Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o
FEVEREIRO 2023 n.º 171
8.834 EXEMPLARES
www.issuu.com/postaldoalgarve
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FEVEREIRO 2023 n.º 171
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SAÚL NEVES DE JESUS Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes
No dia 31 de dezembro de 2022 tive oportunidade de visitar a exposição
“Dos pés à cabeça” no Museu Coleção Berardo.
Este foi o último dia desta exposição e foi também o último dia em que o museu teve esta designação, pois no dia 1 de janeiro de 2023 passou a designar-se Museu de Arte Contemporânea-CCB.
Independentemente deste pormenor, a representação da figura humana tem sido abordada por inúmeros artistas ao longo da história de arte. É também objeto de grande curiosidade por parte das crianças, sendo um dos principais temas dos desenhos feitos nos primeiros anos de vida. Por exemplo, ao ser solicitado o desenho da família, as crianças explicitam as figuras que para elas são mais significativas.
Tendo isto em conta, a curadora desta exposição, Cristina Gameiro, colocou como ponto de partida a obra “Retrato de uma criança com desenho”, do artista italiano Giovanni Caroto (século XVI), e a obra “Esperando o sucesso”, do artista português Henrique Pousão (século XIX). Em ambas as pinturas estão representados jovens sorridentes que mostram os seus desenhos da figura humana.
Mas, na história de arte, as primeiras figuras humanas remontam várias dezenas de milhares de anos antes de Cristo, no período Paleolítico, nomeadamente a Vénus de Galgenberg (cerca de 34.000 aC), por ter sido encontrada nesta cidade austríaca, com apenas 7,2 cm de altura, e a Vénus de Willendorf
(aproximadamente 28.000 aC), encontrada na cidade com este nome, também na Aústria, com 11,1 cm de altura. Com os Romanos, destacamos a Vénus do Milo (150ac), escultura em mármore, descoberta em 1820, na ilha de Milo, e pertencente ao acervo do Museu do Louvre (Paris).
Mas é no Renascimento que a expressividade artística prolifera, variando os materiais e as técnicas utilizadas (sobretudo escultura, desenho e pintura), focando-se várias vezes as obras em partes do corpo, em vez de ser sobre o corpo como um todo.
No século XIX aumenta a diversidade de temas em que é integrada a figura humana, sendo exemplo “O grito”, de Edvard Munch (1893). Esta diversidade na representação aumenta ainda mais no século XX, mas a mulher contínua a ser a principal fonte de inspiração artística, com obras a ela dedicadas pelos principais artistas dessa época, como sejam Amadeo Madigliani, Pablo Picasso, Henri Matisse e Yves Klein.
No século XXI, aumentou ainda mais a diversidade de forma de abordar o corpo humano. Uma das exposições mais conhecidas intitulava-se “Real Bodies – Descubra o corpo humano”, com uma mostra de dezenas de corpos em ação, mas em que são visíveis os músculos e os órgãos por baixo da pele. Esta exposição percorreu várias cidades do mundo, tendo contado com vários milhões de espetadores.
A abordagem de partes do corpo e a expressão emocional têm vindo também a ser aprofundadas, como ilustra a obra de Joaquim Ferro (2010), em que a posição das pernas e dos pés da figura pintada expressa a inibição e o medo sentido pela mesma.
Nos últimos anos têm sido aprofundadas novas formas de representação,
nomeadamente através da performance e da instalação, em que o vídeo também surge como técnica artística privilegiada.
Retomando a exposição “Dos pés à cabeça”, esta foi uma mostra onde também o corpo de cada espetador é chamado a participar na concretização da obra de arte, nomeadamente através da obra “Blue” (“Azul”) de James Turrell (1967), através de uma projeção de luz azul sobre a parede. Ao colocar-se entre o projetor e a parede, o espetador adquire um papel ativo e vê a sombra do seu corpo imensa em azul.
Assim, tal como ao nível do desenho infantil, a figura humana tem sido um dos principais temas da história de arte, sendo marcada pelo aumento da diversidade de formas de representação ao longo dos tempos.
Ficha
Direção GORDA, Associação Sócio-Cultural
Editor Henrique Dias Freire
Responsáveis pelas secções:
• Artes Visuais Saúl Neves de Jesus
• Café Filosófico Maria João Neves
• Espaço ALFA Raúl Coelho
• Império Júdice Fialho Luís de Menezes
• Letras e Literatura Paulo Serra
• Mas afinal o que é isso da cultura?
Paulo Larcher
• Os Dias Claros Jorge Queiroz Colaborador desta edição
Mauro Rodrigues
e-mail redação: geralcultura.sul@gmail.com
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FB https://www.facebook.com/ Cultura.Sulpostaldoalgarve
Hoje em dia chamamos-lhe “detox” , com a mania portuguesa de utilizar estrangeirismos, que tem vindo a erosionar o nosso idioma tão rico. Estes processos de desintoxicação vêm publicitados nas revistas da moda, sobretudo no verão, pois a limpeza intestinal é propícia à perda de alguns quilos.
A mais antiga purga de que tenho conhecimento é o Panchakarma da medicina Ayurvédica. Trata-se de cinco diversos tratamentos (pancha = cinco) com óleos específicos, incluindo diferentes tipos de massagem de corpo inteiro, que têm como objectivo dirigir todas as toxinas para o intestino. O processo completo desenvolve-se ao longo de vinte e um dias e culmina num defecar sucessivo até toda a matéria fecal ser expulsa do organismo.
O amável leitor estará neste momento a interrogar-se sobre o que tem esta conversa escatológica que ver com a filosofia... Tem muito mais do que, à partida, poderíamos supor... Garanto!
Na antiguidade clássica, o filósofo Sócrates recorria frequentemente a metáforas da medicina para falar sobre processos psíquicos. Aliás, considerava-se um médico da alma, afirmando que esta não pode beneficiar do ensino sem antes rejeitar as opiniões que a impedem de aprender. Primeiro é preciso averiguar o que em verdade se sabe. Isto consegue-se quando outros refutam as opiniões e os pseudo-saberes defendidos. Por conseguinte, caro leitor, o método de conhecimento socrático começa, precisamente, com uma purga das pseudo-compreensões.
Na prática, como é que esta purga mental funciona?
É frequente, quando insisto numa pergunta, deparar-me com a seguinte resposta: “Eu sei, mas não sei explicar...” Porém, a incapacidade de fornecer uma explicação aponta, justamente, para o contrário: pensava-se que se sabia e, afinal, não se sabia. Está-se perante uma pseudo-compreensão. Os gregos da Antiguidade
Clássica chamavam-lhe doxa: falar num registo de meras opiniões, sem esforço de verificação ou fundamento. A doxa é a mera conversa de café. No Café Filosófico, pelo contrário, tentamos extirpar a doxa, combatemos as pseudo-compreensões, essas ignorâncias disfarçadas de conhecimento.
Contudo, descobrir que não se sabe é, para a maioria das pessoas, muito desagradável. (As purgas não são propriamente prazenteiras). Quando não conseguimos explicar, mas continuamos a achar que sabemos, resistimos a aceitar a nossa ignorância porque ela nos faz sentir mal. Não saber é humilhante.
Sócrates ao conversar com os seus concidadãos não se coibia de os interrogar. Por exemplo, no seu entender, não se poderia falar de uma conduta justa, sábia ou boa, sem primeiro averiguar em que consistiam a justiça, a sabedoria ou o bem. Ora, encontrando-se o interlocutor sempre a jusante da problematização destes conceitos, utilizando-os sem nunca ter parado a pensar sobre eles, era apanhado desprevenido e o chão fugia-lhe debaixo dos pés. O desgraçado já não tinha a que se agarrar. Era preciso encontrar outro chão. Tinha a ilusão de pisar terra firme e, afinal, estava a cair. É com esta sensação de urgência que se inicia o segundo momento do método socrático: a pesquisa. Sócrates exibia a sua douta ignorância: “Só sei que nada sei”. Considerava-se estéril em sabedoria, portanto, não podia fornecer ao seu interlocutor algum chão firme porque não o possuía. Regozijava-se em que procurassem juntos: através da dúvida metódica iam-se peneirando os supostos saberes, e detectando as pseudo-compreensões tácitas que se defendiam como se fossem verdades. Sócrates acreditava veementemente na possibilidade do conhecimento.
Contudo, fazia-a depender da autenticidade da purga: os restos de ideias incompletas e/ou erróneas que enchem a cabeça da maioria de nós, tinham de ser excretados antes de se iniciar a busca do verdadeiro saber.
O terceiro e último momento do método socrático consistia no exercício da arte da maiêutica. A palavra provém de mãe. A mãe de Sócrates era parteira e o filho seguiu-lhe as pisadas, embora de forma distinta: a maiêutica cuida das almas e não dos corpos. O progresso daqueles que se submetiam ao método socrático advinha de que este lhes permitia recordar os conhecimentos que possuíam mas tinham esquecido.
Para Sócrates, conhecer consistia em recordar, assim dita a Teoria da reminiscência, sobre a qual falaremos noutro momento.
Muito poucos foram aqueles que permaneceram junto de Sócrates tempo suficiente para chegar ao segundo ou terceiro patamar do seu método. A purga afugentava. Sócrates ganhou a alcunha de “moscardo”, por esta capacidade de
ferrar um aguilhão que expunha a ignorância do interlocutor.
Que dizer dos que ficaram junto de Sócrates, à mercê da sua ferroada? Seriam masoquistas?
Era no ginásio, onde se dedicavam ao cultivo do corpo, que os atenienses também se encontravam para conversar. “Sócrates é um cidadão simples, a quem todos conhecem. A sua acção passa quase despercebida; a conversa com ele agarra-se quase espontaneamente, e como sem querer, a qualquer tema de ocasião.”
(Werner Jaeger, Paideia) A sua agudeza intelectual, ao qual nenhuma incongruência escapava, exercia um fascínio enorme sobre a juventude.
O próprio Sócrates o reconhece: “os jovens que me seguem espontaneamente (...) têm prazer ao ouvir-me submeter a exame os homens, e muitas vezes imitam-me, submetendo eles próprios os outros a exame e, por conseguinte, encontram, creio eu, grande número de homens que julgam saber algo, mas que sabem pouco ou nada. A partir deste momento, aqueles que eles examinam, irritam-se não contra eles, mas contra mim, e dizem que existe um certo Sócrates que é um miserável e que corrompe os jovens.” (Platão,
Apologia de Sócrates) Para a grande maioria o desconforto que causavam os seus aguilhões era de tal modo grande que Sócrates acabou, como se sabe, condenado à morte pelos seus concidadãos, acusado de corromper essa mesma juventude ática que se reunia em seu torno. Em tribunal, tendo-lhe sido dada a oportunidade de pedir desculpa pelo seu comportamento e rogar absolvição, Sócrates respondeu deste modo:
“(...) enquanto tiver um sopro de vida e for capaz, não deixarei de filosofar e de vos exortar e de vos interpelar (...)”. Passaram vinte e cinco séculos desde a histórica morte de Sócrates. Com a devida autorização, permito-me publicar a reacção que teve um dos participantes do Café Filosófico a um dos meus aguilhões: “A pergunta que me fizeste é pertinente. Depois de uma inesperada perplexidade, dou-me conta da minha tremenda ignorância e sinto-me feliz (quem diz isto não deve estar muito bem da cabeça!). Para mim, ter consciência da minha ignorância é humanamente maravilhoso! Estimula-me ter a oportunidade, e o desejo, de poder, e querer, saber mais! Conhecer é mesmo isso: desvelar, trazer à luz, clarificar.”
Existe, portanto, uma outra direc-
ção possível de reacção quando nos ferram o aguilhão que purga. Excretar ignorância parece, pelo menos para alguns de nós, incrementar felicidade. Ficamos mais próximos do conhecimento, mesmo quando este não aumenta em verdade, mas diminui em erros. O sentir-se obrigado a procurar, que a descoberta da ignorância induz, pode ser vivido de forma muito positiva. A ferroada é estimulante! Faz-nos mover montanhas porque queremos mesmo saber. E essa vontade é uma energização do ânimo e um enorme prazer. Atrevo-me a pensar, quando Sócrates afirmava que uma vida bem vivida implica reflexão, que esta frase pode ser entendida em pelo menos dois sentidos: primeiro, o ético de vida boa, virtuosa; segundo, o de prazer inerente à reflexão. Deste segundo, não sei por que razão, mal se ouve falar! É aqui, no Café Filosófico, que ele se cultiva
Café Filosófico | 16 Fev 2023 | 18.30 AP Maria Nova Lounge Hotel, Tavira Inscrições: filosofiamjn@gmail.com Contribuição: 5€
*A autora não escreve segundo o acordo ortográfico
Com exceção de Tavira, que guarda tesouros únicos nas suas variadíssimas igrejas, o Sotavento Algarvio não possui uma obra de arte que obrigue os viajantes a adiarem a satisfação do seu apetite irreprimível pelo Sol e areia e mar e golfe, produtos turísticos em que, quase exclusivamente se tem baseado a oferta estival algarvia nos últimos decénios.
E é pena, porque incrustada na freguesia de Almancil, existe uma pérola, antiga e intocada, toda ela uma jóia perfeita e intemporal. Refiro-me à Igreja de São Lourenço de Almancil citada do seguinte modo por Raúl Proença no velhinho Guia de Portugal: “A igreja de S. Lourenço de Matos de Almancil é notável
pelos belos azulejos que lhe forram as paredes, a abóbada, o zimbório, os altares, historiando a vida do padroeiro em quadros de boa cor e composição […) Na sacristia (arcazes com ferros em bronze) o revestimento cerâmico é formado por grandes albarradas floridas.”(1)
É efetivamente notável a igrejinha que é o objeto desta crónica. Não atrai pelo tamanho ou pela riqueza dos seus ornatos mas pela completude e perfeição. Um dos mentores desta nossa viagem (2) - precisamente o Nobel José Saramago - foi muito naturalmente por ela seduzido. E é curioso que não entra em pormenores, talvez por ter tido que apreciar uma obra de arte no meio de um funeral (o que foi o caso, segundo o próprio descreve) o que não é uma circunstância favorável, Saramago, como nós, fala em pedras preciosas “a preciosa jóia que toda a igreja é”, e não
se mete em detalhes(3) mas deixa duas dicas: o nome Policarpo de Oliveira Bernardes e a expressão (muito dele, aliás), “obras da vida” Pois então, com a implícita autorização de Saramago, falemos um pouco desse nome “Policarpo” e dessas “obras da vida”.
Policarpo de Oliveira Bernardes é um nome incontornável da azulejaria barroca portuguesa da primeira metade do século XVIII. Foi um dos discípulos de seu pai, António, e, em conjunto, assinaram a mais impressionante coleção de azulejos decorativos representadas de Norte a Sul de Portugal, nas ilhas atlânticas e no Brasil. Não vou massacrar os meus leitores com a lista de monumentos em que estes mestres deixaram a sua marca artística, pois qualquer digressão rápida pela internet os informará melhor do que eu poderia. Prefiro reservar o tempo para
vos falar de algumas curiosidades relacionadas com este monumento.
Primeira curiosidade: a igreja de São Lourenço dos Matos, ao contrário de tantas outras no Algarve, não foi tocada pela tragédia do terramoto de 1755 (apenas caíram cinco azulejos da abóbada!…) o que permite que hoje em dia seja possível admirar a mesmíssima decoração azulejar que os fiéis oitocentistas podiam contemplar.
Segunda curiosidade: o contrato notarial para o revestimento azulejar da igreja foi firmado no dia 16 de novembro de 1729 e determinava que os azulejos estivessem todos assentes na primavera seguinte, ou seja, no ano de 1730, o que de facto aconteceu. Extraordinário desempenho! Ou, talvez, e em minha opinião o mais provável, é que tivesse havido contactos prévios com as fábricas de Lisboa e
o trabalho artístico tivesse começado muito antes do respetivo contrato ter sido ajustado. Terceira curiosidade: a construção e decoração do edifício foi paga pelas esmolas dos fiéis e não por dinheiros públicos. Na verdade, desde 1772, ano em que São Lourenço ofereceu à região uma chuva milagrosa que pôs termo a uma desesperante e longa seca, as populações através das suas oferendas decidiram substituir a decrépita Ermida de São Lourenço dos Matos por uma igreja mais consentânea com um Santo Milagreiro de tamanho gabarito. Oito anos depois do milagre surgia assim no interior algarvio a “jóia” que Saramago refere na sua Viagem a Portugal Sim. Na verdade não são só as decorações azulejares que maravilham o viajante, mas também a elegantíssima talha dourada que de uma forma exemplar enquadra as cenas da vida do Santo. Mas já lá iremos. Quarta curiosidade: Policarpo de Oliveira Bernardes não se deslocou nem a Almancil nem, aliás, ao Algarve o que, de acordo com o parecer do grande historiador de azulejaria barroca portuguesa - o Prof. José Meco - era costume pois, na verdade, os mestres azulejadores eram simultaneamente mestres e promotores da obra. Competia-lhes fazer o desenho da construção e respetiva decoração (o que incluía tirar medidas milimetricamente exatas da área a decorar), eram também os responsáveis pela escolha dos artistas, pelo transporte até ao local e, finalmente, pela sua colocação. Como era possível que tudo batesse certo?! Queridos leitores, se nunca visitarem esta igreja façam-no agora e analisem-no (também) do ponto de vista da eficiência e da eficácia demonstrada pelos nossos antepassados. Que lição extraordinária para os dias de hoje. Podemos até concluir que um português é capaz de tudo, até de criar e oferecer, por mera gratidão, uma jóia imperecível a um Santo Protetor.
Quinta curiosidade: embora
raramente este tipo de trabalho surja assinado pelo autor, neste caso a assinatura do artista, “Policarpo Oliveira Bernardes”, aparece no rodapé de uma das colunas decorativas. Qualquer dúvida sobre a autoria do trabalho fica assim desfeita e esclarecida. Temos falado do “azul”, mas falta falar do “ouro”, ou seja, do magnífico retábulo e da talha que decora os lintéis e o embasamento da grande abóboda onde o Santo é coroado em glória pelas autoridades divinas.
Na verdade, pensa-se que a talha da igreja foi concebida e executada por volta de 1735 pelo mestre entalhador Manuel Martins, natural de Faro, e que o douramento da madeira terá sido contratado meia dúzia de anos depois a dois reputados pintores algarvios. Seja como for, o trabalho final aí está, disponível para o nosso olhar.
Last but not the least, convém falar ainda da sacristia com uma decoração azulejar de motivos vegetalistas e, principalmente, de um precioso arcaz barroco, também ele saído da mão do mesmo Manuel Martins.
A admirável obra sobreviveu aos séculos, mas é justo referir a grande campanha de requalificação levada a cabo nos anos sessenta, que nos permite nos dias de hoje encantarmo-nos com a “preciosa jóia” que tanto maravilhou José Saramago na sua viagem ao nosso Portugal
(1) Guia de Portugal, Estremadura, Alentejo, Algarve, edição da Biblioteca Nacional, Lisboa, 1927, p. 230.
(2) Na crónica de 5 de Novembro de 2021 está muito bem explicada esta questão dos guias espirituais que nós - eu e o António Homem Cardososeguimos de perto nesta longa digressão algarvia.
(3) José Saramago, Viagem a Portugal, Editorial Caminho, 2ª ed., Lisboa, 1985, p. 227: “E tão bem quanto permitia o melindre da situação, olhar os famosos azulejos do Policarpo de Oliveira Bernardes, a cúpula magnífica, a preciosa jóia que toda a igreja é […]. O viajante pôde maravilhar-se diante destas obras da vida.”
Membro da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve
Aloucura mais recente que explodiu o ano passado, é a ameaça crescente dos geradores de arte automáticos (AI Art Generators) como por exemplo o DALL-E, o Midjourney ou o Stable Diffusion, que prometem destabilizar o mundo da fotografia e da arte em geral, uma vez que conseguem “imaginar” através da introdução de um texto, que depois resulta numa “imagem” totalmente única como por exemplo: “imagem de um elefante a pedalar numa bicicleta em Paris no estilo de Van Gogh”. Ora esta possibilidade aparentemente mágica tem muita tecnologia e particularidades por detrás e não é assim tão simples como parece.
sistemas não têm nada de inteligente ou consciente, por mais que isso assim se pareça.
Todas estas novas ferramentas ou modelos, incluindo o ChatGPT (modelo de inteligência artificial criado para conversar com pessoas de modo natural) são sistemas que fazem milhões de cálculos matemáticos de comparação que vão essencialmente chegar a um resultado, que pode ser absolutamente correto ou incorreto, o sistema pode dizer-vos algo que demonstre confiança e segurança, mas que poderá não ser verdade, temos sempre que verificar se esse resultado corresponde exatamente à realidade.
ou Stable Diffusion
O sistema de “inteligência artificial” funciona com base em redes neurais artificiais, que são sistemas especializados de computação com nós interconectados que funcionam como os neurónios do cérebro humano. Usando algoritmos, estas redes podem reconhecer padrões escondidos e correlações por comparação em dados brutos, que depois são agrupados, classificados e com o tempo – aprendem e melhoram continuamente, por isso atenção… estes
Na edição de dezembro, n.º 169, do Cultura. Sul, o título “A fotografia de mãos dadas com a fotografia”, do artigo do Espaço Alfa, da autoria de Mauro Rodrigues, deveria ler-se “O corpo nu da mulher sempre será sempre um campo de batalha”. Pelo lapso, pedimos desculpa ao autor e aos leitores.
E isso terá de ser regulado no futuro com indicações ou avisos, uma vez que estes sistemas de redes de inteligência artificial vão dominar e integrar-se a 100% na nossa vida social, exemplos disso são a criação automática de notícias, assistentes virtuais de atendimento no âmbito médico ou de serviços, sistemas operativos dos computadores como por exemplo o Windows e o Office, redes sociais, marketing, carros autónomos e a própria indústria. Os artistas no campo da arte e da fotografia ficaram particularmente alarmados recentemente porque além de estes modelos gerarem imagens fantásticas em pouco mais de um minuto com apenas a introdução de um texto ou “prompt” como é geralmente conhecido, baseiam-se em milhões e milhões de imagens da internet para “aprender” a gerar o resultado final. Ora isto é atualmente um bocado o oeste selvagem dos cowboys, as empresas dizem
que se baseiam em bibliotecas de imagens gratuitas de direitos livres, mas os artistas tradicionais dizem que não, além de que o modelo trabalha com muito mais eficácia se for introduzida uma imagem “como base” ou pedir para usar o nome e um estilo de um artista em particular, mas as empresas argumentam que são trabalhos transformativos, coisas que os artistas estão constantemente a fazer, basear-se em trabalhos de outros artistas por isso não existe violação de direitos autorais. A potencialidade é claramente enorme, mas as verdadeiras consequências são ainda desconhecidas, irão as pessoas comuns deixar de precisar dos serviços dos artistas? A meu ver haverá sempre um período de adaptabilidade das pessoas e dos serviços à tecnologia. De momento confesso que experimentei durante um mês e não fiquei muito impressionado com os resultados. Existem algumas razões para isso. O modelo consegue falhar ainda muito e a percentagem de imperfeições ainda é muito elevada, o suficiente para que uma impressão de alta qualidade seja uma desilusão, basta aumentarmos para os 100% e olharmos com olhos de ver que começamos a identificar essas imperfeições. É muito difícil aperfeiçoar o que realmente queremos, o truque está na escolha e articulação das palavras certas ou “prompt” que informa o modelo onde se basear e o que procurar, ora isto é quase uma arte em si e requer perder bastantes horas a refinar essas mesmas palavras e basicamente temos que perceber muitos termos, conceitos e história usados na arte para os resultados saírem melhor. Os modelos têm particular dificuldade em criar membros, os dedos das mãos, olhos e basicamente muito do detalhe fino e complexo que um ser humano facilmente consegue identificar como podem nestes exemplos abaixo, onde o sistema claramente
não percebe nada do que está a criar. Quanto mais complexidade e detalhe personalizável tiver a peça de arte, mais difícil será para o sistema gerar algo com sentido. Na minha opinião só mesmo pessoas com muita paciência (ou seja, artistas) é que realmente vão explorar devidamente esta nova ferramenta, que é como vejo este novo paradigma, uma nova ferramenta que irá infiltrar-se nas mais diversas formas em muitos programas dedicados ao design, arte e fotografia que irão ajudar no suporte de uma nova geração de criação de nova arte e de novos artistas. Aliás, existem já artistas que aproveitam as imagens geradas pelo modelo de inteligência artificial para depois as melhorar ou integrar em trabalhos já existentes. O potencial humano para criar obras de arte absolutamente irreais, personalizáveis e únicas com detalhe impressionante é ainda uma especialidade meramente humana, a criatividade humana é praticamente infinita. Duvido que a “inteligência artificial” consiga superar este nível de
Exemplos dos artistas, Willard Zinyama (esquerda) em que o texto introduzido claramente fez o modelo falhar, este tipo de imperfeições é muito comum e só perdendo algumas horas, refinando esse mesmo texto se chega a algo que se possa considerar arte, (centro) Wrap Dine, (direita) Henry Chi FOTOS D.R.
detalhe fino e personalização única, esta tecnologia servirá sempre de suporte ao artista e as pessoas comuns de uma forma ou outra precisarão sempre de alguém especializado para oferecer verdadeiras obras de arte ou serviços mesmo que tenham precisado de ajuda computacional. A mim o que mais me preocupa é o facto de o ser humano e a nossa sociedade ter uma tendência crescente para descartar a “importância da qualidade inerente das coisas e da cultura, em todas as vertentes” em substituição pelo “consumo fácil, rápido, de menor qualidade e mais barato obviamente”, mas que se assume “simplesmente suficiente”. A qualidade e a excelência têm de ter na minha opinião um peso mais importante na sociedade e as decisões terão de ser feitas com mais consciência, como exemplo simples e prático, mais vale criar um produto orgânico e biodegradável do que taxar outros produtos que não o são, ou então produzir algo que dure e se assegure por muitos e muitos mais anos.
Jason Allen criou esta imagem de título: Théâtre D'opéra Spatial — que significa "Teatro Operático Espacial" — usando o Midjourney, um programa de inteligência artificial que consegue gerar imagens baseadas na introdução de texto ou “prompts”. Allen venceu na categoria de “artes digitais” com um prémio monetário de 300 dólares à frente de outros artistas tradicionais. Será ele o artista que nada fez além de criar o texto, ou será a inteligência artificial o artista, que criou a imagem baseada em código e algoritmos automáticos
o que sabemos e ignoramos de nós num passado cada vez mais distante.» Esta ideia inovadora e irreverente de contar a história às avessas pode ainda implicar um interesse acrescido para os leitores de gerações mais jovens que melhor se identificam com os tempos aqui retratados, e que podem depois querer perceber o que subjaz no substrato do presente histórico para melhor compreender as bases do devir destes últimos tempos.
Como se pode ler a certa altura nesta magnífica e incontornável obra, “O passado é forte. Todos somos inescapavelmente produto dele. Tentar entender de que forma o somos é talvez a melhor maneira de ele não sobredeterminar o nosso futuro – e talvez uma obra coletiva como esta possa dar alguma ajuda.” (p. 120) Esta passagem permite relembrar, especialmente aos mais jovens, que não somos folhas em branco, que não nascemos de geração espontânea, mas sim com uma herança cultural e histórica. É também nesta perspectiva que uma história de Portugal em retrospectiva, onde, mesmo falando do presente, se consegue tecer ligações ao passado aqui e ali, encontrando afinidades e antecedentes, ganha ainda maior importância e relevo científico.
No último dia do ano de 2019, a Comissão Municipal de Saúde da cidade de Wuhan, na China, comunica oficialmente a ocorrência de um surto de uma pneumonia de causas desconhecidas nessa cidade. Os primeiros casos conhecidos dessa nova doença reportar-se-iam aos primeiros dias do mês de dezembro de 2019, razão pela qual, quando declarada como uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde, a designação que lhe foi atribuída foi a de COVID 19.
O ano que virou o mundo do avesso
Afirma Rui Tavares no seu Prólogo, em que faz um balanço de 2020 (e em parte do final de 2019) até 2022, que logo no primeiro trimestre de 2020, se percebeu que aquele não iria ser um ano igual aos outros. Podemos ler, mais à frente, que se diria mesmo que aquele viria “a ser unanimemente considerado como «o nosso último ano normal»” (p. 14). Isto naturalmente por causa da COVID 19, que em pouco tempo começou a suscitar comparações com algumas das pandemias mais conhecidas do passado. A Gripe Pneumónica de 1917-1919, a Peste Negra medieval (por acaso com origem na mesma província de Hubei onde foram detectados os primeiros casos de COVID 19).
foi o Ano da Expo, em que Portugal se autocelebrou, antes da introdução, e vivia uma globalização feliz. Em 1974, aborda-se o ano da Revolução Democrática e o Fim do Ciclo Imperial. Os anos de 1974 e 1975 são narrados e analisados na sua profusão de acontecimentos e de sentidos.
Ainda que não se soubesse o desfecho da história, os sujeitos históricos do Portugal de 1974 (e 1975) sabiam que se estavam a encerrar um ciclo ditatorial que tinha durado mais de 40 anos e um ciclo imperial que durara mais de 400.
Os quatro volumes são assinados por meia centena de historiadores e outros especialistas, portugueses e não só
PAULO SERRA
Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)
Portugal, uma retrospectiva: 2022-1910 , com direcção de Rui Tavares, surge agora publicado pela Tinta da China em 4 volumes. Originalmente editados em 2019 pela Tinta da China e pelo Público, com apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos e coordenação de Rui Tavares, os 25 fascículos assinados por meia centena de historiadores e outros especialistas, portugueses e não só, cobrem cerca de 2500 anos da história de Portugal nas suas relações com o mundo. Agora reunidos em quatro volumes independentes, cada volume reúne vários anos cruciais da história
portuguesa, e cada ano responde a um núcleo central de questões.
O leitor pode assim optar entre adquirir um destes quatro volumes (ou o conjunto) que abrange um século de história, contado em retrospectiva, através dos anos cruciais que ditam esse período, ou pode escolher adquirir apenas um dos vários fascículos que compreende um único ano, o que significa uma publicação de cerca de 100 páginas.
«As histórias de Portugal têm sido todas contadas da mesma maneira: de trás para a frente, a partir de uma ideia de nacionalidade que se supõe mais ou menos fixa desde o século XII, e com o esforço e a imaginação do historiador completando as lacunas. Portugal, Uma Retrospectiva vira estes pressupostos às avessas. Em vez de tentar encontrar um início para a história, começamos a partir de onde estamos — no presente — e vamos procurar
O primeiro volume desta série – que aqui abordamos no seu conjunto, ao longo dos meses seguintes – compreende um Prólogo, inédito, de 2020 a 2022, assinado por Rui Tavares, que é também autor do primeiro capítulo dedicado ao ano de 2019. Seguem-se depois os capítulos dedicados a alguns anos cruciais do século XX: 1998 — José Neves; 1974 — Ricardo Noronha, Luís Trindade; 1961 — Pedro Aires Oliveira, António Tomás; 1936 — Luís Nuno Rodrigues; 1910 — Maria Alice Samara.
O primeiro problema começa com o ano de 2019, ano escolhido para se iniciar esta História. Ainda o segundo trimestre não terminara, quando a obra foi lançada ao público – de modo a que até dezembro todos os fascículos fossem publicados, recuando assim até ao ano de 500 a.C. – e logo no primeiro dia do terceiro trimestre, morre o mestre de muitos dos autores que assinam este trabalho: o historiador António M. Hespanha. Comparado com o referendo do Brexit ou a eleição de Trump em 2016, e a eleição de Bolsonaro em 2018, 2019 pareceu um ano pacífico; não fosse aquilo que discretamente começou a fervilhar nos confins do continente asiático.
“Por essas razões, há um antes e um depois do ano de 2020, aquele em que a pandemia virou o mundo do avesso. Mas não ficámos por aí. Uma criança que tenha nascido no ano de 2019 já passou, em meros três anos de vida, por uma das maiores pandemias da história da humanidade, uma crise energética global e uma guerra de grande escala no continente europeu.” (p. 13)
É também através da perspectiva histórica colectiva que aqui se intenta, de olhar a partir do presente para trás, que se compreende como certos eventos históricos podem ser esperados, cumprindo uma regularidade histórica, como é o caso da atual guerra: “Afinal, em todos os séculos anteriores, por esta altura, a Europa já se encontrava numa guerra de grande escala: em 1914 com a Grande Guerra, até 1815 com as guerras napoleónicas, até 1713 com a Guerra da Sucessão Espanhola, a partir de 1618 com a Guerra dos 30 anos, e por aí afora, avançando pelo passado atrás” (p. 36).
Nos anos seguintes, a que correspondem, portanto, capítulos autónomos, avançamos, recuando, até 1998 – esse
No ano de 1961, compreende-se a Guerra Colonial, as Revoltas Estudantis e a Ditadura, para só assim se poder compreender de onde nasceu o Portugal da Revolução dos Cravos. No capítulo referente a 1936, explora-se o Estado Novo, com a subida ao poder de Salazar, em 1932, e o nascimento oficial do Estado Novo com a Constituição de 1933. O ano de 1936 demarcado pela tomada de uma série de medidas importantes por parte do regime, como o reforço da polícia política e da censura, a criação da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa, e o estreitamento dos laços com o fascismo italiano e o nazismo alemão. A Guerra Civil de Espanha seria igualmente decisiva para o Estado Novo português. Mas, em 1936, ela estava apenas a começar. Em 1910, extingue-se uma monarquia com quase 8 séculos e nasce a República Portuguesa, um dos raros regimes deste género na Europa da altura, que, aliás, não o sabendo ainda, se aproximava rapidamente da Primeira Guerra Mundial.
Rui Tavares (Lisboa, 1972) é licenciado em História pela Universidade Nova de Lisboa, com mestrado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e doutoramento pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Autor de vários livros, entre os quais o Pequeno Livro do Grande Terramoto — prémio RTP/Público de melhor ensaio de 2005 — e O Censor Iluminado — premiado pela Academia da História Portuguesa como melhor livro de história de Portugal em 2019. Actualmente é professor associado convidado na Universidade Nova de Lisboa, foi investigador visitante na Universidade de Nova Iorque (2016) e no Instituto Universitário Europeu de Florença (2018), bem como professor visitante na Brown University (2018) e na Universidade de Massachusetts (2020). É autor do programa televisivo de divulgação histórica Memória Fotográfica (RTP, 2018) e do podcast de história Agora, agora e mais agora (Público, 2020).
arte que lhe toca – como os livros e os filme aqui evocados –, mas também pelos indícios da sua primeira relação com as palavras ouvidas aos adultos, da forma como escrevinhava cadernos por casa, ou quando nos fala do jovem de dezassete anos “que mergulhava a medo nas ondas bravias e passava os dias ao sol e entrava nos livros e revirava as palavras que o reviravam a ele”: “onde é que ficou? Em que ponto do caminho nos separámos? Será que ainda luta com as palavras e sofre e é perturbado por elas? Será que ainda lhes sente o sabor virgem?” (p. 190) Nestas crónicas nostálgicas há ainda lugar para reflexões ora sagazes ora divertidas, como, por exemplo, a que nos fala dos telefones fixos e do atrevimento que era telefonar para a casa de uma jovem, quase “como se entrássemos no quarto da rapariga a meio da noite por uma janela e nos preparássemos para a raptar” (p. 165). Muitas destas crónicas corajosamente assumidas na primeira pessoa parecem fazer eco de aspetos pessoais da vida do autor, além de estarem imbuídas de grande autenticidade, da mesma forma que fazem eco de algumas das suas grandes paixões, que não se subsumem à literatura; é o caso do futebol.
sempre correspondem verdadeiramente a microficções isoladas e autónomas; algumas entradas não são narrativas, outras acarretam notas de rodapé maiores do que o próprio texto e, ora atestam o seu carácter documental, ora contradizem o texto principal.
pertença” (p. 117), da mesma forma que aprimora a sua “técnica de revisitar memórias” (p. 39). Algumas delas aliás reencontradas, pois já lemos sobre elas antes, como quando o autor nos diz que a mãe lhe lia histórias da Bíblia… Bruno Vieira Amaral estudou História
OSegundo Coração, de Bruno Vieira Amaral, publicado pela Quetzal, em novembro de 2022, reúne crónicas publicadas na edição online do semanário Expresso e na revista GQ «O passado bate em mim como um segundo coração.»
É à frase de John Banville, que surge em epígrafe, no original, que o autor se vai inspirar para o título deste novo livro.
São pouco mais de uma centena de breves textos, cada um com cerca de três páginas, não explicitamente agrupados em torno de diversos temas específicos. Já perto do final do livro, por exemplo, podemos ler algumas crónicas sobre a pandemia da covid-19. Mas as temáticas que aqui sobressaem são, a fazer jus à epígrafe, o passado, as memórias de infância, os hábitos familiares, as férias grandes, os primeiros amigos de que nos afastamos mas nunca esquecemos, e cujo reencontro significa resgatar ou suspender o tempo devoluto. Divagações sobre os professores que mais marcaram, as tardes roubadas no cinema e a arte como refúgio, e o poder indelével
das leituras que se citam aqui e ali. Crónicas que se tecem como páginas do diário do crescimento inevitável de um rapaz que entra aos solavancos na idade adulta, de um jovem que se descobre pai e educa os seus próprios filhos naquele que foi o seu berço, num bairro onde crianças e velhos se misturavam nas mesas do café, pelo que as gerações eram cúmplices e as idades facilmente intermutáveis:
“Entretanto, os meus velhos morreram ou são apenas monumentos arruinados, memórias insepultas que visitamos nos seus cadeirões fúnebres feitos de silêncio e olhares perdidos, e eu tornei-me adulto, de todas a pior idade, um purgatório de muitas responsabilidades e poucos encantamentos, e os que existem são aqueles que nos devolvem, por instantes, ao tempo em que éramos velhos.” (p. 301) Perpassa sobretudo, em muitos destes textos, uma nostalgia dos tempos idos, em que havia apenas dois canais de televisão, que marcavam um recolher obrigatório para as crianças, com o Vitinho, e para os adultos, com o hino. Mais subtilmente estas crónicas dizem-nos ainda algo sobre a relação do escritor com o mundo, não só pela
A certa altura, escreve-nos o cronista que não é fácil medir o tempo de uma memória (p. 28). De certa forma, da mesma forma que nestas crónicas se suspende o tempo, e se consegue recuar décadas, também a prosa do autor, num par de páginas apenas, consegue conduzir o nosso pensamento em circunvoluções, que entrelaça temas aparentemente díspares, sem sabermos muito bem como. Não é por acaso que uma das obras de W.G. Sebald, autor aqui mencionado mais que uma vez, seja Os Anéis de Saturno, uma narrativa engenhosamente sinuosa.
O Bairro
Quase metade do livro é generosamente dedicada ao Bairro – um bairro nos subúrbios da margem sul, perto da Baixa da Banheira. As primeiras crónicas são-lhe dedicadas, assim como a ele regressamos mais perto do final do livro.
E, por isso mesmo, se a sinopse não no-lo dissesse, sentiríamos que estávamos de volta à ficção com que o autor nos introduziu, em As primeiras coisas (Quetzal, 2013). O seu romance de estreia, nunca é demais lembrar, configurou uma obra singular e inovadora que se demarcou na novíssima ficção portuguesa, assinalando a estreia literária de um autor com um percurso peculiar. Esse romance, concebido em jeito de dicionário, constitui-se por 86 entradas, que nem
Apresentado como um (projeto de) romance ambiguamente autobiográfico, o narrador, Bruno, desempregado e separado, derrotado na vida, revisita o bairro onde cresceu. Este périplo configura-se como uma viagem simbólica de descensão ao Inferno dos subúrbios, que permite a reconstrução da memória pessoal e redescobrir uma profusão de personagens que compõem um retrato de um país miserável.
Dezenas de crónicas deste O Segundo Coração reconduzem-nos assim de regresso ao Bairro – de onde, como nos escreve o autor, nunca se sai verdadeiramente, um pouco como os nove círculos do Inferno…
Não é por acaso, como alguém lhe diz, que o autor terá aliás continuado a viver por perto do Bairro, o seu “lugar de
Contemporânea. Um autor discreto a ter em grande conta, é crítico literário, ensaísta e romancista. Atualmente colabora com a Ler, o Expresso e a Rádio Observador. O seu primeiro romance, As Primeiras Coisas, foi distinguido com variadíssimos prémios (entre eles, o José Saramago e o Fernando Namora) e mereceu, em 2016, a nomeação para Uma das Dez Novas Vozes da Europa
O seu segundo romance, Hoje Estarás Comigo no Paraíso (Quetzal, 2017), recebeu o prémio de ficção Tabula Rasa 2016-2017 e obteve o segundo lugar do Prémio Oceanos 2018, ano em que foram reunidos os melhores textos dispersos no volume Manobras de Guerrilha. Em 2020, publicou Uma Ida ao Motel e outras histórias. Os seus livros estão traduzidos em várias línguas.
Fachada e corte transversal da fábrica de conservas da Júdice Fialho em Ferragudo, Lagoa (colecção do Museu de Portimão)
Fábrica da Júdice Fialho da Júdice Fialho em Lagoa, designada por Frito Velho, in http://mmoriasdopassado. blogspot.com/2011/03/ edificios-e-outros.html
Bairro operário junto à fábrica e sala de enlatamento da fábrica de Ferragudo de Júdice Fialho, in Edite Tavares - Na sombra dos rostos: Indústrias ConserveirasFerragudo, Lagoa: Câmara Municipal, 1999, pp. 93-95 e Paulo Jorge Silva - Edifícios e outros - Memórias do Passado de 28-3-2011
LUÍS DE MENEZES Investigador e Documentalista
Afábrica de conservas de sardinha de Ferragudo, situava-se no sítio da Passagem (estrada que ligava a Ferragudo), Rua Infante D. Henrique, freguesia e concelho da Lagoa , distrito de Faro, tendo concessão de alvará n.º 11.289 de 21-10-1927. Pertencera a António Joaquim Júdice e irmãs e começara a funcionar em 1883, sob a firma de Patrício Eugénio Júdice. Depois foi comprada por João António Júdice Fialho e após algumas obras de modernização, começou a ser explorada a partir de 31-3-1904
De referir ainda, que o número de operários e máquinas nesta fábrica, era superior à das outras duas fábricas de Portimão e a proporção da produção de conservas de sardinha nesta fábrica atingia 800.000 kl e de 820.000 kl para as outras duas unidades fabris.(1)
Esta unidade fabril, destinava-se à exploração da indústria de conserva
de sardinha, como se constata num requerimento de Júdice Fialho à 5ª Circunscrição em 22-3-1922. Nesse ano (1922), verifica-se que a fábrica possuía: 1 motor a vapor, 6 máquinas cravadeiras, 3 geradores de vapor, 1 fabricante e 150 operários, 20 serventuários, embora os números para estes dois grupos de operários sejam variáveis, conforme o trabalho derivado da captura ou não de peixe.(2) Em 1956, a fábrica de conservas de peixe de Ferragudo,
estava apetrechada com: 5 cofres para coser peixe com 12.500 m3, 2 autoclaves de esterilização com 8.356 m3, 1 cravadeira Sudry, 6 cravadeiras Matador, 1 cravadeira J.F., 1 máquina de lavar latas e 2 máquinas de azeitar.(3)
Na vistoria realizada à fábrica de Ferragudo pela Inspeção Geral de Fiscalização do Consórcio Português de Conservas de Sardinha a 16-2-1933, constavam 4 caldeiras a vapor (2 tipo C-F da João Perez, 1
tipo D da Babcok e 1 João Perez para montar), 2 cozedores (1 de 1m,29 de comprimento, 1m,24 de largura e 1m,48 de altura e outro de 1m,29 de comprimento, 1m,20 de largura e 1m,52 de altura), 1 esterilizador (de 3m,70 de comprimento, 1m,20 de largura e 1m,78 de altura), 1 tanque para Banho-Maria (de 2m,50 x 1m,18 x 0,99) e 8 cravadeiras (6 Matador, 1 Sudry e 1 Kargas Hemmer para lata redonda). As áreas calculadas nessa vistoria para esta fábrica eram em
solo coberto de 3.300m2, alpendre 1.050m2 e terreno livre 2.505m2. Produzia 15.028 caixas com o peso líquido de 360.672 kl em 1929, 22.582 caixas com o peso líquido de 521.968 kl em 1930, 35.825 caixas com o peso líquido de 859.800 kl em 1931, 19.829 caixas com o peso líquido de 475.896 kl em 1932, no total de 93.264 caixas e peso líquido de 2.238.336 kl entre 1929-1934.(4)
Por despachos ministeriais do Subsecretário de Estado ou do Ministro do Comércio e Indústria era esta fábrica autorizada: a 15-3-1935, a instalar uma máquina de azeitar; a 29-10-1938, a instalar uma máquina de limpar latas, sendo publicada no Diário do Governo n.º 276 de 2811-1938; a 8-5-1939, a instalar um cozedor simples igual ao aí existente e uma cravadeira Sudry B.C. 15, sendo publicado no Boletim da DGI n.º 120 de 25-5-1939; a 3-101939, a instalar uma máquina Rose Brothers para embalar as latas de conservas de caixa em cartolina ilustradas; a 1-4-1940, a instalar 2 filtros para azeitar; a 4-6-1941, a instalar 2 autoclaves de esterilização
Nas comunidades humanas a língua é o elemento cultural mais influente, permite a comunicação e o entendimento entre as pessoas, tem implicações políticas, culturais e económicas. Historicamente a introdução e imposição de uma língua à comunidade com idioma próprio representou colonização económica e cultural. As línguas de aculturação e comércio como Pierre Bordieu demonstrou são instrumentos de poder e hierarquia, constituem o “mercado da língua”, em Portugal hoje escolas superiores obrigam o uso do inglês. Sobre o português os linguistas coincidem que a origem está no latim introduzido na Península Ibérica pelos exércitos romanos durante a “2ª Guerra Púnica” (218 a.C.) contra Cartago, pelo domínio do Mediterrâneo Ocidental. Roma foi a maior potência política, militar,
marítima, comercial e cultural da Antiguidade, colonizou territórios da Ásia às Ilhas Britânicas.
As tribos ibéricas falavam dialectos, adoptaram o latim. Para além da utilidade prática o idioma foi elemento de civilização e prestígio social, impôs-se com implantação político-administrativa, mas com a derrota de Roma (séc. V) as províncias autonomizaram-se e também as línguas.
Como a etimologia, o estudo das palavras, o demonstra, o português tem influências das remotas línguas semitas, do latim, árabe, castelhano… Os moçárabes falavam um dialecto “hispano-romano”.
Nos séculos XIX-XX o estudo científico-comparativo das línguas, palavras e literaturas avançou, a linguística autonomizou-se, surgiu uma nova disciplina, a semiótica, o estudo dos signos.
Paul Teyssier da Sorbonne, autor da “História da Língua Portuguesa”, afirma que no período entre as invasões bárbaras e a chegada dos muçulmanos em 711 d.C começaram a formar-se três idiomas
na península: galaico-português a oeste, castelhano na área central e catalão a leste.
De acordo com o mesmo autor, as dez vogais do latim clássico passaram a sete. No galaico-português surgiu o LH (ex: oculum - olho) e no castelhano o J (ex: ojo). Também no galaico-português se deu a queda do L intervocálico (ex.: salire – sair, dolore-dor…) e do N intervocálico (ex: corona-coroa), mas no sul do País manteve-se (Ex: granito, franganito…).
O primeiro texto conhecido escrito em português terá sido o testamento de D. Afonso II de 14 de Junho de 1214, contudo a língua não nasce num determinado dia, é um processo evolutivo.
Fernando Venâncio, linguista, escreveu numa obra recente que a língua portuguesa terá surgido 600 anos antes de Portugal, por volta dos séculos VI -VII d.C. O processo da autonomização do idioma fez-se através do “romance”, semelhante ao galego.
A análise da língua está marcada pelas tentativas de periodização. Entre
1200 e 1350 registou-se influência da poesia lírica dos trovadores provençais em galaico-português, inscritos nos “Cancioneiro da Vaticana” (compilação italiana do séc. XII), nos da “Biblioteca Nacional” (no séc. XIII com Afonso III, D. Dinis…) nas “Cantigas de Santa Maria” atribuídas a Afonso X “O Sábio”. Até ao séc. XVI o castelhano era usado pelas classes letradas bilingues. Considera-se que o português moderno se consolidou no século XVI, surgiram nesse período estudos linguísticos pioneiros, a “Grammatica da Linguagem Portuguesa” (1536) de Fernão de Oliveira, “Gramática da Língua Portuguesa” (1539-40) de João de Barros, “Ortografia da Língua Portuguesa” (1576), obra fundadora dos estudos ortográficos e a “Origem da Língua Portuguesa” (1606) de Duarte Nunes de Leão. O “Cancioneiro Geral” (1516) de Garcia de Resende, é uma compilação de poemas palacianos dos séculos XV -XVI, são cerca de mil poemas na sua maioria em português com textos de Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda, entre outros e 150 poemas
em castelhano. Nesta obra surgiram tentativas de desenvolvimento da poesia épica, que revela maturidade com “Os Lusíadas” de Luís de Camões. ibra editada em 1572.
A “História da Literatura Portuguesa”, de Óscar Lopes e António José Saraiva, publicada em 1953 com 17 edições, continua hoje a ser obra de referência sobre a língua e literatura portuguesa.
O português consolidou-se e expandiu-se, saiu de Portugal para outras regiões do mundo, estima-se existirem hoje cerca de 300 milhões de falantes. A língua agregou novas palavras, recriou-se, um investigador moçambicano recentemente revelou que no português do seu País haverá cerca de 40 mil palavras de origem dialectal e a literatura vai inventando outras. São dinâmicas que não podem ser regulamentadas com exercícios de “unificação”. A evolução do idioma é imprevisível, como aconteceu com o latim, poderão surgir outros “português”.
*O autor não escreve segundo o acordo ortográfico
com as dimensões de 1m,40 x 1m,27 x 3m,60 e o outro de 1m,40 x 1m,27 x 1m,20, sendo publicado no Diário do Governo, IIª Série n.º 139 de 186-1941; a 19-12-1942, a instalar uma máquina de embalar latas; a 24-51949, a substituir 1 cofre tríplice de 3m,70 x 1m,27 x 1m,82 por 3 cozedores simples com as dimensões de 1m,25 x 1m,25 x 1m,60, sendo publicado no Diário do Governo n.º 147 de 28-6-1949; a 25-6-1955, a instalar 1 cravadeira automática em substituição de 1 cravadeira de lata redonda e publicada no Boletim DGSI n.º 342 de 20-7-1955; a 12-6-1956, a instalar um cozedor-secador de ar quente com 3m40 m x 1m,85 x 1m,36; a 202-1964, a instalar uma cravadeira automática, tipo V3, marca Vulcano, de 2 cabeças e 2 lunetas, sendo publicado no Boletim da DGSI n.º 793 de 11-3-1964.(5)
Esta unidade fabril produzia 8.903 caixas em 1933, 22.690 caixas em 1934 e 40.000 caixas em 1935 (produzindo neste ano 35 caixas por hora).
Segundo Ana Rita Silva de Serra Faria, esta unidade fabril produzia
para conservas de peixe 337.692
kl em 1929, 535.555 kl em 1930,
842.384 kl em 1931, 528.182 kl em
1932, 233.665 kl em 1933, 541.096
kl em 1934, 616.052 kl em 1935,
413.840 kl em 1936, 446.663 kl em
1937, 521.829 kl em 1938, 476.258
kl em 1939, 537.588 kl em 1940,
144.341 kl em 1941, 214.277 kl em 1942, 389.412 kl em 1943.(6) Depreende-se ainda pelo seguro
desta unidade fabril, feito a 18-11935, que a soldagem das latas era feita de forma mecânica. A fábrica de Ferragudo, possuía 1 dínamo gerador de 10 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1705 kw.(7)
Segundo a planta da fábrica de Ferragudo, também designada ou conhecida por “Frito Velho”, esta era constituída em 1936: 1 - a) porta
Planta da fábrica de conservas da Júdice Fialho de Ferragudo em Lagoa, também designada ou conhecida por “Frito Velho” em 1936 (colecção do Museu de Portimão)
de entrada e b) pátio, 2 - prensas e balancé, 3 - escritório, 4 - depósito e folhas em obras, 5 - depósito e folhas em flandres 6 - casa do mestre da fábrica, 7 e 8 - arrecadação, 9 - adega do azeite, 10 - casa de depósito de lata vazia, 11 - armazém da estiva, 12 - casa das caldeiras e estufas e casa de ebulição: a) estufas, b) caldeiras de vapor, 13 - cocheira, 14 e 15 - armazém depósito de lata cheia, 16 - chaminé, 17 - casa do carvão vegetal, 18 - armazém arrecadação, 19 - a) pátio, b) prensas de guano, 20 - armazém depósito de carvão, 21 - casa de descabeçar, 22 - telheiro para enxugador, 23 - casa de cozedor de peixe, 24 - armazém depósito de grelhas, 25 - casa de enlatar, 26 - casa de azeitar, 27 - casa de soldadores e máquinas, 28 - enxugador, 29 - casa da balança, 30 - a) depósito e b) forja, 31 - gasómetro, 32 - tanque para tomada de água por uma bomba, 33 - casas de operários, 34 - ventoinha.
A 15-4-1981, já com a nova administração, constituída por Adolfo Jorge Pinheiro de Castro e Brito, Jorge Manuel Barbosa da Cunha e José
Óscar Barroso Magalhães, era esta fábrica encerrada temporariamente por motivos de ordem económica, sendo desmontada por informação do Instituto Português de Conservas de Peixe - Delegação de Portimão e Lagos a 20-5-1983.(8)
2cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 189: Fábrica de Ferragudo (Júdice Fialho), Alvará n.º 11289 de 21-10-1927 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra - O Nascimento de um império
conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 59-60.
3cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (Ferragudo).
4.701.108, 1934.
4.702.108, 1935 e Portimão (S. Francisco). Fab.
Fab.
4cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Portimão (S. José).
4.701.109, 1934.
Fab.
5cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (Ferragudo). Fab. 4.702.108, 1935 e Portimão (S. Francisco).
4.701.108, 1934.
Fab.
6cf. Ana Rita Silva de Serra Faria - A organização contabilística numa empresa da indústria de conservas de peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do séc. XX: o caso Júdice Fialho”, Tese de Mestrado, Universidade do Algarve / Universidade Técnica de Lisboa, Faro, 2001, Anexos, quadro II. 6, p. 14.
7cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, documento 7442 e caixa 432, documento 5950 e MMP, Arquivo Histórico, «5ª Circunscrição Industrial», Processo n.º
189: Ferragudo (Júdice Fialho), Alvará 11289 de 21-10-1927 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 94 e 96.
8cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (19361986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL, Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (Ferragudo). Fab.
4.702.108, 1935 e Informação da administração da Júdice Fialho para o Instituto Português de Conservas de Peixe a 15-4-1981 e carta do Instituto Português de Conservas de Peixe - Delegação de Portimão e Lagos, para a sua congénere em Lisboa de 20-5-1983.