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Defesa Aeroespacial
Contribuindo para a superioridade no ambiente aéreo
Com a preocupação de proteger “seus ninhos”, a Força Aérea Brasileira (FAB) criou uma estrutura própria de Defesa Antiaérea, a partir da ativação da 1ª Companhia de Artilharia Antiaérea de Autodefesa (1ª CAAAD), no ano de 1997. Foram os primeiros passos, naquele momento, de uma longa caminhada no desenvolvimento da capacidade de combate superfície-ar, atividade que contribui, decisivamente, para a missão da Infantaria da Aeronáutica, cujo lema é “Defendendo na terra o domínio do ar”.
Ao longo de seus vinte e quatro anos de existência, a Defesa Antiaérea da FAB participou de inúmeros Exercícios e Operações, bem como de missões reais, como a Copa das Confederações de 2013; a Copa do Mundo de 2014; os Jogos Olímpicos de 2016; BRICS; a Cúpula de Chefes de Estado; entre outros. Nesse período, foi desenvolvida e testada sólida doutrina de emprego, especialmente no envelope de atuação denominado Very-Short Range Air Defence (VSHORAD), que vai de 0 (zero) a 3 (três) milhas náuticas.
Atualmente, a defesa antiaérea da FAB conta com uma estrutura composta por três Grupos de Defesa Antiaérea (GDAAE), com sedes em Canoas-RS, Manaus-AM e Anápolis-GO, todos subordinados à Primeira Brigada de Defesa Antiaérea (1ª BDAAE), localizada em Brasília-DF.
O papel da Defesa Antiaérea da FAB
Como elo permanente do Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), as Unidades de Defesa Antiaérea da FAB contribuem diretamente para a garantia da soberania do espaço aéreo brasileiro. Cabe aos GDAAE a execução da Ação de Defesa Antiaérea, a qual consiste em empregar Meios de Força Aérea, a partir da superfície, para detectar, identificar e neutralizar vetores aéreos oponentes que ameacem forças amigas e Áreas (A Sen) ou Pontos Sensíveis (P Sen) de interesse da Força Aérea, por meio do emprego de meios cinéticos contra alvos aéreos.
Juntamente com os meios aéreos, os meios
anti aéreos consti tuem a defesa ati va do sistema de defesa aeroespacial. A capacidade de controlar determinada porção do espaço aéreo, impedindo ou negando ao inimigo seu acesso, trata-se de fundamental apti dão de qualquer Força Aérea no mundo.
O melhor sistema de defesa com essa fi nalidade, como mostra as doutrinas de emprego das mais relevantes forças militares do mundo, é aquele onde há a integração de sistemas de defesa aeroespacial. Um exemplo dessa concepção é o adotado pela OTAN, cujos meios de defesa aeroespacial atuam sob o comando e controle do NATINADS (NATO Integrated Air Defence System).
A incorporação futura, pela FAB, de sistemas de defesa anti aérea de médio e longo alcances representará signifi cati vo incremento na capacidade da Força em manter a soberania do espaço aéreo nacional.
Organização da Defesa Anti aérea da FAB
Para o cumprimento de sua missão, a defesa anti aérea da FAB é organizada nas seguintes estruturas: Brigada, Grupos e Baterias.
A criação da 1ª BDAAE, em novembro de 2015, representou um importante passo na consolidação da ati vidade de defesa anti aérea da FAB. Sua missão é coordenar o preparo e apoiar o emprego dos Grupos de Defesa Anti aérea, a fi m de contribuir para a Defesa Aeroespacial Brasileira.
Os GDAAE são organizações focadas no cumprimento de sua missão, que é executar o preparo e o emprego dos seus meios, com vistas ao cumprimento da Ação de Defesa Anti aérea, conforme diretrizes, planos e ordens dos Comandos Superiores. A unidade de emprego operacional do GDAAE é a Bateria (Bia) de Defesa Anti aérea, que tem por fi nalidade coordenar, executar e controlar, de modo integrado à Defesa Aeroespacial, a Defesa Anti aérea de Pontos ou de Áreas Sensíveis. Para fi ns de emprego, é composta pelo Centro de Operações Anti aéreas (COAAe), pelas Seções de Tiro e pela Seção de Apoio Logísti co.
A organização operacional dos Grupos e Baterias de Defesa Anti aérea da FAB baseia-se em “sistemas anti aéreos”, consti tuídos pelos seguintes subsistemas:
Subsistema de Controle e Alerta;
Subsistema de Armas;
Subsistema de Apoio Logísti co; e
Subsistema de Comunicações. O Subsistema de Controle e Alerta é responsável pelo Comando e Controle dos meios anti aéreos designados para proteger um Ponto ou Área Sensível e é consti tuído pelo Centro de Operações Anti aéreas (COAAe), pelos Postos de Vigilância (P Vig), por Sensores Anti aéreos (Sen AAe) e pela Sala Móvel de Operações Terrestres (SMOT).
As Baterias possuem meios próprios de detecção, como o radar SABER M60, que foi desenvolvido especialmente para a detecção em três dimensões (alcance, azimute e elevação) de alvos voando a baixas alti tudes, a até 60 km de sua posição.
O Subsistema de Armas é responsável pelo engajamento efeti vo das ameaças aeroespaciais designadas pelo COAAe, consti tuído pelas Seções de Tiro que efetuam o engajamento por meio das Unidades de Tiro (U Tir) as quais possuem diferentes característi cas em função do armamento (canhão e míssil) e dos sensores empregados, bem
como das plataformas uti lizadas para prover sua mobilidade. O míssil IGLA-S 9K338, de origem russa, é a ponta da lança do subsistema de armas da bateria. Do ti po fi re and forget, possui guiamento por infravermelho e é bastante efetivo contra alvos voando a até 6.000 m de distância e até 3.500 m de altura. Para operação noturna, o míssil é utlizado com o Dispositivo Termal de Pontaria (DTP), o qual permite ao atirador visualizar a aeronave, por meio de sua assinatura térmica. O Subsistema de Apoio Logísti co é responsável por prever, prover e manter recursos e serviços necessários aos meios anti aéreos e contempla todas as ações, recursos humanos, materiais e locais uti lizados para dar suporte ao planejamento e emprego dos meios de Defesa Anti aérea. Para o apoio logísti co da bateria, são uti lizadas viaturas modelo Marruá AM23 de ¾ ton. O Subsistema de Comunicações é responsável por assegurar a permanente transmissão de dados, voz e imagens de cunho logísti co ou operacional, imprescindíveis ao funcionamento e à integração de todos os componentes do Sistema Anti aéreo. São empregados rádios transceptores para as comunicações internas de voz e dados da bateria, bem como para as comunicações e enlaces de longa distância, sem visada direta.
Tão ou mais importante do que os meios materiais, no entanto, é fundamental a existência de recursos humanos qualificados a operá-los com eficácia e eficiência. Os diversos militares que atuam diretamente na ati vidade-fi m da bateria, operando seus subsistemas, ocupam as seguintes Funções Operacionais (FOP): a) Comandante de Defesa Anti aérea (Cmt DAAE); b) Comandante da Bateria de Defesa Anti aérea (Cmt Bia DAAE); c) Ofi cial de Controle (Of Ct); d) Ofi cial de Ligação Anti aérea; e) Ofi cial Radar (Of Rdr);
f) Comandante de Seção de Tiro (Cmt ST); g) Adjunto do Ofi cial de Controle (Adj Of Ct); h) Locador (Loc); i) Ajudante do Ofi cial de Ligação Anti aérea (AJOLAAE); j) Registrador (Reg); k) Operador da Sala Móvel de Operações Terrestres (Op SMOT); l) Comandante de Unidade de Tiro (CUT); m) Operador Radar (Op Rdr); n) Ati rador (At); o) Remuniciador (Remu); p) Observador de Defesa Anti aérea (OBDAAE); e q) Auxiliar do Operador Radar (Aux Op Rdr).
O preparo das equipagens da bateria é desenvolvido por meio de cursos que capacitam os militares a atuarem em uma das FOP elencadas anteriormente. Os cursos a seguir são realizados anualmente, ou conforme demanda, especifi camente para os militares que atuam ou têm perspecti va de servir em uma Unidade de Defesa Anti aérea:
Curso Operacional de Defesa Anti aérea (CODAAE);
Curso Doutrinário de Defesa Anti aérea (CDDAE); Curso de Comandante de Unidade de Tiro (CCUT); Curso de Ati rador (CAT);
Curso de Remuniciador (CREA);
Curso de Observador de Defesa Anti aérea (COBDAAE);
Curso de Operador Radar SABER M60 (CORADAR); e
Curso de Instrutor de Simulador (CIKonus);
Além dos cursos listados acima, são realizadas outras capacitações em áreas de interesse para a DAAE, como Guerra Eletrônica, Comando e Controle e outras.
São uti lizados também simuladores para a formação e manutenção das equipagens. Os Grupos empregam atualmente o simulador de Campo 9F663 e o simulador 9F859 (Konus).
A ferramenta de treinamento Konus é de extrema valia no adestramento da Unidade de Tiro (UTir). Por meio da projeção de diversos cenários de emprego e diferentes ti pos e aeronaves, a UTir é submeti da a situações com variados graus de difi culdade, desde um vetor aéreo em uma rota de
desfi le até a simulação de engajamento de um míssil de cruzeiro, o mais difí cil. Os cenários podem ser alterados, podendo inclusive ser inserida a imagem real da posição de ti ro no terreno.
Parti cipação da Defesa Anti aérea da FAB em Exercícios Operacionais e Grandes Eventos.
Ao longo de sua existência, a Defesa Anti aérea da FAB acumulou vasto conhecimento sobre o emprego dos seus subsistemas, em especial do míssil anti aéreo de curtí ssimo alcance IGLA-S.
A parti cipação dos GDAAE nos exercícios de adestramento anuais, em sinergia com as aviações, promove inequívoco ganho mútuo de conhecimento. Além de manter seu preparo para o cumprimento de sua missão, a presença de meios de defesa anti aérea nos cenários de treinamento dos esquadrões aéreos oferece, a essas Unidades, a oportunidade de aperfeiçoarem suas táti cas, técnicas e procedimentos de emprego ar-solo.
Por meio da Célula de Avaliação do Desempenho Operacional (CADO), integrante da estrutura da direção do exercício (DIREX), todas as informações coletadas sobre o emprego das aeronaves e da bateria anti aérea são processadas e fornecem valioso feedback tanto para as tripulações quanto para a defesa anti aérea. Uti lizando-se o soft ware PMA-II, desenvolvido pelo Insti tuto de Estudos Avançados (IEAv), as informações do voo, como o registro de dados de navegação e de lançamento do armamento são integrados com os dados de engajamento coletados pelas Unidades de Tiro da defesa anti aérea. Desse modo, é feita a análise dos ataques contra os pontos sensíveis, podendo-se determinar se a aeronave foi ou não abatida pelo dispositivo de defesa antiaérea.
A parti cipação em grandes eventos também foi e conti nua sendo uma excelente oportunidade para os GDAAE adquirirem experiências na atuação em Operações de Não-Guerra, com é o caso de competi ções esporti vas de grande vulto e encontros de Chefes de Estado. Nessas ocasiões, atuando sob o controle operacional do órgão central do SISDABRA, o COMAE, as baterias de defesa anti aérea da FAB têm a chance de terem seus subsistemas empregados e testados em uma missão real.