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Memória

ALMANAQUE | UBERLÂNDIA S.A. Fernando Vilela já sonhava com sua estrada, de Uberabinha até a ponte Afonso Pena, com ramais para Tupaciguara e Ituiutaba, desde 1904, quando fez os primeiros contatos com o governo de Minas Gerais pleiteando a concessão e as compensações para sua obra. Só em 1911, conseguiu um contrato com o Estado que lhe permitia construir a estrada, explorar o transporte de pessoas e cargas, a exploração agrícola dos terrenos marginais e a cobrança de pedágios de terceiros usuários. Inaugurado o primeiro trecho, de Uberabinha a Monte Alegre, em 7 de setembro de 1912, imediatamente começaram a circular os primeiros veículos da empresa, que se chamava Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal, um automóvel trator, dois caminhões e um ônibus. A única renda da Companhia, nesse princípio, era proporcionada pelo uso dos seus veículos porque não havia em todo o Brasil Central nem um caminhão, nem um ônibus, nenhum automóvel.

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PEDÁGIO

POR ANTÔNIO PEREIRA

Quando começaram a aparecer os veículos de particulares, Vilela instalou seus postos de pedágio que ficavam no Vau, Xapetuba, Avatinguara, Pilões e Alvorada. Nesses pontos, havia uma porteira trancada a cadeado. Nos primeiros anos, a empresa passou por sérios problemas. O governo de Minas não cumpriu a subvenção contratada de quatro contos por quilômetro, havia poucos veículos particulares e, portanto, pouco pedágio, e a Guerra de 1914 restringiu as importações de combustíveis, peças e veículos. Só em 1920 houve o deslanche da empresa que chegou a abandonar o serviço de cargas e passageiros, deixando-o para os particulares. Só o pedágio lhes permitiu grandes lucros e até a abertura de uma casa bancária. Foi uma década feliz. A década seguinte, entretanto, marcou o início do combate contra o pedágio e o mau estado da rodovia. De um lado, apenas a empresa do Vilela, do outro, as associações profissionais, os caminhoneiros e a imprensa. Todos responsabilizando Vilela pelo eventual desvio do comércio regional para outros centros polarizadores. As estradas de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás deixam de cobrar pedágio, estouram as greves, a primeira delas em 1936, quando as porteiras foram quebradas e recolhidos seus cadeados. Após a última greve, nos fins de 1938, embora o governo estadual tenha reconhecido que o contrato vigoraria até 1945, Vilela abandonou suas estradas. Os últimos pedágios cobrados foram de 170 réis por quilômetro na ida, para os caminhões carregados, e 130 reis na volta; passageiro, 70 reis em automóvel ou caminhão. Em 1945, fez a liquidação da Companhia e entregou suas estradas ao Estado. A situação delas piorou e muito motorista começou a sentir saudade do tempo do Vilela.

IMABRA , A PRIMEIRA CONSTRUÇÃO NA CIDADE INDUSTRIAL

Mal Uberlândia começou a processar seus sonhos de industrialização, Benjamim Venâncio, um ex-artesão fabricante de canivete com cabo de osso, consultou a Associação Comercial sobre as vantagens que a cidade oferecia para ele transferir sua fábrica de Semeadeiras Brasil de Canápolis para cá. A carta surpreendeu todo mundo. Não havia nada pronto, além da definição do lugar onde se ergueria a futura Cidade Industrial. Era 1961. Benjamim Venâncio de Melo começou sua vida profissional fazendo canivetes num barracão ao lado do paiol de uma fazenda. Depois, montou uma oficina de consertos de máquinas agrícolas, em Canápolis. Um dia, deu-lhe na telha fazer uma maquininha. Com ferro velho e ideias foi montando e chegou ao protótipo da Semeadeira Brasil. Isso foi em 1950. Pronto o modelo, resolveu fabricar a máquina. Em Canápolis não havia

BENJAMIM VENÂNCIO DE MELO, criador da Imabra

energia elétrica, ele teve que usar motor a óleo. Com o desenvolvimento da pequena indústria, Benjamim pensou em mudar-se para uma cidade onde houvesse mais recursos. O seu produto já estava aceito. Visitava constantemente Uberlândia e soube do plano da Cidade Industrial. Logo que ganhou um lugar na área na futura Cidade Industrial, por sinal, o primeiro, Benjamim tratou de transferir-se para cá. Convidou os operários para mudar e, desembarcou com gente e máquinas no meio do cerrado. Não havia energia elétrica, nem água, nem um trilho que o levasse até o terreno. Era só mato, calango e gabiroba. O resto eram sonhos: sonho da Prefeitura, sonho da Câmara, sonho da Associação Comercial, sonho do Benjamim. Já era 1963. Só o Joaquim, irmão do Benjamim, mais cinco operários acompanharam o pioneiro. Todos com salários dobrados. E começaram a primeira construção na Cidade Industrial. Para conseguir água para os pedreiros trabalharem, tiveram que furar um poço. Não deu água. Os caminhões da prefeitura passaram a levá-la. Por fim, com a devida autorização, José Pereira Espíndola puxou água da chácara de Alexandrino Garcia, que era pertinho. Essa água só jorrou das torneiras quando a nova fábrica da Imabra estava em fase de acabamento.

As vantagens que ele recebeu para transferir-se foram: terreno gratuito, isenção de impostos municipais por 20 anos e a promessa de isenção de impostos estaduais, que nunca foi cumprida. No dia 28 de novembro de 1964, a Imabra começou a sua produção.

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