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Duas grandes características do período 1956-1966, quanto à Ciência e Tecnologia, foram: o entendimento de que o desenvolvimento do País somente se daria com o concurso dos dois agentes de financiamento empregados e que o tratamento dado à C&T seria matricial, ou seja, permeando as ações setoriais por meio de secretarias em todos os Ministérios, e desenvolvendo e apoiando iniciativas modernizadoras e de crescimento para a Nação.

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A despeito da oposição de alguns setores castrenses, o General Henrique Lott, com vigorosa intervenção, em 11 de novembro de 1955, reorganizou a cena política. Mágoas e ressentimentos em setores militares marcaram o governo Kubitschek. Revoltas e rebeliões, como Jacareacanga e Aragarças, ensejaram a oportunidade de anistiar todos aqueles que haviam participado de ações político-militares desde o episódio de novembro de 1955 (Novembrada).

O desenvolvimento do conflito entre a Marinha e a Aeronáutica, em torno das aeronaves que passariam a operar no Porta-Aviões Minas Gerais, adquirido com a intenção – frustrada – de cortejar os militares, só não resultou em consequências mais graves pela decisiva sustentação do Ministro da Guerra, fator de equilíbrio durante todo o governo de Kubitschek.

O surpreendente erro de cálculo cometido por Jânio Quadros no episódio da renúncia demonstrou a imprecisão do seu conceito sobre os militares. Perplexos e desconfiados com a dubiedade da política conduzida pelo exótico presidente, preferiram vê-lo afastarse da chefia da Nação, a despeito das consequências que isso fatalmente acarretaria, a ter que continuar convivendo com a demagogia populista, as incertezas e oscilações do excêntrico governante, cujo temperamento variava entre profunda depressão e esfuziantes demonstrações de megalomania.

O Parlamentarismo foi uma artificial solução engendrada para viabilizar, após a renúncia, a posse do Vice João Goulart, na Presidência da República. O populismo sindicalista de Goulart provocava, na grande maioria da oficialidade, repulsa e indignação. Com efeito, Jango demonstrou não se situar à altura da complexidade dos antagonismos então existentes. Introvertido e pouco dotado em termos de carisma e liderança, tornou-se figura de fachada, manipulado por aqueles que, determinada e afoitamente, queimavam etapas na perseguição de objetivos definidos e preconizados no receituário anárquico-sindicalista, disfarçados de Reformas de Base. Ao cabo de pouco mais de dois anos, o País assistiu, atônito, à institucionalização da baderna, traduzida na intencional inversão de valores e preocupante quadro econômico, robusta inflação e despudorada corrupção, acompanhados de acintoso desrespeito ao princípio da autoridade, inclusive no meio militar. Para muitos, o próprio governo financiava e incentivava a anarquia. Seus mentores de fato controlavam, com audácia, as rédeas do aparelho governamental. Não se aperceberam de que, na verdade, não detinham o poder.

Numa inequívoca demonstração de repúdio a tudo o que assistia, a Nação foi às ruas, numa opção clara contra o caos reinante. O insistente clamor da sociedade arrancou as Forças Armadas do estado letárgico que até então as anestesiava. A resistência praticamente não existiu. Ao contrário, o País suspirou aliviado. Estava a salvo do comunismo, vinte e cinco anos antes da derrocada da União Soviética.

Segundo setores moderados das Forças Armadas, a intervenção ideal seria limitada, não somente no tempo, mas, também, na profundidade da cirurgia a ser feita nas instituições políticas. Para outros, mais radicais, era chegada a hora de os antigos tenentes tomarem totalmente o poder e extirparem de vez os obstáculos ao Brasil potência. Frustrados, os líderes civis do movimento viriam a se aliar aos opositores da véspera. Não foi sereno o início do novo Regime. Não mais seguindo a tendência, rigorosamente observada, de entregar as rédeas do governo a líderes políticos aliados após as intervenções, as Forças Armadas, desta vez, exerceriam o poder na sua totalidade. O gérmen do Tenentismo havia renascido. Os tenentes, quarenta anos após, feitos generais, iriam colocar em prática, sem as amarras das sutilezas político-partidárias, o ideário pelo qual tanto haviam lutado. O período contemplado neste livro representou para a nossa História uma fase de profundas modificações na Expressão Militar do Poder Nacional. Decorrência da bipolaridade, as Forças Armadas brasileiras experimentaram forte influência de suas congêneres norte-americanas, tanto no aspecto organizacional, quanto nas questões doutrinárias. O material de emprego militar, nas mais diferentes versões e modalidades, era quase totalmente oriundo dos Estados Unidos, caracterizando uma preocupante dependência. Na mesma época, foram criados institutos militares de pesquisas científicotecnológicas, primeiro passo na tentativa de dotar o País de massa crítica indispensável à fabricação de equipamento militar, compensando, de certa forma, a referida dependência. Conveniente para a expansão do Poder Nacional além das nossas fronteiras foi a participação de contingentes brasileiros em Forças internacionais. O Marechal Castelo Branco, líder moral e intelectual do Movimento de 1964, iniciou, na Presidência da República, o ciclo de presidentes militares. Seu propósito – ficou claro desde logo – era o de realizar a profilaxia política e incentivar o desenvolvimento da boa prática administrativa, e, o mais rapidamente possível, fazer o País retornar à normalidade democrática. Imaginava, certamente, que aquela seria a melhor contribuição dos militares ao aperfeiçoamento das instituições do País. Ainda que alcançada por atalhos não convencionais, a cirúrgica intervenção no processo político permitiria alcançar o patamar a partir do qual o Brasil se projetaria no cenário mundial, ostentando crescimento harmônico de seu Poder Nacional.

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