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A importância das escolas comunitárias
Pelas andanças nas comunidades da IECLB, conheci um agricultor que dizia que a cada plantio ele fazia o melhor que tinha condições. Depois de terminar o plantio, ele se ajoelhava e entregava o trabalho que fez nas mãos de Deus. Ou seja, ele fez o que estava dentro das possibilidades dele, mas tinha a humildade para reconhecer que tudo que tinha feito não seria nada se Deus não abençoasse e permitisse o desenvolvimento da lavoura. Além de refletir sobre a nossa esperança, um desafio é animar outras pessoas e fazer com que a nossa esperança se multiplique. Se mais gente se alimentar de esperança verdadeira, teremos condições de seguir com mais ânimo. A esperança espalhada não diminui nem fica dividida. O bom testemunho transforma a realidade.
Ricardo Cassen Pastor sinodal do Sínodo Planalto Rio-Grandense Carazinho/RS
A IMPORTÂNCIA DAS ESCOLAS COMUNITÁRIAS
Arquivo pessoal
O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino (Provérbios 1.7). Isso quer dizer que a única sabedoria verdadeira é a que incide em uma forma de educação e vida baseada em Deus e se manifesta no amor, bondade e justiça com o próximo. A sabedoria do livro de Provérbios refere-se aos temas que são específicos da educação, da existência humana, da família e do relacionamento de pais, mães, filhos e filhas. Na antiguidade antes de Cristo, a educação das crianças acontecia no espaço da casa. Com o surgimento de sociedades maiores e mais complexas, surgem os primeiros professores e as primeiras Helga Schünemann é a professoras. Esses só podiam ser contratados por coordenadora editorial do Roteiro da OASE famílias que possuíam boas condições econômicas.
Sabe-se que o filósofo Platão, 387 a.C., criou uma espécie de escola onde se estudava filosofia e matemática. No entanto, somente para meninos.
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O tempo passa... Agora já na Idade Média, surgem os mosteiros com os líderes religiosos, onde se concentram muitos saberes, nem sempre tão acessíveis para todos. A produção artística e intelectual desenvolveu-se na dependência do cristianismo. A educação, incluindo literatura, música e arquitetura, começa nas igrejas e nos mosteiros. Em alguns lugares da Europa surgem as primeiras poucas escolas públicas e as primeiras universidades. O aparecimento das universidades desenvolveu uma estrutura muito complexa que ajudou o mundo científico e intelectual, sob o poder do papa ou do poder laico. No entanto, tudo voltado somente para os homens. Para as mulheres somente a educação do lar, com exceção daquelas meninas que entravam no mosteiro, como Catarina de Bora, esposa de Lutero. Em 1455, surge a imprensa, quando o alemão Gutenberg conseguiu imprimir o primeiro livro, a Bíblia. Com a preocupação pela cultura clássica dos gregos e romanos, surgiu o Renascimento e a Reforma religiosa, que dividiu os cristãos em católicos e protestantes.
Intensificaram-se, em 1520, as desavenças religiosas devido ao descaso na disciplina clerical na igreja católica, que estava com muito poder e rica. Além da venda de indulgências, que prometia perdoar os pecados e livrar o crente das chamas do inferno em troca de dinheiro. Outrossim, o desenvolvimento do senso crítico, “o uso da razão”, havia se instalado em todos os grupos de intelectuais e políticos da época. Dentro desse contexto histórico originou-se a Reforma religiosa de Lutero. Adotando a doutrina da justificação pela fé, Lutero acreditava que os cristãos só poderiam obter o perdão de suas culpas por meio do arrependimento sincero. O justo viverá por fé (Romanos 1.17). A salvação é um presente gracioso de Deus. Desses seus princípios não abriu mão, o que o levou a ser excomungado e ameaçado de morte na fogueira dos hereges pela igreja católica. No século 16, Lutero promoveu muitas discussões, principalmente na área da educação. As escolas deveriam ser locais de ensino para a juventude, além de formar bons representantes de todas as profissões. Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha pediu para que criassem e mantivessem escolas cristãs (1524). Sugeriu que a escola fosse pública e para todos. Exigiu dos pais a educação dos meninos e das meninas, dos pobres, propôs novos conteúdos, condenou os castigos físicos, valorizou o lúdico, enfim democratizou o ensino. O aprendizado da leitura garantia o acesso ao entendimento da Bíblia por ele traduzida.
“Lutero defendia a ideia de que as cidades seriam prósperas e justas à medida que seus habitantes fossem intelectualmente instruídos. Para ele a educação virou prioridade. Ela levava à formação de cidadãos cultos, que compreenderiam a Bíblia, sem que para isso dependessem de outras pessoas e dela se abasteceriam para transformar o mundo em um lugar melhor. Para ele, somente a partir de sua leitura o ser humano poderia ser protagonista da história, com senso ético e de justiça. Conhecendo a Bíblia, ninguém pode ser enganado. A compreensão da Bíblia, portanto, era a garantia de liberdade e alimentava a fé” (Lutero muito além da religião. Porto Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal, 2017. p. 51). Para Lutero, as escolas devem ser um lugar onde as crianças vão aprender, com alegria, a cantar, dançar, pular, fazer jogos, fazer exercícios e ter uma boa relação entre docente e discente. Os filhos de Lutero e Catarina foram educados e instruídos nessa fé cristã muito lúdica, na qual se cantava, ele tocava instrumentos musicais, e não eram permitidos os castigos corporais. Até a Reforma, as mulheres não tinham vez nem voz. Lutero valorizou as mulheres e tratou de incluí-las na escola, nos grupos de canto, dando-lhes o direito de caminhar por lugares antes restritos só para homens. Ele reconheceu e valorizou sua esposa Catarina, assim como outras que colaboraram grandiosamente no movimento da Reforma. Como afirmou o historiador Martim Jung, “sem o apoio das mulheres, a Reforma não teria acontecido”.
No final da Idade Média, entrando na Idade Moderna, toda a Europa passa por grandes transformações. A transição provocava mudanças e gerava incertezas. Na Europa central, a falta de unidade política contribuiu para a consolidação da Reforma. Os filósofos e economistas reuniam-se nas universidades e discutiam problemas econômicos, políticos e sociais. A América tornou-se um refúgio para muitos europeus desempregados, famintos e insatisfeitos. Com as invasões napoleônicas, todo o quadro político piora. A vinda da família real de Portugal para o Brasil traz um certo avanço político.
Vieram os imigrantes empobrecidos de várias partes da Europa, atraídos pela esperança de melhores condições de vida. Em 1824, com a vinda dos primeiros imigrantes evangélicos, o governo imperial não tinha como proporcionar educação para as famílias recém-chegadas. Assim as criações de uma rede escolar comunitária pelos imigrantes eram necessárias. Ser protestante implicava saber ler as Sagradas Escrituras e participar da vida comunitária. Os imigrantes e depois o povo teuto-brasileiro dos três estados do sul do país criaram escolas, formaram docentes e, durante quase cem anos, assumiram
sua manutenção. As taxas de analfabetos eram baixas em comparação com o resto do país.
Em 1886, foi criado o Sínodo Riograndense, que também assumiu o sistema educacional. A partir de 1920, as escolas tiveram um período de grande expansão. Em 1934, existiam 513 escolas com 589 professores e 17.177 alunos. O ano de 1938 marcou um novo tempo: a nacionalização das escolas comunitárias. Uma lei proibiu aos estrangeiros de exercerem cargos de direção nas escolas e a língua alemã foi proibida. Muitas foram as dificuldades. As escolas que sobreviveram tiveram que se adaptar à nova situação com troca de docentes e reorganização de cursos. Em 1942, a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial gerou um clima de desconfiança muito grande com todas as instituições escolares criadas pelos imigrantes alemães e seus descendentes. Foi nesse período que se deu um acentuado analfabetismo, o que gerou um atraso no desenvolvimento intelectual do jovem em idade escolar daquela época.
Após o término da Segunda Guerra Mundial e o fim das hostilidades políticas contra os imigrantes, os teuto-brasileiros e suas escolas, um novo período começa para as escolas que ainda conseguissem reabrir e retomar suas atividades escolares. Em 1946, existiam 156 escolas primárias e seis escolas
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secundárias. Posteriormente o número de escolas cresceu. Em 1960, existiam 205 escolas primárias e 20 de grau médio. Nesse tempo, o ensino público se expandiu no Brasil e era gratuito. A partir da década de 1960, as comunidades são responsáveis pela manutenção da escola. Em 1981, surge o Departamento de Educação e, em 2000, o nome é alterado para Rede Sinodal de Educação. Atualmente são 51 instituições em cinco estados brasileiros. As escolas comunitárias da IECLB tiveram que se adaptar às muitas situações políticas difíceis de cada época. A OASE sempre esteve muito presente nesses momentos pelas quais as escolas sinodais passavam. Nossa igreja comprometeu-se com a educação brasileira nos moldes de Martim Lutero em 1524, quando cada estado ou cidade era responsável por uma escola cristã. Ele dizia: “A grandeza e a prosperidade de uma nação não depende da abundância de suas rendas, nem da resistência de suas fortalezas, nem tampouco da beleza de seus edifícios, mas reside no número de cidadãos que dominam o conhecimento da tecnologia e de homens de boa reputação, cultos, patriotas e tementes a Deus”. Assim, o princípio da nossa igreja sempre foi: “A igreja evangélica tem a cumprir uma missão: manter as escolas”. A Rede Sinodal de Educação, na IECLB, zela pelo compromisso ético de educar para a vida, a liberdade, a dignidade, a autonomia do ser humano. Assim sendo: Ensina a criança o caminho em que deve andar; quando grande for, nele andará (Provérbios 22.6).
Helga Schünemann Panambi/RS
Quem compartilha o que sabe, transforma a vida de quem aprende.
Cora Coralina
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O fato do menino Jesus ter que nascer em uma estrebaria nos desafia a promover grandes transformações neste mundo de Deus
Datas importantes
01 – Dia Internacional de combate à AIDS 03 – Dia Internacional das Pessoas com Deficiência 04 – 2º Domingo de Advento 10 – Dia Internacional dos Direitos Humanos 11 – 3º Domingo de Advento 18 – 4º Domingo de Advento 24 – Véspera de Natal 25 – Natal 31 – Véspera de Ano-Novo
Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação e perseverem na oração.
Romanos 12.12