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Recomeçar após perdas
Desejaria que você também dissesse ao seu Salvador que muito faz por você: “Senhor Jesus, nada mais quero fazer sem ti!” “Nada” é muito forte, mas é real, verdadeiro e concreto. E nossa tarefa é permitir Jesus agir em nós.
Oração: Querido Deus, quando nossa vida estiver escura, cheia de medo e incerteza, conserva, diante dos nossos olhos, a luz do teu amor por nós em Jesus Cristo. Amém.
Pª Christa Starosky Banza de Arruda e Nair Norma Doern Eichelt Rio Verde//MT
RECOMEÇAR APÓS PERDAS
Dias atrás vi uma frase estampada em Arquivo pessoal uma grande faixa em uma passeata: “Eu luto, eu luto, estou de luto”. Entramos em luto quando passamos por perdas significativas. Luto é uma reação de amor. Passamos a vida toda, desde antes de nascer, por perdas e despedidas. Para sairmos do útero, perdemos um espaço e entramos em outro, que pode ser muito assustador, com suas novidades, barulhos e luzes. Deixamos de ser crianças, deixamos de ser jovens, deixamos de ser tantas coisas e, se não nos despedirmos e encararmos essas perdas, estagnamos na vida. Tenho certeza que você rapidamente pode trazer à memória alguém que, passando dos Vera Cristina Weissheimer 40 anos, se comporta como um adolescente. Encarar as perdas e seguir é adultecer. O luto é feito de lutas diárias para cicatrizar a dor do pesar pela perda. Pesar é substantivo masculino que significa: tristeza e remorso, compaixão, angústia, amargura, arrependimento, aflição, consternação, desconsolo, saudade,
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sentimento, tristeza. Mas a mesma palavra pode ser o verbo “pesar”, que remete a peso. É comum que alguém que está enlutado por uma perda significativa sinta-se pesado, o corpo pesado, a cabeça pesada. Parece que se carrega um peso maior que o próprio corpo. O processo de luto não é para superar a perda, mas para superar a dor causada pela perda. O espaço vazio continuará ali, como uma peça faltando em um grande quebra-cabeça, mas a dor já não deverá nos paralisar como nos primeiros tempos, sentiremos saudades, e isso, bem, isso é a vida. Não é possível pensar em “curar” ou “superar” uma perda porque, se o que ou quem perdemos foi de fato significativo, então merece um espaço em nossa vida, mas não deverá ser o espaço principal, não deverá ser o que nos rouba forças, noites de sono e tempo de vida. O luto é de fases, é processo, é trabalho, é inferno, é presença, é ausência, é um tempo pelo qual precisamos passar para poder seguir com a vida. Quanto mais assumimos o luto em seu tempo, mais inteiros conseguimos sair dele. Luto que se complica é aquele quando temos certeza de que estamos dando conta, ao mesmo tempo em que vamos negando nosso estraçalhamento interno. Seguir a vida como se nada nos faltasse, como se a dor não existisse é sinal que algo não vai bem conosco. A dor que se sente não é física, mas faz doer o corpo todo, é uma dor que não é mental, mas é de endoidecer. Não se preocupe se pensar que está enlouquecendo, é parte do processo. No luto experimentamos dores que nem sabíamos existir. O luto não é uma doença, mas pode trazer doenças quando não trabalhado. Trabalho? Sim, definitivamente passar pelo luto dá trabalho, já sentenciava o psicanalista austríaco Sigmund Freud. É preciso chorar o luto, sentir o luto. Só assim é possível continuar vivendo sem ficar-doente-de-luto. Quanto mais escamoteamos, negamos e anestesiamos nossa dor, nossa saudade, nossa revolta, nossa indignação com a vida, com o mundo, com a humanidade, mais tempo levaremos para conseguir seguir com a vida. Por isso vomitar toda a dor é importante. Entramos em luto quando experimentamos perdas significativas. Entramos em luto porque amamos. Assumir que há uma falta, encarar que estamos sofrendo, procurar ajuda, falar sobre a dor é um começo de uma jornada em que, muitas vezes, precisamos de ajuda profissional, ouvidos que nos ouçam. Se não matamos a morte, mas pelejamos pela vida: Numa peleia das braba Topei co’ a Morte de cara A matungona parada De olho na minha alma
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Eu le pedi: Sai da frente Ou te levanto na espada Eu sei que a morte eu não mato Mas deixo toda lanhada
Essa peleia, como canta o cantor e compositor gaúcho Vitor Ramil, é das boas! Não é só por estar vivo, mas fazer valer o dia, cada instante, cada sopro de vida. É gratidão por ter as pessoas ao nosso lado, porque num instante tudo pode mudar. E, um dia, descobrimos que sobrevivemos e que somos, de fato, capazes de seguir e de experimentar novas alegrias. A saudade estará lá, mas já não estará doendo tanto assim. Se não conseguir seguir, pergunte-se, como recomendava o neuropsiquiatra austríaco Viktor E. Frankl a seus pacientes: “O que a pessoa falecida gostaria que você fizesse?”. Se havia afeto nas relações, sempre haverá o desejo de que a pessoa que sobrevive siga com uma vida que faça sentido. Se assim não for, não havia afeto, amor e consideração. Se você não está conseguindo seguir, é porque está deixando a morte vencer. E, com certeza, isso não está fazendo bem para você. A única certeza que temos na vida, muito antes da morte, é da ressurreição, e isso nos capacita com forças para seguir mesmo após as “pequenas” mortes que experimentamos durante a vida: uma depressão, uma separação, desemprego, aposentadoria. Experimentamos aperitivos da ressurreição durante a vida, vivenciando renascimentos em nossas vidas que num determinado momento nos enchem de coragem para encarar essa peleia que é a vida. Só há uma maneira de enfrentar a morte: vivendo. E isso tem um nome: esperança. Desejo a você que está lendo este texto um caminho de volta à sua vida, sabendo que ela nunca mais será como antes: será diferente e também será boa.
Vera Cristina Weissheimer Florianópolis/SC