CULTURA.SUL 70 - 13 JUN 2014

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Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

JUNHO 2014 | n.º 70 9.037 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve d.r.

Espaço AGECAL:

São Brás: 100 anos de Cultura

d.r.

p. 3

Aqui há espectáculo:

p. 6

d.r.

Uma ode à arte de representar

p. 4

Letras e leituras:

d.r.

José Saramago, as histórias p. 6 Espaço ALFA: d.r.

‘Cor e Criatividade’ em www.alfa.pt

p. 7

Sonoridades: Festival MED regressa a Loulé

p. 5


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13.06.2014

Cultura.Sul

Editorial

Espaço CRIA

Palcos insuspeitos

Missão formação!

Ricardo Claro

Editor ricardoc.postal@gmail.com

As cordas, os sopros e a percursão que constituem a Orquestra Clássica do Sul têm percorrido os mais variados palcos do Algarve, do Alentejo, do país e mesmo do estrangeiro, nomeadamente da vizinha Espanha. Aquela que é a nossa orquestra, herdeira da Orquestra do Algarve, tem levado o nome da região com elevado desempenho e mérito pela cena da música erudita, prestigiando o Algarve e os algarvios. Os palcos são espaços físicos onde se afirma a qualidade da orquestra, dos seus músicos e dos maestros que a dirigem e têm sido muitos e diversos, na mesma proporção em que o têm sido os públicos que se deleitam a ouvir as notas arrancadas aos inanimados instrumentos com dotes de mestria. A universalidade do direito à cultura, desidrato maior das sociedades ditas avançadas, é um esforço contínuo que a própria orquestra assume em pleno, mas não se faz sem riscos, sem desafios. Exactamente isso, correr o risco e encarar o desafio foi o que a Orquestra Clássica do Sul fez ao actuar pela primeira vez no país dentro de uma cadeia. O Estabelecimento Prisional Regional de Faro acolheu a estreia e no pátio interior da ala prisional o espaço encheu-se de reclusos para ouvir a orquestra dirigida por John Avery. Um palco insuspeito, um público insuspeito, para uma performance memorável. A estranheza do local e do público não arrefeceu o ânimo, nem desvirtuou a arte e provou que a música é universal e transversal. Não esquecerei tão cedo o misto de emoções que vivi, nem os pés de dezenas e dezenas de reclusos a darem nota do sentir da música. A alma não se enjaula, nem o espírito se aprisiona, e com a singeleza de quem se dá ao outro a Orquestra Clássica do Sul deu-se aos presos da cadeia de Faro e eles, também, se deram à arte numa experiência de rara humanidade.

Ana Lúcia Cruz Gestora de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg

Qualquer empreendedor que esteja em fase de implementação da sua ideia de negócio, e inclusivamente já depois de a implementar, depara-se com algumas lacunas no seu conhecimento base. O que é perfeitamente normal. Gerir uma empresa exige um grande conjunto de competências, que muitas vezes se adquirem com o tempo (experiência) e para quem está apenas a começar, saber tanto em tão pouco tempo, é um verdadeiro desafio. Por exemplo, podemos saber muito de contabilidade, mas não perceber nada de vendas e marketing. O empreendedor poderá seguir três caminhos possíveis: 1) contratar a pessoa indicada, que preencha essa lacuna; 2) pagar a um consultor para o apoiar e 3) perceber a oferta formativa disponível para conseguir adquirir as competências em falta. A escolha, por norma, depende do tipo de

competências a adquirir e da disponibilidade do empreendedor, não só financeira como em termos de tempo. Na minha opinião, sempre que possível, e se justifique, o empreendedor/empresário deve optar pela sua formação, isto porque, para além de adquirir novas competências, tem igualmente a oportunidade de ampliar

Ficha Técnica: Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural

necessidade de ter uma formação mais avançada, falamos de um maior nível de exigência e nestes casos terá de existir disponibilidade financeira por parte do empreendedor. Antes de pensarem em qualquer formação pensem no que realmente precisam e qual a pertinência da mesma para o sucesso do vosso negócio. Ded.r.

a sua rede de contactos, o que também implica diretamente a partilha de experiências. Um simples workshop poderá em muitas circunstâncias fazer toda a diferença, em outras uma formação mais completa, o que significa maior carga horária e conteúdo programático, poderá ser o mais indicado. Quando falamos na

pois de identificarem que competências adquirir, percebam quais as ofertas disponíveis. Imaginem que têm três opções, tentem perceber qual das opções apresenta um programa mais adequado às vossas expectativas. Compreendam que por vezes um programa mais denso significa mais dedicação e mais recursos financeiros, mas que,

contudo, é esse preciso programa e método que vos permitirá uma melhor aprendizagem. Não questionando a qualidade da formação, uma determinada ação de formação pode funcionar para uns e não funcionar para outros, quer devido ao método da formação, quer devido ao conteúdo da mesma. Por exemplo, um formato b-learning será o mais indicado para vós? Para muitos é o ideal, especialmente quando a disponibilidade é limitada, no entanto, para outros o formato presencial será mais efetivo e adequado ao seu estilo de aprendizagem, permite-lhes assim adquirir as competências necessárias. Contudo, a aquisição de competências não tem de passar obrigatoriamente por workshops e formações avançadas, pois apesar das muitas vantagens que apresentam, a verdade é que muitos são também os empreendedores que se apoiam nas leituras e boas práticas para, de forma autodidata, adquirirem novos conhecimentos ou até mesmo os consolidarem. Resumindo, independentemente do formato escolhido, é importante que o empreendedor tenha sempre presente a missão de apostar de forma continua na sua formação, pois dela depende o sucesso da sua empresa e do seu projeto

Juventude, artes e ideias

Os que continuam a ‘nada fazer’

Mariana Ramos Estudante

Chega o Mês da Juventude e chega então o momento de dissertar, novamente, sobre esta curiosa faixa etária. O que nunca é fácil, visto que, apesar das infinidades de vertentes que o assunto tem, ainda corro o risco de me repetir, e voltar a dizer tudo aquilo que sempre tenho dito acerca dos jovens. Mas o miolo da questão é: são inovadores, talentosos, interessados, curiosos

e inteligentes - e ai de quem me venha contrariar baseado numa ínfima amostra populacional, ou nos cinco moços que lhe partiram a janela na semana passada. Por favor. Portanto, gostava antes de me debruçar sobre uma entidade de apoio a jovens que completa este ano os seus dez anos de actividade. Há meros quatro anos, era eu uma recém-nomeada adolescente. Uma pequenina jovem de flutuações de humor constantes e uma autoestima duvidosa. Interesses nulos, voz inaudível. A diferença entre antes e agora não é do mais contraste que poderia arranjar; a minha autoestima continua uma cordilheira escarpada. Mas sei que seria uma pessoa imensamente

d.r.

Editor: Ricardo Claro Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N: Pedro Jubilot • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço CRIA: Hugo Barros • Espaço Educação: Direcção Regional de Educação do Algarve • Espaço Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Momento: Vítor Correia • Panorâmica: Ricardo Claro • Património: Isabel Soares • Sala de leitura: Paulo Pires Colaboradores desta edição: Ana Lúcia Cruz Emanuel Sancho Gisela Gameiro Mariana Ramos Paulo Serra Raúl Grade Coelho Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelagoncalves3@gmail.com

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem: 9.037 exemplares menos realizada se não tivesse, naquela tarde de quarta-feira, entrado pela porta daquele pequeno edifício. Durante anos, vi a juventude a crescer: vi músicos e artistas a descobrir do que são capazes, vi líderes empreendedores. Vi como eram apoiados

todos aqueles que queriam contribuir com a sua marca, e quantos teriam desistido ou se resignado ao sofá se não tivessem uma mão para agarrar. Eu incluída. Portanto, parabéns, Casa da Juventude! Que o vosso sucesso continue por muitos anos.


Cultura.Sul

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Grande ecrã Cineclube de Faro

Programação: cineclubefaro.blogspot.pt CICLO “A INVENÇÃO DA MEMÓRIA” IPJ | 21.30 HORAS | ENTRADA PAGA 17 JUN | MÃE E FILHO, Calin Peter Netzer, Roménia, 2013, 112’ M/12 FILME FRANCÊS DO MÊS BIBLIOTECA MUNICIPAL | 21.30 HORAS 27 DE JUN | LES PETITS RUISSEAUX, Pascal Rabaté, França, 2010, 94’ SESSÃO ESPECIAL 28 JUN | MUDAR DE VIDA – JOSÉ MÁRIO BRANCO, VIDA E OBRA, Pedro Fidalgo, Nelson Guerreiro, Portugal, 2013, 115’ (local e hora a designar) CINEMA E ARQUITECTURA ÀS QUARTAS 21.30 HORAS | MUSEU DE PORTIMÃO 18 JUN | MARK LEWIS: NOWHERE LAND, Reinhard Wulf, 82’, 2011, Alemanha 25 JUN | A CASA DO LADO – Luís Urbano, 17’, 2012, Portugal | ÍNSUA – Ana Resende, Miguel C. Tavares e Rui Manuel Vieira, 24’, 2013, Portugal | MERCADO – Carlos Machado, Ricardo Santos, 2013, Portugal | LUTO – Pedro Felizes, Pedro Loureiro, Rodrigues Dessa, Tiago Costa, 20’, 2013, Portugal | A LIMPEZA – Manuel Graça Dias, 20’ 2013, Portugal.

Junho recheado de documentários em Tavira Em Junho apostámos nos documentários, dois já apresentados logo no início do mês e mais dois que apresentamos nos dias 19 e 26. Todos bastante diferentes em termos temáticos e ao nível do tratamento. O terceiro é musical: por favor não percam Tropicália com Caetano Veloso, Gilberto Gil e muitos outros. E não se preocupem com os belíssimos filmes que ultimamente têm estreado entre nós, é apenas uma questão de tempo para poder trazê-los a Tavira. Muitos irão integrar o programa da nossa 14ª Mostra de Cinema Europeu e 9ª de Cinema Não Europeu neste Verão. Pois, estamos a trabalhar para que as Mostras se tornem mais uma vez grandes festas de cinema, com os melhores e mais sensíveis títulos disponíveis no mercado nacional de distribuição. Mantenham-se atentos às respectivas datas: 11 a 21 de Ju-

Cineclube de Tavira

Programação: www.cineclubetavira.com 281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 440 cinetavira@gmail.com fotos: d.r.

SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas 19 JUN | GLORIA, Sebastián Lelio – Chile/ Espanha (110’) M/12

26 JUN | TROPICÁLIA, Marcelo Machado – Brasil/Reino Unido/E.U.A. 2012 (87’) M/12

Destaque para o documentário “Gloria” lho e 1 a 11 de Agosto. O local será o mesmo dos últimos dez anos, os belos Claustros do Convento do Carmo. E, se quiserem

ajudar-nos durante os eventos ou na sua preparação, não hesitem em contactar connosco! Obrigado e até breve ou até lá!

Espaço AGECAL

São Brás de Alportel: 100 anos de Cultura d.r.

Emanuel Sancho Membro da Direcção da AGECAL - Associação de Gestores Culturais do Algarve

São Brás de Alportel comemorou no passado dia 1 de Junho a passagem de um século sobre a sua elevação a concelho. A efeméride é muito marcante para os que nasceram ou habitam naquele pedaço do interior algarvio. No longínquo ano de 1914, São Brás havia atingido a sua maioridade: apresentava uma saúde económica assinalável, a população aumentava e alguns dos seus filhos destacavam-se na política, nas artes e nas letras da região, capitalizando para a sua terra respeito e admiração. Olhando para trás, poderíamos resumir a génese sãobrasense em três palavras: cortiça, república e educação. Curiosamente, os termos sintetizam o conceito contemporâneo de sustentabilidade: economia, sociedade, cultura. Neste olhar de relance, o fator económico assume grande impor-

tância logo a partir de meados do século XIX com um pequeno grupo de famílias que “descobriram” na cortiça uma fonte de riqueza. Nas últimas décadas do século, certamente como reflexo do bem-estar económico vivido, chegam as ideias políticas que fazem fervilhar a aldeia. A escolaridade atinge valores muito acima da média do resto da região e do país. Cerca de uma centena de fábricas de cortiça atraem a São Brás de Alportel gente de fora em busca de trabalho. Nos primeiros anos do século, em apenas algumas décadas, a população

havia duplicado. A aldeia de São Brás de Alportel, por altura da revolução republicana de 1910, é conhecida como uma fortaleza da militância política republicana. Afonso Costa chama-lhe a “Barcelona Algarvia”. Uma geração culta e politizada atinge a sua maturidade e um dos seus filhos, João Rosa Beatriz, está presente no coração da revolução, na Rotunda, em Lisboa. Com os acontecimentos estabilizados, os sãobrasenses Júlio César Rosalis e Bernardo de Passos, ocupam em Faro os lugares mais elevados: Governador Civil e Admi-

nistrador do Concelho. Desta maneira, o caminho para a autodeterminação do território estava aberto. A consolidação decorre nas décadas seguintes por força da cultura. A potência gerada produz uma geração brilhante que extravasou o território durante a primeira metade do século XX. A contemporaneidade da pintura de Virgínia Passos (1881-1965) e da escultura de Rosalina (1880-1958) e Joaquim Passos (1912-1980?) são ainda hoje motivo de estudo. Estanco Louro (1890-1953) produziu uma reflexão sobre o território que

é ainda hoje uma referência para os estudos locais. Roberto Nobre (1903-1969), artista e pioneiro cinematográfico ocupa no país um lugar cimeiro no campo da crítica de cinema. José Dias Sancho (18981929), falecido aos 31 anos de idade, deixa-nos um corpus literário de grande qualidade que segue os passos de Bernardo (1876-1930) e Boaventura Passos (1885-1935). Inaugura então São Brás de Alportel, um ciclo comemorativo que se prolongará por um ano. Assim, o tempo que se aproxima, irá proporcionar homenagens e sinais de reconhecimento. Estão sendo preparadas exposições evocativas de personalidades e de momentos históricos. Um vasto programa de publicações irá arrancar nos próximos meses. A participação efetiva da população através de iniciativas individuais mas também do tecido associativo do concelho, são linhas fortes de um programa que se manterá aberto e em construção permanente durante todo o período comemorativo. Da máxima importância, deverá também surgir o centenário, como oportunidade de balanço do passado e reflexão para planeamento do futuro.


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Cultura.Sul

Aqui há espectáculo

Destaque Diogo Infante esteve imenso no Lethes em Faro

28 JUN | A Verdadeira História da Gata Borralheira, teatro, 21.30 horas, preço: 10 euros, 7 euros até aos 12 anos Era uma vez uma jovem chamada Cinderela que cresceu no campo, com o seu pai. Durante o dia montava a cavalo e à noite ouvia histórias fantásticas sobre magia

e castelos. Mas certo dia seu pai casou novamente e aí apareceu a madrasta com as suas duas filhas…

12 ABR | Ciclo Loulé Clássico – Orquestra Clássica do Sul, música, 21.30 horas, 70 min., preço: 8 euros A Orquestra Clássica do Sul e a Câmara Municipal de Loulé convidam-no para o Ciclo “Loulé Clássico”, um conjunto de concertos inédito, que o irão acompanhar de Feverei-

ro a Dezembro, em meses alternados. No Cine-Teatro Louletano, poderá desfrutar da música de grandes compositores do clássico ao contemporâneo.

TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Programação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

Destaque

apenas por João Gil à guitarra - encheu-o do agigantamento do personagem que foi um crescendo constante. O público refém de uma dicção perfeita e de uma expressão cénica acabou o espectáculo mudo e quedo até rebentar num aplauso sem reservas. As palavras de Álvaro de Campos encheram a sala mas, mais do que isso, encheram as mentes de quem escolheu o Lethes para um fim de noite com uma das referências maiores do teatro nacional da actualidade. A cada passo e sempre no momento certo a música original de João Gil marcou os ‘entrepassos’ de um espectáculo de cortar o fôlego. Diogo Infante levou-se ao limite, da voz colocada ao esforço desmesurado que enrouquece e torna a voz tábua rugosa cravejada de significado e emoção. A ninguém pode ser indiferente a mestria e a dedicação do actor numa peça que como o próprio disse à audiência lhe é “muito especial”. No saldo de uma noite farense de teatro fica a certeza de que ali mesmo onde se estreou há mais de duas décadas, no Lethes, Diogo Infante trouxe ao seu Algarve um presente de rara beleza, a sua arte feita monumento ao mister de representar. Ricardo Claro

espectáculo é definido numa narrativa atemporal em que se vai decifrando a complexidade das relações humanas, como habitantes de um passado efémero que revelam traços da sua história. Este espectáculo combina a imagem teatral, o teatro físico, a animação e manipulação de objectos e a música original que transportam o espectador para um universo intimista e próximo da realidade.

14 JUN | XII Encontro de Escolas de Música do Algarve, música, das 10 às 19 horas, entrada livre A Academia de Música de Lagos apresenta a 12ª Edição do Encontro de Escolas de Música do Algarve. O Encontro de Escolas apresenta-se como uma possibilidade de

ver e ouvir, ao vivo, alguns dos grandes talentos da música algarvia, assim como uma oportunidade de descobrir diversos instrumentos, compositores e estilos de música.

21 JUN | De mim para Mim, apresentação do livro de Carolina Tendon, 17.30 horas, entrada livre

Destaque

Dito assim talvez para muitos pouco ou nada signifique. Para outros, no entanto, será facilmente identificável a Ode Marítima de Fernando Pessoa, na persona de Álvaro de Campos. Para outros ainda, aqueles que assistiram às duas apresentações do espectáculo de Diogo Infante no Teatro Lethes, em Faro, será uma frase dificilmente olvidável. Ali o actor disse-a repetidamente enquanto olhava o porto, retratado em cena por amarras, descendo do alto para se enroscarem em enormes cunhos plantados nas tábuas do palco. Ali o actor a fez soar, troar e majestaticamente bradar num misto de oral e corporal inesquecíveis. Diogo Infante no seu melhor, imenso na ‘insanidade’ de um monólogo complexo, retorcido e de uma significância inaudita do homem que se quer diverso do que é e ao seu eu retorna depois do desvario. Há teatro assim, onde a riqueza do texto nos deixa siderados, mas só o há assim quando os actores o são, eles mesmos, excelsos. Diogo Infante foi memorável, irrepreensível, físico na expressividade levada ao limiar da exaustão. Por entre as palavras de Álvaro de Campos, Diogo Infante fez-se senhor absoluto de um palco inteiro - partilhado

Kokoro é sem dúvida uma nova e significativa página da história teatral da Casa del Silencio para o teatro Colombiano. Em homenagem ao cinema mudo, ao teatro silencioso, à infância e ao amor. Em japonês, Kokoro reúne os significados, de coração, mente, inteligência, alma, centro, núcleo. Kokoro narra a história de três personagens imersos num território de papel e cartão. Entre a realidade e a ficção, o

Cine-Teatro Louletano Programação: http://cineteatro.cm-loule.pt

Destaque

‘Fifteen men on the dead man’s chest. Yo-ho-ho and a bottle of rum!’

19 JUN | Kokoro, teatro / manipulação de objectos, 21.30 horas, 50 min., preço: 7 euros

21 JUN | REFLECT, música, 21.30 horas, 120 min., 2 euros

Destaque

d.r.

14 JUN | Escola da Companhia de Dança do Algarve (Espectáculo de encerramento do ano lectivo), dança, 21.30 horas, 120 min., preço: 10 euros

Destaque

Uma ode à arte de representar

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

26 a 28 JUN | FOrA - Festival da Oralidade do Algarve, programa disponível em: www.teiadimpulsos.pt

Um ano após a estreia do seu mais recente álbum, Reflect regressa ao TEMPO com uma nova proposta musical. Num alinhamento com passagem pelos álbuns ‘Último acto’ (2008) e o homónimo ‘Reflect’ (2013), a aposta vai para uma noite de celebração não só da música, mas também da amizade. Para além de partilhar o palco com os convidados dos dois álbuns, Reflect

O FOrA – Festival da Oralidade do Algarve é uma mostra da tradição oral da região. Entre os dias 26 e 28 de Junho, o festival animará o centro da cidade de Portimão, promovendo performances, oficinas, concertos, bailes e palestras, tendo como mote o património oral do Algarve. Assim, marcarão presença os

apresentar-se-á acompanhado pela Orquestra de Câmara da Academia de Música de Lagos / Conservatório de Música de Portimão. À fusão entre o hip-hop e o rock, juntam-se novos arranjos para os temas que são a extensão perfeita do seu autor. Um espectáculo intimista à imagem de Reflect, onde a mensagem ganha nas palavras um papel de destaque.

provérbios, as adivinhas, as lengalengas e trava-línguas, as pragas, as lendas, as danças e cantares tradicionais, entre outras expressões da oralidade regional. Estas sessões serão interactivas e de curta duração, realizando-se sucessivamente em vários espaços do centro da cidade, inclusive no TEMPO.


Cultura.Sul

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Panorâmica

Não há Verão sem MED Não há Verão sem MED e sem este, que é o mais importante festival de world music da região, não haveria, em muitos casos, possibilidade de se ouvirem por terras algarvias sonoridades raras, oriundas de terras mais ou menos longínquas, mas que nos trazem sempre performances originais. Mais de uma década de música a desafiar o Algarve e o país, porque o MED tem o condão de trazer a Loulé gente de todos os locais, o festival é hoje absolutamente incontornável na cena da world music nacional. A abrir este ano, dia 25, o primeiro dia tem entrada grátis e além de Drumsprojx by Silva Drums pode-se ainda ouvir nesta alvorada do MED Fernando Carvalho, sem esquecer o concurso de bandas, que abre o evento. Seguem-se os dias 26, 27 e 28, com razões mais do que muitas para justificarem um salto até terras louletanas. É que o MED é muito mais do que uma simples sucessão de espectáculos em ode festivaleira, é uma cidade inteira dedicada a um estado de espírito cravado de alma mediterrânica e de braços abertos para acolher sons

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franca no certame. Outras músicas

O Festival MED abre portas no dia 25 de Junho e prolonga-se até dia 28 de outras paragens e dentes de todos os cantos. O centro de Loulé transforma-se, ganha um pulsar próprio e uma mística especial a convidar a momentos únicos e prazerosos. Portugal marca

presença com nomes como Gisela João, Celina Piedade ou a Ala dos Namorados, entre outros e outras tantas portugalidades da música, mas também cá está a Jamaica e o Japão, o Mali e a Nigéria, bem como, Marrocos e Cabo-Verde, sem esquecer

a França e o Congo ou a Alemanha e a Espanha. Os preços Sem contar com a abertura, em estilo open day e, pois, grátis, o Festival MED vai custar 30 euros para ter

acesso aos três dias do evento, mas pode optar pelo bilhete diário familiar (dois adultos e duas crianças até aos 16 anos) por 25 euros. Quanto ao bilhete diário vai ter um preço de 12 euros, sendo que as crianças de idade até 12 anos têm entrada

Mas nem só de world music se faz o MED, há ali espaço para tudo, nomeadamente, para a música clássica. Assim, pode ouvir e deleitar-se com o Ensemble de Flautas de Loulé, no dia 25, ou com o duo ‘violiNOacordeão’, agendado para o dia 26. A 27, a Igreja Matriz, palco de todos os espectáculos de música clássica, recebe o quarteto Concordis e, no dia 28, fecha a porta do MED clássico o Clássic’s Quartet. Imperdível é o que se pretende daquele que é o momento maior do estio musical algarvio e para não deixar os créditos por mãos alheias a autarquia louletana preparou um cartaz invejável, apostado em trazer a terras algarvias exemplos do bom que se faz por cá e pelo resto do mundo em termos musicais. São quatro dias em que se promete um programa à medida de todos e cada um, desde os pequenotes aos mais crescidos, e que incluem artesanato, exposições, workshops, gastronomia e muita animação de rua. É que durante o MED há tempo para tudo menos para o enfado, que por Loulé, nestes quatro dias, a música é outra! Ricardo Claro

Destaques para o MED 2014 Dia 25 Open MED Drumsprojx

Dia 26 Debandeba

Celina Piedade

Ala dos Namorados

Agendar

Dia 27

“BELLY DANCE FEST” 28 JUN | 21.30 | Centro Cultural de Lagos O grupo “El Laff” apresenta um espectáculo de música e dança oriental/sufí. A instrumentação do grupo é a tradicional: alaúde, violino e nay como instrumentos melódicos

Dia 28 Gisela João

Dino Santiago

“REFLECT” 21 JUN | 21.30 | Grande Auditório do Teatro Municipal de Portimão Seguindo um alinhamento que passa pelos álbuns “Último acto” (2008) e o homónimo “Reflect” (2013), o artista partilhará o palco com os convidados dos seus dois álbuns


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Cultura.Sul

Letras e Leituras

José Saramago - A história acontecida, a revista e a recriada d.r.

Paulo Serra

Investigador da UAlg associado ao CLEPUL

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José Saramago de tal modo dispensa apresentações, que esta nossa escolha pode até provocar surpresa. Autor de mais de 40 obras, nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga, e viveu até 2010, em Lanzarote. José Saramago construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, sendo certamente uma importante referência para o nosso país em termos internacionais, com obras traduzidas por todo o mundo, e outras como Ensaio sobre a Cegueira, O Homem duplicado, ou A Jangada de Pedra, adaptadas ao cinema. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel da Literatura em 1998, e continua presente na nossa memória, sendo inclusive referência no chamado “cânone” literário, nos programas curriculares do ensino do Português: o Memorial do Convento figurou nos programas de ensino secundário, sendo agora substituído por O Ano da Morte de Ricardo Reis, escolha aliás que parece fazer todo o sentido, na medida em que se interrelaciona com os conteúdos programáticos do secundário, que abrangem a poesia pessoana. O autor já tem sido dado a conhecer até aos mais novos, com o seu belíssimo conto, A maior flor do mundo, cujos excertos figuraram aliás numa prova de final de ciclo do ensino básico. Entre diversos títulos que nos deixou, como Caim ou A Viagem do Elefante, os seus livros mais recentes e, diríamos, mais “ligeiros”, o autor deixou ainda obras de grande fôlego (e polémica), como o controverso Evangelho segundo Jesus Cristo. São nove os títulos que regressaram neste último mês às livrarias, em edições revistas e com novas capas, que contam com o contributo de grandes figuras da literatura e cultura portuguesa: Siza Vieira, Baptista-Bastos, Eduardo Lourenço, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Júlio Pomar, Lídia Jorge, Mário de Carvalho e Valter Hugo Mãe caligrafaram o título para a capa

O nobel da literatura, José Saramago de cada um dos nove livros. Mas cabe-nos, neste espaço, dedicar alguma atenção ao livro História do Cerco de Lisboa. O próprio título brinca com o leitor de forma irónica, ao jeito da pós-modernidade, ao anunciar uma História, quando não é, na verdade, um romance histórico embora seja o mais próximo de entre os romances de Saramago, aquele em que o discurso da História ocupa maior lugar. Problematizar o nosso conhecimento da História prende-se com a literatura pós-25 de Abril, numa subversão da verdade de uma História oficial pouco credível salazarista: «hábito de julgarmos tudo segundo ideias adquiridas, da nossa insaciável curiosidade apesar dos limites impostos ao nosso espírito, da inclinação que nos

leva a encontrar mais analogias entre as coisas do que as que realmente têm» (pág. 14). Contestar o discurso oficial da História instaurado por regimes fascistas, atacando as definições e verdades em que essas “instituições” assentam, criando novas versões da História. Esta rasura é o que Raimundo faz ao escrever o Não no rascunho de que era revisor: o deleatur de que se fala no primeiro capítulo surge como metáfora deste processo que cria uma obra aberta onde a própria História parece dobrar o tempo e desacontecer ou, melhor dizendo, reacontecer de forma diversa. Ao longo do romance, entrecruzam-se dois enredos: a versão romanesca que Raimundo Silva cria da História de Lisboa no século XII, que começa com

“MÚSICA MUNDI: HISTÓRIA(S) DE TANGO” 27 JUN | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Sunita Mamtani (violoncelo), Emily McIntyre (fagote) e Ricardo Batista (guitarra), serão os guias neste concerto pelo mundo do tango, cujos caminhos percorrem vários estilos e formas de interpretação

um Não antes do verbo, baseada numa suposição errada, negando uma verdade histórica, ainda que a sua reconstrução histórica seja cuidada, realisticamente minuciosa, inclusive na linguagem da época, com exatidão histórica e detalhada; e noutro plano, o enredo que, no tempo presente, se centra no próprio processo da escrita e de como escrever História, instaurando um carácter profundamente metatextual da narrativa, onde se joga com três planos. Primeiro, a versão da História do Cerco de Lisboa criada pelo autor historiador apresentada na parte inicial, em que se conta a história do cerco de 1147, em que os cruzados ingleses chegaram a Lisboa, cidade ocupada então pelos mouros e que cinco meses depois se rendeu aos cristãos. Segundo, a Nova História do Cerco de Lisboa, criada pela personagem Raimundo Silva, onde se descobrem filões ou novas possibilidades, versões alternativas ou escondidas da verdade, na possibilidade de os cruzados terem ajudado o rei D. Afonso Henriques em troca do saque e do senhorio de terras conquistadas. O revisor pondera então a reação dos portugueses, do dito povinho (dos fracos e oprimidos) de que não reza a História. Por último, a nova versão da História instaura-se no próprio processo de escrita da mesma, devido ao peso da palavra; e a história de que o próprio narrador se apropria e recria, num palimpsesto e mise-en-âbime, que sintetiza as outras duas e que é aquela

que o leitor tem nas mãos: «A cidade murmura as orações, o sol apontou e ilumina as açoteias, não tarda que nos pátios apareçam os moradores. A almádena está em plena luz. O almuadem é cego./Não o tem descrito assim o historiador no seu livro. Apenas que o muezim subiu ao minarete e dali convocou os fiéis à oração na mesquita, sem rigores de ocasião, se era manhã ou meio-dia, ou se estava a pôr-se o sol, porque certamente em sua opinião, o miúdo pormenor não interessaria à história, somente que ficasse o leitor sabendo que o autor conhecia das coisas daquele tempo o suficiente para fazer delas responsável menção.» (pág. 8). O próprio revisor é incomum, à semelhança de outras personagens de Saramago, pelo gesto de infracção que comete, de rasura do passado, ao cometer um erro no seu trabalho, quando escreve o fatídico Não que altera tudo e dá propósito ao livro. O dito revisor, um homem na meia-idade, que vive à margem da sociedade, de forma simples, regrada, autómata, baça será, paradoxalmente, recompensado pela sua falha, tanto com uma promoção no trabalho, ao ser convidado a tornar-se autor, escrevendo a sua própria versão da história que antes revia, como pelo amor que esse ato de rebeldia chama à sua vida. E é desta forma que, por último, e a reforçar a inventividade de Saramago, surge ainda uma outra interpretação do título do livro, em que a palavra Cerco remete para o próprio ritual de corte, pois este revisor vai acabar por se apaixonar. O título e tema do livro remetem-nos assim para outro assunto tão antigo quanto o tempo ou a guerra: uma metáfora do amor por uma mulher, e da conquista amorosa, cercando-a através da escrita: «Aturdido pelo contacto, Raimundo Silva levantou a cabeça, queria olhar, ver, saber, ter a certeza de que era a sua própria mão que ali estava, agora sim, o muro invisível desmoronava-se, para além dele ficava a cidade do corpo, ruas e praças, sombras, claridades, um cantar que vem não se sabe donde, as infinitas janelas, a peregrinação interminável.» (pág. 190). O livro é, aliás, escrito na cama, e não no escritóri o onde habitualmente revia as provas, e é também na brancura dos lençóis por estrear que se dá a consumação do acto amoroso de Raimundo e Maria Sara.

“NOVOS CONTADORES DE HISTÓRIAS” Até 30 JUN | Biblioteca Municipal de Albufeira Nesta exposição, as crianças de 15 salas dos Jardins de Infância de Albufeira apresentam o seu “reconto” da história “O Ratinho Marinheiro”, de Luísa Ducla Soares


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Momento

Sons do Atlântico Foto de Vítor Correia

Espaço ALFA

‘Cor e Criatividade’ em exposição em www.alfa.pt

Raúl Grade Coelho Membro da ALFA

Este foi o mês final da Mostra Fotográfica ‘Cor e Criatividade’, que reuniu no total 134 imagens sobre as seis cores primárias, nomeadamente, preto, branco, azul, verde, amarelo e vermelho. Para atingir este número significativo de fotografias foi necessária a participação de 35 fotógrafos aos quais agradecemos pelo seu contributo. Foi uma mostra fotográfica gratuita que permitiu a quem gosta de fotografar participar neste evento da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve. Foi bastante simples a forma de participar, pois apenas era pedido

o nome do/a fotógrafo/a e o número de associado, caso fosse. Foi também escolhida a foto de cada mês. Conclusões a tirar deste evento. Foi uma adesão fantástica deste número de fotógrafos que, desta forma, exprimiram as suas ideias sobre a cor mensal em que participaram com as imagens retiradas pelas suas máquinas fotográficas que foram muitas e diferentes. Foram vários modelos da marca Canon, da Nikon, da Olympus e da Panasonic, bem como, as individuais Sony, a Casio, a Fujifilm, a Benq e o telemóvel fotográfico Nokia N73. Conforme podem verificar, as cerca de 30 máquinas fotográficas, desde as mais profissionais às mais amadoras, permitiram captar aquele momento especial que pretendíamos gravar subjacente à cor mensal. Pode sempre verificar as fotografias que estão expostas em www.alfa.pt. Fique atento a novas iniciativas. Boas fotos!

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Na senda da Cultura

Orquestra Clássica do Sul actua para lá das grades O espírito não se aprisiona e não há grades que possam encarcerar a alma. Aquele e esta são indomáveis e insusceptíveis de serem domados sejam quais forem as circunstâncias e prova disso mesmo é o concerto que a Orquestra Clássica do Sul deu recentemente no Estabelecimento Prisional Regional de Faro (EPRF). Para lá dos muros da cadeia o mundo é outro, diverso, com outro compasso, arrastado, repetitivo e monótono e o que a orquestra conseguiu foi levar um novo ritmo aos homens que ali cumprem uma pena que pretende expiá-los da dívida para com a sociedade entendida nos termos da justiça dos homens. Entre quatro paredes e um recorte de azul No pátio da ala prisional

do EPRF, foram dezenas os reclusos que em duas sessões puderam ouvir a Orquestra Clássica do Sul a interpretar um programa escolhido ao pormenor para a ocasião. As paredes altas não foram suficientes para acanhar os músicos e a sonoridade única de uma orquestra fez-se ouvir a plenos pulmões contra o azul infinito recortado num quadrado a céu aberto que lembra, ali dentro onde a liberdade se vê coarctada, que há um mundo sem muros ali mesmo ao lado. Sob a batuta de John Avery a orquestra passou por “Te Deum” (prelúdio), de Marc Antoine Charpentier, “Amanhecer”, de Edvard Grieg, e “Adiemus”, de Karl Jenkins, até chegar à “España Valsa”, opus 236, de Émile Waldteufel. Por esta altura, descompres-

Aspecto geral da sala

são feita, já os pés dos reclusos davam sinal de acompanhar o compasso das melodias, mas “Blue Tango”, de Leroy Andersen, “Irish Tune de County Derry”, de Grainger, e “Trumpeter’s Lullaby”, de Leroy Andersen, foram as toadas que deram o mote para as mais conhecidas e trauteadas “Serenata à Chuva”, de Nacio Herb Brown, e “Os Sete Magníficos”, de Elmer Bernstein.

e que já levou a formação a hospitais de Almada, Beja,

EPRF passou por “um programa que seja adequado ao pú-

e desenvolva como um dos objectivos de trabalho da fotos: ricardo claro

Um dia diferente “Foi um dia diferente e isso faz diferença”, disse ao Cultura.Sul um dos reclusos do EPRF, enquanto outro tentava descobrir quais as melodias interpretadas com pontaria certeira para “Serenata à Chuva”. Alexandre Gonçalves, director do EPRF, não esteve muito longe da opinião dos reclusos, congratulando-se pelo facto de estarmos perante “um dia diferente na vida de um estabelecimento prisional”, ao mesmo tempo que afirmava que “do meu conhecimento esta é a primeira vez que se faz um concerto de uma orquestra dentro de um estabelecimento prisional em Portugal”. Carlos Ferreira, administrador da Orquestra Clássica do Sul, sublinhou “a aposta numa forma absolutamente inovadora de intervir na comunidade”, na sequência daquele que é “o programa Música em Comunidade desenvolvido pela orquestra

A Orquestra Clássica do Sul na prisão de Faro Faro e Huelva”. Para Cesário Costa maestro de director artístico da Orquestra Clássica do Sul, “a importância deste ciclo de concertos Música em Comunidade, é a de intervir no âmbito da responsabilidade social que cabe a todas as organizações culturais e passa por apresentar a orquestra em espaços onde normalmente a música clássica não marca presença”. Em termos de reportório a aposta para o concerto no

blico e às suas especificidades e que possa ser atraente para quem ouve”, um tratamento que em nada difere daquele que é sempre dispensado pela orquestra no processo de idealização de cada concerto, mas que, “neste caso, tem como acréscimo a responsabilidade de responder a um público com especificidades particulares”. Para o maestro, “o importante é que a ideia subjacente aos concertos Música em Comunidade se mantenha

orquestra”. Certo é que mais do que diferente, o dia no EPRF foi único e que a Orquestra Clássica do Sul provou que não há barreiras para a música. Não há muros suficientemente altos, nem realidades suficientemente longínquas e solitárias que sejam amarras suficientes para a vontade de levar a música clássica ao lugar onde deve estar, em todos os lugares sem reservas, nem limitações. Ricardo Claro

Sala de leitura

Com o devido espírito de contradição Paulo Pires

Programador cultural no Município de Silves esteoficiodepoeta@gmail.com

Numa entrevista dada em 2012 ao jornal Público o pintor Júlio Pomar afirmava: “Há uma necessidade que nos leva a determinado acto, a determinada parte, a determinados convívios. O que importa é essa necessidade e o reconhecimento dela. Muitas vezes as pessoas não

têm coragem para isso. Que isto de viver é difícil, não é brincadeira nenhuma. Não sabemos viver com as nossas contradições. ‘É um indivíduo cheio de contradições’, dizem as famílias. Ainda bem! Se não tem consciência das suas contradições, o bicho homem anda com as quatro patas no chão”. As conexões/diálogos que o tema da contradição pode estabelecer com conceitos como verdade, lógica, opostos, devir, apaixonaram inúmeros intelectuais, filósofos e artistas ao longo

de séculos, daí resultando princípios e teorias ainda hoje de pertinente reflexão. Bastaria pensar em Heraclito ou Aristóteles, entre outros. Pode existir verdade na contradição? Há elementos contrários que podem coexistir, interagir e fazer evoluir a realidade? Também na literatura e na música este tópico assume uma presença assídua e fértil em visões e atitudes. Pascal, numa posição mais aberta, relativista e “conciliadora”, escreveu que “nem a contradição é sinal de falsidade nem a falta dela

é sinal de verdade”. Já Paul Valéry preconizava que os pensamentos mais importantes são os que contradizem os sentimentos, ao passo que Jean-Paul Sartre definia a beleza como uma contradição velada. Na canção “Estou além”, António Variações, possuído por um turbilhão de sentimentos (solidão, insatisfação, ansiedade, medo), confessa mesmo que só está bem onde não está e só quer quem nunca viu/conheceu. Afonso Cruz, por seu lado, é escritor (para miúdos e

graúdos), ilustrador, músico (toca na banda The Soaked Lamb), realizador, fabrica a sua própria cerveja e tem na sua casa do Alentejo um olival com doze árvores em que cada uma tem o nome de um apóstolo (uma delas nasceu do lado de fora da cerca e foi baptizada como “Judas Iscariotes”). A versatilidade de registos/estratégias, a criatividade nos conteúdos, a originalidade de perspectivas e a inegável bagagem cultural/mundos fazem de Afonso Cruz uma referência incontornável da nova gera-

ção de imaginadores da palavra/imagem em Portugal. O pleno em A Contradição Humana N’A Contradição Humana, publicada em 2010, Afonso Cruz faz o pleno: uma obra tematicamente cativante, cuja mensagem atravessa, pela sua pertinência e intemporalidade/actualidade, crianças, jovens e adultos – materializada num objecto estético formalmente atraente, que assenta numa paleta tricolor (vermelho, preto e


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Espaço ao Património

Arquivos e museus: uma abordagem multidisciplinar

Entre as instituições ao serviço da memória das sociedades, os Museus, as Bibliotecas e os Arquivos representam historicamente o lugar de cruzamento de patrimónios, registo e destino do ciclo documental, dos sistemas de informação e intercomunicação orgânica das instituições, aos mais diversos níveis, permitindo a análise e a percepção dos processos de organização, das sociedades, ao longo dos tempos. O Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) é um serviço público integrado no Museu de Portimão, assumindo-se claramente como um centro organizador de recursos documentais e arquivísticos, tendo por missão tratar, salvaguardar e divulgar a informação historicamente produzida, de modo a permitir e facilitar a apreensão global e cronológica das temáticas e realidades sociais, culturais, económicas e políticas de Portimão e da região algarvia. Com a abertura ao público em Junho de 2008, nas novas instalações do Museu de

Portimão, ocupando o antigo “shead” industrial, entretanto recuperado para as suas novas funcionalidades, e local onde se situavam os cozedores e secadores de peixe, do antigo edifício da fábrica de conservas, o Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) do Museu de Portimão, constituiu-se desde logo como um espaço privilegiado para a consulta e a pesquisa públicas. Os seus fundos incorporam, para além do arquivo definitivo da Câmara Municipal de Portimão, a documentação de diversos arquivos pessoais e colectivos, ligados à indústria, comércio, construção naval e associativismo, entre outros, directamente relacionados com a temática histórica, política, económica, social e cultural, local e regional. Um outro objectivo do trabalho do CDAH é o de contribuir para a compreensão e interpretação dos fundamentos, instrumentos e processos do trabalho documental e arquivístico, gerindo, de forma articulada, a sua relação com as funções e objectivos do Museu. Esta faceta do CDAH representa um importante papel enquanto pólo e estrutura de apoio ao trabalho de investigação e de programação museológica da equipa técnica do Museu. Esta natural complementaridade interdisciplinar é uma

branco) que vai sendo manipulada e reinventada ao longo de 32 páginas (que sabem a pouco) e que produz no leitor um eficaz impacto visual. A partir do olhar atento e sensível de uma criança, e com um equilíbrio bem temperado entre a narração e a ilustração, Afonso Cruz desnuda/desmonta ludicamente e com argúcia e ironia juízos de valor e comportamentos sociais em que a contradição emerge como ingrediente central. Noutra linha, o autor apresenta também qua-

dros quotidianos, aparentemente banais, mas sob um olhar inusitado, menos convencional, com uma atenção sensível que os dota de uma terna poeticidade: um casal de namorados aos beijos, uma mulher grávida… (que, em ambos os casos projectam uma única sombra). Nesta contradição colectiva chamada sociedade desfilam, na versão de Afonso Cruz, domadores que não têm medo de leões nem de outros animais grandes, mas que têm pavor de coisas minúsculas (porque, se calhar,

Gisela Gameiro

Técnica Superior de Arquivo CDAH - Museu de Portimão

d.r.

Sala de leitura do Centro de Documentação e Arquivo Histórico constante, desde o início dos trabalhos preparatórios e prévios à instalação do Museu, tendo-se desenvolvido com particular incidência, ao longo do processo da constituição da equipa técnica e museológica, nos trabalhos de recolha, levantamento, classificação, tratamento e inventário de espólios, colecções, documentação e arquivos entre museólogos, arqueólogos, historiadores, conservadores/ restauradores, antropólogos, documentalistas e arquivistas. Esta dinâmica operatória em muito facilitou a desejável complementaridade dessa tão necessária relação entre o momento de recolha da peça e, simultaneamente, em inúmeras situações, dos documentos e fundos arquivísticos a ela

associados, para a preservação futura do seu quadro máximo de informação, com reflexo positivo na formulação da história das

colecções, seus descritores e inventários. Mas apesar da sua inclusão no mesmo edifício do Museu e da natural interacção técnica e profissional com a restante equipa do Museu, da qual é parte integrante, a missão especifica dessa vertente arquivística, direccionada para públicos específicos, obrigou a pensar e projectar o CDAH, como uma unidade espacial e funcional específica, compreendendo salas de consulta pública, leitura geral e pesquisa, serviço de reprodução e impressão, 16 pontos de acesso para pesquisa na base de dados informatizada (multibase), leitor de microformas, espaço internet e ligação Wi-Fi, gabinete de investigação, sala de higienização, registo, processamento, e área d.r.

Planta do barco Rio Odelouca

d.r.

Afonso Cruz, um mestre da contradição

“são as pequenas coisas que fazem a diferença”); amantes de pássaros que, afinal, os prendem em gaiolas; vizinhas que põem um açucareiro no café mas que são pessoas amargas; meninas de coxas firmes, mas que depois andam de elevador pois não aguentam uns lances de escadas; curiosos que sabem tudo o que se passa no céu, mas que não fazem ideia do que se passa na terra nem conhecem a língua que se fala nas suas casas; ou administradores de prédios que olham sempre para

de depósito para o arquivo histórico, documental, fotográfico e iconográfico. Para além de uma ligação directa e interna ao Museu, um acesso independente e um horário autónomo, em relação ao restante espaço museológico, esta opção veio a revelar-se de grande utilidade, ampliando a capacidade de atendimento aos seus utentes. Realizada a catalogação/ descrição em base de dados dos fundos documentais, a mesma é disponibilizada através de consulta digital, quer nos referidos 16 pontos de acesso informatizado das suas salas de leitura, quer através da consulta online em desenvolvimento no website do Museu e do Arquivo Distrital de Faro. Nestes três últimos anos (2011, 2012 e 2013), verificou-se uma frequência e atendimento a cerca de 6.000 utilizadores, os quais consultaram os diversos fundos estruturados e distribuídos em quatro grandes áreas: Biblioteca Especializada, Biblioteca João Tavares, Arquivo Histórico e Arquivo Iconográfico. O CDAH posiciona-se, deste modo, neste duplo relacionamento interno e externo, como um autêntico “CENTRO DE MEMÓRIA E INTERPRETAÇÃO DA COMUNIDADE” e como um importante factor para a percepção e reforço da matriz identitária e evolução histórica da sua envolvente humana e territorial.

o lado antes de atravessar a rua, excepto quando aparece um pobre (provavelmente porque nunca têm trocos – comenta ironicamente o narrador). Não falta também, como que recuperando a visão baudelairiana do Spleen de Paris, uma prima que vive, literal e metaforicamente, numa ilha, isto apesar de estar sempre rodeada de (um mar de) gente; ou um “estranho” pianista que passa o dia tocando músicas tristes e isso fá-lo feliz. Contraditório?


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O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

Junho azul mediterrânico… Potássio, fósforo, cálcio, vitamina e, complexo b - num prato de figos frescos que faz o meu dia... e assim se prometem novos mundos no mesmo mundo de sempre…

Gira ao sol

Casa Álvaro de Campos – Tavira

‘Livro: passado, presente e futuro’

Pedro Jubilot

pedromalves2014@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Júlio Resende fotos: d.r.

o pianista natural de Olhão cumpriu no auditório municipal da cidade, uma data especial da digressão de promoção do álbum ‘Amália’ (edições valentim de carvalho, 2013), onde interpreta ‘Medo’ acompanhado pela voz da fadista. Em entrevista ao webzine ‘Bóia da Canal’ (nº 3 - a sair brevemente em http://canalsonora. blogs.sapo.pt/77637.html), Resende confessou: «Claro que tive medo, mas a coragem não é a ausência de medo, é fazer a coisa que se acha acertada mesmo em presença do medo».

Nestes dias de Canícula

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O dia vem tão cedo, tão claro e quente. Essas razões que o tornam difícil são as mesmas que o prantam grande e belo... nesta primavera boreal, para assumir o risco inconsiderado de viver a sul… O brilho do horizonte atlântico, a brisa que desliza junto à costa, a claridade baça que se mantém a este até mais tarde, a temperatura que sobe e aquece os ambientes interiores e exteriores… O crescendo destes fins de tarde faz acreditar que a vida, esta, é sempre melhor nos dias maiores. Da varanda atento o mar a tomar-se de um

A biblioteca Álvaro de Campos em Tavira recebe este mês mais três palestras com a marca de qualidade do CIAC - Centro de Investigação em Artes e Comunicação. A 6, Isa Mestre apresentou ‘Literatura 2.0 - do texto impresso à hipermédia’. 20 de Junho trará Sandra Boto, que falará sobre ‘Literatura e edição digital: que revolução?’. Pedro Ferré fechará o ciclo com o tema ‘Entre a cópia e a edição: alguns problemas do livro’.

Os girassóis estão sempre virados para o mar, porque é daí que o sol nasce, se ergue por cima dele, e se volta a pôr no mar sempre a pontos cardiais escritos de sul. Dobram-se sobretudo para a esquerda de quem olha para a faixa costeira, porque os ventos predominantes de sudoeste para aí os empurram. Os girassóis de aqui são mais amarelos devido à sua prolongada exposição à força positiva do sol. Decoraram a costa sul de alegria, orgulho e amizade.

‘Tamanqueiro’

Faro se anima

Quem negoceia com peixe mais cedo ou mais tarde vem parar a Olhão. Raul ‘Tamanqueiro’ Figueiredo (22.01.1903 - 3.12.1941) juntou o útil ao agradável e representou o Sporting C. Olhanense - campeão de Portugal na memorável época de 1923/24. Na final de 8 junho que venceu por 4-2 ao F.C.Porto, marcou de grande penalidade aos 40 min., na 1ªcompetição organizada pela F.P.F, no Campo Grande, onde o presidente algarvio Teixeira Gomes destacou a sua forma de jogar «juvenilmente obstinada, na sua ubiquidade inverosímil, caindo, erguendo-se, pulando com a elasticidade de uma péla, ou como se a terra lhe servisse de trampolim, sem deixar nunca de sorrir.» De seguida foi chamado a representar a selecção nacional, e logo aliciado a ingressar no Benfica.

A 7 de Junho aconteceu mais um Bivar, que nesta 4ª edição continuou a promover a arte, o design e a cultura na baixa da cidade. Apresentação do cd ‘Por Aí’ dos Vá-de-Viró, no renovado bar do Pátio das Letras, a 13 de Junho. Paulo Cunha referiu-nos a propósito deste regresso, que este: «Tem sido um colectivo onde tocar em conjunto “apenas” pelo prazer que isso lhes traz, conseguiu dar sentido à sua existência, independentemente de todas as «crises» que - involuntariamente - os têm afastado do contacto com o público!» Entretanto a associação Arquente, regressa aos seus concertos ao pôr-do-sol com nomes emergentes da música portuguesa, tendo já como os Stereoboy, num programa que traz este mês Galadrop e o guitarrista Filho da Mãe.

“O MUNDO DAS BONECAS” Até 3 OUT | Antigos Paços do Concelho de Lagos Em exposição uma colecção de família, onde podem ser apreciadas bonecas fabricadas em diferentes anos, como 1930, 1960 e, mais recentemente, 2014, feitas em papelão, porcelana, madeira, vinil, celulóide, borracha e algumas pintadas à mão

Traz um fim de semana de Stº António bem preenchido. A não perder dia 13 - ‘Contos e Cantos do Fado’, por José Alberto Lopes da Silva, com ilustração musical dos guitarristas Orlando Almeida e Pedro Antunes. No sábado, 14, pelas 18h decorrerá uma palestra ‘À Volta de Gil Vicente’. Inaugura pelas 18h de 15 de Junho a galeria da sua sede, com a exposição de pintura ‘Sombras de Verão’, de Isabel Botelho. Tudo com entrada livre.

Postais da Costa Sul ~ não me lembro se o dia primeiro era da criança. mas também o que é que isso podia interessar enquanto tal. junho era o mês em que acabavam as aulas e começavam as férias grandes de verão, os dias longos das idas para as ilhas. a rua da minha avó enfeitava-se para os dias e noites dos santos populares. só sei que vivia num mundo muito próprio. sonhava acordado. e não podia ser outra coisa que um ser assim livre. podia até ter um ar perdido, mas por dentro não podia ser mais feliz.

“XII ENCONTRO DE ESCOLAS DE MÚSICA DO ALGARVE” 14 JUN | 21.30 | Grande Auditório do Teatro Municipal de Portimão Encontro que se apresenta como uma possibilidade para ver e ouvir, ao vivo, alguns dos grandes talentos regionais, assim como uma oportunidade para descobrir diversos instrumentos, compositores e estilos de música


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Cultura.Sul

Da minha biblioteca

Mal Nascer, de Carlos Campaniço

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

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Carlos Campaniço lançou em maio um novo romance (que foi finalista do Prémio Leya 2013), demonstrando vitalidade e vontade de prosseguir esta sua já premiada carreira de escritor. Tal como nas obras anteriores – provavelmente por gosto e formação do autor, dado que a história é a sua especialidade –, também este é um romance de época, desta vez passado no início do século XIX: a narrativa acompanha Santiago, um jovem médico, partidário de D. Pedro, que se refugia, durante as Guerras Liberais (18281834), numa vila longe de Lisboa, uma vila que é a terra que o viu (mal) nascer: «Olho a praça com um vagar que é ainda de saudade. Estes recantos e travessas, ruas e largos, continuam a ser os meus passos. (…) é aqui na vila que ouço o tambor do meu coração» (pp. 17-18). Naturalmente, ficamos com curiosidade para saber por que razão de lá saiu e por que se inibe em se fazer reconhecer diretamente pelos seus conterrâneos (apesar de não se esconder – sai da casa, expondo-se à vista de todos –, também não se identifica). Mas o motivo só nos é revelado no final. Até lá, vamos acompanhando, em capítulos intercalados, uns largos meses da vida de Santiago adulto e uns anos da de Santiago menino, de forma a ir construindo, paulatinamente, a sua história. Santiago não é propriamente um herói, um homem de altos padrões morais e de elevada consciência social, que luta e assume a consequência dos seus princípios e crenças. Não. Em Lisboa, Santiago teme pela vida e foge dos miguelistas;

d.r.

na vila, receia assumir quem é («Temo a reacção de Albano e de dona Odélia», p. 16;) e as consequências de ser acusado de herege («Fico aterrado com esta postura súbita do vereador», p. 53); no amor, enreda-se com duas mulheres casadas e não tem coragem quer para cortar com uma que o persegue, quer para declarar a outra que a ama; e aceita fazer a corte a uma terceira, que não é tida nem achada nestas demandas. Porém, todas estas fragilidades fazem-no parecer mais humano. Ao mostrar a infância sofrida de Santiago, durante a qual foi maltratado, exilado e até, pode-se afirmar, sequestrado, Carlos Campaniço consegue fazer-nos simpatizar e empatizar com as suas fraquezas de adulto e até admirar a compaixão que ainda tem dentro de si, depois de tudo o que se passou (as lágrimas chegam-lhe facilmente aos olhos, quando perante a miséria humana e a doença).

Passado presente, Igreja e poder

presenciar os acontecimentos com muito mais intensidade: «Deito-me em cima da cama e sinto uma paz que é de sono. Começa-me a anoitecer os olhos, lembrando-me o quanto cismei voltar a dormir na terra que é a minha. Agora é manhã clara, lavada por uma luz recente, que me deixa acordado logo cedo» (p.17). O uso do presente do indicativo permite outras interpretações: o passado está presente no presente de Santiago. E persegue-o, enquanto não for resolvido. Uma das consequências da infância que teve foi levá-lo a recusar entrar numa igreja e a frequentar a missa (tendo feito, por esse motivo, importantes inimigos). Assim, quando partiu da vila, da primeira vez (quando ainda pré-adolescente), disse: «A única coisa que penso, ao ver a luz da última cal, é que deus se esqueceu de ter sido o obreiro desta vila, porque nunca a visitou» (p. 183). Assim mesmo, «deus» com minúscula, num claro sinal da pequenez que atribui à divindade cristã, por metonímia com os seus representantes na terra, que, paradoxalmente, servem e dominam o poder político e judicial. Quando a mãe morre, vítima de violência doméstica, Santiago olha «nossa senhora da piedade, como se olha a uma pessoa a quem deixaremos de falar por ressentimento. A sua tranquilidade de santa agasta-me, mais o seu distanciamento imóvel para com a nossa dor. […] Terão os santos os corações de pedra ou de madeira, como as suas estátuas? Não me comovem as feições de compaixão que lhe lavraram no rosto, pois quem presencia a morte de uma mulher inocente e não a protege é cúmplice também» (p. 180).

O narrador é o próprio Santiago, que conta a sua história, ou melhor, as suas histórias, usando sempre o presente do indicativo, conseguindo um maior efeito dramático e levando o leitor a

Fiquei a pensar: no nosso quotidiano, quantas vezes somos cúmplices de tantas injustiças e nada fazemos, como os santos, de rosto compassivo e coração de pedra?

“Mal Nascer” é a obra mais recente do escritor

Pobreza, fome e doença A miséria é uma dura realidade que não muda de época para época: em criança, Santiago sabe o que é a fome, por experiência própria, mas vive-a

(vivem-na todos) com a dignidade possível («Ela olha-me e não tem coragem de me dizer que não tem comida para mim e finge não saber que eu nada comi. Também eu tenho vergonha de dizer que tenho fome

“LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE” Até 14 de JUN | Centro Cultural de Lagos Exposição de cartoons, onde o humor é uma arma poderosa contra as consciências cúmplices. A lucidez contra obnubilação. A arte contra a tragédia. O esplendor do riso contra a pompa da ganância

e esta noite dormirei de bucho vazio», p. 181); em adulto, lida, compassivamente, com a pobreza do povo («Ela agarra-me as mãos e chora uma confissão que me arrepia, aclarando que não comem quase nada há três dias. Chora-me as mãos e faz-me entupir os olhos de lágrimas», p. 19). Aliás, o povo é apresentado, na generalidade, como gente boa e trabalhadora. As poucas exceções são homens e nunca as mulheres: são os maridos que se embebedam e batem nas companheiras. A esta admiração pelo povo contrapõe-se a crítica aos senhores, que desprezam os pobres que exploram e tiranizam, que tratam pior que os animais,

para quem a vida de um miserável não tem valor, quando comparada com a sua. Mas a morte e a doença não escolhem pelo nome de família nem posição social, e estas, apenas estas, conseguem vergar alguma arrogância. E enquanto entre os mais poderosos há intriga e jogos de interesse, entre o povo há solidariedade e entreajuda.

“O AMOR DOS OUTROS” 14 JUN | 21.30 | Auditório Municipal de Olhão O grupo de teatro olhanense ‘A Gorda’ aborda, através da apresentação desta peça, a complexidade de certos temas, como o afecto, o sexo, a identidade sexual e como transmitimos essa postura e forma de viver com e nos outros


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Cultura.Sul

Leitura expressiva, aproximar as crianças ao património literário

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Real Marina Hotel & Spa Concurso visa fomentar o gosto pela leitura entre os mais jovens Teve lugar no dia 10 de junho, no Auditório da Fortaleza de Sagres, a 7.ª edição do concurso de leitura expressiva LER COM…, uma organização da Direção Regional de Cultura do Algarve, em parceria com a Direção de Serviços da Região Algarve da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares, com o patrocínio da FNAC Algarve Shopping e com os apoios do Plano Nacional de Leitura, da Câmara Municipal de Vila do Bispo e dos Agrupamentos de Escolas do Ensino Básico dos municípios das Terras do Infante. O concurso iniciado em 2007, conta agora com oito edições. Esta foi a fórmula encontrada em parceria regional da Cultura e da Educação para fomentar o gosto pela leitura entre os mais jovens e determina como objectivos principais promover, estimular o interesse pela leitura e conhecimento de obras e autores de língua portuguesa, premiar a excelência da leitura expressiva, contribuir para o Plano Nacional de Leitura e comemorar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, estreitando as relações de proximidade das comunidades escolares com a Fortaleza de Sagres, monumento emblemático nas relações de

Portugal com o Mundo. Ler é compreender o mundo que nos rodeia. A leitura é um exercício de cidadania, é um instrumento fundamental do desenvolvimento humano. Nem sempre é tarefa fácil motivar as crianças para a leitura, sobretudo num mundo onde hoje o estímulo é sobretudo visual. Os tempos livres estão repletos de outras propostas. Para a empatia e envolvimento das comunidades escolares têm contribuído o trabalho de proximidade desenvolvido com as escolas na sua preparação e a orgânica simples do concurso. A final, que tem sempre lugar na Fortaleza de Sagres, consiste na leitura de textos surpresa, selecionados de obras de autores lusófonos indicados pelo Plano Nacional de Leitura para leitura autónoma, iguais para todas as crianças. As prestações dos alunos são avaliadas por um júri que integra um representante da Direção Regional de Cultura do Algarve, um representante da Direção de Serviços da Região Algarve da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares e um professor ou personalidade reconhecida pelo seu trabalho em prol da língua portuguesa. Outro fator de sucesso têm sido os prémios atribuídos aos

três primeiros classificados, que não visam apenas premiar o mérito mas também proporcionar às crianças a dotação de equipamento atualmente indispensável para a continuação da sua formação educativa: um tablet, uma máquina fotográfica digital e um conjunto de livros. Todos os participantes na final receberam livros, oferta do Plano Nacional de Leitura. Mas tem sido o apoio das diferentes entidades e empresas e o empenho de professores, encarregados de educação e alunos as principais garantias de continuidade deste concurso, que é já hoje uma referência no panorama cultural e educativo das Terras do Infante. Carlos Drummond de Andrade dizia-nos: “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”. Este projecto tem procurado contribuir para contrariar esta evidência e este dia 10 de junho de 2014 voltou a demonstrar que vale a pena ouvir e assistir à riqueza e à beleza da nossa língua portuguesa, lida e interpretada na voz de crianças do 4º ano, em Sagres. Direção Regional de Cultura do Algarve

Criamos momentos únicos para si Real Marina Hotel & Spa - Olhão Info e reservas Spa: 289 091 310 - spa @realmarina.com


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