Revista APÊ ZERO 1 - ed.: mai/jun 2015

Page 1

No seu condomínio. Na sua mão.

Nascidos do Coração

Distribuição dirigida Ano 13 . Nº 114 Mai/Jun de 2015

Recomeço. Escolha. Vocação. Oportunidade. Amor. Quais motivos levam uma família a adotar?




indice 8 ud Confira dicas preciosas sobre como equipar e decorar um quarto para menino, que “crescerá” junto com o dono.

10 mulher

14 viver em condominio Saiba o que diz a lei sobre imagens das gravações das câmeras do condomínio com o advogado condominial Carlos Eduardo Quadratti.

34

curiosidades da terrinha Sabe o Edifício Mariju, que fica no Centro? Então, contamos a história dele nesta edição.

Saiba mais sobre a Medicina Tradicional Chinesa e como a energia pode influenciar a saúde das pessoas.

44 pets Acupuntura para os pets? Isso mesmo! A técnica pode ajudar (e muito) a saúde deles.

38 turismo Leia sobre o centenário Castelinho Caracol, que fica na Serra Gaúcha, e como a residência abriga, hoje, um museu e a Sala de Chá, onde o tradicional e famoso apfelstrudel do local é servido.

18 capa O conceito de adoção está passando por mudanças. Veja nesta reportagem especial estatísticas atualizadas, o procedimento para entrar na fila de espera, como é feita a preparação dos novos pretendentes à adoção e quem passou pela experiência de adotar um filho.

40 3º setor Conheça a história da Bem-Te-Vi e a importância de se divulgar informações sobre o “cromossomo do amor”, presente em quem é Down.


50 cronica A história de Mariazinha e Seu Bilau, por Dr. Simão

49 classificados Lista de prestadores de serviços ideais para o seu dia a dia.

30 criancas Crianças ou seres índigo, cristal, arco-íris e diamante. Já ouviu falar?

28

47

RADAR APe

multiplicadores

Neste espaço você se mantém atualizado sobre as normas de condomínios e ainda pode tirar suas dúvidas com a gente.

Um grupo de jovens amigos dispostos a ajudar deu origem ao Somos Todos Solidários, que logo será transformado em ONG com atuação mais ampla. Conheça-os!


editorial

Entrando no 13° andar á exatos 12 anos iniciávamos uma jornada com a publicação de um jornalzinho de condomínio par quatro prédios, 600 exemplares. Era o Jornal do Condomínio, um nome um tanto óbvio, que foi ganhando força, abrangência e, principalmente, credibilidade.

h

A primeira grande mudança foi o nome, que logo passou a se chamar Jornal Portal dos Condomínios, mas foi em 2010, com uma nova equipe, que a publicação ganhou destaque na cidade de Jundiaí, quando nos tornamos uma revista! Foi o momento de dedicarmos mais tempo e aprofundamento nas reportagens. A decisão era ousada, devido a uma série de fatores como logísticas e investimentos. Mas fomos surpreendidos com a repercussão. A cada ano que se passou, conquistamos novas amizades. Conquistamos novos parceiros. Afinamos a nossa equipe para a produção de um conteúdo cada vez melhor. Um conteúdo exclusivo, mas que é fornecido graciosamente. As mudanças parecem confundir com a nossa história. Em 2012, precisamos dar força a nossa identidade e o nome Portal dos Condomínios já era muito usado no mercado. Pesquisamos e chegamos ao que é hoje: Revista APÊ ZERO 1. Há três anos estamos trabalhando continuamente na APÊ ZERO 1 com um conteúdo editorial totalmente diferenciado para o mercado de Jundiaí, com uma série de entrevistas, temas exclusivos e conteúdo aprofundado. A cada edição da APÊ ZERO 1, chegamos a entrevistar diretamente quase 30 pessoas, trabalhamos com 12 editorias, diversos colaboradores e 10 mil exemplares em mais de 140 condomínios. É muita dedicação e amor para chegar ao 13° ano da revista APÊ ZERO 1 e poder dizer: Obrigado, leitor!

Rodrigo Góes, jornalista responsável


colaboraram nesta edicao José Miguel Simão, além de síndico, leva diversão para casa dos moradores com suas crônicas sobre condomínios.

Carlos Eduardo Quadratti, advogado e jornalista que assina a editoria Viver em Condomínio e faz parte da diretoria da Proempi.

6

Motivos para anunciar na apê zero 1:

l Única revista totalmente direcionada para moradores de condomínios em Jundiaí; l 140 condomínios residenciais recebem os exemplares; l São 10 mil exemplares impressos todo bimestre; l Só recebem a revista os moradores que fazem parte do nosso banco de mailing. l As revistas são entregues com etiquetas e dados do destinatário; l Até agora foram publicadas 112 edições.

Expediente A revista APÊ ZERO 1 é a nova marca da antiga revista Portal dos Condomínios e é editada pela Io Comunicação Integrada Ltda, inscrita no CNPJ 06.539.018/0001-42.

Quer seu exemplar? Caso ainda não receba, solicite para o seu condominio: falecom@apezero1.com.br ou ligue: 11 4521-3670

Redação: Rua das Pitangueiras, 652, Jd. Pitangueiras, Jundiaí - SP CEP: 13206-716. Tel.: 11 4521-3670 -

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam o pensamento da revista.

Email: falecom@apezero1.com.br Jornalista Responsável: Rodrigo Góes (MTB: 41654) Diretora de Arte: Paloma Cremonesi Designer Gráfico: Camila Godoy

Acesse na internet Site: www.apezero1.com.br Twitter: @apezero1 Facebook: Apê Zero 1

Redação: Renata Susigan Redes Sociais: Rafael Godoy, Gustavo Koch e Mônica Bacelar Web: Adrian Medeiros

Associado:

Estagiários: Emiliana Marini, Madeleine Barbi e Matheus Oliveira Tiragem: 10.000 exemplares Entrega: Mala Direta etiquetada e direto em caixa de correspondência, mediante protocolo para moradores de condomínios constantes em cadastro da revista.

André Luiz é o fotógrafo responsável pela maior parte das fotos desta edição.

Para Anunciar 11 4521-3670 atendimento@apezero1.com.br


ud

O quarto de criança precisa ser pensado para o futuro. 8

ApĂŞ Zero 1 . Mai/Jun 2015


Cor e seguranca fazem o ideal quarto de menino Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz

1 Fotos: Divulgação

Fazer um quarto de criança é pensar que ele provavelmente “crescerá” junto com ela. Foi pensando neste conceito que a arquiteta e designer de interiores Andra Callegari decorou este quarto de menino com aproximadamente 10 metros quadrados. “Se hoje as bancadas têm brinquedos, quando a criança crescer elas poderão ser usadas para estudar, comportar livros e computador”, afirma Andra. Segundo a arquiteta, é necessário respeitar a demanda do cliente, mas também apresentar alternativas funcionais e práticas, levar em consideração a segurança da criança e fazer do cômodo um lugar alegre e aconchegante. O primeiro item a se pensar é a segurança: deixar a cama encostada na parede e uma grade do outro lado ajuda a criança muito pequena a não cair da cama, e a grade pode ser removida quando não for mais necessária; é importante evitar móveis com pontas e quinas, materiais cortantes e plantas, que não são recomendáveis em qualquer quarto. “Quanto ao piso, não pode ser muito liso nem frio para não deixar o cômodo muito gelado”, explica. “É interessante trabalhar com piso vinílico que, neste caso, imita madeira e deixa o quarto mais aconchegante.” Em alguns casos, os proprietários querem instalar um aparelho de ar-condicionado no quarto. Para Andra, a prática só é recomendável se o aparelho tiver controle de temperatura (calor e frio) e se, junto com ele, for ligado um umidificador, pois o ar-condicionado resseca o ar do ambiente. “No que diz respeito à ventilação, procuro deixar o cômodo o mais desobstruído possível para que o ar circule livremente”, explica. Andra ressalta que é importante pensar na praticidade de limpeza, por causa de alergias. “É possível limpar chão e bancadas com pano e água”, comenta. “É bom evitar usar tecidos, como cortinas e tapetes, pois estes acumulam muito pó.” Se forem imprescindíveis, o ideal é procurar produtos antialérgicos, como a persiana do quarto da foto. Quanto à iluminação, Andra projetou um jogo de luzes, que podem deixar o ambiente mais claro ou escuro, de acordo com a atividade que a criança irá realizar, como brincar, estudar ou mesmo dormir. “Pintamos a parede de azul claro, pois transmite tranquilidade, enquanto os móveis e a persiana são de cores neutras”, sugere. “Escolhemos apenas uma parede para colocar papel com tema de surfe, pois é fácil de trocar quando o menino crescer.” Como paredes, chão e persiana são neutros, é possível fazer uma decoração bem colorida, com brinquedos e porta-retratos que acompanhem o desenvolvimento do pequeno. No quarto, superheróis, uma coleção de carrinhos coloridos, objetos colecionáveis e jogos complementam a decoração e deixam o quarto do menino “vivo”.

2

3

4

5

1. Bola basquete pufe infantil R$ 110,00 www.tokstok.com.br; 2. Devon cômoda 6GV. azul R$ 1.250,00 www.tokstok.com.br; 3. Devon criado-mudo 3GV. vermelho R$ 540,00 www.tokstok. com.br; 4. Boneco Homem-Aranha 30cm R$ 47,90 www.submarino.com.br; 5. Lego Distrito Policial R$ 599,99 www.submarino.com.br. *Preços sujeitos à alteração. Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

9


mulher

Tratamento baseado na energia corporal Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é baseada em práticas desenvolvidas ao longo de milhares de anos pelos chineses. Segundo a massoterapeuta Roselene Alves, da Home Esthetics Brasil, a MTC busca o equilíbrio entre corpo, mente e emoção. “Em nosso corpo existem canais, também chamados de meridianos, e pontos de energia; cada um corresponde a um órgão e uma víscera”, explica. “Quando a pessoa apresenta alguma doença é porque algo está em desequilíbrio, ou seja, determinado canal está sem ou com excesso de energia.” Como as pessoas vivem uma vida cada vez mais agitada, sem tempo para exercitarem-se, terem um lazer, alimentarem-se adequadamente, entre tantas outras dificuldades, as técnicas da medicina chinesa tratam da fisiologia e patologias. São usadas atualmente para relaxamento, mas principalmente para diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças. “A filosofia da MTC ensina que o aspecto emocional dá sinais que, se não tratados, podem originar uma doença física”, comenta. Algumas das técnicas da MTC são a auriculoterapia, que usa sementes de mostarda presas em pontos específicos da orelha; shiatsu, massagem nos canais energéticos; ventosaterapia, aplicação de copos com vácuo no corpo para desobstruir os meridianos; e moxabustão, uma espécie de charuto de artemísia usado para retirar o frio que penetra nos canais. Engana-se quem pensa que apenas os adultos ou pessoas com determinados perfis são mais ou menos propensos a desenvolverem problemas emocionais que acarretam em doenças físicas. “Tenho pacientes de 12 a 67 anos; 50% é formado por homens e 50%, por mulheres”, descreve Rose. “As crianças atualmente têm um nível de ansiedade tão alto, que isso tem se tornado um problema físico, como por exemplo, hérnia

A

10

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

“A Medicina Tradicional Chinesa busca o equilíbrio entre corpo, mente e emoção”, explica Rose Alves, massoterapeuta.


Auriculoterapia

Shiatsu

de disco ou dores musculares.” A origem das doenças físicas das mulheres geralmente está relacionada à depressão, enquanto nos homens é a ansiedade. É importante esclarecer que mesmo na MTC existem contraindicações. Rose exemplifica que uma gestante não pode ter alguns de seus pontos energéticos trabalhados, a fim de evitar problemas com o feto. Ela acrescenta: “A moxa aquece o ponto que precisa de energia, por isso, não é indicada a hipertensos, para não estimular ainda mais a circulação de energia em canais que já estão com excesso dela.”

Primeiro contato Rose afirma que infelizmente as pessoas procuram pela MTC, considerada alternativa, após não conseguirem obter resultado na medicina tradicional ocidental, terem tomado remédios e feito tratamentos diversos, sem obterem êxito. “As pessoas procuram a medicina chinesa quando já não aguentam mais sentir dores musculares ou derivadas de reumatismo, enxaquecas, sintomas excessivos da Tensão Pré-Menstrual, entre outras.” Na primeira consulta, os pacientes de

Ventosaterapia

Moxabustão Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

11


mulher Rose preenchem uma ficha de avaliação detalhada, que inclui uma grande quantidade de perguntas, como a coloração e temperatura da urina. Ela faz inspeção da língua, avalia a maneira com a pessoa se expressa, a atitude dela perante as dificuldades, entre outros aspectos físicos e subjetivos. A massoterapeuta conta que a técnica mais procurada é a auriculoterapia, feita com as sementes de mostarda, pois é a mais conhecida. No entanto, é ela quem faz a avaliação e aplica a técnica indicada para cada caso. “A eficácia do tratamento depende da maneira como o paciente lida com a filosofia da medicina chinesa; há pessoas que vêm buscar ajuda, mas não acreditam na existência dos canais de energia”, comenta. “Elas se surpreendem com o resultado, mas é fato que se acreditam, o tratamento vai fazer efeito num prazo mais curto.” Outro fator que pode influenciar a duração da terapia é o metabolismo de cada um. As diferentes técnicas podem ser aplicadas separada ou conjuntamente. O mínimo é de cinco sessões, porém, se a doença for crônica, o ideal é que o mínimo seja de cinco a 10. De acordo com Rose, a depender da técnica, cada sessão pode ser de 30 a 50 reais. Ela dá alguns exemplos: “Para quem tem os sintomas da TPM muito exacerbados, posso aplicar a auriculoterapia e a moxa nos pontos relacionados ao útero, baço, abdome, libido e ansiedade. Em quem quer combater a obesidade, trabalho os pontos da boca, paladar, intestino, ansiedade, pois eles ajudam a estimular o funcionamento correto do metabolismo, aceleram o processo de digestão, ajudam a controlar a fome e a dar sensação de saciedade.” Rose conta que em sua própria família teve um caso em que a MTC se mostrou eficaz. Seu filho tinha bronquite asmática e estava acostumado a sofrer com as crises. “Perdi a conta de quantas vezes fomos ao hospital porque ele estava em crise. Após aplicar algumas técnicas de MTC nele, não tivemos mais problemas e suas crises mais fortes cessaram”, diz. “Prefiro não falar em cura, mas quem tem doenças crônicas e faz um tratamento sério com técnicas chinesas tem uma melhora bastante significativa na 12

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

A profissional prefere não falar em cura, mas afirma que problemas pontuais e sintomas de doenças crônicas costumam melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes que buscam ajuda nas técnicas chinesas.

qualidade de vida. Imagine melhorar de um reumatismo ou enxaqueca.” No campo da prevenção de doenças, Rose fala que ao apalpar o corpo do paciente e inspecionar sua língua periodicamente, é possível perceber o que ele precisa fazer antes de o problema ocorrer.

Ela lembra que a acupuntura feita com aplicação de agulhas no corpo não pode mais ser realizada pelo massoterapeuta como acontecia alguns anos atrás, mas apenas por quem é da área da Saúde e tem o curso de Medicina Tradicional Chinesa ou massoterapia.



Viver em Condominio

A QUEM PERTENCE AS IMAGENS DAS GRAVAcoES DAS CaMERAS DO CONDOMiNIO? QUEM PODE TER ACESSO A ELAS?

tualmente é muito comum estarmos sendo filmados em qualquer condomínio que visitamos e moramos e sem perceber vivemos num verdadeiro “Big Brother”, não esse da TV, mas o do livro de George Orwell. Muita celeuma tem surgido quanto a utilidade dessas imagens, possibilidade de instalação das câmeras, uso das imagens e direito à privacidade. Ainda não temos nenhuma lei de âmbito federal que regulamente a instalação de câmeras de monitoramento em condomínios, essa opção fica por conta de cada condomínio. Mas uma vez instalado o chamado CFTV (circuito fechado de televisão) o condomínio deve verificar a existência de leis estaduais ou até

a

14

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

municipais a esse respeito. No caso do município de São Paulo, temos a existência da Lei 13.541/2003 que determina a fixação de placas informativas com os dizeres “O AMBIENTE ESTÁ SENDO FILMADO. AS IMAGENS SÃO CONFIDENCIAIS E PROTEGIDAS NOS TERMOS DA LEI.” Não é preciso instalar uma placa em cada câmera, basta instalar placas em locais visíveis nos acessos ao condomínio. Em cidades em que não exista legislação à respeito, o condomínio deve se socorrer de seu apoio jurídico para verificar onde pode instalar câmeras, para quem e quando pode ceder as imagens. Quando o síndico recebe um pedido de acesso às imagens do CFTV, ele deve ponderar

primeiramente a finalidade de sua existência, que no caso é a preservação do patrimônio e da segurança do condomínio e condôminos. Também existe o caso de CFTV que fica disponível ao condômino via internet ou até mesmo na TV da sala. Neste caso, a instalação deve estar aprovada em assembleia e deve constar da ata os pontos onde as câmeras serão instaladas, qualquer modificação deve ser objeto de nova deliberação em assembleia. No caso de imagens de uso exclusivo do condomínio, a solicitação deve ser avaliada pelo síndico e pelo conselho e é recomendável também o apoio do jurídico. Tem ocorrido, por exemplo, de casos de infidelidade conjugal onde um dos cônjuges deseja fazer uso das imagens para constatar o fato, ou ainda pais


que querem saber quem seus filhos recebem na sua ausência. Devemos lembrar que a finalidade das imagens de CFTV não é monitorar a vida das pessoas e sim a preservação do patrimônio e da segurança do condomínio e condôminos. Há situações onde se buscam as imagens para constatar o uso de entorpecentes, agressões ou outra situação que possa ter um desencadeamento de ação penal. Nesta situação é prudente que o solicitante veja as imagens juntamente com o síndico em reservado e caso haja interesse pelas imagens o condômino deve fazer uma solicitação formal ou ainda, conforme o caso, até mesmo por meio de ordem judicial, ou por requerimento da autoridade policial. Situação mais tranquila é quando as imagens são solicitadas para constatar danos materiais tais como colisão de veículos na garagem ou pequenos furtos. Nestas situações o pedido atende diretamente o escopo da instalação do CFTV e a liberação pelo síndico pode ser feita de plano, sempre solicitada formalmente e de maneira justificada. Vale lembrar que neste caso as imagens a serem liberadas devem guardar estrita relação com o fato ocorrido, por exemplo, não há motivo para liberar uma imagem de elevador do bloco A para constatar um dano na garagem do bloco B. O condomínio também pode fazer uso das imagens para constatar fatos que impliquem em aplicação de multas e sanções aos condôminos. Neste caso o síndico deve agir com muita cautela e isenção para que o uso de imagens não se transforme no “Big Brother” que citamos no início da matéria. Outra questão é quanto à guarda dessas imagens. Na média os condomínios costumam manter as imagens por trinta dias, mas este prazo não é consenso, pois alguns crimes como o de furto ou dano têm prazos prescricionais em tempo maior e nenhum condomínio costuma armazenar imagens por tanto tempo, pois isso demandaria muito recurso tecnológico e alto custo. Sendo assim o ideal é definir em assembleia por quanto tempo as imagens serão armazenadas e fazer constar em ata este prazo, a fim de que nenhum solicitante possa alegar prejuízo ao solicitar imagens que já tenham sido apagadas, mas Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

15


lgaç ão D i vu

que o prazo de uma ação na justiça ainda não tenha decorrido. Há um brocardo jurídico que diz “dormientibus non succurrit jus” (o direito não socorre a quem dorme), por tanto, se o condômino não solicitar as imagens no prazo definido em assembleia e constante em ata, não poderá alegar prejuízo por isso. Uma boa medida é inserir no Regimento Interno – RI - do condomínio as regras sobre o uso e disponibilização das imagens do CFTV. Temos ainda que em diversas situações diferentes das já elencadas, a divulgação de imagens do CFTV poderá ser considerada ilegal e ensejar ao prejudicado ingressar com

ação contra o condomínio, seja em busca de uma indenização na justiça cível, seja uma criminalização do síndico no âmbito da justiça penal. Desta maneira, é indispensável e de grande importância que o síndico tenha pleno conhecimento das regras de uso, armazenamento e cessão das imagens do condomínio, estando estribado na lei e nas regras acordadas pela comunidade condominial, afastando assim o uso equivocado destas imagens e as consequências que podem atingir tanto os condôminos quanto a própria pessoa do síndico.

autor do artigo Autor do Artigo: Carlos Eduardo Quadratti, advogado especializado em direito condominial e de vizinhança, jornalista articulista inscrito no MTB 0062156SP.

CITAMOS ALGUMAS NORMAS INCIDENTES NA QUESTÃO: CONSTITUIÇÃO FEDERAL: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; CÓDIGO CIVIL: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

16

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015



capa

Nascidos do coração Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz, Renata Susigan e Divulgação ascidos do coração” é como Maria Fernanda Grossi explica para seus filhos adotados, de dois e quatro anos, porque eles não saíram de sua barriga, como seus amiguinhos, que saíram da barriga de suas mães. Com um ano de casamento, a professora de Educação Básica e o marido, o analista de sistemas André Martins, já pensavam em ter filhos. Como Fernanda tem casos de adoção na família e André, desde pequeno, sempre teve vontade de adotar uma criança, quando o filho biológico não veio, eles passaram a considerar mais seriamente a opção da adoção. Sem ter qualquer problema de saúde ou fisiológico, o casal não entendia porque não conseguia engravidar. Decepcionada com as tentativas frustradas, Fernanda desistiu da adoção e dizia que se não fossem biologicamente seus, ela não

“N

18

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

queria mais ter filhos. André mantinha a vontade, mas não pressionou a esposa e decidiu dar a ela o tempo necessário para aceitar sua condição. “Eu não conseguia entender porque não engravidava, mas hoje tenho consciência de que precisei viver o luto do meu filho biológico que não tinha vindo”, revela. “Conforme o tempo passou e eu percebi que queria ser mãe, não gestante, voltei a considerar a adoção naturalmente.” Fernanda afirma que ela desejava, assim como muitas mulheres, viver a experiência de estar grávida, de carregar o filho na barriga, sentir o seu desenvolvimento. Mas entendeu que seu dom é para a maternidade e não para um estado temporário, que terminaria em poucos meses. “Então, há dois anos demos entrada no processo de adoção”, conta André. O marido comenta que eles entregaram di-

versos documentos e atestados no Fórum de Jundiaí e passaram por entrevistas com psicólogas e assistentes sociais. Ele lembra que o pior momento de todo o processo, além da espera, foi preencher a ficha com as características que aceitavam na criança ou adolescente que fossem adotar. “Neste momento, você se depara com situações possíveis e tristes, que nem quer pensar, como por exemplo, se aceita que a criança tenha problemas de saúde”, ressalta. “A gente não escolhe o filho biológico, então, por que escolher sexo, idade e histórico do adotivo? É difícil, mas entendo que seja necessário, pois existem muitas crianças disponíveis para adoção e tem que haver algum critério para se chegar a um perfil para cada casal.” Eles decidiram que adotariam até três irmãos com, no máximo, cinco anos de idade. Para eles, não importava se seriam meninos, meninas ou se


Os irmãos Sofia e Vítor.

tinham alguma doença pré-existente. Os únicos itens levados em consideração foram o tamanho da casa e as condições financeiras. “Nós queríamos criar nossa família, por isso, você tem que pensar no tempo que tem para ensinar, dar atenção, brincar, orientar”, explica a mãe. Depois de serem considerados aptos para adotar, Fernanda e André entraram na fila de espera. E esperaram por um ano até encontrarem os filhos que tanto queriam. Sofia e Vítor, dois irmãos que moravam em um abrigo em Araraquara, entraram na vida do casal e mudaram-na para sempre. “O amor que temos por eles é único, nenhum outro sentimento chega próximo”, afirma Fernanda. André ressalta que quando os filhos chegaram, uniram ainda mais as famílias. “Os avós, tios, cunhados, todo mundo participa da nossa vida, nos ajuda com a logística de buscar um, levar o outro. É uma alegria”, comemora. Adaptação e nascimento Quando as crianças chegaram, pais e filhos precisaram se adaptar à nova realidade, repleta de felicidade, mas que trouxe um pouco de insegurança, inerente a quaisquer pais de “primeira viagem”. Fernanda fala que as crianças não sabiam o que era ser filho ou filha de alguém e que ela e o marido não sabiam como ser pais. “Eu os olhava dormindo e sentia medo em relação a tudo o que estava por vir, como dar segurança a eles, ajudá-los a desenvolverem sua personalidade, habilidades”, comenta. “Mas, aos poucos, tudo foi se encaixando.” O casal conta que Sofia chegou ao orfanato doente e machucada; em relação ao garoto, André afirma que a mãe sequer pôde amamentá -lo, por isso, foi enviado ao abrigo três dias após

Os pais, Fernanda e André, dividem sua história, contam como foi o processo de adoção e falam sobre a alegria de ter filhos.

nascer. “Se eles quiserem conhecer a mãe biológica, iremos apoiá-los, pois é a vida, a história deles. Os dois são inteligentes, por isso, estamos ensinando-os a não guardarem mágoa, saberem perdoar e não se sentirem vítimas”, diz o pai. Ele lamenta que ainda exista preconceito e que seus filhos já tenham passado por esta situação. “Não acredito que as pessoas façam por maldade, mas por falta de informação. Parece que alguns querem tanto provar que não são preconceituosos, mas acabam sendo preconceituosos exatamente por tratarem as pessoas de maneira diferente. Isso pode ocorrer em qualquer lugar, inclusive na escola.” Sobre o período que viveu antes do processo de adoção, quando sentiu-se frustrada e em dúvida, Fernanda recorda que aprendeu e continua aprendendo a cada dia com seus filhos. “Eu achava que desenvolver o filho dentro da barriga era dar vida, mas, na verdade, não é. Isso é só dar à luz. Dar a vida é viver para seus filhos, dormir pouco, se preocupar constantemente, enfim, descobrir que você não é protagonista da sua própria vida e se sentir bem com isso.” Adoção no Brasil A assistente social do Fórum de Jundiaí e diretora técnica do Grupo de Apoio à Adoção Semente (GAA Semente), Ana Maria Quaggio, explica que o processo de adoção legal começa por meio da informação. “A primeira coisa a fazer é procurar o fórum da cidade para ser orientado sobre como o processo começa”, afirma. “A nova lei de adoção, de nº 12.010/2009, obriga todos os pretendentes a passarem por um curso preparatório, sendo um encontro realizado no Fórum e três em grupos de apoio que, no caso de Jundiaí, é o GAA Semente.”

Ao final da preparação, é necessário juntar a documentação, que compreende, entre outros, documentos pessoais, certidões civil e criminal, atestado de saúde física e mental, certidão de nascimento, casamento ou averbação de divórcio e fotos da residência. Após esta etapa, tem início a fase de avaliações psicossociais. “Quem quer adotar precisa estar bem preparado para isso, então, o juiz que vai analisar a adoção tem que conhecer os pretendentes, afinal, é a vida de uma criança ou adolescente que está em jogo”, comenta Ana. A avaliação psicossocial é formada por uma série de entrevistas com os envolvidos no processo, como os pretendentes e seus familiares. Os técnicos (assistentes sociais e psicólogos) preparam um relatório com base no histórico pessoal e familiar do casal ou solteiro, a motivação para adotar, se tem emprego, se a habitação é adequada, qual a filiação, quais doenças os membros da família possuem. “O pretendente não pode querer adotar para ajudar, mas ter uma vontade grande de ser pai ou mãe, ter vocação para lidar com todos os momentos, sejam bons ou ruins, naturais a todas as pessoas”, descreve. “Perguntamos a opinião dos pais sobre a melhor maneira de contar para a criança, o que pensam sobre desfazer o processo e retornar a criança ou adolescente para o abrigo”, diz, referindo-se à possibilidade de os pretendentes não quererem continuar com o processo de adoção ou com determinada criança ou adolescente. “Apesar de ser permitido por lei que, até que o processo não seja concluído, possa-se mudar de ideia, as crianças/ adolescentes sofrem muito quando isso acontece, para eles tal possibilidade não existe.” Se o processo for deferido pelo juiz, os pretendentes entram na fila de espera e aguardam a chegada do filho ou filhos. Este tempo é indeApê Zero 1. Mai/Jun 2015

19


finido, pois depende do perfil do menor. “Quem quer adotar crianças mais velhas aguarda menos tempo porque elas são maioria nos abrigos, já que os pretendentes geralmente dão prioridade para as menores”, esclarece. Nos encontros de preparação dos pais adotivos, temas como o que o tempo de acolhimento – período em que a criança/adolescente permaneceu no abrigo - pode ter acarretado na vida da pessoa, os motivos que fizeram os pais perderem o pátrio poder, histórico familiar e possíveis traumas são tratados. “Algumas crianças vivem desde bebês como acolhidas, outras já passaram por diversas situações de abuso e sofrimento, então, pode ser que apresentem comportamento agressivo, depressivo, revoltado”, aponta. “Muitas não conseguem socializar e sequer sabem o que é ser filho de alguém.” Nestes casos, Ana ressalta que os pretendentes precisam ter paciência e preparo porque o filho pode, por exemplo, projetar no pai adotivo a figura do pai biológico, que abusava física e emocionalmente dele. “Por isso, alguns podem negar, a princípio, seus novos pais, mas sempre há como reverter isso”, garante a assistente social. Outra situação que é esclarecida durante a preparação é a possibilidade de problemas de saúde serem diagnosticados após a adoção. “Procuramos desmistificar que adotar criança mais velha, de outra etnia ou grupo de irmãos não dá certo. As pessoas desenvolvem doenças ao longo da vida, inclusive os filhos biológicos, então, não há relação entre ser adotado e apresentar determinados problemas mais tarde.”

Alternativas A assistente social, Ana Maria Quaggio, explica que quando os pais “abrem mão” do pátrio poder ou a Justiça, por algum motivo, tira o poder da família, quem mais sofre são as crianças e adolescentes, pois perdem suas referências. “Na maioria dos casos, todos os problemas pelos quais um lar passa têm relação com adição às drogas, que pode resultar em violência física, abuso psicológico, abandono e muitas outras situações piores”, afirma. “Quando há intervenção do Conselho Tutelar em uma situação familiar, toda a rede [Poder Judiciário, abrigos, grupos de apoio, entre outros órgãos] trabalha para reabilitar a família, a fim de que a criança volte o mais rápido possível para sua casa”, descreve. A profissional afirma que são muito mais frequente as situações em que as famílias conseguem ser recuperadas e recebem seus filhos novamente. “Pela Lei, o trabalho prioritário é voltado para a reintegração da criança à família. Durante o período de reintegração, a Justiça acompanha de perto como o processo está ocorrendo; a adoção é exceção”, garante. “Mas quando há destituição do pátrio poder, a criança é enviada ao abrigo e passa a ficar disponível para adoção.” Uma vez no abrigo, o menor passa por um processo de desvinculação da família biológica, que ocorre por meio de diferentes técnicas, dinâmicas e atendimentos realizados pelos profissionais competentes. Segundo Ana, em alguns casos é aconselhado e realizado um acompanha-

Ana Maria Quaggio, assistente social e diretora do GAA Semente.

mento terapêutico para ajudar a pessoa a superar determinadas sequelas deixadas pela situação que passou. A assistente social conta que quando um pretendente se interessa pelo perfil de determinada criança, há dois casos de preparação. “No período de aproximação, os pretendentes começam a visitar a criança no abrigo, onde passam a desenvolver um relacionamento, apoiados pelo próprio local e Poder Judiciário”, conta. “Depois, as visitas são mais frequentes e demoradas até que a criança passa a frequentar a casa dos pretendentes; este é o momento da convivência. Quando este termina e as partes querem continuar o processo, o juiz deve autorizar que os pais levem o filho ou filhos para casa.”

Filhos abandonados Um dos diversos assuntos resultantes do tema adoção é sobre as mães que “abrem mão” de seus filhos e entregamnos para adoção. Para a assistente social, Ana Maria Quaggio, esta situação é pouco divulgada, mas tem grande importância devido à dificuldade que a cerca. “A mãe que entrega o filho é julgada, marginalizada, abandonada pela família ou pelo companheiro, mas merece ter um atendimento digno.” Ela comenta que os principais motivos que levam uma mulher a abandonar um filho são o abuso de drogas e problemas de saúde física e mental. “Quando a mãe toma esta decisão, ela deve levar a criança ao fórum da cidade, onde são apresentadas alternativas que possibilitem a ela continuar com o filho, mas não há interferência”, afirma. “Oferecemos apoio e, se ela quiser, terá o atendimento do qual precisa; se não quiser, deve oficialmente abrir mão do pátrio poder.” Quando isto acontece, não há mais como mudar a situação e a criança / adolescente é encaminhada a uma das instituições de acolhimento da cidade. 20

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015


Exatos nove meses foi o tempo que as mães Renata e Fábia ficaram na fila de espera até conhecerem seus filhos, Carlos Henrique e Giovana.

Mais amor Quando Renata Longui, professora de Educação Especial, e Fábia Simões, policial militar, decidiram adotar seus filhos, tinham certeza das mudanças que a escolha traria para suas vidas. Fábia acreditava que Renata gostaria de ter a gestação e sugeriu como alternativa o método de inseminação artificial. “Para fazer inseminação você precisa escolher o perfil do doador, algo que nós duas não achávamos muito natural. Não gostávamos da ideia de ter que escolher características para nosso filho ou filha”, comenta. “Quando Renata falou que não precisava ser gestante, que seu desejo era ser mãe, tivemos certeza de que adoção seria a melhor opção para nós.” Elas passaram pelo processo de preparação no GAA Semente e, mais uma vez, encontraram dificuldades em terem que escolher o perfil da criança. “Assim como escolher um doador para fazer inseminação artificial, para adotar, o pretendente também tem que preencher uma ficha informando características que aceita”, conta Renata. “Mas entendemos que essa parte é necessária; é importante a pessoa limitar a quantidade de crianças ou adolescentes que pode adotar por questões financeiras, por exemplo.” Fábia lembra o primeiro encontro preparatório do qual participaram no Fórum de Jundiaí. “Para mim foi terrível, pois achei que seríamos tratadas de maneira diferente, mas a assistente social me tranquilizou e, realmente, nunca tivemos problema algum”, afirma Fábia. “Depois, começamos a frequentar o Semente, que conside-

ramos nosso pré-natal, trocamos experiências, solucionamos várias dúvidas, recebemos muita informação e pudemos amadurecer a ideia”, conta Renata. Da entrega dos documentos ao primeiro contato com os filhos, foram (curiosamente) nove meses esperando ansiosas para a chegada das crianças. Elas poderiam adotar até três, com idade limite de 11 anos, independentemente do sexo. Os filhos, que nasceram em Campo Limpo Paulista, chegaram em 2013: Carlos Henrique, de nove anos, e Giovana, de oito, irmãos biológicos. Antes de irem para a casa da nova família, todas as etapas foram respeitadas, como os períodos de aproximação e convivência. “De outubro a dezembro de 2012, íamos até o abrigo para conhecê-los melhor e conversarmos com eles”, diz Fábia. “Depois, eles começaram a vir para casa, mas quando tínhamos que levá-los de volta era muito triste. O tempo passou e os dois passaram a ficar em casa no final de semana. O Natal de 2012 deles foi aqui, com a gente. E depois o Ano Novo também”, alegra-se. Renata ressalta que, nos primeiros encontros, as crianças não sabem que poderão ser adotadas. “Quando fomos visitá-los pela primeira vez, ninguém nos falou quem eles eram, então, tivemos que ir perguntando nome por nome”, recorda. “Já tínhamos visto os dois por foto; primeiro, encontramos a Giovana e foi como se ela estivesse nascendo. Quando ela confirmou que tinha um irmão chamado Carlos Henrique, fomos correndo procurá-lo e ele estava fazendo o que adora, ajudando alguém com alguma tarefa. Soubemos

que eles seriam nossos filhos neste momento.” Como os processos são sigilosos, elas não sabem quem são os pais biológicos, apenas que a mãe era usuária de crack e que eles foram retirados da família por maus-tratos. Desde então, moraram durante quatro anos no abrigo. Sobre a possibilidade de os filhos quererem procurar e conhecer o casal que os concebeu, Fábia diz que ficará com o coração apertado, mas os apoiará em todas as decisões que tomarem. “É a história deles, então, se eles quiserem procurar sua origem, terão nosso apoio. Meu medo é que eles se entristeçam com o que podem encontrar”, comenta. Em relação a serem adotados, Renata revela que seus filhos nunca sofreram preconceito. No entanto, sobre terem duas mães, sim. “Uma criança falou umas bobagens para o Henrique na escola e ele ficou bravo, chateado, mas explicamos aos dois que isso acontecerá algumas vezes e que eles não devem se preocupar com isso”, afirma. “Algumas pessoas não estão preparadas para entender.” Fábia acrescenta que quando as pessoas decidem adotar, devem estar cientes de que a vida muda. “Ter filho dá trabalho: eles ficam doentes, você tem que voltar mais cedo do passeio. Muita gente adota filho sem estar preparado para essa missão. Filho é filho, não importa se é biológico ou adotado. Toda criança faz birra, todo adolescente pode dar problema. O trabalho dos pais é orientar. Digo isso porque acho muito triste quando alguns pretendentes mudam de ideia no meio do caminho e interrompem a aproximação ou convivência com a criança e acabam não adotando após conhecerem-na.” Sobre aprender a ser mãe, Renata afirma que foi fácil, pois tem experiência como professora e sempre esteve rodeada de sobrinhos e afilhados. “Ser mãe é uma condição muito próxima a mim, sempre soube que gostaria de ter filhos um dia”, declara. Fábia também comenta que sempre teve vontade de ser mãe, mas que ser gestante nunca foi algo importante para ela. “Pra mim, ser mãe é estar presente, fazer o dever com eles, ensinar o que quiserem aprender; é necessário estar disposta a abrir mão de algumas coisas, como fazer um curso ou obter uma promoção no trabalho, mas não importa, para mim, eles são a prioridade”, conta. “Costumo dizer que mãe é o anjo-daguarda que Deus colocou na Terra porque não conseguiria cuidar de todo mundo.” Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

21


capa

As crianças Giovana é uma menina carinhosa e tímida. Suas matérias preferidas na escola são Matemática e Português. “Eu gosto de brincar de pega-pega e de assistir o filme ‘Como treinar o seu dragão’”. Já Carlos Henrique é ativo, curioso e disposto a ajudar. Na escola, gosta de Inglês, Educação Física e Artes. “Gosto de brincar de esconde-esconde, ir no Parque da Cidade e viajar para Cananéia.” Para ele, ter duas mães significa “ter mais amor”. Adotada pela família Neusa Aparecida de Sousa, auxiliar de limpeza, foi adotada pelo tio quando tinha três meses. Seus pais biológicos (Fernando e Assunta) moravam em Vinhedo e, logo após a caçula nascer, se separaram. “Meu pai era muito apegado a todos os filhos, então, conseguiu a guarda dos meus cinco irmãos mais velhos”, lembra. “Como ele precisava trabalhar, não tinha condições de cuidar de mim, que era bebê, então, meu tio Valentim e minha tia Helena, irmã do meu pai, me adotaram.” Ela veio morar com os novos pais em Jundiaí enquanto Fernando permaneceu naquela cidade. No entanto, a distância nunca os impediu de manter contato. Segundo Neusa, o pai era carinhoso, visitava-a constantemente e sofria por não poder criá-la. “Ao contrário da minha mãe biológica, que foi embora e nunca mais entrou em contato”, explica. “Não sei porque ela sumiu, só sei que nunca ouvimos falar dela.” Desde criança, Neusa sabia que era adotada e acredita ser importante que os pais adotivos contem para os filhos quando estes ainda são pequenos. “Pra mim foi melhor saber cedo”, conta. “Acho que quando a pessoa descobre mais tarde, tem mais dificuldade em aceitar, sente-se enganada, fica revoltada.” Além dos biológicos, com quem ela também sempre teve contato, Neusa tem três irmãos adotivos. “Quando eu cheguei, eles já eram grandes e me tratavam com muito carinho, ajudavam a cuidar de mim.” Para ela, mãe não é a mulher que dá à luz, mas a pessoa que cria. “Minha mãe e toda a família sempre me trataram com amor, estiveram presentes, me ajudaram nos momentos mais difíceis e me educaram, deram limites, do jeito que tem que ser.” Neusa é casada com Carlos Alberto e tem dois filhos: Tábata, de 27 anos, e Matheus, de 22

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

Neusa Aparecida, adotada pelos tios: “Não abandonaria meus filhos por nada neste mundo!”

GAA Semente De acordo com a assistente social do Fórum de Jundiaí, Ana Maria Quaggio, Jundiaí está à frente de outras cidades no que diz respeito ao apoio à adoção, já que desde a década de 1990 o tema era tratado no município. Em 2000, o Poder Judiciário propôs a criação de um grupo de apoio à adoção, e a iniciativa logo foi aceita por pais adotivos e pretendentes. A oficialização do Projeto Semente ocorreu em 2003. “O principal objetivo era preparar os pretendentes à adoção”, comenta. “No ano passado, foram abertas mais vertentes de atuação do Semente: a de pós-adoção, Sementinha e de divulgação do tema.” Os encontros com os pretendentes são mensais, com presença de aproximadamente 90 pessoas. A cada reunião, um tema é trabalhado por um profissional específico, como por exemplo, as fases de desenvolvimento da criança. Após a palestra, os presentes trocam experiências. Nas reuniões do pós-adoção, cerca de 20 pais participam para esclarecerem dúvidas e aprenderem mais sobre convívio e construção da relação entre pais e filhos. O Sementinha recebe por volta de 20 crianças para fazerem atividades lúdicas. Por meio de músicas, teatro, brincadeiras e histórias, uma psicopedagoga trabalha com as crianças temas relacionados a cidadania. Para divulgar o tema, o Semente aposta na produção do jornal Semear, perfil no Facebook, site e palestras. O Semente deixou de ser projeto para tornar-se o Grupo de Apoio à Adoção Semente. Todas as pessoas que integram a organização são voluntárias. Há psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, juristas, entre outros. O Semente não recebe verba de qualquer governo. Para estar apto a adotar, o pretendente precisa participar de um encontro no fórum e ainda apresentar certificado de participação em, pelo menos, três reuniões do Semente, que acontecem no Complexo Argos. Os grupos, exceto o de pós-adoção, são abertos e geralmente recebem estudantes e estagiários. Enapa – O Encontro Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção é um evento anual, que percorre diversas cidades. Em 2013, foi a vez de Jundiaí sediar a reunião de mais de 500 pessoas, o que contribuiu para dar mais visibilidade ao GAA Semente.


23

ApĂŞ Zero 1 . Mai/Jun 2015


Família biológica

Jeferson Antônio amadureceu rapidamente para cuidar das irmãs e passou por situações que uma criança não deveria ter que enfrentar. Desde que foi adotado, sente-se livre.

15. “Não largaria meus filhos por nada neste mundo. Mas também não sinto mágoa da minha mãe”, admite. “Meu pai e irmãos biológicos foram presentes em minha vida e minha família adotiva foi maravilhosa comigo.” Adoção tardia Jeferson Antônio Ferreira dos Santos, de 31 anos, é bacharel em Direito e trabalha como cartorário. Quando foi adotado era mais velho do que a idade média que os pretendentes geralmente procuram. Seus pais, o médico, Marco Antônio Pereira dos Santos, e a professora de Educação Infantil, Maria Cristina Ferreira dos Santos, de São Paulo, adotaram-no quando ele tinha 10 anos, além de outras seis crianças/adolescentes. O casal já tinha dois filhos biológicos, então, o rapaz ganhou uma família grande e unida depois de passar por difíceis provações. Jeferson ainda tem duas irmãs biológicas que hoje são suas primas, pois foram adotadas pelos tios dele. O rapaz conta que conheceu seu pai quando este o tratava de uma pneumonia grave e uma suspeita de tuberculose aos sete anos. Naquela época, Marco Antônio e Maria Cristina atuavam como casal de apoio do Poder Judiciário, ou seja, 24

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

acolhiam crianças temporariamente enquanto processos de destituição do pátrio poder e adoção ocorriam. “Depois de me tratar, morei na casa dos meus pais por quatro meses; quando o processo foi finalizado e fui tirado da minha família biológica, minhas irmãs e eu fomos para um orfanato.” Os irmãos ficaram na instituição por aproximadamente três anos, mas Jeferson continuava a receber a visita de Marco Antônio. “Até os 10 anos, eu enfrentava as situações que surgiam porque não tinha consciência da gravidade delas”, afirma. “Comecei a sofrer as consequências depois, quando cresci.” O rapaz conta que, há 20 anos, os casais de apoio podiam adotar as crianças que acolhiam, mas hoje esta prática não é mais permitida. Durante o período em que ficou no orfanato, Jeferson amadureceu e sua maior preocupação não era o que poderia acontecer com ele, mas não se separar das irmãs. “Eu combinava com elas que se perguntassem se gostariam de ser adotadas por alguma família, só aceitassem se fôssemos todos juntos, pois não queríamos nos separar”, recorda. “Lembro que no dia da nossa adoção, meu pai e mais dois tios adotaram uma criança cada um para que nós não nos separássemos. Hoje, minhas irmãs biológicas são também as minhas primas.”

Durante a infância, Jeferson morou em uma favela em São Paulo. Ele conta que chegou a passar fome, morou em um barraco sem as mínimas condições de higiene e saneamento, não ter roupas, viu pessoas mortas na rua. “Eu já tomava conta das minhas irmãs. Chegamos a passar fome várias vezes.” Apesar de não lembrar dos traços dos pais biológicos, ele recorda os acontecimentos, como um determinado dia em que a mãe não foi buscá-lo na escola e ele teve que passar o dia inteiro esperando, se alimentando das merendas. “Uma lembrança que tenho desta época é de gostar de comer açúcar com as minhas irmãs.” Jeferson afirma que o motivo de sua família ter sido desfeita foi o pai, que usava drogas ilícitas, bebia e ficava agressivo. Com ele, o relacionamento era distante. Já com a mãe, lembra que ela não tinha condições financeiras e psicológicas para sair da situação em que se encontrava. “Ela procurava emprego, mas não conseguia encontrar ou era demitida, mas sentia que ela nos amava”, fala. “Se nosso barraco não tinha a mínima estrutura, se a comida era pouca, lembro as vezes em que sobrou amor. Nós passávamos as tardes juntos e ela gostava de fazer gemada pra mim porque sabia que eu adorava.” No orfanato Após os pais de Jeferson terem perdido o poder familiar sobre os filhos, os três foram morar em um orfanato, onde ele ficou dos seis aos 10 anos aproximadamente. Ele conta que morar em um orfanato foi uma maneira de perder sua individualidade, suas referências. O local contava com 400 crianças, por isso, os inspetores eram rígidos com os horários e obrigações que cada um tinha. “Eu fui um robô enquanto morei no orfanato”, analisa. “Não tinha opções, sentia falta de ser cuidado, de receber carinho.” Quando faziam aniversário, a comemoração dos pequenos era ver o nome em um cartaz junto com outros aniversariantes do mês e ganhar balas. “Depois de um tempo no orfanato, passei a lembrar e entender melhor as coisas que tinham acontecido. Desacreditado, Jefferson tinha como objetivo proteger as irmãs. “Nós éramos obrigados a comer toda a comida, mas às vezes elas não conseguiam ingerir tudo, então, eu co-


Informação para decidir Claudio Marcos Picazio é psicólogo especialista em violência doméstica, abuso sexual infantil e sexualidade humana. Ele afirma que quando o pretendente decide adotar precisa ter vontade, desejar ter um filho e estar preparado para mudar a sua vida. “Você precisa querer ver o desenvolvimento de uma criança ou adolescente, estar disposto a dar atenção, acompanhar nos estudos e durante o crescimento e amadurecimento.” Alguns especialistas acreditam ser necessário, tanto para os pretendentes quanto para a criança ou adolescente disponível para adoção, fazer acompanhamento psicológico para aprenderem a lidar com diversas situações que poderão enfrentar. No entanto, Claudio afirma que não há necessidade. “A pessoa não precisa de acompanhamento apenas por querer adotar, assim como a criança não precisa apenas por ter sido adotada”, explica. “A criança precisa de acompanhamento se existir algum trauma, medo, por isso, os pais devem estar atentos e tentar perceber dificuldades que a pessoa possa apresentar e, em caso positivo, procurarem ajuda profissional, mas depende de cada caso.” Ele ensina que não há uma idade certa em que a pessoa que foi adotada deva saber a verdade. Mais importante para ele é a maneira com a notícia será dada pelos pais. “Quando já conhecem o filho, sentem quando é o momento certo, afinal, cada pessoa tem um tempo de amadurecimento.” O psicólogo revela que atende pessoas adotadas e que ainda sofrem algum tipo de preconceito. “Quando a criança sofre bullying na escola, por exemplo, os pais devem tentar resolver o problema junto com a instituição de ensino”, afirma. “Hoje em dia há muito menos preconceito do que já houve. Para que uma vítima de preconceito não se deixe abalar por isso, os pais devem fazer o filho adotado se sentir parte integrante da família.” Um conselho que ela dá a quem pensa em adotar é: “A pessoa precisa saber que filho é filho e ‘não tapa buraco’. Precisa ter certeza que está preparada para abrir mão de certas coisas, mudar outras, estar disposta a orientar, estar sempre atenta, amar, estar por perto, querer e gostar de ver o desenvolvimento humano.” Segundo o especialista, o pretendente tem que gostar e querer ser pai ou mãe, se preparar para enfrentar dificuldades, ajudar os filhos com os problemas e evoluir junto.

Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

25


capa

mia para elas, para não terem que apanhar ou levar bronca.” Ele se sentia responsável pelas meninas mais novas e se tornou o porto seguro delas para tudo. Se tivessem problemas com os inspetores, amigos, qualquer coisa, elas recorriam à ajuda dele. “Embora hoje eu saiba que existiam maneiras diferentes de manter aquele orfanato, eu também entendo que naquela situação, dentro das limitações que existiam e a quantidade de crianças, eles faziam o que podiam”, reflete. “Agradeço por eles terem sido rígidos porque era a disciplina que fazia tudo funcionar como deveria. No entanto, não deixo de criticar a pobreza de sentimento em que aquela instituição estava inserida.” Se ele fizesse algo errado, apanhava de palmatória, ficava ajoelhado no milho, dormia de bruços no chão, apanhava de cinto. “Apesar de os castigos serem doloridos, eu era um menino obediente, comportado, bom aluno, abria mão dos meus direitos para não ter problemas”, conta. Ele aceitou que enquanto morasse no abrigo não teria direito à liberdade de se expressar nem de fazer suas próprias escolhas. Para Jeferson, o orfanato o fez perder sua referência de indivíduo, de quem ele era. “Éramos obrigados a raspar o cabelo para não corrermos o risco de pegar piolho; usava uma roupa hoje que amanhã seria usada por outra criança; se eu estivesse com calor não podia sequer tirar o casaco.” Quando começou a assimilar as circunstâncias em que ele e suas irmãs viviam e o que já haviam passado, ele começou a sofrer calado, ponderar se seria adotado, se voltaria para a família biológica. “Rezava até a minha tristeza passar”, revela. “Lembro que quando não estava bem, corria para a igreja do orfanato, que tinha as paredes pintadas com as passagens dos últimos dias de Jesus Cristo, e ficava lá, olhando para as imagens e conversando com Ele.” Jeferson sofria quieto até a tristeza passar. Recomeço Depois de ser adotado, o rapaz começou a se sentir liberto de todas as situações ruins que havia vivido até ali. “Eu passei a ter pais carinhosos, uma casa para morar, roupas que eram minhas, comemorava datas importantes, estava cercado por irmãos que se importavam comigo; passei a ter uma família.” A liberdade à qual ele se refere, vive até hoje. “Era ótimo sentir a segurança de que meus 26

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

pais não me abandonariam, que minhas irmãs estavam bem com os meus tios. Pude desenvolver minha personalidade baseado nas experiências que tive antes e depois da adoção e nas escolhas que fiz. Aprendi a acreditar na minha capacidade, a ter apoio para fazer o que almejava.” Hoje, Jeferson é noivo de Marina e pai de Kauã, de quatro anos, de um relacionamento anterior. Ele garante não carregar mágoa do passado e diz que o amor que sente pelos pais Marco Antônio e Maria Cristina é incalculável. “Eles educaram nove crianças da mesma maneira.” O bacharel em Direito chegou em Jundiaí em 2004 para fazer faculdade e porque conhecia a cidade, já que a irmã estudava Medicina aqui. No terceiro ano, conheceu o GAA Semente que, na época, ainda era projeto. Quando concluiu o curso em 2011 e sentiu-se preparado, procurou o grupo para trabalhar como voluntário e, três anos depois, tornou-se o atual vice-presidente da entidade.

Dia Nacional da Adoção Representantes dos Grupos de Apoio à Adoção reuniram-se em 1996, em Rio Claro (SP), para realizar o 1º Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção. O evento ocorreu nos dias 24 e 25 de maio. Com o objetivo de incentivar a reflexão sobre a adoção, o dia 25 de maio foi escolhido como o Dia Nacional da Adoção, que tornou-se oficial após ser sancionado como lei em 2002.



radar ape Existem regulamentos internos que tratam de horários específicos para realização de reformas. É possível alterar esses horários, caso um morador queira? É correto tentar impor um horário diferente daquele previsto no regulamento? Não é possível impor horário diferente do regulamento, a não ser que seja feito em assembleia. Situações como a apresentada, de reforma, são difíceis de serem realizadas sem que haja barulho. Pode-se tentar não atrapalhar muito, mas há momentos em que os ruídos serão inevitáveis. No entanto, a função de um síndico é a de tentar conciliar. Lembrando que, segundo determina o artigo 1333 do Código Civil, a convenção de condomínio regularmente instituída “torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção”. O regulamento interno acompanha esta mesma natureza, tendo pois a igual força imperativa; neste sentido, a vontade individual não pode prevalecer sobre a maioria. Como quase tudo no condomínio, o diálogo deve ser prevalecido para tratar de questões como esta.

Os inquilinos devem participar do fundo de reserva? Este é um tema polêmico, já que nem todos concordam com a participação dos inquilinos no pagamento desse tipo de fundo, pois o mesmo, a princípio, não tem um destino certo. O ideal, para que não haja cobrança indevida, é que o condomínio conte com dois fundos separados: um para gastos ordinários – este sim, com participação dos inquilinos – e outro para gastos extraordinários, com aporte dos proprietários.

Na hora de reservar o uso de área comum, como churrasqueira e salão de festas, o condômino tem preferência sobre o inquilino? Não, isso não pode ocorrer, já que ao alugar a unidade o inquilino adquire os mesmos direitos que qualquer outro morador do condomínio. O regulamento interno deve oferecer outros critérios de desempate, como sorteio – quando a data é muito concorrida – ou privilegiar quem fez a reserva antes. Colaboração: Carlos Eduardo Quadratti, advogado condominial 28

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015



Criancas

As missões dos seres índigo, cristal, arco-íris e diamante

Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz ocê já ouviu falar em crianças índigo e cristal? E arco-íris e diamante? Cientistas que acreditam que o ser humano está além da dimensão material têm a preocupação de comprovar a existência de tais seres com base nos preceitos da Física Quântica, explica a psicopedagoga Nani Gomes. Segundo Nani, a primeira pessoa a falar sobre o tema e usar as terminologias índigo, cristal, diamante e arco-íris foi a física, filósofa, psicóloga e clarividente americana Kathy McCloskey. Ela conta que as cores usadas para designar aqueles seres especiais são referentes à coloração da aura de cada um. “O universo sempre recebeu pessoas assim, mas foi a partir da década de 1980 que o número destes seres aumentou”, explica. “Como nem todos vêm a cor das auras, existem características que podem ajudar o reconhecimento dos seres, o que

v

30

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

pode ocorrer também por causa da sua missão; a cor de sua aura não é o mais relevante, mas seu comportamento, pois eles possuem uma sabedoria diferente do sendo comum.” A psicopedagoga explica que nos anos 80 houve um aumento de indivíduos com aura índigo que vieram para a Terra. Elas são reconhecidas por terem um comportamento diferente de pessoas com auras de outras cores. “O ser índigo tem dificuldade em aceitar o que lhe é falado, quer saber e entender o porquê dos conceitos, daquilo que lhe é imposto, não admite autoridade nem obedece padrões prédeterminados”, descreve Nani. “A missão deles é despertar o divino nas pessoas, tirá-las do estado de “hipnose” em que se encontram; eles são contestadores natos, desatentos, muito inteligentes e criativos.” No entanto, ela explica que os índigos não

são apenas “rebeldes”, simplesmente precisam entender o motivo para depois aceitar algumas circunstâncias. E exemplifica: “Se o pai de um índigo pede para ele sentar-se à mesa e almoçar junto com a família, ele provavelmente não irá sentar e, então, está armada uma briga e o índigo vai almoçar no sofá enquanto assiste televisão. Mas se o pai esclarece que se ele se sentar à mesa poderá estar junto às pessoas que o amam, irá conversar, expor seus problemas, discutir um assunto, dar sua opinião e ter um momento de união, ele se sentará junto com a família com prazer.” Os seres cristais têm a aura transparente, vibrante e brilhante. Também se comportam de maneira diferente dos demais. Ao contrário do índigo, quando há uma situação de contestação, eles tentam harmonizar e pacificar o momento. Se o índigo tira as pessoas da zona de con-


forto, os cristais vêm para trazer equilíbrio no que foi mudado. “A maioria dos cristais passou a vir com maior frequência a partir da década de 1990”, comenta. “Sua principal característica é o olhar, que vê as pessoas por dentro, entra na alma. Eles acreditam que o mundo pode ser bom para todos e ensinam as pessoas por meio do amor, equilíbrio e harmonia.” Nani complementa que os cristais são extremamente sensíveis e têm capacidade de ver e saber o que está além do óbvio. “Eles têm uma presença contagiante, que vibra.” Os arco-íris pertencem aos anos 2000, têm o olhar intenso e traços de adulto, mesmo quando são bebês. Possuem fortes características, como alegria, criatividade, entusiasmo, compaixão, doação, generosidade, lealdade, perdão, fazem o bem naturalmente. Já os seres diamantes começaram a chegar em maior número ao mundo na década de 2010. Sua aura tem a luminosidade direcionada. Eles são extremamente introvertidos, têm personalidade firme, são sérios, não são rudes nem bravos, mas totalmente equilibrados, amorosos e determinantes. “Sua missão é conduzir, canalizar luz e energia, ajudar as pessoas a manterem-se no caminho certo, direcioná-las; eles falam com sabedoria e honestidade”, enumera. “Mas não interferem na escolha individual; eles orientam e não repetem o conselho.” Acredita-se que elas sejam a nova matriz genética da humanidade. Os seres Nani Gomes afirma que os seres índigo, cristal, arco-íris e diamante ainda são um tema polêmico, pois fogem dos padrões. Sua importância, entretanto, está no fato de serem responsáveis por ajudar outros seres a passarem pelas mudanças necessárias para que se chegue ao lugar ideal para se viver. “Segundo a Física Quântica e o esoterismo, o Planeta Terra e a humanidade têm que passar por alterações para poderem se desenvolver e evoluir até um estado cheio de amor e bondade, próximo ao divino”, ressalta. “A humanidade precisa entender que o processo material é evolutivo, mas não o final nem o começo, ou seja, é preciso que os seres vivam as etapas de aprendizado. Dentro deste conceito existem três vertentes: uma trata das sucessivas existências (reencarnação), para que o indivíduo aprenda; a outra trabalha com a evolução, ca-

A psicopedagoga Nani Gomes, estudiosa do tema, explica que os seres índigo, cristal, arco-íris e diamante são especiais pois têm a missão de ajudar a humanidade a evoluir durante o difícil momento atual.

Para se aprofundar no assunto: Livros: Crianças Índigo, de Lee Carroll e Jan Tober As Crianças Cristal, de Doreen Virtue

Filmes: Índigo, o filme - O despertar do ser e a verdade oculta Casa Índigo (documentário)

Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

31


Todas as cores de aura e seus respectivos seres têm missões especiais. Leia sobre o assunto nas próximas edições da Apê.

A psicopedagoga afirma que os pais precisam orientar seus filhos adequadamente para que eles desenvolvam seu potencial positivo. Caso contrário, as habilidades dos seres não serão usadas para a missão que têm na Terra.

racterizada por seres que vivem em determinada época e aprendem certas lições para que as próximas gerações comecem a aprender a partir do estágio em que os anteriores pararam; e ainda há quem acredite que os dois conceitos ocorram concomitantemente.” Ela analisa que algumas religiões têm maior dificuldade em aceitar o que dizem a Física Quântica e o esoterismo, pois estes geralmente misturam ciência, religião e fé. “Religiões fortemente instituídas, com dogmas padronizados, têm maior dificuldade em entender e aceitar ideias diferentes e pouco convencionais”, reflete. “Mas há algumas que aceitam melhor porque também acreditam nas mesmas coisas, 32

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

Segundo Nani, a primeira pessoa a usar as terminologias índigo, cristal, arco-íris e diamante foi a americana Kathy McCloskey, física, filósofa, psicóloga e clarividente.

mesmo que elas tenham nomes diferentes. A dificuldade em lidar com o assunto ocorre porque há muito em jogo: não apenas as religiões, mas a política e os sistemas educacionais precisariam ser modificados fortemente, as pessoas teriam que reaprender muita coisa.” Independentemente da vertente na qual se acredita, Nani informa que os seres índigo, cristal, arco-íris e diamante necessitam desenvolver suas características e cumprir sua missão de maneira positiva. “Se os seres não são adequadamente orientados nem têm suas características respeitadas, eles podem usar sua capacidade para atitudes não evoluídas”, conta. “Se um índigo for educado para não contestar poderá

desenvolver uma doença física ou psicológica, pois não usará sua melhor virtude para o bem comum. A depender do grau da evolução, ele pode usar suas habilidades para praticar chantagem, corrupção, suborno, entre outras atitudes negativas.” Não há segredo para educar um ser especial, basta que os pais priorizem o diálogo e ensinem os filhos a terem respeito pelas outras pessoas e a equilibrarem alguns impulsos, já que o convívio em sociedade exige concessões. “Eles também precisam ter contato de qualidade com seus pais, que devem reservar um tempo para brincar com eles, conversar, fazer atividades juntos, ajudar com os deveres da escola.”



Curiosidades da Terrinha

Edificio Mariju Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz, Divulgação e Renata Susigan Edifício Mariju é um dos muitos empreendimentos jundiaienses que marcaram época por ter contribuído com o desenvolvimento econômico e imobiliário da cidade, principalmente do Centro. Por lá, passaram dezenas de profissionais da Saúde e advogados que trabalharam (e ainda trabalham) em uma das 40 salas distribuídas por 10 andares. O Mariju também é sede da Rádio Cidade, uma das principais emissoras de notícias diárias de Jundiaí e região. Por estar localizado em um dos pontos mais movimentados do Centro, geralmente quem passa pelo edifício não sabe que ele foi inaugurado em 1965, seu nome é uma homenagem à filha do antigo proprietário do terreno e que ele foi palco de histórias emocionantes da família Olivato. Maria Julieta Olivato, a Mariju, filha de Hugo e Jandira Olivato - que nomearam a filha com os nomes de suas respectivas mães - conta que, apesar de não ter grande quantidade de material histórico sobre o edifício, as lembranças continuam bem guardadas em sua memória. Ela parou de frequentar o imóvel na década de 1960. Seu pai, comerciante, era dono do terreno que fica na esquina entre as ruas do Rosário e Coronel Siqueira de Moraes. O objetivo de Hugo era vender o imóvel para o Banco do Brasil, mas o negócio não deu certo. “Então, ele vendeu parte do terreno para a Telefônica de Jundiaí e parte para outro empresário”, conta. “E para ele sobrou a parte do meio.” Mariju comenta que o sonho do pai era investir o dinheiro que tinha em um prédio comercial. Durante os dois anos de construção, o edifício tornou-se o assunto de todos que almejavam abrir o seu próprio negócio. “Jundiaí inteira se interessou”, brinca. “Todas as salas foram compradas rapidamente, mas por meio de notas promissórios, ou seja, não havia reajuste, o que defasou o valor dos imóveis.” A filha de Hugo tinha 17 anos quando a

o

34

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

A fachada atual e a imagem de como o local era antes da construção.



Mariju atualmente.

Cortando a fita na inauguração.

Sr. Valdomiro, porteiro há mais de 30 anos.

Com o pai e amigos.

construção foi concluída, e participou do corte da fita. “Fiquei honrada em ter meu nome, que já era uma homenagem a minhas avós, naquele local que, para a época, era moderno”, afirma. Hugo ficou com o quinto andar inteiro para ele, mas acabou não usando as salas. Preferiu manter seu outro negócio, a Gráfica e Papelaria Popular, no endereço antigo e, quando a empresa cresceu demais, transferiu-a para a rua Senador Fonseca. Logo em 1968, ele havia vendido o seu andar no Edifício Mariju. Desde então, nem ele, a filha ou a família tiveram mais contato com o empreendimento. Mariju revela que preferiria que seu pai não tivesse vendido a parte dele no imóvel. Para ela, 36

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

o Mariju foi um dos marcos na história de vida de Hugo que, após superar diversas dificuldades e desentendimentos com antigos sócios, tornou-se um empresário de sucesso em Jundiaí. “A vida do meu pai foi feita de superações. Ele perdeu o pai dele quando tinha cinco anos, sempre trabalhou e conquistou tudo o que teve com o próprio esforço.” Oportunidades Quando Valdomiro Landoni, atual porteiro do Edifício Mariju, foi trabalhar no local em 1982, ele já havia se aposentado como metalúrgico após trabalhar na Cica. “Eu precisava aumentar meus rendimentos e não queria ficar parado.”

O senhor, nascido em 1940 em Salto, chegou a Jundiaí em 1954 e depois trouxe a família. “Nunca tinha trabalhado em portaria, então, o porteiro anterior a mim, Sr. Emílio, me ensinou tudo”, comenta. Depois de três décadas recebendo as cerca de 200 pessoas que passam pelo edifício todos os dias, ele sabe de cor quem está ou não e quando a pessoa volta. Valdomiro está sempre pronto para ajudar, dar uma informação, tirar uma dúvida e entregar a correspondência aos advogados, médicos e dentistas sem atraso. “Tenho um excelente relacionamento com os condôminos e o público. Às vezes, um simples bom dia já dá ânimo para a pessoa enfrentar o dia”, aconselha.”



turismo

Romantismo no charmoso Castelinho Caracol Reportagem: Renata Susigan Fotos: Divulgação e você está programando uma viagem a dois, não deixe de considerar os principais pontos turísticos das cidades do Rio Grande do Sul. Foi durante a lua de mel, em maio de 2014, que Vinícius Zonaro, analista de sistemas, e Caroline Folster, assessora municipal, conheceram Canela, onde fica localizado o Castelinho Caracol. Para quem quer ir sozinho, a Serra Gaúcha também é convidativa, já que as opções de turismo e lazer não faltam, segundo o casal. Vinícius e Caroline comentam que escolheram o destino da lua de mel com base nas recomendações de amigos e parentes. O Castelinho é uma residência que fica na propriedade da família Franzen, de origem alemã, e foi transforma-

S

38

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

da em museu. A casa é decorada com os antigos artigos das primeiras gerações da família. “Havia pertences, como por exemplo, louças, peças de roupas, brinquedos, móveis antigos e até mesmo eletrodomésticos da época em que a família ali viveu”, comenta Vinícius. “É um local cuja memória permanece viva em cada canto da casa.” Não são apenas a construção e decoração que representam a tradição, mas o apfelstrudel também. Caroline lembra que o cheiro da fruta que exala na residência logo na entrada torna impossível não provar o tradicional doce austríaco. “Provamos com creme de nata”, conta. “Entramos na cozinha e vimos uma simpática senhora preparando o doce, o que deu um toque espe-

cial. O apfelstrudel tem um sabor único, é simplesmente maravilhoso.” Além de conhecer a cozinha e apreciar a sobremesa na Sala de Chá, o casal visitou outros cômodos, onde havia informativos sobre a história dos Franzen. “O atendimento que tivemos foi excelente, as pessoas foram extremamente atenciosas”, explica Vinícius. Para eles, conhecer um lugar centenário foi uma oportunidade de ter contato com o passado da região e aprender curiosidades, como a técnica utilizada na construção. “As madeiras da casa são encaixadas, não têm pregos, o que nos dias atuais é bem interessante”, ressalta Caroline. Os jovens visitaram, além de Canela, Bento


Gonçalves, Nova Petrópolis e Gramado, onde ficaram hospedados. O que mais os atraiu a passar a lua de mel no RS foi a temperatura mais baixa que em Jundiaí, a gastronomia e o fato de o local ser romântico. “Foi um sonho passar a lua de mel lá. Não somente recomendamos, como achamos que é ‘obrigatório’ provar o apfelstrudel e conhecer a história do Castelinho”, afirma Caroline. Vinícius destaca ainda que os lugares por onde passaram são bonitos e o povo é acolhedor e atencioso, o que faz o turista se sentir “em casa”. “Após um ano da nossa viagem, ainda lembramos os passeios e as comidas.”. Ele enumera todas as atrações que os visitantes não podem deixar de conhecer, como ir a um show típico gaúcho, comer galeto nas cantinas, fondue, conhecer a aldeia do Papai Noel, aldeia alemã, os parques do Caracol e da Ferradura, ir ao zoológico de Gramado e provar os vinhos nas vinícolas artesanais. “Após uma semana lá, você volta se sentindo parte daquela terra e cultura”, elogia.

Sala de Chá

Castelinho Caracol Centenário, o Castelinho Caracol data do século passado; foi construído entre os anos de 1913 e 1915 pelo casal Pedro Franzen e Luiza Sommer, que teve seis filhos. O material usado para construí-lo foi predominantemente madeira de araucária e pinheiro, árvores típicas da região Sul. Para erguer a residência, a técnica foi encaixe e uso de parafusos, sem pregos. Para poder ser usada, a madeira passou por um tratamento de imersão na água do Arroio Caracol, durante seis meses. Depois deste período, a madeira foi serrada e seca naturalmente, na sombra, o que a tornou duradoura. O nome Castelinho foi dado devido ao formato da construção ser de um pequeno castelo, com 18 cômodos entre quartos, sala de jantar, sala de música, banheiro, cozinha e quarto de costura. Na parte superior há uma torre que propicia a visão de 180 graus da área cheia de vegetação, no entorno da construção. Como se ainda morassem pessoas na casa, a decoração da residência foi mantida para que os turistas pudessem conhecer os móveis e utensílios da década de 1910: porcelanas, copos, móveis, cristaleiras, lampiões, faqueiros, roupas, leques, luvas, calçados, fotos da família, livros escritos em alemão, brinquedos, piano, rádio, fogão a lenha e uma coleção de relógios,

Caroline Folster e Vinícius Zonaro em lua de mel

Cômodo mantido como era antigamente.

que ficam pendurados nas paredes da Sala de Chá. Eles vieram da Floresta Negra, na Alemanha, e estão à venda. Dentro da propriedade encontra-se ainda a Casa do Vô e o Armazém dos Serradores, onde é possível encontrar produtos para vender, como chapéus, mantas, esmaltados e quitutes da região. Uma das principais atrações do Castelinho é o apfelstrudel, servido na Sala de Chá. O doce é feito seguindo a fiel receita da família Franzen, que atualmente encontra-se na quinta geração. A iguaria pode ser servida com nata ou sorvete de creme. Outra curiosidade é o fato de a residência ter

sido cenário de um filme brasileiro de suspense, dirigido por Hugo Khouri, em 1978, chamado “As filhas do fogo”, com as atrizes Paola Morra, Karin Rodrigues e Rosina Malbousian. Como museu, a residência está aberta desde 1985. Desde então os visitantes têm conhecido como viviam os imigrantes alemães, além da mata, galpões, jardins e a carpintaria, onde o pai da família trabalhava, as madeiras da construção da casa foram preparadas e os móveis foram produzidos. O Castelinho Caracol fica na Estrada do Caracol, km 3, s/nº, Canela - Serra Gaúcha – Brasil. Tel.: (54) 3278-3208. Email: museu@castelinhocaracol.com.br Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

39


3° Setor

O cromossomo do amor Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz expressão “cromossomo do amor” é usada para fazer referência a uma das principais características de quem tem Síndrome de Down: o carinho, que ultrapassa os limites do corpo da pessoa e pode ser percebido naturalmente por quem está em sua presença. Causada por uma alteração genética que ocorre durante a divisão embrionária, a síndrome faz com que o indivíduo tenha três cromossomos no par 21, ao invés de dois. Não se sabe por que isso acontece. Quando descobriu que o filho Davi, de três anos, tinha Síndrome de Down, a primeira reação da psicóloga Regiane Trevisan foi positiva. “Reagi bem”, lembra. No entanto, ela logo começou a se preocupar com problemas de saúde que o pequeno poderia desenvolver e como seria a interação dele com outras crianças: preocupações inerentes a qualquer futura mamãe. O tempo passou, informações foram assimiladas e Regiane afirma que a condição de seu filho jamais foi um problema. “Meu marido, Marcos, aceitou super bem e as pessoas na rua demonstram muito carinho com o Davi”, comenta. A psicóloga alerta quanto ao “susto” que profissionais de diversas áreas costumam dar nas mães. “O que se ouve falar é pior do que é”, afirma. “O Davi é um ótimo aluno, estuda na mesma sala do meu outro filho, o Artur, de dois anos e meio. Eles são companheiros, brincam muito e nunca passaram por uma situação de preconceito por parte dos coleguinhas.” O garoto frequenta o Centro de Atendimento à Síndrome de Down “Bem-Te-Vi” duas vezes por semana, onde faz fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, natação e passa por atendimento psicológico, que o ajuda a se desenvolver através de brincadeiras e jogos lúdicos. “Questões mais pessoais serão trabalhadas quando ele for maior”, explica Regiane. “Eu também frequento sessões com uma psicóloga, que me orienta e me dá apoio em casos de dificuldade, o que é difícil de acontecer, pois meus dois filhos são um presente de Deus!”

a

40

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

Davi brinca com a mãe, Regiane: “presente de Deus.”


Dalva, uma das fundadoras e atual coordenadora.

Bem-te-vi Dalva Nunciaroni é uma das fundadoras e atual coordenadora do Centro de Atendimento à Síndrome de Down “Bem-Te-Vi”. O Centro teve início em 1990 quando oito casais, cujos filhos nasceram com Síndrome de Down, decidiram centralizar em apenas um local todos os atendimentos que quem é Down precisa. Ela ressalta que quem deu apoio no início foi a fisioterapeuta da filha Thaís, Dra. Margarete. Na época da fundação, o grupo de pais conseguiu duas salas cedidas pelo Lar Anália Franco, quando as despesas com fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e professores eram divididas apenas entre as oito famílias. “Era caro porque você não consegue trabalhar com voluntários em áreas técnicas do atendimento”, lembra Dalva.

Marina, gerente geral.

O Centro Bem-Te-Vi mudou de endereço em 1992, ano em que a Prefeitura de Jundiaí doou um prédio no bairro Colônia. “O Centro foi crescendo, tornou-se entidade de utilidade pública municipal, estadual, federal até chegar ao nível de entidade filantrópica”, explica. Posteriormente, foi instalada na Ponte São João. Durante os 25 anos da Bem-Te-Vi, muita coisa mudou, como o Projeto de Lei 7699/2006, referente à inclusão social, que instituiu que entidades como a Bem-Te-Vi não poderiam mais alfabetizar seus assistidos, apenas oferecer apoio pedagógico. Hoje, o local tem natação para bebês, hidroterapia para adultos, aulas de dança e projeto o Vivências. “Todo final de ano, nosso grupo de dança – que já tem 19 anos – faz uma apresentação no Teatro Polytheama”, conta. “Dentro do projeto Vivências, os assistidos vão a shows, viajam, visitam shoppings e exposições”, descreve.

A gerente geral, Marina Grossi, afirma que atualmente a Bem-Te-Vi atende 96 pessoas de zero a 48 anos, conta com 25 profissionais e cerca de 10 voluntários/estagiários nas diversas áreas do atendimento. “De todos os pais, aproximadamente 90% colaboram conosco sempre que precisamos, trabalhando nos passeios e eventos”, afirma. Marina revela que há 15 frequentadores da Bem-Te-Vi inseridos no mercado de trabalho e que, nestes casos, a entidade auxilia a empresa empregadora e à família. “Hoje em dia, o mercado de trabalho está aberto para eles”, comemora. “Temos assistidos que trabalham na rouparia da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Paulo Sacramento; na produção da DHL; no setor de alimentação do GRAAL; nas lojas C&A e Centauro, em escritórios.” Dalva ressalta que atualmente o acesso às Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

41


informações está melhor, pois a entidade recebe inclusive gestantes, que começam a ser atendidas por terapeutas para se prepararem para receber, da melhor maneira possível, o filho Down. “Síndrome de Down não é uma doença, mas uma condição, por isso, não há tratamento nem prevenção”, informa. “A sociedade só precisa entender que o Down é capaz de fazer tudo, mas no tempo dele. Quanto mais rápida a aceitação da família, mais rápido é o desenvolvimento dele.” Quando foi fundada, a entidade não tinha apoio, mas atualmente possui convênio com a Secretaria de Saúde, por meio da qual recebe uma verba do Sistema Único de Saúde, além das secretarias de Educação e Assistência e Desenvolvimento Social, Fundo Social de Solidariedade e Departamento Regional de Saúde, órgão ligado ao governo do estado. “Estamos em campanha para conseguirmos duas mil pessoas que doem 20 reais por mês, o que nos ajudará muito, principalmente agora que estamos mudando de sede”, fala Marina. O nome Bem-Te-Vi foi dado por causa do persistente pássaro que pousou em uma árvore no exato momento em que o grupo discutia como a entidade deveria ser nomeada. Ele também tem como características a adaptação, persistência e o vigor, apesar de sua aparente fragilidade.

Thaís: uma das responsáveis pela entidade que atende quase 100 famílias.

A filha Thaís Uma das responsáveis pela existência da Bem-Te-Vi é a filha de Dalva, Thaís Nunciaroni, de 31 anos, que é Down. Ela era uma das crianças dos oito casais fundadores que apresentavam a síndrome e incentivaram os pais a fundar um local para o atendimento adequado. Fiel companheira da mãe, Thaís está sempre presente na Bem-Te-Vi, gosta de trabalhar, assistir novelas e dançar. “Eu trabalho na oficina fazendo kits de talheres e guardanapo para a Festa Italiana”, conta. Ela lembra que na última apresentação de dança que fez no Polytheama, interpretou a Bela, do conto “A Bela e a Fera” e que seu amigo, Fábio, foi o seu par. Thaís comenta ainda que tem uma tradição com a mãe que adora manter: passear em shoppings todos os sábados. “Mas gosto de ajudar em casa também, lavo a louça, passo pano no chão, faço compras, ajudo minha mãe no que ela precisar”, atesta. 42

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

Nova sede Devido ao aumento no atendimento a pessoas com Síndrome de Down, no dia 25 de abril deste ano foi inaugurada a nova sede da BemTe-Vi, que fica próxima à avenida dos Imigrantes Italianos. O espaço possui 1,4 mil m² de área construída, tem quase 30 ambientes entre salas

de oficinas, atendimentos diversos, área administrativa, biblioteca, piscina, refeitório e cozinha. Quem puder ajudar, seja contribuindo com os 20 reais da campanha ou de outra maneira, pode entrar em contato com a entidade: 11 4526-9446 / gerencia.btv@bol.com.br / www. bemtevi.org.br / Banco Itaú; agência: 026; conta corrente: 08382-4.

Uma importante data O dia 21 de março foi escolhido para celebrar a Síndrome de Down por causa da alteração genética no par 21 (referente ao dia), que apresenta três (relacionado ao mês), ao invés de dois, cromossomos em quem é Down. A data foi instituída oficialmente em 2006 e é reconhecida pela Organização das Nações Unidas. Seu objetivo é tornar o tema amplamente conhecido, combater o preconceito e compartilhar o conhecimento sobre a síndrome.



pets

Eles também fazem acupuntura Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz e Divulgação uem tem um animal de estimação sabe como as dores podem fazê-los sofrer e limitar suas atividades diárias. Com o objetivo de amenizar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dos pets, veterinários têm se especializado em numa prática cada vez mais comum: a acupuntura em animais. A médica veterinária acupunturista há sete anos, Camila Borelli, afirma que os princípios são os mesmos da acupuntura aplicada em humanos. “Cerca de 85% dos animais que fazem acupuntura comigo sentem dor”, revela. “As dores podem ter diversas origens, como a idade, doenças (artrite, artrose, bico-de-papagaio, hérnia de disco) ou sequelas causadas por problemas de saúde que tiveram, como cinomose ou Acidente Vascular Cerebral, que podem paralisar algumas partes do corpo.” Os cães e gatos são os pacientes mais comuns da terapia, mas a veterinária informa que outras espécies, como coelho e cavalo, também podem receber o tratamento. Camila explica que o ideal é que os animais façam a acupuntura para sempre: em casos de doenças pontuais, depois que os animais apresentam uma melhora significativa, as sessões podem ficar mais distantes uma da outra. Porém, no caso de doenças crônicas, depende do organismo de cada um. “Alguns animais não conseguem ficar sem a terapia por mais de duas ou três semanas”, afirma. “Nem devem, pois a acupuntura os ajuda a comer, dormir, andar, a viver melhor.” As pessoas que se interessam pela terapia e querem experimentá-la não precisam solicitar autorização do clínico do animal, de acordo com a profissional, mas geralmente os pets chegam até ela por indicação de um veterinário, para complementar outros tratamentos em andamento, o que é ideal. “Assim como nós, os animais têm os canais energéticos ao longo do corpo, que podem estar com falta ou excesso de energia”, comenta. “Se um cãozinho tem dor na coluna, aplico a agulha

Q

44

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

Camila com seus pacientes em tratamento de acupuntura. Todos bem calmos.


no ponto local, que é a própria coluna, e no ponto distante, que fica no pé, já que lá há um ponto relacionado a dor.” Mas ela avisa que é necessário saber primeiro o diagnóstico correto do animal, não se pode fazer acupuntura no pet sem saber o que ele tem, do contrário, o terapeuta pode prejudicá-lo ainda mais. Ela explica que em tratamentos contra dores, quando a agulha é colocada no corpo, o organismo tenta expulsá-la, pois é um corpo estranho. “Para expulsar o objeto, sangue, células de imunidade e de dor vão para aquele local específico. Neste momento, há a ativação do ponto, como a medicina ocidental define, ou a liberação da energia, como os orientais acreditam.” Reação Alguns animais têm menos dificuldades do que outros para deixar a veterinária aplicar as agulhas. Por isso, o limite de cada pet deve ser respeitado. “Quando os guardiões estão na sala, eles ficam mais agitados, ao contrário de quando estão apenas comigo”, conta. “Nas primeiras sessões, eles acham esquisito, mas se acostumam logo e compreendem que aquela situação é para o bem deles; eles sentem a diferença no seu bem-estar para melhor.” Camila garante que a aplicação não dói; cada animal reage de uma maneira: em alguns, o ponto trabalhado coça, em outros, esquenta. “Para ser acupunturista de animal é necessário ser veterinário e fazer uma especialização de dois anos, porque não é uma técnica simples, você precisa ter segurança e saber o que está fazendo”, diz. “É uma profissão muito gratificante porque a grande maioria dos animais responde bem ao tratamento. Alguns chegam extremamente debilitados e, após algumas sessões, estão bem melhores.”

As duas cachorrinhas poodle da Renata já passaram por tratamentos de acupuntura e ela agradece por estarem bem hoje.

Adepta Renata Rossi tem duas cachorras poodle toy: a Cindy, de 11 anos, e a Clara, de oito. A Cindy conheceu a acupuntura há cinco anos, quando seu veterinário descobriu que ela tinha artrose e dor na coluna devido à idade. Renata comenta que a poodle perdia cartilagem no meio das vértebras, então, mal conseguia andar por causa da dor. “Ela fazia

tratamento com um remédio muito forte, que era aplicado com injeção. Depois, o veterinário trocou o medicamento e passamos a fazer duas sessões de acupuntura por semana”, lembra. “Quando ela melhorou, passamos para uma sessão semanal. Era incrível, quando ela saía da terapia, começava a correr, se sentia super bem.” Hoje, a Cindy já não passa mais por tra-

tamento porque está bem. “Ela sentia que a acupuntura era para o bem dela porque ela ficava muito calma durante a sessão”, conta. Já Clara teve seu primeiro contato com a acupuntura por causa de uma situação bastante triste. Como de costume, Renata a levou para tomar banho no seu pet shop de confiança. Quando a cachorra voltou, estava com hemorragia e tinha perdido o moviApê Zero 1. Mai/Jun 2015

45


Novidades fofas Confira os mimos que selecionamos para seu amigo. E tem um pra você também... Fotos Produtos: Divulgação

1

Clara passou por tratamento de 8 meses e hoje está bem.

mento das patas traseiras. “Foi desesperador ver que minha cachorrinha estava bem e, pouco tempo depois, estava tão debilitada”, recorda. “Na época, ela tinha quatro anos. Precisamos fazer um tratamento intensivo para ajudá-la a melhorar, mas não acreditava que ela voltaria a andar”, declara Renata. Clara teve que tomar vitamina para fortalecer os ossos e a musculatura, fez fisioterapia e acupuntura. “Durante a fisioterapia, eu a colocava em uma banheira com água gelada para ajudar a estimulá-la. Eu fazia movimentos nas patas para ela lembrar que tinha os membros duas vezes por dia”, descreve. “Já na acupuntura, logo após a primeira sessão ela voltou a dar os primeiros passinhos, ainda bem insegura; depois de uma semana, já havia recobrado os movimentos.” O tratamento completo demorou oito meses para ser concluído. Hoje, Cindy e Clara têm uma vida normal, são saudáveis e só tomam banho em casa. “Eu sinto uma felicidade enorme em ver que elas se recuperaram e não ficaram com sequelas graves. Quem ama os animais sofre junto com eles quando estão doentes, então, agradeço pelo fato delas estarem bem hoje”, declara aliviada. 46

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

2

4

3

5

1. PKit Família: 1 caneca “mãe de gato” e 1 caneca “mãe de cachorro” R$ 45,00 www. patas-therapeutas.kauplus.com (Ao comprar produtos Patas Therapeutas, você ajuda a ONG. Informe-se!); 2. Cobertor em soft xadrez R$ 35,90 www.fofopet.com.br; 3. Pingente par cachorros R$ 19,90 www. aladimshop.com.br/pet-shop; 4. Kit com 4 meias antiderrapantes para cachorros R$ 18,90 www.aladimshop.com.br/pet-shop; 5. Comedouro e bebedouro automático bege R$ 144,90 www.petelegante.com.br *Preços sujeitos a alteração


Multiplicadores #somostodossolidarios

Fraternidade solidaria Cín tia

Reportagem: Renata Susigan Fotos: André Luiz

I Raio-X Formado em Economia, mas há cerca de 10 anos envolvido com a

ndividualmente, um grupo de amigos fazia contribuições para ajudar pessoas e entidades jundiaienses. Quando decidiram unir suas forças e formar o grupo Somos Todos Solidários, eles começaram a entregar comida a moradores de rua semanalmente. A iniciativa, que começou formalmente há pouco mais de um ano, deu tão certo que o próximo passo será ampliar a atuação do projeto e fundar uma ONG, objetivo que, segundo Tito, será alcançado ainda este ano. Mais do que ajuda material, os integrantes do Somos Todos Solidários levam alegria e atenção a pessoas que vivem em condições inadequadas para sua saúde e bem-estar e, muitas vezes, solitárias.

carreira artística, o ator de cinema, tevê e teatro, Tito Naville, faz questão de encontrar tempo para ser voluntário no projeto social Somos Todos Solidários (#somostodossolidarios). Junto com a mãe, Natalina Picchi, Tito promoveu durante vários anos a campanha Natal Solidário e serviu sopa a moradores de rua. Como sempre gostou de ajudar

Tito, como o trabalho voluntário entrou na sua vida? Minha mãe, Natalina, e eu fazíamos uma campanha chamada Natal Solidário e também servíamos sopa a moradores de rua. A ideia de aumentar minha atuação começou quando um amigo (Caio) e sua irmã (Giovana) fizeram uma festa de aniversário e pediram aos convidados que, ao invés de levar presentes para eles, levassem doações em alimentos e roupas. Toda a arrecadação foi entregue ao Fundo Social de Solidariedade.

cinco pessoas, então, começamos a entregar lanches, chocolate quente e agasalhos a 20 moradores de rua da região central de Jundiaí. Hoje, pouco mais de um ano se passou e vocês cresceram. Como isso ocorreu e qual é o perfil dos voluntários? Nossas famílias e amigos se juntaram a nós e chegamos a 15 voluntários. Atualmente, às terças-feiras, entregamos comida para 100 pessoas que ficam durante a noite próximas ao Cemitério do Centro, Praça das Rosas, Mosteiro de São Bento e Praça da Matriz. Os voluntários são empresários, professores, corretores e jornalistas entre 21 e 30 anos. Como há outros grupos na cidade que fazem o mesmo trabalho que nós, nos reunimos e estabelecemos uma escala para que nenhum dia fique sem a entrega da comida. Como vocês mantêm o grupo? Bancamos os gastos com recursos próprios, mas também promovemos festas para arrecadar fundos. O que vocês entregam a eles atualmente?

quem precisa, um de seus sonhos é ter uma ONG para atender crianças socialmente vulneráveis ou com alguma doença, por meio da arte e do mundo lúdico, além de continuar o trabalho junto aos moradores de rua.

Quando o grupo Somos Todos Solidários foi criado e como foi o processo de fundação? Em abril de 2014, meus amigos e eu percebemos que cada um estava fazendo uma ação social diferente, então, decidimos nos unir. A princípio, conseguimos juntar

Hoje, entregamos uma marmitex. Dependendo da semana, servimos macarrão, arroz, feijão, carne. Conhecemos um casal, que também entrega comida, e nos unimos a eles. O grupo todo compra os ingredientes, eles cozinham e todos fazem o trabalho de entrega. Além disso, fazemos campanhas para arrecadar roupas. Apê Zero 1. Mai/Jun 2015

47


Multiplicadores #somostodossolidarios O tempo que passamos com eles é muito gostoso. Alguns são mais reservados, outros são bem extrovertidos, mas todos são carinhosos. Tem um senhor que sempre canta para nós. Conversamos com eles, ouvimos o que têm a dizer. Aprende-se muito. Qual o perfil dos moradores que vocês ajudam? Fazemos um cadastro deles, então, sabemos que a faixa etária está entre 20 e 80 anos, cerca de 90% são homens. Os motivos por estarem na rua são diversos, como desemprego e dependência química; alguns foram abandonados pelas suas famílias, outros perderam a memória, há pessoas estudadas, muitas que são de outras cidades. Qual a importância de oferecer este tipo de ajuda que o Somos Todos Solidários oferece, de dar comida a quem tem fome, uma forma direta de contribuição? O Brasil está passando por um momento difícil, Jundiaí também. Percebemos que o número de moradores de rua tem aumentado significativamente em pouco tempo. Se a gente ajuda com comida e roupa, a chance de cometerem pequenos delitos diminui. Nós e outros grupos de voluntários que atuam em diversas áreas somos uma vertente do poder público, onde este não consegue chegar, atender às necessidades. Conte-nos sobre o casamento que repercutiu tanto... Em outubro do ano passado, fizemos o Casamento Solidário na Praça da Matriz. Um casal que mora perto do Cemitério sonhava em se casar. Concordamos que realizaríamos o sonho deles, caso melhorassem, se ajudassem mais. Eles cumpriram o combinado, então, fizemos a nossa parte no acordo: conseguimos um vestido para a noiva, terno para o noivo, compramos o par de alianças, um DJ foi tocar sem cobrar nada, tivemos bolo, salgados, decoração, fotógrafo. A noiva ganhou um ‘dia de noiva’, convidamos amigos e deu tudo certo, pois contamos com a ajuda 48

Apê Zero 1 . Mai/Jun 2015

de muitas pessoas. Foi super bonito, emocionante e, depois, todo mundo se divertiu. Quais são seus planos para o futuro em relação ao Somos Todos Solidários? Dentro de uns quatro meses iremos oficializar a ONG. Iremos manter nosso trabalho com os moradores de rua, mas queremos ampliar a nossa atuação, atendendo crianças. Visitaremos entidades da cidade que estejam precisando de ajuda, identificaremos as necessidades e faremos eventos, campanhas e outras ações para angariarmos verba para ajudá-las da maneira que precisarem, seja com material de construção, roupas, alimentos ou outras coisas. A princípio, atenderemos famílias e entidades. Conforme a ONG for crescendo, queremos levar oportunidade para as crianças fazerem oficinas, terem contato com a arte e descobrirem seus talentos. Nosso trabalho não tem fronteiras! Se você puder ajudar, estes são os contatos: Email: projetosomostodossolidarios@gmail.com Instagram: @somostodossolidarios Facebook: somostodossolidarios


restaurante

fotografia

academia

classificados

ApĂŞ Zero 1. Mai/Jun 2015

49


cronica

MARIAZINHA E SEU BILAU

Divu lgaç ão

Mariazinha e seu marido Arnaldo, depois que se mudaram de Dois Córregos para Jundiaí, foram morar em um dos condomínios da região do bairro do Eloy Chaves. Quando colocaram toda a mobília dentro da casa nova, perceberam que faltava alguma coisa para completar suas vidas. Mariazinha, mesmo com a casa toda novinha, sentia um grande vazio no peito. Faltava alguma coisa naquela casa! Foi quando, em uma feirinha de adoção, o casal conheceu o Bilau. Era um cãozinho sem raça definida, cujos antigos donos, após o término do casamento, entregaram-no para adoção. Mariazinha logo se familiarizou com Bilau, pegou–o com carinho e levou para casa. Seu marido, Sr. Arnaldo, ficava constrangido, pois toda noite que Bilau ficava do lado de fora, Mariazinha gritava: - Arnaldinho, bota o Bilau para dentro! Os vizinhos ficavam intrigados com aquele casal de meia idade, quando a mulher solicitava que o Bilau ficasse dentro, e Seu Arnaldo cumpria a risca os pedidos da esposa. Certo dia todo o mistério foi descoberto. Seu Arnaldo deixou o portão aberto e o Bilau escapou. Correu para rua e, com aquela estirpe toda, logo chamou a atenção dos vizinhos que ligaram para a Zoonoses: havia um cachorro vira lata solto no condomínio! Não demorou um minuto e Sr. Arnaldo já estava gritando: - Ele é meu! Ele é o meu Bilau! Ninguém põe a mão nele! Foi aí que a vizinhança passou a entender o teor das frases noturnas. O Bilau era o cãozinho vira lata, que latia na porta da cozinha e queria dormir dentro da lavanderia.

Rafael Godoy

José Miguel Simão Advogado e cronista

Na internet Leia outras crônicas do Dr. Simão Procure pela palavra “crônica” no site: www.apezero1.com.br




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.