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Aldorando Dias de Souza
ALDORANDO, O SER CONCILIADOR
POR CELSO MACHADO
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Aldorando Dias de Souza, falecido em 18 de junho de 2019 foi um personagem marcante na vida de Uberlândia. Como empresário atuou nos segmentos bancário, imobiliário, hoteleiro e agropecuário, dentre outros.
“Foi secretário de finanças na gestão de três prefeitos: Paulo Ferolla, Virgilio Galassi e Odelmo Leão Carneiro. Presidiu o Uberlândia Esporte, time por quem sempre nutriu simpatia, mas foi no Praia que ficou marcado como um dos maiores dirigentes do Clube, tendo exercido a presidência por mais de dez anos, revezando com a do Conselho. Dentre as suas múltiplas características, além da capacidade empreendedora foi conhecido e reconhecido pela habilidade em ser conciliador. Filho de uma família humilde, conseguiu sucesso e destaque sem esconder suas origens. Em outubro de 2009 gravou depoimento para o programa “Uberlândia de Ontem e Sempre”, do qual extraímos trechos.”
INFÂNCIA
“Minha infância foi na Fernando Vilela quase esquina com a Monsenhor Eduardo. Foi um período muito divertido porque era em frente à estrada de ferro da Mogiana. Naquela época a charrete era o transporte e perto de casa tinha um tanque muito grande que servia de bebedouro para os cavalos. A gente aproveitava e o transformava numa piscina e nadava lá junto com os girinos que eram comuns onde havia água.”
JUVENTUDE
“Depois meu pai comprou uma casa na Machado de Assis ao lado do Cine Regente, onde moramos muito tempo. Naquele tempo fazia o Tiro de Guerra, estudava de manhã no Museu, trabalhava à tarde no Banco e à noite no Liceu. Era uma atividade intensa. Quando sobrava tempo ia para o UTC nadar, praticar um esporte, jogar futebol.”
DIFICULDADES E SUPERAÇÃO
“Meu pai começou trabalhando como padeiro, depois casou e resolveu vender quitanda. Comprava meio saco de 60 quilos de farinha, desmanchava. Minha mãe que era quitandeira de mão cheia fazia as quitandas e eu as punha na cabeça e saía vendendo.
Com o passar do tempo, ele foi ganhando algum dinheiro, construía uma casa e vendia. Construía outra e vendia. Aí resolveu mudar de atividade, alugou uma fazenda e depois a comprou lá em Martinésia. Nessa época abriu o Banco Financial e eles precisavam de um gerente. Um amigo indicou meu pai que era muito popular. Eles resolveram fazer uma experiência e meu pai se tornou um dos melhores gerentes de banco da cidade.
Em 1961, ele resolveu montar um banco. Adquirimos um no Rio e o trouxemos para cá com o nome de Banco Comercial e Industrial de Minas que, se não foi o primeiro, foi um dos primeiros de Uberlândia.
ALMANAQUE | UBERLÂNDIA S.A. Em 1964, com o movimento militar houve um entendimento do Governo que o país tinha que se adequar a uma nova realidade. Havia mais de mil bancos e esse número precisava ser reduzido. Conversei com meu pai sobre uma fusão, mas ele não topou fazer uma sociedade mais ampla. Vendemos o banco e montamos uma financeira, a Oesteval Brascap.”
POLÍTICA
“Fui candidato a prefeito em 1982 pelo PMDB numa eleição hilária. Eram dois partidos, o outro era a Arena. Cada um tinha três candidatos. Agora imagina, subir no palanque e falar mal dos demais candidatos do seu partido. Era brincadeira. Teve a eleição, o Zaire ganhou porque somou com os votos do Renato e os meus foram apenas dos amigos mesmo. Depois disso, um dia, o Homero Santos me liga de Brasília falando que precisava de mim para montar o PFL local.”
SECRETÁRIO
“Estava tranquilo no Rio e, no último ano do mandato do Ferolla, o Gladsen Guerra, que era presidente do PFL e secretário de Finanças, faleceu. Me ligaram para vir urgente e quando cheguei fui recebido no aeroporto. Lá estava o Ferolla com a imprensa e um punhado de gente e ele foi me anunciando como novo secretário de Finanças. Falei, sinceramente, não estou preparado para isso, ele respondeu não estou perguntando isso, só estou falando que não tem como você não aceitar. Fiquei com o Ferolla os oito meses restantes. Vem a eleição, o Virgilio ganha, vira pra mim e diz: você vai ser o secretário de Finanças. Falei que não podia. Ele retrucou: então tem alguma coisa errada, o Ferolla disse que estava deixando uma dívida de 30 milhões, a oposição diz que é 100, se você não quer continuar é porque é 100. Respondi que era 30 sim, aí ele sorriu e disse, então você fica comigo e vai ajudar a pagar esses 30. Fiquei quatro anos com o Virgilio. Aí tive que ficar nas gestões dele também. Sinceramente, falo que fui muito feliz com os prefeitos que eu servi. Cada um me surpreendeu mais do que o outro positivamente.
COM CERTEZA, FOI UM SENHOR UBERLANDENSE!
O PRAIA
“Nunca passou pela minha cabeça ser presidente do Praia. Sou praiano desde o tempo que você pegava aquelas boias de trator, ia lá para o Caça e Pesca, descia almoçando um franguinho com farofa. Um dia o Cícero me convidou para ser vice-presidente na chapa que estava formando, aceitei e aí aconteceu algo parecido com o que houve com o Gladsen, ele faleceu e eu tive que assumir. Eu sempre digo que a dificuldade do Praia que vai ser eterna, é que ele é um clube que não tem dono. E não tendo cada um de nós que passar por lá é pura e simplesmente para servir, não para mandar. O atual presidente do Praia, Guto Braga comenta com carinho: ”O mais importante para nós é o legado e a oportunidade que tivemos de conviver com o sr. Aldorando tantos anos. Uma convivência diária em que ele nos passou um aprendizado marcante e os caminhos que devemos seguir para o Praia Clube continuar sendo o grande cartão de visitas da cidade.”
ALDORANDO E UBERLÂNDIA
“Eu acho que Uberlândia me deu muito mais do que eu merecia. Fui muito feliz, casei aqui, meus filhos são daqui. Por isso eu digo, já morei em outros lugares mas não conheço cidade melhor do que Uberlândia não.” O prefeito Odelmo Leão Carneiro, amigo e companheiro desde os temos de juventude fala dele com apreço: “É um homem que vai ficar na minha memória. As amizades como a gente tinha antigamente eram diferentes. A gente sempre tinha uma intimidade, trocava ideias, convivia desinteressadamente. O Aldorando era uma pessoa que admirava, por conhecer quem era, o que representa de valor. Uma pessoa muito importante que fez história na vida de Uberlândia”.