#OCaminhoDoCoração Passo Oito: “Una missão de compaixão”

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QUERIDOS AMIGOS NO SENHOR

O Caminho do Coração é o itinerário espiritual proposto pela Rede Mundial de Oração do Papa. É o fundamento da nossa missão, uma missão de compaixão pelo mundo. Inscreve-se no processo iniciado pelo Papa Francisco com a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, «A Alegria do Evangelho»

Constitui o resultado de um longo processo impulsionado pelo P Adolfo Nicolás, então Superior Geral da Companhia de Jesus No início elaborou-se um esquema, designado então de marco referencial, com uma equipa internacional liderada pelo P Claudio Barriga SJ Este itinerário foi apresentado ao Papa Francisco num documento intitulado

Um caminho com Jesus em disponibilidade apostólica (agosto de 2014) Apresentava-se uma nova forma de compreender a missão do Apostolado da Oração, numa dinâmica de disponibilidade apostólica

O Santo Padre aprovou-o em dezembro de 2014

O Caminho do Coração é essencial para a recriação desta Obra Pontifícia como Rede Mundial de Oração do Papa Constitui um aprofundamento, para os nossos dias, da tradição espiritual do Apostolado da Oração, e articula, de uma forma original, elementos essenciais deste tesouro espiritual com a dinâmica do Coração de Jesus É a chave de interpretação da nossa missão Por isso apresentamos em 2017 um comentário a este itinerário espiritual, designado agora «Dinâmica interna do passo», para ajudar as equipas nacionais da Rede Mundial de Oração do Papa a entrar na dinâmica interior do Caminho do Coração e a aprofundá-lo

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Com o desejo de desenvolver o processo de recriação, sentimos a necessidade de ampliar os conteúdos escritos. Assim, iniciamos em 2017 um trabalho de elaboração e organização dos materiais que constituem hoje os 11 livros de O Caminho do Coração. Este trabalho realizou-se com uma equipa internacional liderada por Bettina Raed, diretora regional da Rede Mundial de Oração do Papa na Argentina e Uruguai. Assim, a partir da pátria do Papa Francisco, e com o apoio de diversos companheiros, quer jesuítas quer leigos, foi articulado este trabalho. Agradeço de modo particular a Bettina por toda a sua disponibilidade e pelo seu trabalho de elaboração e coordenação.

Agradeço também a TeleVid, das Congregações Marianas da Colômbia, pelo seu apoio na conversão deste material num suporte acessível ao nível digital e visual. www.caminodelcorazon.church (em castelhano).

Espero que estes conteúdos ajudem a propor a missão de compaixão pelo mundo com criatividade (em retiros espirituais, sessões de formação, os encontros das Primeiras Sextas-feiras, etc.).

É o fundamento da nossa missão, o nosso modo específico de entrar na dinâmica do Coração de Jesus.

P. Frederic Fornos SJ

Diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa

– inclui o Movimento Eucarístico Juvenil Cidade do Vaticano, 3 de dezembro de 2019, Dia de São Francisco Xavier e dos 175 anos do Apostolado da Oração

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Esquema para orientar o passo

Palavra-chave: MISSÃO

Objetivo: Colaborar com Jesus na sua missão

Atitudes-chave: Abertura ao encontro com o outro

O que se pretende alcançar – Fruto: Compaixão pelo mundo e docilidade ao Espírito Santo

Dinâmica interna do passo: Sentir compaixão – Sair de si mesmo, ao encontro do irmão

– Para uma cultura do encontro

Marco referencial

Deus, o Pai de Jesus e nosso Pai, quer tornar presente a sua compaixão no mundo através de nós, seus discípulos Somos convidados a fazer nosso o seu olhar sobre a humanidade e a agir segundo os sentimentos do Coração de Jesus

Mesmo quando nos encontramos limitados pela doença ou pelas nossas condições físicas, mesmo quando nos sentimos incapazes de mudar as estruturas injustas da nossa sociedade, participamos desta missão, adotando o olhar compassivo de Deus para com os nossos irmãos e irmãs Somos enviados com o Filho, de modos diversos, às periferias da existência humana, onde homens e mulheres sofrem a injustiça, ajudando a suster e curar todos aqueles que têm o coração dilacerado

Visto que nós próprios fomos beneficiados da compaixão de Deus, podemos entregá-la a outros. É essa a nossa resposta ao seu amor por nós (reparação). Ultrapassamos as fronteiras visíveis da Igreja, ali onde existe a compaixão, ali onde se encontra o Espírito de Deus. Unimo-nos espiritualmente a todos aqueles que, em diversas culturas ou tradições religiosas, são dóceis a esse Espírito e se mobilizam para aliviar o sofrimento dos mais débeis

Dinâmica interna do passo

Nos Exercícios Espirituais, Santo Inácio oferece à nossa contemplação Deus (a Trindade), que olha para o mundo e decide encarnar, a fim de salvar a humanidade «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que n'Ele crê não se perca, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). A decisão de Deus, que tem origem no seu profundo amor pela humanidade, espera a nossa decisão pessoal.

Como diz o Papa Francisco: «Do coração da Trindade, da intimidade mais profunda do mistério de Deus, brota e corre sem parar o grande rio da misericórdia Esta fonte nunca se poderá esgotar, sejam quantos forem os que dela se aproximem De cada vez que

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alguém tiver necessidade poderá vir a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim. É tão insondável a profundidade do mistério que encerra quão inesgotável a riqueza que dela provém» (Misericordiae vultus, 25)

As palavras «compaixão» e «misericórdia», que se encontram na Bíblia, refletem um termo grego que significa sentirmos o sofrimento dos outros e sermos impelidos interiormente, por amor, a agir em seu favor É um movimento que vem de dentro, das «entranhas», do «seio materno», do «coração» É o que vemos em Jesus Várias vezes nos é dito que Ele tem compaixão da multidão, dos doentes, dos cegos e leprosos, do Homem possesso no país dos Gadarenos ou da Viúva de Naim, que tinha perdido o seu único filho Jesus tem esta capacidade incrível de se comover profundamente pelos outros e aquilo que Ele sente internamente torna-se decisão, mobiliza-o, conduzindo-o à ação. Aquilo que Ele vive também é o que ensina; a parábola do Bom Samaritano é significativa nesse sentido: «Bem-aventurados os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).

Na Rede Mundial de Oração do Papa somos convidados a uma missão de compaixão pelo mundo, orando e mobilizando-nos pelos desafios enfrentados pela humanidade e pela missão da Igreja Isso requer que permitamos tornar-nos vulneráveis, deixarmo-nos comover profundamente por aquilo que vivem os nossos irmãos e irmãs em todo o mundo Significa deixarmos cair os nossos «escudos» e derrubar as nossas «paredes», para sair da indiferença e entrar numa «cultura do encontro»

Estando completamente unidos ao Coração de Jesus poderemos, com Ele, abrir-nos cheios de confiança Por termos feito a experiência de ser amados e perdoados e por termos experimentado a profunda misericórdia do Senhor para connosco é que podemos, por nossa vez, converter-nos em missionários da misericórdia, testemunhas da alegria do Evangelho

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Entrada segundo a perspetiva bíblica

Olhar com olhos novos Já alguma vez teremos experimentado, certamente, como um olhar pode ser significativo: olhar e ser olhados é uma experiência humana que nos configura no nosso desenvolvimento Há olhares que nos inspiram, outros que nos infundem medo, há olhares que nada nos dizem, passando-nos despercebidos, e há outros que nos fazem sentir escolhidos. O olhar pode ser um canal mediante o qual expressamos sentimentos e deixamos transparecer ideias; o modo como olhamos diz muito de nós e do nosso mundo interior. Com um olhar podemos exprimir ternura, ódio, medo, angústia, necessidade ou tristeza. O olhar constitui uma forma de nos vincularmos, de falar sem palavras, de entrar em diálogo com outra pessoa

Ao percorrer as páginas da Bíblia, deparamo-nos com numerosos relatos nos quais o olhar de alguém é um elemento-chave no episódio narrado Há nela numerosos quadros de encontros, proximidades, conversas nos quais, se nos detivéssemos a imaginar o que poderia estar a acontecer ali, dar-nos-íamos conta de que os olhares ali trocados definiram a situação

No Antigo Testamento, os relatos falam-nos de um Deus que olha e escolhe Deus tem, para aqueles que ama, um olhar de eleição, que escolhe, que ama e que, amando, cria O olhar de Deus faz com que aquele que é olhado se sinta como um bem exclusivo desse Deus que o olha. O relato da criação apresenta-nos a mesma expressão no fim de cada etapa: «E Deus viu que era bom» (Gn 1, 21).

Os Cânticos do Servo, em Isaías: «Eis o meu servo, que Eu sustento, o meu eleito, em quem me comprazo» (Is 42, 1); «Tu és precioso aos meus olhos» (Is 43, 4).

Como resposta a esse olhar de amor, e perante as dificuldades, «os olhados por Deus» invocam-no, suplicando-lhe que os olhe com compaixão e amor «Olha para mim e responde-me, Senhor, meu Deus. Ilumina os meus olhos, para não adormecer na morte» (Sl 13, 4)

Jesus marcou com o seu olhar muitos encontros e situações que nos descrevem expressamente como Ele fixa o seu olhar nas pessoas; há outras situações nas quais, se nos detivermos a observar a cena, poderemos imaginar como o seu olhar terá acompanhado os seus gestos em cada momento «Então, olhando-os com indignação, contristado da cegueira de seus corações…» (Mc 3, 5); «Ao passar viu Levi, filho de Alfeu, sentado no banco dos cobradores de impostos» (Mc 2, 14);

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«Passando junto do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores» (Mc 1, 16); «Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico…» (Mc 2, 5); «Jesus olhou para ele com afeto e disse-lhe…» (Mc 10, 21)

Sendo Jesus, no mundo, o rosto do Pai, podemos perfeitamente imaginar que o olhar com que olhava era o olhar do Pai para o mundo Assim, Santo Inácio, nos seus Exercícios Espirituais, recria «o olhar» da Trindade sobre o mundo, convidando o exercitante a que entre na cena e contemple, olhe e se deixe olhar com o olhar da Trindade: «Contemplar, que é aqui como as três pessoas divinas observavam toda a planície ou redondeza de todo o mundo, cheia de homens ( ) O primeiro ponto é ver as pessoas, umas e outras; e primeiro as da face da terra, em tanta diversidade, assim em trajes como em gestos: uns brancos e outros negros, uns em paz e outros em guerra, uns chorando e outros rindo, uns sãos e outros enfermos, uns nascendo e outros morrendo, etc.» (EE 102.106).

E é esse olhar de compaixão da Trindade sobre o mundo criado que impulsiona, no coração trinitário, o envio do Filho, e continuará a ser esse olhar, agora encarnado no Jesus histórico, que percorre as ruas de cidades e aldeias da antiga Galileia, sanando, curando, reconstruindo vidas, convertendo em história a missão de compaixão de Jesus «Acorreram de toda aquela região e começaram a levar os doentes nos catres para o lugar onde sabiam que Ele se encontrava. Nas aldeias, cidades ou campos, onde quer que entrasse, colocavam os doentes nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar pelo menos as franjas das suas vestes. E quantos o tocavam ficavam curados» (Mc 6, 55-56)

Após a morte de Jesus, serão os seus amigos íntimos, os seus apóstolos, a reconhecer a presença do Ressuscitado e, com Ele, a continuidade da missão de Jesus, agora nas suas próprias histórias. Assim, Maria Madalena é encontrada por Jesus e enviada pelo seu Mestre: «Disse-lhe Jesus: "Maria!". Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: "Rabbuni!" – que quer dizer: "Mestre!". Jesus disse-lhe: "Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus’"» (Jo 20, 16-17)

Estes encontros com o Ressuscitado definirão as suas vidas para sempre, pois a partir deles forjarão um novo olhar, o olhar que impele para o ofício de consolar Um olhar ressuscitado, que gerará uma releitura das suas histórias e das suas vidas partilhadas com Jesus, a partir dessa presença que se lhes revelará depois da Ressurreição As suas vidas ganharão um novo sentido e eles poderão voltar a passar pelo coração, a

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«re-cordar» a intimidade com o Mestre, a partir da força e da alegria dessa presença consoladora

Os discípulos de Emaús, encontrados por Jesus no caminho, são reconfigurados na sua experiência vital, a partir de uma releitura das suas histórias que o próprio Jesus faz com eles: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24, 32) Assim, o facto de o Pai ter enviado o Filho ao mundo, na pessoa de Jesus, para aqueles que partilharam a mesma época histórica, constitui um acontecimento que alcança a sua verdadeira densidade e profundidade a partir da perspetiva do encontro com Jesus Ressuscitado e da experiência do seu ofício de consolar Em Tiberíades, o Apóstolo João reconhecê-lo-á na abundância da pesca: «É o Senhor» (Jo 21, 7) E nascerá neles um novo olhar para a promessa de salvação de Deus dirigida a todos, desde o começo da criação, que os impulsionará, daí por diante, a continuar nas suas vidas essa mesma missão de Jesus. Agora serão seus colaboradores, suas mãos e seus pés, continuando a restaurar vidas mediante a missão de Jesus – uma missão de compaixão pelo mundo, um ofício de consolação.

Assim como convidou os seus discípulos, Jesus convida-nos hoje a olhar o mundo com os seus olhos, a deixar-nos contagiar pelo seu olhar e a forjar um olhar de discípulos empenhados em ajudar o mundo que Deus tanto ama Um olhar sintonizado com o coração de Jesus e com a sua missão de compaixão, e que nos lance ao encontro dos irmãos Jesus Cristo quer precisar de nós, decide contar com cada um dos seus discípulos – contigo, comigo, com todos os que se queiram envolver na sua missão E convida-nos a colaborar com Ele, com o seu estilo e à sua maneira, para que sejam, hoje, os teus e os meus pés a percorrer o mundo, as tuas mãos e as minhas a trabalhar com Ele pelos que sofrem e necessitam de consolação Que dirias a este grande Senhor que hoje te pergunta: «vens comigo?»

● «O Senhor enviou-me para curar os desesperados»(Is 61:1).

● «Nunca desvies do pobre o teu olhar, e o olhar de Deus nunca se desviará de ti» (Tb 4, 7)..

● «Tende entre vós os mesmos sentimentos do Coração de Jesus» (cf. Fl 2, 5)

● «Jesus, compadecido dele, estendeu a mão e, tocando-o, disse-lhe: «Quero, fica limpo» (Mc 1:41)

● «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres…» (Lc 4:18)

● «Contemplar, que é aqui como as três pessoas divinas observavam toda a planície ou redondeza de todo o mundo, cheia de homens ( ) O primeiro ponto é ver as pessoas, umas e outras; e primeiro as da face da terra, em tanta diversidade, assim em trajes como em gestos: uns brancos e outros negros, uns em paz e outros em guerra, uns

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chorando e outros rindo, uns sãos e outros enfermos, uns nascendo e outros morrendo, etc » (EE 102 106)

Entrada bíblica segundo a compaixão

«"Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?" "O que está escrito na Lei? Como lês?" "Quem é o meu próximo?"» O Evangelho de Lucas traz-nos um relato em que estas interrogações vão surgindo sequencialmente no diálogo entre Jesus e um Doutor da Lei Então o Senhor começa a narrar «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto» (Lc 10:25-37) Esta parábola, esta construção do relato sai das entranhas, do coração do Senhor, pois Ele caminhava pelas ruas sempre muito atento aos mendigos e aos necessitados que via estendidos à beira dos caminhos.

Ora, desta vez, conta-nos Jesus que este homem, que não tem nome – diz apenas que era um «homem» – descia de Jerusalém para Jericó, certamente um caminho perigoso, nada simples de fazer naquela época Este homem devia saber disso e, apesar de tudo, decide-se a «descê-lo», arriscando Assim, encontrou o que seria de esperar: o perigo abstrato deu lugar a uma emboscada concreta Foi assaltado por uns bandidos que o deixaram meio-morto Poderíamos dizer que foi ele que procurou o perigo ou que o devia ter previsto, como tantas vezes pensamos das pessoas nossas conhecidas que tomam decisões arriscadas e sofrem as consequências negativas das mesmas E ali ficou aquele homem, caído, desvalido e necessitado

Então, por esse mesmo caminho passa um sacerdote e depois um levita Personagens conhecidas da época, homens religiosos e bem formados, dedicados à piedade e ao culto divino No entanto, «desviando-se», ou melhor, «esquivando-se», seguem o seu caminho. Olham para o outro lado, fecham o seu coração e não veem ou «não querem ver» aquele desgraçado, caído por terra e necessitado de ajuda. Se estamos próximos do mundo do sagrado, isto também pode ser para nós uma grande tentação: viver afastados do mundo real, onde os irmãos lutam, trabalham e sofrem, e deixarmo-nos ficar comodamente instalados nos nossos espaços devocionais, longe da realidade Doentes de uma espiritualidade intimista encerrada entre as paredes dos templos Outras tantas vezes, muitos de nós passamos ao largo, seguindo o nosso caminho, enfronhados nos «nossos assuntos», sem repararmos, sequer, se alguém precisa de nós

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No relato construído por Jesus para os que o seguiam, não serão os homens do culto os que melhor nos podem indicar como devemos tratar os que sofrem, mas as pessoas de coração misericordioso A chave não é o culto, mas o amor De facto, pelo caminho, aproxima-se um Samaritano É óbvio que não vem do templo Não pertence ao povo eleito de Israel Também não é uma pessoa estimável aos olhos dos que ouviam Jesus naquele momento É, antes, uma personagem não-amada, de quem nada de bom se podia esperar Os samaritanos viviam em inimizade com os judeus, sendo acusados por estes de não serem fiéis ao Deus de Israel, adorando, antes, outros deuses

No entanto, este Samaritano deteve-se, prestou atenção ao homem caído por terra e assistiu-o Prestemos atenção a alguns pormenores do relato O que é que moveu este Samaritano a interromper o seu caminho? Apenas a misericórdia e a compaixão, pois este homem desconhecido e meio-morto não poderia retribuir qualquer gesto do Samaritano em favor dele. De facto, a misericórdia é a única reação verdadeiramente humana perante o sofrimento do outro. A misericórdia do Samaritano humaniza, a indiferença do Levita e do Sacerdote do relato desumaniza. A compaixão é a atitude radical de amor que deve inspirar a atuação do ser humano perante o sofrimento dos outros

Este Samaritano «vê-o», quer dizer, não passa distraído, presta atenção e dá-se conta daquilo que os outros dois ignoram Também se detém e assiste o caído, tratando as suas feridas com azeite e vinho Com efeito, a compaixão não é um sentimento, mas um princípio de ação, um princípio que nos move a agir Como? Olhemos para o Samaritano:

1 Vê, dá-se conta de que o outro homem está a sofrer

2 Detém-se e perde tempo com o homem caído

3. Desvia-se do seu próprio caminho, do trajeto que tinha planeado.

4. Dá aquilo de que o outro precisa, investe tempo, dinheiro e criatividade para aliviá-lo.

Não são dados menores, o azeite e o vinho. O Samaritano compartilha aquilo que tem com o necessitado, os seus gestos constituem um bálsamo, são compaixão concreta e suave, representada na história pelo azeite E esta atuação restaura e reconstrói a vida da pessoa, põe-na a caminho e em marcha novamente, devolvendo-lhe a alegria de viver e a capacidade de celebrar e de desfrutar da vida, simbolizadas pelo vinho derramado sobre as feridas

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O Samaritano, portanto, toma aquele homem a seu cargo, carrega-o sobre a sua montada Leva-o até à pousada, para que ali o continuem a ajudar A pousada é lugar de acolhimento, de portas abertas e de receção para os que chegam feridos, como este homem Símbolo do nosso coração, das nossas vidas, das nossas comunidades e da própria Igreja, que deve ser «de portas abertas», para acolher e receber as pessoas a quem a vida deixou caídas nos caminhos Assim, «as pousadas» devem:

1 Abrir as portas e acolher

2 Dar lugar

3 Cuidar

4 Devolver ao caminho

Este relato pode ajudar-nos a deixar-nos interpelar: Quem é o Samaritano senão o próprio Jesus que nos mostra o seu estilo, o seu modo de proceder, o núcleo da missão que o Pai lhe confiou? A compaixão é o rosto do Pai e o princípio que configura toda a vida, missão e destino de Jesus.

Crer em Jesus não é acreditar numa doutrina ou num conjunto de bons preceitos, é seguir uma pessoa que, com a sua atuação, nos pergunta a que é que nos dedicamos, a quem amamos, o que fazemos concretamente por homens e mulheres que sofrem no mundo, perto ou não assim tão perto de nós

Por aqui passa o nosso seguimento e a conversão do nosso coração: tornarmo-nos disponíveis para a missão de compaixão que Jesus inaugurou e que nos deixa simbolizada neste relato Devemos aproximar-nos mais das pessoas que vamos encontrando na vida, para lhes oferecer a nossa amizade fraterna e a nossa ajuda solidária Devemos encarnar um amor «prático» pelos irmãos

Por isso dir-nos-á Jesus: «Vai e faz o mesmo». Tal equivale a dizer-nos: «vai e faz com os outros aquilo que tu próprio experimentaste». Quem se sente amado e salvo não pode deixar de amar e de procurar alívio para os seus irmãos. Este relato é um convite a percorrermos as palavras de Jesus com o coração, a sentirmo-nos salvos por Ele, Bom Samaritano, quando estávamos caídos à beira dos caminhos da vida A darmo-nos conta dos nossos desvios e das nossas cegueiras, recusando-nos a ver as necessidades de outros E para reconhecermos Jesus, o Bom Samaritano que nos salva, nos suaviza as feridas com azeite e nos devolve a alegria com o vinho novo do seu amor Para finalmente sermos nós a Igreja-pousada que acolhe, recebe, cuida e devolve ao caminho aqueles que Jesus vai colocando nas nossas vidas

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Entrada segundo a perspetiva da fé

A Igreja é missionária

A ideia e a experiência de missão abrem-nos para a exploração e explicitação de algumas perguntas: de que missão se trata? Quem no-la confia? De que modo? A quem? E parece conveniente, no início deste mergulho no extenso mundo da missão, determo-nos a refletir sobre algumas palavras do Papa Francisco, na Evangelii gaudium, que poderão iluminar este tema:

«A evangelização obedece ao mandato missionário de Jesus: "Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado" (Mt 28, 19-20)

Nestes versículos, aparece o momento em que o Ressuscitado envia os seus a pregar o Evangelho em todos os tempos e lugares, para que a fé n’Ele se estenda a todos os cantos da terra

Na Palavra de Deus aparece constantemente este dinamismo de "saída", que Deus quer provocar nos crentes Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf Gn 12, 1-3) Moisés ouviu o chamamento de Deus: "Vai; Eu te envio" (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf Ex 3, 17) A Jeremias disse: "Irás aonde Eu te enviar" (Jr 1, 7) Naquele "ide" de Jesus estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova "saída" missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (Papa Francisco, Evangelii gaudium, 19-20).

Dizemos que a Igreja é missionária, que a sua essência é a missão, a saída e o êxodo Não há Igreja para si mesma, nem para se sustentar a si mesma, mas Igreja por e para os outros A Igreja como comunidade de crentes não é o somatório dos que acreditaram em Jesus por sua própria conta e que se reúnem para si mesmos: a Igreja é uma realidade que procede de Jesus, é algo prévio aos crentes, que acolhe e alberga no seu seio cada uma das pessoas que fazem parte dela pela sua fé em Jesus Cristo A fé de cada um dos que fazem parte da Igreja só é plena e perfeitamente possível em comunidade, naquela santa comunidade que procede de Jesus Cristo, sustentada pelo seu Espírito

A Igreja, esse corpo místico de Cristo, sua Esposa, não deveria ser uma Igreja que só pensa em si própria e na sua subsistência, mas uma Igreja dos homens e das mulheres e ao serviço dos homens e das mulheres. É dever da Igreja ser para os

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homens e não para si mesma. Por isso, nesse ser para os outros, deve forjar testemunhas que, como sinais para todos, tornem patente a graça de Deus que atua em todas as partes do mundo Portanto, a «eclesialidade», na Igreja, deve significar que todos os homens e mulheres da Igreja estejam ao serviço de todos, sem exceção De facto, a missão da Igreja é servir O coração da Igreja é a oração e da oração e do encontro com o Ressuscitado brota o serviço Portanto, o serviço habita no coração da missão «Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (Mc 10, 43-45) Servir os pobres, os idosos, os excluídos, os marginalizados da sociedade; servir todos os que não têm poder e que não podem ostentar poder, nem fama, nem êxito, nem pagar a quem os serve A Igreja e, por assim dizer, os homens e mulheres que dela fazem parte devem lutar pela justiça, pela liberdade e pela dignidade humanas, mesmo que isso os prejudique.

A missão, portanto, é a salvaguarda do ser humano, do homem na sua unidade total, espírito corporal e corpo espiritual; salvaguarda do homem que também é mistério, do homem da eternidade e da finitude

Se a Igreja procede de Jesus, também d’Ele procedem a missão e o envio Jesus Cristo envia para a sua missão de compaixão Pois Ele é o enviado do Pai e nós somos enviados n’Ele, por Ele e como Ele E somos enviados porque o próprio Jesus Cristo quis contar connosco para levar por diante a missão que o Pai lhe confiou Ele enviou-nos Jesus é o envio do Pai – pois Ele é o Reino, o coração do mundo que habita toda a criação – e o enviado, a segunda Pessoa, enviada desde toda a eternidade para «redimir» Assim como tudo o que existe existe por Ele e n’Ele, também a nossa missão e o nosso envio existem pelo Filho e no Filho e procedem do Filho. Com a oferenda das nossas vidas, fazemo-nos filhos com o Filho, partilhando a sua missão.

Em suma, a missão de compaixão pelo mundo é a missão de Jesus, a missão que o Pai lhe confiou e à qual Ele nos chama, fazendo de nós seus colaboradores.

E o que é uma missão de compaixão?

Uma missão de perfeita e plena entrega a toda a criação, na medida do próprio limite e possibilidade E o modelo de entrega é o próprio Deus Deus que, sem deixar de ser Deus, pode dar-se ao mundo mediante a Encarnação do Filho, mediante a saída de si mesmo como ágape, constituindo a verdade, a realidade e a possibilidade fundamental de Deus

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Por outras palavras, a essência de Deus é essa entrega perfeita, essa saída de si O Pai, na saída plena e na entrega perfeita de amor, gera o Filho e inspira o Espírito Santo Na sua essência de entrega, de perfeito amor, Deus não pode deixar de amar E nesse «amar e entregar-se» serve, serve-nos, faz-se nosso servo

O perfeito amor de Deus é oblativo, saído de si mesmo, amor tão perfeito que cria aquilo que ama E assim como o Filho é gerado no amor do Pai, tudo o que existe é criado no Filho, com a vida do Filho, participando do Filho E como o Pai ama o seu Filho gerado, ama tudo o que criou pelo Filho, porque ama o Filho

Todo este labirinto para vislumbrar o mistério! Tentar traduzir por palavras que nunca poderão exprimir em toda a sua extensão a exuberância do amor de Deus que, ao gerar o Filho, o envia na sua missão de amor, de misericórdia e de compaixão para «levar a cabo a redenção do género humano», na eterna encarnação do Verbo em que se faz presente o Deus Trindade.

A essa mesma missão somos chamados – e unidos – por Jesus Cristo, como colaboradores da sua missão de amor Nela, será a nossa vida que completará a ação de Jesus Cristo no mundo, cristalizando o amor de Deus mediante gestos concretos, chegando a todas as periferias existenciais, restaurando vidas, sendo testemunhas da graça de Deus presente em todos os confins da criação

Jesus chama-nos a todos, homens e mulheres de todos os tempos, para que, unidos a Ele, colaboremos na sua missão de compaixão, ajudando a levar a plenitude do Reino que está no meio de nós, entre o já e o ainda não.

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Entrada espiritual

Voluntários do Reino do Pai

O mundo atual enfrenta numerosos desafios O Santo Padre convida-nos, por isso, a rezar e a tornar-nos mais conscientes das consequências das crises em que estamos mergulhados: a crise económica, a crise provocada pelo terrorismo, a violência contra o planeta, as perseguições políticas e religiosas. Francisco chama-nos a rezar e a mobilizar-nos, como seguidores de Jesus, para colaborar na sua missão de compaixão pelo mundo, na construção de um mundo mais fraterno e mais solidário. A nossa disponibilidade apostólica para a sua missão de compaixão é a chave da nossa missão.

Mesmo que o panorama mundial se possa apresentar desolador, a crise atual não tem conseguido apagar o anseio profundo que existe no ser humano de que o mundo se torne mais digno, justo e fraterno para todos O grande desafio com que nós, seres humanos, crentes ou não, nos confrontamos é encontrar caminhos novos para fazer com que a vida seja mais humana, digna e sã E nisto se resume a missão de compaixão, em entusiasmar-nos, fazer vibrar, trabalhar em suma, em fazer-nos orar e mobilizar as nossas vidas para responder aos desafios que o Santo Padre nos propõe, mensalmente, nas suas intenções de oração Estes desafios são o lugar de encarnação da missão de Cristo para a Rede Mundial de Oração É ali, nas intenções de oração do Papa, que se concretiza a nossa missão

Devemos recuperar o entusiasmo pela missão de Cristo, a paixão pelo seu Reino de justiça e de amor. Porém, nós, os seguidores de Jesus, não levamos a missão por diante de qualquer maneira, fazemo-lo com o estilo de Jesus. Assim, é o Caminho do Coração que nos ajuda a sintonizar com as atitudes e os sentimentos de Jesus e a sair ao encontro dos irmãos

Do encontro pessoal e insubstituível que temos com Ele na oração brotarão, do nosso interior, os sentimentos e as atitudes que mobilizavam o Coração de Jesus ao ver o sofrimento de tanta gente Ele procurou, antes de mais, que a existência das pessoas fosse mais digna e propôs com a sua vida um estilo particular para que o mundo se torne mais justo Aproximando-nos do Coração de Jesus, aproximamo-nos também dos seus sofrimentos e dos seus sentimentos por todos Por isso, o Caminho do Coração que estamos a percorrer conduz-nos a uma missão de compaixão pelo mundo

Precisamos de deixar que o Amor de Deus nos alcance e que as atitudes de Cristo marquem o nosso estilo pessoal. Daí brotará, dentro de nós, o entusiasmo pela sua

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causa ou pela sua missão concreta, a paixão pelo seu projeto de uma vida mais humana e ditosa para todos O amor do Senhor forja em nós o seu estilo para levarmos a cabo a sua missão

O amor do Pai, manifestado em Jesus, não é teórico É um amor concretizado em palavras, gestos e obras, que devemos encarnar na nossa vida, no lugar onde se concretiza a missão: os desafios da humanidade e da missão da Igreja

Seguidores do Ressuscitado

Na Igreja, e fazendo parte de uma Rede Mundial de Oração, cada um de nós é um apóstolo da oração ou, como o Papa Francisco gosta de dizer, somos «discípulos missionários» Colaboramos com Jesus na sua missão, respondendo ao chamamento particular que o Papa nos dirige mediante as suas intenções.

Em cada mês, o Santo Padre pede que mobilizemos o nosso amor, para que este não fique só por palavras ou por sentimentos epidérmicos. A nossa maneira de amar Jesus deve refletir-se em gestos de compaixão, solidariedade e misericórdia para com os demais O nosso amor, na Igreja, deve anunciar Cristo «A Igreja deve conduzir a Jesus: é este o centro da Igreja Se alguma vez a Igreja deixasse de conduzir as pessoas a Jesus, seria uma Igreja morta» (Papa Francisco, Homilia em Santa Marta, 7 de setembro de 2013)

Ele enviou-nos para que todos os povos se tornem seus discípulos (cf Mt 27, 19), mediante ações através das quais se torne patente que o reino de Deus já está no meio de nós

A nossa maneira de viver na sociedade atual deve ser uma alternativa de estilo de vida que construa relações mais sãs e um mundo mais justo e mais fraterno

Se acreditarmos um pouco mais na força do testemunho e no poder transformador que têm os nossos gestos no coração dos outros, esforçar-nos-emos para que o mundo continue a acreditar que Jesus está vivo no meio de nós. Ninguém se convence de que Cristo é uma boa notícia para o homem mediante discursos, tratados ou documentos Quando, no Evangelho, as pessoas se encontram com o Mestre, sentem-se atraídas por Ele, porque Jesus manifesta um interesse autêntico e verdadeiro pelas suas vidas Como havemos de proceder nós? Revelando, com os nossos gestos, que o outro é importante para nós Esta atitude é fruto da oração e do encontro pessoal com Jesus, que nos faz olhar as pessoas com os seus olhos

O Papa Francisco já repetiu em várias ocasiões que «quem não acredita ou não

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procura Deus, talvez não tenha sentido essa inquietação porque lhe faltou um testemunho» A nossa responsabilidade como discípulos missionários é anunciar, com a nossa vida, que Deus ama o homem de forma incondicional E para que possamos expressar corretamente esse amor, devemos discernir bem quais os gestos concretos que o tornam credível e quais os gestos que não pertencem ao coração do cristianismo

De cada vez que a nossa compaixão, solidariedade e misericórdia alcançam a vida das pessoas que se sentem excluídas de um sistema que descarta vidas, estamos a fazer presente o reino de Deus Quando contribuímos para promover uma sociedade mais justa e fraterna, mais sã, digna e solidária, estamos a anunciar que o projeto do Pai é uma realidade sempre presente

Nós, cristãos, devemos ser uma alternativa credível de que é possível viver de maneira mais humana, numa sociedade onde se construa uma «cultura do encontro».

O nosso estilo de vida deve ajudar a desterrar da sociedade o crescimento da solidão, a incomunicabilidade e o pragmatismo nas relações.

O convite que o Papa Francisco nos faz em cada mês é rezar e mobilizarmo-nos juntos para fazer frente aos desafios com que nos deparamos É esta a forma de nos sintonizarmos com o Coração de Jesus, que não permaneceu indiferente perante o sofrimento da humanidade A atuação de Jesus foi sempre em prol de uma vida mais saudável e fraterna para todos

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Entrada segundo as palavras do Papa

«Evangelizar é tornar o reino de Deus presente no mundo "Nenhuma definição parcial e fragmentada, porém, chegará a dar razão da realidade rica, complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com o risco de a empobrecer e até mesmo de a mutilar" Desejo agora partilhar as minhas preocupações relacionadas com a dimensão social da evangelização, precisamente porque, se esta dimensão não for devidamente explicitada, corre-se sempre o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora.

O querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade

Confessar um Pai que ama infinitamente cada ser humano implica descobrir que "assim lhe confere uma dignidade infinita" Confessar que o Filho de Deus assumiu a nossa carne humana significa que cada pessoa humana foi elevada até ao próprio coração de Deus Confessar que Jesus deu o seu sangue por nós impede-nos de ter qualquer dúvida acerca do amor sem limites que enobrece todo o ser humano A sua redenção tem um sentido social, porque "Deus, em Cristo, não redime somente a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os homens" Confessar que o Espírito Santo atua em todos implica reconhecer que Ele procura permear toda a situação humana e todos os vínculos sociais: "O Espírito Santo possui uma criatividade infinita, própria da mente divina, que sabe prover a desfazer os nós das vicissitudes humanas mais complexas e impenetráveis"

A evangelização procura colaborar também com esta ação libertadora do Espírito O próprio mistério da Trindade recorda-nos que somos criados à imagem desta comunhão divina, pelo que não podemos realizar-nos nem salvar-nos sozinhos A partir do coração do Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a ação evangelizadora.

A aceitação do primeiro anúncio, que convida a deixar-se amar por Deus e a amá-lo com o amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas suas ações uma primeira e fundamental reação: desejar, procurar e levar a peito o bem dos outros Este laço indissolúvel entre a receção do anúncio salvífico e um efetivo amor fraterno exprime-se em alguns textos da Escritura, que convém considerar e meditar atentamente para deles tirar todas as consequências É uma mensagem a que frequentemente nos habituamos e repetimos quase mecanicamente, mas sem

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nos assegurarmos de que tenha real incidência na nossa vida e nas nossas comunidades

Como é perigosa e prejudicial esta habituação que nos leva a perder a maravilha, o fascínio, o entusiasmo de viver o Evangelho da fraternidade e da justiça! A Palavra de Deus ensina que, no irmão, está o prolongamento permanente da Encarnação para cada um de nós: "Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (Mt 25, 40) O que fizermos aos outros tem uma dimensão transcendente: "Com a medida com que medirdes, assim sereis medidos" (Mt 7, 2); e corresponde à misericórdia divina para connosco: "Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado (…). A medida que usardes com os outros será usada convosco" (Lc 6, 36-38). Nestes textos exprime-se a absoluta prioridade da "saída de si próprio para o irmão", como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus. Por isso mesmo, "também o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência" Assim como a Igreja é missionária por natureza, também brota inevitavelmente dessa natureza a caridade efetiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove»

(Papa Francisco, Evangelii gaudium, 176-179)

Para aprofundar. Recursos. Anexo três: «O marginalizado com lar».

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Entrada segundo a oração

Os desafios da compaixão Cada pessoa deixa as suas marcas nos outros Algumas são dolorosas, mas outras estão cheias de amor, aceitação, compaixão e misericórdia Temos que agradecer a muitos aquilo que somos Ao longo da nossa vida, certamente nos temos deparado com pessoas que nos têm dado um conselho oportuno ou um cordial aperto de mão, e não faltaram, decerto, os abraços calorosos e amigos, que nos transmitiram segurança e serenidade. Essas pessoas deixaram em nós uma marca de amor indelével. Podes imaginar a marca indelével que Jesus deixou em todas aquelas pessoas que curou, libertou ou ressuscitou? Jesus encontrou-se com um povo necessitado de compaixão e entregou-se-lhe até à morte

Jesus, porém, não era um curandeiro Não veio para remendar a vida das pessoas nem para pôr panos frios nos conflitos, mas para iniciar uma revolução interior e profunda, que começa no coração de cada homem, na esperança de que a mesma se estenda até aos confins do mundo Inaugurou uma missão de compaixão

Jesus convida-nos a viver a partir da compaixão, como atitude fundamental da vida A compaixão resume a dinâmica amorosa cuja iniciativa é do Senhor e que somos chamados a imitar com os outros Ele pode contar com a nossa colaboração, para que a proposta de amor do Pai chegue até aos confins da terra? Jesus não foi indiferente à dor, à esperança e à fé do seu povo. Deixou que a vida dos outros ressoasse fortemente no seu coração e agiu em consequência disso, com o seu amor e misericórdia. Essas situações foram desafios da sua época, que tocaram profundamente o seu coração. Foram certamente temas de conversa entre Jesus e o seu Pai, nos seus momentos de oração.

Para ter parte com Jesus, precisamos de transformar o nosso coração, de entrar em sintonia com o d’Ele, de escutar a voz de Deus no nosso interior e de aprender a olhar com os seus próprios olhos Só assim haverá garantia da nossa disponibilidade interior para aquilo que o Espírito de Deus nos inspirar De que modo desenvolveu Jesus a sua missão de compaixão e como poderemos nós colaborar com Ele?

O primeiro desafio com que Jesus se deparou foi com a necessidade de anunciar que o amor do seu Pai é gratuito. Este foi e será sempre o primeiro e o maior desafio. Sentir-se amado gratuitamente. É maravilhoso sentirmo-nos amados por aquilo que somos e não pelos nossos êxitos e conquistas Viver o amor gratuito é uma experiência que nos funda como seres humanos Quando podemos experimentar este amor, abrimo-nos à relação com os outros de coração agradecido

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Não há experiência mais profunda para gerar um coração compassivo do que sentirmo-nos amados de forma incondicional Jesus precisa que entendamos isto: o amor que Ele nos tem não se deve aos nossos êxitos e conquistas pessoais É esta experiência de amor que nos abre à compaixão pelos outros

O segundo grande desafio que Jesus reconheceu no seu tempo foi ajudar os outros a recuperar a confiança em si próprios Quando, por alguma circunstância da vida, não conseguimos realizar os nossos sonhos ou alcançar as nossas metas, sentimos interiormente que as nossas forças decaem e a nossa confiança se dissipa. É nesse momento que precisamos dessa palavra oportuna que nos consegue devolver a confiança. Essa mão firme que se estende e nos faz pôr-nos novamente de pé Jesus ajudou a que muitos recuperassem a confiança em si próprios, fazendo-os sentir a sua vida ressurgir de novo É a experiência de renascer que nos volta a pôr em andamento Sentir que alguém nos ajuda a recuperar a confiança em nós mesmos é uma dessas vivências que com maior força se nos gravam na alma A presença de outro, a sua ajuda, o seu alento pode ajudar-nos a redescobrir o nosso valor diante do Senhor e a maneira como Ele nos olha Por isso, a confiança em nós mesmos deve surgir do nosso próprio valor aos olhos de Deus e de nos sentirmos amados por Ele

O terceiro desafio de que Jesus se apercebeu foi o da necessidade de ajudar os outros a experimentarem o perdão e a misericórdia. Quando amamos outra pessoa de verdade, ansiamos por não a defraudar Queremos ser-lhe fiéis e entregar-nos de coração a essa relação Nalgumas ocasiões, porém, não somos suficientemente coerentes com esse desejo de entrega e falhamos Todos nós já experimentámos o que significa quebrar a confiança de outro e, quando isso acontece, sentimos uma dor imensa e a necessidade de restabelecer a comunhão Com efeito, o nosso coração foi criado para a comunhão, quando sentimos que a quebrámos precisamos de a recuperar Sentirmo-nos perdoados é a experiência maior do amor gratuito Porque quando não há mérito para ser amado, quando fica a descoberto a nossa própria miséria e não há máscara capaz de ocultar a fealdade do nosso pecado, há alguém que volta a acreditar em nós e nos volta a oferecer o seu amor e a sua confiança. Jesus restabeleceu o vínculo de amizade entre Deus e os seres humanos. Anunciou-nos que o Pai não se cansa de perdoar e de oferecer o seu amor.

Jesus reconheceu numerosos desafios presentes na sociedade do seu tempo, tornou-os visíveis e deu-lhes resposta Esses desafios eram desigualdades, vazios, injustiças, opressão, exclusões mútuas, «sem-sentidos» da sua época que provocavam sofrimento a numerosos homens e mulheres Jesus contemplou, rezou a

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seu Pai e discerniu essas realidades, às quais depois deu resposta. Assim, em primeiro lugar, ensinou que aquele a quem chamavam Deus era «Pai» de todos, amava a todos sem excluir ninguém e de modo especial os mais frágeis, os mais necessitados e os mais pobres Era um Pai que fazia nascer o Sol sobre justos e injustos

Esse mesmo Espírito de Jesus, que o inspirou naquele tempo, inspira hoje, no seio da Igreja, os desafios deste tempo, para que sejam atendidos e se lhes dê resposta Na atualidade, são estes os desafios da humanidade e da missão da Igreja que estão presentes nas intenções de oração do Papa A Igreja discerne esses desafios, contemplando o mundo e percebendo as intenções do Coração compassivo de Jesus

Como Bispo de Roma e sucessor de Pedro, o Papa torna visíveis os desafios do nosso tempo, do modo como Jesus os apreendeu e os comunicou aos seus discípulos. Jesus entendeu que, para dar resposta a esses desafios, não o poderia fazer sozinho, era necessário fazê-lo em comunidade. A Igreja convida-nos, hoje, a fazer parte desta Rede Mundial de Oração que, mediante a oração e a ação, colabora com Jesus na sua missão de compaixão pelo mundo

A Rede Mundial de Oração do Papa deseja estabelecer ligação entre as pessoas e o Coração de Jesus, para que, sentindo como Ele, possam assumir, com o mesmo espírito de Jesus, os desafios que a Igreja nos apresenta, colaborando assim na construção do Reino

Para aprofundar. Recursos. Anexo um: «Escandalizar com a ternura».

Proposta

de Exercício

Disponibilidade para a missão de Cristo Convidamos-te a que entres num exercício inspirado no livro dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola. É uma adaptação dos pontos 230 a 237. Gasta o tempo necessário para te encontrares com o Senhor de coração a coração. Fazendo silêncio interior, entra em clima de oração:

1 A primeira coisa que convém reter é que o amor deve traduzir-se mais em obras do que em palavras O amor é decisão e obra concreta

2 A segunda coisa é que o amor é comunicação, na qual os que se amam se dão e comunicam através daquilo que têm e podem Cada um, na medida das suas posses e segundo as suas possibilidades E vice-versa, os que se amam exprimem carinho, amor e entrega naquilo que trocam entre si

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Depois de teres passado algum tempo a considerar estas duas coisas, imagina que te encontras diante de todos os santos e santas do Céu, e até mesmo da Mãe de Jesus, com os anjos do Senhor Estão todos aí presentes para ti e acompanham-te neste momento Eles serão teus amigos e teus aliados

1 Neste momento, pede ao Senhor que te dê a conhecer todo o bem que Ele te deu e que tu recebeste Que te ajude a reconhecê-lo e a saboreá-lo, para que, tendo-o reconhecido por completo, inteiramente, possas disponibilizar-te para a sua missão de compaixão pelo mundo e colaborar nela com Ele

2 Evoca aquilo que viveste neste percurso do Caminho do Coração Repassa de novo pelo coração o dom do Amor do Pai, manifestado em Jesus Cristo; o modo como Ele reconheceu o teu coração ferido e necessitado, como nunca deixou de estar ao teu lado para te perdoar, curar e libertar daquelas coisas que te escravizam. Volta a olhar o mundo entre as suas tensões de vida e de morte, e pensa como o Espírito do Senhor vem em tua ajuda e te apoia quando escolhes a vida Medita, reflete sobre o bem que o Senhor te oferece sustentando-te na vida como criatura amada e salva por Ele E depois de teres saboreado estas coisas no teu interior, interroga-te sobre aquilo que gostarias de oferecer ao Senhor como resposta de amor a tanto bem que Ele te tem dado O que pensas que seria justo e conveniente entregar-Lhe ou o que desejas oferecer-lhe?

3 Repara agora como o Senhor está presente e vem a ti em toda a criação, nas pessoas com quem partilhas a vida, amigos, família; em todas as situações que vives no trabalho, no estudo, no lazer; nos lugares que percorres, em toda a natureza (animais, plantas, ar) Nos elementos da criação que tu conheces e naquilo que nem sequer sabes que existe nalgum recanto do planeta Noutros irmãos, de outros continentes ou países. Percorre o mundo, gasta o tempo necessário para imaginares toda a criação que o Senhor te ofertou, para que, ao vê-lo, te recordes d’Ele, que assim te quer chamar a atenção. E interroga-te sobre aquilo que sentes no teu coração, ao contemplar tantos dons. O que brota do teu coração? O que estarias disponível a oferecer?

4 Considera, neste momento, como o Senhor atua e trabalha por ti em toda a criação Mantém a vida, aperfeiçoa-a, fá-la crescer O Senhor habita nas coisas e nas criaturas, trabalha em todas as situações e dispõe tudo para bem daqueles que ama Medita e saboreia o modo como o Senhor trabalha e sustenta a vida para ti, a partir do âmago da criação O que brota do teu interior? Que resposta dás ao Senhor por este trabalho que Ele faz por ti?

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5. Considera como toda a criação não poderia ter-se dado a vida nem sustentar-se a si própria Tudo – absolutamente tudo – provém do Pai Tudo é dom: o bem, a beleza, a justiça, a bondade, qualquer qualidade que haja em ti provém de Deus, tudo o que admiras e amas provém de Deus Ele é o dador universal, nada há fora d’Ele, tudo existe n’Ele, por Ele e para Ele Incluindo tu próprio Contempla aquilo que amas e admiras, as qualidades dos teus irmãos Deixa que o teu coração se emocione e aprecia tantos dons que há no mundo

6 Oferece ao Senhor tudo o que és e possuis, pois d’Ele vens; oferece-lhe a tua vida, disponibilizando-te para o serviço da sua missão de compaixão pelo mundo Reza com devoção e afeto a nossa Oração de Oferecimento, para concluíres este momento de oração

Pai de bondade, eu sei que estás comigo. Aqui estou neste dia. Coloca mais uma vez o meu coração junto ao Coração do teu Filho Jesus, que se entrega por mim e que vem a mim na Eucaristia.

Que o teu Espírito Santo me faça seu amigo e apóstolo, disponível para a sua missão

Coloco nas tuas mãos as minhas alegrias e esperanças, os meus trabalhos e sofrimentos, tudo o que sou e tenho, em comunhão com os irmãos e irmãs desta rede mundial de oração.

Com Maria, ofereço-te o meu dia pela missão da Igreja e pelas intenções de oração do Papa e do meu bispo para este mês Ámen.

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Prática do exame temático

Aquilo que define o centro do nosso carisma na Rede de Oração do Papa é «a atitude de disponibilidade» A abertura do coração e da mente para nos deixarmos conduzir para onde o nosso serviço seja maior, na missão de compaixão de Jesus Cristo pelo mundo Essa atitude de disponibilidade, porém, não se concretiza nesta ou naquela obra, é uma disposição interior que se concretizará ou não na ação

Além disso, como já meditámos, esta missão concretiza-se para nós nas intenções de oração que o Papa nos encomenda em cada mês Estas intenções são desafios do mundo que pedem para ser atendidos: os nossos irmãos e a nossa casa comum sofrem as suas consequências negativas Não devemos enganar-nos pensando que estes desafios por vezes só dizem respeito a realidades distantes de nós e que só podemos rezar à distância, sem ser necessária a nossa ação. Mês após mês, de cada desafio é possível extrair atitudes concretas para a nossa vida diária que nos poderão ajudar a «fazer descer à terra» a intenção que nos é confiada. É esse o grande desafio, «irmanarmo-nos» na intenção, aplicando na nossa vida quotidiana as atitudes de base subjacentes a cada intenção

Por exemplo, quando o desafio nos propõe «rezar pelos jovens de África, para que encontrem oportunidades de trabalho e estudo nos seus próprios lugares», podemos rapidamente pensar nos jovens e nas oportunidades que eles têm nas nossas próprias comunidades, bairros ou países E de que modo nos temos envolvido ou podemos envolver na ajuda a dar nesse sentido

Neste momento, propomos-te que releias o modo como concretizas, na tua vida diária, as atitudes subjacentes à intenção deste mês Se as aplicas na tua vida quotidiana

1. Dá início a este momento de releitura distanciando-te das tuas atividades quotidianas. Faz silêncio no teu coração, respira várias vezes de forma pausada. Toma consciência de que o Senhor se faz presente para ti, vindo ao teu encontro.

2. Agradece ao Senhor a tua participação na Rede Mundial de Oração do Papa, o chamamento que te faz para seres apóstolo ao serviço da sua missão de compaixão pelo mundo Agradece o facto de Ele te ter escolhido

3 Repassa a intenção que o Papa nos confia e tenta descobrir que atitudes de base encerra: diálogo, paz, concórdia, criatividade, solidariedade, escuta, ser ponte, cultivar a oração, etc

4 Pensa como tens vivido estas atitudes ao longo do mês Evoca a tua vida, dia após dia, na tua família, trabalho, lazer e comunidade

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5. O que gostarias de ter vivido de maneira diferente?

6 O que desejas fazer daqui por diante? Que atitude concreta desejas cultivar até ao fim do mês?

7 Põe por escrito o teu propósito

8 Coloca-o aos pés de Jesus Cristo e pede ajuda ao Espírito Santo para te tornares disponível, cultivando a atitude proposta

9 Despede-te do Senhor e conclui este momento

Para aprofundar. Recursos. Anexo dois: «Rezar com a vida»

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Recursos Anexo um Escandalizar com a ternura

J. Vanier diz, no seu livro intitulado Amar até ao extremo, que «Jesus nos pede que o sigamos pelo caminho da pequenez, da comunhão, do coração, do perdão, da confiança e da vulnerabilidade, sem renunciar, noutros momentos, a assumir o papel de responsáveis e de mestres, chamados a exercer uma certa autoridade sobre pessoas e grupos, com força e justiça, bondade e humildade Pede-nos que vivamos toda a loucura do Evangelho: amar sem medida, ser compassivos, não julgar mas perdoar sem cessar, chegando ao ponto do amor ao inimigo Isto é impossível se não nos despojarmos das nossas próprias vestes e nos tornarmos verdadeiros homens, despidos diante de Deus, para " nos revestirmos de Cristo"»

Sabemos que ser bons não é nada fácil e que ser coerentes não é coisa que se faça de uma vez para sempre Implica viver um desejo contínuo de nos revestirmos de Cristo para comunicarmos ao mundo a beleza, a bondade e a verdade do seu amor. Sabes uma coisa? Há pessoas que dependem da tua coerência de vida para se aproximarem de Jesus. Sim, precisam do testemunho da tua vida, da beleza das tuas palavras, da bondade do teu coração e da coragem de viver, sabendo que Deus te ama em toda a tua verdade, sem te julgar.

Somos convidados a expressar com simplicidade de coração o amor que Deus derramou nos nossos corações Devemos assumir o papel de manifestar ao mundo a alegria e a esperança que nascem da fé Devemos atrever-nos a escandalizar o mundo com a ternura

Anexo dois

Rezar com a vida

Todos nós conhecemos a antiga tensão entre a oração e a ação. Se rezamos sem uma perspetiva social ou apostólica, é-nos recordado que «Nem todo o que me diz: "Senhor, Senhor" entrará no reino dos Céus» (Mt 7, 21) No entanto, se nos dedicarmos plenamente à ação apostólica, corremos o risco de nos recitarem as palavras de Jesus: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada» (Lc 10, 41-42)

Em certas ocasiões, a oração cristã corre o risco de transitar por «um caminho paralelo aos caminhos da vida» (Juan Martín Velasco, 2008, p 129) Não pode estar desvinculada, indiferente aos acontecimentos do mundo, porque a Igreja orante não pode esquecer que recebeu o mandato de «ir e fazer discípulos» (cf Mt 28, 19)

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O Papa confia, em cada mês, à sua Rede Mundial de Oração uma intenção que devemos levar à oração e à ação Essa intenção toca a vida de cada homem e mulher do planeta É uma chave de leitura para compreendermos o curso da vida que se desenrola à nossa volta e um apelo a viver em coerência com aquilo por que estamos a orar

A disponibilidade apostólica de que precisamos para aderir ao projeto de construir o reino de Deus juntamente com Jesus Cristo não será possível sem uma conversão da sensibilidade e sem uma oração profunda, íntima e apostólica A oração liga-nos ao mundo, porque a vida é concreta «Deus mora nas coisas reais, nos lugares reais e nas pessoas reais» (Juan Martín Velasco, 2008). A Igreja orante e apostólica é chamada a estar presente onde quer que haja necessidade de anunciar a fé, mas também onde houver um abandonado a quem acolher, um «rejeitado» a quem integrar, um faminto a quem alimentar, um nu a quem vestir, um preso a quem visitar… Enfim, onde o coração compassivo de Jesus quer estar presente por meio da nossa ajuda concreta e eficiente A intenção de oração mensal encarna a nossa oração e ação nesta missão

Anexo três

O marginalizado com lar

Olhar o sofrimento através do ecrã do televisor é sempre menos impactante e terrível do que ver tanta gente marginalizada e, em muitos casos, idosos que vivem nas praças, nas ruas ou becos das nossas grandes cidades. Detiveste-te alguma vez a olhá-los e a aproximares-te deles? Talvez. O certo é que, na maioria dos casos, vivemos tão apressados e apenas mergulhados nos nossos pensamentos, que a dor e o sofrimento dos outros acabam por fazer parte da paisagem quotidiana

Há muitas pessoas que sofrem igualmente a marginalização, a solidão e o abandono nas nossas cidades, embora não vivam propriamente na rua Muitas delas são idosas e circulam pelos corredores das nossas casas, sentam-se nas nossas salas de estar e partilham connosco o pão de cada dia Não vivem na rua, têm um lugar onde repousar, mas sentem-se igualmente expostas à intempérie, sem afetos nem cuidados Não deixam de partir o pão, de se alimentar devidamente, como deve ser, mas sentem falta daquele tempo precioso que nos é oferecido pela escuta empática e cordial O sofrimento e a pobreza, a solidão e o abandono, a marginalização e até mesmo os maus-tratos já não são realidades que vemos apenas nas ruas: também se encontram debaixo do nosso teto.

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O Papa Francisco convida-nos a olhar a vida que levamos e a juntarmo-nos perante um grande desafio que ele próprio apresentou numa intenção de oração: «Para que os idosos, marginalizados e as pessoas solitárias encontrem oportunidades de encontro e solidariedade, inclusive nas grandes cidades» As ruas não se deveriam converter em lar de ninguém, e muito menos de idosos Os nossos lares, porém, também não se deveriam transformar em lugares onde os nossos avós ou as pessoas idosas sejam marginalizados Precisamos de recuperar aquilo que nos torna humanos, como Jesus nos ensinou: ser compassivos Este é um grande desafio, hoje: gerar espaços de encontro com os nossos anciãos e ser solidários com eles Lembra-te que não são só a corrupção e as políticas desumanas que geram sofrimento e dor nos outros: a indiferença também os gera

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