: www.acquacon.com.br/seminariorcd
à
à à
57º Congresso Brasileiro do Concreto Data: 27 a 30 de outubro Local: Bonito, Mato Grosso do Sul à Realização: IBRACON à Informações: www.ibracon.org.br à
ENECE 2015 – 18º Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural Data: 8 e 9 de outubro Local: São Paulo, SP à Realização: ABECE à Informações: www.abece.com.br
à
à à
ACI Convention – Fall 2015 Data: 8 a 12 de novembro Local: Denver, Estados Unidos à Realização: ACI à Informações: www.concrete.org à à
CONCRETO & Construções | 129
Publicações técnicas do IBRACON
O Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON está com u sempre às mãos publicações técnicas de referência sobre CONCRETO: Microestrutura, Propriedades e Materiais
Durabilidade do concreto
Guia atualizado e didático sobre as propriedades, comportamento e tecnologia do concreto, a quarta edição do livro “CONCRETO: Microestrutura, Propriedades e Materiais”, dos professores Kumar Mehta e Paulo Monteiro (Universidade da Califórnia, em Berkeley), foi amplamente revisada para trazer os últimos avanços sobre a tecnologia do concreto e para proporcionar em profundidade detalhes científicos sobre este material estrutural mais amplamente utilizado. A segunda edição brasileira foi coordenada pela Enga. Nicole Pagan Hasparyk (Furnas).
Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos professores JeanPierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro “DURABILIDADE DO CONCRETO: bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente” condensa um vasto conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a experiência de parte importante de membros da comunidade científica europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto. A edição brasileira da obra, coordenada pelos professores Oswaldo Cascudo e Helene Carasek (UFG), foi enriquecida com sua adaptação à realidade técnica e profissional nacional.
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CONCRETO & Construções | 131 www.ibracon.org.br
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132 | CONCRETO & Construções