Ano 1, Nº 6 Produzida por Pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Ἀποκάλυψις — Apocalipse - guia para estudo, p. 54 — Santa Ceia — o Evangelho visível, p. 40 — Um sermão a respeito do NT, p. 36
— A face de Deus oculta no próximo, p. 88 — Catequese para a vida no Sacerdócio Real, p. 10 — Liturgia para período após Pentecostes, p. 96
— O Rebatismo na Igreja Adventista do 7º Dia ..., p. 16 — O Reino de Deus no evangelho segundo Lucas, p. 4
— Simbologia: Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega, p. 95 — A faxina, p. 53 — Fora de órbita, p. 9 — Photoshop de Deus, p. 34
EXPEDIENTE
Apresentação da Revista Eletrônica Teologia & Prática
Colaboradores desta edição:
A revista Teologia&Prática é uma iniciativa de pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Ela não tem caráter oficial. Seu objetivo básico é coletar e compartilhar bimestralmente, de forma organizada, via Internet, textos teológicos/pastorais, inéditos ou não, produzidos por pastores da IELB e que regularmente circulam em listas da Igreja. Além disso, procura recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão disponíveis na Internet. Um objetivo subjacente é a intenção de divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica luterana confessional e a reflexão teológica na IELB. Além de possibilitar a reflexão teológica, a revista quer ser uma ferramenta prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas.
Publicação mensal de pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) não oficial. Tem como propósito divulgar textos teológicos/pastorais, inéditos ou não, produzidos por pastores e teólogos da IELB, recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão disponíveis na Internet, divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica luterana confessional e a reflexão teológica na IELB, e ser uma ferramenta prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas. Os conteúdos são de responsabilidade dos seus autores. Alex M. Schmökel, Comissão de Culto, David Karnopp, Dieter J. Jagnow; Ernani Kufeld, Ismar L. Pinz, Jarbas Hoffimann; Leandro D. Hübner, Marcos Schmidt; Márlon H. Antunes, Martinho Rennecke.
Imagens:
As imagens usadas nesta publicação são de livre acesso na Internet, ou foram cedidas pelo proprietário. Caso contrário aparecerá, ao lado da imagem, a referência ao seu autor.
Coordenadores:
Rev. Dieter Joel Jagnow (editor) Rev. David Karnopp Rev. Jarbas Hoffimann (diagramador) Rev. Mário Rafael Yudi Fukue Rev. Tiago José Albrecht Rev. Waldyr Hoffmann
Diagramador:
Rev. Jarbas Hoffimann diagramador.rt@gmail.com
Blogue http://www.revistateologia.blogspot.com
@revistateologia
Colaborações:
Os textos a serem publicados na revista devem ser enviados ao editor
Contato/Editor:
revistateologia@gmail.com
Leitura na Internet: www.scribd/revistateologia
Critérios 1. A produção da revista é coordenada por voluntários. Um (ou mais) editor é responsável para que exista um mínimo de organização na diferentes fases do processo. 2. A revista é fechada em PDF e carregada em um depósito da Internet, de onde poderá ser baixada livremente. 3. A revista tem circulação bimestral. Não há um número fixo de páginas. 4. Um blogue serve de apoio para as edições, a fim de possibilitar a sua divulgação pelos mecanismos de busca da Internet. 5. A revista é aberta a todos os pastores da IELB interessados em compartilhar seus textos (meditações, estudos homiléticos, sermões, resenhas, ensaios, etc.), inéditos ou não. Cada autor é responsável pelo seu texto (doutrinária, gramática e ortograficamente). Os textos devem ser enviados ao editor. Nota: O editor pode recusar — ou solicitar que seja revisado — algum texto, caso julgue que ele afronte a doutrina da IELB. Para tanto, se necessário, conta com voluntários para a avaliação. Não serão utilizados textos de conteúdo político-partidário, que promovam o ódio ou a discriminação ou que firam os princípios e valores da Igreja. 6. A publicação dos textos enviados não é imediata. Existe uma tentativa de se ter variação de conteúdos em uma edição e em edições subsequentes. O editor informa ao autor a situação de cada texto recebido. 7. Há uma pauta mínima, no sentido de se buscar conteúdos que de alguma forma abordem questões pontuais (exemplo: Reforma, eleições, Natal). A pauta completa é determinada de acordo com as colaborações recebidas, conforme a ordem de chegada. 8. O organograma de produção é este: a) Lançamento: até o dia 25 do segundo mês da edição b) Preparação / Diagramação: do dia 1 ao dia 20 do segundo mês da edição c) Recebimento dos textos: até o dia 20 do primeiro mês da edição e-mail: revistateologia@gmail.com blogue: http://revistateologia.blogspot.com tuíter: http://twitter.com/revistateologia
Apocalipse - Apocalipse - guia para estudo, p. 54
Santa Ceia - Santa Ceia — o Evangelho visível, p. 40 - Um sermão a respeito do Novo Testamento ..., p. 36
Artigos - 127 horas decisivas, p. 33 - A faxina, p. 53 - Edifício bem construído, p. 7 - Fora de órbita, p. 9 - Instabilidade e segurança, p. 8 - Photoshop de Deus, p. 34 - Por que o mundo não acabou, p. 35 - Preconceito, discriminção, educação e Deus, p. 98 - Quem poderá apagar esta dívida, p. 52 - Reinos que afundam, p. 99 - Vai-se a mão, fica a vida, p. 15 - Vida longa, p. 6
Outros - A face de Deus oculta no próximo, p. 88 - Catequese para a vida no Sacerdócio Real, p. 10 - Liturgia para período após Pentecostes, p. 96 - O Rebatismo na Igreja Adventista do 7º Dia ..., p. 16 - O Reino de Deus no evangelho segundo Lucas, p. 4 - Simbologia: Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega, p. 95
Reino
de
Rev. Leandro Daniel Hübner
Deus
no evangelho s D
as passagens no Evangelho de Lucas em que aparece “Reino de Deus”, selecionei 28 que achei mais relevantes. A partir destas passagens vou fazer alguns destaques. O Reino de Deus era um reino esperado pelos líderes e pelo povo (19.11, 23.42,51). Jesus dizia claramente ter sido enviado por Deus para anunciar a boa nova do Reino de Deus (4.43), reino dado a ele por seu Pai (22.2930). Jesus considerava sua missão anunciar o Reino de Deus (4.43, 8.1, 9.11, 16.16) e comissionou seus discípulos com a mesma missão (9.2, 9.60; também em 24.47-48, onde não aparece a expressão “reino de Deus”, mas obviamente é a mensagem deste reino). O fato de Jesus expulsar demônios pelo poder de Deus era prova de que este Reino chegara (11.20). Jesus ensinou a orar pela vinda do reino (11.2) e mostrou os sinais de sua iminente vinda (21.29ss.), mas ao mesmo tempo disse que o mesmo já chegou (10.9,11, 11.20) com sua vinda ao mundo. Este reino é dado aos pobres (6.20), revelado aos discípulos (8.10), está dentro das pessoas
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(17.20,21) e é daqueles que o recebem como as crianças (18.16-17). O Pai tem prazer em dar seu Reino ao seu pequeno rebanho (12.32), que deve guardar suas riquezas no céu, onde não podem ser destruídas. Jesus compara este reino a uma semente de mostarda (13.18-19) e ao fermento adicionado à massa (13.19-20), mostrando seu potencial de crescimento, apesar de parecer pequeno no início (como a semente de mostarda) e de parecer oculto (como o fermento na massa). Muitos se sentarão à mesa no Reino de Deus, de todas as partes do mundo (13.29), entre eles os discípulos (22.30). Felizes serão essas pessoas (14.15). Isto mostra o aspecto futuro deste reino. Enquanto esperamos pela vinda definitiva deste reino, Deus espera que administremos bem o que ele colocou em nossas mãos (19.11ss.). É um reino que exige compromisso total (9.62, 12.31), mas no qual o menor dos seus membros é maior que João Batista (7.28) e tem a promessa da providência e recompensa divinas (12.31, 18.29-30). A riqueza material é um “concorrente” e pode ser empecilho para a entrada no Reino de Deus (18.18-
24). Assim, em Lucas o Reino de Deus é apresentado como já tendo vindo com Cristo, mas ainda não totalmente consumado. É boa nova que o Pai tem prazer em dar ao seu pequeno rebanho, embora seja um reino diferente do que o esperado e imaginado pelo povo – não é um reino terreno nem visível, mas, como diz Jesus, “o Reino de Deus está dentro de vocês” (17.21). Jesus não apenas veio para pregar o Reino de Deus, mas para implementá-lo através de sua missão e, depois, continuar essa implementação através de seus discípulos. Entra neste Reino quem o recebe como uma criança (18.16-17), isto é, confiando nas promessas do Pai como a criança confia em seu pai, como fez o malfeitor ao lado de Jesus na cruz – “Jesus, lembre de mim quando o senhor vier como Rei!” (23.42), ouvindo então a resposta de Cristo de que estaria com ele no paraíso naquele mesmo dia. Isto enfatiza a confiança – fé – como meio de receber a salvação no Reino, e não os méritos próprios. Enquanto vivemos já neste Reino aqui no mundo, mas esperamos sua implementação definitiva, Deus
Reino
de
Deus
segundo Lucas nos promete acompanhar com suas bênçãos e providência (12.31, 18.29-30), as quais Ele espera que administremos bem e as façamos produzir ou multiplicar para o crescimento de seu Reino (19.11ss.), comprometidos com este Reino até
o fim (9.62, 12.31), quando, então, nos sentaremos à mesa de Jesus e seremos felizes (14.15, 22.29-30). Por fim, olhando o contexto de todo o evangelho de Lucas, vemos que Jesus oferece o Reino aos tradicionalmente rejeitados ou me-
nosprezados na sociedade e pelos religiosos de então – crianças, mulheres, publicanos, enfim, os “pecadores”, alvos do amor de Deus.
Rev. Leandro Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
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Vida longa Artigo
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egundo registro bíblico, o homem que mais viveu nesse mundo foi Matusalém. Ele alcançou a idade de 969 anos. Porém, de acordo com um cientista britânico, em 20 anos irá existir condições tecnológicas na medicina, para que uma pessoa viva ainda mais que o personagem recordista. Porém, quem viverá para comprovar se o recorde será quebrado? O contraditório de nossas realidades é que apesar de tantos avanços na medicina, pessoas continuam morrendo em filas de atendimento por doenças consideradas simples. Será que em duas décadas isso tudo mudaria? Penso que não! Pois não estamos evoluindo no quesito respeito e honra aos que já viveram mais tempo do que nós. Está escrito: “Respeite o seu pai e a sua mãe, como eu, o seu Deus, estou ordenando, para que você viva muito tempo, e tudo corra bem para você na terra que estou lhe dando.” (Dt 5.16). A promessa não fala em mil anos, mas começa com o anúncio de uma vida boa, concedida por um Deus que é Eterno, para quem um dia é como mil anos e mil anos como um dia. (2Pe 3.8 e Sl 90) O respeito aos pais, a valorização da família, são caminhos de vida longa e com qualidade. Lógico, pois no lugar onde as autoridades agem como pais amáveis e os subordinados como filhos queridos, a vida vai bem! Assim como em um trânsito onde todos respeitam as regras não haverá mortes. Desta forma, a vida boa e longa está relacionada com o respeito e o amor. Porém quando o dia-a-dia revela jovens cada vez mais insolentes e crianças que respeitam cada vez menos, penso que o anúncio do cientista inglês está equivocado. Não do ponto de vista das novas descobertas, mas sim no ponto de vista da administração dessas descobertas. No argumento do cientista, reparos moleculares dariam condições ao homem de viver in6 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Rev. Ismar L. Pinz
definidamente. No entanto, a realidade é que o ser humano carrega nas entranhas de suas moléculas o pecado e a maldade. Para vencer essa doença espiritual não há outro jeito, senão a intervenção de Jesus, o médico dos médicos. Ele realmente pode vencer e propagar a vida, não apenas em mais mil anos, mas, como ele mesmo prometeu, de eternidade em eternidade! Por enquanto, o melhor é orar como no salmista: “Faze com que saibamos como são poucos os dias de nossas vidas para que tenhamos um coração sábio.” (Sl 90.12). E principalmente confiar naquele que falou: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (Jo 11.25). Rev. Ismar L. Pinz — Pelotas-RS — pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Rev. Marcos Schmidt
Artigo
Edifício bem construído “E u achei que aquilo poderia servir de lição, mas as pessoas se embruteceram ainda mais”, disse um médico brasileiro que perdeu o filho nas torres gêmeas. Setenta nações estrangeiras tiveram filhos mortos neste onze de setembro. Uma tragédia globalizada que deveria fazer a humanidade refletir e mudar de direção. Mas, nestes dez anos, trilhões em dinheiro foram gastos em guerras e o ódio se multiplicou. Enquanto isto, um bilhão de pessoas passa fome num planeta moribundo pela ganância que aniquila o meio ambiente e que joga no lixo toneladas de alimento. Na Somália a falta de comida pode matar 750 mil pessoas nos próximos dias. Mas, outro edifício se ergue no World Trade Center enquanto 600 mil soldados americanos voltam do Iraque e do Afeganistão com sequelas físicas e mentais, necessitando de socorro público para o resto da vida. Osama bin Laden está morto e do outro lado Anders Behring Breivik ressuscita na Noruega, engordando o ódio entre o Ocidente e o Oriente. O próximo atentado é uma questão de tempo... Três dias após o ataque, o pastor Billy Graham pregou na Catedral Nacional de Washington: “Temos que nos arrepender e nos voltar para Deus”. O mundo inteiro precisa voltar-se para Deus. Torres de Babel são erguidas insistentemente no mesmo desejo antigo de celebridade, e por isto a confusão. Torres na família, na política, na religião, na economia. Torres de ambição, de injustiça, de intolerância, de egoísmo. Torres que suscitam inveja, ódio, inimizade, terrorismo, destruição. O médico brasileiro tem razão em sentir-se frustrado com morte de seu filho. Foi em vão. Ele exibe no consultório uma réplica das torres gêmeas para nunca esquecer-se dele. Nós cristãos temos a cruz do Filho de Deus e nosso sentimento é outro. Dizem as Escrituras que Cristo destruiu a inimizade que havia entre os povos, e os que nele crêem são como um edifício bem firme que nunca será derrubado (Efésios 2.21). É o que vale neste vale da sombra da morte. Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
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Artigo
Rev. Marcos Schmidt
Instabilidade e segurança
“A
plique o seu dinheiro em vários lugares e em negócios diferentes porque você não sabe que crise poderá acontecer no mundo”. Seria apenas um conselho na atual crise econômica se não estivesse no livro bíblico de Eclesiastes. O que se vê nas capas dos jornais é história repetida, com primeira edição quando o Criador anunciou ao provedor do lar o fruto da desobediência: “a terra lhe dará mato e espinhos, você terá de trabalhar no pesado e suar para fazer com que ela produza algum alimento, até que você volte à terra”. Barak Obama sente na carne a maldição de Gênesis igual a qualquer pai. Mas as instabilidades da vida, a exemplo da bolsa de valores, são a coisa mais certa. Hoje temos dinheiro, amanhã podemos estar pobres, hoje temos saúde, amanhã podemos estar doentes, hoje estamos vivos, amanhã podemos estar mortos... O que será daqui um minuto, uma hora? E se a crise bater a minha porta? Estou preparado sem cair no desespero? A instabilidade, no entanto, sempre tem efeitos positivos num mundo que precisa rever os seus conceitos de valor, sobretudo em relação ao Deus, denominado insistentemente pelas Escrituras de Eterno e Verdadeiro. O rei Davi já alertava: “Ainda que as suas riquezas aumentem, não confiem nelas” (Salmo 62). Por isto a oração dele: “Não me deixes ficar nem rico nem pobre. Porque se tiver mais do que o necessário, poderei dizer que não preciso de
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ti. E, se eu ficar pobre, poderei roubar e assim envergonharei o teu nome (Provérbios 30). Mesmo com toda a prosperidade, ele confessou no Salmo 144 que Deus é a rocha e confia na proteção dele. Diante disto, só resta o caminho indicado por Jesus: “Não fiquem preocupados com o dia de amanhã”. Não no sentido da irresponsabilidade, mas quanto à primordial ocupação, e que prepara para as desventuras terrenas. Uma fé que tem promessa: Ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e a vontade dele, e ele lhes dará todas as outras coisas (Mateus 6). Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
Rev. Márlon Hüther Antunes
Fora de órbita S
atélites e astronautas, os maiores responsáveis pelos16 mil objetos que estão em órbita em nosso planeta, agora correm o risco de serem atingidos por este lixo espacial produzido e que voa numa velocidade de mais de 28 mil quilômetros por hora. Parece justo, afinal, porque poluíram tanto nossa atmosfera? Não bastassem rotas serem alteradas pelos cientistas e profissionais, para evitarem um prejuízo milionário, agora o perigo ronda nossas próprias cabeças. Não parece injusto, afinal todos nós de uma forma ou de outra nos beneficiamos, contribuímos para as tecnologias e pesquisas, a fim de melhorar nossa qualidade de vida. O problema é quando as coisas ficam fora de órbita. Numa cultura onde tudo o que não serve é descartado, é deixado de lado para o “tempo” consumir, corre-se atrás apenas de interesses próprios e novidades, o que fica de lado pode causar uma grande dor de cabeça. E se a quantidade de lixo espacial acima de nós chegou a um nível extremo, a lógica de que tudo o que sobe desce, de que toda ação gera uma reação, agora podem mais uma vez se concretizar: Uma notícia divulgada no início desta semana (19 de setembro de 2011) aponta para o perigo de detritos de um satélite desativado
Artigo
cair na terra, e, dependendo o local ou sobre quem, poderá ser catastrófico. Ainda é imprevisível o local, a probabilidade de acertar um ser humano é grande: um em 3.200. Uma loteria que ninguém quer ser sorteado; espero que a água mais esta vez nos salve! Desde que o ser humano descartou a possibilidade de entregar a Deus seus passos, ficou fora de órbita, fora do percurso natural (1º Coríntios 10.12). Por mais que tente alterar rotas, aumentar seus dias, investir mais em si, a probabilidade de colisão — um “acerto de contas” — é grande. No fim, todos são culpados (Romanos 3.23) e precisam de uma reciclagem: “Portanto, lembrem do que aprenderam e ouviram. Obedeçam e se arrependam. Se não acordarem, eu os atacarei de surpresa, como um ladrão, e vocês não ficarão sabendo nem mesmo a hora da minha vinda” (Apocalipse 3.3). Como nada acontece sem o consentimento do Criador (Mateus 10.29), e pela sua misericórdia não permite que todas as consequencias de nossos atos e omissões caiam sobre nossas cabeças, fica a esperança de que mais uma vez Ele lance nossos detritos no mar e nos salve das consequencias, pois conforme o profeta “Novamente, terás compaixão de nós; acabarás com as nossas maldades e jogarás os nossos pecados no fundo do mar” (Miquéias 7.19). Esta compaixão só é válida quando firmada na Pedra Angular (Salmo 118.22), na Água da Vida (Apocalipse 7.17). Melhor é saber que depois de lançados no mar, Deus não os trás nem pesca de volta! Uma ação amorosa fora de órbita, do ponto de vista natural.
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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Resumo
de
Rev. Leandro Daniel Hübner
Obra
Catequese par Sacerdócio R John T. Pless
Síntese do Texto • Apesar de nossos “esforços”, Jesus somente permanece o construtor de sua igreja, como lemos em Mt 16.18. Discípulos se fazem por batizar e ensinar, e Cristo constrói sua igreja com estas ferramentas. Este ensinar que flui do Batismo e leva ao Batismo é catequese. • A catequese é a maneira pela qual a palavra de Deus é falada e então ecoa de volta em confissão para a glória do Deus Triúno. • James Fowler (Stages of Faith and Becoming Adult, Becoming Christian) ensina um processo através de sete estágios de fé, no qual o último estágio é alcançado por poucas pessoas, como Ghandi e M.L. King, que seriam exemplos de inclusividade tolerante. Este modelo é uma forma secularizada de Pietismo. • A catequese luterana tem uma orientação totalmente diferente. Seu alvo é preparar o batizado para viver em Cristo como membro do Sacerdócio Real. Seu resultado não é a formação do ego espiritual autônomo, mas um sacerdote 10 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
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vivendo na companhia de outros sacerdotes sob um Sumo-Sacerdote e compartilhando um culto comum. Catequese é o processo de transmitir a palavra de Deus de maneira que a mente e a vida daquele que a recebe cresça de todas as formas em Jesus Cristo, vivendo em fé nele e em amor ao próximo. É um processo (do batismo até a confirmação) e ao mesmo tempo vai do útero à tumba. O texto da catequese é o Cm e seu contexto é o Sacerdócio Real, a santa igreja. Pelo menos desde 1525 Lutero se preocupou com a preparação de um bom catecismo para instruir os jovens na fé evangélica. As visitações de 1528 mostraram tal desordem espiritual que Lutero mesmo foi compelido a preparar ambos os catecismos, CM e Cm. Para Lutero o Cm era para ser usado muito mais em casa que em sala de aula. Historicamente o Cm é que foi cristalizado do CM, que é uma exposição do Cm para pastores, professores e outros cristãos adultos para ajuda-los a ensinar o Cm. No prefácio, Lutero coloca três pontos cruciais à catequese evangélica: (1) deveria
haver um texto padrão e fixo; (2) o catequista deve mover-se do texto ao significado; (3) o texto do Catecismo nunca é exaustivo, sempre há mais a aprender. Para Lutero o Catecismo é livro de doutrina, oração e vida. • Como livro de doutrina, o Cm é confissão, isto é, repetir a Deus o que ele nos disse nas Escrituras. James Voelz diz que cerca de 25% do Cm é citação direta das Escrituras, 30% é exposição direta do texto bíblico e o restante é aplicação de ensino bíblico para a vida. • A FC fala do Cm como a “Bíblia do leigo”, confessando que ele “contém tudo que as Santas Escrituras discutem longamente e que um cristão deve saber para sua salvação” (FC, Ep., 5). O Cm não é substituto das Escrituras, mas “um mapa para o estudo da Escritura” (Arand). • De vez em quando se ouve a reclamação de os luteranos substituem a Bíblia pelo catecismo ou que os luteranos sabem o catecismo, mas não conhecem a Bíblia. Essas críticas não procedem, pois a Bíblia é um livro grande e se alguém resolve lê-la, se lança
Resumo
ra a vida no Real numa jornada que tem perigos potenciais. Quantos leitores sinceros da Bíblia interpretaram mal o texto sagrado e acabaram sendo afastados de Cristo. • Somos evangélicos luteranos, não fundamentalistas. Não é a presença da Bíblia que localiza a igreja e traz o povo à fé, mas antes “a igreja é assembleia dos santos em que o evangelho é pregado puramente e os sacramentos são administrados corretamente” (CA VII, 1-2). Esta é a ênfase. O ponto principal não é a inerrância da Bíblia, mas: como ela é lida e proclamada? Como a lei deve ser corretamente distinguida do evangelho? As Escrituras deveriam ser interpretadas de acordo com a mente do Espírito ou de acordo com o impulso do intérprete? • Como manual de doutrina cristã, o Cm tem uma estrutura teológica que se move de lei ao evangelho. A ordem das seis partes não é acidental, mas expressa a dinâmica do ensino bíblico e é crucial para um correto entendimento da intenção teológica de Lutero na catequese. • O centro de gravidade da lei na catequese de Lutero está no
1º Mandamento, que expõe e executa o pecador, a quem falta o temor, amor e confiança em Deus acima de todas as coisas. • A catequese tem um contexto que é o sacerdócio real dos crentes. O debate sobre “igreja e ministério” (séc. XIX) ofuscou um pouco o fato de que a distinção primária em 1Pe 2.1-10 não é uma distinção anticlerical, entre os que são chamados e ordenados para o ofício do santo ministério e o restante dos batizados, mas entre fé e descrença. A igreja é um sacerdócio, e dentro dele
de
Obra
há um ofício estabelecido pelo próprio Deus para prover supervisão para a casa espiritual que Deus construiu. No batismo Deus nos faz sacerdotes em seu sacerdócio, e nos coloca à parte como “estrangeiros e exilados” para viver como membros deste sacerdócio. • Pedro não está dizendo que agora cada um é um sacerdote isolado, fazendo o que melhor entende diante de Deus, mas que somos edificados como uma casa espiritual e uma raça escolhida, com um nome e origem comum (batismo), vivendo unidos em Cristo.
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Resumo
de
Obra
• Neste sacerdócio os sacerdotes fazem três coisas: (1) oferecem sacrifícios; (2) falam a outras pessoas em nome de Deus; (3) falam a Deus em nome de outras pessoas. A catequese é o treinamento que os cristãos recebem para sua vida e obra sacerdotal. • A catequese incorporada no Cm coloca a vida do cristão no ritmo do arrependimento, do diário morrer para o pecado e ser revificado para andar em novidade de vida (cf. Rm 12.1-2). Em Rm 12 Paulo coloca juntas duas palavras de uma forma que deve ter chocado seus leitores originais: sacrifício e vida — na época todos sabiam que os sacrifícios eram mortos! • Lutero e as Confissões removeram o sacrifício do santuário e o recolocaram no mundo, quando toda a vida do crente se torna um sacrifício vivo. O Cm conecta santificação — a vida do sacrifício vivo — com vocação. • Os sacerdotes falam às pessoas em nome de Deus. Com palavras e ações os pecadores trazidos à presença de Deus por sua graça agora rendem graças a Ele confessando o que Deus fez — confissão é doxologia. • Os sacerdotes falam a Deus em nome das pessoas — é a intercessão. Aqui o Cm funciona como nosso livro de oração. • A frustração com a instrução para a confirmação levou a muitos remendos com programas, técnicas, e no caso do Lutheran Book of Worship, na própria estrutura do Rito da 12 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Confirmação, mas ainda somos deixados com uma visão inadequada de catequese. O que eu estou pedindo é que reclamemos o Cm como o manual para nossa catequese e o sacerdócio real como o contexto para a catequese. • Isto tem três dimensões: (1) o sacerdócio real vive sob a supervisão do Ofício Pastoral, e este é primariamente o do ensino; (2) catequese é mais que sala de aula; (3) catequese não pode ser divorciada do Culto Divino. • Segundo Gaertner (“Di-
daskolos: Men, Women, and the Office in the New Testament”) o pastor pastoreia a congregação por seu ensino autoritativo. O pastor é o professor. • Hoje há a pressão para que o ofício pastoral seja mais do que o ensinar. O pastor é visto como um administrador, um atendente de necessidades espirituais específicas, ou um rancheiro. Em The Parish Paper Lyle Schaller escreve que “a mais difícil e certamente mais exigente mudança para o ministro fazer é mover-se do
Resumo
papel de pastor, mestre, cura d’almas, para tornar-se um agente efetivo e capacitado de mudança intencional”. Enquanto em At 6 os apóstolos escolheram sete homens para cuidar da distribuição de alimentos para que pudessem dedicar-se à oração e pregação da palavra, nós hoje frequentemente fazemos bem o contrário, quando os pastores passam isto aos leigos e então se ocupam com a multiplicação de programas e a administração dos negócios da paróquia.
• A catequese planejada por Lutero, (cf. Dt 6), teria o “chefe da família” ensinando o Cm à sua família. Sendo os pais os primeiros catequistas, então precisam ser ensinados pelo pastor em classes bíblicas de adultos, retiros e outras maneiras formais, mas também de forma informal quando o pastor visita a casa ou aconselha noivos ou aqueles que estão esperando um filho. • Aí vem o segundo ponto: catequese não está confinada à sala de aula. William Thompson (“Catechesis: The Quiet Crisis”) diz que para Lutero o catecismo é um livro de oração, não meramente um livro de doutrina. O catecismo é um manual para viver a vida batismal e a catequese é o treinamento para viver como um filho batizado de Deus, não apenas a acumulação de fatos. O grande erro que temos cometido na catequese é tratá-la como um processo acadêmico em vez de nosso modelo para viver em nosso batismo. Tratamos o catecismo como um livro texto e não como livro de oração e, por isso, muitos adultos, incluindo pastores, veem o Cm como um livro para crianças e não para nós. • Tal catequese pode ser incitada na congregação de várias maneiras. Os pastores precisam continuar estudando e orando o Catecismo e usar vários meios para ajudar seu povo a fazer uso do Cm. Quando uma criança é batizada, presenteie os pais com uma cópia do Cm dedicada à criança com as seguintes pa-
de
Obra
lavras: “Hoje Deus lavou teus pecados nas águas do Santo Batismo e te fez um sacerdotes no sacerdócio de Deus. Seus pais usarão este livro para te ajudar a entender o que Deus fez por ti hoje em teu batismo e como você vai viver como seu filho”. Encoraje os pais a usar o Cm como um livro de oração em devoções familiares e a ajudar seus filhos a aprender as seis partes principais de cor bem antes de iniciarem a instrução de confirmandos. Pregue sermões catequéticos. O lecionário frequentemente é diretamente ligado a uma das partes principais do Cm, provendo assim mais uma oportunidade para pregação catequética. • A terceira dimensão da catequese tem a ver com o culto divino, que é o serviço de Deus para nós. Lc 22.24-30 (instituição da SC) nos mostra Deus nos servindo em Cristo. A liturgia não é um serviço que rendemos a Deus, mas seu serviço a nós por meio de sua palavra salvífica e do abençoado sacramento. A liturgia perfeita deveria ser algo da qual quase não nos damos conta, e nossa atenção estaria em Deus. Repetindo as partes da liturgia nós aplicamos estes tesouros extraídos da Palavra de Deus ao coração. Nós nos sentimos em casa com elas e ainda assim nunca esgotamos suas riquezas. • A liturgia provê uma profunda estrutura para a catequese quando ela nos envolve em nome do Senhor. Ela nos proporciona uma catequese conAgosto e Setembro, 2011 | Teologia | 13
Resumo
de
Obra
tínua, semana após semana, ano após ano. • O ano da igreja é uma realidade esplendorosa, que tem uma integridade ou uma totalidade em si que se centraliza no Liturgista de nossa salvação, Jesus Cristo. Esta integridade provê um veículo para uma catequese contínua, que às vezes é sutil e mesmo assim real e potente.
Observações de conclusão • Em seu livro The Contemplative Pastor, Eugene Peterson argumenta que a “enfermidade” da geração de hoje é estar viciada em “episódios de adolescência.” Em outras palavras, agora os pecados dos filhos estão sendo visitados pelos pais. A maior característica desta cultura de adolescência é a amnésia histórica, a ausência de um senso de passado. O que é velho é obsoleto. Há uma tentação para a igreja de jogar fora sua herança a fim de ser relevante, e ao fazer isso se rende aos ídolos do presente século. Precisamos ouvir o aviso de Carl Braaten muito seriamente quando ele diz que “a igreja que quer ser relevante já plantou as sementes de sua própria irrelevância.” • Se nossos filhos devem ter fé, nós mesmos precisamos, antes de tudo, ser fiéis ao que recebemos. Simone Weil disse que “se você quer ser relevante, você deve sempre dizer coisas que são eternas.” • O Cm não é substituto das Escrituras, mas “um mapa para o 14 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
estudo da Escritura” (Arand). • A nossa catequese é sempre relevante porque está dizendo coisas eternas, palavras daquele que é o Alfa e Ômega, na Escritura, catecismo e liturgia. Nós devemos de fato ser contra-culturais em nosso ministério. Nossa catequese instruirá tanto jovens como adultos a viver como “estrangeiros residentes” dentro de uma cultura religiosa narcisista. • Em nosso trabalho com jovens convém considerar bem a observação de T. S. Eliot de que “não é o entusiasmo, mas o dogma que diferencia um cristão de um pagão.” Em nosso desejo de tornar a igreja “agradável” nós temos, de fato, trivializado as verdades que buscamos transmitir para nossa juventude. Em vez disso ficamos com cultos jovens que tornam a Santa Ceia em um Mac Lanche Feliz e encorajamos nossos jovens a desprezar as coisas alegadamente aborrecidas e monótonas que transpiram em suas congregações de origem às dez da manhã do domingo. • É tentador usar atalhos. Mas se vamos encarar a tarefa de alimentar as ovelhas de nosso Senhor e cuidar de seus cordeiros, então o melhor é usar o equipamento que ele nos legou: sua palavra e sacramentos. Não nos cabe entreter ou excitar, mas fielmente transmitir a palavra que recebemos. E esta palavra tem poder impressionante — poder para criar e preservar a fé para a longa jornada, para ver que o alvo da catequese é finalmen-
te a ressurreição do corpo e a vida eterna.
Avaliação O que é O autor mostra que a intenção de Lutero é de que a catequese seja muito mais um manual para a vida diária do cristão do que uma instrução feita num certo período da vida. Como diz o título, é o processo de aplicar na vida de sacerdote real o ensino da Palavra de Deus sintetizado no Catecismo Menor, que serve como mapa para aplicá-la ao viver diário.
O que significa Que devemos usar o catecismo de modo a torná-lo relevante para a vida diária do cristão, do batismo ao sepultamento, ajudando o sacerdote real a crescer em Cristo, vivendo na fé em Jesus e no amor ao próximo.
Qual o Profeito O artigo é muito prático, pois nos leva a refletir sobre o uso do Catecismo e sua aplicação à vida diária dos crentes, além de dar algumas sugestões sobre como fazer isso. Mostra também que nem sempre tentativas de “modernizar” a catequese são benéficas, pois a questão central é tornar o Catecismo algo presente e vivo no dia a dia dos cristãos, para que não seja considerado um livro para crianças, que após a confirmação não tem mais utilidade. Neste processo o papel do pastor é de mestre, ensinando o rebanho a fazer a conexão entre catequese e seu sacerdócio real na vida diária.
Rev. Leandro Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Rev. Marcos Schmidt
Artigo
Vai-se a mão, fica a vida
M
édicos alertam que o filme “127 horas” pode provocar desmaios. É que a produção dramatiza a história real do alpinista americano Aron Ralston, que precisou arrancar a própria mão para se livrar de uma rocha que o prendeu por mais de cinco dias. Ele mesmo admite que não sabe a origem de tamanha coragem: “Eu consegui primeiro quebrar o rádio e minutos depois quebrei o cúbito na área do pulso”, referindo-se aos dois ossos do antebraço. Por fim ele usou um canivete para cortar o que ainda segurava a mão. Não vi o filme que foi lançado neste ano, mas em 2003 o episódio me deixou impressionado e rendeu um artigo. Escrevi que, em outras situações não é a mão que precisa ser cortada fora, mas coisas que persistem nas mãos e prendem o corpo: bebida, cigarro, drogas, comida, jogo, volante perigoso do carro, cartão de crédito, ou até a mão de outra pessoa. No entanto, a biografia deste alpinista torna explícito o contundente alerta de Jesus sobre os perigos espirituais: —Se uma das suas mãos faz com que você peque, corte-a e jogue fora! Pois é melhor entrar na vida eterna sem uma das suas mãos do que ter as duas e ser jogado no fogo eterno.
(Mateus 18.8). Evidentemente que tais palavras não podem ser interpretadas de forma literal, caso contrário, todos ficaríamos manetas. E é bom dizer que, se Aron não sabe explicar de onde surgiu a bravura, o cristão tem a resposta: “Porque o Espírito que vocês receberam de Deus não torna vocês escravos e não faz com que tenham medo” (Romanos 8.15). Interessante ainda notar que a mesmas rochas que quase mataram o alpinista são a própria vida dele. Alpistas existem porque existem rochas. A Bíblia é categórica: Cristo é uma pedra de grande valor para os que creem, mas para os que não creem é a pedra em que as pessoas vão tropeçar (1º Pedro 2.7,8). Em Cristo, Deus é fonte de vida e fonte de morte, de salvação e de condenação. Ainda bem que temos 127 horas. Por isto, apesar do alerta dos médicos, vale a pena ver o filme. Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
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Batismo
Rev. Alex Marciano Schmökel
O Rebatis
da Igreja Adventista do 7º D contrastado ao valor do Bat vida do Cristão à luz de Rm Introdução
A
doutrina do batismo é uma das doutrinas fundamentais em que muitas Igrejas não têm um consenso. Atualmente vivemos diante de um pluralismo religioso, onde muitas denominações religiosas não têm uma visão clara da doutrina do batismo e por isso pregam e ensinam a necessidade de um rebatismo. Isto me levou a pesquisar sobre o assunto para melhor responder às dúvidas das pessoas em relação a isto, pois no meu estágio fui muito questionado sobre o rebatismo que a Igreja Adventista pratica, se é válido ou não. Olhando para este ponto, pretendo escrever esta Monografia de Conclusão de Curso tendo por base o texto bíblico de Romanos 6.3-5 para fundamentar a doutrina bíblica de que não há necessidade de um rebatismo por parte do cristão. Quero trazer a “doutrina bíblica” do batismo da Igreja Adventista do Sétimo Dia e também apresentar o argumento bíblico dos adventistas para um novo batismo. Paralelo a isto, também pretendo fazer uma leve comparação com a doutrina luterana do batismo e também trazer o que Lutero ensinou e escreveu sobre o batismo. E assim enfatizar que o batismo que recebemos tem valor para toda nossa vida. Dessa maneira o cristão pode e deve olhar para seu batismo com confiança e certeza de que ele vale para toda vida; que o batismo nos garante a salvação e o completo perdão dos pecados. Penso que como pastores, deveríamos nos preocu16 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
par mais em ensinar a doutrina do batismo aos nossos congregados, para que pudessem realmente viver o seu batismo na prática, olhar para o batismo como um verdadeiro meio da graça que traz benefícios para a vida do cristão, desde a sua mais tenra idade, quando foi levado à pia batismal pelos seus pais e padrinhos. E estes benefícios recebidos são por exemplo, o ser filho de Deus e viver como um filho de Deus, perdão dos pecados e a salvação eterna.
1. Doutrina do Batismo na Igreja Adventista do 7º Dia Em se tratando do Batismo, os Adventistas do Sétimo Dia creem que Pelo Batismo confessamos nossa fé na morte e na ressurreição de Jesus Cristo, e atestamos nossa morte para o pecado e nosso propósito de andar em novidade de vida. Assim reconhecemos a Cristo como Senhor e Salvador, tornamo-nos Seu povo e somos aceitos como membros por Sua Igreja. O Batismo é um símbolo de nossa união com Cristo, do perdão de nossos pecados e de nosso recebimento do Espírito Santo. É por imersão na água e depende de uma afirmação de fé em Jesus e da evidência de arrependimento do pecado. Segue–se à instrução nas Escrituras Sagradas e à seus ensinos.1 1 ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA. Nisto Cremos: 27 Ensinos Bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia. Hélio Grellmann, trad. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1997, p. 249.
Batismo
smo
Dia tismo na 6.3-5
Por esta citação podemos ver claramente o que a Igreja Adventista crê e ensina com respeito ao Batismo. E alguns detalhes que temos dentro deste parágrafo são a ênfase na imersão; que o Batismo é um mero símbolo da união do crente com Cristo, do perdão dos pecados e do recebimento do Espírito Santo; afirmação de fé em Jesus e evidência do arrependimento dos pecados. E tudo isto se dá somente depois da instrução nas Sagradas Escrituras e da aceitação de seus ensinos. O Batismo por imersão, na doutrina adventista, tem por base os capítulos 6 e 2 das Epístolas de Paulo aos Romanos e aos Colossenses, respectivamente. Mas o texto bíblico que maior apoio dá ao batismo por imersão, na doutrina da Igreja Adventista, é o texto de Ef 4.5, onde eles afirmam que “um só batismo” significa uma só forma ou maneira de batizar, e esta é a imersão. Edward W. A. Koehler diz algo interessante sobre as Igrejas que enfatizam muito o modo do batismo. Koehler diz que “a aplicação de água é essencial ao batismo, mas
o modo de aplicação – imersão, derramamento, aspersão – é coisa indiferente.”2 Mas J. K. Howard, com respeito ao Batismo por imersão e também em relação ao batismo como mero ato simbólico, diz que No ato simbólico do batismo, o crente participa da morte de Cristo, e num sentido muito real esta morte torna-se a sua morte; ele entra também na ressurreição de Cristo, e esta ressurreição torna-se a sua ressurreição.3 Na verdade o batismo simboliza a crucificação e morte da velha maneira de viver. E por isso os adventistas usam a figura da morte e do sepultamento. Agora relacionando isto com o batismo dizem: “Assim como o sepultamento vem após a morte da pessoa, assim – quando 2 KOEHLER, Edward W. A. Sumário da Doutrina Cristã. Arnaldo Schüler, trad. Porto Alegre: Casa Publicadora Concórdia, 1981, p. 195. 3 HOWARD, J. K. New Testament Baptism. In: ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA. Nisto Cremos: 27 Ensinos Bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia. op. cit. p. 255.
o crente submerge nas águas – é sepultada a velha vida de pecados, que deixou de existir quando ele aceitou a Jesus Cristo.”4 E por esta citação chega-se também à conclusão de que os adventistas não batizam crianças, pois os “candidatos ao batismo tornam pública sua decisão de abandonar o serviço de Satanás e de receber a Cristo em sua vida.”5 Ainda dizem o seguinte com relação ao seu batismo por imersão e como um mero símbolo que “sem o arrependimento do pecado e a fé em Cristo, a imersão em água não tem nenhum sentido ou efeito especial.”6 E também Ser imerso com Cristo nas águas batismais é mais do que uma cerimônia simbólica. Representa uma decisão solene e consciente tomada por pessoas que compreendem o que o batismo significa e realiza. Estas considerações nos ajudam 4 Ibid. p. 255. 5 Ibid. p. 256. 6 LOHNE, Alf. Batismo: O que ele significa para os crentes? In: Revista Adventista. Janeiro de 1980, p. 15. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 17
Batismo
a saber quando os candidatos estão preparados, se são filhos e filhas de crentes, ou outras pessoas que precisam ser ensinadas, nas palavras de Jesus “a guardar tudo o que vos tenho ordenado.”7 Sistematizando melhor a doutrina adventista do batismo, vamos ver que existem certas qualificações para o batismo, tais como a fé, arrependimento, exame de candidato. A fé no sacrifício expiatório de Cristo como o único meio de salvação é um pré-requisito para o batismo. Dizem os adventistas que “a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Deus” (Rm 10.17), e assim a instrução representa uma parte essencial da preparação para o batismo. A grande comissão de Cristo confirma a importância de semelhante instrução: “Ide, portanto, fazei discípulos de 7 Ibid. p. 15.
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todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.” (Mt 28.19,20). Para que alguém possa tornar-se um discípulo, é necessária a instrução.8
duz não apenas fé, como também arrependimento e conversão.”10 Assim, em resposta ao chamado de Deus, as pessoas acabam percebendo que estão perdidas em seus pecados, confessam os mesmos, submetem-se à Lei de Deus, aceitam a expiação de Cristo e consagram-se a uma nova vida. E em cima disto os adventistas ainda dizem que: Sem conversão não podem entrar em relacionamento pessoal com Cristo Jesus. Unicamente por intermédio de arrependimento podem experimentar a morte para o pecado – e este é um pré-requisito para o batismo.11
Eles dizem mais sobre isto, que os apóstolos não podiam ler os mais íntimos pensamentos e desejos de seus ouvintes, pois antes de imergirem alguém na água, verificavam se havia alguma base de fé nas pessoas para que pudessem ser batizadas.9 O exemplo aqui tomado, para esta argumentação é o batismo do eunuco, por Filipe, em At 8.37,38. E isto deixa claro que a doutrina Uma Segunda qualificação para o batismo na Igreja Adventista é o adventista do batismo é basicamenarrependimento. Pois dizem que “a te uma lei. E a terceira qualificação para o instrução na Palavra de Deus pro8 ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA. op. cit. p. 259. 9 LOHNE, Alf. op. cit. p. 15.
10 ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA. op. cit. p. 259 11 Ibid. p. 260.
Batismo
batismo na Igreja Adventista são os frutos do arrependimento, onde a pessoa que deseja ser batizada deve professar sua fé e experimentar o arrependimento. Mas isto não significa que as pessoas preencheram os requisitos para o batismo. E estes requisitos são os seguintes, para as pessoas: Sua vida necessita demonstrar seu comprometimento com a verdade conforme ela se manifesta em Jesus, e expressar o amor a Deus através da obediência a Seus mandamentos. Na preparação para o batismo, necessitam demonstrar que abdicam de suas crenças em práticas.12 Assim, concluímos que no ensino adventista sobre o batismo, o batismo é um mero símbolo para que a pessoa seja membro da igreja e também uma obra que o homem realiza para agradar a Deus.
1.1. Argumento Bíblico Para Um Novo Batismo Depois de vermos algumas considerações mais sistematizadas do batismo na Igreja Adventista, queremos agora entrar na questão em que propus esta pesquisa, que é a questão do rebatismo. Em entrevista realizada com o Pastor Wesley Zukowski da Igreja Adventista Central de Novo Hamburgo, no dia 10/08/1999, fui informado de que os adventistas praticam o rebatismo abertamente, mas eles não o consideram como sendo uma doutrina. Mas o rebatismo é um costume importante e extremamente observado. Na verdade o rebatismo, na 12 Ibid. p. 260.
Igreja Adventista do Sétimo Dia, é mais uma questão de ordem, de disciplina eclesiástica do que uma doutrina propriamente dita. E sendo uma questão de ordem ou disciplina eclesiástica na Igreja, como os adventistas praticam o rebatismo, então? Como a Igreja Luterana, a Igreja Adventista também tem seu rol de membros. E se um membro está fazendo parte da igreja e na sua vida diária vive de maneira errada, ou seja, pecando contra a Lei de Deus, e este pecado é descoberto, é manifesto, o indivíduo é logo excluído da igreja. Isto serve principalmente para os Mandamentos de Deus que estão na Segunda Tábua da lei e também para o Terceiro Mandamento, onde eles enfatizam a guarda do sábado. Este membro é excluído da Igreja, pois seu pecado passou a ser de conhecimento público. E para ser admitido novamente como membro da Igreja, precisa pedir perdão publicamente antes de ser rebatizado. Pois este rebatismo é um testemunho perante os outros irmãos de que aquele irmão decidiu novamente seguir à Cristo. Eles aplicam o rebatismo também a pessoas que pretendem ingressar na Igreja Adventista como novos membros. Isto se dá por uma tomada de decisão pessoal em seguir à Cristo e é seguido pelo rebatismo, onde o indivíduo é batizado agora para dentro da Igreja Adventista. E quem não aceita ser rebatizado ainda não é considerado um verdadeiro crente da Igreja. Existem casos, em que pessoas por algum peso de consciência, por terem transgredido a Lei de Deus, não encontram mais o consolo no seu batismo anterior, então acabam
novamente sendo batizados, depois de terem confessado seu pecado e pedido perdão pelo mesmo. E estas palavras do Pastor Wesley, conforme sua entrevista, vem ao encontro do que diz a grande mentora do adventismo, Ellen G. White, em seu livro Evangelismo, quando escreve sobre o ponto “Quando o batismo anterior não satisfaz.” Diz ela O sincero indagador da verdade não alega ignorância da lei como desculpa para a transgressão. A luz estava ao seu alcance. A Palavra de Deus é clara, e Cristo lhe manda examinar as Escrituras. Ele reverencia a lei de Deus como santa, justa e boa, e se arrepende de sua transgressão. Alega, pela fé, o sangue expiador de Cristo, e apodera-se da promessa do perdão. Seu batismo anterior não o satisfaz agora. Viu-se pecador, condenado para o pecado, e deseja ser de novo sepultado com Cristo no batismo, para que possa ressurgir para andar em novidade de vida.13 Ellen G. White diz ainda mais, que para alguém ser rebatizado é necessário uma reconversão também, conforme lemos a seguir O Senhor requer decidida reforma. E quando uma alma está verdadeiramente reconvertida, seja ela rebatizada. Renove ela seu concerto com Deus, e Deus renovará Seu concerto com ela. Importa haver reconversão entre membros, para que, testemunhas de Deus, testifiquem da auto13 WHITE, Ellen G. Evangelismo. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1880, p. 372. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 19
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ridade e poder da verdade que santifica a alma.14 Quanto ao argumento bíblico para um novo batismo, ou rebatismo, eles usam o texto de At 19.1-7. E em cima deste texto eles argumentam que o apóstolo Paulo ao chegar em Éfeso encontrou pessoas que haviam sido batizadas no batismo de João Batista e que foram batizados novamente pelo apóstolo Paulo. Portanto afirmam que estas pessoas não possuíam compreensão clara do evangelho e quando foram “rebatizadas” pelo apóstolo Paulo, estas pessoas passaram a crer, chegaram ao conhecimento de Jesus Cristo. A partir disto podemos ver que a prática do rebatismo não tem lógica e não passa de um rito sem valor, que nenhum consolo traz para a pessoa, em outras palavras atrevo-me a dizer que é urm simples tomar banho.
2. Exegese de Romanos 6.3-5 2.1. Tradução do Texto e Ampliação de Conceitos Básicos
Paulo ressalta que deseja pôr fim à falta de conhecimento dos seus leitores, fazendo com que participem do conhecimento dele. Ele pressupõe um conhecimento que dá a entender uma necessidade de corresponder ao Evangelho.15 Também é dito com respeito a este verbo, o seguinte: Esta forma de linguagem, como no capítulo 7.1, é indubitavelmente uma lembrança de algo já conhecido dos leitores, contudo isto revela ao mesmo tempo uma consciência mais definida e uma visão mais completa do que é conhecido.16 evbapti,sqhmen verbo indicativo aoristo passivo primeira pessoa plural de bapti,zw que significa, batizar; lavar; mergulhar; imergir; submergir. Conforme Joseph H. Thayer No N. T. é particularmente usado no rito da sagrada ablução, primeiro instituído por João Batista, depois sob a ordem de Cristo recebido por cristãos e ajustado aos conteúdos e natureza da sua religião, a saber, uma imersão em água, realizada como um sinal da remoção de pecados, e admi-
Rm 6.3 h' avgnoei/te o[ti( o[soi evbapti,sqhmen eivj Cristo.n VIhsou/n( eivj to.n qa,naton auvtou/ 15 SCHÜTZ, E. avgnoe,w In: Novo evbapti,sqhmenÈ Dicionário Internacional de Teologia do Tradução: Ou não sabeis que, Novo Testamento. Colin Brown. Ed. São todos dentre nós que fomos batizaPaulo: Edições Vida Nova, 1981, V.1, p. 486. dos em Cristo Jesus, em sua morte 16 LANGE, John Peter. Commentary on fomos batizados? the Holy Scriptures – Critical, Doctrinal avgnoei/te verbo indicativo preand Homiletical – Romans. Grand sente ativo Segunda pessoa do pluRapids, Michigan: Zondervan Publishing House, p. 201. “This form of speech, ral de avgnoe,w que significa, ser like chap. 7:1, is indoubtedly a reminder ignorante; desconhecer; não entenof something already known to the der. Com este verbo readers, yet it imparts at the same 14 Ibid. p. 375. 20 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
time a more definite consciousness and a fuller view of what is known.”
Batismo
nistrado a esses que, impelidos por um desejo para salvação, buscavam admissão aos benefícios do reino do Messias.17 evbapti,sqhmen eivj Cristo.n VIhsou/n — “fomos batizados em Cristo Jesus.” O que significa este “fomos batizados em Cristo Jesus?” Através do batismo “no nome do Senhor Jesus” a pessoa passa a ser propriedade do Senhor Jesus. “Pelo nome os batizados são marcados, e selados como a propriedade de Cristo.”18 E também conforme Thomson e Davidson: Ser batizado em Jesus Cristo é entrar em união com a Sua morte, Seu sepultamento e Sua ressurreição. O sepultamento é de fato uma confirmação da realidade da morte. A morte de Cristo dizia respeito ao pecado. Foi o sacrifício pelo qual o pecado foi extinto. A ressur17 THAYER, Joseph H. Thayer’s GreekEnglish Lexicon of the New Testament. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, p. 94. “In the N. T. it is used particularly of the rite of sacred ablution, first instituted by John the Baptist, afterwards by Christ’s command received by Christians and adjusted to the contents and nature of their religion, viz. in immersion in water, performed as a sign of the removal of sin, and administered to those who, impelled by a desire for salvation, sought admission to the benefits of the Messiah’s kingdom.” Observação: a parte grifada acima no texto não está de acordo com a doutrina Luterana do batismo, portanto isto significa que eu não concordo com o que está sendo dito, pois o batismo não é um sinal da remoção de pecados, mas ele opera a remoção dos pecados. 18 SCHLINK, Edmund. The Doctrine of Baptism. St. Louis: Concordia Publishing House, 1972, p. 42. “Through Baptism ‘into the name of the Lord Jesus’ the person is assigned to the Lord Jesus. ‘Through the name the baptized is signed stamped, and sealed as the property of Christ’.”
reição assinalou sua entrada numa nova vida.19 Ainda se tratando do batismo em Cristo, Beasley-Murray diz o seguinte O batismo é “em Cristo” (uma expressão resumida para significar “em nome de Cristo”); relaciona o crente a Cristo de tal maneira que está “em Cristo”. (...) O batismo “em Cristo” é batismo “na sua morte” (Rm 6.3); relaciona o crente à ação redentora de Cristo, de tal modo que a morte de Cristo no Gólgota também é a morte daquele, e significa um fim (“morte”) da vida de alienação de Deus e o início da vida em Cristo. O batismo em Cristo é batismo para a igreja, porque estar em Cristo é ser membro do corpo de Cristo. (...) O batismo em Cristo é para uma vida segundo o padrão da morte de Cristo para o pecado e a sua ressurreição para a retidão.20 Schlink ainda nos fala mais sobre este assunto, da seguinte maneira Batismo em Cristo é batismo em sua morte. (...) Passar a ser propriedade de Cristo é participar de sua morte na cruz e do seu sepulcro. O evento do batismo realmente toma lugar temporário alheio a morte de Jesus, mas pelo batismo a pessoa é determinada naquela 19 THOMSON, G. T., DAVIDSON, F. A Epístola aos Romanos. In: O Novo Comentário da Bíblia. F. Davidson, Editor. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p. 1152. 20 BEASLEY-MURRAY, G. R. ba.ptw. In: Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. op. cit. V. 1, p. 263. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 21
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morte que Jesus Cristo morreu uma vez por todas.21
tiça e pureza diante de Deus eternamente.22
O ser batizado em Cristo ainda é melhor explicado pelo Dr. Martinho Lutero, quando em seu Catecismo Menor nos diz Que o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em jus-
Além desta expressão “fomos batizados em Cristo Jesus”, também temos neste mesmo versículo a expressão eivj to.n qa,naton auvtou/ evbapti,sqhmen — “fomos batizados na sua morte.” O batismo em Cristo é também batismo na sua morte, pois relaciona o crente à ação redentora de Cristo, de tal modo que a morte de Cristo no Gólgota também é a morte daque21 SCHLINK, Edmund. op. cit. p. 47. le, e significa um fim (“morte”) “Baptism into Christ is Baptism into His da vida de alienação de Deus death. (...) To be assigned to Christ is to be given into His death on the cross and into His grave. The Baptism event indeed takes place temporally removed from Jesus’ death, but through Baptism the person is given into that death which Jesus Christ died once for all.”
22 LIVRO DE CONCÓRDIA. As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. Catecismo Menor Arnaldo Schüler, trad. 4a ed. Porto Alegre e São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1993, p. 376.
e o início da vida em Cristo.23 Leon Morris nos traz também o que é ser batizado em Cristo e na sua morte, quando ele diz o seguinte: Paulo passa a caracterizar batismo como em Cristo Jesus (“em união com Cristo Jesus”), um modo incomum de descrever este sacramento. Batismo, assim falando, incorpora os batizados em Cristo; eles são batizados “em um corpo” (1 Co 12:13), feitos parte daquele corpo que é o corpo de Cristo (“’foi batizado em união com’ [não somente ‘para obedecer’] ‘Cristo’. O ato do batismo era um ato de incorporação em Cristo”). isto pode ser feito de modo um pouco mais preciso. Esses assim batizados foram batizados na sua morte onde em sua morte recebe um pouco de ênfase da sua posição. É a morte de Cristo que faz de alguém um cristão, e à parte dela o batismo é sem sentido. Esta é uma afirmação forte da centralidade da cruz. Leenhardt vê uma conexão com 2 Co 5:14, “um morreu por todos, logo, todos morreram”. A morte de Cristo é o único fundamento de nossa justificação, e quando nós fazemos dela propriedade nossa pela fé nós estamos unidos com Cristo – unidos com ele na sua morte, unidos com ele no seu sepultamento, unidos novamente com ele na sua ressurreição, unidos com ele em vida.24 23 BEASLEY-MURRAY, G. R. op. cit. p. 262. 24 MORRIS, Leon. The Epistle to the Romans. Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1988, p. 247. “Paul goes on to characterize baptism as into
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Batismo
Stoeckhardt, com respeito ao De igual modo diz o comentarisque significa ser batizado em Cristo ta da Concordia Self-Study Bible e na sua morte, diz o seguinte: O quando e como da morte Nós fomos batizado em Cristo do cristão para o pecado. O Jesus, que significa nada mais batismo é um meio pelo qual do que através do batismo nós nós entramos em uma relação fomos colocados em uma relavital de fé com Jesus Cristo. É ção com Cristo Jesus. “Batismo um meio de receber a graça de cristão é de fato um comparDeus, e descreve graficamente tilhar em Jesus e na salvação como acontece o resultado da merecida por Ele. (...) Cristo união do cristão com Cristo. tornou-se o Mediador da salpela fé nós estamos unidos com vação e ganhou-nos salvação Cristo, da mesma maneira que pela Sua morte. Ao Ele tomar pelo nosso nascimento natural sobre si nossos pecados e sofrer nós estamos unidos com Adão. por nós e nos reconciliar pelo Como nós caímos em pecado e seu sofrimento e morte, Crisnos tornamos sujeitos à morte to nos redimiu da culpa e do no pai Adão, assim agora nós castigo de pecado (...). Cristo morremos e fomos ressuscitados também quebrou o poder do novamente com Cristo — o 25 pecado através de sua morte. que o batismo efetua.26 Christ Jesus (“into union with Christ Jesus”), an unusual way of describing this sacrament. Baptism, so to speak, incorporates the baptized into Christ; they are baptized “into one body” (1 Cor. 12:13), made part of that body which is the body of Christ (“’were baptized into union with’ [not merely ‘obedience to’] ‘Christ’. The act of baptism was an act of incorporation into christ”). This can be made a little more precise. Those so baptized were baptized into his death, where into his death receives some emphasis from its position. It is the death of Christ that makes anyone Christian, and apart from that death baptism is meaningless. This is a strong affirmation of the centrality of the cross. Leenhardt sees a connection with 2 Cor. 5:14, “one died for all, and therefore all died.” Christ’s death alone is the ground of our justificastion, and when we make that our own by faith we are united with Christ – united with him in his death, united with in his burial, united with him in his rising again, united with him in life.” 25 STOECKHARDT, George. Romans. Edward W. Schade, trad. St. Louis: Concordia Theological Seminary Printshop, 1984, p. 259. “We have been baptized into Christ Jesus, which means nothing else than that by Baptim we have been placed into a relationship to Christ Jesus. “Christian Baptism is
Portanto, se fomos batizados em Cristo Jesus e na sua morte, entramos então em um íntimo relacionamento com Deus, pois passamos a actually a sharing in Jesus and in the salvation merited by Him. (...) Christ has become the Mediator of salvaton and has earned salvation for us through His death. In that He has taken our sins upon Himself and atoned for and reconciled us through His suffering and death, christ has redeemed us from the guilt and punishment of sin (...). Christ has also, by His death, broken the power of sin.” 26 CONCORDIA SELF-STUDY BIBLE. New International Version. St. Louis: concordia Publishing House, 1986, p. 1724. “Then when and how of the Christian’s death to sin. Baptism is a means by which we enter into a vital faith relationship with Jesus Christ. It is a means of receiving God’s grace, and it depicts graphically what happens as a result of the Christian’s union with Christ.Through faith we are united with Christ, just as through our natural birth we are united with Adam. As we fell into sin and became subject to death in father Adam, so we now have died and been raised again with Christ – which baptism effects.”
ser filhos de Deus e não mais “filhos da ira”, conforme Ef 2.3. Rm 6.4 suneta,fhmen ou=n auvtw/| dia. tou/ bapti,smatoj eivj to.n qa,naton( i[na w[sper hvge,rqh Cristo.j evk nekrw/n dia. th/j do,xhj tou/ patro,j( ou[twj kai. h`mei/j evn kaino,thti zwh/j peripath,swmenÅ Tradução: Pois fomos sepultados com ele através do batismo na morte, para que como Cristo foi ressuscitado dos mortos através da glória do Pai, assim também andemos nós em nova vida. suneta,fhmen verbo indicativo aoristo passivo primeira pessoa do plural, de sunqa,ptomai ser sepultado juntamente com. Este verbo, aqui neste texto e em Cl 2.12 se emprega como figura do batismo. Aqui se declara que o discípulo é identificado com seu Mestre na morte, no sepultamento e na vida ressurreta.27 suneta,fhmen ou=n auvtw/| dia. tou/ bapti,smatoj eivj to.n qa,naton — “pois fomos sepultados com ele através do batismo na morte.” Ser sepultado com Cristo na morte pelo batismo é um ato reconciliador de Deus para com cada ser humano, em que, pelo batismo o homem renasce novamente. Diz Jungkuntz Pois somente através da fé e do batismo é que a participação na morte de Cristo ocorre de tal maneira que aquele que é batizado deve dizer: “Eu fui morto; aquela morte na cruz é minha morte, meu juízo, meu inferno.” Somente assim a morte de Cristo será eficaz para mim.28 27 HEMER, C. J. sunqa,ptomai. In: Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. op. cit.V. 2, p. 67. 28 JUNGKUNTZ, Richard. El Evangelio Del Bautismo. St. Louis: Concordia Publishing House, 1968, p. 48. “Pero Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 23
Batismo
Conforme Bruce, “ser sepultado com ele na morte pelo batismo”, significa que o batismo do cristão é um sepultamento simbólico em que a velha ordem da vida chega ao fim, para ser substituída pela nova ordem da vida em Cristo.29 O Peoples New Testament Notes nos traz uma visão simples do que significa este “ser sepultado com ele através do batismo na morte”, diz assim Nós fomos sepultados pelo batismo na morte. O argumento é que um sepultamento implica morte. Batismo é um sepultamento, então seu objeto morreu. Como Cristo morreu pelos pecados, nós morremos para o pecado; como Cristo crucificado foi sepultado, nós que morremos para o pecado pelo evangelho somos sepultados com ele. Como morte e sepultamento separam da vida natural, assim morte para o pecado e sepultamento em Cristo deveriam cortar completamente nossas relações com o pecado.30 sólo a través de la fe y el bautismo es que la participación en la muerte de Cristo ocurre de tal manera que aquel que es bautizado debe decir: “Yo he muerto; aquella muerte en la cruz es mi muerte, mi juicio, mi infierno.” Sólo así es eficaz para mi la muerte de Cristo.” 29 BRUCE, F. F. Romanos – Introdução e Comentário. Sào Paulo: Edições Vida Nova, 1996, p. 112. 30 PEOPLES NEW TESTAMENT. In: Bíblia On Line. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. “We were buried through baptism into death. The argument is that a burial implies death. Baptism is a burial, therefore its subject has died. As Christ died through sin, we die to sin; as the crucified Christ was buried, we who have died to sin through the gospel are buried with him. As death and burial separate from the natural life, so death to sin and burial into Christ should completely sever our relation to sin.” 24 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
i[na w[sper hvge,rqh Cristo.j evk nekrw/n dia. th/j do,xhj tou/ patro,j — “para que como Cristo foi ressuscitado dos mortos através da glória do Pai”. Glória, neste texto, sem dúvida significa o poder de Deus. E Deus manifestou seu poder com a ressurreição de seu Filho de entre os mortos. Thayer define esta parte do versículo como a “majestade de Deus exibida em ações e poder.”31 E esta parte do versículo deixa clara esta definição de Thayer, pois a ressurreição de Cristo de entre os mortos é uma exibição do poder de Deus através de Suas ações. u[twj kai. h`mei/j evn kaino,thti zwh/j peripath,swmen — “assim também andemos nós em nova vida. kaino,thti zwh/j — Lange define este “andar em novidade de vida”, da seguinte maneira Em novidade de vida: quer dizer, em uma nova forma e maneira de vida, que é entendida subsequentemente como incorruptibilidade e então também, por implicação, como novidade ininterrupta e renovação perpétua da existência. Andar dá importância à prova prática desta novidade em nova e livre conduta de vida.32 Este “andar em novidade de vida” tem a ver com a conversão. Pois a conversão acontece no batismo. Mas como ainda temos a velha natureza pecaminosa, que herdamos 31 THAYER, Joseph H. op. cit. p. 156. “The majesty of God as exhibited in deeds of power.” 32 LANGE, John Peter. op. cit. p. 202. “In newness of life: that is, in a new kind and from of life, which is subsequently denoted as incorruptibility, and therefore also by implication as continual newness and perpetual renewal os existence.Walk gives prominence to the practical proof of this newness in new, free conduct of life.”
de Adão, dentro de nós, é necessário então que nos arrependamos diariamente de nossos pecados, para assim andarmos em novidade de vida. E com respeito aos que foram batizados e agora “andam em novidade de vida”, Schlink diz o seguinte Os que foram batizados devem “andar em novidade de vida” e se render a Deus “como homens que foram trazidos da morte para a vida”. Visto que o participar da morte de Cristo garante a ressureição, o batizado, como alguém que morreu com Cristo, já participa da vida que há de vir.33 33 SCHLINK, Edmund. op. cit. p. 52. “The baptized are to “walk in newness of life” and yield themselves to God “as men who have been brought from death to life”. Because being given into Christ’s death guarantees the resurrection, the baptized, as one who has died with Christ, participates already in the life that is to come.”
Batismo
O “andar em nova vida” faz parte da vida santificada do cristão. E este “andar em nova vida” é uma referência à vida moral. Esta expressão assinala a qualidade do comportamento que deve ser o nosso.34 Mas para que haja uma mudança na maneira de viver, ou seja, um “andar em nova vida”, é necessário que haja um arrependimento diário, mas para que isto aconteça de fato, é preciso que a pessoa seja justificada pela fé em Cristo. Pois, antes de a pessoa ser justificada, não se acham nela nem santificação nem boas obras; todavia, depois da justificação ela é continuamente santificada e impelida a praticar boas obras pela fé em Cristo.35 34 CRANFIELD, C. E. B. Carta aos Romanos. São Paulo”Edições Paulinas, 1992, p. 132. 35 MUELLER, John Theodore. Dogmática Cristã. 3a ed. Porto Alegre: Concórdia
E pela fé em Cristo o crente converte-se em nova criatura, que está de acordo com a vontade de Deus e vive inteiramente para Deus, em novidade de vida espiritual para a qual entrou.36 Rm 6.5 eiv ga.r su,mfutoi gego,namen tw/| o`moiw,mati tou/ qana,tou auvtou/( avlla. kai. th/j avnasta,sewj evso,meqa\ Tradução: Se, pois, fomos unidos na semelhança da sua morte, de igual modo, seremos na sua ressurreição. Joseph H. Thayer, ao dar o significado da palavra su,mfutoi (estar unido com), faz o seguinte comentário deste versículo: Se nós fomos unidos na semelhança da sua morte (semelhança que consiste no fato de que na morte de Cristo nossa antiga corrupção e maldade foram mortas e sepultadas na tumba de Cristo), isto é, se é parte e parcela da própria natureza de um cristão genuíno estar totalmente morto para o pecado, nós também seremos unidos na semelhança da sua ressurreição, isto é, nossa íntima comunhão com seu retorno para vida irá mostrar-se em uma vida nova consagrada a Deus.37 Editora,V. 2, p. 63. 36 Ibid. p. 67. 37 THAYER, Joseph H. op. cit. p. 597. “If we have become united with the likeness of his death (which likeness consists in the fact that in the death of Christ our former corruption and wickedness has been slain and been buried in Christ’s tomb), i. e. if is part and parcel of the very nature of a genuine Christian to be utterly dead to sin, we shall be united also with the likeness of his resurrection i. e. our intimate fellowship with his return to life will show itself in a new life consecrated to God.”
Esta união com Cristo na sua morte e na sua ressurreição também tem a ver com a santificação do crente, pois a sua vida cristã tem origem em Cristo. E a este respeito, vejamos o que diz Leon Morris O ponto de Paulo é que a vida espiritual do crente não é auto-originada mas é derivada de Cristo, com quem ele agora é um. A união é do tipo mais íntimo, e a vida a partir de Cristo flui através dele.38 No batismo, “estar unido com Cristo”, significa ter uma nova existência, ou seja, a pessoa passa a fazer parte da igreja cristã. E uma recomendação sobre isto quem nos traz é Gustaf Aulén, quando diz Embora o batismo o envolva fundamentalmente na participação no corpo de Cristo, não deve ser entendido simplesmente como um ato de iniciação. O batismo não se dirige ao passado e sim ao futuro, tanto em relação à vida na Igreja de Cristo, quanto em relação à consumação escatológica. O batismo significa uma nova existência: morrer com Cristo e viver com Ele; (...). Mas essa nova existência não é alguma coisa que o próprio homem possa criar e desenvolver mediante seus próprios esforços. Ela lhe é dada no ato gracioso de Deus. Mediante a obra do Espírito Santo, torna-se sua posse e transforma-se no próprio conteúdo da sua vida na obe38 MORRIS, Leon. op. cit. p. 250. “Paul’s point is that the spiritual life of the believer is not self-originated but is derived from Christ, with whom he is now one.The union is of the closet sort, and life from Christ flows through to him. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 25
Batismo
diência da fé. Essa é a tremenda responsabilidade que está associada inseparavelmente ao batismo. É possível perder a graça do batismo, o Dom de ser incorporado ao corpo de Cristo. mas nunca poderá surgir uma situação em que o batismo não possa ser mais útil, pois é ele a expressão irrevogável da vontade redentora de Deus.39 Olhando para o ponto de que o cristão está unido a Cristo pelo batismo, vemos que fazemos parte da “família dos batizados em Cristo”.40 E como filhos de Deus, que somos por meio do batismo, nossos pecados são perdoados e podemos ter a certeza de que este perdão é contínuo. E agora olhando para todas estas bênçãos que o batismo nos oferece, nós colocamos nossos dons em prática, através de uma vida santificada.
2.2. Lutero e o Texto
norais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Neste versículo, em seu comentário à Epístola aos Romanos, Lutero enfatiza mais a morte. E a morte como uma legítima consequência do pecado. Ele também diz que existem dois tipos de morte: “a morte natural, ou melhor dizendo, temporal e morte eterna.”42 A morte temporal é a separação do corpo e da alma. E ao falar na morte eterna, Lutero também a separa em duas, uma boa e gloriosa e outra horrível. Da morte boa e gloriosa, Lutero diz o seguinte É a morte do pecado e a morte da morte. Nela a alma é libertada e separada do pecado, e o corpo é libertado da corrupção, e mediante a graça e a glória entram em união com o Deus vivo. Esta, e somente esta, é a morte no sentido mais perfeito da palavra. (Na verdade, em todas as demais mortes é recolhido algo que está mesclado com a vida, exceto nesta boa morte eterna: nela não há mais que vida em sua forma mais pura, porque é vida eterna).43
E com respeito a morte horrível, Lutero nos diz o seguinte Porém há também outra morte eterna, e esta outra é a mais horrível que alguns podem imaginar-se. É a morte dos condenados. Ali não morre o pecado e o pecador, permanecendo a salvo o homem, mas pelo contrário: o que morre é o homem, o pecado todavia vive e permanece por toda a eternidade.44
pecado y la muerte de la muerte. En ella, el alma es liberada y separada del pecado, y el cuerpo es liberado de la corrupción, y mediante la gracia y la gloria entran en unión com el Dios viviente. Esta, y sólo esta, es la muerte en el sentido más cabal de la palabra. (En verdad, en todas las demás muertes queda algo que está mezclado com la vida, excepto en esta buena muerte eterna: en ella no hay más que vida en su forma más pura, porque es vida
horrible que uno puede imaginarse. Es la muerte de los condenados. Allí no muere el pecado y el pecador, quedando a salvo el hombre, sino al contrario: el que muere es el hombre, el pecado empero vive y permanece por toda la eternidad.” 45 LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre o Santo,Venerabilíssimo Sacramento do Batismo. In: OBRAS SELECIONADAS. V. 1. Porto Alegre e São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1987, p. 417.
Lutero não menciona nada sobre o batismo neste versículo. O seu ponto gira em torno da morte, tanto física, como espiritual ou eterna. Então deduz-se que o batismo e seu valor na vida do cristão estejam implícito, pois o batismo nos salva da morte eterna, nos dá o perdão total de nossos pecados e nos une com Deus, e isto é unicamente pela graça de Deus. Mas há o perigo de alguns pensarem que depois disto, não exista mais o pecado na pessoa. E assim muitos “ficam preguiçosos e negligentes em mortificar sua natureza pecaminosa.”45 E esta mortificação da natureza pecaminosa veremos a seguir no versículo 4. Versículo 4: Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo ba42 LUTERO, Martín. Comentarios de tismo; para que, como Cristo foi Martín Lutero – Carta del Apóstol Pablo ressuscitado dentre os mortos pela
O capítulo 6 de Romanos, é visto por Lutero como o lugar em que “o apóstolo trata da obra particular da fé: a contenda do Espírito com a carne.”41 E esta obra particular da fé é matar aqueles pecados que ficam mesmo após nossa justificação. E isto começou no nosso batismo, que a Los Romanos. Barcelona, Espanha: na verdade é a morte dos pecados, a Editorial CLIE, 1998, p. 225. “Muerte ressurreição para uma nova vida e o natural, o mejor dicho temporal, y eterna).” andar nesta nova vida. muerte eterna.” 44 Ibid. p. 226. “Pero hay también otra Versículo 3: Ou, poventura, ig- 43 Ibid. p. 225 e 226. “Es la muerte del muerte eterna, y esta otra es lo más 39 AULÉN, Gustaf. A Fé Cristã. Dírson G. V. dos Santos, trad. São Paulo: ASTE, 1965,p. 325. 40 BRAND, Eugene L. O Batismo – Uma Perspectiva Pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 1982, p. 14. 41 LUTERO, Martinho. Prefácio à Epístola de São Paulo aos Romanos. In: PELO EVANGELHO DE CRISTO. Porto Alegre e São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1984, p. 188. 26 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. “A vida do cristão não é outra coisa do que um começar a morrer ditosamente, desde o batismo até a sepultura.”46 E Lutero continua dizendo, com respeito a este versículo e esta sua afirmativa que Quanto antes a pessoa morre depois do batismo, tanto mais cedo é consumado seu batismo. Pois o pecado não acaba totalmente enquanto vive este corpo, que foi concebido tão integralmente no pecado, que o pecado é sua natureza. Para tal natureza não há remédio algum, a não ser que ela morra e se aniquile juntamente com seu pecado.47 Mas Lutero não enfatiza somente a vida do cristão como uma morte, mas também, assim como a vida do cristão é um morrer constante pelo batismo, é também um ressuscitar constante pelo batismo. Ele denomina essa morte e ressurreição de “nova criatura, regeneração e nascimento espiritual.”48 Mas o cristão não está livre de seu pecado. Ele ainda tem seu pecado e os desejos pecaminosos estão sempre lhe atormentando. Por isso Lutero dá muita ênfase na misericórdia de Deus através do batismo. E isto nós podemos ver no seu escrito Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo, quando diz Se, pois, não existisse esse pacto (batismo) e se Deus, misericordiosamente, não fizesse
vistas grossas, não haveria pecado tão pequeno que não nos condenasse, porque o juízo de Deus não tolera pecado algum. Por essa razão, não há consolo maior sobre a terra do que o batismo, pelo qual entramos no juízo da graça e misericórdia, que não condena o pecado, mas o expulsa com muito exercício.49
Na verdade, o homem sempre cai e peca, porque ele ainda está na carne, tem seus desejos carnais e é movido por eles constantemente, mas seu consolo está no batismo que vale para sempre. 46 Ibid. p. 416. Enquanto estamos vivendo nes47 Ibid. p. 416. te mundo, não temos como nos 48 LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. In: OBRAS desprender do pecado, mas pelo SELECIONADAS. V. 2. Porto Alegre e São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1989, p. 383.
49 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 1. op. cit. p. 419.
batismo, pelo andar em novidade de vida, o cristão renuncia às vaidades do mundo e agarra-se à vida futura. Versículo 5: Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. Nos escritos de Lutero, usados até aqui, não há nenhuma menção específica sobre o versículo 5 de Romanos 6. Mas tratando do batismo como morte e ressurreição, Lutero deixa claro que isto tem um significado futuro, quando ele diz que O tirar da água batismal passa depressa, mas o seu significado, o nascimento espiritual, a multiplicação da graça e da justiça, tudo isso certamente inicia com o batismo, mas dura também até a morte, sim, até o último dia. Só então Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 27
Batismo
se realizará por completo o que o tirar da água do batismo significa. Então ressuscitaremos da morte, dos pecados, de todo mal, puros em corpo e alma, e viveremos eternamente. Então, completamente tirados da água do batismo e nascidos perfeitos, vestiremos o verdadeiro traje batismal da vida imortal no céu.50 Lutero também fala em seu Catecismo Maior que “a obra, o fruto do batismo é salvar, levar o pecador a chegar ao reino de Cristo e com ele viver eternamente.”51 E isto é de grande valor, pois pelo batismo se alcança um grande tesouro. Nesta perspectiva de morrer, ressuscitar e vida eterna pelo batismo, Lutero ainda diz que Foste batizado sacramentalmente uma vez, mas sempre deves ser batizado pela fé, sempre morrendo e sempre vivendo. O batismo absorveu todo o corpo e o devolveu novamente. Assim, a realidade do batismo deve absorver toda a tua vida com corpo e alma e devolvê-la, no último dia, vestida da estola da glória e da imortalidade. Dessa maneira, jamais estamos sem o sinal e a própria realidade do batismo. Ou melhor: sempre devemos ser batizados, mais e mais, até completar o sinal integralmente no dia derradeiro.52 No dia derradeiro a promessa de salvação, feita em nosso batismo, se concretizará, pois ressuscitaremos assim como Cristo ressuscitou e es50 Ibid. p. 416. 51 LIVRO DE CONCÓRDIA. op. cit. p. 477. 52 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 2. Op. cit. p. 384. 28 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
taremos com Cristo no reino da Sua O Sinal consiste em mergulhar glória. Por isso um só batismo é váli- a pessoa na água em nome do Pai e do, pois contém esta promessa. do Filho e do Espírito Santo. Mas a pessoa não é deixada dentro da água, mas é tirada novamente. Por isso, o 3. Lutero e o Batismo sinal deve conter ambas as partes: o Lutero começa a falar em seu colocar na água do batismo e o tirar Catecismo maior que o batismo é dela.57 uma instituição e um mandamento O Significado é um morrer bemde Deus, pelo qual somos recebidos -aventurado do pecado e uma resna cristandade desde cedo. E sendo surreição na graça de Deus, de modo uma instituição e um mandamen- que o velho ser humano, concebido to de Deus, então o batismo não é e nascido em pecado, é afogado, e obra humana, mas de Deus, baseada um novo ser humano, nascido na especialmente na sua ordem dada graça, surge e se levanta.58 em Mc 16.16 e Mt 28.18s53 e dela Ainda em relação ao significado depende a nossa salvação. Pois “o do batismo, Lutero diz que este sigbatismo é a representação litúrgica nificado do batismo não se realiza da doutrina da justificação pela fé por completo nesta vida, até que o somente.”54 Por isso, ainda que leva- ser humano morra corporalmente e do a efeito pelas mãos do homem, se transforme em pó. não obstante é verdadeiramente O sacramento ou sinal do baobra de Deus mesmo.55 tismo se realiza depressa, como Com tamanha importância e vemos com nossos próprios valor dado ao batismo, por Lutero, olhos, mas o significado, o bavemos que tismo espiritual, o afogamenLutero entende que Deus honto do pecado, dura enquanto ra sobremaneira nosso batismo vivemos e só é consumado na no batismo de Seu Filho. Porhora da morte. Então a pesque é inseparável da morte de soa é verdadeiramente imersa Cristo, o batismo não pode ser na água batismal e se realiza repetido. Ele dá Cristo uma o significado do batismo. Por vez por todas ao batizado e o isso, essa vida nada mais é que separa de todos os demais seum incessante batizar espirires humanos: agora é povo de tual até a morte.59 Cristo.56 A Fé é a aceitação firme da proE para Lutero, no batismo exis- messa de Deus de que a nossa putem três coisas importantes, que reza vem da imputação de Deus, da são: o sinal, o significado e a fé. E sua aliança, da sua misericórdia. Luagora veremos o que significa cada tero entende que o batismo faz duas um deles. coisas: perdoa o pecado e nos arma 60 53 LUTERO, Martinho. OBRAS para que o pecado se afaste de nós. Conforme o que Lutero escreveu SELECIONADAS.V. 1. op. cit. p. 413. 54 GEORGE, Timothy. Teologia dos em seu Catecismo Menor, sabemos Reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994, p. 94. 55 LIVRO DE CONCÓRDIA. op. cit. p. 475. 56 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 1. op. cit. p. 413.
57 Ibid. p. 415. 58 Ibid. p. 415. 59 Ibid. p. 415 e 416. 60 Ibid. p. 414.
que o batismo não é apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento divino e ligada à palavra de Deus.61 E relacionando isto com o que foi dito a respeito da fé no parágrafo acima, vemos que “a fé se apega à água, crendo que é o batismo, em que há pura salvação e vida. Não pela água (...) mas porque está unido à palavra e ordem de Deus e por lhe estar aderido o seu nome.”62 Por isso a água compreendida no mandamento divino refere-se ao batismo. E quem rejeita o batismo, está rejeitando a Palavra de Deus, a fé e a Cristo.63 E a Igreja da época de Lutero dava mais valor a diversos votos instituídos pelo próprio clero do que às ordens de Deus. E contra isto Lutero não se calou, que chegou a afirmar que O ingresso em uma ordem monástica é como um novo batismo. Logo, pode ser renovado tantas vezes quantas for renovado o propósito de entrar na ordem. Desse modo tais professos atribuíram somente a si próprios a justiça, a salvação e a glória. Para os batizados não deixaram absolutamente nada com que pudessem comparar-se a eles. O pontífice romano, fonte e autor de todas as superstições, confirma esses modos de viver com magníficas bulas e indultos, aprovando e adornando-os. Do batismo, contudo, ninguém se lembra. Mas com essas pompas enganosas lançam o povo obediente de Cristo a quaisquer rochas das Simplegadas (Na mitologia, são duas pequenas ilhas de for61 LIVRO DE CONCÓRDIA. op. cit. p. 375. 62 Ibid. p. 478. 63 Ibid. p. 478. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 29
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mação rochosa que esmagavam a tudo o que entre elas passava. Localizavam-se no acesso ao Pontos Euxeinos – Mar Negro. Quando da passagem dos argonautas, tornaram-se fixas.), para que, ingratos a seu batismo, pretendem realizar, com suas obras, coisas melhores do que outros com a fé.64 Aqui vemos que o valor do batismo na vida do cristão é maior do que todos e quaisquer tipos de votos ou ordenanças que não vem de Deus, porque os sacramentos foram instituídos para alentar a fé dos crentes e dar-lhes o perdão de todos seus pecados. Pois “no batismo Deus anuncia sua aceitação graciosa do pecador.”65 E “no batismo todos nós fazemos o mesmo voto: matar o pecado e tornar-nos santos pela graça de Deus, a quem nos oferecemos e nos sacrificamos como barro ao oleiro; nisso não há ninguém que seja melhor do que os outros.”66 E isto significa que quando alguém busca a eficácia, o perdão que o sacramento oferece, fora da promessa Divina, esta pessoa está se esforçando em vão e caminhando em direção a sua condenação. E por isso Lutero diz que o proveito, o valor do batismo está na aliança que Deus faz conosco num pacto gracioso e consolador, em que a partir do batismo Ele começa a “renovar o ser humano e lhe infunde Sua graça e Seu Espírito Santo.”67 E Lutero diz mais, com relação a obra do Espírito Santo em nós, que “este começa a matar a natureza e o pecado e a pre64 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 2. op. cit. p. 388. 65 GEORGE,Timothy. op. cit. p. 94. 66 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 1. op. cit. p. 423. 67 Ibid. p. 418. 30 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
parar-te para morrer e ressuscitar no último dia.”68 Mas Lutero não diz somente isto com respeito ao valor do batismo na vida do cristão. Lutero é bastante enfático, valoriza muito o batismo e com isto podemos ver que o batismo na visão de Lutero não é uma mera cerimônia, mas um constante “retornar ao poder de nosso batismo”69 por meio do arrependimento. E Lutero diz mais sobre o valor do batismo na vida do cristão, quando aplica também à vida cristã, dizendo que “a vida cristã nada mais é do que um batismo diário, outrora iniciado e permanentemente vivido.”70 Lutero ainda falando do valor do batismo na vida do cristão, diz É preciso que te comprometas a perseverar nisso, destruindo, enquanto viveres, teu pecado mais e mais, até a morte. Também isto é aceito por Deus, que te exercita durante toda a tua vida com muitas boas obras e uma variedade de sofrimentos. Com isto, realiza o que desejaste no batismo: ser livrado do pecado, morrer e ressuscitar; renovado, no último dia, consumando, assim, o batismo. É por esta razão que lemos e vemos como ele fez com que seus amados santos fossem tão torturados e sofressem muito, a fim de que, mortos logo, cumprissem o Sacramento do Batismo, morressem e fossem renovado. Pois se isso não acontece e não temos sofrimento nem exercício, a natureza maligna derrota o ser humano, fazendo com que este anule o proveito do batismo e caia em 68 Ibid. p. 418. 69 GEORGE,Timothy. op. cit. p. 95. 70 Ibid. p. 95.
pecado, permanecendo o velho ser humano de antes.71 A partir disto tudo podemos ver que Lutero propõe aos cristãos que ao estarem no erro, no pecado, que arrependam-se dos mesmos, olhem para seu batismo e aí encontrem o perdão, o conforto e a promessa da salvação, dada por Deus à Seus filhos por este meio da graça. Lutero ensina que “o cristão deve despertar constantemente a sua fé e esta fé deve sempre ser fortalecida com o constante lembrar desta promessa de Deus.”72 E além disso ensina, também, que o cristão deve afogar diariamente o seu velho homem e deixar que surja o novo homem, que ande em justiça e novidade de vida diante de Deus. Lutero não ensina que o cristão, ao pecar, deva ser rebatizado, conforme o ensino da igreja Adventista, visto acima. Mas Lutero diz que o batismo nunca se torna inválido e quem foi batizado deve sempre ser batizado pela fé, morrendo e vivendo. E Lutero ainda diz que “mesmo que fôssemos imersos na água cem vezes, mesmo assim seria um só batismo. O efeito e a significação continuam e permanecem.”73 Portanto, o cristão renova diariamente seu batismo confiando nas promessas de Deus de que “Quem crer e for batizado será salvo, porém quem não crer será condenado.”, conforme Mc 16.16.
4. O rebatismo contrastado ao texto de Rm 6.3-5 Neste capítulo final, tendo uma 71 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 1. op. cit. p. 418. 72 LUTERO, Martinho. OBRAS SELECIONADAS.V. 2. op. cit. p. 377. 73 LIVRO DE CONCÓRDIA. op. cit. p. 485.
Batismo
visão geral do que já foi escrito nos capítulos anteriores, pretendo responder a duas perguntas. A primeira é: Como o texto anula o rebatismo? E a segunda é: Há necessidade de um rebatismo? Vejamos a primeira pergunta. O foco central deste texto para anular o rebatismo está no versículo 4, que diz: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.” E este versículo é claro ao mostrar a analogia do apóstolo Paulo com respeito ao sepultamento da nossa natureza pecaminosa no batismo, juntamente com a morte e sepultamento de Cristo, bem como também o surgir de uma nova natureza com a ressurreição de Cristo. Isto deixa claro também que o batismo é somente uma vez e é dele também que vem a motivação do cristão para viver uma vida santificada. Este texto anula o rebatismo
por meio de uma vida cristã digna, em que o cristão se exercita no arrependimento diário, mudando suas atitudes e comportamento, ou como diz o texto, “andando em novidade de vida”. E isto é algo que Lutero enfatiza muito na doutrina do batismo em seu Catecismo Menor. Por isso “mesmo que alguém caia do batismo e peque, contudo, sempre temos acesso a ele (Deus)... Mas não precisamos ser novamente borrifado com água”74, mas deve-se anunciar-lhe o perdão e mostrar para esta pessoa que ela já pertence a Deus desde o seu batismo, já é propriedade exclusiva de Deus, por isso agora é preciso que ela se exercite no arrependimento diário, andando em novidade de vida. A Escritura também não ordena que se aplique o batismo mais de uma vez na mesma pessoa. “O batismo uma vez aplicado deve confortar o crente por toda a sua vida.”75 E respondendo à segunda pergunta proposta, não há necessidade de um rebatismo, conforme prega e ensina a Igreja Adventista, pois como diz nosso dogmático John Th. Mueller O arrependimento diário do fiel cristão nada mais é que o constante retorno penitente ao concerto de graça que Deus estabeleceu com ele no batismo, ou seja, a apreensão contínua pela fé das graciosas promessas de remissão, vida e salvação a ele oferecidas e transmitidas neste precioso sacramento. Assim também o arrependimento dos que apostataram da fé cristã é apenas um retorno ao
seu batismo (...). O ministro cristão deve sempre incutir esta verdade aos seus ouvinte, especialmente quando chamado a instruir e confirmar os catecúmenos.76 Portanto digo aqui para concluir este capítulo que o batismo é uma aliança feita por Deus com os homens, e pela fé o cristão se apropria dos benefícios que esta aliança traz. Mas o rebatismo na verdade é uma quebra desta aliança, por parte do homem. E por isso o rebatismo não passa de uma simples invenção humana sem base bíblica.
Conclusão
Concluo que realmente o texto de Romanos 6.3-5 é bem aplicado ao batismo, pois realmente mostra qual é o significado e o valor do batismo para o cristão em sua vida. Pude perceber que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não entende ou não entendeu este significado do batismo, pois mesmo sendo uma questão mais de ordem e disciplina eclesiástica, eles aplicam o rebatismo às pessoas. Constatei também que Lutero realmente faz uma boa aplicação deste texto à doutrina do batismo, mostrando que o batismo tem uma dimensão futura também, quando ele fala do morrer e do ressuscitar. Conclui que realmente deve-se ensinar mais sobre o batismo e seu valor ao nosso povo do que deixá-los na idéia de que o batismo é um mero ritual para se pertencer a uma Igreja, ou um mero ritual exigido pelo pastor e pela Igreja. Mas devemos mostrar-lhes que o batismo 74 KOEHLER, Edward W. A. Sumário da aponta para esta vida diária, mas Doutrina Cristã. Op. cit. p. 201. 75 MUELLER, John Theodore. Dogmática Cristã.V. 2. Op. cit. p. 175.
76 Ibid. p. 175. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 31
Batismo
principalmente para a vida eterna. Seria bom se alguém pudesse pesquisar mais sobre este assunto. Embora seja um assunto que se tenha pouco material escrito disponível, penso que poderia ser ampliado o campo de pesquisa. Isto significa em não pesquisar somente o que a Igreja Adventista do Sétimo Dia
ensina, como foi meu caso, mas também pesquisar o que outras denominações ensinam sobre o rebatismo. Aí entrariam possivelmente as Igrejas Batistas, Assembléias de Deus, Evangelho Quadrangular e outras de cunho Pentecostal. Isto é um incentivo que deixo para o leitor, pois estudar o batismo sempre é
bom e melhor ainda quando se está preparado para argumentar contra pensamentos errôneos em relação ao mesmo.
Rev. Alex Marciano Schmökel — Santo Ângelo-RS, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
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Rev. Márlon Hüther Antunes
Artigo
127 horas decisivas E
sta semana assisti ao filme 127 horas, baseado na história real de Aron Ralston, montanhista americano acostumado a aventuras, que em 2003 saiu sozinho, sem avisar ninguém e foi ao Parque Nacional dos Cânions, no Colorado. Depois de rodar quilômetros de carro, mais alguns de bicicleta, seguiu a pé filmando e registrando tudo. Seu drama começou quando explorava a abertura de uma garganta profunda e uma grande rocha escorregou e prendeu sua mão na estreita fenda. Experiente em escaladas, ele tentou de tudo para se soltar, mas não conseguiu. Depois de três dias, quando água e comida acabaram, agonizando entre vida e morte, decidiu com um canivete cego, cortar o braço que por 127 horas entre o acidente e socorro lhe manteve refém. “Eu fiz o que tinha que fazer”, diria mais tarde. Fiquei pensando que a atitude deste montanhista não difere muito do comportamento humano: movido pelo orgulho, vaidade e sentimento de onipotência, não me surpreende ouvir de alguém que saiu mundo afora sem nenhum limite. Daqueles que cada vez mais se esquivam de relacionamentos estáveis, não querem compromisso, nem dar satisfação para onde e com quem vão e quando voltam. O sentimento de liberdade e de ser dono do próprio nariz, privam muitos de serem resgatados, quando imprevistos ou algo previsível ocorre. Por falta de informações, por não saber ao certo a localização muitos ficam sem socorro. E quando se dão conta, estão presos nos cânions da
vida precisando amputar e deixar para trás partes de si. Ralston nunca vai se arrepender de ter arrancado sua própria mão, afinal esta era a única saída que ele tinha, para continuar vivo. “Uma vez por todas” (Romanos 6.10, Hebreus 9.12, 1º Pedro 3.18) assim afirmam as Sagradas Escrituras que não somos nós, mas que Cristo se “amputou” entregou como preço “para que sejamos de fato livres” (Gálatas 5.1). Eis a escolha decisiva entre vida e morte. Não sei quantas 127 horas ou seus múltiplos você ainda terá de vida; uma coisa é certa, cada uma conta. Não há necessidade de agonizar sozinho e ficar sem socorro. O sábio Salomão que vivenciou muitas historias concluiu: “Descobri que na vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando e nunca satisfeito com a riqueza que tem [...] o moço pobre mais sábio vale mais do que o rei velho e sem juízo que já não aceita conselhos” (Eclesiastes 4.7-8a,13). Mas antes destas verdades, tinha uma maior: “lembre de Deus em tudo o que fizer, e ele lhe mostrará o caminho certo” (Eclesiastes 3.6). Que tal confiarmos mais na providencia de Deus do que em nós mesmos? “Hoje é o dia de ser salvo” (2º Coríntios 6.2).
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 33
Artigo
Rev. Marcos Schmidt
Photoshop de Deus S
ob o título “O novo retrato da fé no Brasil”, a ISTO É traz matéria de capa que merece profunda reflexão pelas igrejas históricas no concorrido “mercado religioso”. Baseada em pesquisas, a reportagem mostra uma realidade positiva e negativa nesta babel. Ao citar que “o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação”, lembra que o atual fenômeno enfraquece as tradições diante da prolifereção de igrejas e da intensa migração religiosa. Um cenário pontual que, mesmo diante do intenso consumismo tecnológico e crescente materialismo, revela a permanente necessidade espiritual das pessoas. Mas com lado perverso pela confusão espiritual cada vez maior, quadro que Jesus denominou de “ovelhas sem pastor” diante da multidão aflita e desesperançosa. Nesta matéria, uma socióloga intitula o novo retrato da fé como “autonomia religiosa”. Sustenta que “Deus é constituído de multiplicidade simbólica, é híbrido, pouco ortodoxo, redesenhado a lápis, cujos contornos podem ser apagados e refeitos de acordo com a novidade da próxima experiência”. Apagado e refeito? Que deus é este? Um deus descartado? Personalizado de acordo com as medidas e necessidades de cada um? Isto não é Deus, é ídolo. Não é o Criador, é criatura.
34 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Não é o Salvador, é amuleto. Este deus é aquele que os atenienses chamaram de “deus desconhecido” (Atos 17.23), e que Paulo tentou revelá-lo pelo Evangelho de Cristo. Este deus é aquele de quem Jesus advertiu: “Tomem cuidado para que ninguém engane vocês. Porque muitos vão aparecer fingindo ser eu e dizendo: Eu sou o Messias. E enganarão muitas pessoas” (Mateus 24.4,5). Sem dúvida, um desafio nesta sociedade globalizada por interesses individualistas, onde tudo é ajeitado com aparência do novo. E por isto, um fotoshop de Deus de um retrato velho e desgastado, configurado por mãos humanas. Mas de uma humanidade que ainda é alvo do Deus que proclamou: “Eu sou o Senhor e não mudo”. Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
Rev. Ismar L. Pinz
Por que o mundo não acabou? D
ezenas de datas! Quem sabe até centenas de datas já foram estipuladas como sendo “o dia do fim”. Alguns divulgaram o dia 21 de maio. Novamente o mundo não acabou. Por quê? Rapidamente alguns refazem as contas. Outros já apontam para os maias e lembram que o fim será no dia 21 de dezembro de 2012. Não sei quando será o fim! Ninguém sabe. Jesus deixou claro que não nos compete conhecer esse dia (Mt 24.36, At 1.7). A Bíblia diz que ele virá como ladrão; isto é, quando ninguém estiver esperando. O apóstolo aconselha os cristãos a continuarem em Jesus, firmes na fé e no amor. Somente assim estariam prontos para “o dia do fim” do mundo, ou de suas vidas individualmente. O mundo pode acabar hoje. A morte pode me visitar a qualquer momento. Porém ouso dizer que o mundo não acabará no dia 21 de dezembro de 2012. Pode ser no dia 20 ou 22, ou qualquer outro dia. Mas, ouso dizer que naquele dia, em que haverá expectativa, o fim não virá. Por quê? Porque o dia virá como “ladrão” (2Pe 3.10), quando ninguém estiver esperando. É isso o que está claramente escrito. O calendário dos maias é confuso inclusive para os especialistas dessa área. A Bíblia é clara. Não há como acreditar no anúncio de um dia em
Artigo
específico. Porém, o Senhor Jesus anuncia claramente que esse dia chegará. Um grupo de cristãos da cidade de Tessalônica precisou ser orientado sobre o dia do fim. Eles aguardavam esse dia. Mas alguns foram enganados e desnorteados com essa ideia de que o fim já havia chegado ou chegaria logo pararam de trabalhar! Paulo escreveu-lhes uma carta, e com vigor disse: Quem não quiser trabalhar, que também não coma! (2Ts 3.10). A verdade é que, enquanto aguardamos a vinda de Jesus, necessitamos continuar cheios de esperança e vigor no trabalho. Baseado nessa esperança Lutero escreveu: “se soubesse que o mundo acabaria amanhã, ainda hoje plantaria uma macieira.” Por que o mundo não acabou? Porque ainda é tempo de semear a boa semente — a semente da Palavra de Deus. Que Deus nos permita colher o amor; pois tudo passará, como a flor que seca e morre. O mundo terminará, mas o amor é eterno! Rev. Ismar L. Pinz — Pelotas-RS — pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 35
Lutero
e
Rev. Leandro Daniel Hübner
Luteranismo
Martinho Lutero, Obras Selecionadas (Concórdia, Sinodal), p. 253-275
Resumo e Destaques
S
egundo a introdução de Martin Warth, neste tratado “Lutero analisa o centro do culto cristão, corajosamente rejeitando a missa ou Santa Ceia como sacrifício e reintroduz o ensinamento bíblico a respeito do Sacramento do Altar”. Lutero começa seu sermão falando de leis. Para ele, quanto menos leis, melhor, pois “todas as leis não podem tornar a ninguém verdadeiramente piedoso sem a graça de Deus, resultando, necessariamente, apenas impostores, hipócritas, santos exteriores e orgulhosos, que recebem sua recompensa aqui e que jamais agradam a Deus.” A lei causa divisões e sentimentos de superioridade e desprezo a quem pensa e segue lei diferente. A missa, diz Lutero, foi instituída por Cristo em lugar da lei de Moisés para que através dela, praticada corretamente, possamos servir a Deus. No entanto, por causa de vários acréscimos humanos, cada vez mais o cerne verdadeiro da missa acabou se perdendo. Por isso, deve-se buscar celebrar a missa o mais proximamente possível da primeira celebrada por Cristo, e para Lutero é uma arte saber o que é original nela e o que é acréscimo. O ponto principal, sem o qual não 36 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
há verdadeira missa, são as palavras de Cristo, com as quais instituiu e ordenou realiza-la. Lutero segue então falando das diferenças entre o antigo testamento, de Moisés, e o novo, instituído por Cristo, enfatizando que “assim como o cordeiro pascal foi um animal temporal e perecível, que morreu no antigo testamento por causa da terra de Canaã, assim também o testamento e o bem, ou terra de Canaã, nele legado e prometido, foi temporal e perecível”. Este novo testamento é um “grande, eterno, indizível tesouro”, que nos perdoa todos os pecados, nos fortalece na fé, fortifica na esperança e nos aquece no amor. O sinal dado por Deus para nos dar maior segurança neste sacramento são a própria e verdadeira carne e o próprio e verdadeiro sangue de Cristo sob o pão e o vinho, para atingir também nossos cinco sentidos. Para Lutero, o testamento ou missa tem seis partes: (1) o testador, Cristo; (2) os herdeiros, os cristãos; (3) o testamento em si, as palavras de Cristo; (4) o selo distintivo ou marca, pão e vinho; (5) o bem legado, perdão dos pecados e vida eterna; e (6) o compromisso, memória ou celebração que devemos a Cristo, como Paulo nos diz em 1Co 11.26. O melhor preparo para receber este testamento “é uma alma faminta e uma firme e alegre fé do coração para aceitar tal testamento.” Duvidar deste testamento, das
palavras de Cristo na Santa Ceia é, segundo Lutero, a maior desonra e injúria a Cristo. Lutero descreve então como a verdadeira missa foi desvirtuada: as palavras já não eram ditas aos leigos (e estes assim não podiam desfrutar e receber o verdadeiro testamento de Cristo); a missa não tinha o objetivo de apascentar e fortalecer a fé; as obras tomaram o lugar da fé e das palavras de Cristo. Continuando, Lutero mostra que o benefício do sacramento é pessoal e “cada qual dele toma e recebe somente para si na mesma proporção em que crê e confia.” Quanto ao chamar a missa de “sacrifício”, isto vem do tempo dos apóstolos, quando ao lado da missa se juntavam doações para os necessitados (At 4.35ss.). Porém, o sentido foi desvirtuado, como se a própria missa fosse um sacrifício que oferecemos a Deus. Lutero diz que “não quer e não pode ser designada nem ser um sacrifício por causa do sacramento, mas por causa do alimento e da oração coletados, com o que se agradece a Deus, e eles são abençoados.” Para Lutero nada mais resta na missa para que a chamemos de sacrifício. Nossos sacrifícios devem ser espirituais, devemos ofertar toda a vida ao Senhor por tão grande graça que Deus nos concede neste sacramento. Lutero admite a missa ser chamada de sacrifício no sentido de que Cristo nos oferece a Deus; por seu
Lutero
intermédio nosso louvor, orações e vida são tornados aceitáveis a Deus. Aqui ele afirma: “este é o verdadeiro ministério sacerdotal, por meio do qual Cristo é oferecido como sacrifício diante de Deus. Esse ministério é denotado pelo sacerdote por meio dos gestos exteriores da missa. Todos somos, pois, igualmente sacerdotes espirituais diante de Deus.” Quanto à necessidade de que se celebre a missa na igreja, Lutero coloca que embora seja verdade que pela fé recebemos as bênçãos dos sacramentos mesmo longe deles, como poderíamos lembrar e celebrar a fé dos e nos sacramentos em qualquer lugar, se estes não fossem celebrados visivelmente em lugares conhecidos e nas igrejas? Só o fato de Deus ter instituído e desejado os sacramentos já é suficiente para que os celebremos. Outra vantagem de celebrar os sacramentos que Lutero coloca é que isto nos proporciona momentos de comunhão com os irmãos, nos quais oramos, louvamos e agradecemos a Deus, incentivando-nos mutuamente na fé. No entanto, o maior motivo para celebrar a missa visivelmente, diz Lutero, “é o amor à palavra de Deus, da qual ninguém pode prescindir e que deve ser diariamente inculcada” e “porque vivemos em meio ao mundo, carne e diabo, os
quais não descansam de nos tentar e de nos impelir ao pecado”. Em suas palavras “isto é o meu corpo, isto é o meu sangue” Cristo “concentrou todo o Evangelho em um breve resumo com as palavras deste testamento ou sacramento.” Lutero segue então criticando as inúmeras e diversas missas celebradas pela igreja romana, dizendo que “apresentam-se e pregam às pobres almas palha por grão, sim, morte por vida, pretendendo após remedia-lo com quantidade de missas”, mostrando que o amor ao dinheiro causava essa troca da verdadeira fé (qualidade) pela enorme quantia e diversidade (quantidade) de missas. No final do sermão Lutero fala
e
Luteranismo
do preparo para e da necessidade da Santa Ceia. Verdadeiramente bem preparados, segundo ele, são os pecadores cujas consciências são torturadas por seus pecados e que temem a ira de Deus, desejando ter um Deus misericordioso. Estes, crendo nas palavras de Cristo na Santa Ceia, recebem o perdão e todos os benefícios da missa, pois, diz Lutero, “a missa requer e tem que ter uma alma faminta que tenha anseio por perdão dos pecados e benevolência divina.” Quanto mais o ser humano tem sua consciência aflita e inquieta, mais deve ir ao sacramento, mas sempre mantendo-a como obra divina e não um sacrifício humaAgosto e Setembro, 2011 | Teologia | 37
Lutero
e
Luteranismo
e graça, e a centralidade e benefícios da Santa Ceia no culto e na vida de fé do cristão e da congregação. Quanto ao primeiro ponto, quando Lutero fala que Deus aliviou a igreja do peso da lei, seguindo o que diz Paulo principalmente em Romanos e Gálatas, e a dirige, abençoa e motiva a produzir frutos da fé por suas maravilhosas promessas e sua infinita graça, isto me faz refletir sobre quanta gente ainda vive e está sofrendo sob o peso da lei e do pecado, não apenas nas inúmeras seitas e igrejas “evangélicas”, católicas e religiões não cristãs mundo afora, mas também e, infelizmente, em nossa IELB. Quando li “Maravilhosa Graça”, de Yancey, achei o livro realmente edificante e correto em sua ênfase na graça de Deus, tantas vezes obscurecida por leis, regras e práticas nas diversas igrejas que em sua maioria usam a denominação “evangélica”. Mas, ao mesmo tempo, pensei: “Que pena que o autor não teve oportunidade (creio eu) antes de ler Reflexão Pastoral e conhecer os escritos de Lutero, ou Esta leitura me levou a refletir conhecer a doutrina e a igreja luteespecialmente sobre duas questões: rana, pois tudo isso que ele descoleis e obras opondo-se a promessas briu após tanto sofrer sob a lei, eu já no. “Deve deixá-la permanecer um testamento e sacramento, do qual pode tomar beneficio e dele desfrutar, gratuitamente e por graça, de modo que seu coração fique doce em relação a Deus, passando a ter uma confiança consoladora frente a ele”, diz Lutero. Lutero conclui o sermão dizendo novamente que Deus aliviou sua igreja do peso das leis e elevou-a com muitas promessas à fé. É a fé que nos liga a Deus e nos faz receber suas bênçãos. Desta fé Lutero fala, concluindo este sermão: “Tão perfeita é a fé, que torna agradável a Deus e bem feito tudo o que o ser humano faz, sem qualquer outra fadiga e lei, como já falei mais a respeito no livrinho acerca das boas obras. Por isso, precavamo-nos de pecados, mas muito mais de leis e de boas obras, atentando bem apenas para a promessa divina e para a fé. Assim as boas obras se seguirão facilmente. Que Deus nos ajude. Amém”.
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sei desde criança.” No entanto, como coloquei antes, não precisamos sair de nossos muros: há muitos luteranos “ielbianos” que ainda vivem não sob a graça, mas sob a crença que cumprir regras e participar de atividades (culto, ofertas, Santa Ceia!) é o que conta para a salvação eterna. E por quê? Onde está a falha? Por que até luteranos “de berço”, que vivem sob o lema sola fide, sola gratia, sola scriptura ainda se agarram à lei e às obras, e não às promessas e à graça de Deus em Cristo? Creio que em parte a razão para isto está em nós mesmos, como seres humanos pecadores – o velho homem sempre quer nos levar a confiar em nós mesmos, nossas obras e nossos méritos. Mas, a falha também está em nós pregadores. Falta-nos maior e melhor clareza e distinção na pregação de Lei e Evangelho (sábio Walther...) e sabedoria para não cairmos sempre de novo no legalismo que, como diz Lutero, causa divisões, sentimentos de superioridade e hipocrisia. Assim, embora haja pastores e membros da IELB que não concordem muito, é necessária sim uma volta constante às Confissões Luteranas e aos escritos de Lutero, como o desta reflexão e os Artigos de Esmalcalde que estudamos em nosso curso, pois estes nos levam de volta ao centro da fé e da salvação, nos apontando sempre de novo para Cristo. Também, em minha opinião, nunca é demais estudar de novo, de tempos em tempos, o clássico “Lei e Evangelho” de Walher. Viver sob e na graça de Deus e depender totalmente dela, agarrando-se às promessas do Senhor, não é fácil nem agrada ao nosso velho homem. Mas Lutero, guiado por
Deus, nos deixou um grande exemplo de como viver assim e, para isso, sempre apontou para Cristo e a centralidade do Evangelho. Isto nos leva ao segundo ponto desta reflexão – a centralidade da Santa Ceia no culto e na vida de fé. Se é para nos agarrarmos totalmente à graça e amor de Deus, confiando em suas promessas, é necessário ter algo visível, “palpável” a que nos conectarmos, pois somos pecadores e seres que precisam ver, ouvir, sentir – e Deus, obviamente, sabe disto. Aqui a ênfase de Lutero nos elementos visíveis da Santa Ceia, bem como nas palavras de Cristo, que devem ouvidas pelos cristãos na celebração, é muito importante e reafirma o que tenho tentado praticar em meu ministério. Sempre que tenho oportunidade, como em visitas, estudos bíblicos e ensino no trabalho da igreja, procuro enfatizar a importância, a simplicidade e os benefícios da Santa Ceia para a vida dos membros e da própria igreja. Procuro mostrar aos irmãos na fé que Palavra e Sacramentos, Santa Ceia em especial, não são fins em si, nem obrigações ou compromissos que temos a cumprir na igreja, mas meios pelos quais Deus quer abastecer, fortalecer e renovar a fé e também nos orientar e motivar para a vida de fé de cada dia. Deus, em elementos tão simples e comuns como o pão e o vinho, vem a nós e nos dá tudo o que Cristo conquistou para nós na cruz: perdão, vida e salvação. Procuro mostrar que Deus vem a nós exatamente através de nossos sentidos – Cristo entra em nós pelos ouvidos e olhos (Palavra) e pela boca (Santa Ceia). Esta simplicidade no trato de Deus conosco também desafia a fé,
pois, novamente, é tentador crer no extraordinário (curas, milagres, prosperidade...) ou no próprio esforço, ainda que seja “Cristo = 99% e eu = 1%”. Por isso, procuro mostrar aos membros que, onde Palavra e Sacramentos são desprezados, relativizados, minimizados ou distorcidos, como acontece cada vez mais no universo “evangélico”, estes começam a ser substituídos por óleos e mantos “santos”, peregrinações, penitências, “correntes”, “fogueiras santas”, jejuns e tantas outras práticas com aparência de piedade e pretensão de trazer bênçãos (materiais, principalmente) e salvação (embora nem sempre esteja claro o que quer dizer esta salvação), mas que desviam as pessoas do verdadeiro e único centro da fé e da vida eterna — Cristo. Enfim, Lei e Evangelho, Palavra e Sacramentos são elementos totalmente interligados e interdependentes, como tão claramente Lutero expôs neste sermão e em tantos outros de seus escritos. A Lei é necessária para nunca esquecermos quão miseráveis pecadores somos e quão perdidos estamos com nossas próprias forças e obras, mas o Evangelho é o único que perdoa e salva, que cria nova vida e frutos da fé. Por isso, nossa tarefa como pastores e teólogos cada vez mais é pregar corretamente lei e evangelho, conduzindo as ovelhas de Cristo pela Palavra e sacramentos, levando-as a receber Cristo e sua salvação através da pregação e da Santa Ceia e, como diz Lutero no sermão, “atentando bem apenas para a promessa divina e para a fé. Assim as boas obras se seguirão facilmente. Que Deus nos ajude. Amém”.
Rev. Leandro Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 39
Santa Sacramento
do
Rev. Jarbas Hoffimann
Altar
Este trabalho, aqui escrito, foi apresentado em forma de palestra, no 29º Curso de Crescimento Espiritual, na paróquia da Igreja Evangélica Luterana da Vila Mauá, Ijuí-RS, no dia 17 de julho de 2005. Se deseja receber o arquivo para projeção em muitimídia, mande um e-mail para o autor: pastorjarbas@gmail.com
Meio da Graça
A
Santa Ceia é um dos Meios da Graça, usados por Deus para “oferecer e transmitir” aos seres humanos os “méritos que Cristo adquiriu para o mundo por sua morte na cruz”1. Nós luteranos entendemos como Meios da Graça o Evangelho, Santa Ceia e Batismo. Como diz nossa Dogmática: “À base da Escritura, só reconhecem como meios da graça ordenados por Deus, a palavra (o evangelho) e os sacramentos, o batismo e a santa ceia, estes dois como a palavra visível”2. Os meios da graça, segundo as Escrituras têm dupla função ou poder: 1) “um poder que apresenta, oferece e confere”; a. quer dizer, que “pelos meios da graça o Espírito Santo sinceramente oferece aos que ouvem ou leem a palavra a graça de Deus e a justiça de Cristo”; 2) “um poder eficaz ou operativo”;
1 Müeller, v. 2, p. 121. 2 Müeller, v. 2, p. 121. 40 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
a. “consiste que pelos meios da graça ele (Espírito Santo) efetivamente opera, fortalece e mantém nos corações dos homens uma fé viva na graciosa remissão dos seus pecados, de sorte que são convertidos, justificados, santificados e, finalmente, glorificados”.
Somente à luz de Cristo “Só se entenderá corretamente a doutrina dos meios da graça, quando considerada à luz da obra redentora de Cristo e da justificação ou reconciliação objetiva (2Co 5.19-20), que ele adquiriu por sua obediência substitutiva.”3.
Sacramentos Se por um lado a Santa Ceia é um dos 3 meios da graça, por outro, ela é um dos dois Sacramentos reconhecidos pela Igreja Luterana. “O termo ‘Sacramento’ não é termo bíblico. Originalmente, designava um juramento ou compromisso solene, como o juramento militar do soldado romano. Visto que, na igreja primitiva, cristãos adultos renunciavam, por ocasião de 3 Müeller, v. 2, p. 122.
a Ceia Sacramento
do
Altar
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Sacramento
do
Altar
seu Batismo, a todos os ídolos e juravam fidelidade a Cristo, voto que realmente era seu sacramentum, o termo pouco a pouco foi sendo aplicado ao próprio Batismo e, mais tarde, também à Ceia do Senhor. Em linguagem eclesiástica, são meios visíveis de bênçãos espirituais, ritos religiosos instituídos por Cristo.”4. Segundo nosso Catecismo Menor5 chamamos sacramento algo que: 1) é um “ato sagrado”; 2) “instituído por Deus”; 3) onde Deus “oferece, dá e sela aos homens a graça adquirida por Cristo”; 4) por meio de “certos meios externos”; 5) que estão “unidos com a sua palavra”. Sacramento também é uma questão de definição. Para nós luteranos, para ser sacramento há que se ter os 5 pontos à cima. Já para os católicos, basta ser instituído por Deus, na Bíblia. Os sacramentos considerados pela Igreja Católica são: 1) Batismo; 2) Confissão; 3) Santa Comunhão ou Eucaristia; 4) Crisma ou Confirmação; 5) Ordens Sacras ou Ordenação; 6) Matrimônio; 7) Unção de Enfermos ou Extrema Unção;
O Sacramento do Altar — Santa Ceia “O Sacramento do Altar tem vários nomes: a Mesa do Senhor (1Co 10.21), a Ceia do Senhor (1Co 11.20), o Partir do Pão (At 2.42), a Santa Ceia, em distinção da ceia ordinária, a Eucaristia, por causa do ato de ação de graças (Mc 14.23), a Santa Comunhão, por causa da comunhão entre pão e corpo, vinho e sangue (1Co 10.16), e também por causa da união e comunhão de todos os comungantes efetuada pelo ato de participarem do sacramento (1Co 10.17). Nossas confissões também usam o termo missa, que se originou provavelmente do costume da igreja primitiva de despedir do culto comum os que ainda não podiam participar do sacramento.”6. 4 Koehler, p. 146. 5 Catecismo Menor, p. 137. 6 Kohehler, p. 156. 42 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Para evitar confusão desnecessária é melhor permanecer com um nome e, preferencialmente, algum dos nomes que a própria Bíblia oferece. Por isso, costumeiramente ouvimos sempre dizer: Santa Ceia.
A Santa Ceia foi instituída por Cristo “A instituição divina da santa ceia requer ênfase, visto que ... alguns ... rejeitam a santa ceia ‘como mera cerimônia não ordenada por nosso Senhor.’”7. “A santa ceia não é menos instituição e ordenação divina que o batismo (Mt 28.19) e a pregação do evangelho (Mc 16.15-16). A santa comunhão, que nosso Senhor instituiu na mesma noite em que foi traído, devia continuar em uso até o fim dos tempos (Lc 22.19: ‘Fazei isto em memória de mim’; 1Co 11.25: ‘Fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim’). Foi assim que os santos apóstolos e a igreja cristã primitiva entenderam a ordem divina (1Co 10.16-22; 11.17-34), e de acordo com isto celebraram a santa comunhão.”8.
Batismo e Santa Ceia O Batismo é o Sacramento que gera a fé, a Santa Ceia, por sua vez é o Sacramento que fortalece a fé àqueles que participam da forma correta. “O batismo, portanto precede corretamente a santa comunhão. No dia de Pentecostes S. Pedro instou para que os judeus penitentes fossem batizados, todavia não apra que recebessem a santa ceia (At 2). Este fato é de grande importância prática; pois que as pessoas que desejam receber a santa comunhão devem primeiro se fazer batizar antes de se poderem admitir à mesa do Senhor. (cf. Cl 2.11-12: O batismo em o Novo Testamento ocupou o lugar da circuncisão; e no Antigo Testamento só os circuncidados eram admitidos à Páscoa, Êx 12.48).”9.
Outros ensinos sobre a Ceia Sobre a Santa Ceia existem vários ensinamentos diferentes. Alguns usam a santa ceia com forma de ma7 Müeller, v. 2, p. 185. 8 Müeller, v. 2, p. 185. 9 Müeller, v. 2, p. 186.
Sacramento
rketing, como acontece nas “santas ceias” das igrejas pentecostais, alardeando-se pelos meios de comunicação que “tal dia haverá celebração da santa ceia”. Em tais cultos a ceia é um chamariz para que venham aos templos e deixem ali seu dinheiro. Em outras palavras, vendem pão e vinho, chamando de santa ceia, algo que na realidade não é. Basicamente existem três interpretações diferentes da Santa Ceia: 1) Na santa ceia estão presentes apenas o corpo e sangue de Cristo (transubstanciação). O pão vira corpo e o vinho vira sangue de fato. Não podendo mais voltar a ser pão e vinho simplesmente. (Católicos) 2) O pão e o vinho são apenas símbolos ou sinais do corpo e sangue ausentes de Cristo, recebe-se apenas pão e vinho. (Reformados) 3) Junto com o pão e o vinho (devidamente consagrados), o crente recebe o corpo e o sangue de Jesus Cristo para perdão dos pecados e fortalecimento da fé. a. Esta união não é nem pessoal, como o é a união das duas naturezas em Cristo, nem mística, como o é a que existe entre Cristo e o crente, mas sacramental, vale dizer, a união sacramental só
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Altar
se dá na santa ceia. Não é nem natural nem local, porém sobrenatural e incompreensível, todavia real. Se compararmos as três formas, veremos que apenas a terceira (3) confessada pela igreja luterana (IELB) pode ser comprovada pelas Escrituras.
A transubstanciação não têm base bíblica, conforme nos ensina Paulo em: Por isso aquele que comer do pão do Senhor ou beber do seu cálice de modo que ofenda a honra do Senhor estará pecando contra o corpo e o sangue do Senhor. (1Co 11.27) Pensem no cálice pelo qual damos graças a Deus na Ceia do Senhor. Será que, quando bebemos desse cálice, não estamos tomando parte no sangue de Cristo? E, quando partimos e comemos o pão, não estamos tomando parte no corpo de Cristo? (1Co 10.16)
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Aqui se declara que os elementos terrenos (pão e vinho) se conservam como tais mesmo depois da consagração. Paulo fala do pão, depois de consagrado, como sendo pão. Ele não mantém a forma e aparência de pão, mas em sua substância é pão. Assim como o vinho. Ademais, a Igreja Católica, desde o ano de 1415, após o Concílio de Constança, “pratica a comunhão sob uma só espécie, dando aos leigos apenas a hóstia consagrada que, dizem eles, foi transformada em corpo de Cristo e, portanto, contém sangue. Apenas o sacerdote oficiante toma ambas as espécies. Mas Cristo diz: ‘Bebei dele todos’ (Mt 26.27). E Marcos diz: ‘E todos beberam dele’ (Mc 14.23). Em 1Co 11.26-30, aprendemos que os cristãos, não apenas o ministro oficiante, receberam o sacramento sob as duas espécies.”10.
A presença simbólica também é não escriturística Nosso Senhor declara: “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”. Jesus não disse isto significa meu corpo ou isto representa o meu sangue, mas disse que é seu corpo e sangue. Obviamente não é racional nem inteligível pela frágil razão humana. Contudo Deus não nos pediu para entendê-lo, pediu, antes que creiamos nele e naquilo que ele ensina. Aqueles que dizem ser apenas um símbolo, na ver10 Koehler, p. 162.
dade não acreditam que a Santa Ceia seja algo especial, como é para nós luteranos.
A presença real Como visto antes, entendemos que Cristo está presente no corpo e no sangue de forma sacramental. Esta é a interpretação ortodoxa luterana. Muito embora, vários luteranos tenham se desviado desta interpretação.
Doutrina Luterana e as Palavras da Instituição Nós luteranos não “interpretamos” as palavras da instituição. Nós as tomamos “em seu sentido simples, precisamente como se leem”11. Também confiamos que Cristo, que fez a promessa, também é capaz de cumpri-la. Nós acreditamos que recebemos o corpo e o sangue de Cristo “em, com e sob” o pão e o vinho. “Quando não se observa a instituição de Cristo tal como ele a ordenou, não é sacramento.”12.
As palavras da instituição O que torna o pão e vinho Santa Ceia é a união com a Palavra de Deus (a consagração dos elementos). Estas palavras aparecem em 4 oportunidades em nossa Bíblia: Mt 26.26; Mc 14.22; Lc 22.19 e 1Co 11.24. Em todas elas algumas palavras e a forma de apresentar os textos apresentam algumas diferenças. São diferenças na forma de redigir o texto. Mas o que é importante: as palavras isto é o meu 11 Müeller, v. 2, p. 200. 12 FC, DS,VII, 85.
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corpo e isto é o meu sangue, referindo-se ao pão e vinho, são mantidas nas quatro passagens.
Os elementos visíveis Seguimos a orientação da própria Bíblia para definir os elementos usados na Santa Ceia hoje em dia.
O pão “Cristo tomou o pão e o deu aos seus discípulos. Portanto, também usamos pão na Ceia do Senhor. Visto que a ceia foi instituída durante a festa dos pães asmos (Lc 22.7), Cristo fez uso do pão que estava à disposição. Mas os discípulos continuaram a celebrar a ceia depois dos dias dos pães asmos e também fizeram uso do pão que estava à mão. Não é, pois, essencial que usemos pão asmo. Mas devemos usar pão. Usamos pão asmo em nossas celebrações da Santa Ceia, mas não consideramos erro o uso de pão levedado. Usamos hóstias por causa de sua conveniência na distribuição.”13. 13 Koehler, p. 156.
O vinho “Quanto ao conteúdo do cálice, sabemos que foi o fruto da videira (Mt 26.29). Da História sabemos que, por ocasião da Páscoa, se usava vinho, e que, por isso, Cristo também usou vinho ao instituir a Santa Ceia. Assim procederam os cristãos primitivos (1Co 11.21). Usar suco de uva no mínimo torna incerta a validade do sacramento.”14. 14 Koehler, pp. 156-157.
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Sacramento
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Formas de distribuição da Ceia Se quanto ao pão e vinho e à presença real estamos indissoluvelmente submissos à Escritura, que fala sobre o que é e como é a Santa Ceia, para a distribuição temos liberdade de fazê-la como melhor convir a cada congregação (dentro do bom senso). Como sugere nossa Dogmática, quando respondia às acusações de outros, de que tinham fugido da interpretação literal e tinham “interpretado” de forma distinta da escritura: “admitimos esta metonímia15 (sinédoque), sendo a coisa que contém (“este cálice”) nomeada em lugar da coisa nela contida; pois a mesma Escritura nos diz: “E todos beberam dele” (Mc 14.23). Não foi a taça que os discípulos beberam, mas o vinho no cálice. Em outras palavras, a própria Escritura neste caso estabelece a metonímia.”16. Hoje muitas congregações enfrentam problemas na hora de distribuir a Santa Ceia. Alguns membros insistem em receber a Ceia em cálice individual. Seria mais higiênico (no sul se bebe quase tudo no mesmo copo e ninguém fica doente)17. Não é por causa da higiene que se usa o cálice individual. Este começou a entrar nas igrejas conforme a pressa de sair do culto foi aumentando. Antigamente vínhamos à igreja e não tínhamos tamanha pressa para sair da igreja. Às vezes o culto com Santa Ceia e a presença do pastor era só raramente e todo mundo se ajeitava para estar na Casa do Senhor e render culto, e ouvir a Palavra da consolação. O tempo passou e hoje temos Santa Ceia em todos os cultos. Não tem mais aquele culto rapidinho, sem santa ceia, só pra cumprir tabela (muitos pensam re15 s. f. Ret. Alteração do sentido natural das palavras pelo emprego da causa pelo efeito: Apresento-lhe meu trabalho (livro); do continente pelo conteúdo:Tal era sua fome que ele comeu dois pratos; do lugar pelo produto: Serviram um velho bordéus (vinho de Bordéus); do abstrato pelo concreto: Não se menospreze a realeza (o rei); do sinal pela coisa significada: Levaram longe a cruz (a religião) etc., ou vice-versa, isto é, o emprego dessas expressões em sentido inverso. 16 Müeller, v. 2, p. 200. 17 Na ocasião, usando a experiência da vivência no Rio Grande do Sul, notei e chamei atenção para o fato de que muitas bebidas servidas naquele estado são servidas em copo comum a todos. Seja caipirinha, ou outra bebida, seja o Chimarrão e mais recentemente o Tererê que vai passando de mão em mão e de boca em boca. Quanto estes, não parece haver problema de higiene, quanto à Santa Ceia, muitos alegam que há tal problema. 46 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
almente assim). Com o aumento da pressa aumentou a variedade nas formas de distribuição, mas não existe uma certa ou errada. O importante é que seja pão e vinho. A quantidade e a forma de distribuição fica dentro do bom senso. Jesus usou o que tinha a mão e comungou num mesmo copo. É mais bonito assim, mas não se pode afirmar que é o certo. O certo é que a distribuição com cálice coletivo, normalmente demora mais. Se queremos manter este cálice, deveríamos pensar em formas de agilizar a distribuição. Tenho algumas sugestões para todos os casos.
Sacramento
Conclusão da distribuição Então o problema não está no modo como é distribuída a Santa Ceia, mas na preparação de cada pessoa antes de receber o corpo e sangue de Cristo, que tanto pode ser para salvação (se recebe dignamente) como para a condenação (se recebe de forma indigna).
O uso proveitoso da Santa Ceia “Inútil a promessa a menos que recebida pela fé. Mas os sacramentos são sinais das promessas. Por isso, no uso deve juntar-se a fé, assim que, se alguém faz uso da Ceia do Senhor, o faça desta maneira.”18 “Crer na presença real do corpo e sangue de Cristo no sacramento na verdade é necessário, mas isso não nos confere a posso dos benefícios do sacramento. Para tanto é necessária a fé na promessa. O uso salutar do sacramento requer fé. ‘As palavras ‘por vós’ exigem corações crentes’. O dogma católico segundo o qual os sacramentos aproveitam sem fé da parte de quem os recebe, ex opere operato, os transforma em ritos pagãos e subverte o artigo fundamental da fé cristã, a saber, que a fé justifica e salva, conforme se ensina em Rm 3.28.”19
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podemos ou não participar da Ceia, mas sim como nos sentimos em relação aos pecados. Se estamos arrependidos deles e se temos a forte, firme e verdadeira intenção de não pecar. 3) se sabe o que Cristo fez por ele, se deseja verdadeiramente o perdão e se aplica a si mesmo a promessa de Cristo. a. Isto não exige grau especial de fé. Por mais fraca que seja a fé, tanto mais a pessoa deveria participar da Ceia para fortalecimento desta. 4) se está disposto a melhorar sua vida e trazer frutos dignos do arrependimento (Mt 3.8) a. Para isso necessitamos a ajuda de Deus, que nos fortalece através do Sacramento, para que cresçamos em santidade de vida. Disposição e desejo de melhorar a vida são coisas que acompanham a fé na promessa divina. Outro auxílio que não deveria jamais ser deixado de lado, no auto-exame, é o Questionário Cristão. Vamos examinar-nos para ver se estamos preparados para participar da Ceia20.
Com que frequência participar da Santa Ceia?
A pessoa deve examinar-se a si mesma. Ninguém pode fazer isso senão a própria pessoa. Isto deve ser levado em consideração antes de participar da Santa Ceia. E deveria ser repetido no decorrer da vida, para ter certeza que continua crendo no mesmo e que está participando de forma digna do corpo e sangue do Salvador Jesus Cristo. São estes os pontos a serem levados em conta: 1) se entende e crê as palavras da instituição, pois deve discernir, distinguir e reconhecer o corpo e sangue do Senhor em, com e sob o pão e vinho (cf. 1Co 11.29). 2) se conhece como pecador diante de Deus e se está sinceramente entristecido por causa de seus pecados. a. não é a quantidade de pecados que define se
Antigamente, pela dificuldade de se ter pastores e pela dificuldade de deslocamento daqueles que existiam, alguns lugares tinham Santa Ceia raras vezes no ano. Eram ocasiões especiais e festivas. Eram os Cultos com Santa Ceia. Com o passar dos anos, Deus atendeu o pedido da igreja e mandou mais e mais pastores. Hoje podemos celebrar (na maioria das comunidades) a Santa Ceia a cada culto. Mas muitos acham que é exagero. Que uma vez por mês estaria bom. Não está bom. Cada culto deveria ser com Santa Ceia. Assim como eram os cultos da Igreja Primitiva. “Na igreja cristã primitiva, não foi necessário discutir essa questão, porque os discípulos entenderam bem as palavras de seu Mestre e foram atentos a elas (At 2.42). A comunhão frequente foi um benefício espiritual para aqueles cristãos. No decurso do tempo, as coisas mudaram. Em 1530, Lutero se queixava da infrequência com que se participava da Ceia do Senhor. Reprova não só o povo, mas acusa em parte também os pastores. Em nossos dias, é bom enfatizar as razões para frequente participação, porque a participação média é muito baixa.
18 LC, Ap XIII, 20; LC, CA, XXIV, 30. 19 Koehler, pp. 155-156.
20 Veja no fim desta matéria (pp. 50-51) o Questionário Cristão numa linguagem mais atualizada.
O que fazer antes de participar da Ceia?
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Sacramento
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Altar
O que nos impede de participar sempre da Santa Ceia?
Textos da Instituição
Cada vez que o corpo de Cristo é oferecido, temos uma nova oportunidade de perdão e fortalecimento da fé. Cada vez que deixamos de participar do corpo e sangue por preguiça ou pirraça, estamos pecando contra o corpo de Cristo. Deus sabe quando não podemos vir à igreja e participar da Ceia, mas ele também sabe quando poderíamos ter vindo e simplesmente preferimos outras coisas a estar com ele. Alguns alegam não estar preparados para participar da Ceia porque estão brigados com alguém. A instrução bíblica não é para deixarmos de participar da ceia e permanecer brigados. Muito pelo contrário, devemos procurar estar de bem com todos, resolver todas nossas desavenças, para poder, sempre, participar de tão maravilhosa bênção que é a Santa Ceia. Além disso, o que costumeiramente impede a participação é: 1) Espírito mundano. a. Para muitas pessoas as coisas deste mundo são mais importantes do que o bem-estar do espírito. Por isso, preferem tudo em detrimento à participação do culto e da Santa Ceia. 2) Falta de vivo conhecimento do nosso pecado. a. Muitas pessoas ignoram que são pecadoras. Tentam achar desculpas para o pecado justificando suas atitudes e não procurando corrigir a vida. Se reconhecessem seus pecados, certamente isso os levaria a participar cada vez mais da Ceia que perdoa os pecados aos pecadores penitentes. 3) Falta de entendimento da verdadeira finalidade da Ceia do Senhor. a. Muitos são os que acham que participar da Santa Ceia é algo que eles estão fazendo para Deus. Entende como um prestar culto ou como um sacrifício. Mas não é isso. No sacramento, Deus nos dá os dons celestes e poderes da vida eterna. 4) Receio de receber o sacramento indignamente. a. Pecados repetidos fazem com que as pessoas se sintam indignas, de modo que temem participar do sacramento. Esse tipo de indignidade é realmente vergonhoso e causa tristeza, mas isso não nos torna indignos da Ceia. O que tornaria indigno é não arrepender-se dos pecados.
Enquanto estavam comendo, Jesus pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo: — Peguem e comam; isto é o meu corpo. 27 Em seguida, pegou o cálice de vinho e agradeceu a Deus. Depois passou o cálice aos discípulos dizendo: — Bebam todos vocês 28porque isto é o meu sangue, que é derramado em favor de muitos para o perdão dos pecados, o sangue que garante a aliança feita por Deus com o seu povo. 29 Eu afirmo a vocês que nunca mais beberei deste vinho até o dia em que beber com vocês um vinho novo no Reino do meu Pai. 30 Então eles cantaram canções de louvor e foram para o monte das Oliveiras.
Rev. Jarbas Hoffimann — Nova Venécia-ES, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, da qual é membro da Comissão de Culto da IELB, diagramador e co-editor desta Revista.
Bibliografia Bíblia Sagrada. Nova Tradução da Linguagem de Hoje. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007. BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. Barueri: SBB, 1999. CONCORDIA SELF-STUDY BIBLE. St. Louis: Concordia Publishing House, 1986. KOEHLER, Edward W. A. Sumário da Doutrina Cristã. Arnaldo Schüler, trad. Porto Alegre: Casa Publicadora Concórdia, 1981, p. 195. LIVRO DE CONCÓRDIA. As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. Catecismo Menor Arnaldo Schüler, trad. 4a ed. Porto Alegre e São Leopoldo: Concórdia/ Sinodal, 1993, p. 376. MUELLER, John Theodore. Dogmática Cristã. Vol. 1 e 2. 3a ed. Porto Alegre: Concórdia. 48 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Mateus 26 26
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Marcos 14
1º Coríntios 11
Lucas 22
Enquanto estavam comendo, Jesus pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e o deu aos discípulos dizendo: — Peguem; isto é o meu corpo. 23 Em seguida, pegou o cálice de vinho e agradeceu a Deus. Depois passou o cálice aos discípulos, e todos beberam do vinho. 24 Então Jesus disse: — Isto é o meu sangue, que é derramado em favor de muitos, o sangue que garante a nova aliança feita por Deus com o seu povo. 25 Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nunca mais beberei deste vinho até o dia em que beber com vocês um vinho novo no Reino de Deus. 26 Então eles cantaram canções de louvor e foram para o monte das Oliveiras.
Porque eu recebi do Senhor este ensinamento que passei para vocês: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão 24e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim.” 25Assim também, depois do jantar, ele pegou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue. Cada vez que vocês beberem deste cálice, façam isso em memória de mim;” 26 De maneira que, cada vez que vocês comem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que ele venha.
Quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos 15e lhes disse: — Como tenho desejado comer este jantar da Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento! 16 Pois eu digo a vocês que nunca comerei este jantar até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus. 17 Então Jesus pegou o cálice de vinho, deu graças a Deus e disse: — Peguem isto e repartam entre vocês. 18Pois eu afirmo a vocês que nunca mais beberei deste vinho até que chegue o Reino de Deus. 19 Depois pegou o pão e deu graças a Deus. Em seguida partiu o pão e o deu aos apóstolos, dizendo: — Isto é o meu corpo que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. 20 Depois do jantar, do mesmo modo deu a eles o cálice de vinho, dizendo: — Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue, derramado em favor de vocês. 21Mas vejam: o traidor está aqui sentado comigo à mesa! 22Pois o Filho do Homem vai morrer da maneira como Deus já resolveu. Mas ai daquele que está traindo o Filho do Homem. 23 Então os apóstolos começaram a perguntar uns aos outros quem seria o traidor.
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Sacramento
do
Altar
Questionário Cristão1 Compilado pelo Dr. Martinho Lutero para aqueles que tencionam participar da Santa Ceia. Depois da Confissão e da instrução nos Dez Mandamentos, no Credo, no Pai Nosso e nos Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor, o ministro perguntará, ou a pessoa a si mesma:
1. Você crê que é pecador? Creio, sou pecador.
2. Como você sabe disso? Eu sei, porque não segui os Dez Mandamentos.
3. Você lamenta os seus pecados? Sim, lamento ter pecado contra Deus.
4. O que você merece de Deus pelos seus pecados? Mereci a ira de Deus e ser abandonado por ele, mereço a morte neste mundo e a condenação eterna.
5. Você tem esperança de ser salvo? Sim, tenho esperança de ser salvo.
6. Em quem você confia? Confio em meu Senhor Jesus Cristo.
7. Quem é Cristo? Cristo é o Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
8. Quantos deuses exisstem? Existe um único Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
9. O que Cristo fez por você para que você confie nele? Cristo morreu e derramou o seu sangue por mim para perdão dos meus pecados. 1 Linguagem atualizada pelo autor desta matéria. 50 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
10. O Pai também morreu por você? Não. O Pai não morreu; porque o Pai é só Deus, assim como o Espírito Santo também é só Deus; mas o Filho é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, este morreu e derramou o seu sangue por mim.
11. Como é que você sabe disso? Eu sei disso pelo que relata o santo Evangelho e pelas palavras da Santa Ceia, bem como pelo corpo e sangue, que foram dados a mim neste Sacramento como testemunho.
12. Quais são estas palavras? O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim.” Assim também, depois do jantar, ele pegou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue. Cada vez que vocês beberem deste cálice, façam isso em memória de mim;”
13. Então você crê que o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo estão no Sacramento da Santa Ceia? Creio.
14. O que te faz crer que o verdadeiro corpo e sangue de Cristo estão presentes na Santa Ceia? Creio, por causa das palavras de Jesus Cristo: “Peguem e comam; isto é o meu corpo. ... Bebam todos vocês porque isto é o meu sangue...”
15. O que nós devemos fazer quando comemos o corpo e bebemos o sangue de Jesus como testemunho da nossa salvação? Nós devemos anunciar a morte de Jesus e o derramamento do sangue dele. E nos lembrar do que ele nos ensinou: “Cada vez que vocês beberem deste cálice, façam isso em memória de mim;”
Sacramento
16. Por que devemos nos lembrar da morte de Jesus e anunciar ao mundo? Para nós aprendermos a crer que nenhuma criatura podia dar satisfação pelos nossos pecados. Somente Cristo, o verdadeiro Deus e verdadeiro homem é que podia fazer isso; e também para nós aprendermos a olhar os nossos pecados com temor, considerar os pecados como graves e encontrar alegria e consolo somente em Jesus, sendo assim, salvos pela fé em Jesus.
17. Que motivo levou Jesus a morrer e pagar os pecados que eram de você? Jesus fez isto pelo grande amor que tem ao Pai, e pelo amor a mim e aos outros pecadores, como está escrito em Jo 15.13; Rm 5.8; Gl 2.20; Ef 5.2.
18. Finalmente, por que você quer participar do Sacramento? Para aprender a crer, como eu já disse, que Cristo, movido por grande amor, morreu pelos meus pecados, e também para aprender a amar a Deus e ao meu próximo.
do
Altar
19. O que deve advertir e mover o cristão a participar do Sacramento com frequência? Quanto a Deus, deve mover-nos a ordem e a promessa de Cristo, o Senhor, e quanto ao cristão, a miséria que pesa sobre ele, que é substituída pela ordem, encorajamento e promessa de Deus.
20. O que, porém, deve fazer uma pessoa, quando não sente esta miséria, nem tem fome e nem sede do Sacramento? Não se poderia dar um conselho melhor do que a advertência, em primeiro lugar, para que envie a mão no seu peito e verifique se ainda tem carne e sangue; de qualquer maneira que creia no que diz a Escritura, quando fala a este respeito em Gl 5.1922 e em Rm 7.18. Em segundo lugar, que olhe ao redor e verifique se ainda está no mundo. Se estiver, que saiba que nunca faltará pecado e miséria, como diz a Palavra de Deus em Jo 15.18-19 e 16.20; 1Jo 2.15-16 e 5.19. Terceiro, é preciso lembrar que o diabo estará ao redor de si a todo momento e por meio de mentiras e mortes, não deixará a pessoa ter paz interna nem externa, assim como registra a Escritura em Jo 8.44; 1Pe 5.8-9; Ef 6.11-12; 2Tm 2.26.
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Artigo
Rev. Márlon Hüther Antunes
Quem poderá pagar esta dívida? O
debate que tomou conta nos últimos dias, em torno do endividamento público dos Estados Unidos e de um possível calote junto aos credores, aponta para a realidade de que até mesmo os mais abastados podem perder o sono e viver a tensão em como manterão as aparências e se portarão diante da instabilidade. Uma realidade quando vivida sem regras, numa total libertinagem regida por egos, traz consequências que afetam e prejudicam gerações. Entre credor (com direitos) e endividado (sem condições) há sempre um grande abismo e geralmente um saldo catastrófico, que compromete além das partes envolvidas. Onde buscar solução quando por incapacidade, os riscos são coletivos? É necessário humildade e planejamento, rever conceitos e encontrar os “furos”, os quais resultam numa mudança de hábitos. A dívida americana reflete a condição humana e o tamanho do rombo que há no coração de cada um (Romanos 3.23). Por vezes assume-se a culpa, por outra ela é jogada como responsabilidade de outrem. Assim é o pecado! Para alguns é melhor ser conivente e negar, para outros de modo mais consciente buscar uma solução, ter um alvo. Mas ao que tudo indica, não há cifras suficientes. Se dívidas pagáveis já provocam reações negativas, instabilidade e roubam a paz. O que poderia ser dito daquela onde a morte e certa? (Romanos 5.12) Não dá para deitar e dormir tranquilo (Salmos 4.8). Diante desta bola de neve que sempre vira uma avalanche, escraviza e de maneira desenfreada produz todo tipo de estragos, “Feliz aquele cujas maldades Deus perdoa e cujos pecados ele apaga!” (Salmo 32.1). Só há um caminho, como solução proposta: a graça de Deus, que é um dom e presente imerecido, com um único intuito, a saber, quitar a maior 52 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
dívida! (Efésios 2.8-9). “Por meio do Filho, Deus resolveu trazer o Universo de volta para si mesmo” (Colossenses 1.20), “Assim também Cristo foi oferecido uma só vez em sacrifício, para tirar os pecados de muitas pessoas. Ele trouxe a paz.” (Hebreus 9.28). As últimas palavras de Cristo na cruz foram “Está consumado” (João 19.30); eram ditas pelos credores, quando um devedor liquidava suas dívidas. Aliviado, este podia viver livre e tranquilo. Embora não seja possível viver alienado, sem o risco da instabilidade financeira em casa, no país, ou mesmo sofrer as consequências que atravessam o oceano, nunca é tarde para rever conceitos. Você pode com certeza deitar e dormir em paz, afinal “já não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão unidas com Cristo Jesus” (Romanos 8.1). Dívida perdoada, pior dos desesperos evitado!
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
A faxina Rev. Ismar L. Pinz
L
impar uma casa, um carro, uma roupa. Toda a faxina é uma atitude nobre e recompensável, pois é bom ver tudo limpinho! Divulgou-se que a presidente(a) Dilma ousou fazer uma espécie de faxina demitindo pessoas envolvidas em corrupção. Porém já está colhendo dificuldades, pois os companheiros dos demitidos ou investigados já andam se revoltando. Fingir que não vê a sujeira traz seus benefícios pessoais. Afinal a pessoa não se envolve, não cria inimigos, não suja as mãos. Como tu tens feito em tua vida? Tens realizado as faxinas necessárias? Ou tens fingido que está tudo limpinho? Detectar sujeiras na casa do vizinho é mais cômodo. Enxergar e clamar contra a corrupção lá dos políticos parece hábito entre as conversas. Mas e as nossas pequenas ou grandes corrupções? Jesus denunciou nossa tendência de olharmos o cisco no olho do outro e esquecermos-nos de verificar a trave que está diante de nós. (Mateus 7). Em nosso país, há um clamor pelo combate a corrupção. No entanto, vez por outra se vê um juiz assassinado, um defensor de causas ambien-
Artigo
tais morto por donos de madeireiras, um policial perseguido por aqueles que passaram apenas uma noite na prisão, um professor que é ridicularizado por assumir a difícil tarefa de realmente educar e deixar aquela filosofia do: “eu finjo que ensino e tu finges que aprende”. Dias atrás fui limpar e podar galhos de um limoeiro. Os espinhos em minhas mãos não tiraram a alegria do dever cumprido. Cada um de nós deve saber quais os galhos secos do limoeiro da vida que precisam ser cortados. Também sabemos e sentimos os espinhos de dificuldades do dia-a-dia; porém jamais devemos esquecer d’Aquele que não enfrentou apenas pequenos espinhos, mas grandiosos cravos que traspassaram as mãos na cruz do Calvário. Jesus fez isso para, com seu sangue, faxinar, limpar todos os nossos pecados. (1º João 1.7). Com a força e o amor daquele que nos “torna justos” pelo perdão e mediante a fé, vamos igualmente lutar por justiça. Seria ilusão pensar que vai ficar tudo limpinho, mas certamente ficará melhor, ainda mais se começarmos no nosso coração. Rev. Ismar L. Pinz — Pelotas-RS — pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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Apocalip Rev. David Karnopp
Bíblia — Escatologia
guia para estudo Introdução
A
pocalipse é um livro de revelação das coisas que vão acontecer no futuro e que visa consolar a Igreja Cristã dos últimos tempos, principalmente no que diz respeito ao fim do mundo. Ele é uma preciosa fonte de consolo, como o próprio autor afirma: “Bem aventurados aqueles que leem aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as cousas nele escritas’’ (Ap. 1.3).
Propósito deste trabalho Este trabalho não se propõe a servir como comentário Bíblico. Antes é fornecer breves anotações para cada versículo, que possam servir de auxílio para quem estuda o Apocalipse.
Objetivo do livro A palavra “apocalipse” significa desvendar, revelar. Deus revelou aspectos do futuro para consolar o povo de Deus que vive no último período, ou seja, no período que está entre a ascensão de Jesus e sua vinda em glória para julgar os vivos e os mortos. É verdade que há muitas coisas difíceis de entender neste livro. Há 54 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
figuras estranhas, selos, flagelos bestas, números etc. Diversos detalhes nos causam dificuldades. Para isso é necessário um estudo sério do livro. Apesar disso, Apocalipse nos revela aquilo que é fundamental para nossa salvação e nossa vida com Deus neste mundo e na eternidade. Seu propósito não é amedrontar, esconder coisas, ou causar dúvidas nos cristãos, mas revelar-lhes consolo e felicidade, ou seja, que o Cristo glorificado guia sua igreja através de muitas lutas e tribulações à glória (At 14.22). Por isso o livro desde o início nos coloca diante do Senhor Jesus “que nos ama e pelo seu sangue nos libertou dos pecados” (Ap.1.5). São felizes todos aqueles que leem, meditam e ouvem as palavras deste livro (Ap. 1.3). Não devemos, portanto ler este livro por mera curiosidade. Ele nos conclama à ler, ouvir e guardar a mensagem no coração.
O Autor de Apocalipse O livro de Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João provavelmente no ano de 95 D.C. quando esteve preso na ilha de Patmos por ordem de Domiciniano, imperador Romano. Domiciniano exigiu de seus súditos a sua veneração como ser divino. O choque entre cristãos e o imperador foi inevitável. Sugiram grandes perseguições, que assolaram a igreja cristã no Império Romano. Dos apóstolos de Jesus, somente João ainda estava vivo. Ele contava com mais de 90 anos. Participava ainda dos trabalhos ministeriais na comunidade de Éfeso da Ásia Menor, hoje Turquia. Por que ele estava preso? Ele mesmo responde: “por ter anunciado a mensagem de Deus e a verdade que Jesus revelou” (1.9). A ilha de Patmos não oferecia condições normais de vida. Nela quase não existia vegetação. Esta ilha dista 96 km ao sudoeste de Éfeso. Mede 16 km de extensão e 10 de largura. João abrigou-se, provavelmente, numa caverna. Ele foi jogado ali como resultado da perseguição aos cristãos. No ano de 96, João foi libertado por ordem do imperador Nerva (AD — 96-98). Voltou, então, para Éfeso, onde veio a falecer. Na ilha de Patmos Jesus apareceu ao apóstolo e o consolou com sete visões sobre o futuro da igreja. João recebeu a incumbência de escrever aquilo que lhe seria revelado e enviar para as sete igrejas que estavam na Ásia Menor (Turquia). Essas sete igrejas representam a Igreja Cristã espalhada por todo o mundo. A cada uma dessas sete igrejas, Jesus tem uma mensagem especial.
ipse Símbolos de Apocalipse
O Apocalipse contém muitas figuras de linguagem e muitos símbolos. Como os cristãos daquela época estavam sendo perseguidos por causa da fé cristã, havia a necessidade de se esconder. Este livro foi escrito desta forma para esconder do imperador o real significado da sua mensagem. Os cristãos, porém, conheciam cada palavra que ali estava escrita. João escreve este livro com a finalidade de encorajar os cristãos em meio às perseguições.
Bíblia - Escatologia
Dez — Número da perfeição e totalidade na criação de Deus. São 10 os mandamento (totalidade da lei). Daí que os “1000 anos” de Ap 20.2 devem ser entendidos como a totalidade do tempo que Deus nos dá para a propagação do evangelho. Doze — Símbolo do povo de Deus, seja da antiga aliança (12 patriarcas) ou da nova (12 apóstolos) — (21.12; 21.14). Lembra as doze tribos de Israel (igreja de Deus no AT.); os doze Apóstolos (princípio da igreja no NT). Assim os 144.000 de Ap 7.4; 14.1 é o mesmo que 12x12x10x10x10, ou seja a totalidade dos escolhidos. Também os 24 anciãos é a totalidade da igreja de Deus no A e NT.
Imagens
Cordeiro — É Jesus, o cordeiro pascal, cuja obra realiza a redenção e a libertação do povo de Deus (5.6; 12.11; 14.4). Dragão — É o poder do mal, personalizado no diabo, que opera no mundo (12.3; 12.9). Besta — Poderes terrenos que agem como instrumentos de Satanás (13.4). É símbolo do Império Romano (13.3-4) e dos que promovem culto ao imperador (13.11-12). Águia — Mensageira de Deus para anunciar o juízo (8.13) ou proteção divina (12.14). Babilônia — Símbolo dos que oprimem o povo de Deus. Representa a cidade de Roma (16.19; 18.2; 18.10), também descrita como uma meretriz (17.5). Mulher Perseguida — Símbolo do povo de Deus perseguido, do Números: qual nasce o Messias Jesus (12). Jezabel, nicolaítas, Balaão — Símbolo dos que pretendem seduzir Três — Lembra a Trindade. Símbolo de Deus, invocado três ve- as comunidades a acomodar-se à prática da idolatria (2.6; 2.14; 2.20). zes como Santo (4.8). Quatro — Número da criação e das criaturas de Deus; (4.1; 7.1). Uma quadra completa. Seis — Só aparece em Ap 13.18 com o 666. Se o sete é o número da comunhão de Deus com os seres humanos, no seis falta esta ligação. Sete menos um. Imperfeição. Sete — É a soma do número de Deus e da sua Criação (3+4) totalidade. Ciclo completo. Os sete dias da criação. Há várias séries de sete, como sete selos, sete anjos, sete reis, sete montanhas, sete trombetas. Isso retrata a perfeição que vem de Deus. Este é o número mais importante do Apocalipse. (1.11; 6.1; 8.6; 15.1). Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 55
Bíblia — Escatologia
Armagedom — Significa “Monte Meguido”, local de muitas batalhas em Israel. Simboliza a batalha final entre as forças divinas e diabólicas (16.6), assim como Gogue e Magogue (20.8). Nova Jerusalém — Símbolo da nova realidade que Deus vai criar no final dos tempos (21). Chifres — Símbolo de poder. Cabelos Brancos — eternidade. Cinto de ouro — poder real.
Leitura Apocalipse.1.1-8 1.1. Jesus revela à sua igreja o que acontecerá em breve. Revelação — Este é o título do livro e também é o resumo do que o livro contém. 1. 4. Sete igrejas: ver 1.11 — que é, que era e que há de vir: Deus é eterno, imutável — Sete espíritos: Não são quaisquer espíritos. Mas é o Espírito Santo. A forma sétupla do Espírito Santo vem do Antigo Testamento, especialmente em Is 11.2. (Ap 4.5). 1.5. Testemunha fiel: Quando veio ao mundo Jesus nos revelou fielmente Deus e a sua vontade. — o primogênito dos mortos, ou primeiro filho: Ele é o primeiro a vencer a morte pela ressurreição. 1.8. Alfa e o Ômega: São a primeira e a última letras do alfabeto grego. Deus é o princípio e o fim. É eterno.
Leitura Apocalipse. 1.9-20 — Visão do Cristo Glorificado Nesta visão Jesus apareceu a João de forma gloriosa. João já o havia visto de uma forma semelhante na transfiguração (Mt 17). A forma como texto nos mostra Jesus (vv. 13-16) ressalta duas coisas: sua santidade e seu poder. Diante do poderoso e santo Deus, o ser humano só pode cair, assim como João caiu. Jesus não se apresenta a João para lhe impor medo, mas consolo. Ao falar de sua morte e ressurreição não resta dúvida: é o mesmo que havia andado com os discípulos por três anos. Agora ele se apresenta vitorioso sobre a morte e todos os poderes do mal. Esta é a mais consoladora mensagem para os cristãos, porque Senhor é vencedor nós também seremos. Neste mundo, ainda estamos sujeitos a tentações, dores e fraquezas. Mas em Cristo temos uma promessa graciosa. 56 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
1.9. João estava sofrendo as consequências da perseguição junto com os irmãos da Ásia. 1.10. No dia do Senhor — Refere-se ao Domingo. — Uma grande voz como de trombeta — era uma voz alta e estrondosa, que pronunciava palavras. — “Achei-me em Espírito” O Espírito Santo apossou-se de sua mente e a dirigiu. 2Co 12.2; Ez 37.1; Dn 10; Atos 10.11; 11.5; 22.17. 1.11. Jesus, o Senhor da igreja, envia mensagens às sete igrejas da Ásia Menor, que representam à igreja cristã no Novo testamento. Estas cartas são a base do livro de Apocalipse e preparam para a compreensão das profecias que seguem. — Sete igrejas: O número sete é um número simbólico que representa algo completo. É o número da igreja de Cristo, que está espalhada por todo o mundo. 1.12. Sete candelabros de Ouro: São as sete Igrejas. (v. 20) Como igreja somos comparados a candelabros ou castiçais usados para colocar velas. Elas são de ouro, porque foram purificadas pelo sangue de Jesus. Elas estão nas mãos de Jesus que as guia e protege. As sete estrelas são os anjos, os mensageiros, os pastores destas igrejas. Eles brilham como estrelas, porque proclamam, por palavras e obras, a luz de Cristo que guia ao céu. As igrejas são a luz para o mundo. A igreja que tem Jesus em seu meio por Palavra e sacramentos, é luz para o mundo. (Mt 5.13; 2Co 5.10; Fp 2.15; 1Tm 4.12; Ef 4; 2Co 6.1; Atos 20.28). 1.13. No meio: Cristo está no centro da sua igreja agindo nela e por meio dela. Está em ação. — Ser parecido com um homem. Não se trata de um simples homem. Era o Filho de Deus. — Roupa que chegava até os pés: Sinal de dignidade como dos sacerdotes do Antigo Testamento (AT) (Êx 28.4; 29.5) — Faixa de ouro: Os Sumos sacerdotes do AT usavam cinto que era feito parcialmente de ouro. O cinto da figura é de ouro puro. É o símbolo do ofício sumo-sacerdotal de Jesus (Hb 5.6: 71;10.21) 1.14. Cabelos brancos — Santidade e pureza absoluta (Dn 7.9; Is 1.18) — Os olhos como chama de fogo — Fogo simboliza a ira de Deus. É o poder penetrante de Jesus. Diante dele nada pode ficar escondido (Dn 10.6) 1.15. Bronze polido: Jesus não é um ídolo de pé de barro (Dn 2.31-34) — Voz de muitas águas — Assim como não se pode calar o barulho de uma queda de água, a voz do Filho
Bíblia - Escatologia
do homem não poderia ser calada. É a voz do onipotente (Ez 1.24; 43.2) 1.16. As setes estrelas representam os “anjos”. A palavra “anjo” pode significar “mensageiro”, referindo-se então a uma pessoa que Deus coloca como seu mensageiro. No texto que estamos estudando os anjos são os pastores daquelas congregações. Os “sete anjos” são, portanto, o ministério da palavra. Cristo tem em sua mão direita o ministério da palavra. Nem ao pastor, nem à congregação pertence o ministério pastoral. Ele pertence a Cristo. Ele o instituiu e o dá a Igreja, para proclamar o evangelho e administrar os sacramentos. É bom sabermos que ainda hoje Jesus tem sua igreja em suas mãos e ninguém a tirará de suas graciosas mãos. — Espada de dois fios — É a sua palavra que nos acusa dos nossos pecados e nos revela a salvação através do Evangelho. Os dois fios representam as duas doutrinas principais da bíblia: lei e evangelho. — Seu rosto brilhava como o sol — Como na transfiguração toda a sua aparência brilhou. (Mt 17.2) João vê a glória completa do Senhor, que é mais brilhante que o sol. 1.17. Ao ver este quadro, João caiu por terra um como morto. O esplendor da glória lembra a nossa indignidade. Se os grandes profetas e santos desfaleceram diante da visão do trono, onde subsistiremos nós? Mas o Senhor estendeu, como no caso de Daniel (8.19) sua mão, com as palavras: “Não temas!” Aos pastores nos campos de Belém também foi dito: “Não tenham medo”.
Jesus, na manhã da ressurreição consolou os seus discípulos dizendo: “não tenham medo”. — Mão direita — Gesto encorajador, consolador, de imensa bondade. — O primeiro e o último — Como alfa e ômega ele é eterno. 1.18. Aquele que vive — Está na sua essência o viver eternamente. Ele é eterno. Ainda que o Senhor da vida, tenha entregado a vida na morte, ele vive — Autoridade sobre a morte e mundo dos mortos — Ele tem as chaves em seu poder. Ele tem autoridade. Nem mesmo inferno e morte podem vencê-lo.
As cartas às sete igrejas 1.19-3.22 Apocalipse: 2.1-7 As cartas às sete igrejas da Ásia Menor não se dirigem somente às sete comunidades citadas, mas também a cada cristão individualmente e a todas as igrejas do mundo inteiro. Em cada uma das sete cartas, Jesus se apresenta de forma diferente, concedendo-se títulos diferentes, que trazem consolo para os filhos de Deus.
1. Mensagem à igreja de Éfeso: 2.1-7 Éfeso era uma cidade portuária situada às margens do mar Mediterrâneo e no entroncamento de várias estradas de produção, o que facilitava o comércio. Éfeso era a principal cidade da Asia, com 255 mil habitantes. Lá estava também o grande templo da deusa Diana que constituía uma das maravilhas do mundo antigo. O principal comércio consistia na fabricação de miniaturas da deusa que eram vendidos aos cultuadores. Grande parte da população vivia dos serviços dedicados ao culto deste templo. Muitos ourives faziam replicas da deusa e as vendiam. A Igreja — A Igreja de Éfeso foi fundada pelo apóstolo Paulo e seus companheiros em 51 DC (Atos 18.19; 20.21; 1Co 15.32; 16.9). Paulo permaneceu lá por aproximadamente três anos. Nela trabalharam Apolo, Áquila, Priscila, Timóteo e o apóstolo João (Atos 18.18-24; 20.17; 1Tm 1.2). Éfeso tornou-se uma das principais igrejas do Novo Testamento. 2.1. Jesus se apresenta à ela como aquele que tem as igrejas em suas mãos. Além de estarem na mão direita, estão firmes na mão. ( Jo 10.14,28-29). Ele é descrito como aquele que está no meio das igrejas, ou seja, ele Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 57
Bíblia — Escatologia
está ativo na igreja com seu poder e sua graça. 2.2-3. Jesus conhece o que se passa com a igreja. Ele elogia a vigilância da igreja, seu zelo pela verdade. As provações estão associadas às perseguições que eles estavam enfrentando. — Puseram à prova: Na igreja primitiva surgiram muitos pregadores itinerantes que se diziam porta-vozes do Senhor. Alguns se auto-proclamavam apóstolos para objetivos egoístas. Mas os cristãos de Éfeso conheciam tão bem os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, que ninguém os enganava. A igreja de Éfeso soube distinguir entre falos e verdadeiros apóstolos e os desmascarou. Era uma igreja que se destacava pela pureza de doutrina. Para os cristãos de hoje que estudam a Palavra de Deus, não é qualquer um que os consegue enganar. 2. 4: “Uma coisa contra”: Já naquele tempo se fizeram sentir os sintomas da decadência. Não tinham mais a mesma convicção que tinham antes. Perderam o entusiasmo, a vontade, a dedicação que tinham em outros tempos. Estavam esfriando na fé, que poderia levá-los para a condenação. Quando isso acontece nada funciona por muito tempo. Tudo vai parando e morrendo aos poucos. Será que isso acontece entre nós? Quantas coisas começaram bem em nossas congregações mas acabam morrendo aos poucos Por quê? Podemos apresentar desculpas, mas a verdade é que abandonamos o primeiro amor! . Assim como os cristãos de Éfeso caíram, nós também frequentemente caímos e nosso amor vai esfriando ao ponto de não termos mais interesse em continuar sendo cristãos. No entanto Jesus não quer que isso aconteça. Por isso ele também fala conosco e repreende. 2.5. O caminho para recuperar o entusiasmo do primeiro amor não é desconhecido. É algo bem conheci-
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do. Por isso Jesus diz: “Lembra-te”. O caminho está nas coisas que deixamos de fazer e que devem voltar a ser realizadas. Voltar a prática das primeiras obras é voltar a Jesus, de quem vem a motivação para todas as obras cristãs. É voltar ao evangelho, à Santa Ceia. É voltar a produzir os frutos da fé. — “Virei e tirarei o candelabro”: Não é uma visita amigável. Não haverá mais tempo para conversar. Se não souberem aproveitar o tempo da graça e se não houver arrependimento, Deus tirará a igreja. Em Éfeso já houve umas das mais gloriosas igrejas da era cristã. Hoje só restam ruínas e nenhuma igreja cristã. 2.6. Nicolaítas: Seita de origem incerta. A seita ensinava: Podemos pecar à vontade, para que a graça seja abundante, pois pela fé os pecados já foram eliminados. 2.7. “Ao vencedor”. É vencedor por Cristo e pela fé. — “árvore da vida” Gn 2.9 é o madeiro, ou seja a cruz de Cristo. É a ponte entre o paraíso perdido e a cruz do gólgota. Pela cruz de Cristo o paraíso é recuperado. — “Jardim de Deus” — Lugar da morada de Deus
2. Mensagem à igreja de Esmirna: 2.8-11 Esmirna, dista 45 km ao norte de Efeso. Era um importante cruzamento de rotas comerciais tanto terrestres como marítimas. Era uma cidade esplêndida, que recebeu o apelido de “a glória da Ásia”. A cidade foi destruída várias vezes por terremotos e incêndios, mas sempre reerguida. É a terceira maior cidade da Turquia, com aproximadamente 250 mil habitantes e tem o maior porto de exportação da Turquia. A Igreja de Esmirna: A igreja de Esmirna era pequena e pobre. Sofreu perseguições, tanto de judeus como de gentios. Um exemplo disso é a história de Policarpo, um dos “pais da igreja”, que tinha sido discípulo do apóstolo João e, mais tarde foi bispo da igreja de Esmirna. Ele foi morto no ano de 155 porque, depois de 86 anos de fidelidade ao Senhor, negou-se a oferecer sacrifícios ao imperador. Morreu queimado, no estádio da cidade, servindo de espetáculo ao povo, mas não negou a sua fé. Jesus se apresenta a ela como aquele que sofreu e vive. Não a censura, mas a consola e elogia sua perseverança e fidelidade. Ela é rica para com Deus. 2.8. “Primeiro e o último”. O Senhor é eterno. 2.9. “Eu sei o que vocês estão sofrendo”. Os sofrimentos que os cristãos de Esmirna estavam passando possivelmente eram perseguições por causa da fé cristã. Há grande consolo no fato de Jesus conhecer todos os
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nossos problemas e necessidades. Mesmo que às vezes nos sintamos sós em nossos problemas e sofrimentos, Jesus conhece tudo o que se passa conosco. Ele sofreu e morreu, mas ressuscitou e venceu os sofrimentos e a morte. Isso trouxe grande consolo para os cristãos de Esmirna que estavam sofrendo perseguições inclusive a morte. A ressurreição de Jesus é a garantia da nossa ressurreição ( Jo 14.19) e enchem nosso viver de esperança, mesmo que ainda tenhamos sofrimentos e morte pela frente. — “Pobres, mas ricos” A pobreza material parece ter sido consequência das perseguições que sofreram. É possível que o trabalho e o crédito no comércio lhes eram negados, por serem cristãos. A igreja de Esmirna foi chamada de “pobre igreja rica”, enquanto que a igreja de Laodicéia recebeu o título de “a rica igreja pobre”. Não é a riqueza do mundo que vale para Deus, mas a riqueza espiritual. O tesouro mais valioso é o perdão de pecados e a graça em Jesus o Salvador. — “judeus que falam mal”. Os cristãos de Esmirna sofriam blasfêmias dos judeus por causa do Messias. 2.10. “Não tenham medo”. Jesus os avisa de que alguns deles serão lançados em prisão, mas os anima para não terem medo dos sofrimentos. Ao mesmo tempo em que o Senhor anuncia sofrimentos que virão em breve, afirma a sua presença com eles. O diabo é o causador desses sofrimentos. Apesar das tentações, Cristo está ao nosso lado. — “Sejam provados”: Há uma diferença entre tentação e provação. Deus não tenta ninguém. O diabo tenta para o mal, para enganar e destruir. Mas Deus quando permite o mal, põe a nossa fé à prova, não para destruí-la, mas fortalecê-la (Rm 8.28). Como reagimos quando somos provados na fé? — “Sofram durante 10 dias”: Deve ser interpretado simbolicamente. Significa que será um tempo breve. Jesus colocará um ponto final em todos estes sofrimentos. Para os descrentes não. Aos fiéis está reservada a coroa da glória eterna e não os louros passageiros dos estádios esportivos de Esmirna. — “Sejam fiéis... lhes darei a vida”. Deus é fiel. Ele cumpre suas promessas e está ao lado dos que sofrem por causa do seu nome. Ele encoraja dizendo: “Sê fiel até a morte”. A fidelidade deve estar em processo de crescimento, tornado-se sempre mais forte. Mesmo que vierem os sofrimentos,o cristão vencerá. A Coroa da vida eterna lembra a coroa que os atletas recebiam. Cristo recebeu a coroa de espinhos.
2.11. “O vencedor não sofrerá a Segunda morte”. O vencedor é aquele que perseverou firme na fé, apesar de todas as tribulações e perseguições, como Policarpo que não negou a sua fé em Jesus. A segunda morte é a que segue a primeira que é a morte espiritual (Ap 20.14; 21.8). É a condenação Eterna. A primeira Jesus venceu. O vencedor receberá a coroa da vida que foi conquistada por aquele que esteve morto, mas tornou a viver!
3. Mensagem à igreja de Pérgamo: 2.12-17 Pérgamo. 80 Km ao norte de Éfeso, hoje se chama Bergama com 15.000 habitantes. Pérgamo era uma das mais importantes cidades da região da Ásia nos dias do apóstolo João. Foi notável como centro de artes e literatura. Ali foi inventado o pergaminho, couro de cabrito, que era trabalhado, de tal maneira que podia ser usado como material para escrever, superior ao papiro, que era usado normalmente até então. Mais tarde textos da Bíblia foram copiados no pergaminho. Pérgamo possuía uma grande biblioteca com cerca de 200.000 volumes. Era centro de cultos a muitos deuses e ao imperador. Muito notável também por sua superstição, seu culto a deusa Vênus e a Esculápio, o deus da magia e da medicina. Foi conhecida por causa de uma escola de medicina. O culto a César trouxe conflitos e perseguições aos cristãos. Para os cristãos era difícil viver ali. 2.12. “Espada afiada de dois lados”. É a palavra de Deus que sai da boca de Jesus salva e consola os que creem, mas também julgará e condenará os incrédulos, os que não se arrependem e promovem o erro e o engano (Ap 1.16; Hb 4.12; Ef 6.17). Todo aquele que rejeita a palavra de Deus será julgado e condenado por esta mesma palavra. A palavra de Deus é defesa e salvação para o crente, mas juízo e condenação para o incrédulo e impenitente. Ela deve ser usada para consolar, mas também para identificar o erro e combatê-lo. Lei e Evangelho. 2.13. “Trono de Satanás”: Referência aos vários deuses, ao culto ao imperador, que estava se transformando em uma grande perigo para a igreja cristã. — “Não abandonaram a fé”. Apesar de cercados de tantos deuses, os cristãos de Pérgamo não se desviaram da fé. Temos de lembrar que a maioria dos cristãos de Pérgamo vieram do paganismo e eram tentados a voltar às práticas pagãs. É interessante notar que os cristãos de Pérgamo suportaram fortes perseguições e não neAgosto e Setembro, 2011 | Teologia | 59
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garam a fé. Antipas, um líder da congregação, foi morto por sua fidelidade ao Senhor. O pastor da igreja manteve-se fiel, mas deveria ser mais decisivo. Houve tolerância e desleixo na disciplina cristã. (1Co 5.6; Gl 5.9). Isto é expresso pela doutrina de Balaão e a doutrina dos nicolaítas (Nm 31.15-16; 2Pe 1.5; Jd 11). 2.14. “Doutrina da Balaão” Nm 22-24. Esta doutrina defendia a ideia de que os cristãos, além de praticarem a sua fé, também podiam participar dos cultos aos deuses pagãos. 2.15. “Doutrina dos nicolaítas”. Esta doutrina dizia que eles podiam pecar à vontade, pois a graça de Deus é abundante. Em Éfeso foram expulsos. Em Pérgamo foram mantidos. Dessa maneira, o erro e o engano se infiltravam na igreja, confirmando as palavras do apóstolo Paulo: “Um pouco de fermento leveda a massa toda” (Gl 5.9) Um dos problemas da igreja de Pérgamo foi a falta de disciplina cristã. Um erro perigoso. É provável que o líder espiritual da congregação não promoveu a disciplina cristã, antes tolerou o erro, principalmente a “doutrina de Balaão”. O diabo enganou a muitos deles, levando-os para a imoralidade. 2.16. A culpa de que heréticos estão no meio deles, não é só do pastor é de toda a congregação. Cristo chama o povo ao arrependimento se não virá contra eles como um forte guerreiro que tem uma espada sem igual. A arma é a palavra de Deus. Não é uma simples visita. 2.17. “Dar-lhe-ei o maná escondido”: O maná era o alimento que Deus fazia cair do céu para o povo que estava no deserto, antes de entrarem na terra prometida. (Êx 16.14-15). Referência ao alimento celestial, ao pão da vida, aquela grande festa que está preparada no céu para os “vencedores”, quando “tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mt 8.11). Veja também 1Co 2.9. Está escondido. Será revelado na glória celestial. — “Pedrinha branca” — Uma pedrinha branca significava absolvição por um júri, uma pedra preta, condenação. Pedras brancas também eram usadas como bilhetes de entrada em festivais públicos. Ela é o símbolo de admissão à festa messiânica. O nome inscrito na pedrinha branca é o nome dos eleitos por Deus. (Is 62.l-4; Rm 8.24-25; Ef 3.14-19). Quando os reis antigos davam uma festa, seus convidados recebiam uma pedrinha branca, geralmente um diamante, que lhes 60 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
dava o direito de entrarem na festa. Assim também os vencedores recebem “uma pedrinha branca”, como sinal da sua vitória, e para terem acesso a festa celestial. O branco é a cor simbólica da vitória. — Um novo nome. No céu tudo será novo. É possível que teremos de fato um novo nome.
Debate: 1. Qual a finalidade da disciplina cristã? 2. Quem deve ser disciplinado e quem deve disciplinar? 3. Qual é o instrumento a ser usado na disciplina cristã? 4. Quais são os principais perigos que ameaçam a igreja hoje?
4. Mensagem à igreja de Tiatira: 2.18-29 Tiatira: Das sete cidades Tiatira era a menos importante. Era uma cidade pequena, mas famosa por seus produtos manufaturados e por sua arte de tingir com púrpura e também pela forja do bronze. Hoje, conta com aproximadamente 50.000 habitantes. A Igreja de Tiatira: Além desta carta, não há outras informações sobre a igreja de Tiatira. Provavelmente foi fundada pelo apóstolo Paulo (At 16.14-15). Hoje ainda existem alguns cristãos lá. A igreja de menor tamanho recebe a carta mais extensa. 2.18. “Filho de Deus”: O Ungido de Deus (Sl 2) — “olhos como chama de fogo”: Olhos faiscantes de raiva por causa do pecado. Nenhum pecado estará escondido aos olhos dele. — “Pés brilhantes como bronze polido”. Pronto para pisar os inimigos da igreja cristã. 2.19. As obras dos cristãos de Tiatira continuam a crescer. Em todas as cartas às sete igrejas, ocorre sempre
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a mesma expressão: Conheço! Jesus é o único que pode falar desta forma, pois, sendo Deus sabe de todas as coisas, conhece tudo. Ele jamais se deixa enganar por aparências. 2.20. As aparências enganam! Jesus tem um recado para os cristãos de Tiatira e para nós também. Os elogios dados por Cristo acabaram e agora eles são acusados de prostituição e de sacrificarem aos ídolos. Jezabel: Quando os cristãos de Tiatira estavam reunidos em seu local de culto, tudo estava muito bem. Porém, as coisas passam a ser diferentes, quando eles se encontram com amigos para conversar e trocar ideias. Nesses encontros é que estava o problema dos cristãos de Tiatira. Nessas ocasiões entra em cena Jezabel. Pode ter sido uma mulher de destaque na congregação, mas João também pode estar se referindo as atitudes de Jezabel, esposa do Rei Acabe (1Rs 16ss). Jezabel foi a grande responsável pela infidelidade a Deus ensinando às pessoas a adorarem o deus Baal. Foi inimiga do profeta Elias. Enquanto Elias queria reconduzir as pessoas a Deus, Jezabel se esforçava em desviá-los. Em Tiatira, alguns estavam imitando a Jezabel (Ap 2.20). Enquanto o pastor de Tiatira se esforçava para manter as pessoas no caminho da fé verdadeira, Jezabel conduzia as pessoas para a morte. É possível que essa Jezabel tenha reunido seus adeptos em pequenos grupos para e ensinar-lhes suas Heresias, tomando conta da maior parte da congregação. Jezabel tinha toda liberdade para ensinar, e ninguém procurava impedir. O erro dos cristãos de Tiatira foi tolerar essa Jezabel. Este pode ser o nosso erro também. Os pastores procuram ensinar os caminhos de Deus nos templos, mas lá fora a Jezabel seduz a muitos. 2.21. Deus em sua longanimidade e paciência lhe dá tempo para arrepender-se, mas ela não atendeu 2.22. “A jogarei numa cama”: Se não se arrependerem, seu local de prostituição será também o local do juízo de Deus sobre si e sobre seus companheiros de pecado. 2.23. “Matarei os seguidores”: Mostra a ira de Deus e sua decisão irrevogável. — “Conhece os pensamentos e desejos de todos”: Nada é possível esconder do Senhor 2.24. Jezabel e os seus seguidores estavam decididos a investigar as coisas profundas de Satanás e praticá-las. A minoria não aceitou a doutrina e atitudes de Jezabel. E o Senhor consolou os fiéis. 2.25. O que é necessário para o cristão verdadeiro é conservar firme a fé em Jesus e conservar a verdade do
evangelho. 2.26. O vencedor é aquele que faz a vontade de Deus. Fé e obras andam lado a lado. “darei autoridade sobre as nações” Sl 2.8-9 fala de Cristo que regerá as nações com cetro de ferro. Não para guiar a pastos verdejantes (Sl 23). A vara da mansidão torna-se o cetro de ferro. O bom pastor torna-se rei. Não há sobrevivência depois do Juízo final para quem desprezou o Ungido de Deus. Os vencedores farão parte neste juízo. — “Estrela da manhã”: Em Ap. 22.16, Jesus mesmo se chama de estrela da manhã. Ou seja, ao cristão fiel Jesus dará da sua glória e bênção de ser igual a ele.
Para Reflexão: 1. Será que as nossas aparências também enganam? 2. Será que não temos nenhuma Jezabel entre nós, ensinando na igreja ou em encontro de amigos? Às vezes, as pessoas falam, ensinam e aconselham coisas estranhas: alguma simpatia, leitura de horóscopos, visita a um curandeiro ou milagreiro, amor livre, etc. 3. Talvez a nossa maior Jezabel seja a TV. Quando ela fala, todo mundo cala, ouve e aprende. Ela impõe costumes, ensina outra maneira de viver. Por causa dela, muitos deixam de confiar naquilo que a Bíblia ensina. Sexo e casamento já não são mais vividos como é o desejo do Senhor. A TV Jezabel persegue aqueles que defendem os ensinamentos do Senhor.
Reação aos ensinos de Jezabel O grande adversário de Jezabel foi Elias. Jesus quer que cada um de nós seja um Elias a enfrentar a Jezabel de nossos tempos. Ela ameaça todos os que se levantam contra ela. Contradizer o que ela diz, causa medo. Elias também teve medo e fraquejou. Mas Deus destruiu a Jezabel. A nossa força também vem do Senhor para destruir a Jezabel de hoje.
5. Mensagem à igreja de Sardes 3.1-6 A cidade: Sardes já foi uma das grandes cidades da antiguidade. Os gregos a consideravam como a maior cidade conhecida. Era a capital da Lídia. No ano 190 a.C. foi dominada pelo império romano. No ano 17 da nossa era foi destruída por um grande terremoto. Apesar de ter sido reconstruída, tornou-se uma cidade sem importância. Quando o apóstolo João enviou esta Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 61
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carta, a cidade estava em plena decadência. No séc. 14 foi completamente destruída pelos turcos. Hoje restam apenas algumas choupanas de pastores de cabras entre as poucas ruínas da antiga metrópole. A Igreja: Sobre a igreja em Sardes não existe nenhuma referência bíblica, além deste texto. Provavelmente foi fundada pelo apóstolo Paulo e seus colaboradores Era uma igreja que estava morrendo. 3.1. “os sete Espíritos de Deus”: É a plenitude do Espírito (1.4) Is 11.2. (Ap 4.5) — “as sete estrelas”. Representam os mensageiros. Esta é uma mensagem de consolo para uma igreja que está morrendo. Só o poder do Espírito Santo pode avivar uma igreja que está morrendo. Jesus conhece a igreja de Sardes. Quer dar-lhe vida. Isso é consolador! — “estão vivos, mas, de fato, estão mortos” A igreja de Sardes tinha aparência de igreja, mas já não o era mais. Ainda conservava a estrutura, a organização de igreja, mas não tinha mais força e vida espiritual. Perante o mundo ainda tinha o título de “igreja cristã”, mas, na prática não era mais o evangelho de Cristo que a dirigia. Era um cristianismo apenas de nome ocupado com coisas externas, mas sem vida espiritual. Apesar de a pregação continuar, esta não trouxe frutos para a maioria dos membros. Eles se tornaram indiferentes com respeito à salvação. Como organização a igreja funcionou, mas sua vida espiritual morreu. Ela foi um exemplo de igreja secularizada. Por isso não sofreu perseguições por parte do mundo. Ela contaminou sua vestidura com os pecados do mundo ao seu redor. Mas alguns poucos membros ficaram fiéis ao seu Salvador. 3.2. “Acordem”. Jesus quer acordar a igreja que está dormindo, para ficar vigilante, de olhos abertos para enxergar o seu estado deplorável. — “O que fizeram não está de acordo...” Certamente realizavam cultos e obras religiosas, mas faltava-lhes o verdadeiro fundamento para todas as obras: a fé, o amor e uma vida em comunhão com Deus. Fé morta produz somente obras mortas. Aos olhos humanos eram obras boas, mas para Deus não. 3.3. Deus quer que o pecador seja salvo. Mas para isso é necessária uma mudança radical. O único caminho é lembrar-se do que tinham aprendido e então arrepender-se. É lembrar-se continuamente das misericórdias de Deus e como receberam, no início, a palavra pregada pelos mensageiros de Deus. O pastor deve continuar lembrando, com a lei e o evangelho, a necessidade de arrependimento. 62 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Deus ainda não tinha retirado o evangelho da igreja de Sardes. Ainda era tempo! Mas ele também adverte que poderá chegar a hora em que será tarde demais para o arrependimento. (Am 8.11-12). Acordar do sono é sempre urgente, do contrário pode ser perigoso. O julgamento pode ser a qualquer momento. Se continuarem a dormir não estarão preparados para esta hora do juízo. Cristo os chama ao arrependimento, pois ele pode vir a qualquer momento. Lc 12.39-40. 3.4. Algumas pessoas haviam permanecido fiéis a Cristo em Sardes, pois não tinham contaminado suas vestes. Não que não tivessem pecado, mas pela fé e arrependimento foram lavadas dos seus pecados pelo sangue do Cordeiro. Por isso andarão vestidos de roupas brancas, que são símbolo da justiça e santidade. Eles são os vencedores. Eles venceram a indiferença, o sono, as tentações e conservaram a fé (1Jo 5.4). Jesus apresenta maravilhosas promessas aos vencedores da igreja de Sardes que consolam e animam os cristãos de todas as épocas e encorajam a Esperar com Fidelidade a Deus. — “Eles merecem esta honra”, não por justiça ou esforços próprios, mas por sua fé no Cordeiro que morreu por eles e os redimiu. 3.5. Os que não se contaminam se vestirão de branco e terão seu nome escrito no Livro da Vida para sempre. (Ex32.32-33).
Debate: 1. O que caracteriza uma igreja viva? (cf. Jo 15.1-7) 2. O que Jesus diria da nossa igreja ou da nossa congregação? 3. Qual é o principal consolo contido nesta carta? 4. Será que em nossa congregação todos estão recebendo o ensino da palavra de Deus? Todos estão sendo lembrados daquilo que aprenderam e ouviram? 5. Quais são as tentações, provações e problemas que representam maior ameaça para a nossa fé hoje?
6. Mensagem à igreja de Filadélfia: 3.7-13 A cidade: Filadélfia foi fundada no ano 150 a.C. Recebeu este nome por causa do seu fundador, Áttalus Filadelfus rei de Pérgamo. Foi destruída várias vezes por terremotos, mas sempre de novo reconstruída. Ela existe até hoje, com o nome de Alasher com cerca de 12.000 habitantes.
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A igreja: Além desta carta, não se tem outros conhecimentos a respeito desta igreja. Jesus só tem elogios e nenhuma repreensão. A igreja era pequena, mas fiel e missionária. Foi possivelmente fundada pelo Apóstolo Paulo. 3.7. “Daquele que é santo e verdadeiro”. Santo é um título de Deus. Mas o Messias também é chamado de Santo. Isso prova sua divindade. (Ap 4.8; 6.10; 15.4; Jo 6.69) Ele é fiel, genuíno, confiável. — “Chave de Davi”. É a chave da casa de Davi, o Reino Messiânico. Somente Cristo tem o poder de admitir alguém no reino messiânico. Ele realmente pode fechar a porta para alguém. 3.8. “Pouca força”. Aparentemente era uma igreja pequena e fraca, de quem pouco ou quase nada pode se esperar. Mas ela tem o essencial para a vida de uma igreja: “Tem seguido meus ensinamentos e tem sido fiéis a mim”. Além de guardar a Palavra, confessava o nome de Jesus. Apesar de ser uma congregação pequena, eles não se acomodaram. Sabiam o que tinham de fazer. Eles buscaram sua força e capacidade na palavra. 2Co 12.9-10. — “Porta aberta”. Apesar de pequena, Jesus colocou diante dos cristãos de Filadélfia um desafio, uma oportunidade missionária, justamente para uma igreja que tem pouca força. Mas é aí que temos uma lição à aprender. Quando Deus chamou Samuel para ungir um dos filhos de Jessé para ser o novo rei de Israel, foi escolhido Davi, que era considerado o mais fraco (1Sm 16.5-12). Samuel teve de aprender que o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém, o Senhor, o coração. Para Deus as coisas são diferentes do que são para nós. Quando Deus abre uma porta ninguém pode fechá-la. 3.9. Os judeus verdadeiros eram aqueles que eram judeus interiormente (Rm 2.29). Eles eram o verdadeiro povo de Deus, mas como negaram o Messias, não são mais povo de Deus, mas “sinagoga de Satanás”. — “venham e caiam de joelhos diante de vocês”. O próprio Cristo fará com que reconheçam que a igreja, e não mais a sinagoga dos judeus é a verdadeira casa de Deus. Junto com os cristãos vão se prostrar aos pés daquele que prega o evangelho. 3.10. Guardar a Palavra é o mais importante que uma igreja pode fazer aqui na terra. É a prova de que ela ama a seu Senhor ( Jo 14.23). Por sua fidelidade, a comunidade de Filadélfia seria livrada de uma grande provação, possivelmente de uma perseguição (Em 98 AD perseguição com Trajano, imperador.
3.11. “Venho logo”. Cristo está à caminho (Ap 22.7,12,20). Virá como o ladrão (Ap 3.3). Se não veio até hoje é porque é longânimo e não quer que nenhum pereça (2Pe 3.9) — “Guardem o que vocês tem”. Guardar a Palavra à qual eles tinham sido fiéis. — “prêmio da vida eterna”. É o que vamos herdar de Deus por sermos fieis a ele. 3.12. “Coluna do templo”: Filadélfia era constantemente atingida por terremotos. Entre as ruínas ficavam em pé as colunas, que se tornavam símbolo de firmeza. O vencedor fica firme em todas as dificuldades, perseguições e tribulações. Não é qualquer lugar do templo. É dentro do templo considerada a moradia visível de Deus. Este templo está no céu. O vencedor estará na presença de Deus. A coluna fica onde está. Sua presença no santuário de Deus é garantida.
Para Reflexão: 1. As vezes nos julgamos tão fortes que nem precisamos ler a Bíblia, não precisamos ir aos cultos, não precisamos da Santa Ceia. Até temos orgulho da nossa força por sermos “luteranos”. Aos outros que estudam a Bíblia, que fazem visitas de casa em casa, que distribuem folhetos, nós os achamos fracos e fanáticos. 2. Quando vemos os poucos resultados da nossa igreja, empurramos a culpa nos “acomodados”, que julgamos os únicos fracos. Pensamos que, se todos fossem como “eu” tudo seria melhor. Mas quando nos julgamos fortes, então é que somos totalmente fracos (2Co 12.7-10).
Para Debate: Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 63
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1. Quem seria capaz de nos tirar o prêmio da vida eterna? 2. O que nós estamos fazendo com as portas abertas que Jesus coloca diante de nós? 3. Quais as portas que podem estar abertas para nós?
7. Mensagem à igreja de Laodicéia: 3.14-22 A cidade: Laodicéia recebeu este nome por causa de Laodice, esposa do rei Antioco II, da Síria. Era uma das cidades mais ricas de toda Ásia e o centro bancário mais importante da época, onde também eram fabricadas as moedas. Muitos judeus viviam lá. A cidade era famosa por sua escola de medicina, especializada em doenças dos olhos. Lá foi descoberto um pó que era usado como colírio para os olhos. Perto da cidade haviam fontes de águas termais, desagradáveis para beber e que levavam ao vômito quem as bebesse. As ovelhas, criadas na região, produziam lã de primeira qualidade e muito famosa. Desta lã eram feitos luxuosos tecidos pretos e tapetes. Em 1400 a cidade foi destruída por um terremoto. Uma outra cidade foi construída nas proximidades, na qual não há cristãos, só muçulmanos. Atualmente se chama Denizli A igreja: A igreja de Laodicéia era uma igreja rica. Isso a tornou indiferente para com o Senhor Jesus, insincera, morna, orgulhosa e satisfeita consigo mesma. Sua riqueza, porém, era uma ilusão, pois diante de Deus ela nada valia. Por isso ela precisava ouvir a ameaça do juízo de Deus. No entanto, o Senhor Jesus tem paciência e dá a ela, ainda um tempo de graça. No ano 361, Ladicéia foi sede de um dos grandes concílios da igreja antiga, onde foi estabelecido o “Canôn” do Novo Testamento. 3.14. Jesus se apresenta com estes três nomes nesta carta. “Amém, testemunha fiel e verdadeira”. Amém, em hebraico significa “verdade”. Cristo se denomina assim Jo 14.6. Ele é a absoluta verdade. Ele era a verdadeira testemunha das coisas do céu. — “por meio de quem Deus criou todas as coisas”. Tudo foi criado por meio dele. Nele está a origem de toda criação e ele transcende toda criação. Ele é o principiador da criação.(Cl 1.15; Jo 1.3; 1Co 8.6). 3.15-16. “Eu sei o que vocês tëm feito”. As obras de uma pessoa são sempre a demonstração daquilo que está no coração dela. Só o Senhor conhece o que está 64 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
no coração. — “nem frios nem quentes”. A congregação de Ladicéia não recebe elogios, nem críticas por ensinos falsos ou imoralidade. O problema é que eles não eram nem frios nem quentes. Eles não tinham frieza ou aversão ao Evangelho, mas também não tinham zelo e fervor por ele. Eram indiferentes, cristãos de nome, acomodados. O que é morno provoca náuseas. Frios são aqueles que ainda não foram atingidos pelo evangelho ou caíram totalmente da fé. Quentes são os que seguem o Senhor em verdadeira fé, amor e obras. Fé morna dá nojo. (Mt 12.30). Suas palavras são duras, porém, carregadas de misericórdia. Ele não diz “vou vomitar-te”. Mas sim: “estou a ponto de vomitar-te”. O Senhor ainda está agindo. Ele tem nojo e quase não pode suportar a indiferença e auto-suficiência da igreja de Laodicéia. Mas ele ainda espera, tem paciência e dá conselhos. Ele deseja a salvação de todos e não a perdição. 3.17. Rico e abastado... és infeliz, pobre, cego, nu. Havia fartura em Laodicéia. Não se fala em pobreza, miséria ou perseguições. Isso proporcionou certa tranquilidade aos Laodicenses. Essa tranquilidade e indiferença também tomaram conta da igreja naquela cidade. A realidade era esta: Nada nos falta. Tudo está tranquilo. Na verdade a igreja de Laodicéia estava iludida. Esta riqueza não lhes trouxe felicidade. Sem Deus ninguém é rico. Por causa da aparente segurança material, tornaram-se mornos espiritualmente. Não negaram a fé, mas também não assumiram a condição de testemunhas de Cristo. Queriam ser membros da igreja, mas, ao mesmo tempo, não queriam ser incomodados. Queriam ser auto-suficientes. Seus olhos não estavam voltados para Cristo, mas sim, para o seu bem-estar. Como esses problemas se manifestam na igreja de hoje? 3.18. “Ouro puro”. O ouro aqui significa a riqueza do céu. Este comprar significa verdadeiro arrependimento para receber o perdão dos pecados, que vale ouro. A fé é aquela que recebemos através do fogo refinador das tribulações. Este ouro se refere às riquezas espirituais. — “vestiduras brancas” Justiça de Cristo, oferecida através do seu sofrimento e morte e obtidas pela fé somente que cobre o nosso pecado diante de Deus. Só a justiça de Cristo pode cobrir a nudez do pecado. — “Colírio para os olhos”. Em Laodicéia havia uma escola de medicina que preparava um remédio em pó para doença dos olhos. Ainda que este pó pudesse curar a doença física dos olhos não podia curar a cegueira espiritual.
3.19. Eu corrijo e castigo os que amo. A repreensão e disciplina são atitudes de amor, não de ira, que tem por objetivo levar o cristão constantemente ao arrependimento e à mudança de atitude. É pela misericórdia que Jesus repreende disciplina os cristãos mornos de Laodicéia. Só o pecador que se recusa a aceitar o chamado de Deus, que não se arrepende será recusado. O arrependimento é uma atitude contínua. É pelo amor de Cristo que se pode viver nele. 3.20. Estou à porta e bato. Para cristãos desinteressados e acomodados Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato”. Estas palavras expressam misericórdia. A porta é o coração. No coração dos Laodicenses, infelizmente, Jesus ficou do lado de fora. Mas, em sua misericórdia, ele não cansa de bater. É um bater contínuo, com a palavra e os sacramentos para que a porta se abra. Quem ouvir a minha voz e abrir a porta, Jesus diz que vai entrar em sua casa, e com ele. O “jantar junto” é símbolo de comunhão íntima. 3.21. “Sentarem ao lado do meu trono”. Isso significa reinar com o Senhor (2Tm 2.12).
Para Reflexão: 1. Ao ler a mensagem à igreja de Laodicéia, vemos que Jesus fala em riqueza, compras, colírio para os olhos; fala em ser morno, frio ou quente. Jesus se utiliza de coisas comuns da vida dos moradores de Laodicéia para fazê-los compreender a mensagem.
Debate: 1. Comparar esta atitude com Lc 12.15-20. 1.a) O que Jesus disse tanto à igreja de Laodicéia, como ao homem que construiu celeiros novos? 1.b) Onde está a verdadeira riqueza dos filhos de Deus? 2. A igreja luterana também tem pessoas “mornas”, que querem ser contadas como membros da igreja, mas não assumem sua condição de testemunhas de Cristo e estão preocupadas apenas com sua segurança e progresso material. 3. Qual é o conselho de Jesus para elas (v.18)? 3.a) Como agir com essas pessoas?
Apocalipse 4: Visão do Trono Com o Cap 4 começa a Segunda grande parte do
Apocalipse. João é levado da ilha de Patmos até o trono de Deus. Muda o cenário, não é mais a terra, mas o céu. Tudo que João viu até agora eram acontecimentos terrenos. A partir de agora se abre uma porta para o céu. Podemos dizer que é o futuro do que vai acontecer com a igreja tanto aqui na terra como no céu. 4.1. “Voz de Trombeta”. Era voz de Jesus. Ap 1.10. João literalmente foi deslocado ao céu, se no corpo ou fora do corpo não sabemos. Esteve no céu em vida (2 Co 12.2-4) 4.2. “Trono”: Este trono está no céu. É símbolo de poder, autoridade e presença de Deus. 4.3. “Jaspe e sardônio”: Pedras preciosas que representam riquezas e grandiosidade. O Jaspe diante da luz brilha em diferentes cores. O sardônio tem brilho de vermelho vivo. — “Arco-íris”: Lembra o arco-íris que Deus colocou nas nuvens depois do dilúvio Gn 9.8-17. É o símbolo da aliança que Deus fez conosco através do seu Filho Jesus Cristo. Brilhava como esmeralda, cor verde, a cor da esperança e do consolo, mostrando assim a majestade e a glória de Deus. 4. 4. “Vinte quatros líderes”: É a totalidade da Igreja. É a duplicação da igreja do AT, a antiga aliança, as 12 tribos de Israel, com a igreja do NT, a nova aliança, os 12 discípulos. — “Tronos”: Os 24 anciãos estão sentados em tronos. Significa que eles têm poder. Mas este poder vem do trono do meio, que é de Deus. (Rm 1.16). — “Vestidos de branco com coroas de ouro”: Santidade do ministério, coroa é a dignidade e glória do ministério. É importante notar que todo o povo está vestido de branco, a vestidura da graça triunfante, e reina com Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 65
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Deus. 4. 5. “Relâmpagos” mostram a majestade e o poder de Deus. Igual a que Moisés viu no monte Sinai (Êx 19.16ss). — “Sete tochas, sete espíritos”. É a ligação do Espírito Santo com o povo de Deus. (Ap 1.4; Is 11.2) 4.6-7. “Mar de vidro”: Parece que o trono está no espaço. João não tem palavras para explicar como é o céu. — “Quatro seres vivos”. O número quatro representa a totalidade da criação animada de Deus. O leão representa reino animal selvagem. O touro representa os animais domésticos. O rosto como de ser humano, representa a humanidade. A águia quando está voando representa o mundo das aves. 4.8. “Seis asas”. É símbolo da rapidez com que será executada a vontade de Deus. — “Olhos nos dois lados”: Para Deus nada está escondido e nada escapa. Deus age por seus agentes. Por outro lado, Deus cuida de nós de dia e de noite. — “Não param de cantar”: Os quatro seres viventes cantando mostra que toda a criatura louva a Deus Triúno (Ap 21.25; 22.5). A Igreja, como parte da criação, se alegra em adoração. O louvor é eterno. — “Santo, santo, santo”: Refere-se a Trindade: Pai, Filho, Espírito Santo. (Is 6.3; Ap 11.17; 15.3;16.7). 4.10. A igreja do AT e NT adora a Deus. Depositar as coroas significa que a igreja depende totalmente de Deus. Ele é digno de todo poder honra e glória. O universo não passou a existir por acaso. Ele é criação de Deus.
Apocalipse 5: Visão do Cordeiro 5.1. “Livro escrito dos dois lados”. O livro está completo, que não tem mais espaço para outros escritos. — “Selado com sete selos”. Era impossível alguém conseguir ler o livro. Sete selos: É a combinação de 3, número de Deus, com o 4, número da criação. Neste livro está escrito aquilo que acontecerá com o povo de Deus na terra. Conforme os selos vão sendo abertos os fatos vão se desenrolando. Estava fechado de tal forma que cada novo selo abria uma nova seção. 5.2. “O anjo forte”. O anjo tinha uma grande voz para proclamar uma mensagem para todo o universo. 5.3. Ninguém: Nem no céu, ou seja, os anjos. Na terra: os vivos. Debaixo da terra: os que morreram desde o início da criação. 5.4. Como não se encontrava ninguém, João cho66 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
rava porque nossa história estaria sem redenção, sem aceitação diante de Deus. Ma no céu não há lugar para lágrimas. (Ap 7.17; 21.4). 5.5. “Leão da Tribo de Judá”. Cumprimento da profecia de Gn 49.9-10. (Is 10.1,10; Ap 22.16). Mas Cristo foi encontrado digno. Sua dignidade está no fato de que ele conseguiu a vitória. 5. 6. “Sete chifres”. Figura simbólica. Não existe cordeiro com chifres. Na Bíblia chifres representam poder e força, aqui é o poder de Cristo. Os “sete chifres” significam a plenitude do poder de Deus e os “sete olhos”, significam todo conhecimento. Os “sete espíritos” querem indicar que a totalidade do Espírito de Deus na Igreja é Cristo. 5.7. Somente Cristo, que tem todo poder e venceu a morte, poderia tirar o livro da mão direita de Deus e abri-lo. Com o livro ele aceitou a responsabilidade de levar a história da humanidade perante o Trono da Graça. Ao dar-se isto, toda a Igreja e toda a criação cantaram em seu louvor. 5.8. As “harpas” são instrumentos de cordas para acompanhar o canto. São um símbolo de louvor. O “incenso” são as orações do povo de Deus. O fato de estarem em taças de ouro mostra o valor que Deus atribui as orações. Ambos são apresentados a Cristo, enquanto ele se prepara para abrir nossa história. 5.9-10. Há música no céu. Um canto de louvor que enaltece a obra do Cordeiro.
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5.11. Os milhões e milhões de anjos que cantavam com voz forte indicam uma quantidade impossível de ser contada. As hostes celestiais se somam ao canto de louvor das criaturas da terra. Todo o céu se alegra pela redenção da humanidade. Ele é o Cordeiro de Deus que leva a história da humanidade perante o trono. 5.12. Sete atribuições. Tudo lhe pertence. Ele foi morto, mas vice e é o vencedor. 5.13. Toda a criação de Deus se une ao canto de louvor a Deus. 5.14. Uma conclusão grandiosa, pois até os quatro seres viventes dizem o “amém”.
Apocalipse 6 As visões que seguem acontecem na terra. João é convidado a contemplar a caminhada da igreja em meio a este mundo onde a história da humanidade sempre está manchada com os males que as visões apontam. Os quatro primeiros selos têm uma coisa em comum: o cavalo, porém com cores diferentes. 6.2. “Cavalo branco”. Este cavalo branco é o símbolo do triunfo, do avanço. O cavaleiro branco simboliza o evangelho que deve ser pregado por todo o mundo. Muitos associam este cavaleiro com Cristo, mas nesta visão Cristo é o cordeiro que abre os selos. No entanto na visão de Ap 19.11-16 ali o cavaleiro é Cristo como a palavra encarnada.
— O arco com flechas eram armas de ataque. Significa que estamos em luta constante e lutamos com a palavra de Deus. Esta luta acontece desde o primeiro pentecostes até a volta de Cristo. Esta visão engloba todo o período da igreja cristã aqui no mundo. — “Coroa”: símbolo da vitória. O Evangelho, ainda que enfrente muitas lutas, sempre é vitorioso (Is 55.11). A visão do cavaleiro e do cavalo significa encorajamento e consolo para o povo de Deus. Mt 24.14. 6.4. “Cavalo vermelho”, como cor de fogo, que simboliza a guerra e derramamento de sangue. Sempre houve guerras sobre a face da terra. Guerras são consequências do pecado. Deus as permite como castigo sobre o mundo pecador. Os filhos de Deus, infelizmente sofrem junto, mas vivem uma vida de esperança. 6.5. “Cavalo preto”. Símbolo da fome e carestia. A balança é símbolo da fome e escassez: fornecimentos racionados a preços exorbitantes. A fome nesta visão não vem da falta de alimento, mas da má distribuição de alimentos, da injustiça social. O cavaleiro anuncia os problemas que afetarão a humanidade com a fome e suas consequências. 6.6. Era preciso trabalhar um dia inteiro para conseguir comprar meio quilo de trigo que não era suficiente para alimentação de uma pessoa para um dia. Não haveria sobra de dinheiro para outra coisa. — “Vinho e azeite” Mas Deus toma providência para aliviar a situação. Azeite e vinho eram remédios. Para evitar a calamidade total, o básico não podia ser falsificado. 6.8. “Cavalo amarelo”, ou seja, pálido, a cor da morte. A ele foi dada a autoridade de matar sobre a quarta parte da terra. Todos morrem, mas a quarta parte da população morre por causa da guerra ou por consequências diretas dela. Essa autoridade não foi dada pelo diabo, mas sim pelo Cordeiro. Os cristãos também podem morrer numa guerra, mas eles creem em Cristo e a guerra não é um julgamento para eles. Sobre os filhos de Deus a morte não tem autoridade. Passamos pela morte como uma porta. Esta visão atinge os incrédulos. Tanto a fome como os animais selvagens podem ser enquadrados nos flagelos que sempre de novo dizimam os seres humanos, como bem podemos perceber em nossos dias. 6.9. “Altar”. Símbolo da presença de Deus. — “Almas dos mortos”. São os mártires que morreram por causa da palavra de Deus A alma é a parte invisível do ser humano e quando deixa esta vida está na Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 67
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presença de Deus. Assim como no AT o sangue era derramado sobre o altar e aceito por Deus, assim também o sangue dos mártires é derramado e está sob o poder e glória de Deus. — “Vestidura branca”, simboliza a santidade. 6. 10. Eles não pedem por vingança, pedem por julgamento de Deus. Se Deus que é santo e verdadeiro, por que esperaria para executar o seu juízo? Mas ó julgamento e a condenação serão no juízo final. 6.11. “Roupa branca”. É diferente das citadas em Ap 3.4-5,28; 4.4. Símbolo da santidade e pureza. — “Descansassem um pouco mais”. Deus sabe o tempo certo. Todas as coisas estão predeterminadas; até mesmo o número dos mártires deve ser completado antes que venha o fim. 6.12. No sexto selo o fim do mundo é claramente anunciado. ( Jl 2.1-11; 3.14-15; Ag 2.6; Is 13.10; 34.4; Mt 24.29-31; Lc 21.25-27; 2Pe 3.10-12; Ap 16.17-21). A desolação é geral; até o sol e a lua sofrerão mudanças. Não há lugar para se esconder daquele dia. O céu se recolhe e nem as ilhas e montes, que servem de refúgio (exílio) poderão ajudar. Todos os símbolos de 6.12-14 se referem a desastres naturais: terremotos, eclipses (que provocava terror nos dias de João), furacões e erupções vulcânicas. 6.15. Nem as pessoas de grande reputação, os militares ou qualquer outra pessoa. Aqui temos sete categorias de pessoas e como o número sete representa plenitude, aqui estão representados todos os seres humanos. A desgraça se abaterá sobre aqueles que não tiverem a marca do cordeiro. 6.16. Para os que não creram é inimaginável o horror que vão sentir no dia derradeiro. Eles vão reconhecer a soberania de Deus e o cumprimento da sua promessa, mas será tarde demais. Para o fiéis o consolo está nas mãos do Cordeiro.
Para Debate: 1. Podemos falar de guerras e epidemias como uma punição de Deus?
Apocalipse 7 O capítulo sete é uma pausa na narração da maldade, na qual João tem uma visão da igreja de Deus aqui na terra, protegida não somente contra os males que estão por vir, mas também contra os males que já foram descritos. 68 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
7.1-2. “Quatro cantos do mundo”: Quatro pontos cardiais: Norte, sul, leste e oeste. O número quatro é o número do mundo, o que significa que a visão trata das coisas da terra. — “Os quatro ventos da terra”: São símbolo das calamidades que afetarão a terra e que se estendem por toda a história. Apesar dos horrores que acontecem na história a Igreja continua existindo. — “para que nenhum vento soprasse”. Os ventos podem causar grandes destruições. Eles também são dirigidos por Deus. Deus não permite que nenhum vento interfira na sua obra. 7.3. “Sinete”: Para proteger os filhos de Deus contra todos os males que estão para ser revelados, eles recebem um sinal, uma espécie de carimbo de posse da propriedade. E são selados todos aqueles que foram comprados pelo sangue de Cristo, ou seja, todos aqueles que chegam à fé. Este sinal não remove a Igreja da terra, mas concede que seja inviolável no meio da maldade. Este sinal não é visível, mas Deus conhece os seus (2Tm 2.19). Por mais que aumente a maldade do mundo, o povo de Deus foi marcado com um carimbo que os protege e a vitória final será da Igreja. — “Testa” Significa que a pessoa pertence a Deus e que Igreja está protegida contra os danos pela marca de Deus. 7.4. “144.000” 12 tribos de Israel x 12 apóstolos x 1000, número da perfeição. Esta é a igreja de Cristo. A totalidade dos que foram selados. (Ap 14.1; 21.16-17). João não viu os selados, ele ouvi o número dos marcados. Não é uma figura exata, mas o número simbólico daqueles que pertencem a Deus. 7.5-8. João não registra literalmente os nomes das doze tribos de Israel. Ela é diferente de outras listas. Judá encabeça a lista, sendo que o mais velho era Ruben. Os números são simbólicos, por isso não podemos tomar a lista literalmente. A lista omite a tribo de Dã. Por que? Não sabemos. Em Lugar de Manassés é mencionado o pai José. O número doze tem mais importância que os nomes específicos das tribos. A referência às doze tribos de Israel e não aos apóstolos, possivelmente indica que a igreja nasceu entre o povo de Israel. 7.9-12. A igreja de Deus no céu responde com louvores. A “grande multidão” no versículo 9 é a mesma assembléia dos 144.000. Não é um grupo diferente de pessoas, mas um símbolo diferente para o mesmo grupo. Todos estavam vestidos de branco, símbolo da vitória. As folhas de palmeira são um símbolo de vitória e
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Para Debate: 1. Que tipo de tribulação nós sofremos?
Apocalipse 8
ação de graças. Na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a multidão recebeu Jesus com palma. 7.13-14. A Igreja que superou as calamidades na terra e triunfou na tribulação, chega perante o trono e no céu. Mesmo sendo igreja de Cristo, ela não é poupada de tribulação e perseguição (Mt 24.21. At 14.22). Lavar no sangue do Cordeiro significa o perdão pleno de todos os pecados. Por isso as vestes eram brancas. É o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, o Batismo (Tt 3.5) 7.15. “Tabernáculo”: Símbolo da presença de Deus. Deus está por cima e ao redor deles. 7.16. Os cristãos na sua peregrinação pelo mundo passam por provações que no céu não vão existir mais 7.17. “Deus enxugará as lágrimas”. Lágrimas são o sinal de que algo está extremamente difícil. No céu Deus põe fim a todos os motivos de lágrimas.
O conteúdo do sétimo selo é de tal grandeza que o céu se preparou para recebê-lo, marcado por um longo silêncio. 8.1. O silêncio indica a dramática preparação para encarar as sete trombetas. As trombetas foram tocadas por anjos, mas isso não indica necessariamente que Deus ou seus anjos são os causadores dos acontecimentos das sete trombetas. Elas são expostas simplesmente da mesma forma como o Cordeiro abriu os sete selos no capítulo 6. Assim como as orações dos seguidores de Deus foram recebidas no céu antes da abertura dos selos, assim também são recebidas antes do soar das trombetas. 8.2. Sete anjos: (3 - Número de Deus + 4 - número do mundo) Os sete anjos levam a mensagem de Deus ao mundo. Estavam em pé diante do trono. É sinal de prontidão. 8.3-4. Vazo de ouro: Recipiente contendo incenso quando queimado. Representa as orações do povo de Deus. Não há intermediários para receber estas orações. Elas sobem direto a Deus. 8.5. O fogo atirado sobre a terra. É a resposta de Deus à orações. É a ira de Deus contra os sofrimentos que os santos estão sofrendo na terra. — “trovões, vozes, relâmpagos, e o terremoto”. Não é um ataque à Igreja. Uma indicação de que as orações do povo de Deus são escutadas e respondidas. Deus tem a última palavra. Se as pessoas não querem ouvir a palavra falada, Deus pode se comunicar de outra forma para mostrar seu julgamento. — As quatro primeiras Trombetas: Notamos uma progressiva destruição do ambiente necessário à vida. Primeiro são afetadas as árvores e os vegetais, depois o mar com seus recursos e seu comércio, em seguida as fontes de água potável e finalmente as fontes de luz natural. Desta forma, as quatro trombetas indicam eventos que ameaçam a existência do ser humano sobre a terra pela destruição dos recursos naturais dos quais ele depende. A expressão “terça parte” quer dizer o mesmo que “uma proporção séria” ou “uma parte significativa”. 8.7. “Chuva de pedra, fogo e sangue”: É uma combinação sobrenatural, que devasta e destrói terça parte da vegetação. Não caíram, mas foram atirados. É o juízo Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 69
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de Deus em ação. 8.8-9. Uma montanha foi jogada ao mar. Este julgamento de Deus teve consequências atingindo a vida marinha inclusive embarcações. 8.10. Um meteoro, um cometa? O certo é que o impacto desta estrela deixou as águas amargas e muitas pessoas morreram. 8.12. Não é um eclipse. É um fenômeno sobrenatural que causou escuridão. 8.13 O anúncio da águia no versículo 13 tem a intenção de dividir a sequência das sete trombetas em grupos de quatro e de três da mesma forma que os selos também haviam sido divididos em grupos semelhantes. O significado exato dos dois grupos não se identifica claramente. — A águia é um símbolo do juízo de Deus. Ela anuncia grandes calamidades para os que “estiveram morando na terra”, que é a designação para aqueles que rejeitam a palavra de Deus.
Apocalipse 9 Na quinta trombeta encontramos elementos demoníacos. A praga dos gafanhotos vem de Satanás e do inferno, atacam o corpo das pessoas, mas não as matam. No entanto, os seguidores de Deus estão protegidos. 9.1. “Estrela caída”. Difícil identificar esta estrela. É um agente de Deus. Não é o diabo. — “chave do abismo”. É o poder de abrir o abismo, que é o inferno, morada e prisão do diabo. 9.2. O sol, a fonte de luz, obscurecido. Jesus e a sua palavra obscurecidos. O sol brilha, mas não podem mais vê-lo. Os olhos estão cegos pelo materialismo, secularismo e teologias baseadas na razão e na filosofia. 9.3-5. “Gafanhotos e escorpiões”. Uma calamidade demoníaca. É inútil tentar atacar uma praga de gafanhotos. Estes gafanhotos tinham o poder dos escorpiões. Mas o poder dos gafanhotos demoníacos é limitado. Eles não podem destruir a erva verde, que é o seu alimento nem afetar o povo de Deus. Eles não têm a permissão de matar, mas de torturar a humanidade por um tempo limitado, “cinco meses”, ou seja, a metade de dez o número da totalidade. 9.6. As dores daqueles que não tem a paz de Cristo são tão grandes que preferem a morte, mas não vão encontrá-la. 9.7-9. Veja semelhança em Jl 2.4-7. — “cavalos prontos para a batalha”. Símbolo de poder 70 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
e luta para inculcar terror ao inimigo. — “Coroa de ouro”. Símbolo de vitória. Mas é apenas símbolo porque eram parecidas com ouro. Falso. — “Rosto de um ser humano”. São homens que trazem enganos e ilusões. — “Cabelos de mulher”. Força sedutora dos enganos. — “Dentes de leão”. Não para matar, mas para ferir. — “Couraças de ferro”. É inútil tentar combatê-los. Estão protegidos. — “Barulho de asas e carros”. Era o número de carros armados (carroças) que decidiam a batalha. 9.10. Estes monstros não são fenômenos naturais. É uma representação simbólica dos poderes demoníacos. Eles mostram que os tormentos dos que não creem são horríveis. 9.11. O chefe dos gafanhotos é o verdadeiro líder dos monstros, que sem dúvida é o diabo. O nome Abadom no hebraico ou no grego “Apolião”, significar “destruição”. O nome é dado em duas línguas para que tanto os Antigo e Novo Testamento soubessem. 9.13. É a última e mais severa maldição.
A sexta Trombeta — “Um voz”. Como veio do meio do altar, é a própria voz de Deus. 9.14. “Quatros anjos”. São servos de Deus prontos a executar as ordens dele. Estavam atados até então. Estavam retendo o julgamento de Deus. É sinal da paciência de Deus. — “Grande rio Eufrates”. O nome é simbólico. No
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AT este rio era símbolo da opressão. Pois além dele esta a Assíria, a Babilônia e Pérsia que eram grandes opressores dos judeus. Significa domínio espiritual. 9.15. Deus os tinha preparado, para um tempo exato, nem antes, nem depois. Ninguém pode antecipar ou prorrogar o juízo de Deus. — “Uma terça parte” é muita gente mas não é a maioria. Sua missão não é destruir mas advertir a ração humana do juízo de Deus aos que rejeitam seu amor e misericórdia. 9.16. “Duzentos milhões de soldados”. Um número absurdo. É além da possibilidade da contagem humana. 9.17. Cores do inferno. Uma aparência horrível. Podiam envenenar até pela boca. 9.18. “Terça parte”. Não se refere a um número exato. É uma grande parte. A multidão não foi morta fisicamente, mas espiritualmente. — Não são exércitos armados fisicamente. São pragas diretamente do inferno. Matam com a boca. Talvez estejamos vivendo este tempo. Cresce o ateísmo, islamismo, o espiritismo, budismo, hinduísmo, cresce o falso cristianismo. Mt 10.28. 9.19. “A força na boca e no rabo”. Não podiam ser atacado nem de frente nem por trás. 9.20-21. Apesar dos violentos flagelos o restante dos que não foram atingidos não se arrependeu. As pragas tem o propósito de levar as pessoas ao arrependimento. Deus dá uma amostra do seu julgamento. Não que tenha prazer nisto, mas é para advertir as pessoas de que a incredulidade leva a perdição.
Questões para Debate 1. Qual é a diferença entre as previsões de João para o futuro e o tipo de previsões que encontramos nos horóscopos de hoje? 2. João mostra que a humanidade não vai se arrepender, apesar dos acontecimentos devastadores (9.20). O que podemos dizer quando querem nos convencer de que os ateus e os falsos cristãos não são inimigos de Deus? 3. Em que pode ajudar a um cristão o fato de conhecer algo sobre os sofrimentos que estão por vir? Como podemos falar deles para as nossas crianças e jovens?
Apocalipse 10 No clímax dos terríveis acontecimentos da história
humana, João viu um anjo com a poderosa mensagem de Deus, declarando o domínio de Deus sobre a maldade do mundo e as falsas religiões. Sua mensagem é bastante resumida. A mensagem do anjo significa que os acontecimentos humanos estão no seu final: chegou o tempo da vitória final de Cristo sobre todas as forças do mal. 10.1. “Anjo forte”. Anjo que veio da parte de Deus, representante de Cristo, pois refletiu sua glória e tinha alguns dos seus emblemas. É um mensageiro da paz e não da ira — “Nuvem”. A nuvem é símbolo da presença de Deus. No deserto Deus apareceu numa nuvem. — “Arco-íris”. É o símbolo da aliança em Cristo. Também pode ser um diadema de glória. — “Rosto como o sol”. (Ap 1.16; Dn 12.3 Mt 13.43). Lembra o Cristo glorificado. — “Perna como colunas de fogo”. Símbolo do poder sobre os inimigos (Ap 1.15) 10.2. “Livrinho aberto”. Diferente do livro lacrado com sete selos de Ap 5.1, que precisava ser aberto pelo Cordeiro. Nada é dito sobre o conteúdo do livro. — “Mar e terra”. Quando o anjo pára sobre ambos, representa o controle de Deus sobre toda a história. Ele está proclamando o domínio de Deus. A igreja está em todo mundo. 10.3. “Voz forte”. Mostra a importância da mensagem. — “Trovões” Os sete trovões são a Palavra de Deus (3) para a terra (4). 10.4. A mensagem era tão importante que João já começou a escrever, mas foi impedido. Por que? Não sabemos. É uma mensagem que Deus quer fiquem em segredo. O anjo declara que o tempo de fim chegou. 10.5-6. O anjo em posição de juramento declara que o tempo de fim chegou. De tudo isto podemos concluir que o livrinho contém o resto do que está registrado no céu com relação à história humana. O fim não será adiado. 10.7. O dia e a hora ninguém sabe (Mt 24.36; Mc 13.22-27), mas quando este momento vier vai se cumprir o glorioso plano da salvação de Deus. É o que Paulo escreve em 1Co 2.9. Deus nos deu as Escrituras para nos revelar os seus mistérios. A revelação que se dá à Igreja por meio de João é somente uma revelação parcial. 10.8-10. João pessoalmente tomou parte da visão com uma experiência semelhante a do profeta Ezequiel Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 71
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(Ez 2.9, 3.3). Comer o livrinho mostra que ele assumiu sua missão profética e a sua mensagem. João recebeu a ordem de digerir o livrinho, para que passe a ser parte dele, para transmiti-lo ao mundo. A Palavra profética de Deus deve ser anunciada. Teria efeitos colaterais: Doce na boca e amargo no estomago. A primeira impressão é de grande alegria porque o fim está perto. Mas a realização do que significa o fim do homem e da Igreja é amargo. O registro é doce por causa da esperança da vitória final sobre a maldade. E é amargo porque revela o sofrimento que sobrevem quando as forças de Deus vão derrotar o mundo. 10.11. O anúncio profético deve ser durante toda história pelos seus apóstolos e profetas. Ainda há o que anunciar.
Apocalipse 11 11.1. João conhecia muito bem o templo de Jerusalém. Mas este templo já tinha sido destruído há mais de 20 anos. Isso significa que esta medição é simbólica. O caniço de medir é o evangelho. Somente pela aceitação da Palavra sabe-se quem realmente pertence a Deus. A parte exterior que não devia ser medida, representam os falsos cristãos. Estão na igreja, mas não pertencem a Deus, pois sua fé não é verdadeira. O Juízo de Deus começa na casa de Deus. A primeira impressão é de que a Igreja está firme e segura. Mas esta impressão desaparece com o surgimento dos pagãos. Pessoas que tratam de infiltrar-se na Igreja, mas que somente a utilizam para seus próprios propósitos, pisoteando o pátio santo. Mas, durante o limitado tempo da graça, dos dias 72 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
de João até o final, haverá suficientes testemunhas para proclamar o arrependimento e a humildade. João quer indicar que o mundo tentará usar a Igreja para seus próprios propósitos neste tempo da história. — “Quarenta e dois meses”. São três anos e meio, a metade de 7. É o mesmo que 1260 dias v. 3. É o tempo que os pagãos, incrédulos e falsos cristãos tem para se arrepender. É o tempo presente, tempo da graça do Novo Testamento, que Deus dá para arrependimento metade do tempo da existência da igreja aqui na terra. 11.3-4. “Duas testemunhas”, “duas oliveiras”. (Zc 4.3,11-14) Não são personalidades individuais. São representantes de todos os que proclamam a palavra de Deus: lei e o Evangelho. Ninguém poderá impedir o anúncio da Palavra de Deus. O óleo da oliveira é fonte para que as lâmpadas fiquem acesas. As testemunhas não falam por si mesmas, mas em nome do Senhor. Por duas testemunhas? João não quer indicar que somente vão existir duas testemunhas. Simbolicamente, ele indica que em todas as épocas haverá um número suficiente de testemunhas. — “Pano grosseiro”. Simboliza pregação de arrependimento e de juízo de Deus. A Palavra de Deus é anunciada como um chamado ao arrependimento e à humildade. 11.5. As testemunhas de Deus não podem ser feridas antes de terem cumprido com o propósito de Deus. Se forem impedidas virá o castigo. O evangelho será pregado para testemunho de todas as nações Mt 24.14. Mesmo assim, Satanás se dá o poder sobre as testemunhas, ao ponto de que ele as pode matar, mas esta é sua
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última e parcial vitória sobre a Igreja. E João vê que o martírio é na verdade vitória sobre a maldade. 11.6. Uma referência a Moisés e Elias. O fechar do céu é uma referência à seca proclamada por Elias nos dias do rei Acabe. A referência às pragas indica os acontecimentos sucedidos por meio de Moisés para levar o Faraó a libertar o povo de Israel da escravidão. No entanto, esta identificação é simbólica. João não está indicando que Moisés e Elias sejam as duas testemunhas da história humana. Eles são os tipos heróicos das testemunhas de Deus. Assim como através de Moisés e Elias Deus mostrou sua autoridade, ainda hoje pode mostrá-la. 11.7. No fim, o martírio é o único caminho para derrotar o mal. João não vê nenhuma esperança de conversão para o mundo. O mundo está dominado por Satanás e não faz outra coisa senão lutar com o povo de Deus. — “Monstro”. É tudo que dentro ou fora do cristianismo não prega a Bíblia em sua totalidade ou que persegue a quem prega e confessa a Jesus como senhor e Salvador do mundo. 11.8. Não há lugar para um sepultamento digno. — “Jerusalém, Sodoma ou Egito”: É uma referência aos centros da cultura humana, onde as forças corruptas pelejam contra o Evangelho. Jerusalém é a que mata as testemunhas de Deus. 11.9. Por um tempo limitado, o martírio parecerá uma vitória para o mundo. As forças do mal se regozijam com sua aparente vitória. Nem um sepultamento digno permitem. Mas é um tempo breve que o evangelho fica silenciado. 11.10. O mundo se alegra com o descrédito da mensagem de Deus, quando suas testemunhas são derrotadas. (Lc 18.8) 11.11-12. O martírio é somente uma derrota aparente para a Igreja e por um tempo breve. No final, o martírio também serve aos propósitos de Deus. As testemunhas são revividas e chamadas aos céus diante dos olhos de todos. O juízo de Deus causa grande medo nos que rejeitaram as testemunhas. A missão das testemunhas terminou. Agora só resta o juízo de Deus. Terminou o tempo da graça. 11.13. A vitória das duas testemunhas é completada com um grande terremoto. As sete mil pessoas que morrem no terremoto são uma declaração simbólica de que toda a geração daqueles que odeiam as testemunhas de Deus está perdida. Mas não há mais possibili-
dade de arrependimento.
Questões para Debate 1. Será que a Igreja de nossos dias também sofre a infiltração de pagãos e do paganismo? 2. Será que as testemunhas de Deus têm muita influência no mundo atual? 3. João pode ver com antecipação a destruição do mundo. Em que sentido esta perspectiva é doce (10.10)? Em que sentido é amarga? 4. Será que nossos missionários esperam alguma forma de martírio? Devemos esperar o sofrimento por causa do nosso testemunho? 5. O que podemos fazer para recrutar mais obreiros para a Igreja?
Apocalipse 11.15-19 — A sétima Trombeta Com o soar da sétima trombeta chegamos novamente ao fim de uma série de acontecimentos da história da igreja de Deus aqui na terra. A sétima trombeta culmina no juízo final. 11.15. “Vozes fortes”: Vozes de todos os habitantes do céu. 11.16-17. “24 líderes”. É o conjunto da Igreja do AT: 12 tribos de Israel com a igreja do NT: 12 apóstolos. Eles dão graças porque o Senhor assume o poder em toda a sua grandeza. 11.18. Fúria. Os ímpios se enfurecem contra Deus porque a lei condena os seus pecados. — “Mortos julgados”. No julgamento final não haverá mais apelação, nem advogado que possa defender. Os fiéis receberão o premio da graça, que não é merecido, que Bse recebe pelos méritos de Cristo. 11.19. João novamente vê o céu aberto. A arca da aliança lembra a fidelidade de Deus e sua aliança para com os fiéis. — “Trovões, relâmpagos, chuva de pedras, terremotos”, indicam a resposta da natureza ao domínio de Deus. Mostra a santidade de Deus em julgar aqueles que se afastam dele.
Apocalipse 12 Satanás luta contra a Igreja e contra o Messias, e os força a retirar-se. É a batalha entre Cristo e Satanás, entre os santos de Deus e as forças de Satanás. As sete cabeças e dez chifres e as coroas em cada Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 73
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cabeça simbolizam seu absoluto poder sobre a terra. Seu ataque ao Messias, indicado no versículo 4, cobre toda a vida de Cristo. Este ataque pode continuar até o fim dos tempos. 12.1. “Mulher vestida do sol”. Essa mulher é um símbolo da Igreja aqui na terra. A sua história começa no AT a partir do momento em que Deus nos promete o seu filho em Gn 3.15. — “...vestida do sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de 12 estrelas na cabeça”. Isso mostra um ornamento esplendoroso que vem do mundo celeste como dádiva de Deus. A Lua representa a noite, escuridão dos pecados. Estar debaixo dos seus pés significa estar vencido. As doze estrelas é a totalidade da igreja do Antigo e do Novo Testamento. 12.2. “Grávida”. A mulher não representa Maria, mãe do Salvador, representa a igreja. Mas o fato da gravidez refere-se ao nascimento do Salvador, uma vez que Ele nasceu entre nós. Mq 5.2-3. Enquanto estava grávida, a igreja estava em esperança. O grito dela parece ser a esperança do povo do AT pelo nascimento do Salvador como Deus havia prometido. 12.3. “Dragão”. É satanás o grande inimigo de Cristo v. 9. É grande porque tem muito poder. O vermelho é a cor de sangue que satanás provoca pela morte espiritual. — “Sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças sete diademas”. O número sete se refere ao povo de Deus. Quando ele está ligado ao diabo é porque ele quer para si o povo que é de Deus. Os dez chifres indica grande poder. Diadema uma fita azul dada aos reis depois de uma vitória. Aqui o diabo está atribuindo vitórias a si sobre ao povo de Deus, mas que não aconteceram. 12.4. “Cauda”. Como no caso dos gafanhotos a força estava na cauda. O diabo, traiçoeiramente não ataca pela frente, mas por trás. — “Estrelas caídas”. Anjos que, junto com o diabo, se rebelaram e foram expulsos do céu. — A ação de satanás não se dirige em primeiro lugar contra a mulher, mas contra o filho. 12.5. A astúcia de satanás fracassou. Jesus e sua obra triunfaram e ele tem o domínio sobre tudo. Levado ao céu, significa que ele foi vitorioso em tudo, que nele se consumou toda a obra de Deus. Pode ser também uma referência a ascensão. 12.6. “A mulher foge para o deserto”. A igreja ainda não pode subir para o trono de Deus, no entanto Deus prepara o refúgio para ela fora do alcance de Satanás. 74 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Ainda estamos peregrinando pelo deserto deste mundo como o povo de Israel no AT. No fim a igreja de Deus também estará na pátria definitiva. — “1260 dias”. 3 anos e meio. Sete anos é o período total de existência da igreja de Deus no mundo. 3 anos e meio é a metade de 7 anos. Como a existência do povo de Deus abrange um período no AT e outro período no NT, logo estes 3 anos e meio se referem ao período neotestamentário. 12.7-9. A derrota definitiva de satanás e sua expulsão do céu. Com a expulsão do dragão, começa a miséria no mundo, desde Adão e Eva até o último perdoado na terra. 12. 10. Voz que vem da parte do próprio Deus, o que nos dá a certeza de que esta vitória é de fato real e toda a obra de Deus não foi afetada pela ação de satanás. 12.11. “Eles venceram”. Os filhos de Deus aqui na terra são vencedores para causa do sangue do cordeiro. Seus pecados foram lavados pelo sangue do Cordeiro. Só pela vitória de Cristo na cruz é que nós somos vitoriosos. Os salvos por Cristo, tornam-se testemunhas suas para o mundo. Se for necessário tornam-se mártires e que com o seu próprio sangue testemunham a fé. A derrota de Satanás é uma vitória para a Igreja, mesmo que na terra Satanás se dedique a persegui-la. 12.12. Há alegria não só entre os anjos, mas entre
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todos os habitantes do céu. — “Ai da terra e do mar”. Refere-se aos que estão que não se arrependeram. 12.13. O alvo de Satanás é a Igreja. Os filhos (membros) da Igreja. Ele não limita seu ataque ao Messias, mas ataca também a todos aqueles que o seguem. 12.14. “Asas de águia”. É a força que Deus de Deus para amparar a igreja. (Ex 19,40; Dt 32.9-11; Is 40.31) — “Três anos e meios”. É tempo da igreja do NT até o fim dos tempos. 12.15. “Águas que saem da boca da serpente”. São as perseguições que o diabo lança contra a igreja a fim de destruí-la. A igreja em toda sua história enfrenta uma batalha violenta. 12.16. A terra socorreu a mulher — Até a terra como criatura de Deus está contra satanás. 12.17 A descendência da mulher — São os eleitos de Deus que ainda vivem na terra. Nestes também o diabo não foi vencedor, pois eles guardavam os mandamentos de Deus e tinham Cristo por testemunha.
Apocalipse 13 O cap. 13 descreve os mesmos acontecimentos descritos em 12.13-17. Mostra como Satanás usa representantes na terra para atacar a igreja por meio do engano,
usando instituições humanas. 13.1. “Monstro que subiu do mar”. Este monstro são todas as forças políticas terrestres anticristãs que surgiram a ainda surgirão. É tudo o que é contra a igreja cristã. — “Dez chifres”. Chifres eram símbolos de poder. As coroas nos chifres eram fitas azuis que os reis colocavam nas testas depois de cada vitória. Quanto mais fitas maior era a honra. Mas o monstro não tem poder que realmente lhe pertence. Ele se apropria de um poder que é de Deus. — “Sete cabeças” - É para debochar de Deus, pois o sete é o relacionamento entre Deus e a sua criatura. O monstro quer ser igual a Deus. 13.2. Criatura Horrível. O diabo quer melhorar a criação de Deus e cria monstros. É só o que o diabo consegue criar. — “Dragão”. É o diabo que dá o seu poder a esse mostro, mas mesmo assim ele é limitado pelo poder de Deus. 13. 3. “Cabeça ferida”. Pode ser referência a morte e ressurreição de Jesus. 13.4. Satanás tem forças que estão submissas a ele e o adoram. 13.5-6. Foi Deus que permitiu que o monstro falasse blasfêmias. — “42 meses” — 3 anos e meio — Época neotestamentária. 13.7-8. O monstro não tem poder de si mesmo para lutar e vencer. No plano de Deus os cristãos na terra se defrontam com forças contrarias para exercitarem sua perseverança na fé. Assim o monstro tem algumas vitórias e nelas que se prova quem realmente é fiel a Deus. Os que foram salvos pelo Cordeiro e tem o nome escrito no Livro da Vida não o adorarão. Todos os habitantes o adoraram, com exceção daqueles que foram carimbados como seguidores do Cordeiro. Possivelmente João considerava esta forma de martírio como inevitável para os cristãos, ainda que os dias do poder de Satanás estão limitados (13.5). Por essa razão ele conclama seus seguidores à fidelidade. 13.9-10. Advertência: Quem dos seguidores do monstro ajudar a levar os fiéis do Senhor a condenação, será condenado pela mesma forma. É a lei da retaliação. (Mt 26.52). A justiça de Deus condenará no inferno aqueles que fizeram mal contra os filhos de Deus. Nesta situação se prova a fé dos filhos de Deus. 13.11. “Monstro com dois chifres”. Parece ser manso, Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 75
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mas ele é o anticristo personificado. São todas as forças ideológicas anticristãs da terra. Elas se parecem cristãs. (Mt 24.24; Mc 13.22). O campo de batalha de Satanás contra a igreja de Cristo é o mundo inteiro. 13.12. As duas forças se unem. Potencias mundiais se unem com ideologias para combater o cristianismo. A falsa religião, o monstro da terra, apoia o governo humano. 13.13. O monstro opera sinais para enganar as pessoas como, por exemplo, curar certas pessoas. Mas não são curas feitas por Deus. 13.14. Nem o diabo e nem os monstros poderiam operar sinais se o poder não lhes fosse dado ou permitido por Deus. Pelo mundo afora há muitas estatuas e símbolos exaltando o monstro. A falsa igreja atua por meio do engano. 13.15. É uma diabólica combinação entre as potências políticas anticristãs e a propaganda ideológica anticristã. Essa propaganda mata. Há países islâmicos e comunistas onde ser cristão significa a pena de morte. 13.16-17. A falsa igreja estabelece, um controle social sobre as pessoas. Não existe nenhuma evidência de que houvesse uma interdição econômica aos cristãos no império romano. No entanto, quando alguém se identificava como cristão, sem dúvida também sofria no aspecto econômico pelo preconceito de seus concidadãos. — “Marca” Todos as pessoas da terra possuem uma marca ou a de Cristo ou a de Satanás. Não existe outra possibilidade. 13.18. “Sabedoria”. É a sabedoria que coloca Cristo no centro. É a sabedoria que Deus dá. — Número do Monstro — 666. Número de todas as forças anticristãs. Neste número falta a ligação de Deus com os homens. Fazendo cálculos pode se chegar a vários nomes da história. Mas, na verdade não se trata de uma personalidade, mas de um poder simbolizado por um número. O número sete é o número da relação de Deus (3) com o seu povo (4). Dez é o número da totalidade. O número seis falta com esta ligação, falta a total ligação de Deus com o seu povo. É a totalidade do poder ateísta e anticristã.
Questões para Debate 1. Será que o governo é um agente de Deus para o bem da terra ou para o mal? 2. A perspectiva pela qual João vê a situação é a de que os governos estão nas mãos de Satanás e de 76 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
que a Igreja é falsa quando apoia o governo nas suas exigências satânicas. Quando é correto obedecer às autoridades e quando não é correto? (Ro 13.1) 3. Em que sentido as autoridades podem ser contrárias à Igreja?
Apocalipse 14 Nos estudos passados vimos a batalha entre Deus e o mal sob a perspectiva da Igreja perseguida na terra. Agora vamos vê-la sob a perspectiva da Igreja vitoriosa. No mundo vivemos atacados, mas a derrota de Satanás é certa; em Cristo conquistamos a vitória. 14.1. O Cordeiro é Jesus, que já havia aparecido em visão anterior ( Jo 1.29,36). — O “monte Sião” é o monte sobre o qual estava edificado o templo em Jerusalém. É o símbolo para o centro do domínio de Deus. João usa este símbolo para ligar a Igreja com a história do AT do domínio de Deus sobre Israel, seu povo. — Os 144.000 são toda a Igreja. (Ap.7.3-4). 14.2. Uma voz impossível de calar (Ap 1.15). 14.3. Uma nova canção. Certamente cantavam daquilo que pertence ao céu. Por isso só os eleitos de Deus podem cantá-la. 14.4. É uma linguagem simbólica, para dizer que a “castidade” é um símbolo da pureza. São os que ficaram fiéis a Deus e ao Cordeiro, ou seja que ficaram “castos” que não se mancharam com as coisas do mundo e do mal. 14. 5. Todos aqueles que “nunca mentiram”, são os que não negaram ao Senhor.
As mensagens dos três anjos. 14.6-7. O primeiro traz a mensagem do evangelho. Ele vem direto de Deus. Nada pode silenciar a mensagem que ele está anunciando. Ele é eterno e nunca muda. Ainda que o anjo faz uma advertência de juízo, é o Evangelho que serve de base para o julgamento. Ele requer reverência. 14.8. Não se está falando da cidade Babilônia do A.T. Ela dominava o mundo pagão e era inimiga opressora do povo de Israel. Por isso era símbolo de força destrutiva e perseguidora. Aqui refere-se a tudo o que é anticristã que há de cair diante de Deus e seu poder. O povo de Israel parecia pequeno diante da grandeza da Babilônia, mas ela foi destruída. A igreja de Deus tam-
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bém parece ser pequena diante das forças anticristãs. Mas o anjo anuncia a sua queda. 14.9. É a severa advertência para os que adoram o monstro. São os idólatras que rejeitam o 1º Mandamento. 14.10-11. “Beber o vinho da ira de Deus”. Significa no Juízo Final experimentar toda a ira de Deus — “Fogo e enxofre”. Junto com a morte vem o inferno, onde os tormentos são tão fortes que linguagem humana não pode descrevê-lo. E é um sofrimento eterno. 14.12. Aqui fala da bem-aventurança do Santos ou seja aqueles que guardam a sua santa palavra, os seus preceitos, a sua vontade. Só pela fé em Jesus é que se recebe força para carregar as aflições que sobrevêm. 14.13. Os que morrem na fé em Jesus desde já são abençoados e descansarão na eternidade das suas aflições e tribulações. Os que seguem o monstro jamais terão descanso. É um grande consolo para aqueles que aqui sofrem como cristãos. 14.14-16. Ceifa — Jesus Cristo vem com a foice afiada colhe os que são seus. 14.17-20. Nesta última parte temos o julgamento dos incrédulos, os quais serão ceifados por dois anjos. A paciência de Deus está no fim. Não há mais apelação ou segunda oportunidade
Questões para Debate 1. Qual é a maior advertência para nós neste texto? 2. Qual é o maior consolo neste texto?
Apocalipse 15 15.1. Sinal. Sempre é uma demonstração de uma ação especial de Deus. — “Sete anjos”. O número sete mostra que é Deus agindo para com a sua criatura. Eles são representantes
do próprio Deus. — “Sete pragas”. Elas são o fim da ira de Deus. São a última advertência de Deus sobre os ímpios. 15.2. Mar de vidro — João não tem palavras para explicar como é o céu. (Ap 4.6) . Mesclado de fogo — indica juízo de Deus e o seu julgamento sobre os incrédulos. — “Conseguiram derrotar o monstro” — Esta é a igreja invisível, a igreja de Deus. Os que se tornaram vencedores por causa de Cristo. Vencedores são os que creem em Jesus Cristo (1Jo 5.4-5). — “Harpas”. São símbolo de vitória. 15.3-4. “Cântico de Moisés”. Em Êx 15 está o cântico de Moisés, que relata a ação de Deus após a vitoriosa passagem do povo Israel pelo Mar Vermelho. Moisés libertou o povo de Deus da escravidão do Egito. Cristo libertou a humanidade da escravidão de Satanás e da morte. Agora não é mais um cântico na terra. Este é o cântico dos vencedores no céu. Um louvor a Deus por tudo o que Deus operou por meio do seu Filho, o Cordeiro. — Número do monstro. 666 (Ap 13.18). 15.5 — Tenda da presença de Deus. Era a grande barraca no tempo em o povo de Israel peregrinava pelo deserto, onde eram realizados os atos de adoração. Significa a presença de Deus e sua fidelidade e que os últimos flagelos são mandados diretamente por Deus. 15.6 — “Lugar Santo”. Parte da Tenda em que ficava o altar em que os sacerdotes ofereciam os incensos diários. — Linho puro e resplandecente — Identifica a absoluta santidade. — Faixas de ouro — Eles são mensageiros reais, mensageiros “do único Rei dos reis e Senhor dos senhores.” 15.7. Os quatro seres viventes são agentes da criação de Deus e da sua providência. Nos julgamentos de Deus sua criatura está presente. 15.8. O santuário se encheu de fumaça — Esta fumaça é o símbolo da presença da glória de Deus, assim como a nuvem cobriu a tenda da congregação em Êx 40.34 e em Is 6.1-4. A nuvem serviu de véu para proteger os olhos humanos do brilho da glória de Deus Êx 33.18-20.
Apocalipse 16 16.1-2. Primeira praga. É limitada sobre aqueles que Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 77
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possuem a marca do monstro. Seriam feridas de verdade? Ou seria a corrupção da vida social, educacional, e especialmente política que se acham em todos os lugares onde as forças do mal estão reinando? 16.3. A Segunda Prega: É sangue coagulado que rapidamente se deteriora com um cheiro nojento. Esta praga é maior que a primeiro tanto em intensidade como em geografia porque atinge os oceanos. 16.4-7. Terceira praga. A água é fonte de vida. Cristo é a fonte da água da vida. Sem beber desta fonte, ninguém pode viver espiritualmente. Os ímpios derramaram sangue do povo de Deus e de profetas. Como castigo recebem sangue para beber em lugar de água. Os juízo do Senhor são justos e corretos (Sl 19.9; Sl 92.15; Sl 119.137). 16.8-9. Quarta praga: O calor do sol também é vital para a sobrevivência da criação. As pessoas queimadas são as mesmas do v. 2. São as que pertencem ao monstro e que não se arrependem dos seus pecados, mas pelo contrário blasfemam contra Deus. 78 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
16.10-11. Quinta praga: Este trono é o poder que o Diabo deu ao monstro (Ap 13.2). O reino ficou na escuridão. Onde Deus não está presente lá há escuridão. O reino do Diabo já está em trevas. Agora recebe de Deus mais trevas ainda. Mas não deixaram de praticar suas maldades. 16.12. Sexta praga: É um preparo para a batalha final. — Eufrates — como em Ap 9.14 é uma referência simbólica ao domínio pagão no mundo. O rio era uma barreira natural contra os inimigos. Agora que ele secou, o caminho está aberto para as forças que vem para atacar a igreja de Deus. 16.13-14. Dragão — é o próprio satanás. Monstro — é o monstro do mar Ap. 13.1ss. O falso profeta — é o monstro da terra Ap 13.11ss. As três forças do mal: Satanás, as forças políticas e as forças ideológicas somam suas forças para a batalha. — “Sair da boca” — As forças anti-cristãs começam com palavras, doutrinas, pregações e até fazem mila-
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gres. É o crescimento do ódio contra Cristo. — Grande dia — ninguém sabe quando será, as forças do mal não contam com isso. 16.15. “Venho como ladrão”. É em uma hora não esperada. (Mt 24.42; Ap 3.3). — “Roupa”. É estar vestido da justiça de Cristo. Sem esta justiça diante de Deus somos totalmente miseráveis e desprovidos de qualquer força para nos salvar. 16.16. Armagedom. Monte Megido. Megido era um campo de batalha famoso na história de Israel. Sua importância histórica para os israelitas estava nas batalhas decisivas que aí foram travadas. Jz 5.19,31. Aqui não é um lugar específico, mas o lugar da batalha final entre os poderes do mal e o Reino de Deus. A batalha na qual as duas forças vão enfrentar-se vai ser crucial e decisiva. 16.17. A Sétima praga: “Está feito”: É a sentença final da voz do próprio Deus. Não há mais apelação. Lembra o grito de vitória de Jesus na cruz: “Está consumado” Jo 19.30. 16.18-19. Um colapso total. É como se o mundo entrasse em agonia. Babilônia, representa todo o poder do mal, símbolo de tudo o é que anti-cristão. Babilônia recebeu o justo castigo de Deus. A batalha final é espiritual. Essa destruição é de todo o império anticristão. Destruídos o poder de satanás só resta aos seus seguidores a blasfêmia. As pessoas atingidas são aquelas que seguem o monstro.
Questões para Debate 1. João coloca uma grande ênfase no castigo de Deus, que é o conteúdo destas taças. Será que é propósito de Deus que o ser humano seja castigado? 2. Será que as enfermidades, a miséria e as calamidades de nossos dias, seriam um chamado ao arrependimento? Se sim, será que estas coisas conseguem alcançar seu objetivo? 3. Que mensagem a Igreja deveria proclamar quando houvesse terremotos, calamidades públicas ou pragas?
Apocalipse 17 Estamos entrando agora no ponto alto do livro de Apocalipse, que é o grande final do mundo. 17.1-2. “Famosa prostituta”. É a grande Babilônia. Símbolo de todas as forças e poderes tanto espirituais
como físicos, todas as ideologias e filosofias e todos os movimentos anticristãos. Ela se entregou totalmente ao domínio do monstro. Os líderes influentes caíram diante da sua fascinação e se embebedaram com a sua imoralidade. — Vinho. Símbolo da infidelidade a Deus. 17.3. “Deserto”. Um lugar solitário, separado onde João pudesse ter sua visão. — “Mulher”. Aqui não se refere a igreja como no cap. 12. É o monstro do Cap. 13. Ela está sobre o monstro dirigindo-o, mas ao mesmo tempo precisa dele, pois o monstro a está carregando. Vermelho é a cor do pecado. — “Blasfêmias”. Indica arrogância e ódio contra Deus. — “Dez chifres”. Chifres eram símbolos de poder. Cap. 13 — Sete cabeças — É para debochar de Deus, pois o sete é o relacionamento entre Deus e a sua criatura. O monstro quer ser igual a Deus. 17.4-5. Vestida como rainha e com a cor do pecado. Falsa riqueza para seduzir os que a adoram. — Cálice de ouro. Brilha por fora, mas por dentro trasbordante de abominações e com a imundícia de sua prostituição. 15.6-7. João prevê que um dia a Babilônia será famosa por perseguir os cristãos por questões religiosas. — Embriagada com sangue (Is 34.6). Ver uma prostituta bêbada já é revoltante. Mas com o sangue dos santos é o cúmulo da ação do diabo. É a maior demonstração da raiva do diabo para com Deus. Não era para menos que João ficou espantado. 17.8. O destino do diabo é onde ele está, o inferno. Em três estágios e em curta duração o diabo emerge do abismo e para lá volta (13.3). Enquanto isso os anticristãos cujos nomes não estão escritos no livro da vida o admirarão. Mas estes irão com ele para o inferno. 17.9. Os montes são símbolos de poder, segurança e durabilidade. A prostituta orgulhosamente domina sobre todas as forças anticristãs. Domina sobre todas as decisões e pensamentos dos seus súditos. O fato de ser sete pode ser uma ilusão de que está governando sobre tudo e com todos os reis juntos. 17.10. Cinco morreram. Também é simbólico. Pode ser uma referência a todos os governantes que perseguiram a igreja, antes do tempo de João e que existiram até João. — “Um está governando”. Já no tempo de João a força da grande prostituta tinha atingindo os seguidores do Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 79
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cordeiro. Talvez seja Roma. — O outro ainda não apareceu. Refere-se aos tempos do fim. Última tentativa 17.11. “Oitavo”. Um tem dois estágios de existência. 17.12-13. Dez é a totalidade dos poderes que se submeterão ao Anticristo. Chifres significam poder e força. Todas as forças cooperam para o diabo. Só que uma coisa não vai mudar: vão continuar sendo inimigos de Deus. 17.14. Querem de todas as formas vencer o Cordeiro. Entretanto, a vitória de Cristo é segura. 17.15. Fica claro que estas visões devem ser interpretadas simbolicamente. 17.16-18. A casa de Satanás estará dividida. Vendo a derrota se dirigem contra aquela que lhes liderava.
Apocalipse 18 18.1. “Grande poder”. É a autoridade que Deus deu ao anjo. Seu grande brilho significa que Deus tem poder sobre toda sua criação. 18.2. A inevitável queda e destruição da grande cidade Babilônia. Sobram ruínas e morada de demônios (Is 21.9). 18.3. O anjo anuncia as razões para sua destruição. — Vinho. Símbolo da infidelidade a Deus.Os líderes influentes caíram diante da sua fascinação e se embebedaram com a sua imoralidade. — Homens de negócio. São aqueles que envolvem o diabo nos seus negócios. Não enriquecem de forma honesta, mas a custa da corrupção. O coração deles pertence ao diabo. (Veja 18.11-20). 18.4-5. Pode ser a voz do próprio Jesus. O povo de Deus vive o perigo de conviver com a prostituta. Diante disso Deus chama o povo para que se retire de tudo o que é da obra do diabo. Um chamado a todos os cristãos, para que desprezem o espírito da cidade. É uma clara separação entre Deus e o diabo. Sair da cidade é não tornar-se cúmplice. O povo de Deus é chamado a sair da cidade, por causa da aproximação da condenação. Ele não deveria tomar parte na sua maldade. Isto significa que os cristãos devem separar-se do orgulho e da ambição humanas simbolizadas pela cidade. 18.6-8 Seria um pedido de vingança? Os cristãos sempre devem ter a atitude de perdoar. Mas aqui a vingança é divina (Rm 12.19). Deus é o Deus da justiça e no dia certo retribuirá. A grande prostituta se aliou para derrubar a igreja. Ela receberá em dobro. O juízo 80 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
de Deus virá em medida absolutamente certa. A prostituta será consumida em fogo, ou seja, condena ao fogo do inferno. 18.9-10. Os reis que tinham se aliado com a prostituta (17.16), depois a odiaram e agora choram por ela. Mas não são lágrimas de amor, mas de medo do juízo de Deus. Com medo também se conservam de longe. Mesmo assim não escaparão do juízo. 18.11. São os que vendiam sua mercadoria anticristã a prostituta e seus seguidores. Eles choram porque ninguém mais compra seus produtos. Um choro egoísta. 18.12-13. Uma lista de coisas mais importantes que se vendia na Babilônia. Estes produtos são símbolo de tudo o que o mundo põe a disposição como força para lutar contra Cristo. O diabo usa tudo que existe na sua luta contra os cristãos. 18.14-16. Apenas lamentam a perda do lucro, mas não mostram arrependimento. Todos os que usufruíram das suas riquezas, agora conservam-se longe para fugir do castigo. Nem a riqueza pode salvá-la. 18.17. A navegação foi uma grande fonte de lucro para muitos países. Foi também meio de espalhar influências anticristãs. 18.18 A cidade era grande em riquezas e luxúrias, mas tudo era ilusão. Grande foi a sua perdição 18.19. Era uma tristeza egoísta. Não era arrependimento. Lamentavam a perda do lucro com o qual se enriqueceram. 18.20. A alegria no céu por causa da queda da grande Babilônia, é um contraste com o lamento do mundo. O próprio Deus chama a igreja para se alegrar. 18.21. Os anjos tem força que é dada por Deus. 18.22-23. A profecia do fim da Babilônia. Coisas da sua vida diária terminarão. Babilônia será uma cidade morta. 18.24. O sangue dos profetas, ou seja, a perseguição
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da igreja lhe custará castigo
Questões para Debate 1. O que fazer para escapar de não “tomar parte nos seus pecados e não participar dos seus castigos” (v.4)? 2. Em que sentido os cristãos podem “abandonar a cidade” sem fazê-lo fisicamente? 3. Como viver uma digna e honesta no mundo comercial de hoje? 4. É possível ser político cristão atualmente?
Apocalipse 19 19.1-3. Canto de vitória para celebrar a destruição completa da Babilônia, entoado pelos santos nos céus. Esse louvor pertence somente a Deus, aquele que julgou e destruiu a grande prostituta e porque só dele vem a salvação. 19.4. “24 anciãos”. É a totalidade da igreja de Deus no A e NT. 12 Tribos de Israel e 12 apóstolos. — “4 seres vivos”. (Veja Ap 4.6). O número quatro representa a totalidade da criação animada de Deus. O leão representa o reino animal selvagem. O touro representa os animais domésticos. O rosto como de ser humano, representa a humanidade. A águia representa o mundo das aves. Ou seja, a multidão dos salvos no céu, a Igreja e toda a criação adoram a Deus e o louvam pelo seu justo julgamento sobre Babilônia. 19.6. O louvor da igreja triunfante, que são todos os santos no céu, que se unem para cantar o grande aleluia. 19.7. Casamento. Depois de destruída a grande Babilônia, chegou o tempo do casamento do Cordeiro, que é Cristo com a cidade santa, a Igreja. O casamento vai acontecer com o retorno de Cristo. É a reversão completa da maldade da terra à pureza e à alegria do
povo de Deus. — Preparo da noiva. Cristo deu a vida pela igreja e a salvação dela depende inteiramente de Deus, mas a igreja tem que corresponder em arrependimento fé e obras. Quando a Bíblia fala de casamento, sempre fala num contexto de alegria. O povo de Deus é feliz, pois recebeu o maior de todos os presentes, o perdão de pecados. 19.8. Linho finíssimo. São as boas ações do povo de Deus. Os convidados para a festa do Cordeiro são os que permaneceram firmes na fé em Jesus e na observância da sua lei. 19.9-10. Muitos são convidados, mas poucos o aceitam e seguem. Mas os que aceitam são felizes. O próprio João é contagiado pela alegria desta mensagem, ao ponto de querer adorar o mensageiro. Mas ele é corrigido por que o mensageiro se coloca no nível de servo de Deus e por que só Deus deve ser adorado. A mensagem de Jesus é o centro de todas as mensagens de Deus aos profetas. Somente Deus é digno de adoração e a Palavra que Deus falou por Jesus Cristo é o significado de todas as coisas. 19.11. A figura do Cristo vencedor. A batalha final entre Cristo e os seus o diabo e os seus. — Cavalo Branco. Branco símbolo da vitória. O cavaleiro é o próprio Cristo. 19.12. “Os olhos como chama de fogo”. Fogo simboliza a ira de Deus. É o poder penetrante de Jesus. Diante dele nada pode ficar escondido (Dn 10.6) — Coroas. São fitas azuis tipo diademas que indicam que ele é o Rei dos reis e rei sobre todas as coisas. Símbolo da sua dignidade real. — Nome secreto. Há muitas coisas que Deus não revelou e que não são necessárias para a nossa salvação. Ninguém pode compreender a profundidade do ser de Deus. 19.13. Quem pisava a uva no lagar, tinhas as vestes manchadas. O que pisa os inimigos tem a veste manchada de sangue (Is 63.2,3). — “Palavra de Deus”. Cristo Jesus é a Palavra de Deus em pessoa. Veja Jo 1.1. 19.14. Cavalos brancos e linho branco e puro é a descrição da pureza e glória do céu. 19.15. Espada. É a Palavra de Deus. É a única arma que Deus usa. Quem a rejeita é derrotado. — Barra de ferro e pisar das uvas. É o símbolo da autoridade de Jesus. 19.16. O nome indica soberania. Na perna? Talvez Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 81
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indique o poder de pisar os inimigos. 19.17-18. Em pé sobre o sol. Posto na frente de uma luz forte representa estar sobre o sol. — Banquete. A comilança é o contraste da festa de casamento do Cordeiro. Ambas foram preparadas por Deus, uma é para a vida eterna com Deus e a outra para a miséria e a destruição. É a vitória decisiva sobre o monstro e seus aliados. Cristo vencendo o diabo e os seus seguidores. Na visão de João a batalha é fácil. Antes do começo da batalha, o Rei chama os abutres para que se reúnam. 19.19-21. O monstro e o falso profeta são os dois monstros do capítulo 13. O inimigo está alinhado, mas não houve batalha, pois o exército do mal foi destruído. O monstro foi aprisionado.
Questões para Debate 1. Quais são os aspectos de “grande cidade” que João condena? (Confira 17.6, 18.3, 18.7, 18.13 e 18.16). 2. Será que o desenvolvimento das grandes cidades confirma a visão João?
Apocalipse 20 O capitulo 20 de Apocalipse trata do milênio. Há muitas interpretações em torno dos mil anos. Qual é o significado deste período? Nesta visão Deus revela verdades celestiais por meio de símbolos e de figuras, que devem ser interpretadas em harmonia com o Novo Testamento. 20.1. Um anjo. Não é Jesus. É um anjo que age em nome de Jesus. — “Chave do abismo”. É símbolo do poder de abrir e fechar o abismo que é poder de Deus. — “Corrente”. É o poder de restringir a atividade de Satanás. O diabo está amarrado, mas o poder dele não está nulo. Ele age através dos demônios, falsos profetas e todas as forças diabólicas. É como um cachorro bravo amarrado com uma corrente. O diabo não está fora de ação. Ele está em algemas, mas não está morto. Seu poder é limitado, mesmo assim ele age, enganando todas as pessoas. Por ele estar amarrado é que o evangelho pode ser pregado. 20.2-3. “Mil anos”. É o tempo chamado de milênio. Muitos interpretaram os mil anos literalmente, dizendo que é um período no qual Cristo reinará com seus seguidores neste mundo. Seria um tempo de paz 82 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
perfeita, no qual Satanás estaria acorrentado e sem condições de enganar as pessoas. Na Bíblia os mil anos, são mencionados apenas no Apocalipse. Os mil anos são o tempo da graça, tempo do NT, no qual ainda vivemos. Esse período começou quando Cristo venceu o diabo com o brado na cruz “está consumado” e vai até o juízo final. Por isso ele não pode ser interpretado literalmente, mas figurativamente. O número simboliza um longo, mas limitado tempo (10x10x10=1000. Tempo completo). É o tempo em que o dragão está amarrado, ou seja, o Diabo está limitado em suas ações. Desde a morte e ressurreição de Jesus, o diabo está algemado e ficará assim até o dia do Juízo Final. Depois ficará eternamente no inferno. Ver Jd 6. Não nos deixemos enganar por falsas promessas. Só haverá uma volta de Cristo e esta será no juízo final. — “Solto por um pouco tempo”. Antes do Juízo terá uma breve libertação, que faz parte do plano de Deus para a salvação. Ele vai reunir suas forças como se fosse uma última batalha. 20.4. “Tronos” — Trono é símbolo de poder, nestes tronos estão sentados aqueles que estão aptos para julgar. São os santos, os filhos de Deus como jurados do julgamento. Não é no Juízo final. É no milênio. — “Alma dos degolados”. O lugar dos que permaneceram fiéis e não se renderam ao diabo está lá no céu. — “Sinal na testa e mão”. Símbolo de propriedade de Deus. Tornaram a viver e reinar com Cristo. Quem está no céu não está morto. Na verdade tem a vida eterna desde a conversão ( Jo 5.24, Ap 5.10). O batismo é o início da vida real. 20.5-6. Duas mortes e duas ressurreições. A primeira morte é a morte do corpo e a segunda é a morte eterna, o inferno. A primeira ressurreição acontece no batismo que é o dom da vida eterna, é o renascimento pela fé. Somente os fiéis tem parte dela. A segunda ressurreição e a ressurreição do corpo no último dia. Todos participarão dela, inclusive os incrédulos. 20.7-10. Ou seja no fim do mundo, quando o evangelho tiver atingido o último dos eleitos. O diabo será solto e fará a sua ultima investida como vencido, reunindo todos os seus aliados que ainda existem na terra para esta batalha contra a Igreja. Ele enviará muitos falsos profetas e terá grandes êxitos, pois muitos deixarão seduzir-se pelas suas tentações e muitos o seguirão. Mas no final a batalha nem sequer chega a acontecer, pois o
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diabo e seu exercito será vencido com um fogo do céu. É a derrota definitiva de Satanás. — Gogue e Magogue. Estes nomes vem de Ez 38 e 39, onde se fala de como sendo inimigos do povo de Israel. Aqui representam tudo aquilo que se rebela contra Deus. — O “lago de fogo que queima com enxofre” é o símbolo da condenação final; não se pode tomar literalmente. 20.11. O trono grande. É trono de Deus símbolo do poder e juízo de Deus. É branco porque indica a glória e majestade de Deus. O juízo final marca o fim de toda a criação. Antes que sejam criados o novo céu e a nova terra, as antigas coisas são eliminadas. 20.12-13. O Livro da Vida é o livro da graça que contém somente os nomes dos salvos, dos filhos de Deus e que permaneceram fiéis. O outro livro é o livro do juízo que registra os pecados dos perdidos. (ver 3.5 e 13.8). — “Morte e mundo dos mortos”. A morte é a separação da alma. No julgamento corpo e alma se reúnem. Os incrédulos vão para o inferno ou seja o mundo dos mortos. Enquanto isso os filhos de Deus vão para a presença eterna de Deus. 20.14. O diabo, a morte e o inferno perdem seu poder de ação. A segunda morte é o inferno, destino final de todos os que não creram, ou seja, que não tinham o nome está inscrito no livro da vida. 1Co 15.26; 54; Ap 21.4.
Questões para Debate 1. Os milenistas afirmam que os cristãos vão reinar sobre um mundo perfeito e livre da maldade por um período de 1000 anos. Em que sentido esta ideia é perturbadora?
2. Satanás está preso e limitado e não poderá impedir a pregação e a expansão do evangelho. O que então impede que o evangelho chegue até os confins da terra? 3. Os maiores inimigos da igreja surgiram de cristãos decaídos que conheceram a Escritura e, por isso, sabem enganar e confundir, usando a própria palavra de Deus. O que podemos fazer por eles.
Apocalipse 21 O cap. 21 fortalece a nossa fé nas promessas da Cidade Santa. Todas as evidências de sofrimento e dor ficarão para trás. A glória principal será a presença de Deus; não há maior alegria. 21.1. O “novo céu e a nova terra”. Não significa terminar com tudo. Indica antes uma total recriação da criação. “Agora faço novas todas as coisas” Ap. 21.5 (Veja mais Ap 20.11; Is 65.17; 2Pe 3.13). É interessante notar que no v. 1 se menciona que o mar também deixou de existir. Isto pode refletir a realidade de que o mar era o grande terror nos dias de João. O mar também pode ser visto como símbolo do governo humano. O “deixar de existir” pode ser símbolo do antigo sistema de governo. 21.2. Cidade Santa. Veja Ap. 21.9ss. 21.3. Três vezes é repetido que Deus vai morar com os seus. Isso contraria com aqueles que dizem que no céu somente vão habitar 144.000. Poderemos ver Deus cara a cara, porque aquilo que nos separa dele na primeira criação será removido. 21.4. Todas as tristezas, todas as tragédias, todos os motivos que levam ao choro tem um fim na ação de Deus que enxuga as lágrimas. Interessante que Deus é que toma a iniciativa de enxugar as lágrimas. O maior motivo de lágrimas é a morte. Mas na presença de Deus a morte não mais existira. Por isso não vai haver luto. 21.5. “Escreva isto”. O apocalipse é uma reprodução fiel do que João viu e ouviu. Ele não escreveu por iniciativa própria. 21.6. Tudo está feito. Todas as profecias de Deus finalmente se cumprem. — “Alfa e ômega”. São a primeira e a última letras do alfabeto grego. Deus é o princípio e o fim. É eterno. A sede é símbolo de necessidade espiritual. Jesus sacia este sede no rio da água da vida. E quem tem, pela fé esta fonte não mais terá sede. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 83
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21.7. Os vencedores. Quando estivermos com Deus no céu, não haverá nenhuma possibilidade de cairmos. Os discípulos de Cristo que vencem o mundo, pois são de Cristo. Pela sua fidelidade têm assegurado seu lugar no céu. 21.8. Para não haver dúvida sobre a condenação João cita diversos tipos de pessoas que não entrarão no céu. Os covardes são os que abandonaram a luta pela fé. Os traidores são os incrédulos que negaram o nome de Deus. Os assassinos são que atacaram a Igreja do Senhor. Os contaminados, os imorais e feiticeiros, são os seguidores da grande prostituta e que adoram os ídolos do mundo. Os mentirosos levam o nome de Cristo sem ser seus discípulos. Todos eles pertencem para segunda morte, ou seja, a condenação eterna. 21.9. Noiva e esposa. Nomes para falar da eterna e gloriosa união de Cristo com a sua igreja. 21.10-11. A Cidade Santa é um contraste com a cidade do mal, a grande babilônia (Ap 17 e 18). Aquela estava no deserto; esta é vista de uma montanha grande. Aquela está relacionada com um abismo sem fim;
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esta vem baixando do céu. Aquela era o centro do comércio na terra; esta está cheia de riquezas que não se terminam de descrever. Na cidade condenada terminam todas as coisas boas (18.21-23); na Cidade Santa se esquecerá o sofrimento e a maldade. — “Jerusalém”. A velha Jerusalém dos judeus, também era chamada de “cidade santa” por causa do templo. Era a sede do culto a Deus A nova Jerusalém é o céu. 21.12-14. Muralha. Separa definitivamente a cidade santa do lago de fogo e enxofre. — “Doze”. A repetição do número doze mostra a totalidade da antiga e nova aliança: 12 tribos do AT e 12 apóstolos do NT. — Doze Fundamentos. Os nomes dos apóstolos estão inscritos nas pedras de base da cidade. Isso significa que o Evangelho de Jesus Cristo é o verdadeiro fundamento tanto do Antigo como do Novo Testamento, e que a Igreja é o verdadeiro povo de Deus. A teologia da igreja está fundamentada sobre os doze apóstolos do Cordeiro. — Quatro lados. Mostram que os habitantes daquela
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cidade vem de todos os cantos da terra. 21.15-17. Esta descrição de João é simbólica, e não pode ser interpretada literalmente. João quer demonstrar que a alegria do céu não pode ser descrita com palavras humanas. Não existe nada no mundo para comparar. 21.18-21. As jóias, as pérolas e ouro, querem mostrar que é indescritível a beleza e pureza da cidade. 21.22-23. Na Cidade Santa não há necessidade de templo Deus, pois o próprio Deus habitará no meio do seu povo. A presença do Cordeiro como a perfeita luz, dispensa a própria luz do sol. A glória de Deus a iluminará (Is 60.19). 21.24. A referência às nações é tomada de Is 60. 3-11. Aparentemente temos uma contradição com Ap 17, onde João fala dos reis e nações do mundo como sendo o monstro do mar. Mas a referencia aqui é, os que vencem no testemunho da fé cristã, provém de todas as nações e classes. 21.25-26. Os portões estão sempre abertos. Na cidade Santa não haverá necessidade de proteção, pois não há possibilidade de invasão. Tudo o que é glorioso e honroso será levado a ela, para ressaltar sua glória suprema. 21.27 Um lugar completamente santo, onde nem sombra de pecado vai existir.
Questões para Debate 1. João diz que no céu não haverá templo. O templo, então, seria uma necessidade terrena. Quais as razões dessa necessidade? Qual é a ligação do nosso templo com o céu? 2. Qual é a sua expectativa com relação ao céu? De que forma ela se manifesta no seu dia a dia? Quando a igreja enfatiza a doutrina do céu não está ignorando as necessidades das pessoas aqui na terra? 3. João, falando da Igreja, conclama cada cristão a permanecer fiel no seu testemunho em meio aos problemas da vida. De onde nos vem a força para viver a fé cristã na prática?
Apocalipse 22 22.1-2. Continua a descrição da nova Jerusalém só que agora com vários elementos do paraíso original de Deus: o Jardim do Éden. O “rio que sai do trono de Deus” e a “árvore da vida” indicam um retorno ao jardim do
Éden. — O “rio da água da vida”. Rio de água pura é símbolo da vida que há no céu Jo 4.14. É também símbolo de alegria e beleza. “Há um rio que alegra a cidade de Deus” Sl 46.4. O rio que saiu do trono de Deus indica que Deus é a fonte de toda a vida. Que ele passa na rua principal é a referência de que a Vida Eterna é central na Cidade Santa. — A “árvore da vida”. No jardim do Éden Deus havia plantado a arvore da vida (Gn. 2.9). Quando Adão e Eva pecaram, Deus exclui do jardim e o acesso a esta árvore da vida. O novo acesso agora, só possível de Jesus, nova vida que será plenamente desfrutada no céu. — “Doze frutos”. Produz frutos de mês a mês e não por períodos. É uma forma de dizer que no céu vai haver abundância de vida. É o triunfo da vida sobre a morte (Ez 47.1-12). O fruto da árvore (ou árvores) é o símbolo da graça de Deus. — “Folhas para curar” Não existem doenças no céu. Esta é uma forma de dizer que no céu existe a perfeita cura. 22.3. No dia jardim do Éden havia a possibilidade da queda. Na nova Jerusalém só existem os remidos do Senhor, não haverá mais maldição. Cristo foi feito maldição por nós aqui na terra. No céu os servos de Deus vão servi-lo em alegria e liberdade. 22.4. No Antigo Testamento ninguém podia ver a face Deus e seguir vivendo. Na cidade Santa, os que pertencem ao Senhor vão estar com ele face a face e todo medo será removido. 22.5. A presença de Deus dispensa qualquer tipo de luz. A glória de Deus a iluminará (Ap 21.23,25; Is 60.19). 22.6-7 “Essas palavras” e “palavras proféticas”. Refere-se ao livro todo. O livro é uma genuína profecia, como eram os profetas do Antigo Testamento. Sendo palavras de Deus, são a verdade em absoluto ( Jo 14.6; 17.17). Diante da iminente volta dele, os cristãos devem viver constantemente na fé. São felizes se vivem na vontade de Deus. 22.8-9. Diante da grandeza da mensagem, João, pela segunda vez (Ap.19.10) é impulsionado a querer adorar o mensageiro. Mas ele é corrigido por que o mensageiro se coloca no nível de servo de Deus e por que só Deus deve ser adorado. 22.10. O tempo está próximo — não se refere somente ao fim do mundo, mas também a todos os eventos Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 85
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profetizados neste livro. João prescreve uma utilização imediata para seu livro, para que não se faça segredo desta mensagem. O tempo para sua leitura é agora, e o livro está escrito para as pessoas dos dias de João. O fim está perto e é urgente que estas novidades sejam proclamadas. 22.11. Os que são justificados pela graça de Deus, mediante a fé, devem vigiar para não cair da fé. Não está no poder da igreja terminar com o mal. Os que permanecem fiéis na confissão da sua fé serão abençoados, e os que forem infiéis estarão perdidos. João não tenta mudar o mundo, mas dá o testemunho da verdade. 22.12. “Venho logo”. Para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia (2Pe.3.8,9). A qualquer momento o Senhor poderá retornar. Haverá um momento em que será tarde para o arrependimento. Recompensas. O que salva é unicamente a fé e o que condena é a incredulidade. As recompensas virão para as obras produzidas pela fé em resposta ao amor de Deus. As boas obras são sinal de fidelidade a Cristo. 22.13. “Alfa e o Ômega”: São a primeira e a última letras do alfabeto grego. Deus é o princípio e o fim. É eterno. (Ap 1.8,17; 2.8; 21.6). 22.14. Somente os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro entram na Cidade Santa e tem acesso a arvore da vida. 22.15. A exemplo de Ap 21.8 João cita várias formas de idolatria que não terão lugar no céu. Na cidade Santa moram os redimidos. Fora dela, no lago de fogo (Ap 21.8) ficam os perversos. 22.16. Três ecos do Natal: a) O nome de Jesus. “Pois ele salvará seu povo dos pecados deles”. Mt 1.2. b) “Descendente de Davi”. O que foi prometido como Salvador. c) “Estrela da manhã”. Conforme promessa em Nm 24.17. 22.17. É o eterno convite do Espírito Santo através dos servos de Deus. A Noiva, que é a igreja de Cristo na terra, se reúne ao convite e só tem um desejo, de estar com Cristo no céu. Os cristãos desejam o fim dos tempos e a glória da eternidade. — “Água da vida”. Perto do fim a pregação do evangelho será mais intensa (Is. 55.1). 22.18-19. João escreve e fala, mas o verdadeiro autor é Jesus. Por isso a advertência do autor de que nada deve ser acrescentado ou diminuído. Quem introduzir modificações ou alterações ao livro será excluído da glória junto com aqueles que lutaram contra Deus. O livro escrito por João deve ser levado a sério e ninguém pode minimizar a sua advertência. 86 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
22.20. O Senhor Jesus mesmo confirma que vem sem demora.
Resumo do livro de Apocalipse O Apocalipse de João foi escrito num tempo de dura perseguição para encorajar os cristãos a se manterem fiéis na sua confissão de fé. A perspectiva básica do livro é que o mundo inteiro está perdido por causa do domínio de Satanás, que está promovendo uma verdadeira guerra contra Deus. Os seguidores de Deus são uma minoria que Deus escolheu. Todas as coisas deste mundo — os governos e poderes, as falsas igrejas que apóiam os maus governantes, e as forças que eles reúnem — são maus, sem esperança, e lutam contra a Igreja. Por isso é que a história do homem é algo terrível. Calamidades se sucedem e não existe uma luz de esperança no meio de tudo isso. Por meio das catástrofes as pessoas deveriam aprender a arrepender-se, só que o domínio de Satanás as impede. Ele somente leva as pessoas para mais longe de Deus, e para uma maior rebelião e oposição ao Senhor. Satanás e suas forças no mundo lutam contra Deus atacam a Igreja. Eles requerem que os cristãos adorem ao monstro ou morram. A Igreja não tem esperanças de que esta situação mude, nem de ganhar a maioria das pessoas para o lado de Deus. O único caminho da vitória é suportar a perseguição até a própria morte. Os vencedores, ou seja, os que continuam fiéis ao Senhor, chegam imediatamente ao trono de Deus, para reinar com Cristo. Deus lhes assegurou a vitória. Ele também os protege das calamidades do mundo. Os cristãos precisam ter confiança e permanecer fiéis. Não há dúvidas quanto à vitória final, e de que o poder de Satanás não pode subsistir contra Deus. Esta situação não vai mudar até que Jesus volte em triunfo. No final, Satanás vai reunir pessoalmente suas forças para tentar derrotar a Igreja. Mas ele será dominado repentina e completamente, e enviado com seus seguidores para a eterna condenação. Neste dia o mal será destruído. Esta criação totalmente contaminada será exterminada. Uma nova criação de perfeita beleza será preparada para a eterna glória daqueles que foram discípulos de Cristo.
Questões para debate. 1. Quais são seus sentimentos com relação ao livro
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de Apocalipse? 2. As profecias do Apocalipse podem causar certo medo. Elas também podem nos fazer perder de vista a mensagem mais importante do Apocalipse principalmente cap. 4 e 5 que mostram que Jesus é o poderoso rei do céu e da terra. Leia os seguintes versículos e veja como eles podem ser nossa força contra o medo: 1Co 10.13; Ap 2.10; 3.10; 7.17; 14.12; 22.17). 3. Catástrofes e fomes atingem várias nações, inclusive cristãos. Nestes momentos muitos são tentados a desistir de Deus e da vida. Os cap. 6 a 8 de Ap. são de grande consolo. Neste mundo devastado pelo pecado, os próprios cristãos podem sofrer tribulações. Mas Deus nos promete guiar através da “grande tribulação” e que “enxugará dos olhos
toda lágrima” 7.17. Como esta verdade pode ser confortadora em meio as tribulações da vida? 4. Os estudos do Apocalipse afetam seu compromisso com a igreja? Você tomou alguma decisão para sua vida pessoal como resultado dos estudos? 5. Satanás está acorrentado. Mas como um cachorro acorrentado tem o seu domínio, Satanás continua tentando os fiéis de Cristo. O que fazer para não cair nas garras dele? 6. Nos últimos dias Satanás será solto por breve período (Ap 20.8-10). Mas Cristo já conquistou a vitória e Satanás não poderá vencer. Que esperança e consolo nos trazem Ap 20.3 e 10?
Rev. David Karnopp — Vacaria-RS, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, da qual é membro da Comissão de Culto da IELB e co-editor desta Revista., bem como autor de Livros.
Bibliografia Bíblia Sagrada. Nova Tradução da Linguagem de Hoje. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007. KUCHENBECKER, Horst. Apocalipse. Não publicado HOYER, Robert. O que há de acontecer. Guia de estudos bíblicos. O apocalipse de João.Trad. Irving Ivo Hoppe. Não publicado LADD, Geoge Eldon. Apocalipse introdução e comentário.Tradução: Hans Hudo Fuchs. São Paulo Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1992 Revista Boas Novas nº 12.Apocalipse. St Louis. Good News, ROTTMANN, Johannes H.Vem Senhor Jesus. Porto Alegre: Concórdia Editora Ltda. 1993. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 87
Rev. Martinho Rennecke
Amor Cristão
A face de Deus oc A
ntes da Reforma e mesmo, de certa forma, depois, havia uma grande discussão, se Deus se revela à parte de sua criação ou através dela. Dependendo da resposta, o mundo se dividia em secular e religioso, em profano e sagrado. Mas se Deus amou o mundo de tal maneira que se encarnou, nascendo da Virgem Maria na estrebaria de Belém, então ele pode estar mascarado no contexto do mundo de tal modo, que pode envolver em cada um não somente a razão, mas também o corpo e a emoção, com curiosas surpresas identificadas na história, como diz James A. Scherer, teólogo luterano: A Igreja está em missão porque “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito...”. Antes da missão histórica dos apóstolos e da Igreja havia a missão eterna do Deus Triúno, que deu início ao processo de envio no mistério da encarnação por amor a uma criação perdida e alienada. A confirmação mais espetacular da realidade presente do poder e da sustentação de Deus no trabalho missionário de seres humanos têm sido as curiosas surpresas que Deus operou na história humana.1 O Deus encarnado em Jesus Cristo dirigia sua proclamação a necessidades e problemas específicos dos ouvintes, para experimentarem o seu senhorio em sua situação concreta, ou como diz o reformador Martinho Lutero em sua Exortação ao Sacramento: “Fora de Cristo ele não quer saber de glória ou culto algum, nem o reconhece, nem quer ser Deus de ninguém. Por isso condenou e anulou seu próprio culto antigo, dado na lei de Moisés, e a todos os cultos no mundo inteiro, por mais grandiosos, belos, antigos ou magníficos que sejam”.2 Toda Bíblia é um testemunho da intenção de Deus de se encontrar e dialogar com o homem em sua situação histórica concreta. Esta pode ter sido uma das mais importantes contribuições da Reforma para o contexto social, político, econômico e religioso.
A presença de Deus no mundo 1 James A. SCHERER, Evangelho, Igreja e Reino, p. 39. 2 Martinho LUTERO, Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue do Nosso Senhor, p. 261. 88 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Deus escolheu revelar-se a cada um escondido nas coisas comuns deste mundo com as máscaras da humanidade, da língua terrena. A identificação de uns com os outros se origina na identificação de Cristo com cada um. O encontro das pessoas com Deus dá-se através de relacionamento e experiência. Grandes temas da Bíblia se relacionam com as categorias comuns de experiência humana. Lutero, em um de seus sermões, aponta para a raiz desta identificação dizendo que “Cristo não poderia ter demonstrado esse amor caso Deus, a quem Cristo obedece com seu amor para contigo, não o tivesse querido em amor eterno”.3 Assim, não se pode separar o diálogo com Deus do diálogo com o homem. Cada um é um ponto de encontro entre Deus e o próximo. A alternativa para esta posição seria um afastamento de uma visão deísta de vida. Tal alternativa erigiria novamente o muro divisório entre a vida religiosa e secular da pessoa; criaria um abismo artificial entre o natural e o sobrenatural, entre a vida religiosa e a vida comum, e poderia levar a um interesse mórbido em milagres. A ideia de que a vida com Deus se realiza mais plenamente à parte da vida comum, traz a idéia de níveis máximos e mínimos de santidade e de pecado. A imagem mental que muitos leigos têm de missionários, diaconisas e mesmo dos pastores, faz com que estes, muitas vezes, sejam elevados acima dos problemas terrenos do leigo comum; eles pertenceriam ao ‘terceiro sexo’. Segundo William E. Hulme, teólogo luterano e psiquiatra, em sua obra Dinâmica da Santificação, esta
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Martinho LUTERO, Um Sermão sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo, p. 255.
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culta no próximo forma leva a aberrações secretas: A ‘caminho sobremodo excelente’ do amor apontado pelo apóstolo Paulo, não depende de ambientes preferenciais. (...) No retraimento procuramos proteção. (...) Aqueles que continuam a se retraírem estão mais preocupados com proteção do que com crescimento. Estão salvaguardando a sua virtude em não a pondo à prova. (...) O retraimento ascético pode ser uma fuga dos desafios e das exigências
e refugiar-nos em um monastério ou unir-nos a uma outra seita. (...) Podemos, pois, verdadeiramente dizer que o curso do mundo e especialmente as vidas dos seus santos são o disfarce de Deus, através do qual ele se mantém oculto, regendo e movendo, porém, a despeito disto, maravilhosamente o mundo.5
Recebe-se a maior plenitude no envolvimento na vida em sua forma mais desafiadora. Deus não pode ser amado à parte do homem ou Cristo ser separado dos seus santos. Lutero referia-se ao cristão como um ‘pequeno Cristo’ para seu próximo ou como Joseph Haroutunian sugere que “a imagem mental para o Espírito Santo seja a imagem do nosso próximo em Cristo”.6
Encontrando Deus no próximo
de maturidade. (...) Que melhor maneira para aprender haveria do que permitir que as nossas peculiaridades sejam postos à prova?4 Geroge W. Forell, teólogo luterano, em sua obra Fé Ativa no Amor, também caminha nesta direção. Ele indica que, Lutero colocando as vocações da família, da autoridade secular e política e, a igreja ou o ministério, como as ordens naturais que Deus criou no mundo para serem instrumentos de seu amor, aconselha que não sejam desprezadas, mas que cada um reconheça sua condição de membro das mesmas com honra e condecoração: Por isso deveríamos saber que tais vocações não são em si opostas a Deus, e não deveríamos abandoná-las, simplesmente porque queremos servir a Deus, 4 William E. HULME, Dinâmica da Santificação, p.77.
Quem não mais consegue prestar atenção ao irmão, em breve também não mais conseguirá ouvir a Deus. Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, martirizado na Alemanha durante a II Guerra Mundial, falando sobre confissão e Santa Ceia salienta, “quem confessa o pecado ao irmão, (...) experimenta a presença de Deus na realidade do outro. (...) Não deveria ser mais fácil encontrar o caminho ao irmão pecador do que ao santo Deus?”7 Neste aspecto, a vida de cada um com Deus está intimamente relacionada com a sua vida com as pessoas. Observa-se que a fé em Deus flui de modo mais natural quando as necessidades em questão de relações humanas estão sendo correspondidas, tanto nos aspectos racionais quanto nos emocionais, dentro da corporeidade no mundo. O conhecimento de Deus é pessoal e, portanto inseparável da vida em comunidade. Ninguém conhece a Deus isoladamente de seu próximo. Ele acontece no contexto da existência corporal no mundo. A encarnação é uma negação de toda tentativa de chegar a Deus por meio do misticismo, do ascetismo ou da especulação racionalista. É bom frisar novamente que Deus se revela por meio da Palavra, que sempre toma uma forma concreta 5 George W. FORELL, op. cit., p. 120, 121,129. 6 Apud William E. HULME, op. cit., p. 72. 7 Dietrich BONHOEFFER, Vida em Comunhão, p. 81. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 89
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ao ser, através de alguém, seja escrita, falada ou encenada. Neste sentido há lugar para a emoção e não somente à razão; quando a teologia muitas vezes é fria, científica e desinteressada no amor do homem a Deus com todo o seu coração, nesta forma Deus dá continuamente a cada um a oportunidade de conhecê-lo com todos os seus sentidos, de forma mediada, lenta, gradual e não assustadora, face a face. Deus é devagar! Não se poderá ignorar que junto com estas relações com o próximo se apresentam as limitações de cada um e suas dificuldades, bem como falhas e imperfeições. No entanto, as dificuldades podem não ser uma derrota, mas um campo fértil para as relações humanas e num sentido especial, um instrumento de Deus como uma via de mão dupla. Neste sentido aponta Lothar Carlos Hoch, renomado teólogo luterano da área da Prática, quando escreve em seu artigo Aconselhamento Pastoral e Libertação que “a atitude do ouvir (...) adquire uma natureza teológica (...) porque Deus fala através do clamor do pobre”.8 Deus quer se fazer presente no mundo e ser servido através do outro e de suas necessidades. É uma via de mão dupla porque o próximo se vê e sente um necessitado que precisa da ajuda do outro, e vê no outro um igual a si que necessita do amor que indiretamente é oferecido a Deus. Chama a atenção aqui novamente uma afirmação de Lutero sobre a Santa Ceia em seu mais importante sermão sobre o tema: “Por conseguinte, quando desfrutaste ou quiseres desfrutar este sacramento, precisas, em contrapartida, ajudar a carregar as adversidades da comunidade, conforme foi dito (...)”.9 Conforme descrito em Mateus 10.20 haverá assistência do Espírito nos momentos de dificuldades; no sofrimento a comunidade pode ter a certeza de que o Senhor, que conhece o caminho do sofrimento, concederá nestes momentos sua presença de modo especial. Desta forma Deus está presente em toda a parte, pois em toda a parte há sofrimento e necessidades. Outro fator importante é que neste contexto o amor de Deus se mostra relevante e as relações se qualificam na ajuda mútua. Kent R. Hunter, teólogo luterano, quando escreve sobre Fundamentos para o Crescimento da Igreja, saLothar C. HOCH, Aconselhamento Pastoral e Libertação, p. 31. 9 Martinho LUTERO, Um sermão sobre o venerabilíssimo sacramento do santo e verdadeiro corpo de Cristo e sobre as irmandades, p.431. 8
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liente: “pessoas receptivas são muitas vezes aquelas que estão experimentando a realidade do amor de Deus porque a igreja está procurando ir ao encontro de suas necessidades”.10 Howard J. Clinebell, conselheiro pastoral, também ressalta que “enquanto não tiverem experimentado amor imerecido e aceitador num relacionamento humano, o Evangelho não pode tornar-se uma realidade viva para elas”.11 Uma aceitação solícita como o é a graça de Deus, num encontro de pessoa para pessoa, a boa nova da mensagem cristã pode tornar-se uma realidade experimentada, uma encarnação da graça transformadora. Em tempos e oportunidades de sofrimento Deus quer usar a Igreja para manifestar sua presença ao mun10 Kent R. HUNTER, Fundamentos para o Crescimento da Igreja, p.26. 11 Howard J. CLINEBELL, Aconselhamento Pastoral : modelo centrado em libertação e crescimento, p. 63.
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do, e de modo especial como instrumento do apostolado. Neste sentido é tarefa principal do ministério eclesiástico preparar a comunidade para estes atos de solidariedade nestes momentos de sofrimento. E por aí também passa a visão da IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil), que é ser uma igreja confessional que vai ao encontro das necessidades das pessoas, isto é, levar a totalidade do evangelho para a pessoa integral em todo o mundo.
Servindo a Deus no próximo Deus se apresenta ao mundo de forma mascarada, indireta, especialmente através do sofrimento e necessidades do ser humano, semelhantemente como fez em seu Filho Jesus. A Igreja e cada um que nela participa, capta esta presença e revelação de Deus e a passa adian-
te, através de uma mudança de si mesmo, de um esvaziamento ou arrependimento, buscando o caminho solidário. Aceitando o outro assim como ele se apresenta, colocando-se a sua disposição, e assim, servindo-o, serve e se encontra com Deus. Uma descrição que ilumina a idéia do ‘outro’ como via de Deus, se encontra no artigo do teólogo luterano Vitor Westhelle, Missão e Poder, onde ele faz uma crítica à destruição dos índios na América pelos espanhóis e diz que a Missio Dei foi agredida, pois Deus se encarnando no mundo, também estava presente no rosto indígena. Agredindo a Deus é agredida a própria humanidade que passa a não se identificar mais: “o que se destruiu não foi um poder que ameaçasse a estrutura do mundo ibérico, mas antes um rosto que oferecia a oportunidade aos conquistadores de reconhecerem sua própria identidade, sua própria humanidade. (...) Neste sentido a morte do outro é também a autodestruição”.12 Ao cada um ver-se no outro, identificar-se no e com o outro, a relação passa a ser celebrada como um momento de crescimento próprio e do outro; esta mensagem de Deus, revelada na sua presença mascarada no outro, cria e recria a cada um e, consequentemente, a Igreja. A Igreja celebra esta revelação! É o espaço onde se celebra a presença de Deus; não onde nasce a mensagem, mas onde ressoa a fé nesta mensagem e onde ela se organiza. Como diz Westhelle “esta não é nem o sujeito nem o objeto da missão, mas é o seu meio, o espaço libertado em que se celebra a presença de Deus”.13 Assim, não é a Igreja que tem a missão, mas a missão que tem a Igreja. Não se sabe de antemão como a imagem de Deus se mostrará no outro, mas se sabe que passa a ser um desafio ao compromisso com ele. Bonhoeffer salienta que Deus pode se manifestar de forma até estranha: Deus não deseja que eu molde o outro conforme a imagem que eu considero boa, (...) Pode ser que me parecem estranhas tais formas, nada divinas até. Deus, porém, cria o homem à semelhança de seu Filho, o Crucificado, quadro que, aliás, também se me afigurava estranho e nada divino, antes de o compreender.14 Raramente se está cônscio da influência divina que está em ação nas relações com o próximo; talvez desta 12 Vítor WESTHELLE, Missão e Poder, p. 186. 13 Ibid., p. 191. 14 Dietrich BONHOEFFER, Vida em Comunhão, p. 65. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 91
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maneira se possa acolher anjos ‘sem o saber’. No natural há o sobrenatural, não como um objeto para a visão, antes, como um estímulo para a fé; assim, confiança em Deus é motivação para ação, pois em cada instante dormita a possibilidade de ser um momento divino. É preciso despertá-la. Walter Altmann, renomado pastor luterano com atuação marcante especialmente na América Latina, em sua obra Lutero e Libertação, comentando o texto do grande julgamento em Mateus 25, cita um sermão de Lutero proferido em 1526: O mundo está cheio, cheio de Deus. Em todas as travessas, diante de tua porta encontras Cristo. (...) ouve, ó homem miserável: se queres servir a Deus, tu o tens em tua casa, em tua criadagem e em teus filhos. Ensina-os a temer e amar a Deus e confiar só nele etc. Consola os vizinhos aflitos e doentes; ajuda-os com teus bens, tua sabedoria, teus conhecimentos; não demitas logo de tua casa os teus empregados e tuas empregadas, se estiverem doentes; com eles pões Cristo na rua. Não ouves Cristo dizer que aquilo que fizeste a um dos pequeninos, ele quer aceitá-lo como se o fizeste a Ele. (...) Ouve o que eu te digo: se me queres amar, se queres fazer-me um favor que me alegre, então ajuda os pobres com tudo quanto queres que seja feito a ti, se estiveres tão necessitado; assim realmente me amas. Cuida para não me deixares de lado. Eu quero ficar bem perto de ti, em cada ser humano pobre que necessita de tua ajuda e de teu ensino; eu estou bem dentro dele.15 Segundo o mesmo autor “o próximo necessitado é Cristo para nós. Estamos tão acostumados a saber que Cristo vem a nós por sua palavra e pelos sacramentos que resistimos em ouvir e enxergar também esta mensagem. (...) não nos revelam diretamente o Cristo, embora sejam de fato o Cristo necessitado para o exercício de nossa liberdade e amor”.16 Neste sentido também está aquela afirmação forte de Lutero e pouco refletida pelos cristãos de hoje de que se é ‘Cristos uns para os outros’: “devemos também nós auxiliar a nosso próximo gratuitamente pelo corpo e suas obras, e cada qual tornar-se para o outro como que um Cristo, para que sejamos Cristos um para o outro, e o próprio Cristo esteja em todos, isso é, para que sejamos verdadeiros cristãos”.17 15 Apud Walter ALTMANN, Lutero e Libertação, p. 299. 16 Walter ALTMANN, op. cit., p. 302. 17 Martinho LUTERO, op. cit., p. 454. 92 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Forell chama a atenção de como Lutero critica os espíritos escorregadios e levianos que procuram Deus em grandes empreendimentos: Mas eles não o notam quando se apresenta sob a forma de seu próximo terreno, através do qual poderiam amar e honrar a Deus. (...) Mas através da pessoa do crente, que está conectado com Cristo através do evangelho e que é simultaneamente um membro das ordens naturais, a fé ativa no amor penetra a ordem social. (...) É através da nossa vocação que somos forçados a fazer a vontade de Deus e a prestar serviços a outros, serviços estes que eventualmente deixaríamos de oferecer devido ao nosso egoísmo, preguiça e orgulho.18 Dentro da perspectiva de que cada um é o ponto de encontro entre Deus e o próximo, ele também reforça este tema com duas outras citações de Lutero de seus sermões sobre Tito 3 de 1522 e sobre Romanos 13.8 de 1525: 18 George W. FORELL, op. cit., p.107, 148, 125.
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para que Ele baixasse o nosso amor por Ele e o prendesse ao nosso próximo”.20
e
Lutero falava de fé e amor como “colocando o homem entre Deus e o seu próximo”, como um meio que recebe de cima e libera para baixo, e que se assemelha a “um recipiente ou um tubo através do qual a corrente de bênçãos divinas precisa fluir sem intermissão em direção às outras pessoas”. E ele continuou: “Vêem, portanto, que homens verdadeiramente divinos são aqueles que recebem de Deus tudo aquilo que ele tem em Cristo, e que, por seu turno, se mostram eles mesmos, através das suas boas obras, como deuses para os seus próximos”.19 É para o próximo necessitado que Deus quer que o homem mostre o seu amor: “É lá que Deus é encontrado e amado, ali é que ele pode ser servido e ministrado por quem quer que queira ministrá-lo e servi-lo; desta maneira, o mandamento do amor a Deus é reduzido integralmente ao amor ao próximo. (...) Foi por este motivo que ele abandonou a forma de Deus e assumiu a forma de um servo,
19 Ibid., p. 96.
Como Deus está presente nas relações humanas, não há relação imediata, natural, ética e religiosa com o mundo, com o ser; não há um caminho próprio de homem para homem por mais sofisticada que seja a psicologia e a franqueza. Não há relação imediata entre as almas. O mesmo Mediador, porém, que fez a cada um indivíduos solitários, constitui também o fundamento de uma comunhão totalmente nova. Ele está entre uns e os outros. Separa, mas une também. Neste sentido sempre haverá uma mediação entre um e outro e a intercessão é o caminho mais promissor nas relações humanas. Cada um se aceitará através de Cristo Mediador, em, sob e por Ele; sendo assim, tudo que não puder ser agradecido por amor a este Mediador ou mediação, não deve tampouco ser agradecido. Nesta mediação sempre se poderá agradecer pelo próximo do modo como Deus o colocar à frente, por mais estranho que pareça. Aqui Altmann adverte, citando Lutero: “Olha para a tua vida. Se não te encontrares, como Cristo no evangelho, em meio aos pobres e necessitados, então sabe que a tua fé ainda não é verdadeira e que certamente ainda não experimentaste em ti o favor e a obra de Cristo”.21 Da mesma forma Georg Vicedom, missionário luterano nas tribos de Nova Guiné, em sua obra A missão como obra de Deus : introdução à teologia da missão, alerta, “Ora, uma fé na justificação que não atua no testemunho, portanto no serviço missionário, é um saber morto ou uma fé egoísta – e sobre ela é proferida a sentença na Escritura”.22 Isto tudo exige um grande arrependimento em relação ao próximo e uma confiança no amor de Deus presente nesta relação. Para que se possa viver este amor de um para o outro é necessária uma conversão, uma mudança de mentalidade em relação ao outro. Pode-se falar de um esvaziamento para assumir as aspirações do outro, assumindo o seu modo de vida. Assim, Lutero vê a necessidade de fortalecimento na Santa Ceia devido às adversidades decorrentes deste ‘carregar as cargas uns dos outros’, descrito em Gálatas 6.2.23 No seu sermão sobre o sofrimento de Cristo, estimula aos cristãos nestes momentos a refletir: 20 Ibid., p. 97. 21 Apud Walter ALTMANN, op. cit., p. 301. 22 Georg VICEDOM, A missão como obra de Deus : introducão à teologia da missão, p. 115. 23 Martinho LUTERO. Um sermão sobre o venerabilíssimo..., p. 432. Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 93
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Quando fores incomodado por sofrimentos ou por uma doença, reflete quão pouco isto é em comparação com a coroa de espinhos e os pregos de Cristo. (...) Se ódio, inveja ou sentimento de vingança te atribulam, pensa com quantas lágrimas e clamores Cristo orou por ti e por todos os seus inimigos, quando teria sido cabível que ele se vingasse. Se tristeza ou outras adversidades afligem teu corpo ou teu espírito, fortalece o teu coração e diz: ora, por que eu também não poderia passar por uma pequena tristeza, já que, no Getsêmani, meu Senhor suou sangue, de tanto medo e tristeza? Servo indolente e infame seria quem quisesse ficar na cama enquanto seu senhor tem que lutar na agonia da morte.24 Amor de cruz, nascido da cruz, que se dirige não
para ali onde encontra o bem, para que se deleite, mas para onde faça o bem ao que está mal e carente. Quando se relembra e comemora a Reforma, onde renasceu esta nova forma relacional entre os seres humanos e uma nova forma de ver Deus, certamente hoje se pode constatar quão profundo foram as transformações sociais, políticas, econômicas e religiosas. A identificação de uns com os outros se origina na identificação de Cristo com cada um. O encontro das pessoas com Deus dá-se via Palavra, através de relacionamento e experiência. Mesmo em tempos e oportunidades de sofrimento, Deus quer usar a Igreja para manifestar sua presença ao mundo. Aceitando o outro assim como ele se apresenta, colocando-se a sua disposição, e assim, servindo-o, serve e se encontra com Deus. Esta é a missão de Deus e o desafio da Igreja. Rev. Ms. Martinho Rennecke — Caxias do Sul-RS — é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e coordenador do Projeto Macedônia.
24 Id., Um Sermão sobre a Contemplação..., p. 255.
Bibliografia ALTMANN, Walter. Lutero e Libertação. São Leopoldo : Sinodal, São Paulo : Ática, 1994. 352 p. BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. 3. ed. São Leopoldo : Sinodal, 1980. 196 p. _______Vida em Comunhão. 2. ed. São Leopoldo : Sinodal, 1986. 85 p. CLINEBELL, Howard. Aconselhamento Pastoral : modelo centrado em libertação e crescimento. 2. ed. São Leopoldo : Sinodal; São Paulo : Paulinas, 1987. 427 p. FORELL, George W. Fé Ativa no Amor. São Leopoldo : Sinodal, Porto Alegre : Concórdia S.A.,1977. 189 p. HOCH, Lothar C. A crise pessoal e sua dinâmica. Uma abordagem a partir da Psicologia Pastoral. Palestra proferida em São Leopoldo, RS, 2000. 8 p. _______A cura como tarefa do aconselhamento pastoral. In: Prática Cristã - Novos Rumos, São Leopoldo : Sinodal/IEPG, p.1728. Aconselhamento pastoral e libertação. Estudos Teológicos. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, v. 29, n. 1, 1989, p. 17-40. _______Algumas considerações teológicas e práticas sobre a pastoral de aconselhamento. Estudos Teológicos. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, v. 20, n. 2, 1980, p. 88-99. _______Comunidade Solidária (Visitação). Série Visitação, n. 04, São, Leopoldo, EST. Ano 1991. 12 p. _______Comunidade Terapêutica : Em busca duma fundamentação eclesiológica do Aconselhamento Pastoral. In: ABAC (Ed.) Fundamentos Teológicos do Aconselhamento. São Leopoldo : Sinodal, 1988. p. 21-33. _______O ministério dos leigos : genealogia de um atrofiamento. Estudos Teológicos, São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, v.30, n.3, 1990. p.256-272, _______Psicologia a serviço da libertação: possibilidades e limites da psicologia pastoral de aconselhamento. Estudos Teológicos. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, n. 25, v. 3, 1985, p. 249-270. HULME, William E. Dinâmica da Santificação. São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre : Casa Publicadora Concórdia S.A., 1976. 163 p. HUNTER, Kent R. Fundamentos para o Crescimento da Igreja. São Paulo : Instituto Concórdia/Escola Superior de Teologia, 1993. 188 p. LUTERO, Martinho. Carta à Nobreza Cristã da Nação Alemã. In: MARTINHO LUTERO: OBRAS SELECIONADAS. São Leopoldo: Sinodal, Porto Alegre : Concórdia, 1989, v. 2, p.277-340. Do cativeiro babilônico da igreja. In: MARTINHO LUTERO: OBRAS SELECIONADAS. São Leopoldo : Sinodal, Porto Alegre : Concórdia, 1989, v. 2, p.341-424. ________Tratado de Martinho Lutero sobre a liberdade cristã. In: MARTINHO LUTERO: OBRAS SELECIONADAS. São Leopoldo : Sinodal, Porto Alegre : Concórdia, 1989, v. 2, p. 435-460. SCHERER, James A. Evangelho, Igreja e Reino. Estudos Comparativos de Teologia da Missão. São Leopoldo : Editora Sinodal/EST IEPG, 1991. 204 p. VICEDOM, Georg. A missão como obra de Deus : introdução à teologia da missão. São Leopoldo : Sinodal/IEPG, 1996. 127p. WESTHELLE,Vítor. Missão e Poder. Estudos Teológicos, São Leopoldo : Escola Superior e Teologia, v.31, n. 2, 1991, p.183-192. 94 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
Simbologia
Rev. Jarbas Hoffimann
Pesquisa e Adaptação
Jesus Cristo o Alfa e o Ômega Q
uando nós chegamos ao fim do ano da igreja e olhamos à frente para o começo de outro, é bom olhar para Jesus, o Autor e Consumador da fé (Hebreus 12.2 ARA). Ele é “o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” (Apocalipse 22.13). Aquele que fala estas palavras no Livro de Apocalipse é nosso Salvador Jesus Cristo exaltado. Alfa e Ômega são a primeira e a última letra do alfabeto grego. O Filho de Deus é o desde o início até o fim, de eternidade a eternidade, ele “é o mesmo ontem, hoje e sempre”. O monograma Alfa e Ômega mais facilmente pode nos lembrar do Salvador quando outros símbolos cristãos são usados com ele. No símbolo que aparece acima, derivado de um encontrado em uma antiga catacumba, o Alfa e Ômega foram combinados com o Chi Rho.
Enquanto o monograma do Alfa e Ômega aponta para a eternidade de Jesus Cristo, tem ainda uma mensagem para o tempo de Advento à nossa frente. A grande verdade é que o eterno Filho de Deus entrou no tempo e no espaço e se tornou um ser humano. Um antigo hino se refere a este mistério da encarnação. Entre tantos outros que afirmam a mesma verdade. Jesus Cristo é o começo e o fim de nossa fé. Assim como a igreja conclui outro ano da graça, é bom relembrar que nosso Senhor Jesus é eterno, imutável. Além do mais, ele é misericordioso, amoroso, fiel, como ele afirma em sua declaração: “Eu sou”: Eu sou o Bom Pastor, a Porta, o Caminho, a Verdade, a Vida. A ele toda a glória!
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Comissão de Culto da IELB
Litúrgica: Após Pentecostes
Liturgia para Período após Pentecostes Veja uma sugestão de liturgia para o período após Pentecostes. Aqui aparece sem a formatação adequada para uso prático no culto. Caso queira formatar à vontade, este texto pode ser usado. Caso queira o material finalizado, verifique no blog da Comissão de Culto da IELB (www.liturgialuterana.blogspot. com). Lá você vai encontrar o material para imprimir, bem como para ser projetado.
Legenda: P Pastor
de pé
C Congregação
sentados
T Todos
ajoelhados
|: Repetir o canto entre :|
cantar
1. SAUDAÇÃO 2. INVOCAÇÃO P.: Em nome do Pai. Em nome do Filho. Em nome do Espírito Santo. Estamos Aqui. C.: Em nome do Pai. Em nome do Filho. Em nome do Espírito Santo. Estamos Aqui. Amém.
3. CONFISSÃO E PERÃO DOS PECADOS
Cantado em alternância entre Pastor e Congregação. O Pastor canta as estrofes e a congregação o estribílio.
C.: |: Pequei, Senhor, eu quero teu perdão! Por teu amor espero salvação! :| P.: As coisas deste mundo afastaram-me de ti. Mas hoje estou de volta, Senhor, estou aqui. C.: |: Pequei, Senhor, eu quero teu perdão! Por teu amor espero salvação! :| P.: Do teu imenso amor eu confesso que esqueci. Mas hoje estou de volta, Senhor, estou aqui. C.: |: Pequei, Senhor, eu quero teu perdão! Por teu amor espero salvação! :| P.: Da igreja e dos cultos eu desapareci. Mas hoje estou de volta, Senhor, estou aqui. C.: |: Pequei, Senhor, eu quero teu perdão! Por teu amor espero salvação! :| P.: No amor aos meus irmãos me neguei e me omiti. Mas hoje estou de volta, Senhor, estou aqui. C.: |: Pequei, Senhor, eu quero teu perdão! Por teu amor espero salvação! :| P.: Eu quero prometeu nunca mais fugir de ti. 96 | Teologia | Agosto e Setembro, 2011
E hoje estou de volta, Senhor, estou aqui. C.: |: Pequei, Senhor, eu quero teu perdão! Por teu amor espero salvação!
:|
Aqui termina o canto e segue a confissão, agora falada.
P.: SENHOR, nos apresentamos ante ti para implorar perdão. C.: Ó Deus ouve a minha súplica e atende a minha oração. P.: Não me desampares SENHOR, meu Deus, não te afastes de mim. C.: Apressa-te em socorrer-me SENHOR, salvação minha. P.: A salvação vem do SENHOR. Ele é a fortaleza no dia da tribulação. C.: Ó Pai, tem compaixão de nós e não desprezes a nossa prece por causa dos nossos pecados. Lamentamos não ter obedecido à tua Palavra. Tem compaixão de nós, teus filhos pecadores. Perdoa os nossos pecados, e não entre em juízo conosco. Pois diante da tua face ninguém é inocente. Confiamos nas tuas promessas. Dá-nos o teu perdão e ajuda-nos a perdoar de coração aos que pecam contra nós. Em tua promessa esperamos com alegria. P.: Deus prometeu o perdão dos pecados àqueles que se arrependem e confiam nele. Que ele nos guarde na sua graça. E, a todos vocês que assim crêem, como ministro da palavra de Deus, anuncio o perdão de todos os pecados de vocês. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. C.: Amém.
5. SALMO DO DIA 6. GLORIA PATRI: C.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito, como era no princípio, agora é por todo sempre há de ser! Amém!
7. KYRIE C.: Senhor, tem piedade de nós. Cristo, tem piedade de nós. Senhor tem piedade de nós.
8. ORAÇÃO 9. HINO 10. LEITURA DA PALAVRA DE DEUS P.: As Palavras do SENHOR são verdadeiras; todo o que ele faz merece confiança. [Sl 33.4] C.: A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que ilumina o meu caminho. [Sl 119.105]
Litúrgica: Após Pentecostes
P.: Felizes são aqueles que ouvem a mensagem de Deus e obedecem a ela. [Lc 11.28] C.: Dá-me entendimento para que eu possa guardar a tua lei e compri-la de todo o coração. [Sl 119.34]
10.1. Antigo Testamento 10.2. Novo Testamento 11. HINO 12. LEITURA DO EVANGELHO 13. CONFISSÃO DE FÉ CREDO APOSTÓLICO 14. MENSAGEM 15. OFERTÓRIO C.: Cria em mim, ó Deus, um puro coração e renova em mim espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me alegria da tua salvação e sustém-me com um voluntário espírito. Amém.
16. AVISOS 17. MOMENTO DAS OFERTAS Durante a oferta se canta o hino 389 do Hinário Luterano.
P.: Então no nosso Deus escolherá o lugar onde ele será adorado, e para lá vocês levarão tudo o que estou ordenando, isto é, os animais que são queimados no altar e os outros sacrifícios, a décima parte dos animais e das colheitas, as contribuições e todas as outras ofertas prometidas a Deus. Na presença do SENHOR, nosso Deus, todos se alegrarão. [Dt. 12.11-12] C.: A minha alegria é muito grande ao dizer: aqui estão as minhas ofertas ao SENHOR.
18. ORAÇÃO GERAL DA IGREJA 19. HINO 20. PAI NOSSO 21. CONSAGRAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA A CEIA P.: Porque eu recebi do SENHOR este ensina-
mento que passei para vocês: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. Assim também, depois do jantar, ele pegou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue. Cada vez que vocês beberem deste cálice, façam isto em memória de mim.” C.: De maneira que, cada vez que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a morte do SENHOR, até que ele venha.
22. A PAZ Cumprimenta-se o irmão ao lado enquanto se vai cantando.
Deus te abençoe. Deus te proteja. |: Deus te dê a paz. :|
23. DISTRIBUIÇÃO DA CEIA Ao se distribuir a Ceia, canta-se 257, 259 e 260 Hinário Luterano ou outros, ou ainda um fundo musical adequado ao momento.
24. BÊNÇÃO Cantado em alternância entre Pastor e Congregação. O Pastor canta as estrofes e a congregação o estribílio.
P.: Deus vos guarde pelo seu poder protegidos, abençoados, desfrutando os seus cuidados; Deus vos guarde pelo seu poder. C.: Pelo seu poder e no seu amor, estaremos todos com Jesus — pelo seu poder e no seu amor. Oh! que Deus nos guarde em sua luz! P.: Deus vos guarde para o seu louvor consolados e contentes, achegados sempre aos crentes; Deus vos guarde para o seu louvor. C.: Pelo seu poder e no seu amor, estaremos todos com Jesus — pelo seu poder e no seu amor. Oh! que Deus nos guarde em sua luz! P.: Deus vos guarde sempre em seu amor, no trabalho glorioso, para o dia venturoso; Deus vos guarde sempre em seu amor. C.: Pelo seu poder e no seu amor, estaremos todos com Jesus — pelo seu poder e no seu amor. Oh! que Deus nos guarde em sua luz!
Agosto e Setembro, 2011 | Teologia | 97
Artigo
Rev. Ernani Kufeld
A
moda do momento é a luta contra o preconceito e a discriminação. Nada mais justo; afinal é inconcebível que em pleno século 21, num país democrático e de livre expressão ainda haja espaço para este tipo comportamento e atitude descabida. Preconceito, palavra composta por pré+conceito refere-se a “conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados”. Dessa falta de conhecimento ou conhecimento equivocado derivam a discriminação, o racismo, a opressão e coisas do gênero; nada louváveis nem diante de Deus, nem dos homens. O problema, contudo, está no fato que em nome de uma luta justa contra o preconceito, querem jogar fora a água suja da banheira junto com a criança. Sim se esquecem que é impossível viver sem conceitos pré-estabelecidos e querem jogar na lata de lixo tanto os conceitos inadequados quanto aqueles que são fundamentais para sociedade e o bem estar dos indivíduos. E nessa onda já se jogou Deus, a igreja, a família e agora a língua portuguesa ralo abaixo. De acordo com um livro didático (cujo título ironicamente é “por uma vida melhor”) aprovado e distribuído pelo MEC, é preconceito e discriminação ensinar falar e escrever corretamente. Aqui entre nós, vivemos um tempo onde quanto mais idiomas o sujeito dominar com fluência e destreza, maiores serão suas chances de ter uma vida melhor. Preconceito e discriminação neste caso seria o fato de tolher em nossas crianças o direito de ao menos tentar progredir no conhecimento de seu próprio idioma, negando-lhes o direito de serem ensinadas e corrigidas adequadamente. Já avisava muito antes no Livro Sagrado, aquele que confundiu as línguas em Babel, mas lhes deu uma lógica certa ao criar a cada uma, que “feliz o homem que acha sabedoria e adquire conhecimento” (Provérbios 3.13) e alertava para um fato trágico: “o meu povo está sendo destruído porque
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lhe falta conhecimento” (Oséias 4.6). Faltavam os conceitos corretos que foram deixados de lado em nome de uma falsa liberdade e vida melhor! Ditas por Jesus e emprestadas como “slogan” por Martinho Lutero na Reforma Protestante, ainda são bem atuais as Palavras registradas pelo evangelista João: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8.32). Surge daí o afinco de Lutero na luta para que o povo tivesse acesso ao conhecimento da Palavra de Deus e ao conhecimento secular. Na luta pela primeira traduz o Novo Testamento para o alemão. Na luta pela segunda estabelece o objetivo de ter ao lado de cada igreja uma escola que ofereça ensino de qualidade, para que as crianças tenham oportunidades adequadas na vida. Lutero sabia que o ensino de qualidade e o conhecimento da Palavra de Deus são os métodos mais eficazes contra o preconceito, a discriminação e a opressão. Talvez seja hora de resgatar da lata que outrora os jogamos, velhos conceitos valiosos dados por Deus: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” (Provérbios 22.6). Porque a verdade liberta. O conhecimento faz crescer. E o amor não descrimina. A prova está no amor de Deus, que AMOU AO MUNDO enviando seu único filho: o caminho — a verdade — a vida! Rev. Ernani Kufeld — Aracaju-SE — é passtor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Direto ao Ponto
Reinos que afundam A
lguém já ouviu falar do país com o tamanho de uma quadra de vôlei? É o Principado de Sealand, uma plataforma marítima construída na costa britânica para servir de forte contra o nazismo. Em 1967, o militar inglês Roy Bates se apoderou da edificação e proclamou independência do Reino Unido. A menor nação do mundo tem constituição, hino, bandeira e moeda. Nesta semana, o “príncipe” e seu filho estiveram em Porto Alegre e aproveitaram para vender títulos de nobreza e cidadania. Ninguém comprou. Sem reconhecimento internacional, Sealand permanece nos mapas ingleses como um “forte de guerra declarado Estado independente por seus proprietários”. Não pude deixar de pensar em nossos autoproclamados reinos ao ler esta notícia. Afinal, todas as nossas conquistas, grandes ou pequenas, são plataformas usurpadas, apossadas, no momento quando declaramos independência. Podemos até dizer “isto é meu”, mas é uma grande mentira. “A terra é de Deus”, diz a Bíblia. “Portanto, ela não será para sempre daquele que a comprar. Deus é o dono dela, e para ele nós somos estrangeiros que moram por um pouco de tempo na terra dele” (Levítico 25.23). Esta é a verdade sobre tudo o que possuímos. E sabemos disto. Mas não basta saber, é preciso também viver isto a fim
de não sermos tão ridículos iguais ao príncipe de Sealand. Qualquer dia a plataforma vai afundar ou alguém vai acabar com a brincadeirinha, e daí, o que sobrará? “Nasci nu e nu morrerei”, disse Jó ao perder toda a riqueza. Creio que se o militar tivesse solicitado, a rainha Elizabeth teria dado de presente este monte de ferro e cimento fincado no oceano. É o que Deus espera de nós, que digamos a ele: - Senhor, peço permissão para usar a vida, o corpo, o tempo, os dons, os bens materiais. E ele dará, conforme a boa vontade dele. Foi Paulo quem afirmou: “Se ele nos deu o Filho, será que não nos dará também todas as coisas?” (Romanos 8.32). Portanto, longe de nós estes tipos de reinado. Eles afundam. Rev. Marcos Schmidt — Novo Hamburgo, é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil