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MARÇO 2021 n.º 148 6.824 EXEMPLARES
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A ilustração científica nas Ruínas Romanas de Milreu (Estoi, Faro) Ficha técnica
Reconstituição da fachada principal do Templo de Milreu (Theodor Hauschild, 1980)
Direção: GORDA, Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Responsáveis pelas secções: • Artes Visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Filosofia Dia-a-dia: Maria João Neves • Fios De História: Ramiro Santos • Letras e Literatura: Paulo Serra • Marca D'Àgua: Maria Luísa Francisco • Missão Cultura: Adriana Freire Nogueira Colaboradores desta edição: Cristina Tété Garcia, Mauro Rodrigues Parceiro: Direcção Regional de Cultura do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve FB: https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve
CRISTINA TÉTÉ GARCIA Arqueóloga
I
lustração científica significa criar desenhosrepresentativosdeinformação científica, tornando-a inteligível aos olhos de públicos mais vastos. As Ruínas Romanas de Milreu fazem parte de um sítio arqueológico, cuja ocupação humana remonta ao século I d.C., prolongando-se até à actualidade. De facto, aqueles muros, pavimentos e canalizações foram alterados e acrescentados ao longo dos séculos, de acordo com as necessidades dos seus habitantes. O seu estudo científico é, por isso, complexo e de difícil transmissão e divulgação, tendo já originado três
teses de doutoramento, uma das quais redigida em alemão e dezenas de artigos científicos. É neste aspecto que a ilustração científica é uma ferramenta eficaz de interpretação visual da ruína arqueológica, através de um trabalho de observação, selecção da informação relevante e criação de imagens esclarecedoras da arquitectura, dos elementos artísticos e da funcionalidade das construções romanas. Deste modo, o desenho “permite a composição de vários elementos não disponíveis em simultâneo”, como por exemplo, a representação do existente, situando o visitante no espaço físico, a reconstrução de partes inexistentes ou escondidas ou a “gestão da profundidade de campo” a partir da posição do observador. Afirma-se um campo desafiante no desenvolvimento de competências em comunicação visual aplicada à Arqueologia, através da procura do equilíbrio entre Arte e Ciência. O suporte utilizado pode ir da imagem digital à ilustração com recurso de técnicas tradicionais, como a tinta da china e o grafite.
O Prof. Theodor Hauschild, que desenvolveu o estudo da Villa Romana de Milreu nas décadas de 1970 e 1980, foi pioneiro na utilização da ilustração científica como suporte visual da interpretação e reconstituição arquitectónica do Templo (e que deu origem mais tarde à produção da maquete que pode ser vista no núcleo museológico). Através do Programa de Conservação e Requalificação das Ruínas Romanas de Milreu, enquadrado pelo Programa Operacional CRESC Algarve 2020, a Direcção Regional de Cultura do Algarve pretende recuperar a ilustração científica como ferramenta estruturante da divulgação do Património Cultural. Na actualidade, o desenvolvimento deste trabalho envolve um conjunto de pessoas que organizam e preparam os conteúdos históricos e arqueológicos, que verificam o rigor da informação científica e que transformam em informação visual com forte carga comunicativa. A fotografia constitui também uma fonte de apoio importante neste trabalho, assim como a pesquisa bibliográfica, arquivística e
o conhecimento do espólio arqueológico depositado nos museus. A Direcção Regional de Cultura do Algarve agradece ao Professor Doutor Artur Ramos (FBAUL) e Professor Doutor João Pedro Bernardes (UALG) o seu envolvimento nesta missão e gosto comum de tornar o
conhecimento científico das Ruínas Romanas de Milreu acessível a todos. Bibliografia: P. Salgado, et al, “A ilustração científica como ferramenta educativa”, 2015. * A autora não escreve segundo o acordo ortográfico
Reconstituição da Entrada da Casa Romana (Domus) de Milreu, esboço em grafite (Artur Ramos, 2020)