CULTURA.SUL 59 - 05 JUL 2013

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Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

JULHO 2013 | n.º 59 9.253 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve d.r.

Juventude, arte e ideias:

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Leituras Zen ou uma reinvenção do poético

p. 9

Tristezas não pagam dívidas p. 2

Aqui há espectáculo: d.r.

Repto à Direcção Regional de Cultura

p. 4

Espaço Património: d.r.

d.r.

Turismo e Património p. 9

Espaço Cultura:

d.r.

Património Mundial:

Criar Cultura no Algarve

p. 12

Coimbra tem mais encanto p. 5


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05.07.2013

Cultura.Sul

Editorial

Espaço CRIA

O mau, como o bom...

Poderá a Cultura competir com a praia? da produção da exposição ‘Holidays in the Sun’, produzida pelo Museu Serralves, no âmbito do programa Allgarve’08, em que várias praias algarvias foram ocupadas por instalações de

Ricardo Claro

Editor ricardoc.postal@gmail.com

Há que falar sobre o mau como sobre o bom. Prefiro o bom ainda que menos dado a parangonas e desta feita escrevo sobre o que de positivo se vai fazendo. Depois de em Março ter dedicado este mesmo espaço ao definhar das salas de cinema na região, eis que o faço agora para dar nota de sentido inverso. O responsável pelo prazer de escrever estas linhas é o empresário Carlos Matos e aqui fica o meu, como decerto o de todos os algarvios, agradecimento. Pela mão de Carlos Matos o cinema regressa a Lagos, anos volvidos sobre o abandono pela sétima arte da cidade do Infante, e com este regresso retorna a melhor arma para a criação de públicos para o grande ecrã numa realidade que extravasa largamente a cidade lacobrigense e se estende a todo o extremo noroeste da região. Boas notícias portanto e enquanto tal dignas de nota. Sinais positivos a que se junta o regresso das mostras de cinema de Tavira que retornam à cidade do Gilão já este mês, ao mesmo tempo que Faro repete o cinema ao ar livre, tendo como palco o Museu Municipal. Importa pouco em face disto saber se o que se conseguiu entretanto é a semente para um cinema dito de qualidade e ‘alternativo’ ou para um cinema de massas e de cariz comercial. Importa que é cinema, que é arte e cultura. Importa que é um volte face no definhamento da expressão da arte cinematográfica no Algarve, importa que há quem se esforce e o almeje e quem, acima de tudo, o consiga. Eis, pois, razões sobejas para o regozijo e o que se pede é exactamente este caminho, no cinema, como em todos os campos da cultura, a bem de todos e do Algarve em particular.

d.r.

Marisa Madeira CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg

Junho inaugura o Verão, mês de excelência do início da época balnear, das idas constantes à praia, das férias, dos eventos ao ar-livre, de e(n)-turistasi que vêm encher as praias, hotéis e restaurantes. A região transforma-se numa agitação inigualável e anualmente, durante sensivelmente quatro meses, sinto este déjà vu de lotação esgotada neste Algarve a que pertenço e que me faz ser cada vez mais exigente, preocupada, com o dever de ser mais participativa e activa no ‘culto da cultura’ e não no ‘culto do bronze’. O paradigma repete-se todos os anos, boiamos na sensação de estranheza que cultura não conjuga bem com praia, nem praia conjuga bem com arte e assim estendemos as nossas toalhas com este sentimento de incompatibilidade. Para colmatar esta ligação considerada impossível, num passado breve enfatizou-se a lógica ‘se os banhistas não procuram a Arte, a Arte vai até à praia’ aquando

as valências da Cultura: não é sazonal, é activa todo o ano, acessível, não é limitada, é atingível, mutante, permite-nos diversas experiências, proporciona aprendizagem, desenvolvimen-

arte contemporânea. Ter-se-ia criado um novo conceito (de arte balnear?) numa óptica crítico-social da relação existente entre o Turismo, do desejo de non fare niente versus o papel da Cultura ou da Arte em locais turísticos. A praia, o sol e o golfe têm vendido muito bem a imagem da região, estamos gratos por isso, mas não seria mais inovador e gratificante promover o Algarve como a região da Cultura, do Design, da Produção Artística e da Criatividade? Vou então dar o meu sermão aos peixes sobre

to pessoal e social e traz benefícios para o desenvolvimento da Economia. Tais características são igualmente viáveis de se ligarem com o Turismo, sendo urgente praticar-se o ‘Turismo Criativo’ que visa dar ênfase às exigências do ‘novo turista’, que procura ofertas culturais e genuínas. O turista é muito exigente e as gentes locais também deverão sê-lo, está na altura! Há que tirar das profundezas toda a nossa vontade e imaginação submersa, há que ser-se arrojado e aproveitar as potencialidades da nossa aldeia, vila, cidade e re-

Ficha Técnica: gião. Existem factos e artefactos históricos que evidenciam a riqueza do Algarve, mas cabe-nos também produzir a História e a Cultura do presente e do futuro. A criatividade é de entrada livre e permite muita coisa, por isso deixemos de lançar ao mar boas ideias para que depois as percamos na rede dos anos que passam. A pescaria nem sempre é boa, sabemos disso, mas é preferível algo consumível do que nada; assim acontece com a Cultura. Mergulhemos no melhoramento de alguns aspectos: reformular a mensagem promocional nacional e internacional da região, evidenciando a tradição e a contemporaneidade; execução de um estudo aprofundado sobre o impacto da Cultura, tanto para a região como para o Turismo, para que ajude os agentes na efetivação de acções ou projectos; que se dê mais atenção às próximas edições do Algarve Design Meeting e do Design & Ofícios e a novos projectos que irão surgir e que se valorize mais as comunidades criativas e artísticas. Esta abordagem sobre o estado da Cultura do Algarve fica muito aquém das comunicações de quem sempre transmitiu genuinidade algarvia, paixão, respeito e (muitas vezes) preocupação, o Professor Doutor António Rosa Mendes. Obrigada pela sua marcante passagem, ensino e partilha. i e (turistas estrangeiros); n (turistas nacionais) – criação da autora.

Juventude, artes e ideias

Tristezas não pagam dívidas Pedro Saldanha Já estamos no Verão e as férias aí à porta. Férias para cada vez menos, dado o nível de desemprego, e cada vez mais contidas, devido ao custo de vida. Valham-nos os santos - os populares - e a sardinha assada, para não nos pormos todos daqui a marchar. Junho foi mês de festa e do solstício, mas, para mim foi

também mês de reflexão. Completei, no dia 22, 35 anos de existência neste planeta e permitam-me o desabafo, jamais pensei chegar a esta idade com tantas incertezas quanto ao meu futuro profissional, ao mesmo tempo que assisto frustrado e impotente, ao definhar económico-social do meu país, sem uma estratégia política para o futuro que reúna consensos e esperança popular. De facto, temos um governo completamente agrilhoado pela ajuda financeira da Troika e com uma obsessão compulsiva em provar a Bruxelas, que Portugal pagará a sua dívida pública a tempo

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e horas, mesmo que para isso grande parte dos portugueses tenham de morrer à fome! Enfim, a nossa tristeza é que não pagará esta dívida certamente! Por isso, toca a ter esperança em dias melhores, apanhar o embalo das marchas e aproveitar as festas e eventos culturais que todo o ano animam a nossa região, em particular, a minha terra, que é Olhão. Aproveito para endereçar um bem-haja a todos os agentes culturais deste município! Pois têm desenvolvido um grande esforço para que Olhão não caia numa apatia cultural.

Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Ricardo Claro Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • Contos da Ria Formosa: Pedro Jubilot • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço CRIA: Hugo Barros • Espaço Educação: Direcção Regional de Educação do Algarve • Espaço Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Momento: Vítor Correia • Panorâmica: Ricardo Claro • Património: Isabel Soares • Sala de leitura: Paulo Pires Colaboradores desta edição: Carlos Campaniço Francisco Alvo Marisa Madeira Paulo Serra Pedro Saldanha Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelagoncalves3@gmail.com

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem: 9.253 exemplares


Cultura.Sul

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Grande ecrã Cineclube de Faro

Programação: cineclubefaro.blogspot.pt Mostra de Cinema ao Ar Livre Museu Municipal | 22 horas

18 JUL | THE MASTER - O MENTOR, Paul Thomas Anderson, EUA, 2012, 144’, M/16 19 JUL | TABU, Miguel Gomes, Portugal, 2012, 110’, M/12 22 JUL | NÃO, Pablo Larraín, Chile, 2012, 118’, M/12 23 JUL | À PROCURA DE SUGAR MAN, Malik Bendjelloul, Suécia, 2012, 85’, M/12 24 JUL | OS AMANTES PASSAGEIROS, Pedro Almodóvar, Espanha, 2013, 90’, M/16 25 JUL | BESTAS DO SUL SELVAGEM, Benh Zeitlin, EUA, 2012, 93’, M/12 26 JUL | NOUTRO PAÍS, Hong Sang-Soo, Coreia do Sul, 2012, 89’, M/12 29 JUL | BELLAMY, Claude Chabrol, França, 2009, 110’, M/12 30 JUL | A RAPARIGA DE PARTE NENHUMA, Jean-Claude Brisseau, França, 2012, 91’, M/12 31 JUL | POST TENEBRAS LUX, Carlos Reygadas, México, 2012, 115’ Todos os filmes serão antecedidos por curtas-metragens portuguesas

Museu de Faro recebe sétima arte O Melhor Cinema ao Ar Livre volta ao mágico espaço dos Claustros do Museu Municipal de Faro! De novo com o apoio financeiro da Direção Regional da Cultura do Algarve (sem o qual não poderia ser concretizada esta Mostra), durante 10 dias daremos um conjunto de 20 filmes. Antecedendo cada uma das longas-metragens, oferecemos uma curta-metragem portuguesa, escolhida de entre a melhor produção nacional. O nosso critério de seleção destas curtas-metragens teve a ver, por um lado, com o entrosamento com a organização do Festival Farcume, pelo que exibiremos alguns dos premiados da sua edição do ano passado; por outro lado, com a recém edição do livro “Geração Invisível: Os Novos Cineastas Portugueses”, que será lançado pela sua autora durante a Feira do Livro que iremos promover a par das sessões de cinema, escolhemos cinco curtas-metragens, como, por exemplo, de Sandro Aguilar, Filipe Melo ou do multi-premiado João Salaviza. Quanto às longas, ressalta a grande qualidade delas, a sua diversidade geográfica e, igualmente, a variedade de géneros presente: temos desde dramas psicológicos, como o Oscarizado O Mentor, até filmes de intervenção política, como o chileno Não, a comédia tres-

Cineclube de Tavira

Programação: www.cineclubetavira.com 281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 440 cinetavira@gmail.com d.r.

Cinema ao ar livre regressa a Faro loucada de Almodovar, a poesia do fantástico de As Bestas do Sul Selvagem, o documentário musical sobre Stephen “Sugar” Segerman (filme que arrebatou o Óscar para Melhor Documentário), o pendor policial de Bellamy ou a dimensão metafísica do mexicano Post Tenebras Lux… Uma magnífica seleção, à qual com certeza não irá faltar! Cineclube de Faro

13ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira | Claustros do Convento do Carmo (ar livre) | 21.30 | reservas/ booking: contactos acima / contact above 12 JUL | RISING HOPE Milen Vitanov, Alemanha 2012 M/4 (10’) + INTOUCHABLES (AMIGOS IMPROVÁVEIS), Olivier Nakache & Eric Toledano, França 2011 (112’) M/12 13 JUL | SALMON FISHING IN THE YEMEN (A PESCA DO SALMÃO NO IÉMEN), Lasse Hallström, Reino Unido 2011 (107’) M/12 14 JUL | MOMENTOS, Nuno Rocha, Portugal 2010 M/6 (7’) + THE ARTIST (O ARTISTA), Michel Hazanavicius, França/Bélgica 2011 (100’) M/12 15 JUL | TABU, Miguel Gomes, Portugal/ Alemanha/Brasil/França 2012 (110’) 16 JUL | VICKY AND SAM, Nuno Rocha, E.U.A./Portugal 2010 M/12 (14’) + LE HAVRE, Aki Kaurismäki, Finlândia/França/Alemanha 2011 (123’) M/6 17 JUL | EN KONGELIG AFFÆRE/A ROYAL AFFAIR (UM CASO REAL), Nikolaj Arcel, Dinamarca/Suécia/República Checa 2012 (137’) M/12

Espaço AGECAL

António Rosa Mendes (1954 – 2013) historiador e gestor cultural

A DIRECÇÃO DA AGECAL O desaparecimento tão prematuro de António Rosa Mendes despertou em muitos que com ele convivemos e privámos, sentimentos de tristeza e luto, mas também recordações pessoais e colectivas que sempre se avivam nestes momentos. Não podia a AGECAL deixar de prestar neste espaço uma homenagem pública, em primeiro lu-

gar porque António Rosa Mendes era atualmente o nosso Presidente da Assembleia Geral, também porque nestas funções manteve uma atitude exemplar, sempre presente e construtivo, solidário. Ele considerava a AGECAL imprescindível ao Algarve, como o afirmou na nossa última AG realizada a 27 de Março, uma estrutura importante numa região culturalmente pouco valorizada e compreendida. Via nesta associação, como nós, não apenas uma voz independente, de reflexão e formação, mas também “massa crítica” para influenciar a presença da cultura como dimensão essencial do desenvolvimento regional equilibrado, sobretudo num momento de esgotamento do modelo unívoco.

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“A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA”

Durante a Faro 2005 – Capital Nacional da Cultura, da qual foi Presidente da Estrutura de Missão, António Rosa Mendes bateu-se com a equipa de programação pela descentralização do projecto a todo o Algarve, pela promoção do património cultural nacional e regional. Nesse ano editaram-se filmes e livros, concretizaram-se dezenas de exposições sobre a arte portuguesa e de diversas épocas, do património antigo ao contemporâneo, foram apresentados espectáculos de teatro, música e dança. Em Março de 2006, encerrados relatórios e contas gerais e sectoriais, não havia qualquer dívida por pagar, este pormenor define o respeito pelos que trabalham. Participou como docente no mes-

6 JUL | 21.30 | Teatro das Figuras - Faro A Companhia Nacional de Bailado apresenta o programa que assinala o centenário da estreia do bailado acima referido

trado em “Gestão Cultural” da Universidade do Algarve, proposto pela AGECAL e que formou algumas dezenas de jovens universitários Como professor e investigador conhecia profundamente a História do Algarve e o seu riquíssimo passado. Para além da bibliografia de âmbito universitário deixou-nos alguns dos mais incisivos e corajosos textos em defesa do património regional, parte dele destruído pela ignorância e a ganância especulativa. No combate cívico bateu-se contra o novo-riquismo cultural, não poupando críticas ao glamouroso “allgarve”, também a fenómenos pseudo-populares da cultura. António Rosa Mendes foi alguém que amou o seu País e o Algarve. Via a história da região como uma

continuidade, um instrumento fundamental para compreender o País e projectar correctamente o futuro. Foi um humanista, um combatente por valores e causas. Por isso centenas de pessoas acompanharam a despedida em Cacela Velha, pequena pérola envolvida por paisagens encantatórias, que guardará para sempre um dos seus melhores filhos. É um lugar-comum dizer-se que não há insubstituíveis. Verdade ilusória, porque existem alguns que, pela correcção de processos e dignidade cívica, por aquilo que dão à comunidade, se distingam na singularidade e deixem um enorme vazio. Teremos saudades tuas, António.

“SKETCHES FROM OUTER SPACE”

13 JUL | 21.30 | Teatro Municipal de Portimão Filipe Valentim apresenta na Black Box um concerto/performance onde realizará a solo, com um saxofone, uma série de “rascunhos” musicais improvisados


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Cultura.Sul

Aqui há espectáculo

Carlos Campaniço

Programador

No artigo anterior, e no que concerne às artes de palco, manifestei a minha preocupação pela monocultura comercial que alastra e se instala nas sa-

áreas, pelo abandono do programa Educação pela Arte, da DREAlg, e pela vivificante importância da cultura no crescimento dos neófitos, tenho a ousadia de deixar um repto à Direcção Regional de Cultura, na pessoa da sua Directora Regional, Dra Dália Paulo, acreditando que tem o perfil adequado para este desafio. Tenho para mim que, o trabalho generoso e competente que Dália Paulo tem apresentado, poderá ser reforçado e aprofundado com o debruçar

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt 5 JUL | La Valse – A Sagração da Primavera, Companhia Nacional de Bailado, 21.30 horas, duração: 1h18, preço: 15 € e 5 € para menores de 30 anos 13 JUL | Vamos lá então perceber as mulheres… mas só um bocadinho, por Marta Gautier (humor), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 10 € 21 JUL | Gala do XIII Workshop de Dança, Companhia de Dança do Algarve, 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 10 €

Destaques

Repto à Direcção Regional de Cultura

5 JUL | La Valse – A Sagração da Primavera, Companhia Nacional de Bailado, 21.30 horas, duração: 1h18, preço: 15 € e 5 € para menores de 30 anos La Valse, de Maurice Ravel, é uma metáfora à decadência da Europa após a Primeira Guerra Mundial. Na curta-metragem homónima, João Botelho e Paulo Ribeiro transpõem-na para a actualidade, sendo fiéis à ideia do compositor que denominara

esta sua criação, como poema coreográfico. A Sagração da Primavera, de Olga Roriz, é um apelo à redenção e à confiança no futuro. É uma demonstração de luta contra a submissão, ou o medo. É um clamor de convicção, de pujança e de dinâmica.

13 JUL | Vamos lá então perceber as mulhere... mas só um bocadinho, por Marta Gautier (humor), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 10 €

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Em “Vamos lá então perceber as mulheres… mas só um bocadinho”, o público terá oportunidade de ver Marta Gautier em palco a, literalmente, dissecar o que de tão complexo se passa no universo pessoal feminino: desde as vivências enquanto amigas, passando pela juventude, a experiência da maternidade e sim, o casamento…, e um dos grandes méritos desta peça

é que finalmente os homens percebem o que se passa com as mulheres… “… mas só um bocadinho”. Mais de 20 mil pessoas já viram esta peça que regressa, agora, aos palcos nacionais na sua tournée nacional, passando por Beja, Guimarães, Porto, Braga, Estarreja, Lagoa, Figueira da Foz, Fafe, Tróia, Caldas da Rainha, entre muitas outras cidades, e agora apresenta-se em Faro.

Cine-Teatro Louletano Programação: http://cineteatro.cm-loule.pt 6 JUL | LX Comedy Club (stand-up comedy), 21.30 horas, preço: 10 € 18 JUL | Frágil som do meu motor, de Leonardo António (cinema), 21 horas, duração: 2h09, preço: 3 €

sobre a formação cultural dos jovens algarvios. Deste modo, lanço o desafio para que a Direcção Regional de Cultura estimule a Delegação Regional de Educação e as autarquias da Região, concebendo um plano para levar os jovens às salas de espectáculos. A formação desta tríade beneficiaria a todos: primeiro, as crianças, por razões que dispenso enumerar; depois a Cultura que ganharia novos públicos, conquanto o resultado não fosse imediato; tendo por princípio que a Cultura é um pilar da Educação, também esta beneficiaria de jovens mais conhecedores, devendo, no mínimo, considerar esta matéria extra-curricular mas obrigatória em todos os níveis de educação; por fim, as autarquias, cujos seus munícipes mais jovens começariam a ganhar novas competências e cujas salas teriam outra dinâmica. Por seu turno, traria alguma beneficiação aos muitos projectos artísticos da Região.

6 JUL | LX Comedy Club (stand-up comedy), 21.30 horas, preço: 10 € Luís Franco-Bastos, Ricardo Vilão, Rui Sinel de Cordes e Salvador Martinha percorrem o país em registo de comedy club. Depois de várias sessões esgotadas em várias cidades

o tour VOLTA EM 2013. Nova temporada, novos textos, a mesma irreverência. A regra é que não há regras. Só piadas.

TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Programação: www.teatromunicipaldeportimao.pt Até 13 JUL | Sérgio Godinho e as 40 Ilustrações (exposição), de terça a sábado, das 10 às 19 horas, entrada livre 6 JUL | Reflect (música), 21.30 horas, duração: 1h20, preço: 5 € 11 JUL | Um espaço chamado Teatro, 19 horas, duração: 1h30, preço: 3 € 12 JUL | Cinemas às 6.ªS – “Ali, o caçador”, de Rafi Pitts, 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 3 € 13 JUL | Sketches from outer space, de Filipe Valentim, 21.30 horas, duração: 1h, preço: 2 € 18 JUL | Um espaço chamado Teatro, 19 horas, duração: 1h30, preço: 3 € 26 JUL | Cinemas às 6.ªS – “O meu maior desejo”, de Hirokasu Koreeda, 21.30 horas, duração: 2h07, preço: 3 € 19 JUL – 7 SET | Dentro do Corpo, Fora do Corpo, de Rui Gonçalves e Nuno Borges (exposição), de terça a sábado, das 10 às 19 horas, entrada livre

Destaque

las de espectáculos do Algarve, em detrimento de projectos estruturalmente culturais. A razão deste novo paradigma é a falta de capacidade financeira para a aquisição de espectáculos não comerciais, cuja natureza é pouco geradora de receitas. Por argumentos não dissemelhantes, escreverei hoje sobre o afastamento dos públicos jovens das nossas salas. É consabido que a cultura é sempre das áreas mais afectadas com as restrições financeiras. Tendo esta medida impacto generalizado, preocupa-me a faixa etária mais baixa. Numa altura em que as crianças e os adolescentes devem ter contacto com as artes de palco, este não acontece. Diga-se que nunca houve, globalmente, uma grande preocupação com a formação cultural dos públicos jovens por parte dos nossos decisores. Porém, pela incapacidade financeira das famílias, pela impossibilidade dos municípios em investir consistentemente nestas

Destaque

Apostar no público jovem

6 JUL | Reflect (música), 21.30 horas, duração: 1h20, preço: 5 € Resultado de muitas horas, muita dedicação e, sobretudo, muito amor à música, o último acto transporta-nos para o universo de Reflect. De regresso às edições, assinala o início de um novo ciclo com o seu segundo trabalho

de originais, um disco homónimo que é a perfeita extensão do autor. Em palco, Reflect conta com o talento da equipa de sempre, num espectáculo intimista à sua imagem, onde a mensagem ganha nas palavras um papel de destaque.


Cultura.Sul

05.07.2013

Universidade de Coimbra integra Património Mundial

fotos: d.r.

E já são dezasseis em Portugal os casos de classificação como Património Mundial atribuídos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). A Universidade de Coimbra, a Alta e a Sofia, são a mais recente adição à lista portuguesa das distinções atribuídas pela agência das Nações Unidas e juntam-se a Angra do Heroísmo, ao Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, ao Mosteiro da Batalha, ao Convento de Cristo, ao Centro Histórico de Évora, ao Mosteiro de Alcobaça, à Paisagem Cultural de Sintra, ao Centro Histórico do Porto, às Gravuras Rupestres de Foz Côa, à Floresta Laurissilva da Madeira, ao Centro Histórico de Guimarães, ao Alto Douro Vinhateiro, à paisagem da cultura da vinha da Ilha do Pico e às fortificações de Elvas.

Tavira, a senhora que se segue

Uma vitória difícil No final do passado mês a integração daquela zona da cidade de Coimbra como Património Mundial decorreu em Phnom Penh, no Cambodja, e deu mostras do elevado respeito dos países membros da UNESCO pela Cultura Portuguesa, uma vez que a atribuição da distinção foi realizada contra o parecer do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, responsável pelo acompanhamento técnico das decisões da organização. “Mais do que o reconhecimento do valor arquitectónico do complexo universitário de Coimbra, esta decisão da UNESCO sublinha o valor universal da cultura e da língua portuguesas e reconhece o papel central que Portugal teve na formação do Mundo, tal como hoje o conhecemos”, referiu à Lusa o reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, no rescaldo da decisão. Uma posição que reflecte o entendimento que mais do que um conjunto patrimonial a classificação tem um lado patrimonial imaterial sobremaneira relevante. Instalada em Coimbra em 1537 a universidade é a jóia da coroa das universidades portuguesas no que respeita à tradição e ao reconhecimento internacional. E é-o merecidamente. Coimbra deu ao mundo conhecimento e foi fiel depositária durante muito tempo de um saber letrado

A Torre da Universidade de Coimbra de matriz portuguesa. Como os passadiços que se cruzam hoje na praça central da universidade, a Universidade de Coimbra foi durante séculos casa de saberes inúmeros que se cruzaram entre si, criando uma parte importante do conhecimento universitário de produção nacional. O conjunto arquitectónico que inclui a Universidade de Coimbra, a Alta de Coimbra - profundamente afectada pelas obras desenfreadas do Estado Novo para a implantação de uma ‘Cidade Universitária’- e a Rua da Sofia - artéria por excelên-

cia interligada à universidade e aos universitários - constituem a área distinguida pela classificação da UNESCO e importa agora, depois da distinção ganha e quinze anos volvidos sobre os primeiros passos para a candidatura a Património Mundial, que sejam potenciados como factor demarcador de uma identidade valorizada daquela que é a principal cidade do centro do país. A importância da distinção Paulo Portas, ministro demis-

Vista de Coimbra “O ALGARVE”

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Até 30 AGO | Edifício dos Paços do Concelho de Albufeira Exposição de George Landman, o artista londrino que embarcou para Portugal em 1806 e pintou diversas panorâmicas do país

sionário de Estado e dos Negócios Estrangeiros, considerou que a classificação de Coimbra como património mundial da UNESCO beneficiará “a economia, o turismo, o conhecimento e o cosmopolitismo” da cidade, mas também é “muito prestigiante” para Portugal. “É um grande dia para Portugal e para Coimbra. A meritória candidatura a património mundial passou com brilho e beneficiará” a cidade em várias áreas, afirmou o governante numa declaração escrita enviada à Lusa. A questão primordial é exactamente esta. A classificação como Património Mundial não é importante em si mesma, enquanto acto efémero que se esgota num momento de regozijo face ao resultado positivo de uma candidatura que é sempre esforçada e laboriosa. O que realmente importa é o dia seguinte. O que fazer com a classificação, como a aproveitar e potenciar em todos os aspectos onde a sua existência pode maximizar os benefícios são as grandes questões a que importa responder. Muito para além da simples ostentação do logo de Património Mundial lado-a-lado com o da autarquia ou da Região de Turismo, numa parceria para ‘inglês ver’, importa que se faça uma assumpção

ÔÔ O país regozija necessariamente com a classificação atribuída a Coimbra e os algarvios não são excepção. Mas terão os algarvios a noção exacta de que também eles estão na luta por uma classificação da UNESCO como Património Imaterial da Humanidade? Muitos sim, mas muitos também não. A meses de Tavira ser submetida a exame como representante da candidatura portuguesa à Dieta Mediterrânica enquanto Património Imaterial da Humanidade, a mobilização geral está longe de ser o que deveria ou poderia, dando mostras de uma subavaliação da importância e do determinismo que uma vitória desta candidatura pode ter para Tavira e para o Algarve, bem como, para o país. O projecto da candidatura assumido na sua coordenação pela autarquia liderada por Jorge Botelho e dinamizado sob a direcção de Jorge Queiroz - que tudo têm feito pela agregação de vontades em torno da candidatura - é a grande aposta que se segue nesta área a nível nacional, mas, mais do que tudo, deve ser encarada como o desafio primeiro dos algarvios neste âmbito. Há muito a ganhar em granjear uma vitória desta importância para o Algarve e, uma vez mais, importa que os algarvios se unam em torno deste que deve ser, também ele, um desígnio primordial da região no momento actual.

da responsabilidade que implica a distinção da UNESCO e que se determine uma estratégia ponderada, assertiva e de longo prazo, capaz de determinar frutos de um posicionamento único no mundo. É que importa ter verdadeiramente em conta o valor intrínseco da distinção da UNESCO que apenas é partilhada por 981 classificações em todo o mundo, das quais 759 são culturais, 193 naturais e 29 mistas e que são uma honra hoje apenas reservada a 160 países em todo o globo. Ricardo Claro

“4 ESTAÇÕES, 4 FADOS”

13 JUL | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Mário Moita é cantor, compositor e pianista de Portugal. Há mais de 20 anos que anda pelo Mundo promovendo o seu trabalho


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Cultura.Sul

Letras e Leituras

Um singular caso insular: João de Melo foto: Joana de

Melo

Paulo Serra

Investigador da UAlg associado ao CLEPUL

Depois de abordar nos seus primeiros dois livros, Memória de ver matar e morrer e Autópsia de um Mar em Ruínas, as suas memórias da guerra colonial, João de Melo, autor açoriano, nascido em S. Miguel, incorre no novo panorama literário português com o fabuloso romance O Meu Mundo não é deste Reino, eivado ainda de realismo mágico, à semelhança de O Dia dos Prodígios, de Lídia Jorge, retratando um mundo à parte que existe dentro deste “reino” português. No seu quarto romance, Gente Feliz com Lágrimas, que a par de O Meu Mundo não é deste Reino pode ser entendido como um díptico sobre os Açores, encontram-se referências explícitas a esse modo de vida das ilhas em passagens como: «o pasmo dum arquipélago que encalhara na mística religiosa do século XVI». Contudo, se Gente Feliz com Lágrimas pode parecer, num primeiro impacto, uma mera continuação, em que se retoma esse povo do Rozário quando, num tempo mais actual, se atreve finalmente a partir além desse mar branco que envolve as ilhas, a ambiência mágica que antes perpassava na Ilha vai desaparecer, associada à própria partida do protagonista para Lisboa. A opressão retratada neste romance prende-se com um menino que vive num medo constante de um pai violento, materializando na paisagem da sua infância esses fantasmas, puramente internos, que o assombram: «Tudo irreal e oculto, como o próprio sol o era na sua esfera parda e oblíqua. Envolvendo as mães dos pêssegos e dos outros frutos, as matas de criptoméria eram presenças fulvas, cor de estanho, postas ali de propósito pelos antepassados só para captarem o tempo parado dos mortos. O ninho esdrúxulo do Grande Medo abria-se para receber o frio de meu corpo. Passavam então, como num desfile, por cima das copas das árvores, os mortos da família (...).» (p. 146). Este romance retrata

o sentimento de exílio da diáspora do povo açoriano, mas também de todos os milhares de portugueses que se espalharam pelos vários continentes, levando em si o mundo em que cresceram, sem que dele se separem e sem que a ele possam voltar, pois nada permanece igual, engolido pela voracidade do correr do tempo. A força da vivência na Ilha, novamente maiusculada, permanece arreigada na memória dos açorianos que emigram para o Canadá, para a América e outros destinos além-mar, como transparece na seguinte passagem: «Todos estão aqui mas continu-

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“O SORRISO”

am nesse tempo da Ilha. Trouxeram-na, mantêm-na intacta dentro de si (…), mudaram de nome – mas persistem no tempo obsessivo das procissões e romarias, no pudor da mais sagrada nudez, no vício de dizer mal dos vizinhos (…). Tristes, enigmáticos, fingem a euforia dessa imensa importância de se estar vivo nos dias de Vancouver. Sonham com as vacas, as terras e os cavalos dos Açores e fazem planos para casas vistosas à beira da estrada que liga o Nordeste a Ponta Delgada.» (p. 353). Se Gente Feliz com Lágrimas é o embarque no cais e a ruptura com o mundo da infância, então O Meu Mundo não é deste Reino representa a terra natal como símbolo de uma infância mitificada mas irremediavelmente perdida, sendo esse o reino encantado que tanta matéria-prima fornece a este autor. Este romance, que é também o mais extenso do autor, foi depois adaptado pela RTP ao formato do pequeno ecrã, numa série televisiva. João de Melo remete novamente

Entre 14 JUL e 31 AGO | Bela Vista Hotel & SPA - Portimão Ana Mesquita expõe telas com retratos portugueses, que têm a particularidade de terem sido desenhados num iPad, associadas aos vídeos do making of dessas mesmas telas

para o Rozário na novela A Divina Miséria, publicada em 2009. Esse pequeno livro é uma versão largamente reescrita, que sofreu revisões sucessivas, desde um primeiro conto lançado num periódico, passando por um conto homónimo, «A Divina Miséria», integrado em Entre Pássaro e Anjo (1987), e «O Homem da Idade dos Corais», incluso nos contos de Bem-Aventuranças (1992). Esta novela surge como um projecto de um outro romance e o autor continua a insurgir-se graças a uma prodigiosa imaginação e a uma criatividade que se cristaliza numa sintaxe e num vocabulário quase barroco, luminoso na sua explosão e acumulação de som e imagens esplendorosas. Destaque-se a passagem que explica o título: «E nada pode haver de mais triste para quem morre do que ser enterrado à chuva, sentir o corpo misturar-se com a outra lama de que fomos feitos, a qual há-de ser sempre o lixo de Deus, a divina miséria da nossa criação» (p. 78). O autor continua assim a fazer uma ponte entre o quotidiano de dimensão mítica de um espaço insular que provoca uma ideia de universalidade, pois poderia estar a falar de outro sítio qualquer, permitindo a qualquer leitor além-fronteiras identificar-se com o que lê. O Rozário continua a ser essa peque-

na comunidade açoriana, oprimida pelo cerco atlântico, esse mar outrora branco como uma bruma de um tempo fora do mundo, onde se narram os acontecimentos semi-prodigiosos que se seguiram à morte do padre Governo. O título joga com um espírito lúdico de intertextualidade, em que se remete, numa cumplicidade irónica, para o título de Dante Alighieri, A Divina Comédia. Esta novela ao regressar ao universo romanesco do autor explicita certos aspectos de O Meu Mundo não é deste Reino. Neste compasso de espera próprio do Purgatório, tendo sido o Inferno o que se leu no primeiro romance do tríptico, ocorrem ainda outros acontecimentos insólitos. Se os primeiros eventos são sempre referidos com a ressalva da comparação ou do rumor de uma população demasiado imaginativa, como quando «a mansão paroquial ameaçava alar-se no ar e depois desabar sobre as nossas cabeças» (p. 18), existem outros prodígios que o narrador jura ter testemunhado: «(...) e não, não é fantasia minha -, vimos que choviam no silêncio peixes cor de chumbo: arenques, tainhas e maramóis. A seguir, choveram revoadas de pétalas de rosas brancas e amarelas. Depois, hortênsias de todas as cores e tons. As ruas apareceram juncadas como nos dias de procissão. E caranguejos cegos, de uma extraordinária cor lunar, começaram a inundar aos poucos as valetas.» (pp. 34-35). Um falso Paraíso chega depois, quando a libertação da Ilha ocorre com a chegada dos marines americanos, que serão sarcasticamente descritos como anjos na terra, com os «olhos azuis desses meninos musculados, todos eles muito bem-parecidos, com um ar misto de anjos marciais e guerreiros amotinados, porque eram a negação da inocência e da infância que tinham vivido lá na terra que os armara para dominar o planeta» (p. 101). Invadem o Rozário, nos seus submarinos, prontos a colonizar essa ilha, a exportar doenças e outras moléstias, para depois ofertarem, em compensação, drogas experimentais. O insólito balança assim num desacordo hesitante entre o maravilhoso que volta, novamente, a desvanecer-se conforme essa diatribe de dimensão política ganha força, mas onde se sente ainda a voz crítica que denuncia imposições e totalitarismos.

“VAMOS LÁ ENTÃO PERCEBER AS MULHERES…”

13 JUL | 21.30 | Teatro das Figuras - Faro Palestra humorística com Marta Gautier em palco a, literalmente, dissecar o que de tão complexo se passa no misterioso universo feminino


Cultura.Sul

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Momento

“staymobil” Foto de Vítor Correia PUB

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“A TERRA PROMETIDA”

Até 30 AGO | Centro Cultural de Lagos Exposição de Arte do Grupo de Artistas Mundial inspirada na natureza. O conceito de estética e beleza é universal e os autores querem partilhar o seu universo

“REFLECT”

6 JUL |21.30 | Teatro Municipal de Portimão Resultado de muitas horas, muita dedicação e, sobretudo, muito amor à música, Último acto transporta-nos para o universo de Reflect, num espectáculo intimista


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Cultura.Sul

Contos de Primavera na Ria Formosa

Ares Condicionados

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Ele haveria de conseguir um melhor emprego em breve, se Deus quisesse, esperançava-se ela, para que fosse mais fácil colmatar as despesas que teriam com a aquisição do T3. Assim pensava a sonhadora professora de Ciências, apesar do seu Zé há já alguns meses não falar em procurar novo emprego, que aquela obra na Quinta do Lago estava a dar alguns lucros e contactos. Mas o que importava agora era desfrutar daquele belo dia de praia de início de Verão. Iam ficar uns dias na casa dos pais num aldeamento turístico perto da praia. Ele dera-lhe a mão durante a viagem no comboiozinho que os levava até ao areal, e dissera-lhe ao ouvido que também a amava. Ainda com poucos banhistas em volta, toalhas de banho estendidas estrategicamente lado a lado e creminho protector posto um ao outro com cuidado e risinhos. Devido à falta de vento podia sentir-se no ar um aroma leve e adocicado, libertado pelo narciso-das-areias (pancratium maritimum) que nesta altura do ano já abria as suas enormes flores brancas, ali atrás nas dunas, onde enterra os seus bolbos, que apesar de belos podem no entanto ser bastante tóxicos. Vou nadar! Queres vir fofinha? perguntou José, mas ela preferia ficar ali mais um bocado para ganhar um pouco de bronze. A admirá-lo no andar de tronco nu, viu-o entrar na água e nadar para fora de pé. Mas de repente, ela virou-se para o saco a seu lado procurando o telemóvel que tocava. Agarrou o aparelho e atendeu o telefonema da mãe. Meteu o telefone de novo no saco, e dirigiu-se para a beira-mar ao encontro do seu Zé. Mas não o via. Olhou para um lado e para o outro da praia, e de novo para a frente - para o mar ali mesmo a seus pés, mas não viu o Zé. Uma grande tristeza invadiu-lhe o peito, sentiu que o perdera - ao seu que já não estava ali mais, mais-que-tudo Zé. Aconselharam-na a comunicar o desaparecimento na Polícia Judiciá-

ria. Descreveu-o aos dois inspectores de prevenção no piquete: José Vaz Campos. 27 anos, 1,80m, 78kg, solteiro, natural de Leiria. Morador na Av. Cidade de Hayword, 54 - 5ºF, Faro. Engenheiro, vendedor de ar condicionado. Conheço-o há dois anos, desde que namoramos. Não tenho conhecimento que sofresse de alguma doença. Ele é muito saudável, assegurou Mafalda. Não a querendo incomodar mais o agente da autoridade disse-lhe que

junto ao mar? Naquele fatídico dia realmente havia pouca gente, mas mesmo assim é verdade que é possível facilmente perdermos de vista uma pessoa na praia, e se calhar mais ainda se esse alguém, se ele… quisesse escapar. Seria talvez isso o que o agente queria insinuar…? No dia seguinte, ainda cheia de dúvidas Mafalda regressou à casa de férias. Encheu-se de coragem e voltou finalmente à praia, o ‘local do crime’ por assim dizer. Reparou num iate

d.r.

em breve a contactaria. Assim aconteceu. Passaram duas semanas até que um agente da PJ ligou e lhe disse que tecnicamente, enquanto a pessoa não aparece o caso não está encerrado e acaso o sr. engº Campos se tivesse afogado naquela praia já o corpo teria aparecido. Tudo levava a crer que o namorado desaparecera por terra, e não por mar. E isso, quer seja mais ou menos boa notícia, levava a acreditar que o homem… o seu namorado, estava vivo. Normalmente, e não havendo indícios de crime como é o caso, quem é maior de idade, muitas vezes desaparece para mudar de vida. Como podia acreditar que o seu Zé podia estar vivo, mas vivo de que modo, se não estava com ela. E desaparecera por terra, pela areia,

que passava ao largo. Instintivamente repetiu um gesto que lhe era habitual, e quando focou o iate, aquele homem de copo na mão sorrindo para uma bela mulher loura era o mesmo que era o seu Zé. Por instantes pensou que delirava, que ia mesmo precisar de ajuda, que não podia mais continuar assim naquela busca obssessiva. Levou de novo os binóculos aos olhos sem saber se queria mesmo ver o José no barco. Banheiro!, gritou ela e pediu-lhe que os apontasse na direcção do iate. O rapaz murmurou baixinho confirmando: Sim! Parece o mesmo homem das fotografias que a Polícia Marítima nos entregou. Por momentos o rapaz pensou que ela ia desmaiar. Mafalda fechou os olhos, colocando ambas as mãos sobre a

“CAMÕES, PESSOA E OS OUTROS…”

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face. Ficava claro que o José Vaz cometera o delito do seu próprio rapto e agora como que voltava ao local do mesmo, esse lugar-comum onde se diz voltarem os criminosos. Daí a poucos segundos, inexplicavelmente, já não se avistava qualquer tipo de embarcação no horizonte visível. Ao fim da tarde, quando fazia as malas para partir, recebeu a visita dos agentes da PJ encarregues do caso ‘JVC’, assim o alcunharam entre eles. Acharam-na com melhor as-

Até 30 JUL | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira Exposição de cerâmica de Domingos Viterbo, que, segundo o autor, é dedicada “a todos os heróis, artistas, anónimos do quotidiano, com os quais nos cruzamos diariamente”

pecto, com outra cara. Agradeceu e disse-lhes que podiam dizer ao que vinham, que passado este tempo já se sentia preparada para ouvir o que quer que tivessem para lhe dizer. Começaram: - tal como lhe tinha dito 90% dos desaparecimentos não são fruto de crime. O Sr. José Campos está vivo e de saúde. Como foi a senhora que nos apresentou a ocorrência precisamos que veja estas fotografias e confirme se esse é ou não o presumível desaparecido. É que o desaparecimento por si só, não é tratado como um processo-crime. Sendo maior de idade, a pessoa tem direito a desaparecer voluntariamente e, caso seja encontrada, pode pedir à polícia que a sua localização não seja revelada. Mafalda confirmou. Aquela era a “EGIPTO”

carrinha da empresa de José, com as iniciais - JVC. O homem a entrar e a sair daquela vivenda, sozinho, ou com um técnico ou outras vezes com uma mulher loura que parecia estrangeira, durante vários dias e a diferentes horas do dia ou da noite, era de facto José Vaz Campos. O mesmo indivíduo que ela lhes comunicara ter desaparecido. Mesmo que quisesse não havia como negar tamanha evidência. Calmamente, sem tremer a esferográfica, assinou a retirada de pedido de investigação. Agradeceu mais uma vez aos agentes e ofereceu-lhes uma bebida, que recusaram com o clássico: obrigado, mas nunca bebemos em serviço. Apesar do calor que se faz sentir aqui dentro, completou o experiente polícia que ficara um pouco apreensivo com a aparente frieza que a jovem demonstrou perante a eficaz, rápida e surpreendente resolução do caso. Por isso o agente não resistiu: tem o ar condicionado avariado? Devia mandar arranjá-lo. Estamos no pino do Verão e apesar de tudo, a vida continua. Não a incomodamos mais, menina, boa tarde. Obrigado pelo excelente trabalho e apoio, concluiu a rapariga. Sabia-lhe bem estar ali sozinha no apartamento onde os pais viviam, para mais agora que estavam nas termas. Ligou o ar condicionado da sala, embora soubesse que lhe causava sempre um pouco de tosse. Lá fora o sol estava quase a pôr-se para lá da ilha de Faro reflectindo tons de toranja nas águas calmas da ria, mas a temperatura mantinha-se ainda nos 30 graus. Por ser sábado, o tráfego aéreo era mais intenso que o normal. Da varanda da sala, usando os velhos binóculos que o pai trouxera como recordação dos tempos vividos na Suíça, conseguia quase ver as caras felizes ou infelizes dos passageiros quando os aviões aterravam e descolavam. Mas estava quase na hora. Ia encontrar-se com amigos e um ex-colega de faculdade que estava de férias na capital algarvia e queria revê-la. Agarrou no comando para desligar o ar condicionado e quando olhou para o aparelho para confirmar se o pequeno ponto de luz verde se apagara, reparou nas letras LG, que o identificavam. Saiu. Desde que finalizaram o curso que não via o Luís Garcia e não o queria fazer esperar. O agente tinha razão. O Verão não terminara, podia apenas ter estado em modo pausa.

Até 27 SET | Casa da Cultura islâmica e Mediterrânica, em Silves A exposição, de Pedro Barros, composta por 18 fotografias, percorre o Egipto Antigo e Moderno, um país que se estende ao longo do Vale do Nilo


Cultura.Sul

05.07.2013

Espaço ao Património

Sala de leitura

Turismo e Património

Leituras Zen

Francisco Alvo

Colaborador no Programa de regeneração Urbana do centro antigo de Portimão - Por Ti

Nasci em Portimão e aqui passei os meus primeiros 17 anos; não sendo um especialista na área do Património, escrevo esta rubrica essencialmente como um cidadão que, há cerca de quatro anos, voltou para viver e trabalhar na terra onde nasceu. Todos sabemos da falência do modelo turístico dito de “sol e mar”, adotado nos últimos 30 anos na maioria do território algarvio, da cruz da sazonalidade e da crise económica mundial. De fato, o conjunto destes fatores impuseram uma urgência na valorização, dinamização e rentabilização económica do Património Algarvio. O Património, na sua grande abrangência material e imaterial, quando combinado de forma sistémica inte-

moção do pouco Património Material que o Algarve possui, sem nos esquecermos de vender experiências fortes de beleza natural, desporto, gastronomia, biodiversidade marinha/terrestre, etc., certamente faremos com que o Algarve se torne numa região bem mais rica. Não basta possuir património, há que integrá-lo, identificá-lo e construir uma narrativa que o defina para que, de futuro, consigamos que todo ele se torne sustentável. A identificação de todos nós população local - com o nosso Património é igualmente importante para a sua verdadeira valorização económica. Nada mais saudável para uma região, cidade e/ou localidades, que os seus habitantes se identificarem, promoverem e cuidarem diariamente do seu Património. Quando me refiro a uma atuação sistémica integrada na região, refiro-me a uma atuação que integre os vários sistemas existentes no Universo Algarvio (Social, Urbano, Economico, etc.) e que privilegie a relação entre os vários elementos de cada sistema, em prol da valorização Patrimonial. Um bom exemplo des-

antes complementar-se entre si na sua oferta, o nosso Pais é conhecido internacionalmente pela diversidade de património em tão pouco território, o Algarve não é exceção. Somos um conjunto de cidades pequenas, repletas de território envolvente rico em terras agrícolas, com portos fantásticos propícios a várias atividades económicas para além da pesca. Então, porque não conciliar tudo isto com as várias vertentes do nosso Património? Gostaria de terminar esta rúbrica com um exemplo claro que, humildemente penso ser concretizável, sem ter de ser gasto grande parte dos fundos comunitários disponíveis para o Algarve… Um Cruzeiro chega a Portimão, um avião chega a Faro, um veleiro chega a Lagos, alguns automóveis chegam a Monchique, um autocarro estaciona em Silves, começaram as aulas de surf em várias praias de Vila do Bispo… Verão? Nem por isso, estamos em pleno Inverno e o Turista vem em busca do nosso Património construído e reabilitado, da nossa gastronomia, das nossas destilarias de medronho, das nossas experiências radicais, da nossa biodiversidade.

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(ou uma reinvenção do poético)

Paulo Pires

Programador Cultural no Departamento Sociocultural do Município de Silves esteoficiodepoeta@gmail.com

Massagem de relaxamento + improvisação musical (instrumental) + leitura personalizada de textos literários? Trata-se, no fundo, de uma proposta de reinvenção do toque, do som (não-verbal) e da palavra, criando assim uma harmonização global entre diferentes linguagens terapêutico-estéticas, que visa um bem-estar integrado do indivíduo, com benefícios ao nível da descompressão/

tempo necessário tanto a um efectivo relaxamento corpóreo-mental como à manutenção dos índices mínimos de atenção relativamente ao que está a ser lido. A selecção de conteúdos textuais a ler é fundamental, dependendo também dos efeitos que se pretende atingir e dos temas a explorar. Convirá apostar em textos (relativamente) breves – poemas, crónicas, prosa poética, etc. –, visuais e “planantes”, emocionalmente expressivos, que permitam a viagem da imaginação, devendo os mesmos ser depois disponibilizados aos participantes para que estes possam aprofundar esse conhecimento ao nível da leitura. Os textos devem ser acompanhados de “paisagens musicais”, interpretadas ao vivo em tempo real (com improvisação associada), que possam ilustrar, envolver e enfatizar a mensagem verbal transmitida. Devem privilegiar-se d.r.

d.r.

grada, pode traduzir benefícios económicos imediatos à região. O Turismo de qualidade não vive sem Património e vice-versa. Ao conciliarmos de forma inteligente e inclusiva a população local, portadora de um enorme Património imaterial, com a capacidade de pro-

ta abordagem é o saber jogar com o Marketing de Cidades. Numa região, como o Algarve e usando como exemplo o Barlavento, o marketing de cidades não necessita de ser competitivo entre elas. A distância e a diversidade de oferta que possuem não o justificam. Estas cidades podem

Consegue estar em Itália cinco dias na praia, sem conhecer a vila ou cidade onde dorme? Que queremos nós quando viajamos? O Património do Algarve faz parte de nós, o primeiro passo para a sua sustentabilidade e viabilização económica começa connosco.

apaziguamento físico-psíquicos, da estimulação imaginativa e do incentivo informal (incomum e original) à leitura. Esta abordagem interdisciplinar pressupõe a criação de uma atmosfera propícia e condizente, podendo a eficácia e impacto do formato ser mais ampliados caso se opte por espaços não convencionais e inesperados, que permitam, ainda assim, um controle das condições ambientais a nível de insonorização, luminosidade e temperatura. É ainda importante o uso de acessórios que intensifiquem a envolvência, o conforto e o intimismo, como velas, incensos, biombos, toalhas, pedras ornamentais e livros. Quanto à massagem, o participante pode escolher o tipo de técnica e as zonas corporais que pretende ver exploradas, decidindo também se prescinde do vestuário ou não. A sessão não deverá exceder os 15´, assegurando assim o

instrumentos, de cariz intimista, como o violoncelo, acordeão, harpa, flauta, alaúde ou marimba, bem como, em complemento, outros de envolvimento ambiental: chocalhos/guizos, caixinhas de música, blocos sonoros, pau-de-chuva, mbira, ovos, etc. A música clássica, o jazz, o fado e certos estilos de fusão constituem áreas férteis com segmentos/registos que podem ser aproveitados neste formato. Em suma, o desafio maior das Leituras Zen reside na conjugação sensorial/ sinestésica e estética entre os três profissionais que abordam simultaneamente o mesmo indivíduo: a terapeuta, a leitora e o músico/performer, de modo a que os jogos e nuances de intensidade, abrandamento, prolongamento e pausa/silêncio ao nível do toque na pele, da palavra dita e do som instrumental emitido funcionem como um todo coerente, harmonioso e expressivo.


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Cultura.Sul

Na senda da Cultura

Verão aquece ao som dos festivais de música

Mars e Virgem Suta têm concerto no dia de encerramento do festival. Saiba mais em: maresvivas.meo.pt

Optimus Alive 12 a 14 JUL Passeio Marítimo de Algés

Bilhetes:

Super Bock Super Rock 18 a 20 JUL Meco

São 105 artistas confirmados para aquele que é um dos mais conhecidos festivais portugueses e que promete muitas vibrações no Passeio Marítimo de Algés. Três palcos, com a escolha a ser difícil, mas entre os nomes confirmados estão os GreenDay, os Vampire Weekend, ou os Disclosure. A não perder os ‘velhinhos’ Depeche Mode que actuam no mesmo dia dos Crystal Castles e de Matias Aguayo Live feat Alejandro Paz. No fecho os Kings of Leon actuam uma hora depois dos Band of Horses arrancarem. Apenas destaques, porque há música para todos os gostos com o Tejo aos pés e a Trafaria como pano de fundo. Saiba mais em: optimusalive.com

Diário: 48 euros 7 dias: 90 euros, campismo incluído Três dias, três palcos, música sem fim e a praia ali ao lado, são as propostas de mais um senhor dos festivais portugueses. O Super Bock Super Rock tem na lista de artistas os Artick Monkeys, Kalú e Nina Kraviz, a par de nomes como os Kaiser Chiefs, os Clã e Ricardo Villalobos. Para o dia do fecho estão marcados os Queens of The Stone Age, Digitalism Dj Set e Carl Craig, entre outros. Apenas alguns destaques para adoçar a curiosidade de um cartaz recheado. Saiba mais em: superbocksuperrock.pt

Músicas do Mundo de Sines 18 a 27 JUL Sines

Bilhetes: Diário: 5 ou 7 euros 7 dias: 50 euros

MEO Marés Vivas 18 a 20 JUL Vila Nova de Gaia

Bilhetes: Diário: 30 euros 3 dias: 60 euros Os palcos acolhem os artistas frente ao Douro e o difícil é saber o que não perder entre nomes como os Bush, os The Smashing Pumpkins chegados de Chicago. Se estes são os nomes para o dia da abertura, James Morrison, os portugueses Orelha Negra e David Guetta estão agendados para o dia 19. Rui Veloso, Thirty Seconds to

tos, mesmo em tempos de crise, os portugueses têm acesso a concertos de algumas das bandas e músicos de maior renome a nível mundial. Nomes que numa tournée a solo dificilmente realizariam um concerto em terras lusas. O Cultura.Sul foi investigar o que Julho e Agosto reservam nesta área aos melómanos dos mais diversos géneros musicais e traz-lhe uma resenha da imensa escolha que o país oferece.

Sem nenhum dos grandes acontecimentos do género a realizar-se por terras algarvias, há que sair do Algarve à procura das terras do som, mas o vizinho Alentejo promete já aqui ao lado pesos pesados da cena festivaleira nacional. Decerto há um festival onde se enquadra e o desafio fica lançado, de mochila às costas ou noutro registo a lembrar os tempos da juventude, faça-se ao caminho que a música, essa, é certa. Ricardo Claro

do do Brasil. Jon Luz dá-nos Cabo Verde e Sílvia Pérez Cruz entrega-nos a Catalunha. Lugar ainda para a música da Extremadura espanhola com Extremadura Territorio Flamenco no mesmo dia em que actuam os Rokia Traoré do Mali. Os Gaiteiros de Lisboa, os Bomba Estéreo são outros nomes agendados Saiba mais em: www.fmm.com.pt

imenso para cinco dias passados na costa alentejana. Os dois palcos e a famosa tenda vão acolher nomes da cena musical nacional e mundial como Sativa, Dj Vibe, Funkyou2, o algarvio João Maria ou os Mind da Gap. Cee Low Green, Janelle Monáe e os Expensive Soul estarão por terras de Odemira a par de FatBoy Slim, Richie Campbell e Capleton, entre um sem fim de propostas para todos os ouvidos. Imperdível dizem os festivaleiros mais convictos, recordando que o Sudoeste é um ícone da cena festivaleira de Verão em terras lusas. Vá acampar ou só ouvir concertos, mas vá porque este ano só há um Sudoeste. Saiba mais em: www.sudoeste.meo.pt

para 25 mil pessoas e oferece babysitting entre as 19 e as 4 horas da manhã para os pais babados que não querem perder o eterno Paredes de Coura, nem deixar de estar perto dos seus rebentos. Saiba mais em: paredesdecoura.com

Bilhetes:

Diário: 53 euros 3 dias: 105 euros

Os festivais de Verão são muitos e espalham-se de norte a sul de Portugal, congregando pessoas de todas as idades e proveniências numa das mais transversais experiências culturais que existem no país. Há anos que marcam a agenda cultural da chamada silly season e tornaram-se em muitos casos um must a que muitos recusam faltar. Certo é que pela mão destes even-

EDP Cool Jazz 24 e 25 JUL Oeiras

Bilhetes: 25 a 60 euros Maria Gadú e Djavan vêm do Brasil, Luísa Sobral e Ana Moura jogam em casa, mas o Cool Jazz tem muito mais. Rufus Wainwright, Jamie Cullum e John Legend são outros dos artistas, a que se somam Diana Krall e Lee Fields, entre outros. Desde o Parque dos Poetas aos Jardins do Marquês, Oeiras prepara dois dias de Julho para serem vividos em grande, com uma atitude cool entre muito jazz. Saiba mais em: edpcooljazz.com

MEO Sudoeste 7 a 11 AGO Zambujeira do Mar

Bilhetes: Sete é um número com significados vários, mas em Sines, este mês é o número de dias que durará o Músicas do Mundo que oferece vários concertos em espaços diferentes, desde o Castelo até à Av. Vasco da Gama, passando pelo Centro de Artes local. Amadou & Mariam actuam no primeiro dia e daí em diante são sete dias non stop com nomes como a brasileira Celina Piedade, Baloji, JP Simões ou Hermeto Pascoal, que chega ao Alentejo vin-

Diário: 48 euros 5 dias: 95 euros, campismo incluído O gigante a Sul dos festivais portugueses é o Sudoeste, que este ano propõe um cartaz

Vodafone Paredes de Coura 13 a 17 AGO Paredes de Coura

Bilhetes: A definir Passe ‘all acess’: 80 euros Paredes de Coura regressa com toda a força e nomes como os Unknown Mortal Orchestra, The Knife e John Talabot (live), prontos a arrebatar a audiência tanto ou mais que os The Vaccines, Cold Cave ou Belle and Sebastian. O recinto tem capacidade

Ilha dos Sons 29 a 31 AGO Mértola

Bilhetes: Diário: 15 euros 3 dias: 40 euros Mértola regressa à rota dos festivais de verão este ano com a Ilha dos Sons a ocupar a Mina de São Domingos com os sons de reggae, soul, rock e dance. The Lux Brothers, Diogo Menasso e Noidz contracenam em estilos com Capitão Fausto, Nu Soul Famali, Jahvai ou Karetus, entre outros, num festival que se apresenta no Alentejo profundo. Mértola, ali mesmo ao lado, pede para ser visitada e vivida com o Guadiana como enquadramento insubstituível, num périplo para refrescar enquanto se prepara mais um dia de festival. Saiba mais em: ilhadossons.com


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Cultura.Sul

Da minha biblioteca

As dimensões do Algarve d.r.

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

Veio recentemente ter à minha biblioteca um livro publicado no passado mês de abril: Algarve em 3D, de Jacinto Palma Dias (historiador, antropólogo e agricultor), com fotografias de Filipe da Palma. O livro começa na capa. Não estou a usar uma metáfora, querendo significar que a capa já é significativa em relação ao conteúdo. Não: o livro começa, literalmente, na capa, pois tem aí um texto que nos introduz ao tema e ao tom do que vamos ler: com uma linguagem muito própria, entrelaçando comentários críticos e empíricos, por vezes irónicos, com estudos que fundamentam as suas afirmações, Jacinto Palma Dias faz uma declaração pública de amor pelo Algarve, não se compadece de quem dele não o tem cuidado e, sem papas na língua, critica o estado atual em que a região se encontra, não deixando de lhe elogiar as qualidades: «Este folhado de três folhas procura extrair da escuridão e colorir com a mesma luminosidade aquele Algarve que se apresentou a Sophia e a Torga, mesmo que estar cego, surdo, mudo, paralítico e coxo seja o seu estado actual, em conformidade com a praga que lhe lançaram. Nem sequer notou que estava falido mentalmente. Só lhe resta olhar para si próprio se ainda conseguir reconhecer-se». Primeira dimensão: «pão de ontem, peixe de hoje, vinho de outro verão fazem um homem são»

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O livro está dividido em três partes, cada uma correspondendo a uma dimensão do

Jacinto Palma Dias, autor do livro Algarve em 3D pode ser o coentro, ou o poejo ou a hortelã da ribeira» (p. 11). Segunda dimensão: a cenografia das platibandas – um objeto falante

Algarve. A primeira chama-se «No prato da açorda» e nela o autor defende a ancestralidade deste prato, que descreve como de «um minimalismo arquitectado sobre o alho», contrapondo a singeleza do seu sabor à «infindável fusão de ingredientes adocicantes, dispensando o uso do alho», característica da cozinha árabe, vendo aí uma prova da existência de uma «soberania

cultural moçárabe sob a alçada muçulmana» (p. 14). E conclui que, «Muito longe de ser um prato de pobre a açorda atravessa todas as classes sociais até porque nunca a excelência gustativa é discriminatória» (p. 15). E usa uma interessante alegoria musical para o descrever: «Ela [a açorda] pode cantar apenas com os seus instrumentos de ritmo, o pão, o azeite e o alho. Mas também pode contratar um solista, que

A segunda parte intitula-se «Na platibanda» e é acompanhada de fotografias ilustrativas desta arte, presente na arquitetura algarvia, mas em via de extinção. Jacinto Palma Dias situa historicamente o desenvolvimento deste adorno das casas, reconhecível pelas suas cores e formas, que acaba por ser um «exercício de individuação», quer de quem encomenda quer de quem constrói (p. 31). E, para justificar o aspeto único desta original arquitetura popular, só possível devido ao caráter especial de quem a criou, faz um apanhado da insubmissão do Algarve, desde os anos da crise de 1383-85, em que os exércitos de Nuno Álvares Pereira eram compostos maioritariamente por alentejanos e algarvios, até ao início do século XIX, com a resistência aos franceses, aquan-

do das invasões, «em que o primeiro sinal de liberdade é dado na vila de Olhão (“da restauração”)» (p. 27), concluindo que, «Existe, portanto, um lastro cultural de irreverência sem o qual a cenografia das fachadas teria ficado às escuras» (idem). Há também uma crítica explícita quer aos poderes políticos, que descuraram, nos planos de ordenamento do território algarvio, a componente arquitetónica, quer aos investigadores da História da Arte, que, ao contrário dos brasileiros – que estudam as platibandas do Brasil –, têm negligenciado o caso português. A tese aqui é que a casa é um «objecto animado». E, se em relação à açorda, o autor usou uma alegoria musical, aqui usa uma teatral: «ela [a casa] é o protagonista principal de um teatro mágico em que ela se requer como espaço inviolável. (…) exige um suporte, que é a fachada, exige um encenador, geralmente do sexo feminino, e um realizador, que será o mestre da obra. E teremos o espetáculo» (p. 21).

Terceira dimensão: o Algarve impressionista Intitulada «No jardim botânico», esta é a dimensão que mais veementes críticas sugere ao autor, que não se coíbe de ser cáustico e de culpar a cultura do betão como responsável pelo estado do Algarve: «um tapete que toda a gente suja e ninguém limpa», fruto de uma baixa autoestima. Além disso, foi «Completamente desgovernado pela mão de municípios que rapidamente aprenderam que isso do turismo se resumia a edificar os mesmos dormitórios dos quais os visitantes fugiam» (p. 36). Elogiando personalidades conhecidas de todos, como o poeta João Lúcio e o escritor Manuel Teixeira Gomes, destaca neles as suas variadas qualidades: o primeiro foi presidente da câmara, o segundo, presidente da república; o primeiro construiu uma casa de arquitetura simbolista, o segundo negociava «partidas de figo em hotéis de luxo». A estes acresce «António Aleixo deambulando entre feiras de gado e o então selecto café Aliança em Faro» (p. 46). Esta diversidade de personalidades e de atividades a que se dedicavam demonstra a simbiose que existia no Algarve entre o homem e a natureza. Muito se aprende com este capítulo, que enumera a grande biodiversidade algarvia, desde a fauna (no gado vacum, a raça mertolenga e a raça de Lagos; nos ovinos, a churra algarvia e a cabra algarvia; nos canídeos, o cão de água português – que originalmente era chamado “cão dos caíques”; nas águas, o saramugo ou o camarão de Monte Gordo) à flora, em que a enumeração é impossível, tantas são as espécies aqui encontradas. Além de instrutivo, este livro, como objeto, é muito bonito: o elegante design gráfico de Pere Valls Comas equilibra as expressivas fotografias de Filipe da Palma (que devem, provavelmente, ocupar tanta mancha gráfica como o texto) com as palavras eloquentes de Jacinto Palma Dias.

“FERNANDO PINHEIRO LÁ IN LOULÉ-AL-‘ULYÀ PINTURA”

“DENTRO DO CORPO, FORA DO CORPO”

Fernando Pinheiro transporta na sua pintura as marcas de uma geração. Viveu a guerra, a imigração, o pós-Maio de 68, as interrogações de um mundo que vertiginosamente mudava

Exposição de fotografia e instalação, com banda sonora e textos de Rui Gonçalves e fotografia de Nuno Borges

Entre 13 JUL e 30 SET | Convento de Santo António - Loulé

Entre 19 JUL e 7 SET | Teatro Municipal de Portimão


12 05.07.2013

Cultura.Sul

Espaço cultura

Criar Cultura no Algarve Em 2010, a Direção Regional de Cultura do Algarve e a Universidade do Algarve iniciaram uma parceria para a definição de uma estratégia cultural para o Algarve que fornecesse ânimo e firmeza programática à gestão dos recursos culturais da região. Num primeiro momento, realizou-se o ciclo Cultura em Conferência (2010/2011) do qual resultou a publicação de um livro dedicado à política e gestão cultural, passando pelo associativismo e turismo cultural1. Na sua continuidade, e ao longo de todo o ano de 2011, realizou-se um ciclo de conversas informais, denominadas Quintas de Cultura, dedicado à questão da criação contemporânea na região, cujo título genérico remete para uma realidade regional acentuadamente setorizada e onde uma perspetiva de «arquipélago» se impõe, por norma, às iniciativas em «rede». Consequência desse segundo ciclo, e num momento crítico para a criação cultural

na região, reúne-se agora, em outro volume2, um conjunto de textos que são expressão de diferentes visões da teoria e da praxis da criação, produção e comunicação de Cultura no Algarve, contendo abordagens setorizadas acerca das condi-

Num momento crítico para a criação cultural na região, Quintas de Cultura reúne em livro um conjunto de ensaios em torno da criação contemporânea na região, cujo título remete para uma realidade regional acentuadamente setorizada, onde a perspetiva de «arquipélago» se impõe, por norma, a uma visão de «rede» ções - mentais e materiais - com que, na região, se confrontam os

d.r.

dos, cada um a seu modo, na criação cultural no Algarve, um conjunto de autores dão o seu contributo para a definição das estratégias de gestão dos recursos culturais da região. Os textos agora reunidos assumem-se como espaço de reflexão, retrospetiva em alguns casos, prospetiva em outros, constituindo um incontornável contributo para um Plano Estratégico Regional para a Cultura. Oliveira, L. F.; Bernardes, J. P.; Tavares, M. (ed.), A Cultura em Conferência. Faro: Universidade do Algarve / Direção Regional de Cultura do Algarve, 2011. 2 Paulo, D.; Oliveira, L. F.; Tavares, M.; Bernardes, J. P.; Parreira, R. (ed.), Quintas de Cultura: A criação cultural no Algarve. Faro: Universidade do Algarve / Direção Regional de Cultura do Algarve, 2013. 1

profissionais do setor produtivo que tem vindo a ser designado como das atividades criativas. Entre abril e novembro de 2011 e, fazendo jus à epígrafe, nas últimas quintas-feiras de cada mês, Artes, Letras, Sons, Ciências e Formas foram, sucessivamente, objeto de distintas e problematizantes abordagens

por parte de quem, no extremo Sul de Portugal, cria e sente a riqueza e diversidade, vivendo os problemas e as oportunidades destes diversos âmbitos criativos. O conjunto, muito diversificado, de textos compilados neste volume, de modo algum constitui um mero resumo de

cada uma das conversas temáticas havidas, em espaços caraterizados pela informalidade e nos quais, por vezes, a veemência de expressão dos diferentes pontos de vista deu origem a acesos debates. Pelo contrário, sem contingências de pontos de vista nem posicionamentos de relator, e todos eles implica-

Direcção Regional de Cultura do Algarve

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