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Apresentação

“O primeiro dever de um historiador é não trair a verdade, não calar a verdade, não ser suspeito de parcialidade ou rancores”. Cícero, Marcus Tullius (106 AC - 43 AC)

É com enorme satisfação que tenho a honra de fazer a apresentação do Volume 5 da Série História Geral da Aeronáutica Brasileira.

O planejamento inicial desta obra, estabelecido logo após a conclusão do Volume 4 em 2005, previa abranger o período de 1956 a 1979.

Ao longo do levantamento de dados e informações do período, verificou-se que o livro ficaria extremamente volumoso, o que sugeria ter que dividi-lo em 2 tomos.

Foi, então, considerado mais adequado reduzir essa abrangência de 1956 - Posse do Presidente Juscelino Kubitschek - até 1966 - vésperas do Decreto-Lei nº 200.

Com o advento do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, que estabeleceu diretrizes para a Reforma Administrativa, ocorreu uma profunda modificação na estrutura organizacional do Ministério da Aeronáutica. Com a redução do período de abrangência do Volume 5, essa nova estrutura organizacional e seus desdobramentos serão tratados, sem solução de continuidade e com maior consistência, em um mesmo livro: o próximo Volume 6.

O período considerado, 1956/1966, caracterizou-se por uma intensa participação de integrantes da Força Aérea Brasileira em fatos marcantes da conturbada conjuntura política da década.

Entre os fatos que marcaram o período em foco, podemos destacar a eleição do Presidente Juscelino, as rebeliões de Jacareacanga e Aragarças, a compra do Porta-Aviões Minas Gerais, assim como a crise decorrente, a mudança da Capital Federal para Brasília, a posse e a renúncia do Presidente Jânio Quadros, a posse do Presidente João Goulart, a Revolta de Sargentos em Brasília, os comícios e as marcha populares no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Belo Horizonte, os movimentos revolucionários e contra-revolucionários que antecederam março de 1964, que, dentre outros, foram registrados, principalmente, na parte introdutória deste Volume 5 da História Geral da Aeronáutica Brasileira.

No período de janeiro de 1956 a dezembro de 1966, o Ministério da Aeronáutica foi dirigido por nove Ministros de Estado da Aeronáutica, tendo sido a chefia do Gabinete Ministerial exercida por quinze oficiais-generais ou oficiais superiores da Aeronáutica.

Apesar das dificuldades políticas e econômicas, foi uma fase de consolidação do Poder Aéreo Único, em que foram estabelecidas as condições para a formação das bases científicas e tecnológicas de uma nascente e promissora Indústria Aeronáutica e Aeroespacial.

Um aspecto digno de menção são as cerca de 300 fotos e imagens apresentadas neste Volume 5, resultado de intensa pesquisa nos milhares de volumes da Biblioteca Ten Brig Moreira Lima - no INCAER -, dos acervos do Museu Aeroespacial e do Centro de Documentação da Aeronáutica, e nos arquivos de diversas organizações militares. Entre elas encontramos fotos raras, verdadeiras pérolas de imagens, até agora esquecidas nas gavetas da história. Todas elas buscam uma representação significativa dos momentos vividos por nossos valorosos predecessores.

Estamos escrevendo fatos que ocorreram há mais de cinquenta anos. Tal distanciamento torna-se um óbice ao levantamento e detalhamento dos fatos e seus protagonistas, ao constatarmos uma relativa ausência de pessoas que viveram, em sua plenitude, os eventos de interesse, naqueles anos distantes. Diante de tais dificuldades, o INCAER decidiu ampliar, em quase 100%, o número de colaboradores para contar essa epopeia. O Volume 5 contou com a participação de mais de quarenta colaboradores com conhecimento de áreas específicas.

Outro óbice, com efeitos quase fatais para a nossa história, foi o incêndio no Aeroporto Santos Dumont, em 13 de fevereiro de 1998. Na época, eu era o Subdiretor de Administração da DEPV, cheguei ao aeroporto às 3:30 h e presenciei, com um misto de tristeza e angústia, o DAC (Departamento de Aviação Civil), a DIRMA (Diretoria de Material) e a DEPV (Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo) serem consumidos pelo fogo, junto com as instalações de embarque e desembarque de passageiros.

Ocorre que, no enorme acervo de documentos ostensivos, sigilosos e da área de Inteligência perdidos no incêndio - muitos de valor histórico incalculável - estavam os arquivos da Diretoria de Material, com todos os relatórios dos Parques de Material Aeronáutico, as análises dos programas, estatísticas das revisões e respectivos valores envolvidos. Perderamse, também, os números de artífices que trabalhavam nos parques e suas especialidades. Isto, que se poderia ter transformado em uma grande lacuna para o registro da História da DIRMA, só não o foi graças à abnegação e a ímpar dedicação do Brig Eng Roberto Della Piazza, colaborador encarregado de redigir a parte da Diretoria de Material.

O Brigadeiro Piazza, já contundentemente atingido em sua saúde, não se afastou da missão! Vinha ao INCAER, dirigia-se à DIRMAB e aos parques, com grande esforço pessoal. Mesmo nos seus últimos dias, vividos em um leito do Hospital de Força Aérea do Galeão, em julho de 2013, esteve presente, através de telefonemas e da internet, engajado que continuou na missão voluntária de registrar a história do setor da Força Aérea Brasileira ao qual dedicou sua vida. Com essa referência ao Brig Piazza, estendo essa homenagem a todos os colaboradores, redatores e coordenadores que, com denodo e entusiasmada dedicação levaram adiante e concluíram esta empreitada, que registra uma década rica de fatos e exemplos que engrandecem a História da Aeronáutica Brasileira.

Assim, acreditamos que, com o Volume 5 da História Geral da Aeronáutica Brasileira, o INCAER dá mais uma importante contribuição para a cultura aeronáutica, em consonância com o lema da instituição: “Conectando o passado, o presente e o futuro da cultura

aeronáutica”.

Ten Brig Ar Refm Paulo Roberto Cardoso Vilarinho Diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

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