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JULHO 2019 n.º 129 9.405 EXEMPLARES
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MISSÃO CULTURA •••
Bela Cacela Ficha técnica
fotos d.r.
Projeto de Arqueologia em Cacela-a-Velha recomeçou em 2018 •
A pequena aldeia de Cacela-a-Velha, implantada sobre arriba costeira, domina uma vasta extensão de mar entre a foz do rio Guadiana e a cidade medieval de Tavira, integrada na zona marítima da bacia de Cádis. Encontra-se protegida das águas oceânicas pela península de Cacela, cordão arenoso estruturante do sistema lagunar da Ria Formosa. O conhecimento insuficiente sobre a história deste lugar gerou sempre inquietude nos investigadores. Por exemplo, o arqueólogo algarvio Estácio da Veiga escreveu em 1887 que «A outrora florescente vila de Cacela, hoje arrasada a ponto de não se conhecerem os antigos limites da sua grandeza, foi sucessora de mui anteriores populações, desde tempos remotíssimos, pois ali se acha largamente caracterizada a civilização neolítica, a romana e a árabe». Ou ainda Athaíde Oliveira em 1908 escrevia: «O que é feito de Hisn-Kastala, onde os mouros se faziam fortes, e de onde saíam contra os exércitos da cruz, espalhando o sangue dos seus inimigos à custa do seu próprio sangue?
O que é feito da Villa de Cacella dos primeiros séculos da Monarquia, onde por tantas vezes se levantaram sérias discussões entre os Mestres das Ordens e os bispos? Tudo desapareceu; e hoje sómente quem tenha o privilégio de conhecer a linguagem das ondas, pode, por seu intermédio, colher a verdadeira resposta». A Arqueologia em Cacela-a-Velha começou em 1989, tendo sido interrompida em 2007 e recomeçado com novo projecto de investigação em 2018. Este longo caminho percorrido, que permitiu compreender que, nos séculos XII-XIII, o castelo de Cacela sofreu amplas transformações no âmbito da política do califado almóada de fortificação dos territórios, concentração da população rural junto de núcleos fortificados
e reforço das povoações costeiras. Assim, a expansão do povoado foi orientada para o espaço extramuros, junto do provável porto situado na foz da ribeira. As escavações ar-
queológicas neste lugar denominado Poço Antigo revelaram um conjunto habitacional andaluz, abandonado no final do período almóada, primeira metade do século XIII. Após a conquista cristã de Cacela, cerca de 1238-1240, o Castelo transitou para a posse da Ordem de Santiago, que iniciou de imediato remodelações profundas na fortificação e na sua envolvente. Por exemplo, no sítio do Poço Antigo foi construída a primeira igreja de Cacela e instalado um cemitério que acolheu a primeira comunidade cristã daquela região. No interior do Castelo, as escavações arqueológicas puseram a descoberto a muralha original do período islâmico em taipa, compar-
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timentos senhoriais denotando o uso prolongado no tempo e vários silos de grandes dimensões provavelmente entulhados no período da conquista cristã de Cacela, Foi possível também identificar a fortificação construída posteriormente em Cacela, incluindo uma das torres desenhadas pelo engenheiro italiano Massaii no século XVII. Através da Arqueologia, testemunha-se o impacto do terramoto de 1755, que desfez, por exemplo, o nivelamento de uma calçada de pedra. Assim se vai revelando a história deste lugar através da conjugação de todas as disciplinas que com a história partilham conhecimento, o rigor na observação dos detalhes e também, ouvir as ondas do mar. l
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