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Cantar é esperançar

CANTAR É ESPERANÇAR

Quando recebi o convite para escrever este texto, lembrei-me de uma poesia em língua alemã com o título “Die Gesänge” (as canções), cujo autor é Johann Gottfried Seume (1763-1810). A primeira estrofe diz: “Wo man singet, laß dich ruhig nieder, ohne Furcht, was man im Lande glaubt; wo man singet wird kein Mensch beraubt: Bösewichter haben keine Lieder” (Die Deutsche Gedichtebibliotek). A poesia ensina que podemos tranquilamente nos ajuntar ao aconchego de um grupo que está cantando. Onde se canta, diz o autor, ninguém é roubado, isto é, ninguém tira nada de ninguém. “Vilões não têm hinos”, arremata o poeta. Podemos dizer que, conforme o autor, isso significa que quem vive arquitetando planos maldosos não sabe o que é cantar.

O título acima também faz lembrar o hino “Canto de Esperança”, de Esther Cámac e Edwin Mora. Ele consta na página 64 do livro “O Povo Canta”, publicado pela Pastoral Popular Luterana em 1994. Cada estrofe inicia com a frase quando se abate a esperança, ele se achega e nos fala. O refrão, por seu lado, inicia convidando cantemos ao nosso Deus. O hino garante, pois, que é Deus quem se aconchega quando a esperança se abate. Por isso convida para louvar a Deus cantando. Além disso, temos ainda o ditado popular ensinando que “quem canta seus males espanta”. Dessa forma chego à conclusão de que cantar é esperançar. Pois assim como esperançar, cantar é uma maravilhosa energia, pela qual o Espírito Santo de Deus opera em nós, nos proporcionando alegria, paz e resiliência.

Quero convidá-las a pensar comigo sobre o desafio de esperançar a partir do cantar. Em primeiro lugar, é claro, cantamos quando estamos alegres. Em segundo lugar, cantamos quando a esperança se abate. E em terceiro lugar, não cantamos quando nos tornamos indiferentes diante da maravilhosa energia, pela qual o Espírito Santo de Deus opera em nós e também não cantamos quando, dentro de nós, o ódio se exalta. Por isso, por exemplo, é de suma importância que a comunidade erga sua voz cantando quando um de seus membros morre e é sepultado. Ninguém está alegre, mas todos cantam. Poderia alguém pensar que em velório não há

clima para cantar. É, porém, nessa ocasião que a comunidade conjuga o verbo esperançar. Assim o fizeram Paulo e Silas. Foram torturados e jogados no fundo de uma prisão. À meia-noite, cantavam (Atos 16.19-26). Hoje talvez estejamos errando quando esperamos que apareça um motivo alegre para nos fazer explodir em louvor. Talvez hoje, quando as pessoas querem se distrair, estejam mais dispostas a ouvir música em volume alto, em vez de cantar. Ouvir música pode ser bom, mas não substitui o cantar. Talvez nossa sociedade esteja demonstrando que não tem o propósito de cantar para esperançar quando crianças e jovens não cantam, ou cantam pouco, na escola; quando pai e mãe não cantam, ou pouco cantam, cantigas de ninar para o seu nenê ou com suas crianças; quando não cantamos, ou pouco cantamos, em família; e quando na igreja – ah na igreja! – terceirizamos a tarefa de cantar para os corais e grupos de louvor. Cantar como forma de esperançar não acontece só quando cantamos porque estamos explodindo de alegria. Cantar como forma de esperançar é lançar mão da arte de cantar como recurso que ajuda a suportar e superar uma postura sem graça diante de uma situação ou acontecimento marcante. Cantar em grupo coloca diversos corpos numa mesma vibração, pois as mesmas palavras e os mesmos tons, ou diferentes tons em harmonia, são produzidos ao mesmo tempo por corpos que estão próximos e se entendem, decidindo abrir mão de palavras individuais para se unirem às palavras que estão nas mensagens dos hinos e que se tornam gestos coletivos. Aí estão o impulso, a iniciativa e a execução conjunta, que é a forma de conjugar o verbo esperançar. Por isso o poeta garante que onde se canta, você pode se aconchegar. E por isso cantamos ao nosso Deus quando a esperança se abate. Existem, porém, situações em que o canto não rola. É o caso do canto encomendado para agradar opressores e exploradores. É o que nos ensina o Salmo 137.1-4: Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha? Cantar para satisfazer quem maltrata, de jeito nenhum!

Para refletir:

 Você costuma cantar, sim ou não? Por que sim ou por que não?  Como está o canto no grupo de OASE e na comunidade?

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