/ d.r. fotomontagem a partir das obras de andre djerkovic e andre uerba
Missão Cultura: d.r.
Festival promete pintar Algarve em tons de Azul p. 3
Direção Regional de Cultura edita obra de Luísa Martins p. 2
Espaço ao Património:
d.r.
Teatro e património, uma união p. 4
Na senda da cultura:
d.r.
Ana Moura: o sucesso do novo disco ‘Moura’
d.r.
p. 6
Espaço ALFA: d.r.
SETEMBRO 2016 n.º 96
Festival F com imagens de Marrocos
Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO 8.429 EXEMPLARES
p. 8
www.issuu.com/postaldoalgarve
Moçoilas: o canto da terra inquieta p. 7
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16.09.2016
Cultura.Sul
Editorial
Missão Cultura
A nova temporada
Direção Regional de Cultura edita obra de Luísa Martins
Ricardo Claro
Editor ricardoc.postal@gmail.com
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Ainda cala forte o calor quando escrevo este editorial, mas Setembro não perdoa e a meteorologia já prevê os primeiros negrumes no firmamento a recordar-nos que é tempo de outro tempo. Do brilho do céu estrelado de Verão e dos espelhos de água salgados que acolheram muito do que no panorama cultural se fez durante o estio, passa-se agora para o brilho das luzes dos palcos em salas cobertas e mais acolhedoras para a 'outonia' que se aproxima. É tempo de viajar noutros discursos culturais, nem melhores, nem piores, mas sobretudo diferentes. Para tanto, as salas culturais e os mais diversos espaços do Algarve preparam programações capazes de garantir que a oferta cultural da região se mantém e de desmentir que o Algarve é um deserto cultural. Munam-se das agendas municipais, consultem os sites das salas de espectáculos, estejam atentos ao pulsar das associações e movimentos culturais da vossa terra e da região em geral e verão que o Algarve tem uma incansável invernia cultural. Este ano a somar a todo o resto o Governo aposta forte na quebra de uma suposta sazonalidade cultural com um programa pensado para a região e que conta com a mestria de Dália Paulo para assegurar o sucesso. Há razões de sobra para sairmos de casa e fazer-nos ao caminho, encontrando a cultura onde quer que ela se nos apresente. Há motivos para vivermos o Algarve outonal e darmos asas ao quanto a arte nos pode deslumbrar e cativar. Há justificação mais do que suficiente para viver um eu e um nós cultural, celebrando a cultura e de uma só tirada, também, a própria vida. •
Direção Regional de Cultura do Algarve
No âmbito do Algarve, desde os anos oitenta, começaram a surgir estudos históricos sobre a alimentação e de uma forma mais sistematizada a partir da dobragem do século, mas estamos ainda longe de possuir uma monografia aproximada sobre a alimentação medieval, tardomedieval ou moderna no Algarve. Toda a contribuição é importante e bem-vinda. A publicação do livro “Contributos para a história da alimentação algarvia a partir das atas da vereação do concelho de Loulé (13841488)”, integrado na coleção “Algarve - Obras Temáticas”, edição da Direção Regional de Cultura do Algarve de estudo de Luísa Martins, é uma contribuição importante porque alicerçada em sólidas bases documentais estatisticamente trabalhadas, reflecte as complexas e dinâmicas realidades do sistema alimentar tardomedieval louletano e características da vida económica do concelho.
O estudo abarca 104 anos, durante os quais, a autora investigou o que os homens bons, para repelirem o espectro da fome, discutiam nas reuniões da administração concelhia e que averbaram em ata, ou seja, os procedimentos e posturas decididos, relativamente aos atos de produção, às sequentes transações no mercado da vila e no âmbito do comércio exterior, quer regional, quer internacional. As atas colocaram a autora perante os produtos alimentares prioritários, ou carentes, e perante a enumeração das dificuldades na sua obtenção, e não, na condição, das ocorrências normais, sobre as quais, nada tendo sido dito, só é possível conjecturar, como nos diz no prefácio do livro Maria Helena Coelho. A obra identifica um conjunto de produtos alimentares consumidos à época; os níveis de apetências; esquemas de fraude dos vendedores para com os consumidores, estatutos sociais que o consumo de alguns desses produtos incorporavam, entre os quais, os previsíveis direitos prioritários sobre o consumo; e, não menos significativo, os direitos/deve-
res de carácter étnico-religiosos associados à produção e ao consumo dos alimentos. A investigação tem, como baliza cronológica terminal, o ano de 1488, ponderando que oito anos depois, Dom Manuel assinou o decreto de expulsão dos hereges, esta obra permite também vislumbrar conflitos de produtividade e particularidades alimentares numa sociedade louletana pluri-religiosa - composta por cristãos, judeus e muçulmanos. O terceiro capítulo é dedicado à trilogia do pão, do vinho e do azeite, espelhando a importância destes alimentos na vida económica e administrativa do concelho, enquanto o quarto capítulo refere a importância das hortofrutícolas na dieta alimentar e a complementaridade da carne e do peixe nessa dieta. Na fruta salienta a importância do consu-
mo interno, em particular do figo seco, boa moeda de troca directa com os vendedores de trigo da Bretanha. Em conclusão, esta publicação traça-nos um retrato muito completo da econo-
d.r.
mia alimentar, na vila tardomedieval de Loulé, com variáveis que nos permitem definir social, profissional e economicamente a vila e os seus cambiantes pluriculturais e plurireligiosos. •
Juventude, artes e ideias
Clubes da Casa da Juventude estão de regresso
Jady Batista Coordenadora Editorial do J
Terminado o período de férias, setembro é mês de
regresso à escola, mas também de reinício das atividades formativas da Casa da Juventude de Olhão. Este ano, para além dos clubes de Teatro e Desenho e BD, as novidades vão para a criação do Clube de Fotografia e a programação regular do Clube de Cinema. O Teatro está de volta, como é hábito, com três grupos de
“CONCERTO DE DINO D’SANTIAGO” 10 SET | 21.30 | Cine-Teatro Louletano Finalista da Operação Triunfo em 2003 e membro da banda de suporte dos Expensive Soul, Dino lançou o seu primeiro álbum a solo em 2008, seguindo-se este ano o EP ‘Unplugged’
faixas etárias distintas, infantis, juvenis e adultos, a formação está a cabo de Vanessa Caravela e João Evaristo. O Clube de BD e Desenho, dirigido a jovens dos 6 aos 16, volta a ser dinamizado por Milton Aguiar. À Casa da Juventude, conhecida pelo seu estúdio de fotografia analógica e pelas formações que tem promovi-
do nesta área, associa-se Luís Torres, olhanense amante da sua terra e da fotografia (a que se dedica há vários anos), para dinamizar o Clube de Fotografia da Casa da Juventude de Olhão, que pretende ser um espaço de experimentação e partilha de conhecimentos, aberto a todos aqueles que se interessem por esta arte, estando
previstas saídas de campo e ações de formação. O Clube de Cinema inicia, em outubro, as suas sessões regulares, às quartas, pelas 21.30 horas, na Sociedade Recreativa Progresso Olhanense. Para mais informações dirija-se à Casa da Juventude de Olhão, de segunda a sexta, das 13 às 19 horas (tel: 289 700 180). •
“AZUL. OS TESOUROS ISLÂMICOS DO UZBEQUISTÃO” Entre 23 de SET e 25 FEV | Núcleo Islâmico - Tavira Luís Reina expõe imagens captadas numa viagem que fez pela arquitectura e arte civil, militar e religiosa daquele país da Ásia Central
Cultura.Sul
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Panorâmica
Verão Azul: um festival diferente que promete agitar as águas da cultura no Algarve andre uerba
Programação: 17 SÁB 18 h. | Casa do Castelo Exposição colectiva de fotografia "Começar do Zero"
(inauguração, patente até 22 Outubro)
Ricardo Claro
22 h. | Pátio Museu Municipal | Cinema Marco Martins e André Príncipe "Traces of a diary"
Jornalista / Editor ricardoc.postal@gmail.com
É um festival e promete, a fazer lembrar 'O Anzol' dos Rádio Macau, "... pintar o céu [do Algarve] em tons de azul". Com nome a condizer, o Festival Verão Azul chega pela sexta vez a terras algarvias a partir do dia 17 de Setembro (amanhã), com uma programação que num primeiro momento ocupará vários espaços da cidade de Loulé até 7 de Outubro. A abrir e com nome a condizer, a colectiva de fotografia 'Começar do Zero' junta André Príncipe, André Uerba, Andrej Djerkovic, Patrícia Almeida e Vasco Célio. Mas este é só o iníco da época louletana do festival que passará ainda por Faro entre 27 e 29 de Outubro e por Lagos de 27 de Outubro a 6 de Novembro. Verão Azul é a proposta cultural de Ana Borralho e João Galante na região há seis anos
24 SÁB 21.30 h. | Cine-Teatro Louletano Espectáculo Ana Borralho & João Galante "Atlas Loulé" 25 DOM 15.30 h. | Cine-Teatro Louletano Cinema Helena Inverno e Verónica Castro "Um Elefante na Sala"
Uma das obras que Andre Uerba leva à mostra colectiva que abre o Verão Azul em Loulé bruno simão
Galante, que nos propõem "Atlas Loulé", e um outro com Sílvia Real Grupo 23, que nos desafia a assistir a ‘E se tudo fosse Amarelo?’ e há ainda espaço para uma oficina de improvisação vocal e instrumental, da responsbilidade de Sofia Sequeira e Rute Prates - Grupo 23.
É assim que a ideia original de um festival verdadeiramente desempoeirado e pensado, por Ana Borralho e João Galante, para criadores out of the box quer tingir de azul a região " ... para ser original". A convidar-nos para "... morder o anzol" de propostas culturais diversificadas basta olhar para a programação prevista para Loulé para entender que há muito de "...novo aqui debaixo do Sol".
A programação à distância de um clique A programação relativa às passagens deste festival por Faro e Lagos, pode vê-la on-line em www.festivalveraoazul.com/ e acompanha-la através do POSTAL on-line em www.postal.pt.
As propostas para Loulé incluem cinema, espectáculos, fotografia e oficina
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Ele há cinema para ver e ouvir com "Traces of a diary", de Marco Martins e André Príncipe, e "Um Elefante na Sala", de Helena Inverno e Verónica Castro; há espectáculos, um de Ana Borralho & João
Diversidade e arrojo num festival inusitado e conceptual
Ana Borralho e João Galante “NO CORAÇÃO DO ALGARVE” 16 SET | 18.30 | Biblioteca Municipal de Lagoa No seu livro, Maria Helena do Carmo convida nos a conhecer os espaços de Lagoa, contando-nos a sua história, a que se juntam algumas histórias e curiosidades.
O Verão Azul propõe-se dar-lhe razões para pintar a sua vida das
7 SEX 10.30 h. | Cine-Teatro Louletano Espectáculo Sílvia Real - Grupo 23 "E se tudo fosse Amarelo?" 14.30 h. | Cine-Teatro Louletano Oficina Sofia Sequeira e Rute Prates - Grupo 23 Improvisação Vocal e Instrumental
cores da cultura, afinal há no programa da iniciativa, que nasce das mãos da casaBranca e nas propostas que encerra, uma lufada de ar fresco. Há arrojo, diversidade, policromia e amplitude, abarcando numa paleta única um conjunto de manifestações culturais que não deixam à margem nenhum público e que são, isso sim, um regaço ilimitado para os mais diversos gostos. Apresentado como um festival “de cariz transdisciplinar”, o festival faz-se presente uno na diversidade conceptual, como pano de fundo numa viagem pela contemporaneidade e pelo real e insólito que a arte pode retratar e mesmo criar. Um agitar de consciências servido em modo festival a não perder por terras algarvias. Aceite o desafio e não fique em casa.
“ANTÓNIO E MARIA” 16 SET | 21.30| Cine-Teatro Louletano Monólogo múltiplo de mulheres, que conta com a participação de Maria Rueff, em estreia absoluta algarvia.
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Cultura.Sul
Espaço ao Património
Teatro e património, uma união
Ficha Técnica: fotos: mário nogueira
Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Ricardo Claro Paginação e gestão de conteúdos: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções:
Quadro da Pré-História 'Trocas Comerciais'
João Bota
Actor, encenador e formador em TIPO - Teatro Infantil de Portimão
No passado dia 9 de julho demos por encerrado mais um ano das "Oficinas de Teatro" do TIPO - Teatro Infantil de Portimão. Das três peças apresentadas, das três diferentes faixas etárias, há uma que gostaria de destacar, uma vez que se inspirou na história da Cidade de Portimão. Tratou-se de "Uma Viagem no Tempo". Desde o momento em que as Oficinas começaram a ser realizadas no espaço do museu, foi nossa intenção criar um texto que abordasse os aspetos positivos, quer do museu, quer da própria história da cidade. “Uma Viagem no Tempo” tornou-se, desta maneira, o ponto de partida por forma a associar o património ao teatro. Assim, iniciámos a nossa viagem ao encontro da Pré-História, tentando refletir os aspetos mais interessantes desta comunidade que habitou a zona de Alcalar há cinco mil anos; desde a moagem da farinha ao cultivo da terra, passando pelo fabrico de adornos com contas de pedras ou conchas, algo que beneficiava as trocas comerciais, o aproveitamento
Quadro da Época Romana 'O Tributo' das peles dos animais, entre outros. Indo ao encontro da Época Romana, baseamo-nos no comércio para melhor definir este período, abordando os negócios da fruta ou mesmo das conservas de peixe, que já se efetuavam na altura e, claro, a venda de escravos, algo que, infelizmente, caraterizava o povo romano. Continuando a nossa “viagem”, tínhamos que, obrigatoriamente, passar pela Indústria Conserveira, expoente máximo da história do Museu, não estivesse ele nas antigas instalações da Fábrica do "Feu Hermanos". Aqui, pretendemos retratar as duras e difíceis horas de trabalho a que as ope-
rárias estavam sujeitas. Sempre que tocava a sirene, fosse a que horas fosse, tinham que estar prontas a entrar ao serviço, ficando proibidas de ir trabalhar no dia a seguir como forma de castigo, caso não fossem pontuais. Por outro lado, tentámos mostrar, de uma forma sucinta, as diferentes etapas que compunham a conservação da sardinha, passando pelo descabeço do peixe, ao salgar, o enlatamento, etc... No fundo, quisemos dar a conhecer, não só às crianças envolvidas no projeto assim como ao público, um pouco da história que envolve a nossa Cidade, mas em especial, a própria essência que o Museu de Portimão tem para mostrar aos seus visitantes. •
• Artes visuais: Saul de Jesus • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço ao Património: Isabel Soares • Filosofia dia-a-dia: Maria João Neves • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Letras e literatura: Paulo Serra • Missão Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N: Pedro Jubilot • Panorâmica: Ricardo Claro • Sala de leitura: Paulo Pires • Um olhar sobre o património: Alexandre Ferreira Colaboradores desta edição: João Bota Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, FNAC Forum Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelag.postal@gmail.com on-line em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve
facebook: Cultura.Sul Tiragem: 8.429 exemplares
Quadro da Indústria Conserveira 'Descabeço do Peixe'
Cultura.Sul
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O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N
Setembro
Pedro Jubilot
pedromalves2014@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt
Setembro fotos: d.r.
bilingue (português/espanhol) do novo livro de Fernando Pessanha. Desta vez editado pela editora CanalSonora sediada em Tavira, o conto «A Musa / La Musa» foi traduzido pelo escritor espanhol Uberto Stabile e conta com fotografias de Francisco Carvalho com a modelo Isabel Bartolomeu. Esta edição bilingue surge naturalmente dadas as ligações do autor a Espanha, onde tem apresentado vários dos seus trabalhos como historiador, compositor ou ficcionista. O autor e a editora estão ambos direccionados para diferentes géneros literários, línguas, geografias. Um encontro nada improvável desde que o autor participou em 2014 na colectânea «Sízigia» da CanalSonora.
mance, comidas e petiscos, e culminando com muita música na «Festa da poesia ao ritual da igrejinha». Com programa completo no site da organização (cm-vrsa.pt).
Naquele tempo
«Telegramas do Mediterrâneo» de Pedro Jubilot
Da vagem
Apesar dos inconvenientes das altas temperaturas deste verão que acabará no calendário, na próxima semana, mesmo assim queremos que a mudança de estação venha calmamente. Para nos irmos agasalhando lentamente à medida que nos reorganizamos e planificamos para os meses mais escuros e frios. Até termos saudades do calor outra vez. E desejarmos o grande estio.
uma saca de uma arroba de alfarroba seca foi furtada da porta arrombada da barraca do ti zé Farroba e carregada no carro de mula upa upa puxa pula toca a andar que se faz tarde mas a mula assustou-se o carro virou-se e o larápio puxa a saca arrasta os pés cansado da ressaca desse licor da mesma vagem…
A Musa / La Musa
Poesia na Rua 2016
divulgar os seus livros. Dois dos melhores livros editados recentemente pela Lua de Marfim, serão apresentados na loja de Faro – a 16 e 23 de setembro, às 21h30. «Escrever É Dobrar e Desdobrar As Palavras à Procura de Um Sentido» e «O que se ergue do fogo», respectivamente de Luís Ene e Adília César, ambos autores residentes em Faro.
«Naquele tempo as férias eram mais compridas (…) estavam de acordo com o clima do nosso país, não como agora que as crianças deixam o campo, a praia e a montanha para se meterem, contra a natureza, nas salas de aula durante os maravilhosos dias de setembro. O meu ano lectivo não seguia as datas dos países onde em Setembro já há frio e chuva. Está claro que agora o tempo deu uma cambalhota e já ninguém sabe em que estação do ano está!». Fala assim a sensibilidade de Sophia de Mello Breyner Andresen.
com jeito encosta-se a bicicleta a árvore centenária. do interior da loja de rosa sarlis vem o som de: ta pedia tou pirea na voz de melina mercouri, a lembrar que esta terra é de uma modernidade antiga qualquer que seja a sua idade, nenhum homem, sentado frente ao mar egeu poderá almejar mais do que a sua vista alcança: a mulher que então ama, o petisco de polvo frito e a salada com tzatziki que lhe puseram sobre a mesa de madeira, a amizade dos que o rodeiam erguendo copos de ouzo na mão, a paisagem num mundo de luz circundante, esparramada em inevitáveis tons de azul e branco e de-parar-se então, num daqueles momentos que se ansiaria perpetuar (canalsonora editora, 2016)
Perto do Belo
Fnac Ataque
Estaremos com a joalharia contemporânea de Manuela de Campos Xavier, em exposição na Target Concept Store, em Faro (rua de portugal, 42), de 10 de setembro a 16 de outubro (2ª-6ª - 13 às 20h / sáb - 10 às 14h).
AGENDAR
É já na próxima sexta feira, 16 de setembro, que na Biblioteca Vicente Campinas, em Vila Real de Stº Antóno, acontecerá o lançamento
Domingo, 18 de setembro, entre as 10 e as 23h, celebra-se a poesia em Cacela Velha. É assim que ao ar livre se faz a rentrée da cena literária algarvia. Estendais de poesia, mercado de livros, actividades para jovens e crianças, artesanato, produtos locais, apresentação de livros, percursos poéticos, debates/conversa, perfor“NEGRO COMO O FOGO” Até 27 SET | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira Zorba utiliza nas suas telas pouco os pincéis, preferindo as espátulas, a projecção de tinta ou ‘drip painting’ para chegar ao objectivo quase sempre final e não pré-definido
Setembro
Aos poucos os autores locais têm vindo a utilizar cada vez mais o espaço da cadeia Fnac para
Tenta sempre preparar-nos, consciencializar-nos da nossa motivação nesta vida. E fazer-nos reflectir sobre o nosso papel, na nossa mente, no nosso corpo, na nossa casa, na nossa sociedade, no mundo global. •
“REGRESSO DA MARÉ” 2 OUT | Museu de Portimão Sylvain Bongard apresenta um conjunto de esculturas moldadas à mão, em grés cerâmico, pintadas com uma mistura de vidrados naturais, com formas por vezes fantasiosas que estimulam o imaginário
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Cultura.Sul
Na senda da cultura
Ana Moura encanta com o novo disco ‘Moura’
Mónica Monteiro (com Henrique Dias Freire)
Jornalista monicam.postal@gmail.com
Lagoa, Tavira e Faro, onde esgotou três concertos consecutivos no Teatro das Figuras, foram as cidades algarvias por onde passou Ana Moura durante este Verão. Em digressão com aquele que já é dupla platina, o disco “Moura”, a fadista encerrou os seus concertos de Verão, no Algarve, com um espectáculo memorável no Festival F. Em entrevista ao Cultura.Sul Ana Moura revelou que “é sempre um prazer cantar no Algarve”. “Sou muito bem recebida”, afirmou.
ivo neves
Dos alinhamentos de todos os concertos fizeram parte os êxitos presentes neste novo trabalho, como o single “Dia de Folga”, “Fado dançado” e “Moura Encantada”, canções que reinventam completamente o conceito tradicional do fado, definindo a artista como uma lufada de ar fresco no panorama do fado, onde conseguiu renovar olhares e pensamentos sobre esta música tradicional portuguesa. “Neste disco arrisco ainda mais do que no anterior. Navego por outros ambientes musicais, um pouco fora do comum, uso guitarra eléctrica, uso vários efeitos na guitarra portuguesa. A minha intenção é descobrir coisas novas e não estar constantemente a fazer a mesma coisa que já foi tão bem feita no fado”, realçou Ana Moura. “Moura” já é dupla platina e tem sido “muito bem recebido” Mesmo a arriscar e a experimentar coisas novas o fado de “Moura”
Fadista deu o último concerto de Verão, no Algarve, no Festival F
tem sido “bem recebido”. “Nos primeiros meses o “Desfado”, mesmo sendo o disco mais bem-sucedido da última década em Portugal, não foi logo tão bem recebido como o “Moura”. Este novo álbum está a correr mesmo muito, muito bem”, disse a fadista, acrescentando que a oportunidade de experimentar coisas novas no fado e de o disco estar a ser bem recebido fazerem com que se sinta “duplamente feliz”. Vencedora do Globo de Ouro deste ano, na categoria “Melhor Música”, com o single “Dia de Folga”, Ana Moura já (en)cantou em Itália, França, Inglaterra ou Estados Unidos da América e, depois de um Verão em cheio por todo o Portugal e em particular por todo o Algarve, a tournée internacional regressa já no fim deste mês com concertos no Reino Unido, na Alemanha, na Polónia, na Suécia e no país vizinho, Espanha. •
Feira da Dieta Mediterrânica não é só comida nem é um ‘festival’ Foram aos milhares os visitantes que durante quatro dias invadiram a quarta edição da Feira da Dieta Mediterrânica, em Tavira. “Entre as cinco da tarde e a uma da manhã, Tavira encheu-se, não havia estacionamento, as pessoas foram, todos os dias, aos milhares”, revelou ao Cultura.Sul Jorge Botelho, presidente da autarquia tavirense. O evento, que começou por ser uma consequência da inscrição da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade, tem vindo a crescer favoravelmente e “já deixou há muito tempo de ser um projecto só de Tavira, fazendo agora parte da identidade algarvia”, garantiu o autarca no primeiro dia de Setembro, aquando da inauguração da iniciativa, que Jorge Queiroz, director do Museu de Tavira e coordenador da candidatura da dieta mediterrânica na lista do Património Imaterial da UNESCO, garante não se tratar de um “festival”. “A feira tem variadíssimas dimensões, a dimensão agrícola, a dimensão ambiental, de protecção das espécies botânicas e da fauna do país e da região, a dimensão cultural e de património e a dimensão da saúde e da nutrição, que fomenta a participação activa de várias associações como a Fundação Portuguesa de Cardiologia, a Ordem dos Nutricionistas, a Associaçao Portuguesa de Dietistas e a Administração Regional de Saúde, que aproveitam a vertente saudável e
ivo neves
A Feira da Dieta Mediterrânica é uma aposta na promoção dos produtos locais sustentável do evento, para transmitir informação útil e realizar exames de despiste. Portanto, é muito mais do que música e gastronomia”, realçou o responsável.
Uma tradição milenar que é muito mais do que gastronomia A Feira da Dieta Mediterrânica é uma aposta assumida na promoção
dos produtos locais, do tradicional artesanato e de uma gastronomia com aromas e cores muito próprios, dando valor aos alimentos da época, à variedade e ao conví-
vio à mesa, pormenor muitas vezes esquecido, mas que além de ser característico das sociedades mediterrânicas promove um saudável hábito de comunicação entre as famílias. “As pessoas já vão percebendo, cada vez mais, que a Dieta Mediterrânica e esta feira não se tratam apenas de gastronomia. Claro que explicar e interiorzar que é uma tradição milenar e que mais do que variedade na alimentação existe uma cultura e até um comportamento associados, só lá vai com o tempo, ainda estamos num processo evolutivo, mas pelo menos a adesão é cada vez maior e as pessoas identificam-se com o conceito desta e de outras actividades de promoção da dieta”, frisou Jorge Queiroz. E actividades são o que não falta para promover a dieta. No Museu Municipal de Tavira todos os meses se podem encontrar exposições, oficinas de expressão plástica, passeios, conferências, e diversas acções de educação patrimonial e artística relacionadas com a temática e ainda, já no próximo mês de Outubro, com data ainda por definir, a autarquia, em conjunto com restaurantes aderentes, promove um festival de petiscos mediterrânicos que visa promover, uma vez mais, o convívio e a tradição. Mónica Monteiro monicam.postal@gmail.com •
Cultura.Sul
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Sala de leitura
Moçoilas: o canto da terra inquieta
Paulo Pires
Programador cultural no Município de Loulé http://escrytos.blogspot.pt
Penso na serra algarvia e no feminino, e a primeira imagem que me surge é a de mulheres enérgicas e lutadoras, ora extravasando os seus desejos e anseios através de contagiantes cantigas que espalham por bailes, trabalhos agrícolas e serões domésticos, ora calando as dores e angústias no seu amor maternal e no silêncio que domina a paisagem, ora exorcizando os seus temores em plangentes orações e ladainhas. São mulheres independentes, criativas e empreendedoras, cujas raízes vêm do solo e do lar familiar. São mulheres-árvore (revisito Antonin Artaud), que têm as correntes da terra ligadas às correntes do coração. São mulheres que possuem um entendimento superior das coisas, uma sabedoria ancestral e uma capacidade ritualística, que remonta a tempos primitivos, de conectar corpo e espírito. Os antigos acreditavam que as mulheres estão harmonizadas com os astros, têm vocação para o infinito e que os seus corpos são atravessados pela mesma secreta energia que faz florescer as plantas. José Eduardo Agualusa, numa das suas inspiradas crónicas, conclui que é por isso que elas são naturalmente gregárias, altruístas e sedentárias, ao invés dos homens (nómadas, solitários, egoístas), e que, deste prisma, a sedentarização das civilizações terá sido um triunfo feminino. Um sábio homem idoso de Monchique confessaria mesmo um dia à investigadora Glória Marreiros, num longo périplo desta pelo coração das montanhas, que aprendera muita coisa com os homens e com a vida, mas que só as mulheres realmente lhe ensinaram (a começar por sua mãe) o amor, a música, o morse, a solidariedade, o francês, a leitura e a escrita. As Moçoilas (projecto musical nascido em 1994 e composto actualmente por Margarida Guerreiro, Inês Rosa e Teresa Silva) cantam (ess)a sabedoria, instinto e sensibilidade das mulheres do/ao sul, da serra do Caldeirão, da rura-
lidade, da matriz mediterrânica. O que mais seduz nestas “moças marfadas” (como elas se auto-apelidam) parece ser um peculiar jeito-intuição de agarrar e de transmitir canções, e aí os títulos dos seus dois discos (Já cá vai roubado, de 2000, e Qu’é que tens a ver com isso?, de 2006) sintetizam de forma feliz essa postura: a procura obstinada, e tantas vezes atrevida, de reinvenção do património oral tradicional (surripiar para valorizar; ou, se se quiser, contar um conto acrescentando-lhe um ponto), numa abordagem polifónica que se demarca de receitas e formatações artísticas predefinidas. A mais-valia deste grupo passa muito por uma dinâmica performativa, em palco, que alia cumplicidade, espontaneidade, imprevisibilidade e interacção. Daí os seus concertos serem também uma experiência visual estimulante e não apenas auditiva, fruto do cruzamento e complementaridade entre os diferentes backgrounds musicais (jazz, música tradicional/world music, rock, música para a primeira infância, canto coral polifónico, música antiga…) e formas de estar e sentir das suas protagonistas. A “manêra” singular de (re) contar deste triângulo feminino que privilegia o canto a capella manifesta-se desde logo no facto de ir beber amiúde nos termos e dizeres algarvios, conferindo à sua sonoridade uma roupagem mais rente à terra e às gentes do campo, e assim menos “normalizada”. Mas se na vertente linguística estas três mulheres parecem inclinar-se mais para um assumido rigor etnográfico ao nível interpretativo, já os seus arranjos vocais percorrem uma vasta panóplia de soluções técnicas que vão desde singelos trechos em uníssono até ao recurso ao cânone, segunda/terceira voz, canto em oitava, ou ao recurso a melismas que enriquecem esta musicalidade que sopra das sendas, montes e vales de um Algarve outro. Pelo meio ainda pode haver excertos de letras em inglês (em traduções livres e jocosas), onomatopeias (galos e outros), derivações jazzísticas (durante ou no remate melódico de algumas composições), uso de pequenos instrumentos aqui e ali (pinhas, guizos, ferrinhos, pandeiretas, chávenas) e outras dinâmicas (im)prováveis. Somem-se momentos de ambiguidade cativante, fruto do ambiente de proximidade e partilha que é criado, em que o espectador fica naquele
In memoriam Manuel Viegas Guerreiro (Querença) e Michel Giacometti Ao Daniel Vieira, moçoilo de Alte d.r.
Um outro sul no feminino: entre tradição e reinvenção limbo prazeroso de não saber bem onde, em dada canção, acaba propriamente o ensaiado e começa a dimensão improvisada. São frequentes na tradição oral os relatos que colocam a ênfase no papel da mulher enquanto epicentro da animação dos ajuntamentos colectivos, quer nos bailes, quer em contextos de pausa ou pós-trabalho. Num guia sobre o Algarve publicado em 1927 o escritor e jornalista Raul Proença exaltava “a voz fina das raparigas” que, “junto às casas, nas eiras ou nos campos, nas fiadas do linho, nas descascas do milho ou nas cremeias de lã, a cada momento se desgarra”, “aumentando por assim dizer a poesia e a frescura da serra”. O canto iniciado por uma ou mais vozes femininas, muitas vezes sem acompanhamento instrumental (ou tantas vezes para suprir a ausência de “tocador” ou para animar algum período de pausa do mesmo), está intimamente ligado às movimentadas e brincalhonas “modas de roda”. É sobretudo no riquíssimo cancioneiro entoado nesses bailes que o repertório destas Moçoilas se alicerça, bebendo ainda em despiques, canções de embalar e em solenes e delicadas canções em modo narrativo que revisitam temáticas religiosas (ciclos do Natal, Ano Novo e Reis), relembrando que as gentes da serra têm essa vivência mais conservadora da religião (em relação a quem vive “lá em baixo, no Algarve”, como elas dizem), a qual é indissociável dos “trabalhos dos dias”. Somam-se
também ao repositório musical deste projecto vários quadros de cariz profano (romances pastoris, novelescos, etc.), de que é exemplo “Dona Mariana”, tocante romance de assunto carolíngio recolhido pelo incansável Michel Giacometti em Aljezur nos anos 60 do século passado. Margarida, Inês e Teresa cantam a vontade de emancipação e descoberta de raparigas que querem experimentar o sentimento amoroso e desprender-se do apertado controlo materno. A canção “Eladina”, com que normalmente abrem os seus concertos, inscreve-se nesta linha, e é mesmo uma espécie de mote e manifesto do grupo em favor de mulheres de olhos grandes, com coração aberto ao mundo e horizontes largos: “Eladina pequenina / tua mãe ‘tá t’a chamar / Eu já sei o qu’ela quer / Nã me quer deixar amar // Nã me quer deixar amar / Minha mãe também amou / Eladina pequenina / Minha mãe, lá vou, lá vou.” Mais uma vez é o soltar de amarras e a libertação o que mais entusiasmam estas Moçoilas. Elas querem ser donas do seu nariz, e cantar (até provocatoriamente) o livre-arbítrio, a não imposição de normas, a possibilidade de escolher – no fundo, aquela vontade pura de que fala Artaud, “porque a grande mentira foi fazer do homem [e da mulher] um organismo, / ingestão, assimilação, / incubação, excreção, / o que existia criou toda uma ordem de funções latentes e que escapam / ao domínio da vontade decisora, / a vontade que em cada instante
decide de si”. “Deixa-a a moça deixa-a já / qu’ela não é teu amor” ou “Eu tenho um amor em Alte / Tenh’outro em Benafim / Tenh’outro no Monte Ruivo / Esse é que me alegra a mim” são excertos de letras que ilustram bem este misto de independência, exigência, impetuosidade e orgulho, tantas vezes entoado com uma graça/desconcerto e originalidade que não nos deixam indiferentes: “Tenho tosse no cabelo / Dor de dentes no cachaço / Amargam-me as sobrancelhas / Nã vejo nada dum braço // Andà à roda, andà roda / Anda à roda do vapor / ‘Inda está para nasceri / Quem há-de ser o meu amor.” E se dá jeito ter um rapaz, também dá jeito pô-lo a andar se não corresponder às expectativas. Isto porque o mais atractivo, no final de contas, parecem ser essas danças e contradanças do amor, o despique entre sexos, o desconhecido, o turbilhão de emoções: “Ah que bela uva / Que belo cacho / Que belo moço / Pra deitar abaixo // Deitar abaixo / Levar acima / Que belo mote / Que bela rima.” E se o homem se agiganta, de peito inchado, e apregoa “Eu já fui à tua horta / Eu já fui teu hortelão / Já comi da tua fruta / Nã sei s’outros comeram ou não”, ela não se deixa ficar e responde à altura: “Já foste à minha horta / Mas eu nunca lá te vi / Já comeste da minha fruta / Só num vento que t’eu di”. Pelo meio, em momentos de maior introspecção, lucidez e aprofundamento filosófico, há
quem peça inclusive ao seu amor para este lhe ensinar a sua arte, em moldes plenos de substância: “Ensina-me a aborrecer-te / Que eu não sei senão amar-te.” E há ainda uma dignidade social e um orgulho inerentes ao amor, numa das mais emblemáticas canções do projecto: “Mê amor é serralhêro / Nã deve nada a ninguém.” E porque os afectos trazem também consigo a dúvida e o medo de sofrer: “Já nã acredito / Já nã acredito / Nesse teu olhar / Que os teus olhos são / Que os teus olhos são / Só p’ra m’enganar.” E estando a planície alentejana ali tão perto do Caldeirão, e fruto de tantas viagens sazonais à volta da ceifa, da monda ou da cortiça, em que se levavam e traziam melodias, estas Moçoilas, ao seu jeito (mais ritmado e vivo), também confessam: “Eu quero ir para o altinho / Qu’eu daqui não vejo bem / Quero ir ver do meu amor / S’ele adora mais alguém // S’ele adora mais alguém / S’ele me ama a mim sozinho.” A presença da natureza como metáfora e cúmplice dos amores (“Quanto mais o limão corri / Mais eu quero ao meu amori”; “Milho verde, milho verde / Milho verde, folha larga / À sombra do milho verde / Namorei uma fidalga”; ou “‘Inda não perdeu o cheiro / ‘Inda não perdeu a cor / Ê tenho uma laranjinha / Que me deu o meu amor”) e o respeito pelas coisas mais simples da terra são também tónicas deste modo de sentir um chão que, não obstante a voragem do tempo, quer continuar a pulsar e gritar baixinho. Falo-vos, em suma, de mulheres apaixonadas pelas potencialidades de recriação que o poder mágico da oralidade oferece, num processo criativo que também funciona como uma espécie de pesquisa íntima para cada uma delas. É uma pesquisa-aventura que consiste também em descobrir a essência e força da sua feminilidade, e os (bons) instintos, a criatividade apaixonante e o conhecimento imemorial nela contidos. É um retorno à terra-mãe, ao colo primordial, pelo poder transformador da arte/ música, para (re)conhecer mais profundamente os corredores interiores do ser humano. Uma terra a quem as Moçoilas pagam com “cantigas alegres e falas rumorosas”. E o povo, esse, “junta-se nos largos para as ver passar a caminho das herdades” (Manuel da Fonseca). •
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Cultura.Sul
Espaço ALFA
Festival F com imagens de Marrocos
Direção da ALFA A realização deste festival foi um sucesso para quem gosta de apreciar fotografia e foram muitas as centenas de visitantes que observaram as imagens retiradas em Marrocos no mês de Junho deste ano. Neste momento já é apontado para cerca de 1.700 o número de pessoas que visitaram a exposição ‘Marrocos, País de Encantos’. Todos os fotógrafos participaram cada um deles com duas imagens diferentes e todas com a sua história única que apenas a fotografia com a sua magia a pode contar. Desde os habitantes de Marrocos às belas paisagens tudo foram temas fotografados pelas nossas objetivas.
O Festival F, que contou com vários concertos entre outras atividades, acabou por demonstrar a vontade que as pessoas têm em apreciar ex-
posições fotográficas. Foram muitos os comentários positivos deixados por quem viu Marrocos com os nossos olhos e que dão mais vontade de
continuar a desenvolver estas atividades. Pode ainda deixar o seu comentário das fotografias expostas enquanto aprecia a beleza da Ria Formosa ali
ao nosso lado. Saliente-se que esta é uma exposição atualmente patente até dia 30 de Setembro na sede da ALFA, na Galeria
ARCO, em Faro, e pode ser apreciada de terça a sexta-feira das 15 às 19 horas. Esperamos por si. Apareça e visite-nos! •
Filosofia dia-a-dia
Onde é que eu vivo?
Quando pratico, sou um filósofo, quando ensino, sou um cientista, quando demonstro, sou um artista. B.K.S. Iyengar
Consultora Filosófica
Certo dia, B.K.S. Iyengar (1918-2014) colocou esta exacta pergunta aos seus discípulos. Algum dos mais incautos talvez tenha respondido “Puna”, a cidade indiana onde Iyengar criou a sua escola de Yoga, uma referência incontornável para qualquer praticante desta arte. E se eu vos disser que, segundo Iyengar, se qualquer um formulasse a si próprio esta pergunta, a resposta seria sempre a mesma? Perguntará o leitor como será isto possível, e passar-lhe-ão pela cabeça um sem número de respostas divergentes, de Tavira aos seus antípodas e arredores! Pense um pouco, caro leitor, não se distraia... Qual seria a resposta que todos, sem excepção, daríamos em uníssono? “Onde é que eu vivo? No meu corpo!”
d.r.
Maria João Neves Ph.D
Em que é que a nossa percepção habitual do corpo se altera com esta resposta? O corpo passa a ser tomado como uma casa da qual somos hóspedes. Ocupamo-lo durante algum tempo mas não nos pertence. O corpo é algo provisório que algum dia perecerá, mas, o hóspede que o habita e que com ele não é coincidente poderá ter outro destino. Idiosincrasias do corpo No Ocidente o corpo é frequentemente vivido como um obstáculo. Platão (428/348 a.C.) no Fédon afirma que os sentidos são como pregos que cravam a alma no corpo. A morte surge como uma libertação, pois a mente poderá então dedicar-se, sem distracções, à busca de conhecimento. Pelo contrário, no Oriente, possuir o precioso corpo humano é o maior privilégio que se pode obter. Apreciemo-lo na Parábola da Tartaruga: “Imagine que todo o universo se transformou num infinitamente vasto mar azul. Flutuando na superfície desse
sidual dos pulmões (que intoxica o corpo e a mente); e gerar a motivação apropriada (que consiste em receber os ensinamentos com sentido em transformar-se num Bodhisattva e comprometer-se a salvar todos os seres sencientes do Samsara). Considera-se que se o discípulo não estiver “limpo” os ensinamentos vão cair num recipiente sujo e ficar contaminados. Yoga
mar há uma canga de madeira (objecto que serve para atrelar os animais à carroça). Descansando no fundo do mar há uma tartaruga cega que nada até à superfície apenas uma vez cada cem anos. Esta tartaruga cega desconhece a existência da canga que sobe e desce sendo atirada para cá e para lá pelas ondas. Uma vez que a tartaruga só vem à superfície uma vez em cada século, qual é a probabilidade dela vir a colocar a canga de madeira? Ínfima, certo? Porém, Buda diz-nos que é muito mais fácil a tartaruga
conseguir colocar a canga do que um ser consciente conseguir adquirir um corpo humano repleto de liberdades e vantagens”. Os Budistas vêem o precioso corpo humano como uma condição sine qua non de acesso à iluminação. Claro que temos de nos libertar do desejo, da aversão e da indiferença, mas corpo e mente têm de trabalhar em conjunto. Na tradição tibetana, para receber ensinamentos, não somente sentar-se correctamente é um requisito prévio como também desintoxicar expirando o ar re-
Quando o corpo está doente ou o sistema nervoso afectado, a mente fica inquieta, embotada, inerte, e a concentração ou meditação tornam-se quase impossíveis. O problema do controle da mente requer um grande esforço, como se depreende do diálogo entre Arjuna, o grande guerreiro, e Krishna, avatar do Hinduísmo, no Bhagavad-Gita: “Krishna, falaste-me do yoga como de uma comunhão com Brahman (o Espírito Universal), que é sempre uno. Mas como pode ela permanecer se a mente
é tão inquieta e contraditória? A mente é impetuosa e obstinada, forte e voluntariosa, tão difícil de dominar quanto o vento”. “Sem dúvida, [Arjuna], a mente é incansável e difícil de controlar. Mas pode ser treinada pela prática constante. Um homem incapaz de controlar a sua mente achará difícil atingir essa comunhão com o divino; mas o homem que se controla pode atingi-la se se esforçar e dirigir a sua energia pelos meios adequados”. Nos seus Yoga Sutras Patanjali identifica nove distracções e obstáculos que atrapalham a prática. A primeira delas é a doença que perturba o equilíbrio físico. A saúde é o alicerce a partir do qual se edifica tudo o resto. As reflexões sobre os textos da rubrica Filosofia dia-a-dia continuam nos Cafés Filosóficos que se realizam em Tavira e Faro em Português e Inglês. Para mais informações contacte: filosofiamjn@gmail.com •
Cultura.Sul
16.09.2016
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Artes visuais
Pode a arte estar ligada ao turismo?
Saul Neves de Jesus
Professor catedrático da UAlg; Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora
O turismo é uma das principais fontes de receitas de Portugal e do Algarve, em particular. Recentemente, foram novamente atribuídos vários prémios internacionais que expressam o reconhecimento do nosso país e da nossa região como destinos turísticos de referência a nível mundial. Esta excelência conseguida no plano turístico tem muito a ver com o clima, as paisagens naturais, a beleza das praias, as infraestruturas hoteleiras e os campos de golfe, mas tem passado também por uma aproximação às artes, em particular às
agenda de investigação em turismo criativo em pequenas cidades e zonas rurais. Este projeto, com a duração de três anos, decorrerá até 2019 e envolve investigadores da Universidade do Algarve, em particular do CIEO (Centro de Investigação em Espaços e Organizações) e do CIAC (Centro de Investigação em Artes e Comunicação). No próprio alojamento turístico tem havido uma cada vez maior aproximação às artes visuais, havendo, inclusivamente, hotéis que se apresentam com designações que revelam isso de forma muito explicita. Por exemplo, o VIP Executive Art’s Hotel, hotel de 4 estrelas em Lisboa, ou o Eurostars das Artes Hotel, hotel de 4 estrelas no Porto. O nome destes hotéis revela a valorização das artes, seja pela arquitetura e decoração utilizada, seja pelo investimento nas obras expostas de forma permanente, seja por exposições temporárias de artistas vários. Este tipo de designa-
fotos: d.r.
Foto do quarto inserido na paisagem dos Alpes Suíços e artistas conceptuais Patrick e Frank Riklin têm vindo a desenvolver. Em geral, os hotéis que procuram uma associação explícita às artes visuais são hotéis de 4 ou de 5 estrelas, procurando esta relação com as artes ter um caráter distintivo que permita a sua valorização. Ao contrário, estes artistas têm explorado o conceito de
Foto de hóspedes no quarto criado nos Alpes Suíços artes visuais. A nível académico, esta relação entre arte e turismo tem vindo também a ser cada vez mais reconhecida. A título de exemplo, no curso de Turismo da Universidade Lusófona há uma disciplina com a designação de Arte e Turismo. Também merece particular destaque a investigação científica realizada. Ainda recentemente foi financiado a nível europeu o projeto CREATOUR, que tem como objetivo desenvolver uma
ção pode ainda traduzir que o hotel está localizado numa zona próxima de museus ou galerias de arte. É o caso do Hotel Paseo del Arte, hotel de 4 estrelas situado em Madrid, naquilo que costuma ser considerado o “triângulo das artes”, englobando o Museu do Prado, o Museu Thyssen Bornemisza e o Centro de Arte Reina Sofia. Mas neste artigo sobre as relações entre as artes e o turismo gostaríamos de fazer uma referência particular aos trabalhos que os irmãos
0 estrelas (“Null Stern”, em alemão), procurando mostrar os benefícios da liberdade e da independência no turismo. A liberdade associada à criatividade e ao prazer da expressão artística tem sido um dos aspetos mais evidenciados nas várias formas de manifestação de atividade artística, conforme tivemos oportunidade de analisar em números anteriores, em particular quando procurámos responder às questões “Qual a margem
de liberdade do artista?” e “Onde está a “pureza” na produção artística?”. Também nas produções dos irmãos Riklin é esse um dos aspetos principais a ter em conta. Nesse sentido, criaram recentemente um quarto de hotel nos Alpes Suíços, no cantão de Grisons, sem paredes nem teto. A instalação constituída por ape-
oxigénio puro. Conforme refere Patrick, “the mountains are the imaginary building of the new Null Stern” (“a montanha é o edifício imaginário do novo conceito de 0 estrelas”). Desta forma, os artistas pretendem pôr em causa a classificação dos hotéis e mostrar que um espaço com zero estrelas não significa uma coisa má, mas antes
magia dos quartos que criam é tratarem-se duma fantasia real, ou seja, estarem em lugares onde não se espera encontrar uma cama de casal. Um outro exemplo desses lugares especialmente criado pelos irmãos foi numa antiga fábrica nuclear próxima de St. Gallen, na Suíça, que foi transformada em dormitório. Cerca de três mil pessoas terão pago cerca de 15 euros para ficarem aí alojadas. No caso do quarto nas montanhas suíças, o valor do quarto aproxima-se dos 200 euros por noite, havendo já uma lista de espera até ao verão do próximo ano, de acordo com o site oficial do projeto. Como resposta à elevada procura, os artistas tencionam ampliar o número de camas para 25, em diferentes vales da Suíça. Conforme referem, “maybe Switzerland can be the first country to become a hotel” (“talvez a Suíça possa ser o primeiro país a tornar-se um hotel”). Parece-nos que, nesta perspetiva, os irmãos começam a situar-se mais com uma pos-
Foto de hóspede no quarto criado numa fábrica nuclear nas uma cama de casal e um par de candeeiros, pretende simbolizar o oposto, aquilo que é geralmente considerado o turismo de luxo, com os hotéis a pretenderem ter cada vez mais estrelas, como se isto fosse sinónimo de qualidade. Assim, o luxo artificial que caracteriza os quartos de hotel fechados, com ar condicionado e decorados com quadros, é substituído pelo luxo da relação direta com a natureza, da vista deslumbrante que esta faculta e da respiração de
independência e liberdade. Um pouco na linha da ideia de que são as pessoas que fazem os ambientes, para eles, pouco importam as estrelas atribuídas aos hotéis, pois os utentes é que devem ser as verdadeiras estrelas no processo. Conforme referem, “the only star is you” (“a única estrela és tu”). Esta instalação insere-se num projeto mais vasto de conceção de ambientes de alojamento turístico iniciado em 2008 pelos dois irmãos. Segundo estes artistas, a
tura de agentes turísticos do que de artistas, embora isso não diminua a mais valia do conceito que criaram e concretizaram enquanto homens da arte. Num próximo artigo iremos aprofundar as relações entre o turismo e a arte, através da análise de realizações feitas em arte urbana, bem como iremos procurar analisar outra forma de aproximação das artes visuais à natureza, através do movimento desenvolvido no âmbito da “land art”. •
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Cultura.Sul
Da minha biblioteca
As mentiras que os homens contam de Luís Fernando Veríssimo Adriana Nogueira
Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com
AGENDAR
Quando este jornal sair, estará a decorrer, em Faro, a Semana do Brasil. Por isso, escolhi um dos autores brasileiros que tenho na minha biblioteca: Luís Fernando Veríssimo (filho de Érico Veríssimo, um dos homenageados na exposição patente na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, em Faro, até 30 de setembro). Escritor multifacetado (jornalista, revisor de textos, tradutor, cronista, guionista, cartoonista), tem uma grande capacidade de observação e de passar para a escrita situações ridículas que nos podem ser (mais ou menos) familiares e que, precisamente porque nos reconhecemos nas caricaturas que ele traça com tanta perfeição, nos faz rir da figura que, tantas vezes, fazemos, ou se nos faz apertar o coração perante as tragédias que nos descreve de uma forma humorística, tudo isto intercalado com momentos de ternura e de respeito pelas personagens mais simples. O livro que selecionei chama-se As mentiras que os homens contam e inclui algumas das histórias de Comédias da vida privada, por sua vez o resultado da compilação de crónicas que o autor foi escrevendo em jornais onde trabalhou. Esta coletânea, que foi um êxito no Brasil, é composta de pequenas histórias muito visuais e teatralizáveis, tendo dado origem a uma série televisiva e a várias adaptações para o teatro. Na verdade, o que me levou a comprar este livro foi o ter as-
fotos: d.r.
sistido a uma peça intitulada «A comédia da vida privada», em 2001, interpretada por Rosana Cordovani e Eduardo Gaspar (ator e encenador brasileiro radicado em Portugal, autor de espetáculos como o premiado Gisberta – interpretado por Rita Ribeiro – ou do recentíssimo Gangsters na Broadway), que também foi o responsável pela adaptação dos textos. Atualmente, a associação Margem Narrativa tem a peça em cartaz, interpretada por quatro mediáticos atores: Almeno Gonçalves, Joaquim Nicolau, Fernando Ferrão, António Melo. O guionista e crítico das hipocrisias Algumas das histórias do livro revelam a faceta de guionista de Luís Fernando Veríssimo: além de excelentes diálogos, há indicações de cena, que nos fazem visualizar a ação, como na crónica «Nobel» (pp.89-90: «– Eu inventei o nome. O Roger Paillac não ganhou prêmio Nobel e nunca vai ganhar porque não existe. (Silêncio.) – Rá. Te ganhei. (Silêncio.) – Escuta. Você… Eu… Era brincadeira… ESPERA! (Sons de briga. Alguém sendo esgoelado.) – Socorro! Au secour! Soc. (Silêncio.)» Muitas das histórias giram em torno das mentiras que se dizem por pedantismo intelectual e hipocrisia social. E as dramáticas consequências dessas atitudes. Obviamente que, pelo exagero das reações das personagens, rimo-nos, mas é impossível não reconhecer as situações anedóticas em que frequentemente nos colocamos ao dizer a chamada «mentira piedosa». No conto «Sebo» (um sebo é uma espécie de alfarrabista), um leitor narra a visita que um jovem autor lhe
ri com tristeza e abre os braços como quem diz “É difícil conversar com leigos…”». Incomunicabilidade e absurdo
Livro reúne um conjunto de crónicas que o autor foi escrevendo em jornais faz (pp.23-25). Para agradar ao rapaz, à pergunta « – Você leu meu livro?», o leitor insiste veementemente que sim, reconhecendo em si «Essa terrível necessidade de não magoar os outros. Principalmente os autores novos», deixando ambígua se «Essa obscena compulsão de ser amado» é do leitor ou do autor. No final percebemos que o narrador já morreu e que, mesmo assim, confunde mentira com boa-educação: « Ele seguira a pista de 16 dos 17 compradores e os estrangulara. Faltava o décimo sétimo. (…) No livro tinha um cacófato horrível. Ele não podia suportar a idéia de descobrirem seu cacófato. – Eu não notei! Eu não notei! – protestei. Não adiantou. Ninguém que tivesse lido o livro podia continuar vivo. Ele queria deixar o mun-
do tão inédito quanto nascera. – Mas essas coisas não têm import... – comecei a dizer. Mas ele me pegou e me estrangulou. Bem feito! Para eu aprender a não ser bem-educado. Meu consolo é que depois ele descobriria que as páginas do livro não tinham sido abertas e o remorso envenenaria
“RELÍQUIAS DO SOTAVENTO” Até 22 SET | Mercado de Castro Marim Peças em pintura, tapeçaria e técnicas mistas, criadas pelos utentes da ASMAL, mostram alguns elementos que integram o património histórico e natural do sotavento algarvio
suas noites. Enfim. É o que dá freqüentar sebos.» Por vezes, o autor faz análises dos tipos sociais conhecidos de todos, como este («O Jargão», pp. 65-7): «Nenhuma figura é tão fascinante quanto o Falso Entendido. É o cara que não sabe nada de nada mas sabe o jargão. E passa por autoridade no assunto. Um refinamento ainda maior da espécie é o tipo que não sabe nem o jargão. Mas inventa. (…) – Você, no momento, aconselharia que tipo de aplicação? – Bom. Depende do yield pretendido, do throwback e do ciclo refratário. Na faixa de papéis top market – ou o que nós chamamos de topi-maque – , o throwback racai sobre o repasse e não sobre o release, entende? – Francamente, não. Aí o Falso Entendido sor-
Em última análise, a incomunicabilidade, ou a má comunicação, é o fulcro das crónicas, como a amante que não entende a linguagem elaborada e metafórica que o amante usa («Cultura», pp. 133-5): «E ele disse: “A tua modéstia é como o rubor que assoma à face de rústicas campônias acossadas num quadro de Bruegel, pai, enaltecendo seu rubicundo encanto e derrotando o próprio simular de recato que a natureza, ao deflagrá‐ lo, quis.” E ela disse: “Cumé que é?”» Através de situações absurdas, Luís Fernando Veríssimo conta-nos como as pessoas preferem ceder às convenções a dizerem o que pensam. Na história «Lar desfeito» (pp. 125-7), os filhos conseguem que os pais – um casal que se adora – se separem, pois são os únicos miúdos na escola sem problemas familiares e isso fá-los sentirem-se diferentes e não integrados. Os pais encontram-se às escondidas num motel: « – Será que fizemos o certo? – Acho que sim. As crianças agora não se sentem mais deslocadas no meio dos amigos. Fizemos o que tinha que ser feito. – Será que algum dia vamos poder viver juntos outra vez? – Quando as crianças saírem de casa. Aí então estaremos livres das convenções sociais. Não precisaremos mais manter as aparências. Me beija.» Posteriormente, em 2015, Luís Fernando Veríssimo fez uma variação deste livro, noutra coletânea chamada As mentiras que as mulheres contam, mas esse eu não tenho nas minhas prateleiras. Nem li. Acreditem. •
“MEANDROS” Até 29 OUT | Convento do Espírito Santo - Loulé A partir de uma árvore centenária abatida devido a um fungo, Paulo Neves reelabora toda uma nova vida em cada objecto autónomo que cria