CULTURA.SUL 115 - 18 DE MAI DE 2018

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Quinzenalmente com o POSTAL em conjunto com o

MAIO 2018 | n.º 115 10.000 EXEMPLARES

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Espaço AGECAL

Portugal Cultural, uma radiografia breve A AGECAL organizou durante os dias 4 e 5 de Maio de 2018 em Tavira uma “Conferência Internacional sobre Gestão Cultural” cujos textos, reflexões e perspectivas partilharemos com as pessoas interessadas e também no “CulJorge Queiroz tura.Sul”. Sociólogo - AGECAL Portugal é um ser históricojorge.queiroz1@gmail.com -cultural de cuja preservação e evolução positiva depende um futuro inclusivo e integrador. Num território soberano há mais de oito séculos, continental e insular, Estado e nação continuam a coincidir. O português com 290 milhões de falantes é a quinta língua mundial e idioma oficial de oito Estados independentes. A importância cultural do Pais é uma evidência, existe património de origem portuguesa reconhecido pela UNESCO em todos continentes, o que transcende largamente a dimensão geográfica ou demográfica. A cultura e a língua deveriam ser, em nossa opinião, eixos estratégicos das políticas públicas. Para analisar com profundidade e detalhe a situação cultural portuguesa e das políticas publicas nas últimas décadas, a sociologia da cultura recorre e analisa informação caracterizadora produzida por organismos oficiais e séries estatísticas dispo-

níveis. Do ponto de vista da economia cultural portuguesa o saldo das transações de bens culturais teve em 2016 um agravamento de -25,7 %, isto é o País importou nesse período 150 milhões e exportou apenas 39,55 milhões de euros. Interessa a todos aprofundar estes dados. A atribuição à Cultura de 0,2% do Orçamento Geral do Estado representa o desfasamento entre a importância da cultura nacional e os meios disponibilizados para a sua afirmação. As dificuldades do sector em se organizar e de ter uma voz resultam de estruturas excessivamente corporativizadas e pouco cooperantes entre si, a que se juntam outros fenómenos negativos internos. A discussão dos regulamentos sobre os apoios à criação artística parece ser o principal motivo mobilizador, como se as políticas públicas para a cultura se resumissem ao modelo de distribuição de recursos financeiros para as artes. O sector profissional da cultura em Portugal com 81.700 trabalhadores era em 2016 o mais qualificado de todos, 43,9% dos seus trabalhadores possuíam o ensino superior, contudo continuava a precariedade laboral e instabilidade, necessidades de reforços e de formação. Não existe ainda em Portugal licenciatura em Gestão Cultural, disciplina fundamental e incontornável na formação de quadros para a crescente complexidade das tarefas, mas algumas pós-graduações e mestrados. No plano do consumo cultural, que inclui despesas com tecnologias, as assimetrias são evidentes, as famílias portuguesas gastaram em média 845 euros anuais contudo nas zonas pub

O sector profissional da cultura em Portugal era em 2016 o mais qualificado de todos

rurais apenas 500 euros enquanto em Lisboa e Vale do Tejo 1138 euros e no Algarve 829 euros. Monumentos, museus e palácios tiveram entre 2011 e 2016 uma enorme procura com +44% de visitantes, um aumento médio de 10% anuais. Contudo subsistem velhos problemas de manutenção de edifícios, escassez de recursos humanos, pouco investimento na investigação, em reservas e na aquisição de espólios. As bibliotecas públicas em Portugal registaram ligeira diminuição do acesso à leitura presencial mas aumento das actividades complementares como conferências, encontros de leitores, hora do conto. Cerca de 17,7 % de adultos e 24,7 do público infanto-juvenil estão inscritos nas bibliotecas portuguesas. No cinema em 2016 dos filmes 1168 exibidos em Portugal 63,5 % eram de origem norte-americana, 30% co-produções internacionais e apenas 5% produzidos na União Europeia. Os filmes de origem portuguesa foram apenas 2,3%, 0,9 % de França e 0,5% de Espanha. Em 2016 surgiram 64 novos festivais em Portugal sendo nesse ano 249 o total de festivais, a grande maioria de música ligeira e jazz, apoiados por empresas e autarquias. Todos os dias surgem novos festivais para onde são canalizados importantes recursos financeiros. Algumas tendências actuais são evidentes: o aumento de actividades culturais efémeras, designadas por “eventos”, virtualização, festivalização e turistificação da cultura. Os centros históricos das cidades europeias estão a ser transformados em parques temáticos, polos de negócios das empresas multinacionais com saída dos habitantes para as periferias. A continuar este processo ficarão os monumentos e museus como plataformas que interessam na atracção de consumidores. Do ponto de vista económico-cultural a globalização é predominantemente anglo-saxónica, o que induz dependências várias na esfera da economia, diminuição de capacidades regionais e locais, empobrecimento da riqueza e diversidade cultural. Face ao enorme potencial cultural do País e da Europa será decisivo que Governos, profissionais da cultura e cidadãos compreendam e tomem as medidas, e não apenas defensivas, para preservar e transmitir a herança cultural do País, tal com defende a UNESCO nas suas Convenções para a defesa do equilíbrio ambiental e social do planeta. l


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