CULTURA.SUL 58 14 JUN 2013

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Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

JUNHO 2013 | n.º 58 8.907 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve d.r.

Espaço CRIA: d.r.

Criando com Energia

António Rosa Mendes:

O narrador implicado

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Grande ecrã: d.r.

Mostras de cinema ao ar livre estão de regresso p. 3

Panorâmicas

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Editorial:

A herança de

Rosa Mendes

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Uma aldeia algarvia feita da força do imaginário Contos:

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Sons da Jamaica com Antony B :

Sábado e depois Domingo p. 8

É tempo de MED em Loulé p. 4


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Cultura.Sul

Editorial

Espaço CRIA

A herança de Rosa Mendes

Criando com Energia

Editor ricardoc.postal@gmail.com

Demasiado cedo. É sempre demasiado cedo nestas situações e o adeus a António Rosa Mendes tem também esse amargo da chegada antes da hora devida. Humanista, homem da Cultura e da defesa do Algarve, Rosa Mendes é e será sempre um nome incontornável da região. Deixa-nos a todos sem excepção mais pobres e menos acompanhados, mas deixa-nos também herdeiros do seu legado pessoal e profissional e cumpre-nos honrar essa deixa que fez universal e não testamentária. Devemos-lhe a gratidão de nos deixar colectivamente a sua experiência para que dela nos possamos “apoderar”, cumprindo a natureza histórica de seres humanos e incorporando a experiência que nos lega para todo o sempre. Recordar é viver e aqui vos deixo as palavras do homem singular que era num trecho da entrevista a Rosa Mendes que o Cultura.Sul publicou em 2010: “O passado nunca passa precisamente, porque os seres humanos não têm Natureza, têm História. Nós somos feitos de passado, somos o resumo daquilo que está para trás de nós e, portanto, aquilo que está para trás de nós não passa na medida em que nós incorporamos todas essas experiências do passado. O que sucede é que frequentemente nós somos muito ingratos em relação àqueles que nos antecederam e que construíram este mundo que herdámos. A nossa condição de humanos é sermos herdeiros. Portanto somos feitos de tempo. Pelas nossas veias não circula só o sangue, circula também o tempo. A nossa matéria é o tempo e nessa medida se queremos sinais de orientação em relação ao futuro temos que nos apoderar do passado”.

mais inovadoras relacionadas com o mar, seja através de ondas ou marés. Simultaneamente, o Algarve tem ainda um longo caminho a percorrer em matéria de eficiência energética e conservação de ener-

João Mil-Homens Gestor de Ciência e Tecnologia no CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg

Chegada a Primavera, as primeiras andorinhas trouxeram boas notícias à Universidade do Algarve. A aprovação de quatro novos projectos europeus, nos quais a Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia (CRIA) participará, 1integrando parcerias que englobam mais de 25 entidades provenientes de oito países da bacia do Mediterrâneo. Quatro novos projectos, um tema em comum - a energia: o Projecto ECOFUNDING visa facilitar o acesso a financiamento para empresas inovadoras ligadas ao sector do ambiente e da energia; o Projecto WIDER pretende fomentar a inovação na eco-contrução apoiando financeiramente PMEs com tecnologias energéticas inovadoras; o Projecto SMARTINMED promove a cooperação entre empresas e investigadores ligados à área das energias renováveis; e por fim, o projecto ENERGEIA, que visa apoiar o desenvolvimento de novas

Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural

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que não têm sido eficazmente aproveitadas. É sobejamente conhecido o potencial da região em matéria de energias renováveis, quer falemos das já tradicionais energias solar e eólica, quer se fale de formas

gia, sendo necessário proceder a uma profunda alteração dos nossos comportamentos individuais de forma a reduzir os consumos através de melhoramentos em termos de eficiência energética.

Esperamos que até 2014, através destes novos projectos, consigamos estimular toda a cadeia de valor ligada ao sector da energia na Região do Algarve. Sabemos desde já que serão criadas formas de estimular projectos de investigação nesta área a materializarem-se como ideias de negócio. Iremos criar formas de identificar novas tecnologias e encontraremos formas de estimular novos empreendedores de forma a integrá-los nesta vasta rede europeia. Iremos apoiar financeiramente algumas PMEs existentes com tecnologia passível de ser aplicada no sector da construção. Procuraremos apoiar todas as empresas no processo de captação de financiamento para alavancar novos negócios. E fundamentalmente, iremos estimular o debate e o intercâmbio de experiências entre os diversos agentes da Região, públicos e privados, ligados ao sector da energia. Ainda assim, é importante realçar que estes projectos são apenas os ninhos, de onde poderão nascer novas vidas. É fundamental que a comunidade empresarial e a comunidade científica se juntem no esforço de levar estes projectos a bom porto. A recompensa valerá certamente a pena: estimulo à economia, incentivo à investigação e à inovação, mais eficiência e menor dependência energética. As andorinhas agradecem….

Uma ideia Paulo Côrte-Real Docente

Haverá algo mais poderoso que uma ideia? As ideias encerram em si a força e a criatividade da concretização do mundo. O ritmo de vida atual leva-nos, vezes sem conta, a esquecer a grandiosidade das ideias. De um simples esboço, a uma obra pictórica ou

a um objeto arquitetónico, a ideia é o que lhe dá origem. O abstrato dá lugar ao concreto. Pensando na nossa vida quotidiana, estamos de acordo que, objetos nela materializados dependem da qualidade, criatividade e força das ideias. Então que se apoie e cultive o surgimento de novas ideias, onde os jovens, graças à sua abertura, disponibilidade a novas experiências e a vontade de apropriação do mundo, são os verdadeiros embaixadores do empreendedorismo. Consubstanciadas pela Educação - um dos pilares das nações que almejam a prosperidade e o desenvol-

Editor: Ricardo Claro Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • Contos da Ria Formosa: Pedro Jubilot • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço CRIA: Hugo Barros • Espaço Educação: Direcção Regional de Educação do Algarve • Espaço Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Momento: Vítor Correia • Panorâmica: Ricardo Claro • Património: Isabel Soares • Sala de leitura: Paulo Pires Colaboradores desta edição: João Mil-Homens Marta Santos Mauro Rodrigues Paulo Côrte-Real Paulo Serra Sara Navarro Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

Juventude, artes e ideias

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Ricardo Claro

empresas que despontem de projectos de investigação científicos relacionados com a energia. A área da energia representa para o Algarve um vasto manancial de oportunidades

Ficha Técnica:

vimento sustentável, as artes, ao mesmo tempo que abrem novos horizontes e apontam

novos caminhos, conferem beleza ao mundo. Como parte integrante da cultura, são um rico e importante fator de desenvolvimento imaterial. Embora ultimamente se venha a assistir a tentativas, falsamente legitimidadas, de destruição das artes e da cultura (direi mesmo da própria identidade nacional), importa lembrar que essa será uma tentativa vã, já que as artes e a cultura têm como génese uma IDEIA. As ideias não se destroem. Os homens e as mulheres podem morrer mas as suas ideias ficam e disseminam-se como a brisa de um novo dia. Imagina-se um mundo sem beleza?

e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelagoncalves3@gmail.com

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem: 8.907 exemplares


Cultura.Sul

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Grande ecrã

Mostras de cinema ao ar livre estão de regresso a Tavira A grande notícia deste mês é que neste Verão estarão de volta as mostras de cinema ao ar livre! Foi uma luta exaustiva e dura, mas deu frutos. Estamos a trabalhar quase a tempo inteiro para poder oferecer-lhes um programa que ficará gravado nas vossas memórias. Mantenham-se atentos! Até lá, mais um mês de cinema de qualidade no Cineclube de Tavira. Para quem não o viu ainda (e não só!), não percam um dos melhores filmes da história do cinema nacional: JOSÉ E PILAR, que iremos exibir pela terceira vez na terça-feira, 18 de Junho, data do terceiro aniversário do falecimento de José Saramago. A ideia é que todos os cineclubes do país o exibam no mesmo dia, Tavira foi o primeiro a responder à iniciativa. Repetimos: a maneira mais simples, mais agradável, mais enriquecedora e menos dispendiosa de ajudarem o Cineclube de Tavira (no passado dia 8 de Abril a nossa associação fez 14 anos) é apenas uma: desfrutem das nossas sessões de cinema de qualidade. O valor do nosso bilhete de entrada é e continua baixo: quatro euros para o público em geral e apenas dois para os sócios e para qualquer portador do cartão de estudante ou de sócio de Inatel. Até muito em breve! Cineclube de Tavira

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Cineclube de Tavira

Programação: www.cineclubetavira.com 281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 440 cinetavira@gmail.com SESSÕES REGULARES | Cine-Teatro António Pinheiro | 21.30h 18 JUN | JOSÉ E PILAR, MIGUEL GONÇALVES MENDES, Portugal 2010 (125’) M/6

20 JUN | LAURENCE ANYWAYS

(LAURENCE PARA SEMPRE), Xavier Dolan, Canadá/França 2012 (168’) M/12 27 JUN | ZERO DARK THIRTY (00:30 A HORA NEGRA), Kathryn Bigelow, E.U.A. 2012 (157’) M/16 28 JUN | VILLA-LOBOS: UMA VIDA DE PAIXÃO, Zelito Viana, Brasil 2000 (130’) M/12

As mostras de cinema ao ar livre regressam à agenda cultural da cidade de Tavira e do respectivo cineclube, uma vitória para a Cultura e para o Cinema

Espaço AGECAL

O “novo tempo” nas artes e ofícios artesanais

Marta Santos

Arquitecta Membro da direcção AGECAL

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Falemos de tempos. Tempos de escassez, do “aproveitar o que está à mão”, de mobilidade, de transmissão de conhecimentos pela via do gesto e da oralidade, do desfazer e fazer de novo, do aprendendo fazendo e operando. Procurava-se tirar o melhor partido das matérias que o território coloca-

va à disposição, ou que dele podiam ser obtidos, por força da constante necessidade de adaptação ao meio, e onde “a necessidade faz o engenho”, as transformava com recurso a técnicas essencialmente manuais. Os ritmos de trabalho, descanso e celebração estavam pautados pelas tarefas laborais, numa experiência comunitária interdependente do lugar e cujas manifestações seriam ritualizadas pelas relações e afectos de parentesco, laboral e vizinhança. Na alteração destes “mundos” laborais, ocorreram profundas transformações. Reconfiguraram-se os usos. O “tempo das coisas” modificou... Industrializou-se, criam-se outras oportunidades, implementa-se o sistema de ensino formal, reflectem-se

identidades e novas questões sobre o património. Assiste-se ao esbatimento entre rural e urbano, integram-se eventuais substitutos das economias tradicionais, integrando processos turísticos, de mercantilização, de mobilidade, e onde a paisagem rural sem ruralidade ganha o lugar de “paraíso perdido”, de retorno aos “costumes” num cenário imaginado alternativo ao quotidiano urbano. Nestas reconfigurações, eventualmente algumas práticas, contextos e celebrações artesanais mantêm-se e continuam a fazer sentido nestes “produtores”, partilhando a necessidade do colectivo e das práticas quotidianas, e outras que se alteram para a construção de um “novo” ou apenas “renovado” significado.

“JOHN PIZZARELLI” 29 JUN | 21.30 | TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Considerado um dos revivalistas do Great American Songbook, o músico americano tem mais de 40 álbuns editados, sendo o mais recente, “Double Exposure”, de 2012

A necessidade de artes e ofícios artesanais no século XXI Já conseguimos viver em temperaturas constantes de 22ºC… A casa, o carro, o escritório, as idas ao supermercado. Não necessitamos, para exercer a maioria das nossas tarefas do nosso quotidiano, de agasalhos de quem necessitava para exercer o seu ofício no exterior. Deles dependia, para o seu conforto e em certa medida sobrevivência, de um agasalho quente, resistente, impermeável, duradouro. Já não temos necessidade de sermos criteriosos na selecção das matérias vegetais que constituem a cestaria, adequadas ao uso a que se destinavam - a cana para a cesta de derregar a cal, o esparto para a esteira de empreita de secar os figos, o vime para as canastras de peixe.

Alterámos a necessidade. Criámos novos sentidos. Procuramos outras respostas para os objectos. Estas “antigas - novas” artes procuram hoje novos consumidores, encontrando frequentemente nas comunidades externas a aceitação de um repositório de “práticas populares” e de “lugar”. Modificaram-se as motivações de consumo, mas valorizamos a arte e o ofício artesanal, num resgate de memória, quase que num registo etnográfico de um contexto, procuramos um sentido ecológico, procuramos histórias naquele objecto. O seu currículo vitae, onde nasceu, em que condições foi fabricado e sua história de vida. O seu contexto familiar. E queremos transportar este “micro-cosmo” do objecto para o nosso lar. Transportamos com ele os seus valores de contexto, de família, de modo de fabrico. E damos-lhe valor. Ganha outro sentido. O nosso sentido. Encorpamos agora novos ou “renovados” significados, num processo de reformulação e de reinvenção, transportando novas significações da sua identidade.

“SONHOS” Até 21 JUN | Galeria de Arte da Associação Social e Cultural de Almancil (ASCA) Exposição de escultura de Aldamir Filho. Desejoso de trabalhar na criação a três dimensões, aproveita materiais reciclados diversos, como o ferro, a madeira, a pedra, o alumínio e outros


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Cultura.Sul

Aqui há espectáculo

É tempo de Med em Loulé

15 JUN | Luís de Matos, “Chaos” (magia), 21.30 horas, duração 1h30, preço: 10 € e 15 € 22 JUN | Escola da Companhia de Dança do Algarve, 21.30 horas, duração 2h, preço: 10 €

nal da música. Exemplos disso mesmo são as actuações da angolana Aline Frazão e de Tulipa Ruiz, uma das grandes promessas da música brasileira. No dia 29 é a vez da catalã Silvia Perez Cruz, estreia em território nacional de uma das artistas mais acarinhadas pelo público e pela crítica espanhola. Também o contingente nacional do Med 2013 é de alto nível e, como é habitual, promove alguns dos mais interessantes projectos recentes

Destaque

O Festival Med vai atrair, nos próximos dias 28 e 29, milhares de pessoas em busca da melhor música, artesanato e gastronomia, vindo um pouco de todo o mundo. O evento, uma organização da Câmara de Loulé e que assinala este ano a sua décima edição, tem na música o prato principal e estão prometidas emoções fortes com um luxuoso programa de actuações. Desde logo atenções centradas num dos fenómenos de popularidade na cena reggae

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

15 JUN | Luís de Matos, “Chaos” (magia), 21.30 horas, duração 1h30, preço: 10 € e 15 € Da mesma forma que o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque, também a presença de cada espectador se reflecte em cada representação de Luís de Matos. Uma jornada inesquecível, plena de interação e mistério, repleta de feitos inexplicáveis que perduram na memória de cada espectador que os vive.

Os noventa minutos de espectáculo são uma combinação única da imaginação colectiva de todos que nele participam. “Luís de Matos - CHAOS” é uma experiência mágica sem precedentes, uma colecção de mistérios tornados realidade em cada representação, constituindo uma viagem mágica pessoal, intransmissível e memorável. Ilusão ou realidade? A escolha é sua…

Cine-Teatro Louletano Programação: http://cineteatro.cm-loule.pt

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Destaque

15 JUN | Al-Buhera canta Amália, Alain Oulman e Ricardo Valério, 21.30 horas, preço: 6 € 6 JUL | LX Comedy Club, (stand-up comedy), 21.30 horas, preço: 10 €

6 JUL | LX Comedy Club, (stand-up comedy), 21.30 horas, preço: 10 € Luís Franco-Bastos, Ricardo Vilão, Rui Sinel de Cordes e Salvador Martinha percorrem o país em registo de comedy club. Depois de várias sessões esgotadas em várias cidades o tour VOLTA EM 2013.

Nova temporada, novos textos, a mesma irreverência. A regra é que não há regras. Só piadas.

AMO - Auditório Municipal de Olhão Programação: www.cm-olhao.pt/auditorio

internacional, o jamaicano Anthony B, que sobe ao palco no segundo dia do evento. Também para sábado está marcado o regresso a Portugal, após vários anos de ausência, de uma das bandas mais míticas das últimas duas décadas na Europa, os sempre vanguardistas Hedningarna, da Suécia. Divas encantam Loulé Outro ponto alto passa por uma das mais aguardadas estreias no festival louletano, onde dia 28, Oumou Sangaré sobe ao palco. A cantora do Mali é uma diva da música africana, vencedora de um grammy, mas também reconhecida por ser uma activista cívica pelos direitos das mulheres e embaixadora da Boa-Vontade da ONU. O programa do MED 2013 faz uma aposta clara numa nova geração de cantautoras no feminino que está a impressionar o mercado internacio-

da música portuguesa. No primeiro dia de festival, sobem ao palco os Dead Combo, Miguel Araújo e Samuel Úria, bem como Elisa Rodrigues, uma das mais vibrantes vozes do jazz nacional. Dia 29 há lugar ao fado, com Cuca Roseta, mas não só. A contagiante e contemporânea celebração popular que representam as actuações dos Kumpania Algazarra ou dos Dona Gi também prometem animação. Mais intimista será decerto a actuação de Sofia Vitória, num projecto de homenagem a Chico Buarque. Por fim, para os mais resistentes, as duas noites do MED 2013 terminam com apelos à dança vindos dos pratos de HugoMendez “Sofrito”, badalado dj londrino na primeira noite, e de Batida Dj Set no sábado. Os bilhetes diários custam 12 euros e podem ser adquiridos nos dias do evento no próprio local.

22 JUN | António Zambujo - a solo (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 15 € António Zambujo vem ao AMO apresentar o seu mais recente álbum “Quinto”. Disco que entrou directamente para o segundo lugar do top nacional de vendas, depois de ter liderado o top iTunes. Do Alentejo para o mundo, a obra de António Zambujo foi elogiada nos quatro

cantos do globo, louvada, por exemplo, no Brasil ou nos Estados Unidos. A viagem de “Quinto” pelos palcos já começou e está prevista mais uma noite bem passada com um artista que tem esgotado salas de espectáculos em todo o país.

TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Programação: www.teatromunicipaldeportimao.pt Até 13 JUL | Sérgio Godinho e as 40 Ilustrações (exposição), de terça a sábado, das 10 às 19 horas, entrada livre 19 JUN | Um espaço chamado Teatro, 19 horas, duração: 1h30, preço: 3 € 21 JUN | Cinemas às 6.ªS – “Elena”, de Andrey Zvyagintsev, 21.30 horas, duração:1h50, preço: 3 € 27 JUN | Um espaço chamado Teatro, 19 horas, duração: 1h30, preço: 3 € 28 JUN | Cinemas às 6.ªS – “O Polícia”, de Navad Lapid, 21.30 horas, duração:1h50, preço: 3 € 29 JUN | John Pizzarelli (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 12 e 14 €

Destaque

Oumou Sangaré, a grande diva do Mali e de África

Destaque

15 JUN | A Fantasia do Circo, Circo Cardinali, 16 horas, duração: 1h15, preço: 6 € 22 JUN | António Zambujo - a solo (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 15 €

29 JUN | John Pizzarelli (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 12 e 14 € John Pizzarelli estreia-se em 2013 em Portugal com três concertos. Depois de ir a Castelo Branco e Lisboa, no dia 29 de Junho passa pelo TEMPO. O mote para estes espectáculos é a apresentação aos portugueses do seu cool jazz tocado à guitarra.

Conhecido por interpretar baladas clássicas, Pizzarelli tem nas suas influências nomes como Nat King Cole ou Frank Sinatra. Considerado um dos revivalistas do Great American Songbook, o músico americano tem mais de 40 álbuns editados, sendo o mais recente, “Double Exposure”, de 2012.


Cultura.Sul

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Senhora do Forte, uma aldeia algarvia feita da força do imaginário

fotos: d.r.

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Logo depois de acordar fiz-me à calçada irregular das ruas estreitas a seguir o cheiro a maresia como quem procura a certeza de que na orla do grande oceano a vista ganha horizonte aberto e prolongado. O mar tem destas coisas, garante vistas largas, sem obstáculos e era exactamente isso que procurava para esta manhã na Senhora do Forte. A brisa salgada podia ser a única indicação do destino que procuro, mas aqui o silêncio ambiente tem o condão de garantir que também pelo ouvido se pode buscar o caminho do mar. O ribombar das ondas que se espraiam junto às arribas num ritmado lamber das areias brancas confirmava o caminho e rapidamente desemboquei junto ao farol. Sentei-me no primeiro café que encontrei para beber o expresso da manhã e afastar do corpo a sensação do peso do sono ainda há pouco abandonado. Paguei e fiz-me de novo ao piso de calcário cinza recortado em rectângulos e dum pulo, deste para aquele lado da rua, pude ver o Atlântico em todo o esplendor. O Miradouro do Farol no topo da arriba permite um olhar altaneiro sobre o azul imenso. A ponta de terra, onde em tempos idos se construiu o guia dos navegantes, rasga o mar e põe-nos, como que por magia, na posição estranha de quem de dentro do oceano pode ver a aldeia algarvia pontilhada a branco pelo casario encosta acima. Há décadas que o velho torreão de ferro forjado se não cansa de, com a sua luz rodopiante, avisar os homens do mar que ali a terra se intromete pelos domínios de Neptuno. Noite, após noite, o feixe de luz rasga o negro do firmamento e mantém afastado e em segurança quem quer passar ao largo da Senhora do Forte e indica o azimute para os filhos da terra se fazerem à rebentação para regressarem ao porto da aldeia sãos e salvos depois de mais uma faina. Daqui vejo o porto e a ponte que fazem o caminho da beira-mar até à orla do casario. Os frutos do mar fazem este percurso a cada dia carregados pelas mulheres dos pescadores com a habilidade e a destreza de quem o faz consciente de que carrega o sustento da prole. Hoje estão estranhamente desertos. Porto e ponte abandonados, redes e parafernália jazem na rampa do porto

A brincar te encontrei. E de noiva estás vestida! Será que eu agora achei A mulher da minha vida?! Há lá melhor maneira de fazer um ‘arranjinho’ que perante toda uma aldeia. A mim contam-me que o jogo já fez cair de amores os rapazolas mais afoitos nestas coisas das paixões com a mesma força com que retirou das masmorras da solidão alguns dos moços mais envergonhados da Senhora do Forte. Uma visita imperdível

A Aldeia da Senhora do Forte foi construída por Pedro Reis e doada ao Museu de Lagos semeada de barcos. Recolhidas dentro dos molhes as embarcações não mostram sinais de azáfama e balouçam estranhamente vazias dos homens de pele escura do sol e gretada do salitre que habitualmente as povoam. Agora que reparo neste vazio lembro-me que não me cruzei com ninguém nas ruas... também elas estão estranhamente desertas e para além da senhora que me deu o café, não vi vivalma desde que saí da cama. Estranho abandono este a que a aldeia parece ter sido repentinamente votada e é perdido nestes pensamentos que oiço o explodir dos aplausos

e dos vivas. Levanto o olhar a percorrer a marginal na procura dos responsáveis por tamanho alarido, que é de gente que se trata certamente, pois só o gentio pode encher de palmas o silêncio. O jogo casamenteiro Em torno do Forte da Sapata a mole humana anuncia ajuntamento invulgar numa aldeia de brandos costumes e dum pulo me junto à festa enquanto tento perceber a razão de tamanho burburinho.

A povoação imaginária, em miniatura, comemora 20 anos “EXPOSIÇÃO DE ARTE SACRA CREIO” Até 15 SET | Museu de Portimão Uma mostra que reúne cerca de 50 peças de arte com significativo valor artístico e religioso de diversas paróquias algarvias, abrangendo um período de quinhentos anos

Em três actos me faz esclarecido um filho da terra que me põe a par do Jogo da Rampa. Os aplausos são a recepção devida à primeira noiva que saiu das portas da fortaleza. Trata-se afinal de um género de peddy-paper casamenteiro que se joga apenas uma vez por ano. O momento alto tem início com o rebentar de um morteiro que dá a partida para a subida da rampa do forte por oito rapazes solteiros que têm como desafio encontrar um minúsculo papel que se encontra escondido no terraço do baluarte. Descoberto o papel onde está escrita a senha que lhes vai servir para encontrarem uma rapariga também solteira, rapaz e rapariga entram na fortaleza com uma chave que ela lhe entrega e dentro do forte têm de encontrar uma veste branca de noiva que está guardada num baú, num lugar desconhecido. Encontrada a veste, o rapaz entrega-a à companheira de jogo, sai e espera à porta que ela apareça, já vestida de noiva. Assim que esta se apresenta, é saudada por todos e é-lhes apresentado pelo júri um prémio, que de ano para ano varia, sendo este entregue a ambos. Depois, o rapaz dá-lhe um beijo na face e sela o momento com uma quadra tradicional:

Tudo isto em data agendada desde há tempos imemoriais e com a presença massiva da população, numa festa que atraia à aldeia centenas de visitantes para verem como aqui, por terras algarvias do concelho de Lagos, se dá mote ao amor através de uma brincadeira. Ainda a procissão vai no adro deste dia recheado de acontecimentos em Senhora do Forte, a festa promete ser rija e faz-se de música pela banda local, Lira do Forte, e pelos cantares do grupo coral Brumas do Mar. O teatro sai à rua durante a tarde no jardim do coreto, lateral à igreja, pela mão do grupo cénico Arrebol, a que se segue o folclore que se faz de corridinho com o ritmo a ser imposto pelo rancho Vá de Roda. Antes do cair da noite, tudo visto, ainda tenho tempo, afiançam-me, de subir ao Miradouro de Cima e contemplar os socalcos da aldeia serpenteados de velhas ruas que se hão-de encher de gente como artérias por onde corre a força do imaginário da aldeia em direcção ao mar. Um dia inesquecível este passado na única aldeia algarvia que se pode sempre ver de cima com o olhar fixado na maqueta feita pelas 5.300 horas de trabalho de Pedro Pacheco dos Reis e que se apresenta aos visitantes no Museu Municipal de Lagos. Uma visita imperdível para quem ousar sonhar e deixar-se levar por uma aldeia que do imaginário se faz real e que comemora este mês de Junho o vigésimo aniversário. Basta passar pelo Museu de Lagos e à escala de 1/200 atrever-se a visitar as ruas e as gentes da Senhora do Forte. Ricardo Claro

“DANÇA COM CIGANSKI-KIUCHER” 15 JUN | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Grupo apresenta um espectáculo de danças ciganas romanis dos Balcãs e Europa Central, dança cigana russa com xaile, turkish romani (Roman Havasi), fantasia Zíngara...


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Cultura.Sul

Letras e Leituras

Visões do real histórico em Lillias Fraser d.r.

Paulo Serra

Investigador da UAlg associado ao CLEPUL

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Lillias Fraser, romance de Hélia Correia, ganhou o Prémio D. Dinis 2002 e o Prémio do PEN Clube Português 2001. Lillias Fraser é a protagonista deste romance homónimo, uma criança escocesa com o dom excepcional e mágico de prever a morte nas pessoas, pois quando as olha vê-as no momento da sua morte. Este poder vai salvá-la logo nas primeiras páginas do romance, pois assusta-se quando olha o pai e antecipa o seu assassinato. Claro que inicialmente a menina não compreende o que vê e aí há uma confusão ainda da personagem, por desconhecimento dos seus próprios dons, que se vão revelando e fortalecendo ao longo da narrativa, e depois multiplicam-se. As visões de Lillias abrem a percepção do leitor para um tempo em que os véus são demasiado finos, permitindo “pre-ver” o futuro da mesma forma que o mundo do invisível se sobrepõe por vezes ao mundo do sensível: «Acabaria por acostumar-se e quando, anos depois, em Portugal, viu abater-se uma cidade inteira, levantou-se em silêncio do enxergão, fechou a trouxa e foi dormir para o jardim, sem avisar ninguém daquilo que iria passar-se mais à frente, de manhã. Pensou que, se falasse, criaria um estado tal de confusão que os acidentes começariam a acontecer antes de o terramoto os provocar.» (p.8). Lillias Fraser escapa à batalha de Culloden e é por ver e seguir o fantasma da sua mãe, julgando-a viva, até ao castelo de Moy Hall, um sítio seguro, que a jovem permanece viva para nos contar a sua história. É o fantástico que conduz e salva Lillias ao longo da narrativa. É novamente graças ao seu dom, com o qual aprendeu a conviver, que se volta a salvar no fatídico ano de 1755. Lillias tem um brilho que atrai os homens e intimida as pessoas. A sua singularidade é perceptível físicamente: «Tem os olhos doirados (...) Sinal de que houve bruxas na família.» (p. 43). Tem um brilho de sobrenaturalidade e mistério que irradia em seu redor

por onde passa. Chega a ser motivo de mitos e rumores. Essa luz protege-a inclusive de feras como os lobos, mantendo-os à distância (p. 89). O verbo ver predomina no romance, bem como a palavra visão ou olhos, por onde se apreende o real circundante mesmo quando Lillias duplica a sua visão, vendo este mundo e o outro que há-de vir. O dourado é a cor que reveste e irradia Lillias Fraser, o que reforça assim a sua graça enquanto receptáculo de um dom divino e não do Diabo, como a igreja advogava na época, tal como quando decidiu queimar parteiras e curandeiras acusando-as de bruxas, de forma a deter o poder de curar e

ajudar o povo. Silenciada aquando do episódio da batalha de Culloden por uma mulher, a criança parece gravar esse comportamento para o resto da sua vida: «Fica calada, ouviste? Nunca fales. Não digas nada.» (p. 39). Lillias, no seu mutismo silencioso, em que muito pouco fala durante todo o romance, parece assim um símbolo da condição da mulher e da sua passagem silenciosa pela História. As máscaras de Lilias Fraser Lillias Fraser vai vestindo máscaras e nomes ao longo do romance, como estratégia de sobrevivência, numa retórica de caranavalização. Temos inclusive um momento de travestismo, quando Lillias se faz passar por um homem, acompanhando Cilícia, a mulher maternal que a acolhe e protege, como se ela fosse um talismã: «Para que Lillias a acompanhasse, Cilícia fez-lhe um fato de rapaz e cortou-lhe o cabelo pelos ombros. “Pas-

“DIÁLOGOS LIDOS” 22 JUN | 21.30 | Café-Bar Atabai - Barão de São João (Lagos) Serão cultural proporcionado por um grupo de amantes da escrita, antecedido, às 19 horas, pela abertura da II Exposição de Escultura e Pintura, no Largo da Igreja

sas por filho meu. Não abras boca.”» (p. 231). A estrutura deste romance divide-se em três partes, que correspondem a cenários e tempos distintos: Escócia em 1746, Portugal em 1751 e em 1762, terminando num lugar incerto/utópico. Há um arco temporal de dezasseis anos em Lillias Fraser, livro-personagem que surgiu à autora no seguimento de um episódio biográfico narrado no livro, quando visita Culloden, cenário com que se inicia a história. O narrador confunde-se assim com o autor, e fala-nos sobre um passado histórico a partir do presente, recriando ou reconstituindo o passado numa narrativa que se assume como uma efabulação, onde decorrem ainda incursões do mágico. A voz do/a próprio/a narrador/a ocorre em diversos momentos: «Estive no campo de batalha de Culloden em 1999, a meio de Abril, um dia após as comemorações» (p. 13). Estas intrusões do narrador servem não só para nos despertar da ilusão de estarmos mergulhados numa história que ocorre noutro tempo como para nos tornar conscientes de que toda a História, tal como toda a ficção literária, é uma leitura a partir da perspectiva ou da

moldura do real do presente, em que o leitor se insere. O narrador situa o leitor claramente num contexto pós-moderno, assentando-nos bem os pés na terra mesmo no início do romance, ao falar-nos da sua presença na cafetaria e no museu do memorial histórico, bem como quando refere a existência do site na Internet sobre Culloden (p. 17). Mas, da mesma forma que o historiador não pode visitar o passado para saber, em primeira mão, como este aconteceu, o narrador também não detém todas as peças do puzzle que ele próprio narra. O narrador enquanto instância tipicamente omnisciente chega mesmo a brincar com as suas próprias limitações, numa constante atestação de ignorância: «Se alguém ouviu gemer os soterrados e se benzeu ao despejar os caldeirões, isso não sei.» (p. 139). E se por várias vezes relacionámos o dom sobrenatural de Lillias com o de Blimunda, que em Memorial do Convento era capaz de ver o interior das pessoas em jejum, Lillias ao chegar a terras portuguesas encontrar-se-á efectivamente com Blimunda, criando-se assim um inovador e aprazível jogo de ficções. A descrição que é feita de Blimunda reforça a sua aura de sobrenaturalidade, enquanto aparição que emana de um outro mundo/livro: «A mulher riu. Tinha um tão claro riso que Lillias julgou, por um momento, achar-se rodeada de crianças. No entanto, apesar do seu cabelo, ainda muito escuro, e do seu rosto, liso e moreno, onde brilhava a sugestão de emulsões orientais, vinha dela uma esplêndida velhice. Atravessara o tempo e convencera-o a separar-se dela para sempre. (p. 280). Lillias Fraser, por seu lado, fará também uma aparição especial no romance As Luzes de Leonor (2011), de Maria Teresa Horta. Neste último romance, o nome da personagem é Lilias Fraser, com um l, e parece ter surgido devido a um comentário casual de Hélia Correia com Maria Teresa Horta, quando se aperceberam que o tempo de ambas as narrativas era coincidente. Esta situação é extremamente curiosa e desmistifica um pouco o processo da escrita em que tudo tem de ter um significado oculto. Aparentemente, Hélia Correia terá pedido à poetisa e escritora Maria Teresa Horta para ser madrinha deste livro, As luzes de Leonor, e em resposta Maria Teresa Horta pediu-lhe Lillias Fraser de empréstimo.

“OS PESCADORES” TEMPORÁRIA | Museu de Olhão Exposição de fotografias de Luísa Soares Teixeira, acompanhada de textos de Raul Brandão, mostra duas narrativas sobre a cidade cubista, uma fotografada na actualidade e outra publicada em 1922


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Momento

Dream on Foto de Vítor Correia

Espaço ALFA

Precisão no tempo e espaço na Natureza

Mauro Rodrigues Secretário da ALFA

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Quando olhamos para a Natureza, parece-nos tudo um bocado desorganizado, mas na verdade ela tem por debaixo da sua pele uma arquitectura tão precisa que por vezes até assusta quando começamos a pensar verdadeiramente sobre ela. Mesmo que o Homem plante as suas estruturas na paisagem, ela modifica-se e adapta-se criando equilíbrio, para sustentar um sistema. Este equilíbrio é formado por padrões que se repetem ao longo do tempo, 365 dias por ano, uma vez que o planeta Terra roda em função da proximidade da Lua e do Sol. Com tanta precisão no espaço e no tempo, basta

aos fotógrafos aproveitar estes padrões que se repetem de ano para ano para capturar os seus melhores momentos que podem ser antecipados com uma precisão quase diária e nos mesmos sítios do costume. Não quer dizer que possa carregar a mochila com as suas lentes favoritas e partir para a aventura do desconhecido encontrando aleatoriamente beleza em sítios improváveis, o que será certamente recompensador, mas também pode ser uma perda de tempo a longo prazo e nos tempos que correm, tempo é dinheiro. Já na parte da composição da fotografia de Natureza, tentem sempre preenchê-la com elementos interessantes, obriguem o olhar a descobrir tudo o que vos apaixonou naquele local que visitaram, percam tempo com os seus padrões, texturas, cores e linhas. Em termos de equipamento prefiram objectivas grandes angulares, macro e teleobjectivas de grande alcance. Consultem a Meteorologia dias antes, utilizem igualmente um referenciador GPS para cataloga-

d.r.

rem locais, adquiram galochas e protecções para a câmara e não se esqueçam dos filtros, tripé e

“A FANTASIA DO CIRCO” 15 JUN | 16.00 | Auditório Municipal de Olhão Espectáculo conta com a participação de grandes artista nacionais e internacionais que farão a delícia dos mais pequenos, como só o circo consegue fazer!

flash para compensar as sombras quando necessário. Agora, façam favor de ser curiosos, investiguem

os padrões da Natureza e planeiem as vossas fotografias com antecipação.

“MÚSICA NAS IGREJAS” 15 JUN | 18.00 | Pousada do Convento da Graça - Tavira Concerto de fado por Inês Graça. A artista tem viajado com frequência até ao Luxemburgo, Alemanha e Bélgica, onde tem realizado diversos espectáculos junto das comunidades portuguesas


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Contos de Primavera na Ria Formosa

Sábado e depois Domingo

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Sábado na cidade Cheguei ontem já muito tarde no dia que já tinha descido rumo a outro sul. Estava cansado. E não aguentei mais que dois ou três poemas de ‘Observação do Verão’ de Gastão Cruz. E logo as pálpebras começaram a ceder nos últimos versos de Anoitecer em Buenos Aires «(…) ainda inexistente no tempo de uma vida/vivendo no espaço que não teve o seu tempo,/e tarde volta do tempo onde não esteve.» Belo lugar para embrulhar o sono neste outro lugar adormecido (a ‘veneza de tédios’ de Álvaro de Campos) bem longe dessa morada de Borges, tão distante como se situasse noutro mundo. E na verdade é lá que fica…

que quero ter menos coisas. Cada vez menos quero ser mais coisas. Neste mundo sem idade podemos perder-nos e contradizer-nos, que ninguém quer saber.

palavras assim tão inesperadamente ditas, mais sábias que estas, não poderia esperar. Que um dia bom será sempre o que se pode desejar a um qualquer homem.

A quadrícula da janela que dá para o quintal da vizinha mostra-me um jacarandá livrando-se das suas violáceas flores em campânula, lançadas displicentemente em voo planado rumo ao chão, tornando-o peganhento. Assim impregnando estes os últimos dias primaveris do seu aroma doce e melado.

Passo sob as arcadas observando os títulos dos jornais sobre a banca, onde um roufenho transístor a pilhas compete em ruído com o discurso sempre igual dos homens que discutem o sexo dos penáltis da última jornada. Curvando aí à esquerda, quase à esquina, entro agora na pequena loja que estranhamente subsiste para cá do tempo, bastando abrir as portas para se afirmar contra todos os que a acham inconsequente, nesta era que passa voraz no caminho da evolução. (Sim!?… mas que evolução? Para que novo tempo vai?).

Mas saio de casa, na tentativa de descobrir novos sons e diferentes tonalidades de luz. Nada como aproveitar a manhã bem cedo quando os sentidos estão mais despertos e o bur-

intelectual do século XX não o teria desejado para si. Esta tarde de sábado derrama a sua prostração sobre as ruas duma cidade já de si presa numa imobilidade remota. Mas essa falta de solicitações impele o transeunte para um ser que é remetido à busca do tempo perdido. Que é sempre infligido à memória, mesmo de quem se viu feliz numa era de um dia de um ontem qualquer. Ainda que por toponímias diferentes das dos passos por ora transmudados. Deambular quase que perdido. São os olhos que enquadram os pormenores da paisagem, como se fotografassem. Esse exercício permite descobrir insignificantes objectos como um catavento artesanal, ou um espanta-espíritos, que poucas pessoas

Domingo na praia Aproveitar o dia. Sair na direcção do mar, nessa hora matutina de quase não-nuvens desfilando livres, em que a luz incandescente da orla marítima não tem igual neste lado do paraíso. Destas penínsulas prometidas resta o que não foi tocado pela mão do homem, ou aquilo que ainda consegue por enquanto ficar fora do seu alcance. Como o vai e vem das marés remexendo as areias que formam e disformam línguas, traçando as passagens da corrente. São os encantos naturais o que mesmo assim resta para o olhar. Descer à praia. Desejar por tudo um levante que me expurgue num mar morno e espumoso. Impingir o d.r.

Despertei para a manhã clara ao som de agitadas ‘delichon urbicum’ de asa negra atarefadas nas suas construções. E elas sim, voltam sempre nesta estação. Já eu, verdadeiro ‘pássaro urbano’, há muito que não migrava até estas paragens de sul, envolto nas minhas desconstruções…. Ao sair de casa encontrei mesmo uma andorinha morta sobre o passeio. Mas por nenhuma destas ou de outra qualquer razão se acabará a primavera deste fim-de-semana. Durante algumas horas estarei aqui retido num dolente terraço, observando à volta o casario de telhados de tesoura, recortado sobre um rio que quase ninguém por aqui sabe porque tem dois nomes, ou onde um acaba para o outro começar. Fico remendando versos que também tu alinharias, se estivesses como eu, nem que por um dia, num lugar como este. Espreito a rua através das frestas da reixa das portas típicas da cidade. As pessoas que passam numa terna lentidão vão, entre parcas palavras, respirando desse ar impregnado de salmoura. Percorrendo o corredor de volta para a cozinha deparo-me com essa coluna de madeira já tão antiga. Paro. Resto-me a observá-la como se nunca tivesse reparado nela antes. Sabendo bem, tão bem, que ainda eu era muito pequeno e já ela existia aqui na casa que herdei dos meus avós. Quantos anos terá? Ou quantos anos terei? O que é a idade… e a antiguidade? Nem somos o que temos, nem temos o que somos. E cada vez sinto mais

burinho do trânsito e das gentes de sábado ainda não se faz sentir. Atravessando a ponte, olho para o lado da barra e pressinto as praias longínquas como o engenheiro de Tavira em ‘A Passagem das Horas’. A brisa surpreende de leste. O rio até parece que secou, não fosse lembrar-me que a lua de cheia que está, trará na tarde de logo uma aguada que subirá as margens e se insinuará aos passeios ribeirinhos, donde será fotografado por diversas vezes. Chego à praça central. Cruzo-me com um homem, não muito idoso, de calcões de cáqui, camisa em padrão florido, de máquina fotográfica pendurada ao pescoço caída sobre o peito. Dirige-me um simples ‘good morning’. E no entanto reconheço que outras duas

Mas existe. Aqui. Assim sem mais explicações. Não se repita um Porquê? Porque é simplesmente. Só porque há coisas que teimam por ser assim simples e indiscretas. Só por existir por si. É uma livraria assim irreconhecível para os de esta época. Dirão que mais parece um cubículo com livros. Mas o que é uma livraria senão um templo abandonado aos que ainda creem/ leem. O que é a literatura senão uma contínua história de emoções desregradas. E agora tenho os dois pés uns dois passos adentro, pisando o já um pouco gasto chão de ladrilho de Stª Catarina. E estático me fico. Pois um homem dorme debruçado sobre um pilha de livros. Quantos sábios anciões terão tido este privilégio de assim levar um tempo de viver e morrer sobre os seus objectos de todos os desejos e suplícios. E que muito bom

reparam no movimento dos dias sobrepostos. Coisas que não existiam antes. Para então passarem a existir. Ao fim da tarde subo à açoteia e oiço o mar de levante. Por vezes a sua brisa envolve a reminiscência dos pomares andaluzes plantados por mouros de antanho. Enrolo um cigarro, e de repente é como se ouvisse uma voz ancestral a cantar ao sol, acompanhada da flauta celestial de Sérgio Mestre e à guitarra marroquina dedilhada por Telmo Palma… Absorvo a emoção num prato de figos frescos. E desta vista de este aqui, o mais inopinado não é a cor, o odor, o som. Mas no que a visão sendo sempre nítida a todos, será simplesmente dissemelhante o que vai no seu discernir ao mirá-la.

calor vigoroso deste sol na pele de corpos que se imunizam. Na duna frente ao mar, recebe-se da maresia um odor a limos no ar. Tiro os óculos mesmo sem conseguir suportar o tremeluzir do sol a pino, para ir mergulhar. Ando nas ondas bebendo pequenos goles de água. Saio para a toalha, cabelos ao vento, molhados. Fumo um cigarro e deitado na areia começo a sonhar as conchas que quero levar. Tudo está enfim calmo numa luz dolente. Como se não houvesse amanhã. Este dia parece não querer sair do lusco-fusco. As águas estão paradas como se a maré não quisesse quebrar esse espelho deitado. Como se a felicidade fosse apenas isto de ficar olhando a tamanha beleza da hora crepuscular, infinitamente…


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Espaço ao Património

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Sala de leitura

Biblioterapia? Arte e Arqueologia entre a objetividade e a afetividade

Sara Navarro

Escultora CIEBA / Secção de Investigação e de Estudos em Ciências da Arte e do Património – Francisco de Holanda Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa

O diálogo, histórico e permanente, entre artistas e arqueólogos e a, cada vez mais frequente, colaboração de artistas nos projetos de investigação arqueológica leva-me – no âmbito do meu trabalho – a questionar a natureza desta relação, o status do artista para a arqueologia e o interesse dos arqueológos na prática artística. Ao longo da história, é comum depararmo-nos com artistas que se inspiraram na arqueologia ou que encontraram afinidades entre os processos criativos e os processos de trabalho da arqueologia. Nos últimos dez ou quinze anos, tornou-se frequente, especialmente no Reino Unido, encontrar arqueólogos que procuram no trabalho de artistas contemporâneos fontes de informação interpretativa. De carácter interdisciplinar, o meu trabalho procura, através de uma ligação entre a investigação arqueológica e a produção artística, a criação de objetos escultóricos que se aproximem das formas de cerâmica pré-histórica, distinguindo-se destas pela alteração da escala, por uma manipulação original dos esquemas decorativos e pela ruptura com a funcionalidade. Centrada no caráter reflexivo e subjetivo da cultura material, proponho o desenvolvimento de novos métodos, menos científicos e mais estéticos, em que o olhar dos artistas pode ser integrado na metodologia arqueológica, com vista a desenvolver novos modos de ver e registar, de pensar e representar, de comunicar e expor. Esta conexão, entre arte e arqueologia, pode ser um campo muito fértil para a criação de escultura contemporânea. A partir da investigação sobre os possíveis pensamentos, decisões, motivações e ideias existentes por trás de cada objecto e da reprodução dos respectivos processos tecnológicos, poderá a arte contemporânea (re)encontrar novas linguagens plásticas, algumas das quais há muito perdidas. Entre outras coisas, a interface entre arte contemporânea e arqueologia pode gerar novas perspectivas sobre o estatuto do objeto, a partir de um novo olhar sobre a cultura material. Um olhar estético que, ao contrário do tradicional e mais científico olhar

arqueológico, não está subjugado ao projeto de explicar o passado, mas apenas de o interpretar. A negociação entre a objetividade versus afetividade (emoção estética) é talvez aquela que ao mesmo tempo pode separar e unir arte e arqueologia num novo paradigma. As questões de afeto estético e beleza, que estão na base da arte, são frequentemente secundárias à objetividade do processo

rialismo como no idealismo. Não espero que os artistas se tornem arqueólogos, nem que os arqueólogos se tornem artistas, cada disciplina tem a sua própria agenda. Não obstante, defendo que se podem aplicar os conhecimentos específicos de cada uma num trabalho comum, em que as duas disciplinas se justaponham na procura de um espaço e de um diálogo coeso, num contínuo campo de interação d.r.

de escavação, documentação, pesquisa, registo, reconstrução e representação arqueológica. No entanto, é compreensível que os arqueólogos, nas suas autorizadas auto-representações de mundos materiais objectivos, achem atraente a relação entre artista e arqueológo, na medida em que ela permite estabelecer, em simultâneo, uma autoridade crítica e objectiva, característica da arqueologia, e incluir a componente acrítica do afeto, característica da arte, na perpetuação de uma aura no processo arqueológico contemporâneo. Ainda que ciente das diferenças entre as disciplinas, acredito que as propostas culturais da arte contemporânea podem constituir um instrumento valioso para a análise arqueológica, assim como o conhecimento de trabalhos arqueológicos sobre as culturas passadas se tem, ao longo da história, mostrado revelador para a prática artística. Neste sentido, penso que ambas as disciplinas podem recorrer à interpretação e ao pensamento criativo, envolvendo-se em atos de intuição, reconhecendo padrões e relacionando observações e ideias previamente não associadas, incidindo tanto na objetividade como na subjetividade, no mate-

simbiótica entre práticas, numa experiência conjunta que ultrapasse a simples visita recíproca. Tal como acontece com a prática artística contemporânea, a meu ver, é crucial que o trabalho da arqueologia não se limite à análise hermética do passado, mas se envolva também na pluralidade e multivocalidade do pensamento contemporâneo. Há muito que os artistas compreenderam que a transgressão das fronteiras disciplinares e a resistência a categorizações leva a um desenvolvimento disciplinar, visando o crescimento e possibilitando uma ontologia transversal. A interdisciplinaridade leva, geralmente, à criação de pensamento original. Rumo a um novo território intelectual, a prática interdisciplinar implica assumir riscos, criar rupturas, dar saltos, abdicar, quebrar convenções, renunciar à facilidade de continuar dentro do que é expectado e, claro, do que é aceite. Penso que, tal como a arte, a arqueologia e os estudos patrimoniais podem beneficiar ao localizar-se num campo expandido, num contexto mais alargado, que é simultaneamente arqueológico, histórico e artístico.

Paulo Pires

Programador Cultural no Departamento Sociocultural do Município de Silves esteoficiodepoeta@gmail.com

A ideia de associar o livro a uma capacidade terapêutica remonta às antigas civilizações (egípcia, grega e romana), que consideravam as suas bibliotecas espaços dotados de sacralidade, um repositório de textos cuja leitura possibilitaria um alívio das enfermidades – o que revela que a Medicina e a Literatura/Filosofia sempre andaram a par no cuidado com o ser. Na Índia recomendava-se a leitura individual como componente do tratamento médico e, desde o século XIX, nos Estados Unidos a leitura personalizada em hospitais afirmou-se como coadjuvante no processo de recuperação do doente. Bebendo quer na teoria aristotélica sobre a catarse, quer nos contributos de vários autores contemporâneos (Proust, Freud, Husserl, Sartre, Merleau-Ponty, Wolfgang Iser e outros), a partir do século XX surgiu então, formalmente, o conceito de Biblioterapia. Esta abordagem implica o uso de materiais de leitura que nutram a saúde mental, a presença de um profissional que atue como mediador da leitura e um público-alvo que aceite participar num programa de leitura. Podem discernir-se, grosso modo, dois tipos de biblioterapia: a clínica, implementada por profissionais habilitados que lidam com pacientes com patologias psíquicas/comportamentais acentuadas; e a chamada de desenvolvimento ou evolutiva, aplicada por professores, bibliotecários, animadores e outros agentes não clínicos/ informais no sentido de estimular e proporcionar um desenvolvimento (inter)pessoal e uma atualização interna harmoniosos a um público generalista à partida saudável. Falar em leitura com função terapêutica não se coaduna com uma visão restritiva da palavra “terapia” (quando vista apenas numa óptica curativa), mas sim com uma aceção mais abrangente e plural. Aliás, o sentido primário da palavra “terapeuta” é o de aquele que cuida (e previne). E as palavras, como que dotadas de corporeidade, são um dos instrumentos essenciais de modelação, reinvenção e tratamento da psique, pois convencem, emocionam, questionam, influenciam, provocando efeitos múltiplos, irrepetíveis e surpreendentes, como o poeta Eugénio de Andrade tão bem captou: “são como um cristal as palavras, algumas um punhal, um incêndio, outras orvalho apenas”.

A Biblioterapia propõe assim práticas de leitura que proporcionem a interpretação ativa dos textos pelo leitor, moderando as emoções, permitindo livre curso à imaginação e proporcionando a reflexão, seja pela catarse, humor, identificação, projeção, introjeção ou introspeção – componentes que são ativadas no recetor do texto literário pela natureza ímpar da Literatura, feita de fição, função estética, linguagem metafórica, intemporalidade, universalidade, comprometimento e literariedade. A importância do diálogo Daí também a importância central que é conferida na Biblioterapia ao diálogo: a troca de impressões e reflexão crítica em grupo, a posteriori, acerca do que foi lido/ouvido/dramatizado é essencial, podendo essa dinâmica ser verbal e/ou através de gestos, desenhos, expressões faciais, melodias, fotografias ou outra manifestação não-verbal de apreço, indiferença ou rejeição face ao conteúdo apresentado. É justamente a descoberta de significado pelo leitor que faz o texto literário se configurar como um cuidado com o ser, como uma maneira de visar a saúde, pois a criação age como estímulo, afloramento, desvendamento, apelo, diálogo e preenchimento de algo que falta no recetor – no fundo, como uma retoma e reinvenção do leitor. O método biblioterapêutico tem sido largamente utilizado, com resultados muito relevantes, sobretudo no continente americano, em contextos como hospitais, prisões, asilos, lares de acolhimento, centros comunitários, bem como no tratamento de problemas psicológicos em crianças, jovens, adultos, deficientes físicos, doentes crónicos e outros indivíduos com dependências várias. A aplicação da Biblioterapia – ainda pouco visível e consistente em Portugal – pressupõe um estudo e conhecimento prévio aturados e sistemáticos dos públicos-alvo, bem como a adoção de uma prática regular e continuada com os grupos em causa. Requer ainda, por parte dos seus agentes, um domínio sólido, abrangente e atualizado da produção literária disponível no mercado, de modo a identificar/tipificar textos, dotados de potencial estético-semântico, que permitam trabalhar terapeuticamente tópicos/temas diversificados aos níveis lúdico, reflexivo, relaxante, crítico, onírico, metafísico, etc. Mas, antes de tudo, torna-se fundamental que a Biblioterapia se assuma como uma atividade eminentemente interdisciplinar, que deve ser conjugada dinamicamente com áreas como a Educação, Medicina, Enfermagem, Psicologia, Psiquiatria, Biblioteconomia e Literatura, quer ao nível da formação profissional e académica disponível, quer das intervenções operadas em contextos práticos.


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Cultura.Sul

Na senda da Cultura

ALFA promove concurso para amantes da fotografia A ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve, em parceria com a FNAC, está a lançar um concurso de fotografia aberto a todos quantos queiram participar. Olhar a Vida é o tema e o valor global dos prémios atinge os 1.500 euros. Com o intuito de “promover a criatividade e a divulgação da arte fotográfica”, a ALFA decidiu, assim, criar um concurso de fotografia que se pretende anual e em que a primeira edição termina com a exposição dos trabalhos premiados em Novembro, na FNAC do AlgarveShopping. A entrega dos trabalhos, associada a um simplificado processo de candidatura, abre a 15 de Junho e decorre até 19 de Agosto, data em que se comemora o Dia Mundial da Fotografia. Para participar há um custo de inscrição de dez euros e cada concorrente deve enviar cinco fotografias, das quais devem ser obrigatoriamente autores. Não obstante, os direitos de autor estão salvaguardados e, como tal, os trabalhos apresentados não ficam a pertencer aos organizadores da iniciativa. Assim, os registos fotográficos a enviar devem ser reproduções, ficando as fotos originais em posse do autor, e serão avaliadas por um júri composto por três elementos. As reproduções devem ser enviadas para o endereço de correio electrónico, olharavida2013@gmail.com. Prémios totais no valor de 1.500 euros Para além da natural motivação, e tratando-se de um concurso, há pré-

Pedro Jubilot lança “Postais da Costa Sul” d.r.

Concurso visa promover a criatividade mios para os vencedores, mas não só. O primeiro classificado do concurso vai ter direito a um prémio no valor de 725 euros, composto por um cheque-compra no valor de 150 euros e 500 impressões A4, que podem ser feitas ao longo de um ano. Nos mesmos moldes há ainda prémios para segundo, terceiro, quarto e quinto classificados, cujo valor dos prémios se cifra nos 330 euros, 165 euros, 57,5 euros e 28,75 euros respectivamente. Há ainda um prémio especial

ALFA - Jovem Talento, no valor de 180 euros, para incentivar a participação de jovens entre os 15 e os 25 anos, prémio constituído por um cheque-formação ALFA no valor de 150 euros, um polo personalizado e um calibrador de cor. Os membros do júri podem ainda atribuir menções honrosas aos trabalhos cuja qualidade o justifique. Para mais informações está disponível o endereço electrónico www.alfa.pt. Pedro Ruas / Ricardo Claro

Recentemente lançado e rapidamente esgotado, este foi o destino do primeiro livro de Pedro Jubilot, “Postais da Costa Sul”, que reúne um conjunto de textos escritos entre o Verão de 2011 e o de 2012, entretanto divulgados através das redes sociais para amigos e seguidores e agora eternizados em livro. Pequenos textos ficcionados, escritos em prosa poética, que descrevem paisagens e, sobretudo, vivências na costa sul em pequenos fragmentos que retratam a passagem do tempo junto ao litoral. Editado com o aspecto de um postal, com a horizontalidade característica da paisagem infinita do mar da nossa costa e escrito de forma espontânea, o livro está ainda recheado com fotos de “uma paisagem a que não se pode ficar indiferente”, da autoria do primo do autor, Jorge Jubilot. Apresentação com casa cheia A apresentação do livro decorreu no passado dia 8 de Junho, na Biblioteca Álvaro de Campos, e, perante uma plateia repleta de amigos, coube a Vítor Cardeira fazer as honras de uma obra que faz “renascer a melancolia dos postais”, pela pena de um autor que “tem público, mas a quem faltava um livro”, sublinhou, sem deixar de mencionar que, apesar de se estrear agora, Pedro Jubilot é já “um escritor relativamente conhecido”. Para Vítor Cardeira, o livro “Postais da Costa Sul” chega tarde, mas antevê que deve ser apenas o primeiro

pedro ruas

Pedro Jubilot de outros que Pedro Jubilot pode vir a trazer a público, uma vez que diz saber que o autor “tem muito e bom material que deve ser aproveitado e se encontra engavetado”. Pedro Jubilot, professor e amante de diversas artes, membro da Casa Álvaro de Campos e colaborador do Cultura.Sul, lembrou que a obra agora lançada “não foi pensada para ser um livro”, mas que resultou de um trabalho de pesquisador, “como um caderno de campo onde anotava vivências e paisagens, que publicava quando chegava a casa”, referiu. No final da apresentação houve espaço para a leitura performativa de alguns “fragmentos” por parte de Manuel Santos e Luísa Teixeira, que deliciaram os presentes. Pedro Ruas / Ricardo Claro

Festival Sérgio Mestre agita Tavira A primeira edição do Festival Sérgio Mestre superou as expectativas e juntou miúdos e graúdos, amigos e familiares do homenageado, tavirenses e turistas, num dia em cheio, repleto de música e actividades culturais para todos os gostos, num certame com uma dimensão artística como há muito não se via na cidade. A organização, a cargo da Associação Rock da Baixa Mar, com o apoio da Câmara de Tavira e de dezenas de voluntários, ofereceu a todos quantos se deslocaram à parte velha da cidade, no passado domingo, o que de melhor se faz na cultura nacional, aglomerando um conjunto de eventos multi-culturais que culminaram com muita e boa música no renascido Parque Municipal. A festa começou logo cedo e num evento dedicado aos mais pequenos, pais e filhos tiveram no interior do Castelo uma oportunidade para

descobrir sons, músicas e sensações ritmadas que fizeram as delícias dos petizes e respectivos ‘papás’, babados como não podia deixar de ser. À tarde o cruzamento de artes manteve-se e, antes mesmo das mais aguardadas vozes subirem aos diferentes palcos do festival, houve lugar para cinema documental, demonstração culinária e oficina de danças tradicionais. No final da tarde, o burburinho nas ruas de calçada vila-a-dentro aumentava e as vozes dos fadistas da terra atraíam cada vez mais espectadores e curiosos. Em frente ao Palácio da Galeria, Márcio Gonçalves, Aurora Gonçalves, Anysabel e Emanuel Furtado cantaram e encantaram. Noite de arromba atrai centenas Ainda antes do cair da noite e quando muitos já se juntavam para

pedro ruas

Viviane prestou homenagem a Sérgio Mestre os inevitáveis comes e bebes característicos destes certames, tempo ainda para reunir familiares e amigos numa exposição de fotografia dedicada a Serginho Mestre, que teve lugar no

RefCafé, e onde foram lidos textos do próprio e que serviram de aperitivo para a grande reunião de homenagem prestes a começar. Os OrBlua deram início a uma noite

onde a boa música fez jus aos pergaminhos dos artistas que, a solo ou em conjunto, foram subindo ao palco. A noite fresca rapidamente aqueceu quando Viviane subiu ao palco. Estava dado o início a um encontro raro, com mais nostalgia para alguns, mas muita alegria para todos. Seguiram-se actuações de artistas como João Afonso, Filipa Pais, Zeca Medeiros e Vitorino. Todos com estórias em comum com Sérgio Mestre, num legado musical que marcou gerações. Entre uma música e um copo de tinto quem melhor que os Marenostrum para voltar a aquecer um recinto de onde, mesmo madrugada dentro, ninguém arredava pé. Sérgio Mestre foi assim recordado e promete regressar para o ano, uma vez mais, sob a sua forma preferida a música. Pedro Ruas / Ricardo Claro


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Cultura.Sul

Da minha biblioteca

Ao António Rosa Mendes: o narrador implicado d.r.

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

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«Gozemos intensamente a companhia dos nossos amigos, até porque não podemos saber por quanto tempo o faremos. Pensemos também quantas vezes os deixámos para partir em longas viagens, quantas vezes estivemos sem os ver embora morando na mesma terra: compreendemos deste modo que, mesmo estando eles vivos, não aproveitámos a sua companhia a maior parte do tempo». Abro esta rubrica com uma citação das Cartas a Lucílio, 63, do romano Séneca (que viveu há 2000 anos – de 4 a.C. a 65 da nossa era – e que, entre outras coisas, foi advogado, professor, orador, escritor e filósofo), como ponto de reflexão sobre o recente falecimento, a 4 de junho, de António Rosa Mendes (também ele advogado, professor, orador, escritor e também um pouco filósofo). À parte pequenas referências em algumas edições, nunca dediquei um número à categoria ensaio – que deve ser a maior parte da minha biblioteca – talvez por assumir que não teria um interesse tão amplo entre os leitores deste suplemento Cultura.Sul, como a ficção e a poesia. Esta é, pois, uma boa ocasião para desfazer o equívoco, trazendo uma obra de António Rosa Mendes, historiador e ensaísta. Muitas mais escreveu, mas esta, publicada em 2009, na Gente Singular (editora sediada em Olhão e da qual era um dos sócios fundadores), tem características muito particulares, de História contada com literatura.

que nos fazem viver a história e a História; uma poeticidade na prosa; uma intencionalidade de efeitos no recetor; um narrador implicado, que dá a sua opinião, que se questiona sobre os feitos que está a contar e que envolve o leitor nas suas emoções. Todo o livro é um retrato vívido de Olhão, desde quando não passava de «Uma praia e um poço» (cap.1) até à criação do concelho, como se pode ler no «Epílogo. O concelho, terceiro separatismo» (pp. 100-104) Emoção, emoção, emoção

António Rosa Mendes, uma figura ímpar da Cultura Olhão fez-se a si próprio Há cerca de quatro anos, tive a boa ventura de assistir ao lançamento deste livro, em Olhão, na Biblioteca Municipal daquela cidade. A apresentação de Fernando Paulo Custódio foi muito entusiasmante e as palavras do autor ainda mais, despertando-me a vontade de imediato o ler. Foi uma agradável surpresa. Normalmente, os ensaios escritos em português (o mesmo não se pode dizer de alguns americanos ou ingleses) procuram apresentar os factos de

uma forma anódina, reduzindo ao mínimo a interferência do autor, que, praticamente, se anula em afirmações secas e austeras, apoiadas em fontes seguras, que o protegem de acusações de infidelidade. Neste ensaio, António Rosa Mendes não receia possíveis detratores, pois a sua obra é irrepreensível no uso das tais fontes seguras, que são referidas, quer na Bibliografia final quer ao longo do texto, em pequenas notas laterais que facilitam a leitura de quem se interessar por saber mais. E se os romances históricos, obras de

“COPACABANA - PANORAMAS DO RIO” Até 14 SET | Museu Municipal / Palácio da Galeria - Tavira Inserida no Ano do Brasil, a exposição conta a história da evolução e transformação da cidade imperial novecentista, ainda de hábitos provincianos, na grande e cosmopolita “cidade maravilhosa” do séc. XX, o Rio de Janeiro

ficção com aparência de História (muitas vezes, resultado de sérias buscas em bibliotecas e arquivos), continuam na moda (há uns anos falava-se que iam desaparecer, mas a verdade é que tanto autores como público continuam a mostrar apetência por saber como terá sido o nosso passado), a história em forma de literatura não é muito cultivada, mas é isso que temos neste Olhão fez-se a si próprio. A escrita de António Rosa Mendes é literatura: uma escolha vocabular variada, fecunda e minuciosa, dando conta de pormenores

É difícil o leitor não se emocionar com este livro. O narrador parece que presenciou todos os factos, de tal modo nos embrenha nas tramas que vai tecendo, através de uma escolha vocabular que nos aproxima das épocas narradas. Foi difícil selecionar alguns trechos, pois a obra nunca perde o fôlego, num todo com sentido, numa linha que não se quebra, tal como a vontade do povo aí pintado. Tomemos alguns exemplos do capítulo 6, «A fábrica da igreja» (pp. 2627), que abri ao acaso. Aqui, entremeando expressões populares («Os senhores cónegos ficaram de cara à banda»), pois que populares são os heróis da narrativa («um bando de míseros marítimos que ousaram resistir e desafiar a autoridade eclesiástica e civil»), António Rosa Mendes usa diversas figuras de estilo que realçam o sentimento: sem que tenha necessariamente havido intenção, encontramos rima, dando relevo à afirmação da constituição da freguesia («Doravante Olhão, já freguesia, de pleno direito existia»); uma anáfora intensifica a ausência do objeto maior que iria pontificar a local («Faltava o principal, faltava o símbolo maior da jubilosa paróquia, faltava a matriz»); uma prosopopeia termina o capítulo, dando a sensação da crescente identificação da gente com a terra que construíam («e a fachada

já lá estava, orgulhosa e alterosa, dominando o cenário sobre a praia e as mesquinhas palhotas ao derredor, encarando sobranceira o mar ao fundo»). Um narrador implicado Este narrador não é nem quer ser indiferente, pois assumidamente implica-se com os documentos que consultou, de tal maneira que discute com as suas fontes, como com Silva Lopes (ver a sequência da citação), ou com o engenheiro francês Charles Bonnet, autor de uma Memória de 1850 que escreveu «O algarvio é contrabandista por natureza», ao que o narrador, depois de o citar, interpela: «Por natureza, senhor engenheiro!? Similar exagero comete Silva Lopes quando, na sua Corografia, de 1841, pretende que os olhanenses» tiraram proveitos do cerco de Gibraltar, de modo a «‘que em 1790 já tinham transformado as cabanas em casas’. Ainda por muitos e bons anos persistiram em Olhão bastas cabanas, senhor corógrafo!» (pp. 44-45). Ou ainda quando Sebastião Brito Cabreira afirma em Lisboa que, «‘pelo ver e presenciar sabe que’», em Olhão, não havia «‘tropa alguma francesa, e mais não disse’. Viram e presenciaram?! (…) Admitindo que ‘na ocasião’ estava em Faro, viram e presenciaram o que em Olhão se passou? Ora, ora…» (p. 69). Esta vontade de repor a verdade histórica não acontece para glória pessoal do narrador: o herói deste livro é o povo olhanense, ao qual o autor não regateia qualidades maiores, como valentia, arrojo, inteligência, determinação, que levaram a que Olhão se fizesse a si próprio. Na leitura deste livro sentimos a presença quente e viva de António Rosa Mendes ao nosso lado, parecendo que estamos a ouvi-lo com o seu entusiasmo e a sua voz impressiva, tão sua característica. E assim ele continuará sempre na nossa memória.

“EXPOSIÇÃO DE PINTURA - AFRICANA” Até 26 JUL | Centro Cultural de Lagos Na temática e na abordagem a África podemos interligar a pintura de Neusa Negrão na multidisciplinaridade das vivências culturais e no encontro de civilizações que os portugueses fomentaram no século XVI


12 14.06.2013

Cultura.Sul

Espaço cultura

O passado em cena, ou da convivência da contemporaneidade com a ruína antiga Primeiro andamento: A ruína como pretexto – À medida que percorre as ruínas, o visitante é levado por personagens históricas que lhe vão contando as suas recordações, e o espaço arruinado é convertido em espaço de encenação. O arqueólogo do século XIX, que relata a descoberta do sítio; a domina que conduz a visita à casa senhorial; a escrava que conta, nas antigas termas, como preparava o banho da sua senhora; o culto às ninfas recordado por uma jovem crente. São histórias de outros tempos contadas na primeira pessoa, para descobrir e disfrutar a villa romana. Até final de junho, o projeto Visitas Encenadas, para grupos mediante prévia marcação, é realizado às terças, quintas e sábados (às 10h30 e às 14h30) por um grupo de alunos do curso de artes performativas da Escola Secundária Pinheiro e Rosa, de Faro, numa parceria de estágio

d.r.

Três conceitos distintos aproximam o visitante aos processos de transformação e mudança dos espaços, do sítio e da paisagem na villa romana de Milreu, em Estoi. Numa fusão entre o ensino, as artes performativas, a gastronomia e o conhecimento dos autores clássicos, converte-se a ruína em plataforma temática ligada à cultura e à criação artística, que procura também promover a coesão social profissional com a DRCAlgarve. Segundo andamento: O sítio como pretexto – O projeto Amatores in situ: o Mundo Antigo visto pelos que o amam, resulta de um desafio lançado à DRCAlgarve pelo Departamento de Artes e Humanidades da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. Um ciclo de sessões que têm lugar até final do ano, às terceiras sextas-feiras de cada mês, ao final da tarde (18h30), na Casa Rural de Milreu. Tendo como con-

vidados, em cada sessão, pessoas que amam (os amatores) o Mundo Antigo e a ele têm dedicado parte da sua vida e interesses, o ciclo inclui leituras de excertos de obras de autores clássicos escolhidas pelos oradores, e/ou debates subordinados a temas da Antiguidade, procurando dinamizar esse conhecimento no próprio espaço arqueológico, de modo a haver uma aproximação do «dito/ouvido» ao «visto». Terceiro andamento: A paisagem como pretexto – O pro-

jeto Palato (aqui já tratado na edição de abril do Cultura.Sul), parte do cruzamento de pesquisas no domínio das Artes Visuais, com os conhecimentos da dieta tradicional, a inovação gastronómica e a investigação ligada ao património

cultural (material e imaterial), Abordando os comportamentos de aprovisionamento, conservação, confeção e consumo dos recursos alimentares e da dieta ao longo do tempo, com um olhar criativo sobre a paisagem, o projeto propõe uma

série de ações performativas, Cozinhando na Paisagem, em monumentos onde a informação sobre o território envolvente se traduz no conhecimento da dieta de época e no seu cruzamento com comportamentos de consumo e distribuição da sociedade contemporânea, procurando valorizar fatores paisagísticos e patrimoniais. Já no próximo sábado, 15 de junho, numa infraestrutura improvisada, o artista (Jorge Rocha), em conjunto com um investigador do monumento (João Pedro Bernardes), desenvolverá uma acção performativa num formato talk show. Cozinha ao vivo, com transmissão em directo na internet, colocando os públicos (físicos e virtuais) em sinestesia. Direção Regional de Cultura do Algarve

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