Especial
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Quinta João Clara, em Alcantarilha
CVRA
A Paixão em estado líquido
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quinta resulta de muita dedicação e amor, até paixão”. De sorriso nos lábios e olhar tranquilo, Edite Alves define assim o tremendo sucesso em que se tornou a propriedade adquirida pelo sogro, João Maria Alves, e onde produz vinho de marcas próprias desde 2006. Em 1975 João Maria Alves – conhecido como João Cla-
ra – comprou a quinta, de 26 hectares, situada em Alcantarilha, e nela, muitos anos a fio, produziu vinho para a cooperativa de Lagoa, enquanto a agremiação teve forças para lhe pagar. O filho, Joaquim Alves, herdaria do pai a tenacidade e a coragem de lutar e sempre alimentou o sonho de ter produção própria desde a vinha até à marca. Em 2006 concretiza o sonho, ao produzir as primeiras 6.600 garrafas do vinho João Clara Tinto. Foi um sucesso, o primeiro de muitos do então marido
Vinhos do Algarve em concurso esta segunda-feira
de Edite Alves. Dos 8,5 hectares da Quinta João Clara (herdaria o nome do seu criador) dedicados à vinha, foram saindo anualmente cada vez mais produção e variedade. Até chegar às 35 mil garrafas e oito marcas atuais.
A CHEGADA DOS PRIMEIROS ROSÉ E BRANCO Em 2007,
produz o primeiro rosé e em 2008 o primeiro branco, numa homenagem a Joaquim Alves, que faleceria nesse ano. Edite Alves ficaria a partir de então à frente dos destinos da quinta, com as duas filhas, Ana e Joana.
Os olhos de Edite Alves brilham mais quando fala da “cereja no topo do bolo” em que se converteu o João Clara Negra Mole, cuja primeira edição foi lançada em 2013 (colheita de 2011), com o patrocínio e arte da enóloga Cláudia Favinha e cuja segunda edição será lançada no Natal deste ano,
î Melhores serão premiados
C
pub
î Edite Alves, responsável pela Quinta João Clara
Visite-nos em: www.joaoclara.com
patrocinada pela enóloga Joana Maçanita, a atual técnica da Quinta. “Fomos os primeiros produtores de negra mole com qualidade de todo o Algarve”, orgulha-se Edite Alves. E não ficam por aí os motivos de orgulho: o João Clara Negra Mole recebeu rasgados elogios da crítica, inclusive quando foi apresentado no Hotel Ritz, em Lisboa, em Outubro de 2014. Elogios também não faltam para o grande vinho que é o Homenagem, o “topo de
gama” da Quinta de Alcantarilha, elogiado pela prestigiada Revista de Vinhos como um dos melhores vinhos algarvios da actualidade. Mais de uma dúzia de prémios internacionais decoram a galeria da Quinta, o último dos quais foi para a nova marca “menina dos olhos” da casa, o suave Às Claras, cuja versão Tinto 2013 foi classificado com medalha de bronze no concurso Decanter - World Wine Awards.
erca de 80 referências de vinhos algarvios participam na próxima segunda-feira, dia 25, no 8º Concurso de Vinhos do Algarve, que decorrerá no Convento de São José, em Lagoa. Organizado pela Comissão Vitivinícola da Região (CVR) do Algarve, em parceria com a Câmara Municipal de Lagoa e a Associação dos Escanções de Portugal, o concurso tem como objetivo a atribuição de distinções aos melhores vinhos engarrafados da região. O evento conta ainda com o apoio da Revista Escanção como Media Partner, a empresa de Comunicação Best Partners e o fotógrafo Ricardo Bernardo. O Concurso de Vinhos do Algarve é aberto a vinhos brancos, rosados e tintos produzidos na Região Vitivinícola do Algarve, com direito a Denominação de Origem Protegida Lagos, Lagoa, Portimão e Tavira e Indicação Geográfica Algarve. Está prevista a participação de cerca de 80 referências, avaliadas por um painel de provadores/escanções. Os produtores podem submeter a concurso mais que um vinho de cada categoria. Após o concurso serão atribuídas as seguintes distinções: Medalhas de Ouro, Prata e Bronze e ainda a Grande Medalha de Ouro – O Melhor Vinho do Algarve. Os vinhos admitidos a concurso são avaliados em prova cega a ser efectuada pelo conjunto de provadores constituídos em painéis. Cada painel de jurados é constituído por um número mínimo de cinco provadores e um presidente.
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Quinta do Barranco Longo, Algoz
Pioneirismo e sucesso
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um desafio em tom de brincadeira surgiu um projeto sério, um dos mais consistentes da re-
primeiras edições de Barranco Longo Tinto e Reserva. Um total de sete mil litros. Em 2004 a produção aumenta para dez mil litros e da Quinta sai o primeiro monocasta: “Barranco Longo Touriga Nacional”. A produção triplica em 2005, ano em que surgem o primeiro “Barranco Longo Branco” e o mo-
Touriga Nacional, Barranco Longo Reserva Cabernet-Sauvignon e Barranco Longo Reserva Alicante Bouschet, o espumante Rosé Super Reserva Bruto Quê e os ícones Remexido Branco e Remexido Tinto, bem como o Colheita Tardia KO. Este ano a Quinta acaba de
lançar o primeiro espumante branco do Algarve, Q1 Reserva Bruto Natural, numa edição limitada de 6.600 garrafas. A distribuição, operada pela própria Quinta, ocorre em toda a região, sobretudo em garrafeiras e restaurantes. Com um corpo técnico de
cinco quadros e dois comerciais, Rui Virgínia orgulha-se da tecnologia de ponta da adega, que sustenta ser a melhor do Algarve, e, sobretudo, de a ter posto ao serviço da inovação. “Somos o produtor que mais contribuiu até hoje para o conhecimento dos vinhos da re-
gião”, afiança, recordando que em 2001 havia “meia-dúzia” de produtores de quinta. Para os próximos anos, o produtor sonha em fazer da Quinta um local de visita: “Chamámos a esse projecto a Nova Adega e ele será a nossa cereja no topo do bolo”. pub
î Rui Virgínia, proprietário da Quinta Barranco Longo gião. “Tudo começou nos finais da década de 90, quando os meus amigos visitavam a Quinta e perguntavam porque é que a região não produzia bons vinhos e me desafiavam a fazê-los”, recorda Rui Virgínia, 46 anos, proprietário da Quinta Barranco Longo, em Algoz, concelho de Silves. O então jovem agricultor acabou aceitando o repto e em 2001 dedica uma pequena parte dos 29 hectares que então possuía às primeiras vinificações. Até então, os citrinos tinham o exclusivo. Como todos os pioneiros, contou com uma dificuldade: “Não havia um histórico, nem nada em que me basear, na altura fiz tudo por instinto”. Nessa altura, a escassa produção algarvia era centralizada na Cooperativa de Lagoa e baseava-se em brancos e tintos. Mas Rui Virgínia queria inovar e, em 2003, produz um rosé, já com rótulo próprio, complementado pelas
nocasta “Barranco Longo Syrah”. E mais uma inovação, o primeiro espumante rosé da região. Em 2008 surge o rosé estagiado e fermentado em madeira (o OakedRose), que se mantém até hoje como único no Algarve e um dos raros do país. Hoje, dos 15 hectares da Quinta dedicados à produção vitivinícola, saem anualmente 120 mil garrafas, 65 por cento das quais são brancos e rosés. A Quinta apresenta dezena e meia de vinhos: os rosés Barranco Longo Rosé, Barranco Longo OakedRose, os brancos Barranco Longo Grande Escolha, Barranco Longo Chardonay e Barranco Longo Viognier, os tintos Barranco Longo Aragonez/Cabernet-Sauvignon, Barranco Longo Colheita Seleccionada, Barranco Longo Reserva, Barranco Longo Reserva Manuel Janeiro, Barranco Longo Reserva Syrah, Barranco Longo Reserva
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Vinhos do Algarve já contam com mais de três dezenas de produtores
A caminho de um milhão de litros!
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cerca de 15 anos atrás, quando tudo começou, eram quatro ou cinco quintas, com uma produção ainda muito ténue e pouco qualificada. A produção concentrava-se essencialmente na região de Lagoa e era finalizada na adega cooperativa do concelho. Hoje, os vinhos do Algarve abrangem cerca de 33 quintas, em toda a região, com destaque ainda para o barlavento, mas também começam a despontar nas regiões mais a leste. Depois do arranque das vinhas das décadas de 80 e início de 90, quando o Turismo e o setor imobiliário ganhavam à agricultura, o Algarve corre atrás do prejuízo. A qualidade e variedade aumentaram, terrenos
outrora dedicados a outros tipos de produção produzem agora vinha. “O Algarve tem 4.000 hectares de vinha, mas pode ter 60 mil, de uma ponta à outra da região”, aponta Hermínio Rebelo, 75 anos, Escanção Mor da Confraria dos Enófilos e Gastronómica do Algarve, para quem “há ainda muito trabalho por fazer, tanto pelos produtores como pelas entidades competentes”. Segundo o enólogo, compete às câmaras municipais da região libertar os solos, hoje em grande parte presos numa malha administrativa brutal, mas também “é preciso cativar os investidores, dar-lhes ânimo”.
SUCESSOS ESTIMULANTES NOS ÚLTIMOS ANOS Os sucessos dos
últimos anos são estimulantes, com a produção a subir paulatinamente, sempre de forma sustentada. “Já ultrapassámos os 500 mil litros e estamos a caminho do
î Vinhos do Algarve abrangem cerca de 33 quintas em toda a região milhão”, prevê Aníbal Neto, coordenador da Rota dos Vi-
nhos do Algarve. Um aumento da produ-
ção que tem dado escala ao vinho algarvio e, consequen-
temente, preços mais competitivos face a outras regiões do país.
É NECESSÁRIA MAIS QUALIDADE NOS VINHOS REGIONAIS “Se
olharmos para as outras regiões, já temos preço, mas o produto do Algarve tem que ter mais qualidade para se impor no mercado, por razões de escala, o que quer dizer que o produtor tem que se esforçar muito mais”, sustenta por seu turno o proprietário da Quinta Barranco Longo, em Algoz (Silves), Rui Virgínia, um dos pioneiros do vinho de quinta algarvio e um dos principais produtores da região. O enólogo Ruben ➙
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anual, no Alentejo só um dos quatro grandes produtores tem acima de 1 milhão”, compara. Ainda assim, o apuramento da qualidade dos vinhos foi sendo feito ao longo dos anos e “hoje o Algarve não se envergonha em relação às outras regiões do País”, acrescenta o jovem enólogo, recordando os prémios que, sistematicamente, a região vem conquistando nos últimos anos. No recente International Wine Challange (Grã Bretanha), por exemplo, a região arrebatou 15 medalhas.
CLIMA É O GRANDE FACTOR DISTINTIVO DA REGIÃO VITIVINÍCOLA “Não se pode considerar
Pinto, da Quinta do Cantor, na Guia (Albufeira), dá uma ideia da dimensão do Algarve no contexto nacional: “Enquanto nós todos, no conjunto, temos 700 ou 800 mil litros de produção
que o Algarve tem um vinho, porque há muitas variedades e produtos muito diferentes”, salienta Rui Virgínia, para quem o grande fator distintivo da região é o clima. Quanto aos solos, têm características diversas, com destaque para os arenosos e argilo-calcários, consideram-se pobres, mas suscetíveis de dar vinhos mais encorpados e mais frescos.
Albufeira, capital nacional do vinho Durante três dias, nos passados sábado, domingo e segunda-feira, mais de um milhar de vinhos portugueses, de 80 produtores, participaram na sétima edição da Grande Mostra de Vinhos de Portugal, que teve lugar no Espaço Multiusos de Albufeira. Iniciativa da Confraria Baccus de Albufeira, o evento é tido como uma das mais prestigiadas mostras de vinhos a nível nacional. Teve entrada livre, mas quem quisesse fazer a prova de vinhos apenas tinha que adquirir um cálice de vidro, no valor de três euros, “passaporte” para um dia inteiro de provas. Durante os três dias, os visitantes assistiram a show cookings de dieta mediterrâ-
î Visitantes aprenderam como se abre uma garrafa a fogo
No conjunto, os fatores climáticos e as caraterísticas dos solos algarvios tendem a produzir vinhos com maiores níveis de açúcar, e consequentemente teores alcoólicos mais acentuados, mas as quintas conseguiram
controlar essa tendência, descendo cerca de um mês e meio na época da vindima, que no Algarve decorre do início de agosto até meados de setembro. Aproveitando um setor turístico que nos últimos anos
tem batido sucessivos recordes, uma parte das quintas algarvias promove visitas guiadas aos troços vinhateiros e adegas, com explicação de todo o processo de produção, muita alegria e provas de vinhos.
Pôr os vinhos na Rota do Turismo
î Aníbal Neto
Composta por quatro roteiros de enoturismo, a Rota dos Vinhos do Algarve foi relançada oficialmente há um ano, com os patrocínios do Turismo do Algarve e da Comissão Vitivinícola do Algarve e conta com a participação de oito quintas. As quintas situadas em Albufeira, Lagoa, Portimão e Lagos foram as pioneiras, mas em breve duas novas rotas serão adicionadas ao pacote de propostas, em Loulé e Tavira. “Por enquanto, a promoção é feita aqui, nos agentes turísticos da região, mas o objetivo a curto prazo é fazermos essa promoção junto dos mercados emissores”, disse ao POSTAL do ALGARVE o coordenador do projecto, Aníbal Neto. O responsável enunciou as
î A Rota dos Vinhos do Algarve conta com a participação de oito quintas características únicas do Algarve, no contexto nacional, para que haja um bom casamento entre turismo e vinhos: “Temos o clima, as praias, os hotéis, os restaurantes, a gastro-
nomia multifacetada. Não há nenhuma região do país com esta multiplicidade de ofertas”, sublinhou. “Só precisamos de educar o cliente, fazê-lo interessar-se
por esta proposta”, disse, admitindo que em finais deste ano ou em 2016 a Rota possa dar os seus primeiros passos em cooperação com as agências turísticas e de viagens.
nica, bar de azeite e conversas sobre o vinho. Os visitantes tiveram ainda oportunidade de ganhar prémios, ouvir Cante Alentejano, ver como se abre uma garrafa a fogo e aprender a preparar uma sangria. Na noite de sábado, decorreu a cerimónia de entrega das medalhas do Concurso de Vinhos Bacchus 2015, durante o jantar inaugural da Mostra. Fundada em 2007, a Confraria Baccus nasceu de um grupo de amigos e conta já com 75 membros. Além da Grande Mostra de Vinhos de Portugal, organizam um jantar mensal, durante o qual divulgam um vinho do Algarve, e têm várias iniciativas de cariz solidário.
Só a Adega do Cantor, por exemplo (conhecida internacionalmente pelo facto de o cantor Cliff Richard ser seu co-proprietário), recebe em média 15 mil turistas por ano, quase todos estrangeiros, atraídos pela fama da estrela pop. Na sua propriedade de Alcantarilha, a Quinta João Clara, Edite Alves (ver artigo neste Especial) promove conhecimento: “O meu segredo é não despachar o visitante. Garantir-lhes, se preciso for, várias horas de usufruto, com a visita à quinta, depois à adega e a prova de vinhos. Fazê-lo passar um dia diferente”, observa. Por seu turno Rui Virgínia, da Quinta Barranco Longo (ver artigo neste Especial), sonha em fazer da sua propriedade e adega um grande espaço de enoturismo da região. Estima-se que o enoturismo venha a constituir nos próximos anos uma das principais mais-valias dos vinhos produzidos na principal região turística portuguesa, em boa parte devido à ajuda da Rota dos Vinhos (ver caixa).