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postaldoalgarve
NESTA EDIÇÃO COM O CADERNO DE ARTES CULTURA.SUL
Director Henrique Dias Freire • Ano XXIX • Edição 1185 • Quinzenário à sexta-feira • 9 de Junho de 2017 • Preço € 1,50
DESTAQUE 2 EM FOCO 4 INÍCIO DAS OBRAS NA ESTRADA DE ALFANDANGA ESTÁ DEPENDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS 5 ALCOUTIM VAI TER DOIS POSTOS DE CARREGA-
ÀS SEXTAS EM CONJUNTO COM O PÚBLICO POR €1,70
MENTO SEMI-RÁPIDO PARA VEÍCULOS ELÉCTRICOS 6 ALGARVE É PIONEIRO E VAI PODER SALVAR VIDAS EM MENOS DE DEZ MINUTOS 7 CLASSIFICADOS 9
Projecto promete revolucionar Porto de Faro com cluster do mar
> Conheça em pormenor o projecto que une CCMAR e Câmara na reconversão da zona do cais comercial de Faro. Investimento pode mudar a face da cidade. ps. 2 e 3
cátia marcelino d.r.
Política:
PSD apresenta ‘mega-pacote’ legislativo sobre o Algarve no Parlamento
Castro Marim na primeira linha do combate à obesidade com Francisco Amaral >4
> p. 8 henrique dias freire
SAÚDE
Algarve pioneiro aposta forte na desfibrilhação externa para salvar vidas
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MOBILIDADE
OLHÃO
Obras na Estrada Moncarapacho - Alfandanga dependentes da luz verde do Tribunal de Contas
d.r.
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Alcoutim vai ter carregadores para carros eléctricos
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destaque
ZZZ pág. ## ZZZ pág. ## Textos e infografias: Ricardo Claro
Porto de Faro pode ser base regional do cluster do mar sustentado no turismo A PROPOSTA DE UMA NOVA UTILIZAÇÃO URBANA DO ESPAÇO DE 18 HECTARES DO PORTO DE FARO foi apresentada
na passada semana em Faro, assente numa parceria que vem sendo desenvolvida há meses pelo Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, dirigido por Adelino Canário, (UAlg) e pela Câmara da cidade, liderada por Rogério Bacalhau. O projecto urbanístico esteve a cargo do consórcio de empresas de engenharia, arquitectura e consultadoria de projectos, que inclui a CPZ – Projectos e Consultadoria e a Consulmar, que "deu corpo à ideia original do professor Adelino Canário e à qual a Câmara se associou",
como referiu Rogério Bacalhau. Para cobrir os custos associados ao projecto, a Câmara celebrou com o CCMAR um protocolo de apoio aos trabalhos de 15 mil euros. Assim nasce uma proposta que criará uma "nova centralidade na cidade", como refere Adelino Canário, que destacou ao POSTAL, a "resposta que se alcança com esta solução no que respeita aos problemas de infra-estruturas do CCMAR, bem como às áreas da UAlg ligadas ao mar e ainda ao crescimento do próprio centro de investigação".
A CRIAÇÃO DE UM VERDADEIRO CLUSTER DO MAR ASSENTE NO CONHECIMENTO A verdade é que a ser concretizado o
projecto, o CCMAR, a UAlg, o Algarve e o país ficariam com um pólo universitário totalmente novo, vocacionado para a área do mar e com condições equivalentes ao que de melhor existe na Europa e no mundo nesta matéria. Por outro lado, como resultado da concentração de investigação, desenvolvimento e conhecimento, bem como áreas de ensino especializado nesta zona e da criação de incubadoras de empresas ligadas à economia do mar, criar-se-iam condições mais vantajosas para a implantação de um verdadeiro cluster do mar, assente no conhecimento e apostado na criação de empresas, emprego e valor
para a economia local, regional e nacional. Na base de tudo isto e do que pode significar em termos de futuro para a cidade de Faro e os impactos regionais e nacionais, um centro especializado de saber e geração de spin-offs e startups para a área do mar com capacidade de gerar e atrair investimento e de significar uma aposta concertada e
programada para o avanço do tão falado cluster do mar.
UM PROJECTO A MÉDIO PRAZO SUSTENTADO NO TURISMO O
objectivo estratégico é, como reconheceu ao POSTAL Rogério Bacalhau, "um projecto de médio prazo, mas conta com capacidade para vingar do ponto de vista do ordenamento do território, das questões ambientais
e de sustentabilidade e que foi pensado desde o primeiro momento para que o financiamento dos equipamentos públicos possa ser feito por quem desenvolver a vertente privada do projecto". "As dificuldades inerentes à aprovação de um projecto desta magnitude e características numa zona sensível como a Ria Formosa, bem como a infinida-
Actual estrada de acesso ao cais comercial
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Aquário e centro de congressos no centro do conjunto de edificações ENTRE AS MUITAS EDIFICAÇÕES PREVISTAS para o Por-
to de Faro pelo projecto Farfromosa estão um aquário público com sete mil metros quadrados de área e um centro de congressos com capacidade para 1.200 pessoas no auditório principal, salas de reuniões e apoio, um heliporto e um ancoradouro marítimo privativo. Estes são os equipamentos públicos âncora de um projecto que prevê ser custeado com recurso a investidores na área do turismo e das residências assistidas.
TURISMO E ALOJAMENTO Para estes investidores o projecto reserva espaço para três hotéis, dois com características mais urbanas e um mais vocacionado para as férias e uma ampla zona para construção de residências assistidas e um centro de dia e de apoio logístico às mesmas na vertente norte da zona de implantação virada para a cidade de Faro.
EDIFÍCIOS LIGADOS À UALG Mas
há mais, a sede do CCMAR, capaz de acolher 300 investigadores, dois edifícios destinados a acolher cursos especializados da UAlg na área do mar e três áreas destinadas à instalação de incubadoras de empresas, capazes de acolher 20 entidades.
ACTIVIDADES ECONÓMICAS Do lado da actividade económica estão os espaços, vários, destinados às actividades marítimo-turísticas, à restauração e ao comércio e serviços que vão habitar os pisos térreos da maioria dos edifícios a construir. Ao todo estas áreas somam um total de 34.880 metros quadrados de área. O centro náutico terá, por sua vez, 3.050 metros quadrados e contará com uma área especialmente vocacionada para as marítimo-turísticas e para a prática desportiva dentro do espaço da marina, na bacia Norte.
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Tudo para garantir que de noite e de dia haja movimento e gente que dê vida ao espaço urbano.
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ÔÔ Legenda edificações:
1 CCMAR
2 4
2 Aquário público
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3 C. Congressos
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4 C. Náutico 5 Hotel 6 Vivendas assistidas
C
7 Centro apoio às vivendas assist. 8 Encubadora de empresas 9 Universidade do Algarve / CCMAR Comércio, restaur. 10 e serviços
å Canal de Faro â
ÔÔ Antevisão da implantação do projecto Farformosa
D
9 de Junho de 2017 | 3
POSTAL ouviu os protagonistas:
Adelino Canário
Rogério Bacalhau
de de entidades com competência na área e na aprovação do projecto" foram o ponto chave das declarações de António Eusébio, candidato do PS à Câmara local, que sublinha que "o que quer que se venha a decidir para aquele espaço terá de passar pela decisão dos farenses". Rogério Bacalhau diz que "o lançamento deste projecto é isso mesmo, a chamada da sociedade civil a intervir numa decisão fulcral para a cidade, numa ideia que pode mudar de forma marcante Faro". "A apresentação pública do projecto é a chamada à participação dos farenses sobre o destino da cidade e daquela área", refere o autarca, que destaca
Pedro Vaz
que a solução encontrada "alia de forma sustentável o turismo, os equipamentos públicos - como o centro de congressos, o centro náutico, o aquário público e o novo pólo universitário - e as actividades marítimo turísticas, além de equipamentos ligados ao apoio social, ao comércio, restauração e serviços, bem como, ainda, áreas de desenvolvimento económico de uma forma muito positiva e pouco habitual nestes projectos".
170 MILHÕES PARA CRIAR UM NOVO ESPAÇO URBANO Mas
quanto custa a ideia? 170 milhões de euros são o cálculo aproximado do investimento no projecto a preços
Lucília Luís
de construção. Nada que assuste a autarquia, que garante "existirem já investidores interessados neste projecto e a estes certamente se juntarão outros conforme ele se for consolidando". Há um mês nas mãos da ministra do Mar (apurou o POSTAL junto de fonte ligada ao processo), no quadro do estudo das zonas portuárias e ribeirinhas que ouviu autarquias de todo o país relativamente a estas questões e às soluções preconizadas para as mesmas, o Governo e a Administração dos Portos de Sines e do Algarve, proprietária dos terrenos, foram os grandes ausentes da apresentação pública.
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10 B
António Eusébio
Marina promete dotar Faro de 440 novos pontos de amarração O PROJECTO DA NOVA CENTRALIDADE PARA FARO assenta em
algumas pedras fundamentais, desde logo o pólo universitário e a zona turística a criar na zona do cais comercial, mas de todas elas a mais importante é a construção de uma marina. Trata-se de uma infra-estrutura desenvolvida em duas bacias situadas a sul e a norte do actual cais comercial.
COMO SERÃO ESTRUTURADAS AS DUAS BACIAS DA NOVA MARINA De acordo com o projecto
apresentado em Faro, a bacia sul da marina terá uma área de espelho de água de 8,1 hectares (81 mil metros quadrados), destinada a embarcações de médio e grande porte. Esta bacia é limitada a sul por um quebra-mar flutuante em forma de meia oval, acompanhando o perfil da actual estrada de acesso ao porto, e a norte pelo tronco central da área urbana do projecto, que inclui entre outras infra-estruturas o centro de congressos, zona comercial, o centro náutico e um hotel. A bacia norte, limitada a sul pelo referido tronco central do projecto, desenvolve-se em forma de meia-lua sendo limitada a Norte pela área destinada às incubadoras de empresas associadas ao CCMAR e às instalações da
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Desidério Silva
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ÔÔ Legenda equipamentos náuticos:
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Esteiro dos Moinhos
A Marina bacia Sul B Marina bacia Norte
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C Porto CCMAR D Alfândega e apoio à marina
A
Apoio E e reparações náuticas
F Sudeste / Barra î
Projecto Farformosa: Uma nova centralidade para a cidade de Faro
Quebra-mar/ F ancoradouro mega-iates
ÔÔ A implantação da marina face à cidade de Faro Universidade do Algarve reservadas aos cursos de especialização na área do mar. Os extremos nascente e poente desta bacia – que soma 1,3 hectares (13 mil metros quadrados) e se destina a embarcações de pequeno porte, a actividades marítimo turísticas e de aprendizagem ligadas aos desportos náuticos – são ocupados por hotéis.
440 NOVAS AMARRAÇÕES PARA BARCOS NA ÚNICA MARINA ENTRE VILAMOURA E ESPANHA As
duas bacias juntas pretendem criar uma marina com 440 novas amarrações para barcos, um equipamento que dotaria a cidade de Faro de uma oferta excepcional para a náutica e para o turismo que lhe está associado. A infra-estrutura teria em termos de lugares de acostagem cerca de metade da capacidade da Marina de Vilamoura e passaria a ser a única marina, a partir de Vilamoura e até Espanha, com características capazes de assegurar o atraque de embarcações de todos os tipos de envergadura no que respeita a barcos de recreio. “Esta é uma oferta de que a região carece”, disse Desidério Silva em declarações ao POSTAL, acrescentando que “quando sabemos que as marinas do Algarve têm taxas de ocupação elevadas mesmo em época baixa, há que criar condições que permitam a criação de novas ofertas neste âmbito”. O presidente da Região de Tu-
rismo do Algarve não deixa, no entanto, de salvaguardar que “a criação deste equipamento nos termos deste projecto terá sempre de passar pela sua viabilidade do ponto de vista ambiental”.
MEGA IATES VÃO PODER ATRACAR EM FARO De acordo com
Lucília Luís, da empresa Consulmar, dedicada a projectos de engenharia e com uma vasta experiência na área das marinas e portos, o quebra-mar exterior da marina desempenhará a dupla função de além abrigar as embarcações de menor porte dos efeitos das correntes e da agitação marítima, servir de ancoradouro para os chamados mega iates. Os mega iates são embarcações cujo comprimento pode facilmente atingir e ultrapassar os 70 metros de comprimento. Para que se perceba a dimensão destes navios, a Marina de Vilamoura – que é uma referência a nível nacional e internacional – tem capacidade para acolher barcos até 40 metros.
CCMAR VAI CONTAR COM UM PORTO DE ATRAQUE EXCLUSIVO Ainda no âmbito das infra-
-estruturas marítimas, o projecto cria uma zona de atraque privativa para o CCMAR , destinada aos barcos de investigação científica. A localização deste equipamento fica em torno do edifício destinado ao CCMAR e ao aquário e terá uma área de meio hectare (cinco mil metros quadrados).
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em foco
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Francisco Amaral aposta forte na saúde dos castro-marinenses Autarquia promove primeiro programa municipal de combate à obesidade Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire
catiam.postal@gmail.com
O MUNICÍPIO DE CASTRO MARIM criou o primeiro Progra-
ma Municipal de Combate à Obesidade, para contrariar um dos principais flagelos deste século, promovendo, junto da população, um estilo de vida mais activo, com menos peso e melhor nutrição. As principais causas de morte em Portugal são os AVC’s, os enfartes e o cancro e Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim, que também é médico, não tem dúvidas em afirmar que o que está por detrás de tudo isto é a obesidade. “A obesidade mata e mata mesmo. Há muitas pessoas que não sabem isso mas a obesidade provoca o cancro e é um factor de risco gravíssimo para os AVC’s e para os enfartes”. Promover um estilo de vida saudável entre a população tem sido uma das prioridade da Câmara de Castro Marim e, no caso da obesidade, a preocupação da autarquia deve-se à falta de resposta efectiva do Sistema Nacional de Saúde. “Experimente marcar uma consulta de obesidade no Hospital de Faro. Vai ao médico de família e ele encaminha para uma consulta de obesidade que demora um ano para conseguir. Chega à consulta de obesidade e o médico dessa consulta envia o paciente para a psicologia, para a nutrição e para a cirurgia. Mais um ano para cada uma delas. Isto funciona? A pessoa está motivada para perder peso agora, daqui a dois anos não se sabe se essa motivação está igual”.
PROGRAMA É PIONEIRO E ENGLOBA DIFERENTES ABORDAGENS TÉCNICAS O Programa
de Combate à Obesidade é promovido desde Setembro de 2016 e, de acordo com os dados que o presidente revelou ao POSTAL, “já temos à volta de
140 pessoas inscritas a perder peso”. A iniciativa está integrada nas políticas sociais e de saúde da autarquia e visa combater a obesidade, responsável pela diminuição da qualidade de vida e pela morte prematura da população mundial. Francisco Amaral reuniu-se com profissionais da saúde e do desporto e com a direcção do Centro de Saúde de Castro Marim com o objectivo de criar um programa eficaz, com base nos recursos existentes no concelho. “A Câmara de Castro Marim contratou uma psicóloga (Ana Calvinho), uma nutricionista (Joana Faria) e tem quatro bons técnicos de desporto (liderados por Jorge Neves)”, que trabalham as diferentes abordagens técnicas do programa, de forma articulada com o centro de saúde local. A obesidade é uma doença que dá má qualidade de vida e a decisão de perder peso é íntima e pessoal, podendo levar anos a ser tomada. “Quantas vezes nos apetece um bolinho?” É necessário ter força de vontade e quando a decisão é finalmente tomada, o Estado deve ter uma resposta útil e rápida, o que não acontece actualmente. “Uma das vantagens deste programa é exactamente essa: disponibilidade permanente”.
SERES HUMANOS SÃO FORMATADOS PARA VIVER ATÉ AOS 120 ANOS Francisco Amaral con-
tou ao POSTAL que esteve recentemente num congresso médico, onde os dois medicamentos mais falados foram o exercício físico e a dieta alimentar. “Não se fala em mais nada, já toda a gente viu o filme”. De acordo com o médico, os seres humanos são formatados para viver geneticamente até aos 120 anos e é devido ao estilo de vida que levamos e “às asneiras que fazemos”, que vamos ficando pelos 70 ou 80 anos. “Que obeso chega aos 90 anos? Há
fotos: cátia marcelino
pagar a medicação. O Programa de Combate à Obesidade é para a comunidade obesa de Castro Marim. “Eu tomei medidas inéditas no país que mais tarde foram copiadas por outros municípios”. O autarca garantiu ao POSTAL não ter dúvidas de que daqui a uns anos o programa de combate à obesidade também vai ser copiado por outros municípios, porque agora as pessoas ainda não sabem bem o que é a obesidade.
OS AUTARCAS DEVEM ZELAR PELA QUALIDADE DE VIDA DOS MUNÍCIPES “Estamos a falar de
ÔÔ A preocupação de Francisco Amaral deve-se à falta de resposta do Sistema Nacional de Saúde sempre uma excepção à regra mas duvido que algum obeso chegue aos 90 anos”. O autarca acredita que “as pessoas se preocupam com muita coisa mas não com o essencial da questão. A qualidade de vida da população é muito importante para mim e não tenho qualquer dúvida que com este programa estou a contribuir decisivamente para a longevidade média deste concelho”. O programa criado para Castro Marim já mostra resultados positivos e a mentalidade das pessoas já começou a mudar e já é habitual ver os munícipes passear nas avenidas, frequentar os programas, e a praticar exercício físico, fitness e zumba. “As pessoas estão motivadas e ainda bem que isso acontece”. Há alguns anos, os enfartes eram mais frequentes na classe média alta que tinha mais fartu-
ra em comida e bebida, hoje em dia, acontecem mais frequentemente na classe média baixa onde as pessoas estão menos informadas. A população está mais sensível, alertada e mais consciente desta problemática. O médico garante que o necessário é educar o organismo, porque “depois há uma habituação tal que é o próprio organismo a pedir o exercício”.
PROGRAMA DE COMBATE AO TABAGISMO FOI A PRIMEIRA CAMPANHA CRIADA NA AUTARQUIA DE CASTRO MARIM O autarca
mais antigo do país tem vindo a criar uma série de medidas pioneiras na área da Acção Social e Saúde e a primeira dessas campanhas a ser introduzida por Francisco Amaral, depois de assumir a presidência da Câmara de Castro Marim, foi o
programa de luta contra o tabagismo. Para o autarca, “ninguém encara o tabagismo como uma toxicodependência e, como toxicodependência que é, para a vencer tem que haver uma grande motivação pessoal e um grande apoio do Estado. Neste caso, trata-se do Estado local, a Câmara Municipal”. Nestes dois programas, parte da vontade da pessoa querer ou não mudar, “é a pessoa que decide e com alguma medicação, com apoio psicológico, com a informação toda, porque eu esclareço tudo e ponho as cartas em cima da mesa: isto é assim e é isto que vai ter de fazer se quiser mudar. As pessoas sentem-se mais seguras depois de eu explicar tudo”. No caso particular do tabagismo o programa é aberto a toda a gente e existem já utentes de outros concelhos, mas têm de
qualidade de vida, uma preocupação que deve ser de todos os políticos do país, sejam eles centrais, regionais ou locais, a qualidade de vida do seu português”. As pessoas que deixam de fumar ou que perdem peso são muito mais felizes do que eram, “ficam muito orgulhosas com isso e quando me vêem na rua dizem-me que tudo valeu a pena”. Francisco Amaral disse ao POSTAL que a sua profissão tem uma grande influência na sua vida política e “nunca soube onde é que acabava a medicina e começava a função política”. O autarca acredita que existe “uma promiscuidade positiva entre as duas áreas” e que as duas se complementam. Questionado sobre o futuro, o presidente da Câmara de Castro Marim disse ser muito bom se conseguir combater “estes dois flagelos do século XXI”. No entanto, o autarca não se dá por satisfeito e garante que a sua cabeça não pára e está sempre a pensar em novas ideias. “Quando vou aos congressos médicos fico sempre a pensar naquilo que aprendo e em como é que vou pôr isso em prática no meu concelho. Estou sempre a fazer essa ligação”.
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Algarve é pioneiro e vai poder salvar vidas em menos de dez minutos pág. 7
Início das obras na Estrada de Alfandanga está dependente do Tribunal de Contas Autarquia aguarda resposta depois de pedido de esclarecimentos Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire
catiam.postal@gmail.com
O INÍCIO DA OBRA NA ESTRADA DE ALFANDANGA – Moncarapa-
cho (EM 516-2) está dependente do Tribunal de Contas. Depois do pedido de esclarecimentos, que já obteve resposta, a autarquia está agora a aguardar nova decisão do tribunal para proceder à intervenção. O presidente da Câmara de Olhão, António Miguel Pina, considera esta intervenção como “uma das maiores obras que vamos fazer nesta área” e o autarca espera “que os muitos utilizadores da via possam usufruir dela nas melhores
ricardo claro
condições”. A obra, com um investimento total avaliado em 420 mil euros, engloba a repavimentação da estrada e a reparação de valetas para a recolha de pluviais.
OBRA FAZ PARTE DO PLANO ANUAL DE REQUALIFICAÇÃO A
intervenção está integrada no Plano Anual de Requalificação do Município, que disponibiliza um milhão de euros para este tipo de requalificações, e a estrada de Alfandanga – Moncarapacho é a próxima zona a ser melhorada depois das obras efectuadas na rede viária de Quelfes. Com um investimento
ÔÔ Autarca garante que estão previstas muitas intervenções no concelho ao nível das estruturas rodoviárias
avaliado em 600 mil euros, Quelfes foi a primeira rede viária a ser alvo de intervenções. Para além da re-
EXPOSIÇÃO
pavimentação, as obras envolveram também a criação de valetas marginais à via, a reformulação das passagens
hidráulicas existentes e a criação de novas passagens em locais necessários. Para António Miguel Pina, estas foram “empreitadas prioritárias” para dotar as artérias de “condições de circulação mais seguras, quer para os automóveis, quer para os próprios peões”. A próxima intervenção a realizar, dentro do Plano Anual de Requalificação, está já a ser preparada pelo município e vai acontecer nas freguesias de Olhão e Pechão.
MUITAS INTERVENÇÕES PREVISTAS PARA O CONCELHO DE OLHÃO O presidente da Câmara de Olhão garantiu ao POSTAL
que estão previstas muitas intervenções no município e destaca a EB1 Nº 5 de Olhão, que terá um investimento de dois milhões de euros; várias obras de saneamento básico, avaliadas em três milhões e meio de euros; e ainda algumas intervenções nas zonas de Bias e Cavacos. Em declarações ao POSTAL, António Miguel Pina disse ser essencial a criação de boas condições nas estradas para uma melhor e mais fácil mobilidade dos seus utilizadores. O presidente acredita que estas intervenções são “fundamentais para a qualidade de vida de um concelho que tem cada vez mais habitantes e mais gente que nos visita”.
EVENTOS
Tesouro da arqueologia europeia está em Parises Cerveja é destaque no ‘Beer Fest’ de Silves JUNTO À CAPELA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, a expo-
sição “Quem nos escreve da serra” trouxe a Parises, em São Brás de Alportel, um dos maiores tesouros da arqueologia europeia. Com o objectivo de levar o espaço cultural museu para fora de portas, interagindo com as comunidades locais e contribuindo para um acesso mais democrático à cultura, a exposição encontra-se localizada na via pública, pode ser visitada 24 horas por dia, é gratuita e bilingue. Os conteúdos apresentam a Idade do Ferro, a escrita do Sudoeste, onde habitavam, como viviam e como morriam essas comunidades, e também alguns dos investigadores que em Loulé, Silves e no Museu Nacional de Arqueologia se dedicaram ao tema.
ESCRITA DO SUDOESTE É SÍMBOLO DA HERANÇA HISTÓRICA DA REGIÃO A escrita do Sudoeste é a primeira manifestação,
bem caracterizada, de escrita da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa, que está ainda hoje por decifrar. Ela aproxima-nos dos pensamentos e modos de vida do passado e, por isso, é um dos maiores tesouros da arqueologia europeia, uma imagem de marca da serra que divide o Alentejo e o Algarve e um símbolo privilegiado da herança histórica da região. No espaço contíguo à exposição podem ainda ser vistas obras contemporâneas dos artistas plásticos Menau, Ângela Menezes e Ana Isabel Palma que, a partir da escrita do Sudoeste, criaram pinturas murais e um projecto escultórico. A exposição conta com o apoio do Museu Nacional de Arqueologia (Direcção-Geral do Património Cultural), do Museu Municipal de Faro e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Con-
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ÔÔ Para ver em São Brás tou com a colaboração da Direcção Regional de Cultura do Algarve, da Junta de Freguesia do Ameixial, da Junta de Freguesia de Benafim, da Junta de Freguesia de Salir e da Direcção-Geral do Património Cultural. A organização é da responsabilidade da Câmara de São Brás, em parceria com a Câmara de Loulé e o Projecto ESTELA, e pode ser visitada até 16 de Julho.
d.r.
A CERVEJA É A GRADE ATRACÇÃO DO ‘BEER FEST’, um even-
to organizado pelo Silves Futebol Clube, que conta com o apoio da Câmara de Silves. De 15 a 18 de Junho, a Praça Al-Mutamid, em Silves, vai receber algumas das principais marcas nacionais de cerveja, bem como diversas cervejas artesanais. Além dos sabores muito distintos que os visitantes podem degustar, o evento reúne também artesanato, gastronomia, workshops, showcooking e uma área lounge. A música não vai faltar e tem direito a dois palcos onde vão passar nomes de destaque, como Mário Dias, US2, Zeca e os Pelintras, Ondina Santos, Reflect, A Tiborna das Cantigas, Insert Coin e Xico Barata. O programa de actividades inclui ainda a presença dos Ranchos Folclóricos de São Bartolomeu de Messines e do Algoz, bem como, diversos apon-
ÔÔ Evento reúne algumas das principais marcas nacionais tamentos de animação de rua. Uma festa a rigor para os amantes da cerveja a não perder em terras de Silves para mais tarde recordar. Faça-se ao caminho, junte-se aos amigos e desfrute do am-
biente da Beer Fest de Silves no enquadramento único da cidade histórica algarvia. Para mais informações pode consultar a página https://www.facebook.com/silvesbeerfest/.
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Restauração: Santa Luzia ganha nova centralidade à mesa do BAROUF Um espaço único em Santa Luzia que propõe sabores do mundo com um inconfundível toque mediterrânico fotos: d.r.
A GEOGRAFIA DA MESA EM SANTA LUZIA, SEJA PARA JANTAR OU PARA ALMOÇAR, ALTEROU-SE E GANHOU UM NOVO CENTRO DE ATRACÇÃO, O RESTAURANTE BAROUF. A sobriedade e simplicidade do espaço criado por Doris e Pierre para acolher os seus clientes dão ao BAROUF um traço de fino gosto capaz de responder tão depressa a um almoço em família ou de negócios, como a um jantar com os amigos ou simplesmente um emocionante repasto a dois. Mas mais do que o espaço, o BAROUF é feito por pessoas e para as pessoas, com o chef Pierre e a anfitriã Doris a criarem, assentes na simpatia e na arte de bem receber, um ambiente acolhedor para quem escolhe o seu restaurante para uma refeição. Depois, é deixar-se levar pelo concerto dos aromas e dos sabores, numa orquestração perfeita entre todos os elementos que fazem de cada proposta do restaurante um desafio aos comensais. Em cada prato é de uma apurada sinfonia que se fala, em que a versatilidade dos sabores do mundo e da época se alia à arte culinária feita de toques de mestria e traços mediterrânicos.
estar à mesa descansado seja numa refeição em família, mesmo com crianças, seja em qualquer outra situação. Para os mais pequenos gastarem as energias depois de comerem há um amplo espaço verde frente ao restaurante, com um parque infantil capaz de os fazer sonhar e divertir enquanto os familiares continuam à mesa
e sempre com um olho nas travessuras dos pequenotes. Para os amantes do sol e do ar-livre a esplanada oferece espaço para uma refeição ou drink de entrada com mesas expostas ao astro-rei ou abrigadas por generosas sombras. O interior oferece, por sua vez, mesas para as mais variadas possibilidades, desde a re-
UM ESPAÇO QUE É UM CONVITE A ESTAR SEM LIMITAÇÕES SEJA EM FAMÍLIA OU ENTRE AMIGOS BAROUF é sinónimo de poder
ÔÔ Doris e Pierre criaram no BAROUF um espaço de excelência
Alcoutim vai ter dois postos de carregamento semi-rápido para veículos eléctricos d.r.
feição romântica de um par até aos jantares e almoços de grupo. Uma oferta diversificada e pensada pelos anfitriões do BAROUF para responder às necessidades de quem quer estar à mesa para relaxar e desfrutar.
DOS PEIXES ÀS CARNES, CRUZANDO OS CAMINHOS DAS SALADAS PRIMAVERIS, A APOSTA NA FRESCURA E NO SABOR A
ÔÔ À mesa com a qualidade e a frescura é o que propõe o BAROUF
MOBILIDADE ELÉCTRICA
qualidade dos produtos escolhidos a dedo pelo chef Pierre é o segredo da excelência dos pratos no BARFOU para um mestre culinário que diz que não há segredos na cozinha, apenas dedicação, amor e muita qualidade. Respeitando uma das regras de ouro da Dieta Mediterrânica, a utilização dos produtos da época, o BAROUF apresenta pratos que percorrem as suculentas carnes, perfumadas de ervas aromáticas, tão depressa como nos levam pelos caminhos do melhor peixe, com notas de contraste, preservando a essência dos delicados sabores do mar que o Algarve oferece. Tudo isto, saladas para os amantes das refeições light, e muito mais, esperam por si em santa Luzia, numa nova geografia da restauração chamada BAROUF. Contactos e reservas: Rua José Falcão, n.º 1 Sta. Luzia - Tavira +351 281 321 431 Baroufsantaluzia@yahoo.com
ÔÔ Medida vai posicionar concelho como destino de turismo sustentável
O CONCELHO DE ALCOUTIM VAI TER DOIS PONTOS DE CARREGAMENTO semi-rápido
para veículos eléctricos, em via pública, que vão ser colocados ao abrigo de um Protocolo de Colaboração Institucional para a Promoção da Mobilidade Eléctrica e do Turismo Sustentável na região do Algarve. A criação de condições infraestruturais adequadas para que seja viável a utilização de veículos eléctricos no território vai posicionar o concelho como destino de turismo sustentável e funcionar como factor de atractividade turística. O objectivo é promover a implementação de uma rede de carregamento de veículos eléctricos (VE) extensível a todos os municípios da região algarvia; criar mecanismos de diferenciação positiva para os cidadãos e visitantes que circulam na região, nomeadamente através de apoios e isenções temporárias de pagamento no carregamento e no estacionamento; criar oferta
para que os turistas possam dispor de VE durante a sua estadia; e desenvolver uma campanha de promoção e sensibilização para uma mobilidade sustentável focada no turismo do Algarve. O protocolo foi assinado a 18 de Maio, em Portimão, na abertura do fórum internacional de projectos de mobilidade urbana sustentável, no âmbito do lançamento da segunda fase do projecto do Governo para a implementação da Rede Piloto para a Mobilidade Eléctrica. A cerimónia contou com a presença do secretário de Estado adjunto e do Ambiente, José Mendes, e da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho. O protocolo conta com a participação do Turismo de Portugal, da Mobie.E, empresa que instala e gere pontos de carregamento de veículos eléctricos, da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis Sem Condutor. pub
RE S TAUR A N T E Encerrado ao Domingo ao jantar e segunda-feira
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região ASSOCIATIVISMO
Escutas de Faro requalificam Campo da Penha
Algarve é pioneiro e vai poder salvar vidas em menos de dez minutos Máquina pode salver 95% dos casos após ataque cardíaco e pretende-se a instalação de cem no Algarve d.r.
Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire
catiam.postal@gmail.com
ÔÔ Momento da inauguração
O AGRUPAMENTO 1172 SÃO LUÍS - FARO, DO CORPO NACIONAL DE ESCUTAS (CNE),
inaugurou a sua nova sede no passado sábado, 27 de Maio. O antigo recinto desportivo de Vale de Carneiros, na Penha, em Faro, cedido em regime de comodato pelo Município em 2013, teve um longo período de quatro anos de obras, nem sempre em curso, com várias intervenções de limpeza e reconstrução. Conforme explica em comunicado de imprensa, “durante o tempo de obras, o agrupamento viveu algumas frustrações mas também alegrias com muito espírito de entrega e sacrifício, humano e financeiro, tendo finalmente terminado a sua fase fundamental e estando agora reunidas as condições de funcionamento”. Ainda há melhorias a realizar, mas os escutas deste agrupamento podem já começar as suas actividades na nova casa. A cerimónia de inauguração fez-se com a missa vespertina do Domingo da Ascensão, seguida da bênção das instalações, celebradas pelo pároco e assistente do Agrupamento de São Luís, Padre António Rocha. Após a celebração de bênção, o chefe regional do Algarve do CNE fez um discurso de agradecimento e reconhecimento seguindo-se o discurso do chefe de Agrupamento do 1172, Filipe Lourenço que finalizou com a entrega de Louvores de Agrupamento a diversas pessoas e entidades que se destacaram na ajuda prestada nos trabalhos, materiais e fundos angariados para a realização da obra. A inauguração ficou ainda associada à coincidente celebração dos 94 anos da fundação do Corpo Nacional de Escutas.
A REGIÃO ALGARVIA VAI RECEBER CEM DESFIBRILHADORES AUTOMÁTICOS EXTERNOS (DAE) que permitem socorrer rapidamente pessoas em paragem cardíaca, poupando minutos preciosos que podem salvar vidas. Só o DAE pode estabilizar vítimas em paragem cardíaca e ajudá-las a ganhar tempo para receber os tratamentos adequados. Com a utilização deste equipamento, as vítimas recuperam em cerca de 95% dos casos, sendo que a máquina só actua se for mesmo necessário, após a realização de uma leitura do estado do paciente. Bastam apenas dez minutos para salvar uma vida e o projecto “Algarve Coração Seguro” foi criado para “garantir mais saúde, segurança e bem-estar à população do Algarve e a todos os que visitam a região”, como afirma a Administração Regional de Saúde.
REDE DE LIGAÇÃO ENTRE VÁRIOS PONTOS DO ALGARVE VAI SALVAR VIDAS Os cem equipamen-
tos serão distribuídos pelo Algarve, em diversos locais que ainda não estão definidos, de forma a criar uma rede de ligação entre as várias zonas da região, que permita localizar os equipamentos mais próximos da vítima e enviá-los o mais rapidamente possível ao sítio onde a pessoa se encontra. Pedro Rouxinol, médico pela Universidade do Algarve, não quer divulgar os valores exactos das máquinas mas revelou ao POSTAL que “os equipamentos têm um valor muito elevado no mercado. Nós negociámos com a Philips, a produtora dos equipamentos, e conseguimos preços mais reduzidos”. Para já o médico diz que “o projecto vai avançar no Algarve, até porque o Laboratório de Investigação e Forma-
ÔÔ Projecto foi criado para garantir mais saúde, segurança e bem-estar à população ção em Emergência (LIFE) da UAlg se encontra na região, mas isso não quer dizer que depois não seja alargado a outras zonas do país”.
RESIDENTES E TURISTAS ESTÃO MAIS SEGUROS NO ALGARVE Com vista a reforçar a capacidade de resposta dos profissionais na área do turismo, o Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve vai promover várias acções de formação em Suporte Básico de Vida (SBV) e Desfibrilhação Automática Externa (DAE), destinadas a operadores turísticos, hoteleiros, espaços comerciais e espaços públicos. Actualmente, são os turistas com mais idade que procuram o Algarve para disfrutar de umas férias ou até mesmo para viver e, nesse sentido, Almeida Pires, director geral de Pedra d’el Rei, onde dois alunos da Universidade do Algarve deram recentemente uma formação, acredita neste projecto pioneiro porque, como disse ao POSTAL, “se as unidades hoteleiras estiverem bem dotadas de equipamentos e de pessoas que saibam usar esses equipamentos, podemos socorrer os nossos turistas de uma forma mais rápida e segura”. O protocolo ‘Algarve Coração Seguro’ foi assinado a 24 de Maio, no Hotel Alísios, em
Albufeira, pelas seguintes entidades algarvias: Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve (ABC), Administração Regional de Saúde (ARS) Algarve, Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), Região de Turismo do Algarve (RTA), Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Associação Empresarial da Região do Algarve (NERA), e Associação dos Industriais Hoteleiros e Similares do Algarve (AIHSA). A Federação de Bombeiros do Algarve e a Universidade do Algarve também participam activamente no projecto. pub
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região
PSD/Algarve cria ‘mega-pacote’ legislativo para pôr Parlamento a discutir temas estruturantes Oito propostas de resolução querem abrir discussão sobre várias temáticas, com Cristóvão Norte a dizer-se aberto ao diálogo com todas as forças políticas Ricardo Claro ricardoc.postal@gmail.com
UM ‘MEGA-PACOTE’ LEGISLATIVO SOBRE OS TEMAS MAIS FUNDAMENTAIS DO ALGARVE, constituído por oito propostas de resolução a apresentar na Assembleia da República, é o que o PSD/Algarve, pela mão dos deputados eleitos pelo partido no círculo de Faro Cristóvão Norte e José Carlos Barros, apresentou à margem nas jornadas parlamentares nacionais do partido em Albufeira, como “o maior pacote legislativo de sempre sobre o Algarve”. Ao POSTAL o deputado Cristóvão Norte esclareceu que “todas as propostas de resolução serão apresentadas nesta sessão legislativa, mas que saber a data da sua discussão é impossível face aos constrangimentos de agendamento das iniciativas na Assembleia da República”. Certa será, no entanto, em princípio, a discussão de todas estas oito iniciativas durante a legislatura, com o PSD, pela voz de Cristóvão Norte, a dizer-se aberto ao diálogo com todas as
d.r.
forças políticas sobre as matérias em causa, já que diz: “acredito que todos consideramos estes temas como estruturantes para a região e que sobre todos eles apesar das divergências de opinião haverá certamente possibilidade de estabelecer consensos a bem do Algarve e dos algarvios”.
AS MATÉRIAS EM CAUSA As oito
propostas de resolução que o PSD quer ver discutidas e aprovadas na Assembleia da República, determinando por via da sua aprovação o dever do Governo de agir sobre estas matérias dentro dos limites determinados pelo parlamento, incidem sobre o novo hospital central do Algarve, a requalificação da EN 125 entre Olhão e Vila Real de Santo António, e a correlativa suspensão de portagens da A22 nos troços a intervencionar, a ligação ferroviária ao Aeroporto de Faro, a revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano, o avanço da intervenção no Porto de Portimão, a tomada de medidas para defender o marisqueio e a apanha
de bivalves, a conclusão do sistema de regadio de Silves, Lagoa e Portimão e os projectos sobre a Fortaleza de Sagres como lugar de visitação e a escassez de recursos humanos necessários para dar resposta às solicitações. Em todos estes casos as propostas do PSD apresentam aquilo que o partido considera “soluções para o desenvolvimento de cada um destes processos de acordo com os interesses dos algarvios e da economia regional”. O deputado Cristóvão Norte salienta que “espera uma discussão alargada e inclusiva dentro do espectro político com assento parlamentar sobre estas matérias” e que “deseja que os outros partidos apresentem sobre estas matérias as suas propostas e visões para a região e para o seu desenvolvimento”. “Não nos consideramos donos da verdade absoluta ou de soluções fechadas para estas questões que são verdadeiramente fundamentais para o Algarve” diz, “lançamos a proposta de debate e desejamos que este
ÔÔ O deputado Cristóvão Norte está aberto ao debate exista e seja frutífero”, remata o deputado em jeito de convite e desafio aos partidos com assento parlamentar, nomeadamente à maioria de esquerda.
O EXEMPLO DO HOSPITAL CENTRAL. HÁ OU NÃO RAZÕES PARA UNIR ESFORÇOS? “Trata-se de
propor a reunião de forças em torno de matérias determinantes” diz, e dá um exemplo:
o hospital central já foi lançado várias vezes, teve a primeira pedra colocada pelo primeiro-ministro quando José Sócrates ocupava o lugar, foi definido como prioridade em infra-estruturas de saúde com base em estudos pelo Governo de Pedro Passos Coelho e o actual Governo excluiu-o das prioridades, lançando quatro outros hospitais”.
“Todos concordamos, creio eu, que esta é matéria prioritária para a região na procura de uma solução para os diferentes problemas que estão na base das insuficiências do Serviço Nacional de Saúde na região e se assim é o hospital tem de regressar às prioridades do país e do Governo e uma resolução da Assembleia da República é um caminho para esse efeito”, remata o político social-democrata. Aguarda-se pois a entrada no parlamento das oito iniciativas políticas do PSD/ Algarve para ver os reais efeitos destas na agenda política e nas opções e prioridades do Estado central naquilo que respeita a estas oito necessidades prementes da região. Um bom momento também para aquilatar da influência dos vários deputados algarvios dentro das respectivas bancadas políticas no parlamento e para averiguar da capacidade de consenso das forças políticas na região a favor das soluções que os algarvios querem ver encontradas pelos seus representantes.
NO DIA NACIONAL DO PESCADOR A AUTARQUIA DISTINGUE QUATRO HOMENS DO MAR
Tavira homenageia cidadãos da terra com vidas de sacrifício Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire
catiam.postal@gmail.com
A TARDE COMEÇOU CHEIA DE EMOÇÕES PARA OS QUATRO PESCADORES HOMENAGEADOS pela Câmara de Tavira
no Dia Nacional do Pescador. Acácio Chagas (Cabanas de Tavira), Apolinário Baptista (Santa Luzia), Artur Maximiano (Tavira) e Rogério Galhardo (Tavira) receberam, a 31 de Maio, placas de homenagem das mãos dos seus presidentes das juntas de freguesia, que os indicaram para a distinção. Para o presidente da Câmara de Tavira, Jorge Botelho, esta é uma homenagem merecida a cidadãos com “histórias de vida de sacrifício”, que se dedicaram
cátia marcelino
a esta actividade primária que “nós não podemos deixar acabar”. Aos pescadores o presidente disse serem “um exemplo para a nossa comunidade, exemplo de uma profissão nobre que nós reconhecemos”.
HOMENAGEADOS VIVERAM MOMENTOS DE AFLIÇÃO NO MAR
PESCADORES EMOCIONADOS PELO RECONHECIMENTO DO TRABALHO DE UMA VIDA A feli-
cidade pairava no ar do Salão Nobre dos Paços do Concelho e foi partilhada por todos os homenageados que, visivelmente emocionados, garantiram ao POSTAL ser “uma grande alegria estar entre amigos e pessoas que nos estimam. É um reconhecimento do nosso trabalho”. Acácio Chagas nasceu em 1943, em Cabanas de Tavira,
ingressou na pesca do bacalhau em Lisboa, onde trabalhou dez anos como mestre de salga. Reformou-se aos 62 anos e em 1999 foi campeão de pesca artesanal (polvo).
ÔÔ Homenageados continuam ainda ligados ao mar onde viveu até 1980, quando se mudou para Tavira. Descende de família de pescadores e ingressou na vida marítima com 11 anos. Reformou-se aos 63 anos, sem sofrer qualquer acidente, e desde então não voltou a exercer a profissão. Ac-
tualmente integra a Associação de Armadores e Pescadores de Tavira (APTAV). Apolinário Baptista nasceu em 1946 e também iniciou a sua actividade marítima aos 11 anos, na arte de arrastar, seguindo-se os alcatruzes. Aos 16
Artur Maximiano nasceu em 1935, em Castro Marim, mas vive em Tavira desde os nove anos. Começou a trabalhar aos 12 anos na pesca da sardinha e trabalhou na pesca do biqueirão em Marrocos e Matosinhos. Numa dessas viagens viveu um susto no mar. Ao largo da Nazaré, a embarcação apanhou uma tempestade e o barco ficou à deriva. Só ao escurecer chegou a ajuda de uma traineira que re-
bocou a tripulação até Peniche. Rogério Galhardo nasceu em 1947 em Tavira e aos 16 anos foi trabalhar com o mestre Jaime (Armador no Barril). No Inverno, período de interrupção da armação, dedicava-se à pesca com rede de malha na costa espanhola. Numa destas jornadas foi apanhado num forte vendaval, no regresso de Punta Umbria. A tripulação foi socorrida por um arrasto espanhol que a encaminhou até à barra da Ilha Cristina. Depois de vidas inteiras dedicadas à pesca, os homenageados continuam ligados ao mar porque, de acordo com Rogério Galhardo, “o mar é uma paixão que não se consegue explicar, sente-se”.
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EDITAL Nº 28/2017 Jorge Manuel do Nascimento Botelho Presidente da Câmara Municipal de Tavira TORNA PÚBLICO, que em reunião ordinária de Câmara Municipal, realizada no dia 30 de maio de 2017, foram tomadas as seguintes deliberações: 1. Aprovada por maioria a proposta número 85/2017/CM, referente a 7ª e 8ª Alterações às Grandes Opções do Plano e ao Orçamento/2017; 2.Aprovada por unanimidade a proposta número 86/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à Cruz Vermelha Portuguesa - XI Jantar de Solidariedade da Delegação de Tavira - 2017; 3. Aprovada por unanimidade a proposta número 87/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Tavira - Investimento a realizar no altar da Nossa Senhora de Fátima e os pastorinhos; 4. Aprovada por unanimidade a proposta número 88/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Tavira - Arraiais dos Santos Populares 2017; 5. Aprovada por unanimidade a proposta número 89/2017/CM, referente a Atribuição de apoio ao Centro Social Paroquial de Santa Maria- Arraiais dos Santos Populares 2017;
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6. Aprovada por unanimidade a proposta número 90/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à Federação de Caçadores do Algarve - 22.ª Feira de Caça, Pesca e do Mundo Rural; 7. Aprovada por unanimidade a proposta número 91/2017/CM, referente a Atribuição de apoios no âmbito do RMAAD – 2017; 8. Aprovada por unanimidade a proposta número 92/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à APTAV - Associação de Armadores e Pescadores de Tavira; 9. Aprovada por unanimidade a proposta número 93/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à Casa do Povo da Luz de Tavira; 10. Aprovada por unanimidade a proposta número 94/2017/CM, referente a Atribuição de apoio à Almargem - Associação de defesa do património cultural e ambiental do Algarve - Projeto Via Algarviana; 11. Aprovada por unanimidade a proposta número 95/2017/CM, referente a Atribuição de apoio ao Centro Paroquial de Cachopo; 12. Aprovada por unanimidade a proposta número 96/2017/CM, referente a Constituição de direito de superfície a favor da Cruz Vermelha Portuguesa; 13.Aprovada por maioria a proposta número 97/2017/CM, referente a Concessão de exploração de estabelecimentos integrados no Parque de Campismo da Ilha de Tavira - Ratificação de despacho de aprovação da minuta do contrato; 14. Aprovada por unanimidade a proposta número 98/2017/CM, referente a Alteração à tabela de preços; Para constar e produzir efeitos legais se publica o presente Edital e outros de igual teor que vão ser afixados nos lugares de costume.
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;; A – faz crescer.
A – grande problema. B – grande confusão. C – grande tragédia. D – grande tormenta.
B – faz fortalecer. C – faz enriquecer. D – energia.
Esta é uma iniciativa das Bibliotecas Paula Nogueira do Agrupamento de Escolas Professor Paula Nogueira (Olhão) em parceria com a Casa da Juventude de Olhão e o POSTAL, que semanalmente divulga os problemas e as soluções deste jogo. VáriasescolasdoAlgarve jáaderiramàiniciativa:AEProfessorPaulaNogueira(Olhão)/AEdaSé(Faro)/AED.AfonsoIII(Faro)/AEDr.AlbertoIria(Olhão)/ColégioBernardetteRomeira(Olhão)/AEDr.JoãoLúcio(Fuseta)/AEdeEstoi(Faro)/AEJoaquimMagalhães(Faro)/AEdoMontenegro(Faro)/AEdeCastroMarim (Vila Real de St. António) / AE Professora Diamantina Negrão / (Albufeira) / Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas (Mega Agrupamento de São Brás de Alportel) / Escola Secundária João de Deus (Faro) / Agrupamento de Escolas D. Paio Peres Correia (Tavira) / Casa da Juventude (Olhão) / Postal do Algarve. Convidamos todas as escolas e bibliotecas, interessadas em aderir ao Jogo da Língua Portuguesa e receber os materiais para o mesmo, a contactar: biblioteca.epnogueira@gmail.com ou jornalpostal@gmail.com.
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Farformosa É um projecto para levar anos, mas que pode avançar a muito mais breve trecho. A importância de renovar um dos espaços mais degradados de Faro, numa das zonas de maior beleza da frente ribeirinha é determinante (Ler págs. 2 e 3 ).
E-mail da redacção: jornalpostal@gmail.com
Director: Henrique Dias (CP 3259). Editor: Ricardo Claro (CP 9238). Redacção: Cátia Marcelino (estagiária), Cristina Mendonça (CP 3258), Humberto Ricardo (CP 388). Design: Profissional Gráfica. Colaboradores fotográficos: José A. N. Encarnação “MIRA” Colaboradores: Beja Santos (defesa do consumidor), Nelson Pires (CO76). Departamento Comercial, Publicidade e Assinaturas: Anabela Gonçalves, José Francisco. Propriedade do título: Henrique Manuel Dias Freire ( mais de 5% do capital social) Edição: Postal do Algarve Publicações e Editores, Lda. Contribuinte nº 502 597 917. Depósito Legal: nº 20779/88. Registo do Título (dgcs): ERC nº 111 613. Impressão: Naveprinter Distribuição: Banca - Logista, à sexta-feira com o Público/VASP - Sociedade de Transportes e Distribuição, Lda e CTT. Estatuto editorial: disponível em http://www.postal.pt/quem-somos/ Membro: APCT - Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação; API - Associação Portuguesa de Imprensa.
Beja Santos
Assessor do Instituto do Consumidor e consultor do POSTAL
Um doente motivado para se tratar e aspirar a uma vida com mais qualidade carece de informação oportuna, correcta sobre a sua doença e exposta em termos tais que a sua adesão seja consciente e envolva as componentes solidária e associativa: a literacia em saúde prepara a participação em saúde. Nesse âmbito, apraz realçar a excelente qualidade de um manual preparado pela sua
www.anaamorimdias.blogspot.com anamorimdias@gmail.com Tiragem desta edição:
opinião
associação, a APDPk – Associação Portuguesa de Doentes com Parkinson, com o patrocínio científico da SPDMov – Sociedade Portuguesas das Doenças do Movimento, que está à disposição de qualquer interessado. Ainda muito se desconhece sobre esta doença, mas no início da década de 1960 descobriu-se que estes doentes tinham uma diminuição do químico dopamina em algumas zonas do cérebro. Esta descoberta abriu porta para a utilização posterior do medicamento levodopa (que se degrada em dopamina) no tratamento dos doentes com Parkinson. Estima-se que esta doença afecte aproximadamente 1% da população mundial com idade superior a 65 anos. Se bem que a causa da doen-
ça ainda não está conhecida, admite-se que resulta numa combinação de factores ambientais e genéticos. Neste excelente material divulgativo explica-se como é que se efectua o diagnóstico da doença e os tipos de parkinsonismo. Quanto à etiologia, ou seja como surge a doença, é devido à morte de células neuronais de uma zona do cérebro conhecida como substância negra. É importante conhecer sinais e sintomas motores, como é o caso do tremor de repouso, a rigidez, a instabilidade postural e alterações da marcha, as alterações de sono, as alterações autonómicas e sexuais. Quanto à evolução natural da doença de Parkinson, esclarece-se que os doentes com início desta doença em idades mais avançadas apresentam uma progressão mais rápida
e mais risco de desenvolverem demência. Os doentes com Parkinson mais precoce (início antes dos 40 anos de idade) apresentam uma progressão mais lenta. Contudo, estes doentes desenvolvem mais cedo e com maior gravidade o aparecimento de complicações motoras, com as flutuações motoras. O manual explica a actuação dos medicamentos antiparkinsónicos e os tratamentos cirúrgicos possíveis. Releva-se a
reabilitação neurológica, nomeadamente com as estratégias de intervenção de reabilitação para problemas na doença de Parkinson (exemplos: Porque tenho quedas quando sou distraído? Como ultrapassar a dificuldade em levantar-se da cama? Como entrar na banheira? Como segurar os talheres?). Pode contactar a APDPk através do telefone 261 330 709 ou dos emails: secretariadoparkinson@gmail.com e parkinsonlisboa@gmail.com.
as vejo a deixar que sejam os outros a mandar naquilo que sentem. Convenhamos: está sempre a acontecer! Vem um e faz-te sentir culpado. Chega outra e incute-te a insatisfação. Outros ainda instigam-te a inveja ou fazem nascer em ti aqueles nervos incontroláveis. Mais tarde dizem algo que te entristece ou fazem alguma coisa que te frustra e impacienta… Podia ficar nisto
o dia todo, pois acontece com uma tal frequência e em tantos campos diferentes que os exemplos são infinitos. Porque carga de água havemos de permitir que sejam os outros a determinar aquilo que nós sentimos??? Caramba, a vida é nossa, a festa é nossa; somos nós que lhe suportamos todos os sacrifícios e custos. Como podemos, por isso, deixar que venham os ou-
tros dizer o que se come aqui, o que se bebe aqui, o que se dança ou o que se ri aqui, na nossa festa? Como podemos deixar que sejam os outros a vir decidir a música que ouvimos dentro de nós? A festa é tua, está bem? A festa é tua e só deves sentir o que bem te apetecer, não o que os outros pretendem que sintas! Lembra-te: a festa é tua!
Donos da festa
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Se por um lado é o ponto positivo da semana, o projecto Farformosa é uma tentativa de resposta para um problema que se arrasta em Faro, nomeadamete no que toca à Horta da Areia (Ler págs. 2 e 3).
Apresentar a doença de Parkinson numa boa literacia em saúde
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Um porto e uma zona industrial que são um problema há décadas
Enquanto organizadora de eventos obedeço a uma lei soberana muito simples: são os donos da festa que decidem como a querem. Respeitando tal premissa, tão básica quanto fácil de executar, tudo costuma desenrolar-se com uma perfeição quase idílica. Enquanto escritora e pensadora, olho para imensas pessoas com uma incredulidade irreprimível. Sobretudo quando
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regressa no dia 23 de Junho
última BBT urbano promove zona histórica de Tavira
DESPORTO
Lagoa promove ‘Olimpíadas Jovens’
Prova realiza-se a 17 de Junho com um percurso renovado d.r.
A ZONA HISTÓRICA DA CIDADE DE TAVIRA recebe pela quinta
vez, a 17 de Junho, o “Tavira Bike Race”, uma prova de BTT urbano que este ano se apresenta com um percurso renovado. Os participantes vão passar perto do castelo, igrejas, ruelas e na travessia da ponte romana, que separa o Rio Séqua do Rio Gilão, num circuito fechado, de duas horas, com cerca de 5,5 quilómetros. As zonas espectáculo mantêm-se e a zona central da prova é na Praça da Repúblicae Ponte Romana e são esperados muitos visitantes, turistas e amantes da modalidade. O objectivo da prova é promover a revitalização do espaço da zona mais antiga de
Tavira, assim como a promoção e divulgação das bicicletas todo terreno (BTT) e sua utilização urbana. Logo na primeira edição, em 2013, o evento contou com a participação de 150 atletas e cerca de 3.000 pessoas encheram a cidade para assistir à prova. Em 2015 o evento consolidou-se como prova de referência em Portugal e em 2016 foi a edição mais internacional de sempre, com participantes de vários países, tais como Espanha, França e Inglaterra. Nesta edição, o Clube Bike Team Tavira, com o apoio do Município, pretende manter a qualidade da prova e proporcionar aos atletas momentos únicos de desporto e diversão.
ÔÔ Em 2016 a prova foi a mais internacional de sempre pub
O PROGRAMA “OLIMPÍADAS JOVENS” decorre até ao próxi-
mo dia 17 de Junho em Lagoa em vários equipamentos desportivos do concelho. Nesta iniciativa, os mais novos, dos 6 aos 11 anos, podem desenvolver hábitos de vida promotores de saúde, num convívio desportivo de várias modalidades que vão desde o andebol, futebol, atletismo, basquetebol e natação à canoagem, numa estreita ligação aos clubes que apresentarão as modalidades que praticam e darão o seu apoio à componente técnica da actividade, utilizando o Pavilhão Municipal Jacinto Correia, Estádio da Bela Vista, Pavilhão do Parchal, Piscinas Municipais e Cais do Calhau na Mexilhoeira da Carregação. Este programa, promovido
d.r.
ÔÔ Iniciativa visa incutir hábitos de vida promotores de saúde
pela Câmara de Lagoa, tem como objectivo proporcionar uma maior oferta desportiva, dando a conhecer o potencial do parque desportivo de Lagoa e colaborando com o tecido associativo do concelho na captação de jovens atletas de hoje e futuros campeões de amanhã. pub
Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO
JUNHO 2017 | n.º 104 5.218 EXEMPLARES
www.issuu.com/postaldoalgarve d.r.
Espaço AGECAL:
d.r.
Os limites do uso do corpo na arte p. 6
O papel dos audiovisuais na comunicação patrimonial
p. 3
Filosofia dia-a-dia: d.r.
Estamos sempre já a imaginar p. 4 Letras e leituras:
carlos ramos d.r.
António Rosa Mendes: A Construção do Vazio, de Patrícia Reis p. 5
Da minha biblioteca: d.r.
Diário do Farol. A Ilha, a Cadela e Eu, de Ana Cristina Leronardo p. 11
Um representante genuíno da identidade algarvia p. 10
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Cultura.Sul
Editorial
Missão Cultura
Sempre em evolução
4 M’s: Maio, Museus, Museologia e Misericórdias no Algarve (parte 2) fotos: d.r.
Ricardo Claro
Editor ricardoc.postal@gmail.com
AGENDAR
Com oito anos de existência já contabilizados, o Cultura.Sul continua a apostar na evolução dos conteúdos que leva aos algarvios, na tentativa de se ultrapassar em cada dia, em cada momento e de melhor servir o propósito maior de informar e de despertar as consciências para as mais diversas áreas culturais. Mudar a imagem do caderno já aconteceu, como foi acontecendo ao longo do tempo a renovação dos conteúdos, e assim continuamos numa senda de procurar diversificar e ampliar as propostas de leitura e as temáticas sugeridas aos leitores. Estamos neste momento precisamente em mais um desses momentos de evolução e a edição e os autores ganham mais relevo na nova proposta de Pedro Jubilot com a rubrica Quotidianos Poéticos. Por outro lado, integra a partir desta edição as fileiras dos colaborados do Cultura.Sul o nome de Maria Luísa Francisco, com a rubrica Marca d'água, que trará ao caderno o saber de uma empenhada investigadora da área da Sociologia na região. E as novidades não ficam por aqui, vê-lo-ão em breve. Entretanto, cumpre o agradecimento a todos quantos passaram pelo Cultura.Sul com o seu precioso contributo, seja como editores, coordenadores ou colaboradores, emprestando a estas páginas dedicação e alma inexcedíveis e dignas de nota e de reconhecimento. Fazedores de conhecimento e de saber a eles, acima de tudo, se deve a alma deste caderno de cultura que vos continuará a acompanhar, apesar do desinvestimento que existe em suportes de divulgação cultural que vão além das meras folhas de sala de espectáculos.
Direção Regional de Cultura do Algarve
Patrimonialização dos bens religiosos medievais, modernos e contemporâneos Da totalidade dos edifícios religiosos e assistenciais existentes no Algarve, edificados nas épocas medieval, moderna e contemporânea – isto é, entre os séculos 8.º e 21.º –, encontram-se patrimonializados (isto é, reconhecidos como herança cultural comum das comunidades) cerca de oito dezenas de imóveis, entre os quais se incluem: duas catedrais e diversas igrejas, ermidas, cruzeiros e capelas, algumas destas integradas em fortalezas e casas nobres. A titularidade destes imóveis classificados (com grau nacional, a maioria, ou municipal) pertence ao Estado, a fábricas da igreja, a Misericórdias, e a outras congregações religiosas e entidades privadas. Relativamente ao reconhecimento desse património religioso, datável de época medieval, moderna e contemporânea, encontra-se disponível em linha, no sítio da internet da DGPC, o Atlas do Património Classificado e em Vias de Classificação. Este atlas resulta de um trabalho de cooperação institucional entre a DRCAlg e a DGPC, com o indispensável contributo dos municípios, e disponibiliza informação e permite a monitorização das cerca de duas centenas de bens culturais imóveis patrimonializados localizados no Algarve e respetivas zonas de proteção, nomeadamente informação georreferenciada e caraterização sumária referente aos edifícios religiosos medievais, modernos e contemporâneos classificados e em vias de classificação da região. Para os bens integrados e móveis de cariz religioso, o Algarve conta com um exaustivo
arquivísticos manuscritos da Diocese, das Misericórdias e de outras irmandades religiosas, como Luís Miguel Duarte, Fernando Callapez Correia e Luísa Martins. Sendo ainda de mencionar, sobre a edição impressa e a atividade editorial da Igreja no Algarve, os contributos recentes de Patrícia de Jesus Palma. Salvaguarda dos edifícios religiosos medievais, modernos e contemporâneos
Edifício onde está integrada a Igreja da Misericórdia de Faro inventário artístico da talha e da imaginária realizado por Francisco Lameira e publicado pelos serviços regionais da cultura, cobrindo a totalidade dos municípios algarvios. No que se refere ao conhecimento científico do património religioso de matriz cristã, é indispensável mencionar o importante contributo dos investigadores da Universidade do Algarve, nomeadamente de José Eduardo Horta Correia (trabalhos de investigação da arquitetura religiosa do século XVI e da obra de Francesco Fabri),
de Catarina Almeida Marado (trabalhos de investigação dos antigos conventos do Algarve), de Francisco Lameira (trabalhos de investigação da talha e dos retábulos tardomedievais e modernos). Mas deve-se também destacar o contributo de outros investigadores, como Mário Tavares Chicó e Pedro Dias (sobre a arquitetura gótica tardomedieval e manuelina) ou Vítor Serrão (sobre a pintura dos séculos 16 e 17), outros com importantes trabalhos de investigação e síntese, quer seja sobre a arquitetura religio-
sa no Algarve, como Manuel Castelo Ramos (época dos Descobrimentos), José Manuel Fernandes (do gótico ao ciclo pombalino), Carla Fernandes (época medieval), Daniel Santana e João Miguel Simões (época medieval e moderna), sobre os bens culturais das Misericórdias do Algarve, como Maria Helena e Victor Mendes Pinto (bens artísticos), sobre a arte sacra da Diocese, maioritariamente conservada nos templos ou nos museus e coleções visitáveis da região, como Isabel Macieira e Marco Santos, ou sobre os fundos
Alexandra Gonçalves, directora regional de Cultura, enquanto intervinha nas jornadas
“CONCERTO DE ELZA SOARES" 14 JUN | 21.30 | Teatro das Figuras - Faro A diva da bossa negra apresenta ‘A Mulher do Fim do Mundo’, trabalho altamente aclamado pela critica internacional e que lhe valeu um Grammy Latino em 2016
Compete à Direção Regional de Cultura do Algarve, através da sua Direção de Serviços dos Bens Culturais, propor o plano regional de intervenções prioritárias em matéria de estudo e salvaguarda do património arquitetónico e arqueológico, bem como os programas e projetos anuais e plurianuais da sua conservação, restauro e valorização, e assegurar a respetiva promoção e execução. Isto é, compete à DSBC conceber e atualizar um plano de ação de produção de conhecimento científico, salvaguarda e valorização sociocultural dos bens imóveis classificados de grau nacional existentes na região. A elaboração regular do Plano teve início em janeiro de 2010. O Plano identifica as situações de risco, estabelece prioridades de intervenção e define investimentos. Esta metodologia tem privilegiado o diálogo com os municípios, facilitando uma ação regional concertada, e nela se baseou o mapeamento de investimentos do CRESC Algarve 2020 no domínio do património cultural, elaborado com base em trabalho conjunto com a coordenação da CCDR Algarve e que, no âmbito do Eixo Prioritário 4 – Reforçar a competitividade do Território / Mapeamento dos investimentos em infraestruturas culturais, inclui diversos edifícios religiosos necessitados prioritariamente de intervenções de conservação e requalificação.
“MEMÓRIA A CORES E PRETO & BRANCO” Até 30 JUN | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira Nesta exposição podem ser apreciadas não apenas memórias, mas a visão de Rui Palma entre a fotografia a cores e o nascimento da fotografia, o Preto & Branco
Cultura.Sul
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Espaço AGECAL
O papel dos meios audiovisuais na comunicação patrimonial
Veralisa Brandão Museóloga / Historiadora Sócia da AGECAL
Considerando que património não é apenas um conjunto de monumentos ou objetos isolados e descontextualizados do seu entorno e assumindo que estes são testemunhos fundamentais da história e identidade de uma comunidade, torna-se urgente encontrar meios atuais e inovadores de fazer comunicação patrimonial. O grande desafio que se coloca prende-se com o conseguir despertar as emoções e os sentidos para este tipo de matérias. Assim, os meios audiovisuais surgem-nos, justamente, como recursos indispensáveis para a criação de conteúdos acessíveis que reaproximem os cidadãos do seu legado cultural patri-
monial, uma vez que estes desempenham um papel ativo e preponderante na preservação desta herança comum. Tanto mais que, se esses testemunhos se continuam a constituir todos os dias, devemos encará-los como algo vivo e em constante mutação. Assim, é imprescindível produzir produtos criativos, apelativos e didáticos mas mantendo sempre o rigor científico nos conteúdos. Estes novos formatos devem usar as estratégias mais eficazes tendo em conta que se destinam a ser difundidos pelos mass media. Entre alguns casos de sucesso que já vão surgindo no nosso país ficou-me inscrito na memória o filme Pedra e Cal, da realizadora Catarina Alves Costa, inserido num projeto de investigação relacionado com a arquitetura tradicional e turismo cultural do sudeste alentejano, promovido pelo Campo Arqueológico de Mértola e com a colaboração da UAlg. De uma forma muito poética e emocional, mostra-nos como estas
d.r.
ta possa passar por incluir nas equipas profissionais ligados ao vídeo, temporariamente ou mesmo de forma permanente, como já é recorrente para a área da fotografia. Vídeos documentais de curta duração, relativos a determina-
do património e utilizados em contexto expositivo, podem por vezes ter resultados inesperados e estimulantes. Damos o exemplo de um pequeno vídeo sobre os sapatos de ourelo que foi realizado no Museu Municipal de Olhão. A técnica de produção destes sapatos encontra-se perdida, mas a existência do vídeo tem gerado uma vaga de interesse por parte de um grupo de pessoas na comunidade que procura descobrir como era produzido este tipo de calçado. Por outro lado, tendo em conta a quantidade de instituições culturais existentes no Algarve a criar comunicação patrimonial, levanta-se a questão da dispersão de conteúdos, audiovisuais ou de outra natureza. Deste modo, pensamos ser imprescindível a criação de uma plataforma online exclusivamente dedicada à divulgação, de forma acessível e criativa, do património cultural algarvio, material e imaterial, mas isso seria já matéria para um outro artigo.
ver uma “audição” de uma escola de música de Olhão. No meu tempo, as audições eram como ir à missa. Todos vestidos a rigor, unhas cortadas e mais alguns pormenores que permitiam enaltecer a já grande coleção de músicas que íamos tocar. A minha primeira foi de piano no grémio, agora devoluto, mas já na malha da especulação imobiliária. Eram cerimónias pesadas, sem arte cénica. O que interessava eram as notas que o nervosismo nos fazia dar ao lado, e os sorrisos de quem orgulhosamente nos tinha
ali levado. A Drum School veio mudar isto de uma forma absolutamente incrível! Sala cheia de gente orgulhosa, alunos de sorriso rasgado a esconder o nervosismo natural e uma dinâmica em palco brilhante. Não houve tempos mortos, nem enfadonhos. Houve música à séria. Se esta crónica serve para fazer alguma coisa pela música, desta vez serve exclusivamente para dar os parabéns a quem mostrou trabalho sério com o futuro musical de Olhão. Sem mais a dizer...
Filme Pedra e Cal, da realizadora Catarina Alves Costa casas tradicionais eram e são vividas, bem como a tomada de consciência dos habitantes de que as suas casas são património. Esta indelével questão é fundamental quando justamente está em causa a divulgação de uma herança que ao
ser valorizada mais facilmente será preservada. Sabemos que muitas vezes as instituições culturais não têm meios financeiros suficientes para criar um produto com a dimensão que acabámos de mencionar. Pensamos que a respos-
Juventude, artes e ideias
Gala Drum School d.r.
João Pedro Baptista Músico
Ainda estou a recuperar da noite de 16 de Maio. Já tentei escrever por várias vezes o que senti naquela noite... Acabei o dia de folga a saber que ia haver um concerto no auditório. Desta feita, da Drum School. Paguei seis euros por dois bilhetes para
Alunos da Drum School deram a conhecer a sua música “O TEMPO EM QUE A HORA MUDOU” Até 17 JUN | Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo, em Loulé Pedro Palma inova a técnica do vidro com suportes, ferramentas e técnicas não convencionais, estabelecendo reflexões, análises simbólicas sobre questões, relacionadas com a ideia do tempo
“CONCERTO DE ANA MOURA” 24 JUN | 22.00 | Praça da República de Tavira A fadista vai cantar temas como ‘Desfado’, ‘Dia de Folga’, ‘Cansaço’, ‘Tens os Olhos de Deus’ ou ‘Fado Loucura’
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Cultura.Sul
Filosofia dia-a-dia
Estamos sempre já a imaginar (ou como funciona a nossa cabeça)
Maria João Neves Ph.D Consultora Filosófica
As gerações mais novas fazem tudo com o telemóvel, não precisam de papéis nem de relógios. Eu sou um pouco bota de elástico, e além da agenda levo sempre na carteira um pequeno caderno de apontamentos. Hoje a esferográfica falhou. Entro na primeira papelaria que encontro para comprar outra. Deparo-me com um abundante mostrador. Existem canetas das mais variadas formas, cores e feitios, umas com ponta mais grossa, outras de ponta fina. Os sistemas de veiculação da tinta também variam, bem como os preços, desde a Bic à Mont Blanc tudo é possível. Acabo por me perguntar o que é que me permite dizer que todas elas são canetas se todas elas são tão diferentes? Têm o mesmo uso, servem para escrever. Mas um lápis também serve para escrever e não é uma caneta. Por outro lado, posso usar uma caneta para muitos outros fins que nada têm a ver com a finalidade para que foi construída. Tenho uma colega que utiliza constantemente uma caneta para apanhar o cabelo, em forma de toutiço, na parte de trás da cabeça. Na papelaria há também bonecos-caneta. Neste caso a utilidade caneta está camuflada e aparece como um extra. O seu primeiro identificador não é ser caneta. Afinal, o que é que me permite subsumir todos estes objectos tão diversos no singular e único conceito de caneta? Então, do fundo da memória, como um pássaro inadvertido que de repente esvoaça bem alto, lembro-me que tudo se deve à imaginação. Até para o acto de conhecimento mais elementar é requerida a imaginação. De facto, estamos sempre a imaginar! O filósofo Emanuel Kant (1724-1804) na sua obra Crítica da Razão Pura trata, justamente, da problemática do conhecimento. Ali se demonstra que o órgão, por excelência, que utilizamos para conhecer é o Entendimento que recebe a
informação que lhe entra pelos órgãos dos sentidos, que são as nossas janelas para o mundo, depois de organizada pela Sensibilidade através das suas formas à priori Espaço e Tempo, produzindo o Fenómeno. O entendimento recebe estes fenómenos e trata, por sua vez, de os organizar através das Categorias ou Conceitos Puros que podem ser de quatro tipos: quantidade, qualidade, relação e modalidade. De uma forma muito simples quer isto dizer que não andamos a tropeçar na quantidade, mas se quisermos contar cadeiras, precisamos de utilizar a categoria “Quantidade” que é um conceito puro do entendimento. Do mesmo modo, para podermos dizer que algo existe ou não existe, que é possível ou impossível, precisamos de estar na posse da categoria da modalidade que é aquela que nos permite emitir este tipo de juízos. Mas tem de haver um terceiro termo, “que deva ser por um lado, homogéneo à categoria e, por outro, ao fenómeno e que permita a aplicação da primeira ao segundo. Esta representação mediadora deve ser pura (sem nada de empírico) e, todavia, por um lado intelectual e, por outro, sensível. Tal é o esquema transcendental.” (CRP p. 182) O esquema é sempre um produto da imaginação. E há que distinguir o esquema da imagem. Quando, por exemplo, disponho cinco pontos uns a seguir aos outros, tenho uma imagem do número cinco. Em contrapartida, quando penso no número em geral, que pode ser cinco ou cem, este pensamento constitui um método para representar um conjunto, de acordo com um certo conceito. Ora é esta representação de um processo geral da imaginação para dar a um conceito a sua imagem que Kant designa por “esquema” desse conceito. (CRP p. 183) Estão a ver o esquema? Como é que isto funciona, na prática? Em todas as subsumpções de um objecto num conceito como aconteceu, por exemplo, com a classificação das canetas na papelaria a representação do primeiro tem de ser homogénea à representação do segundo, isto é, o conceito tem de incluir aquilo que se representa no objecto a subsumir nele. Kant
exemplifica-o de forma cristalina: “possui homogeneidade com o conceito geométrico puro de um círculo, o conceito empírico de um prato, na medida em que o redondo, que no primeiro é pensado se pode intuir neste último.” (CRP 181). Mas o que acontece com os conceitos sensíveis puros? O que acontece com o conceito de triângulo, por exemplo? É aqui que o esquema se torna relevante! Ao conceito de um triângulo em geral nenhuma imagem seria jamais adequada. Com efeito, não atingiria a universalidade do conceito pela qual este é válido para todos os triângulos sejam eles equiláteros, isósceles ou escalenos. “O esquema do triângulo só pode existir na imaginação e significa uma regra da síntese da
a imaginação é fundamental. É esta a nossa natureza. Estamos, sempre, já a imaginar! O Imaginário e a Cidade Bjarke Ingels (1974-), o jovem arquitecto fundador do grupo BIG, é autor do manifesto Yes is more onde se afirma que se o que nos define é sermos o oposto de um outro, então, estamos apenas a ser seguidores em sentido inverso! “Não será possível fazer as pessoas felizes sem nivelar por baixo? E realizarmos os nossos desejos sem passar por cima de ninguém?” Resolveu filosofar de forma tridimensional. Os seus edifícios põem em prática os novos conceitos filosóficos que propõe, tais como o Edonismo Sustentável ou o Periscópio Democrático. d.r.
imaginação com vista a figuras puras no espaço.” (CRP 183). Esqueçamos os triângulo e pensemos num cão. “O conceito de cão significa uma regra segundo a qual a minha imaginação pode traçar de maneira geral a figura de certo animal quadrúpede, sem ficar restringida a uma única figura particular, que a experiência me oferece ou também a qualquer imagem possível que posso representar in concreto. Enfim, não precisamos de ser fantasiosos, criativos, ou sonhadores, para imaginar. Em qualquer acto de pensamento
“Os arquitectos tornam-se os parteiros [em sentido socrático, claro!] de uma nova espécie de arquitectura moldada pela multiplicidade de interesses”. Sem tomar partidos, a arquitectura do sim cria uma realidade em que não é preciso escolher, torna-se inclusiva, contempla todas as vertentes do conflito e aumenta o nó górdio. Resultados? Uma fábrica de reciclagem de lixo que é também uma estação de ski e cujo insipiente dióxido de carbono que cria é transformado em fumo artístico; um palácio governamental transparente onde o cidadão comum pode
Ficha Técnica:
Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural
ver se, de facto, aqueles que elegeu para o representar dormem a sesta ou trabalham; uma sala de parlamento com um periscópio gigante que faz com que os políticos não possam deixar de ver a cidade e as gentes sobre a qual tomam decisões, e muito, muito mais... O Espaço do Pensamento Na minha cidade imaginária existem boas condições para filosofar, há espaço e tempo para a partilha e construção conjunta de pensamento. Que quer isto dizer? Quer dizer, por exemplo, que em vez da habitual conversa de café em que cada um se lamenta da vida, do tempo, do governo ou do que quer que seja, há possibilidade de descer realmente ao cerne daquilo que nos importa. Espaço e tempo para perceber, por exemplo, como actua a faculdade da imaginação em nós. Curiosidade para tentar averiguar como acontecem estes milagres quotidianos que de tão anestesiados e indiferentes que andamos, nem nos damos conta. Como é que eu consigo subsumir uma caneta no conceito de caneta? Como reconheço que um cão é um cão ou como identifico triângulos? Como funciona a minha mente? Como funciono eu própria? Na cidade em que resido criei um espaço-tempo a que chamei Café Filosófico onde uma vez por mês os participantes se reúnem para realizar este tipo de viagem. Às vezes o café transforma-se em Simposium quando é Dionísio que serve à mesa, e os convivas têm o cuidado de beber só até àquele ponto em que a língua se solta, mas não se entaramela! É o meu contributo para tornar um sonho realidade: trazer a filosofia para fora dos muros da Academia. Fazer, enfim, o que Sócrates fazia: conversar com os outros cidadãos da cidade. Averiguar do rigor dos conhecimentos obtidos, medir-lhes alcance e finitude, purgá-los se necessário fosse, para deitando abaixo as pseudo-compreensões, começar então a construir a casa-cidade com fundamentos sólidos. Estas reflexões continuam nos Cafés Filosóficos realizados em Faro: inscrições em filosofiamjn@gmail.com
Editor: Ricardo Claro Paginação e gestão de conteúdos: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • Artes visuais: Saul de Jesus • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço ao Património: Isabel Soares • Filosofia dia-a-dia: Maria João Neves • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Letras e literatura: Paulo Serra • Marca d'água: Maria Luísa Francisco • Missão Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Panorâmica: Cátia Marcelino • Quotidianos poéticos: Pedro Jubilot Colaboradores desta edição: João Pedro Baptista Rui Oliveira Veralisa Brandão Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, FNAC Forum Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelag.postal@gmail.com on-line em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/postaldoalgarve
facebook: Cultura.Sul Tiragem: 5.218 exemplares
Cultura.Sul
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Letras e leituras
Cortar o silêncio: A Construção do Vazio, de Patrícia Reis
A desconstrução do silêncio A Construção do Vazio, último romance de Patrícia Reis fecha um tríptico do qual faz parte No Silêncio de Deus (2008) e Por Este Mundo Acima (2011). O Vazio de que a obra trata também pode ser interpretado como um silêncio. O silêncio declarado ou camuflado, através daquilo que se tenta abafar com palavras que são ruído a ocultar a verdade, é um dos fortes aspectos da obra, da mesma forma que predomina a noção do som. O som na forma de música, no seu efeito catártico de exprimir emoções ou libertar repressões, na ária Casta Diva de Bellini interpretada por Maria Callas, ou na música de piano que tantas vezes acompanha a escrita da autora, aqui com Ludovico Einaudi, ou nas palavras doces de um amigo que faz as vezes de amante. Como nos escreve Sofia: «O poder do som. O som como veículo emocional. O som no tom certo que é a voz de Deus. Pode ser.» (p. 109). Ou como quando refere que «O corpo pode ter uma voz, um som, uma música. O meu só tinha conhecido o silêncio, e depois a dor e o grito.» (p. 65). Até porque a única pessoa que a poderia ter salvo, e que a deveria ter amado e protegido acima de tudo, é essa mãe bonita que aparenta fragilidade, mas fria e distante: «Não se podia falar com ela. Tudo lhe fazia dores de cabeça e, na presença do meu pai, mirrava, um corpo a esforçar-se por desaparecer» (p. 11). O silêncio de Sofia é de tal forma que ela anuncia mesmo, apesar de entretanto já estar em terapia há sete anos, que «Não há palavras para a solidão a que cheguei.» (p. 133) enquanto ouve o seu corpo a envelhecer. E enquanto o ruído parece ser uma constante da Humanidade: «O barulho é infernal, uma cacofonia que agride.» (p. 109), é sem palavras que Sofia se fecha no seu mutismo e guarda o seu segredo, talvez apenas adivinhado pela amiga ao ver as suas nódoas, vendo-se a si própria como uma menina-desastre e depois como uma menina-tesoura para «cortar, cortar, cortar. Sempre a direito.» (p.60). E é a cortar o silêncio que a narradora (certamente ao serviço da autora) não está com rodeios no que respeita a descrever a violência de que Sofia é vítima. A linguagem, sempre tão pensada, chega a ser crua ao narrar sem rodeios a violação de Sofia pelo pai o que pode atingir os leitores como um murro no estômago: «Via as minhas
Fechar o ciclo Ler Por Este Mundo Acima (obra já aqui apresentada no Cultura.Sul) ajudará ainda a compreender como esta narrativa que vem no fim pode afinal ser a primeira: «Vamos falar do passado para resolver o futuro?» (p. 149). Em A Construção do Vazio refere-se o ano de 2018 e que Lisboa vive um recolher obrigatório mas pouco mais saberemos. É ������������� apenas ����������� consoante nos aproximamos do final que percebemos como se fecha o ciclo enquanto Sofia vai desfiando o curso dos acontecimentos num encadeamento que poderia servir a uma qualquer distopia das várias que por aí proliferam agora mas que está sempre muito próximo da lógica irracional dos dias que se vivem nos nossos dias: «E, de repente, o Presidente dos Estados Unidos da América torna-se uma saudação tenebrosa de outros tempos. Os ataques começaram devagar e depois foram acontecendo, matemáticos, certeiros, explosivos. Há dois meses, o parlamento inglês fechou as portas. Foi declarado o estado de sítio. É certo que será permanente. Como se a esperança tivesse apagado a chama e o optimismo não tivesse mais argumentos. Vive-se a medo, come-se a medo, respira-se a medo. Ninguém grita.» (p. 141). A enumeração e a gradação dão conta de um clímax que se cria nestas últimas páginas e anunciam claramente que «estamos a chegar ao fim do mundo.» (p. 140). Cenário pós-apocalíptico que é o que encontramos nas páginas de Por Este Mundo Acima. Porque Sofia é uma boneca quebrada e que faz dos seus cacos uma armadura mas, ainda assim, não deixa de estar revestida apenas e simplesmente por por-
celana. O abuso que sofreu em criança marca-a (e divide-a) de tal forma que permanece em Sofia a recusa de cumprir o que o corpo lhe pede: «Era o meu corpo a pedir que lhe desse um outro uso. Era a minha cabeça a ver se tinha resolução. Um filho seria uma história necessariamente feliz.» (p. 136). Dividida entre o sentir e o pensar, Sofia escolhe a solução que acha mais lúcida: «nunca teria uma criança que pudesse ser abusada e, não sendo possível proteger os filhos da totalidade dos perigos do mundo, a ideia de os ter para o mundo era impensável.» (p. 136). A mácula que Sofia carrega em si, que parece criar uma visão deturpada no modo como percepciona o seu corpo, cresce até se tornar um cancro que a suprime, tornando-a frágil e vazia ao ponto de recusar conceber uma vida nova em si, acto supremo de amor que, como se percebe nas passagens anteriores, poderia significar, ao gerar uma nova vida, a renovação da sua própria vida. Esta sua história é inclusivamente contada numa sucessão de vazios, pelos hiatos que temos entre os vários capítulos onde acompanhamos o crescimento de Sofia em várias etapas muitas vezes apresentadas em saltos temporais: na infância, na juventude, depois aos vinte e seis, aos trinta e oito, aos cinquenta e cinco. E é no final que nos deixa este testemunho escrito onde pela primeira vez rompe o silêncio dos muros que foi construíndo em torno do seu vazio, ao assumir pela primeira vez, com estas páginas que nos ficam como o seu legado, a sua história e o passado que vê como mácula, apesar de ser completamente inocente face a uma corrupção que lhe foi forçada a partir do exterior. É curioso que Sofia perceba, ainda assim, que a dor foi uma opção sua. Quando escreve sobre Lourenço e nos diz que, «se for sincera, teria sido um companheiro de vida se não fossem os conflitos que tive de ultrapassar, sobreviver, essa marca ou cicatriz que escolhi carregar.» (p. 72). E pouco depois, lemos como Sofia ouve como um eco mental o aviso da sua amiga Sara: «O sofrimento é opcional, Sofia, é opcional, opcional...» (p. 82). Eduardo, o editor, o mesmo homem que encontraremos em Por Este Mundo Acima a relembrar permanentemente os amigos que perdeu é aqui esse amigo “especial” de Sofia que irá preservar a memória e identidade da amiga e guarda com desvelo a sua fotografia e as suas cartas. Nessa outra obra deste tríptico, ficamos a saber que Pedro, o jovem que acompanha Eduardo, «tem uma ideia muito vaga da mãe mas em contrapartida sabe tudo sobre Sofia» (p. 168) e quando pergunta se ela não era feliz, Eduardo
responde-lhe: «Não, Pedro, nunca foi feliz. Ela dizia que não possuía essa vocação. Eu acredito que Sofia se limitou a deixar-se arrastar, com uma eficácia tremenda, para o lado mais triste da vida.» (p. 170). Paradoxalmente, Eduardo que parece escrever exclusivamente apenas para Sofia será talvez a única pessoa a descobrir o segredo dela ao ler os seus escritos. Esse testemunho que Sofia deixa sob a forma deste livro a Cecília, a sua terapeuta, que a acompanha ao longo de sete anos de psicanálise e a quem contou apenas mentiras a tentar ludibriar o caroço da verdade com
cascas de mentiras e fantasias. Porque há verdades que continuam a cortar e a ferir mas mesmo quando reveladas em busca de uma justiça de pouco adiantam, como o caso referido da «mulher que fora abusada pelo marido – um pai é sempre uma espécie de marido – e que fora a tribunal, com testemunhas das sucessivas agressões, pronta para a humilhação de dar a cara. Perdera o caso por o júri ter considerado que “a provocação era feminina”.» (p. 50).
foto: carlos ramos
Paulo Serra
Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL
cuecas, eu de pernas para o ar, eu a vê-las no chão e o meu pai a lamber-me na casa de banho, o sexo imberbe, e eu a perguntar, isto serve para quê? É suposto dizer o quê?» (p. 22). Sofia sem palavras para construir um sentido do que lhe está a acontecer, entre um pai que a viola e uma mãe que a ignora ou agride. De joelhos no chão da casa de banho, sem um som nem mesmo para exprimir a sua angústia e dor pois se o pai cheirasse o seu medo, num instinto animal, seguia-se «a estalada e o silêncio. Sim, porque eu não chorava. Não valia a pena. Só gritei uma única vez. Um dia em que o meu corpo não podia enfiar-se no corpo dele ou o contrário, a guerra é estranha e já não sabemos onde estamos. Até se ter deitado comigo, depois de os dedos me terem aberto, o meu pai falou-me sempre baixinho, como se me dissesse um segredo. E eu calada. Sempre calada.» (p. 22). Sofia tenta tornar-se transpararente, mas «Apesar disso, dessa minha capacidade para o alheamento, passei a ser o escape dos dois. O meu pai violentava-me, a minha mãe ignorava e batia-me. Não havia a quem pedir socorro. Nunca o fiz.» (p. 29).
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Cultura.Sul
Artes visuais
Quais os limites para o uso do corpo humano na arte?
Saul Neves de Jesus
Professor catedrático da UAlg; Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora
Recentemente estive em Amesterdão e estava a decorrer a exposição “Body Worlds – The Happiness Project Amsterdam” (“Os mundos do corpo – O Projeto Felicidade”). Supostamente, esta exposição, com mais de 200 preparados anatómicos de corpos humanos reais, pretende ajudar a “descobrir as maravilhas do corpo humano”. Mas será que os espetadores, ao observarem as obras expostas, sentem “as maravilhas” do corpo humano, em vez de alguma aversão em relação ao mesmo? É óbvio que isso vai depender da sensibilidade de cada espetador. Mas a questão de fundo que esta exposição nos leva a colocar tem a ver com os limites no uso do corpo humano na arte. Logo no segundo artigo de opinião, nesta minha participação no Cultura.Sul, intitulado “Mas isto é Arte?”, procurei analisar a questão dos limites da obra de arte, apresentando o exemplo da instalação realizada por Guillermo Habacuc, em 2007, em que apanhou um cão abandonado, tendo-o colocado atado a uma parede de uma galeria de arte, deixando-o a morrer lentamente de fome e de sede, perante os visitantes dessa exposição. Nessa análise considerei que, os caminhos da arte são cada vez mais difíceis de definir, mas que pelo menos os limites da ética devem ser respeitados. Aproveitando as palavras do poeta José Régio, em “Cântico Negro”, “não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí”… Desta vez temos a problemática da utilização do corpo humano nas artes visuais. Nos últimos anos temos assistido a um aumento da sua utilização, até pelo incremento da arte performativa, que trabalha com a expressividade do corpo humano. Em Portugal, mais concretamente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, também
tivemos a exposição “Real Bodies – Descubra o corpo humano”, no final de 2015, a qual foi vista por mais de 50 mil pessoas. Esta tem sido apresentada como a maior e mais completa exposição de órgão e corpos humanos reais, organizada por uma empresa norte-americana, e já foi exibida noutras cidades, somando mais de 15 milhões de visitantes. Em mais de 1.500 metros
quadrados, a exposição apresentava mais de 350 órgãos e corpos humanos verdadeiros em várias posições anatómicas, em particular órgãos afetados por doenças e ainda corpos de atletas durante a prática desportiva, bem como corpos a realizarem atividades do dia-a-dia, nomeadamente relações sexuais. A última sala era a galeria dos desportistas, com dez corpos que pareciam estar em movimento, enquan-
to praticam diferentes desportos, para motivar as pessoas a mexerem-se. Já anteriormente, em 2007, depois de ter sido vista por cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo, havia ocorrido em Portugal a exposição “O Corpo Humano Como Nunca o Viu”. Na altura eram 17 corpos humanos inteiros e mais de 250 órgãos provenientes de doações à ciência, que foram cremados no
final da exposição. Pensada para toda a família, a exposição foi concebida para dar a conhecer o funcionamento do corpo humano e incentivar os visitantes a assumir hábitos de vida mais saudáveis. Teria sido interessante avaliar se, após assistirem a estas exposições, as pessoas alteravam os seus hábitos de vida no sentido de se tornarem mais saudáveis, em particular se começavam a praticar mais desporto. fotos: d.r.
Foto de parte da exposição 'Real Bodies' (1)
Foto de parte da exposição 'Real Bodies' (2)
Foto de parte da exposição 'Real Bodies' (3)
Foto de parte da exposição 'Real Bodies' (4)
Foto de parte da exposição 'Real Bodies' (5)
Foto de parte da exposição 'Real Bodies' (6)
Tenho sérias dúvidas que o efeito tenha sido esse, sobretudo na exposição mais recente, “Real Bodies”, até porque nesta era possível observar fraturas em ossos, próteses, órgãos danificados por doenças graves, nomeadamente ovários com quistos, fígados atacados pela cirrose ou hepatite, bem como próstatas e seios com cancro. Além disso, uma parte desta exposição consistia num espetáculo de suspensão, em que homens e mulheres, artistas da “Wild Suspension Team” (“Equipa de Suspensão Selvagem”), se penduravam pela pele com ganchos de metal, ficando suspensos no ar, sendo visível o sangue a escorrer pelo seu corpo. Em Roma, pelo menos 13 pessoas tiveram que ser vistas por médicos depois de assistirem a essa parte da exposição “Real Bodies”, tendo o espetáculo sido cancelado quatro dias depois da inauguração. No entanto, a organização do evento afirmou que se sentia na obrigação de cancelar a exibição porque acreditava que mantê-la eliminaria a possibilidade de admirar essa técnica incrível de performance artística. Esta situação faz-nos lembrar a obra de Damien Hirst “A impossibilidade física da morte na mente dos vivos” (1991), em que se encontra colocado um tubarão-tigre morto dentro de um tanque feito de vidro e aço, suspenso numa solução de 5% de formaldeído. Num artigo de opinião anterior havíamos colocado a questão sobre se isto pode ser considerado Arte e voltamos a colocá-la também em relação à exposição “Real Bodies”. A imagem visual pode ser usada para chocar e a arte tem procurado desenvolver cada vez mais esta abordagem, em particular explorando os limites no uso do corpo humano, mas não acredito que desta forma se promovam hábitos de vida saudável ou a felicidade dos espetadores. Talvez até se aumente mais a aversão, em vez da percepção de beleza ou a satisfação com certas partes do corpo. Para o caso de querer fazer o teste no seu caso pessoal, informo que a exposição a que fiz referência no início deste artigo estará aberta ao público até 3 de setembro.
Cultura.Sul
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Espaço ALFA
Qual a dimensão social da fotografia?
Rui Oliveira
Membro da ALFA
Há quase dois séculos que a fotografia conquistou o seu lugar no mundo das artes pelas suas características únicas, quer da captação do real, quer pelas infinitas possibilidades de recriação dessa mesma realidade. Igualmente, se reconhece o relevante papel que a mesma desempenha ao nível jornalístico, enquanto linguagem universal capaz de informar e de chegar mesmo a conduzir a alterações de acontecimentos sociais. Mas terá a fotografia outras dimensões sociais? Poderá a fotografia contribuir para o resgatar da auto-estima? Ou ser um veículo de reconhecimento e valorização pessoal e social? O fotógrafo Paulo Côrte-Real, defensor desta dimensão da
fotografia, tem desenvolvido um vasto trabalho nesta área. Refere que, muitas vezes, mais importante que a obra fotográfica, é todo o processo que conduz até à imagem final. Esta dimensão está presente no seu mais recente projeto fotográfico desenvolvido com cinco pescadores reformados residentes na Estrutura Residencial para Pessoas Idosas da Santa Casa da Misericórdia de Olhão, "HOMENS ENTRE A TERRA E O MAR", patente ao público até dia 30 de junho no Museu Municipal Compromisso Marítimo de Olhão. Através da interação entre o fotógrafo e os pescadores, onde o convívio, os diálogos e o revisitar de novo aqueles que sempre foram os ambientes do dia-a-dia, o vol-
tar a sentir a brisa e o cheiro da maresia, o pisar do cais, que durante anos foi o seu lar, o olhar a lota e tomar nas mãos as re-
des e a agulha, o reencontro com velhos amigos, foram-se construindo as imagens fotográficas. O trabalho fotográfico foi
complementado com a construção conjunta de pequenas notas biográficas. Estes cinco homens foram sem dúvida os
protagonistas deste projeto, com o qual os intervenientes ficaram certamente todos mais ricos.
Na senda da Cultura
Portimão celebra a tradição com Marchas Populares Portimão celebra os santos populares com desfiles de marchas, arraiais na antiga lota e muita animação no centro histórico da cidade, na terceira edição das "Marchas e Santos Populares". A partir de hoje, 9 de Junho, e até dia 29, Portimão vai viver 20 dias de muita tradição, que pretendem trazer às ruas milhares de pessoas residentes mas também turistas que nesta altura do ano visitam a cidade. As Marchas Populares voltam a desfilar nas freguesias do Município e, este ano, os desfiles contam com a participação do Sporting Glória ou Morte Portimonense, do Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense, da Sociedade Recreativa Figueirense e da Marcha da Vila de Alvor. O primeiro desfile é hoje, na Zona Ribeirinha de Portimão, o segundo será a 16 de Junho, no Polidesportivo da Figueira, dia 23 o desfile faz-se na Zona Ribeirinha de
d.r.
As marchas voltam a desfilar pelas freguesias de Portimão Alvor, e a festa vai culminar no dia 29 de Junho, na Praia da Rocha, com um percurso pela Avenida Tomás Cabreira, a começar no Miradouro e a terminar na Fortaleza de Santa Catarina. Todos os desfiles
começam às 22 horas. A zona histórica de Portimão volta a ser palco do evento que é celebrado na Rua Nova, em conjunto com as colectividades locais, no Clube União Portimonense e
na Sociedade Vencedora Portimonense, que estão empenhados em partilhar a vivência do espaço público com todos os visitantes e turistas que acorrem à cidade para viverem a festa.
Rua Nova recebe sardinhadas, bailaricos e saltos à fogueira Manda a tradição que nas noites de Junho, nas celebrações de Santo António, São João e São Pedro, se salte à fogueira e se dance pelos recantos e ruas da cidade. Neste sentido, a Rua Nova vai ser palco de sardinhas, saltos à fogueira e muita animação musical nos dias 12, 23 e 28 de Junho, das 19.30 às 00.30 horas. O Sporting Glória ou Morte Portimonense é o responsável pela organização dos tradicionais arraiais e bailes na antiga lota de Portimão, nos sábados de 10, 17 e 24 de Junho, a partir das 22 horas, com direito a sardinha assada e muita música. Os desfiles contam ainda com a participação de cinco marchas convidadas: a Marcha Infantil do Lar da Criança, a Marcha do Centro Comunitário Duna-Caslas/Meia–Praia
Lagos, a Marcha da Associação Grupo da Amigos da Pedreira, a Marcha do Clube de Futebol Os Estombarenses e a Marcha de Silves. Quinhentos participantes na terceira edição do evento Entre marchantes, coreógrafos e figurinistas, que darão largas à imaginação e ao espírito popular, evocando temas ligados ao património sociocultural e às tradições do Algarve, a edição deste ano vai reunir cerca de quinhentos participantes. A iniciativa é organizada pelo Município de Portimão, em conjunto com as Freguesias de Portimão, Alvor, e Mexilhoeira Grande, o Lar da Criança de Portimão, o Clube União Portimonense, a Sociedade Vencedora Portimonense, a APS - Administração dos Portos de Sines e do Algarve, a Merendeira e o CRESC Algarve 2020.
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Cultura.Sul
Letras e Leituras
Vozes de guerra: Rapazes de Zinco de Svetlana Alexievic
Paulo Serra
Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL
Svetlana Alexievich nasceu em 1948 na Ucrânia, e cresceu em Minsk, capital da Bielorrúsia, onde vive actualmente. Jornalista e escritora, autora de vinte guiões de documentários e cinco livros, tem várias obras adaptadas ao cinema e ao teatro. Foi distinguida com mais de uma dezena de prémios internacionais, do Médicis Essai 2013 ao Books Critics Circle Award 2006, e consagrada com o Prémio Nobel de Literatura em 2015, pela qualidade da sua «obra polifónica» como «um memorial ao sofrimento e à coragem na nossa época». Das cinco obras em prosa, quatro foram publicadas pela Elsinore, sendo as mais recentes, publicadas este ano, Rapazes de Zinco e As Últimas Testemunhas. Rapazes de Zinco é, à semelhança das outras obras da autora, um livro de não-ficção, onde se entretecem as vozes de centenas de entrevistados numa polifonia que a autora registou e que tenta reunir em coro como testemunho da verdade da guerra soviética no Afeganistão. Estes rapazes são os quinze mil mortos devolvido em caixas de zinco às mães, mesmo quando dentro dos caixões apenas seguia um uniforme de gala e a terra alheia onde combateram «para que o peso seja adequado» (p. 45), e cerca de quatrocentos e cinquenta mil feridos e doentes que combateram o Afeganistão no exército soviético entre 1979 e 1989, isto é, uma geração que viveu numa década de guerra. Contestado na União Soviética aquando da sua publicação este livro foi aclamado como uma «obra-prima de reportagem». Svetlana Alexievich criou aliás um novo género de não-ficção onde o objectivo é criar uma «prosa documental» a partir de centenas de entrevistados: soldados, enfermeiras, mães, filhos e filhas que viveram essa guerra. A autora assume-se como maestro de todas estas testemunhas, sem desaparecer completamente por trás das suas vozes, pois existe um eu que se assume como filtro dos depoimentos (especialmente no início): «Nos relatos impressiona (com frequência!) a agressividade ingénua dos nossos rapazes. Ainda há pouco tempo, eram alunos do último ano da escola soviética. Ao passo que eu
quero conseguir deles o diálogo do homem com o seu homem interior.» (p. 35). É sua a voz que se repete em eco como um lamento ou uma promessa: «Não quero voltar a escrever sobre a guerra...» (p. 25). E num jeito mais literário a escritora assume mesmo o seu processo ficcional: «Gosto da linguagem oral, nada pesa sobre ela, está solta e em liberdade. Tudo passeia e festeja: a sintaxe, a entoação, os sotaques e – o sentimento é restabelecido com exatidão. Sigo o sentimento, não o acontecimento. Como se desenvolviam os nossos sentimentos e não os acontecimentos. É possível que o que faço se assemelhe ao trabalho de um historiador, mas eu sou historiadora do que não deixa vestígios. O que se passa com os grandes acontecimentos? Transitam para a história, ao passo que os pequenos, mas importantes para o homem pequeno, desaparecem sem deixar rasto.» (p. 35). Apesar da voz autoral insurgir em alguns momentos, como apontamentos nos seus «blocos de guerra», onde há entradas cronológicas como num diário, à medida que se sucedem os depoimentos percebe-se a defesa destes ensaios documentais onde a ficção não tem lugar até porque essa serve apenas para fugir ao real: «A imaginação? A imaginação sossega.» (p. 45). Há um registo cru e gráfico da guerra e das atrocidades vividas nesses períodos e nesses cenários em que a ordem natural das coisas parece suspensa, onde a vida se torna mais excessiva do que a imaginação. Aliás, «Para quem está na guerra, a morte não tem nada de misterioso. Matar é simplesmente apertar o gatilho. Ensinaram-nos isto: sobrevive quem disparar primeiro. Esta é a lei da guerra. “Devem saber fazer duas coisas: mover-se depressa e disparar com precisão. Aqui quem pensa sou eu.”, dizia o comandante. (...) Disparava, sem pena de ninguém. Era capaz de matar uma criança. Pois toda a gente combatia contra nós: homens, mulheres, velhos, crianças.» (p. 45). A sombra do regime «Chamam-nos de “afegãos”. Um nome alheio. Como um sinal distintivo. Uma marca. Não somos como todos. Somos diferentes. Como somos, então? Não sei quem sou:
fotos: d.r.
Svetlana Alexievich
um herói ou um palerma a quem se aponta com o dedo? Talvez um criminoso? Já se vai dizendo que foi um erro político.» (p. 47).������������ Um dos praças, granadeiro, pergunta à autora: «A que propósito escreve este seu livro? Para quem? Nós, que viemos de lá, não vamos gostar de certeza.» (p. 48). Mas a resposta pode ser encontrada logo em seguida num outro depoimento de um fuzileiro motorizado: «O Afgan libertou-me. Curou-me da fé de que tudo no nosso país está certo e que os jornais escrevem a verdade, que a televisão diz a verdade.» (p. 51). Viver num regime como o soviético significa ser «sugado pelo sistema» (p. 111) e anular a vontade pessoal,
até porque quem partia para uma guerra como esta partia sempre como “voluntário”: «Decidiam por mim em toda a parte. Incutiram-me a ideia de que um indivíduo nada pode. Dei de caras num livro qualquer com a expressão «o assassínio da coragem». Quando chegou a altura de ir para lá, não havia em mim nada para assassinar. «Voluntários, dois passos em frente.» Davam todos dois passos em frente, e eu também, dois passos em frente.» (p. 71). Estes jovens guerreiros assumem afinal que a Pátria amada deve ser servida, mesmo quando esta os engana, até ao derradeiro sopro de vida: «Nasci aqui... A Pátria, como a mulher amada, não se escolhe, é-nos dada, se nasceste neste país, tens de ser capaz de morrer nele. Pode-se morrer como um animal, pode-se cair em combate, mas tu tens de saber morrer. Quero viver neste país, mesmo que ele seja pobre e desditoso» (p. 118). E quando se volta da guerra também não se volta igual: «Esses soldados-rapazinhos vão crescer e reviver tudo. A sua maneira de ver as coisas vai mudar, certas coisas serão esquecidas e outras emergirão dos depósitos da memória.» (p. 99). Porém, a mudança só ocorre mais tarde: «O homem não muda na guerra, muda depois da guerra. Muda quando olha, com os mesmos olhos que viram o que houve lá, para o que há
aqui. Nos primeiros meses, a visão é dupla: estás lá e cá ao mesmo tempo. A transformação dá-se cá. Agora sinto-me pronto a refletir sobre o que me aconteceu lá.» (p. 114). Fica ainda a ideia que pelo menos para alguns dos ex-soldados a guerra foi não só uma experiência determinante como voltariam a passar por ela: «Apesar de tudo, desejaria passar outra vez por tudo e tornar-me quem sou agora.» (p. 116). Naturalmente que a autora não se limita a recolher depoimentos aleatórios, pois sente-se inclusivamente no decurso da leitura como há um encadeamento coeso dos vários testemunhos e, por vezes, através da forma como os entrevistados incorporam as perguntas ou os pedidos da autora no discurso: «Percebi... Vou contar-lhe mais do homem do que da guerra. Daquele homem que nos nossos livros raramente aparece. Têm medo dele. Escondem-no. Do homem biológico. Sem ideias...» (p. 110). Este praça fuzileiro, declara ainda, mais à frente, que para alimentar este lado voraz da guerra como um sistema ao serviço do regime é «preciso partir do princípio de que somos bestas, e este lado bestial está escondido por um verniz muito fino de cultura (...) A besta vem à tona do homem num instante... Num abrir e fechar de olhos... Mal ele tenha medo por si, pela sua vida. Ou que detenha poder. Um pequeno poder. Minúsculo!» (p. 111). Svetlana Alexievich vai ainda mais longe nesta orquestração coral, pois na polifonia da sua obra confluem ainda vozes literárias, com citações aos mais diversos autores, como Shakespeare ou Dostoiévski, ou quando nos apresenta os escritos de rua, deixados por um povo anónimo, em muros e tanques. A autora visitou o Afeganistão na qualidade de jornalista de investigação quase no fim da guerra, onde terá realizado algumas das entrevistas que compõem esta sua terceira obra de não-ficção. E porque através desta recolha de vozes de quem testemunhou a guerra a autora atreve-se a levantar a sua voz contra o regime da União Soviética e a sua propaganda, Rapazes de Zinco valeu-lhe um processo na Rússia. Ao longo deste documento, sente-se inclusivamente a desconfiança e a contrariedade dos soldados face à escritora, afirmando que a guerra não é um assunto de mulheres. Contudo são os depoimentos das mães que aqui se destacam neste livro onde mais uma vez a autora aclamada com o Nobel, e conforme referido pela Academia Sueca, «funde literatura e jornalismo�������������� »������������� para expressar «uma história das emoções, uma história da alma».
Cultura.Sul
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Na senda da Cultura
'Barro Cal': a cultura barrocalense mostrada por terras de Santo Estêvão
Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire Jornalista catiam.postal@gmail.com
Entre a serra e o litoral encontra-se o barrocal algarvio, uma área pouco explorada com uma identidade muito própria, que merece toda a atenção. A Associação de Gestores Culturais do Algarve (AGECAL) reconhece a importância desta zona algarvia e escolheu a pacata aldeia de Santo Estêvão, em Tavira, para dar vida à cultura do barrocal do Algarve, através da primeira edição da "Barro Cal - Festa Feira do Barrocal Algarvio". “Inserir a dimensão cultural no desenvolvimento do Algarve” foi o objectivo de Jorge Queiroz, director do Museu Municipal de Tavira e presidente da AGECAL, ao realizar pela primeira vez esta festa-feira, que pretendeu mostrar a todos os visitantes “como a cultura e os recursos culturais podem ajudar a manter a identidade e a riqueza do Algarve”. Em conversa com o Cultura.Sul, Jorge Queiroz sublinhou o facto do projecto ter “a população como protagonista e ser feito para os cidadãos mostrarem as suas culturas porque o Algarve é uma região riquíssima em termos de património”. Para o presidente da AGECAL, “este é um projecto de gestão cultural aplicada. Nós partimos de um problema, que é o problema da desertificação, das assimetrias, do envelhecimento e do abandono dos recursos do campo, para descobrir como é que a cultura e as associações culturais podem ajudar a inverter este processo ou pelo menos a travá-lo”.
que esta “é mais uma mostra com um conjunto de iniciativas que demonstram que não é só o litoral algarvio que importa e que o barrocal é também uma parte fundamental da nossa cultura portuguesa, onde as pessoas e instituições também devem investir”. A vice-presidente da Câmara, Ana Paula Martins, partilha da mesma opinião e realça a importância de “começar a valorizar cada vez mais aquilo que é nosso, aquilo que vem da terra, as matérias, a cultura, as tradições e o património”. Para a vice-presidente, “todos estes elementos devem servir como factores impulsionadores do desenvolvimento económico e se o fizermos com muita qualidade, de certeza que vamos aumentar a procura e o interesse”. Evento começou com seminário onde se debateu ‘O Campo como recurso cultural’ Exposições, músicas, passeios, jogos, danças e muitos petiscos da região mostraram, de diferentes formas, a riqueza do barrocal algarvio, de 26 a 28 de Maio, em Santo Estêvão. Momentos para disfrutar em família que deram a
fotos: cátia marcelino
Várias entidades participaram no seminário 'O campo como recurso cultural' conhecer, sobretudo aos mais jovens, aquilo que eram os valores e a cultura de antigamente que, para Jorge Queiroz, “sempre foi uma cultura para todas as idades”. Um programa “muito bem concebido porque pensa o território, com o território e com as pessoas desse território”. Alexandra Rodrigues, directora regional da Cultura, entende que “a relação entre uma componente cultural e uma componente da terra só pode dar bons frutos e bons
resultados. Este cruzamento artístico e cultural com as actividades tradicionais é muito mais interessante do que a cópia dos modelos daqueles que nos visitam, como aconteceu ao longo de várias décadas”. O seminário "O campo como recurso cultural", realizado na Casa do Povo de Santo Estêvão, marcou o início da festa-feira com a presença de convidados ilustres como Ana Paula Martins, vice-presidente da Câmara de Tavira, Alexandra Rodrigues,
directora regional da Cultura, Fernando Severino, director regional da Agricultura, Dália Paulo, comissária do Programa 365 Algarve, e José Liberto, presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão e Luz de Tavira. Os convidados especiais do seminário foram pessoas com experiências concretas neste âmbito, nomeadamente, João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, Rafael Morales Astola, gestor cultural e professor na Universidade de Santa Luzia, em Espanha, e Rui Penas, do projecto "Ao Luar Teatro". Os convidados fizeram uma reflexão sobre a gestão cultural e a valorização do mundo rural, num debate moderado por Jorge Queiroz, segundo o qual, a qualidade do seminário era mais importante do que o número de convidados. Na sessão de abertura do evento, o director regional da Agricultura, Fernando Severino, mostrou-se satisfeito com a iniciativa “que faz justiça às questões do barrocal”. O evento contribui para a “construção de um Algarve mais sustentável” e deve servir de “exemplo para melhorar e para construir novos caminhos”.
Presidente Jorge Botelho realça a importância do barrocal algarvio
365 Algarve acredita que a iniciativa cria condições para que se pense o território
Ao Cultura.Sul, o presidente da Câmara de Tavira, Jorge Botelho, disse acreditar
A comissária do programa 365 Algarve, um dos parceiros da AGECAL neste projec-
Evento faz homenagem ao barrocal algarvio e mostra cultura da região
to, considera que “esta primeira festa-feira do barrocal algarvio faz todo o sentido no programa 365 Algarve porque nós trabalhamos com a matéria-prima do território e com os fazedores de cultura do território. São eles que oferecem, são eles que escolhem o que querem apresentar” e a "Barro Cal" é sem dúvida uma iniciativa realizada de uma forma colaborativa que promove o desenvolvimento regional. Dália Paulo acredita que “a cultura transforma e, ao transformar, fará de nós, algarvios, cidadãos mais felizes. Ao sermos cidadãos mais felizes, significa que temos uma auto-estima maior e um amor maior pela região, o que significa também um aumento da qualidade do produto turístico que oferecemos”. Iniciativa promove a reaprendizagem de saberes A "Barro Cal" assume uma função lúdica e educativa de reaprendizagem de saberes, de relação equilibrada entre o Homem e a natureza, e de sensibilização das várias gerações para as múltiplas fontes de conhecimento e disciplinas artísticas. A cultura não era muito valorizada na região e esta homenagem ao barrocal algarvio vem enaltecer a freguesia e mostrar aquilo que esta zona tem de melhor para oferecer, porque, de acordo com Jorge Queiroz, “temos de ir às raízes da cultura portuguesa para poder construir um contemporâneo de qualidade”. A primeira festa-feira do barrocal algarvio é organizada pela AGECAL, com apoio do município de Tavira, da Freguesia de Luz de Tavira e Santo Estêvão e do Programa 365 Algarve, contando também com a colaboração da Casa do Povo de Santo Estêvão. A AGECAL vai celebrar dez anos em 2018, e é uma associação que sempre procurou juntar os recursos de cultura do Algarve, trazer a dimensão cultural para o desenvolvimento rural, centrados em alguns aspectos ligados ao turismo, e esta festa-feira é mais uma iniciativa nesse sentido.
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Cultura.Sul
Marca d'água
Um outro Algarve fotos: d.r.
Maria Luísa Francisco Investigadora na área da Sociologia
luisa.algarve@gmail.com
AGENDAR
Há um Algarve telúrico e rural que me fascina desde cedo, um Algarve onde passei uma parte da minha vida e que sempre me inspirou quer na escrita poética, quer na escrita académica. Para além das vivências e da aprendizagem com as pessoas mais idosas, não poderei deixar de referir um livro intitulado: Um Algarve Outro – contado de boca em boca da autoria de Glória Maria Marreiros (Livros Horizonte, 1991). Este livro levou-me a valorizar mais o que em parte já conhecia. Ajudou-me a ter um olhar mais atento sobre o património cultural imaterial do Algarve e sobre as gentes da serra algarvia. Conheci pessoalmente Glória Maria Marreiros num dos muitos Congressos do Algarve organizados pelo Racal Clube, e na mesma altura conheci Margarida Tengarrinha. Duas algarvias defensoras de muitas causas, defensoras dos saberes da serra algarvia, da riqueza imaterial do Algarve e cujo trabalho de recolha muito admiro. Depois entrei no ensino superior em Lisboa e conheci outras referências nesta área. Sempre pensei que voltaria para o Algarve onde me dedicaria a estudar e a conhecer melhor a região que me viu nascer, fosse academicamente ou não. Numa palavra, dar um contributo para o desenvolvimento de uma região, que pela sua diversidade, pela riqueza da paisagem natural e humana tem um imenso potencial para um desenvolvimento cada vez mais sustentável. Ainda em relação à obra acima referida, o escritor Domingos Lobo, num comentário online, valoriza o trabalho de Glória Maria Marreiros dizendo: “Um outro Algarve, ainda com ressonâncias berberes no falejar, no uso das mezinhas, das ervas, nas crenças ténues, esparsas na cultura, do Islão – uma cultura fermentada pelos séculos, atravessada pelo esquivo céu dos hebreus. Um Algarve profundo, humano, que não colhe nos recortes badalados do biquíni, nos campos de golfe, nas discotecas da moda; esse território das gentes que o habitam, que encontramos presente e afirmativo, com apuro sensível, com
Maria Luísa Francisco dedica o primeiro artigo da nova rubrica a António Rosa Mendes atenta dedicação, numa fala por vezes indignada, outras rumorejando um lirismo de puríssima fonte, um verbo sempre expressivo e lúcido, na obra de Glória Maria Marreiros.” Ao longo desta rubrica mensal irei abordar temas sempre diferentes, e trazer um pouco de um outro Algarve, que, creio, ainda surpreenderá muitos leitores. Há uma ancestralidade e um modus vivendi em certas zonas rurais, que para quem vive nos meios urbanos poderá ser inacreditável! Naturalmente irei partilhar temas
ligados à área da cultura e ligados ao meu trabalho, enquanto investigadora na área da Sociologia. As várias dinâmicas migratórias, sociais e culturais no interior algarvio têm sido o meu objecto de estudo. O título da rubrica “Marca d’água” tem a ver com o facto de as questões ligadas à água me interessarem particularmente, e porque de alguma forma se cruzam com as minhas áreas académicas, quer da Pós-graduação Sociologia da Cultura e das Religiões, do Mestrado em Ecologia Humana e Problemas So-
Tertúlia na Biblioteca Municipal de Lagoa com António Rosa Mendes como orador convidado “NA ROTA DO FADO VADIO” 11 JUN | 21.30 | Rua Silva Lopes - Lagos Espectáculo com António Pinto Bastos e Cristina Santos, acompanhados na guitarra portuguesa por Fernando Silva, Rogério Ferreira na viola de fado e Nani, na viola baixo
ciais Contemporâneos e do Doutoramento em Sociologia Rural e Urbana. E ainda porque “Marca d’água” significa selo de garantia, a garantia de que escrevo por vezes mais com a emoção do que com a razão! Um representante genuíno da identidade algarvia A minha gratidão pelo que aprendi com o Prof. Doutor António Rosa Mendes faz com que lhe dedique este meu primeiro artigo da rubrica “Marca d’água” do suplemento Cultura Sul. Lembro-me que lhe mostrei o primeiro artigo publicado na rubrica “Patrimónios” neste mesmo suplemento onde agora escrevo. Não imaginava que tão poucos anos depois estaria a escrever estas linhas in memoriam de António Rosa Mendes. Fez no passado dia 4 Junho quatro anos que partiu. Conheci o Prof. Doutor António Rosa Mendes no âmbito de umas Jornadas ligadas ao património, onde fui moderadora, há uns dez anos. Ambos algarvios e docentes na mesma Universidade, não tínhamos sido apresentados até então. A primeira característica que apreciei em António Rosa Mendes, logo
na mesa que moderei e onde era um dos oradores, foi o seu registo de acentuada pronúncia algarvia e a forma expressiva como as suas mãos acompanhavam as suas palavras. E, claro, o seu comprometimento com a região algarvia. Só mais tarde soubemos que ambos fizemos o Mestrado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Ele no Departamento de História em 1991 e eu no Departamento de Sociologia em 2002. Conhecia a minha investigação sociológica no interior algarvio e sempre estimulou e valorizou o meu trabalho. Aliás, era uma pessoa que valorizava muito o trabalho de outros investigadores e fazia-o também com os seus alunos. António Rosa Mendes é daqueles algarvios que deixou um legado, não só pelo que escreveu, mas também pelo papel desempenhado enquanto Comissário de Faro Capital da Cultura 2005. Foi um entusiasta do Património Cultural, tendo tido um papel importante na Licenciatura em Património Cultural e um dos dedicados promotores do Mestrado em História do Algarve na Universidade do Algarve. Orientou muitos alunos, que conheço, e por isso posso dizer que se sente que beberam o espírito do mestre, que ganharam o gosto pela valorização e divulgação do património algarvio. Era um homem inteligente, atento e de bom senso. Tinha grande curiosidade intelectual e uma enorme perspicácia, era culto e brilhante. O seu refinado sentido de humor vinha facilmente ao de cima. Às vezes tínhamos diálogos muito engraçados em que acentuávamos ainda mais a pronúncia algarvia e usávamos palavras de um Algarve rural que já pouca gente usa ou conhece. Era um representante genuíno da identidade algarvia. O seu conhecimento da história e cultura do Algarve e a sua eloquência estavam sempre presentes em todos os diálogos. Um homem singular com singulares amigos, que aos poucos fui conhecendo e que foram e continuam a ser importantes para mim. O seu conhecimento da história e cultura do Algarve e a sua eloquência estavam sempre presentes em todos os diálogos. Um homem singular com singulares amigos, que aos poucos fui conhecendo e que foram e continuam a ser importantes para mim.
“SALT(E)ADORES DE HISTÓRIAS” 11 JUN | 21.45 | Portela de Messines - Silves Os salteadores levam aos mais pequenos uma bagagem cheia de histórias, apresentando um espectáculo que é uma espécie de salada de frutas divertida, colorida e vivaça
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Cultura.Sul
Da minha biblioteca
Diário do Farol. A Ilha, a Cadela e Eu de Ana Cristina Leonardo Adriana Nogueira
Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com
O livro sobre o qual vou escrever é único. Literalmente. Tem a particularidade de não se encontrar à venda em nenhuma livraria, mas apenas por encomenda direta à editora, que o fará… à mão. Exatamente. Por isso, cada exemplar é único e demora dias a ser feito, ficando com a certeza de que não haverá nenhum igual. Porque a filosofia da editora, Beatriz Hierro Lopes, é essa: que não haja edições em massa, nem livros iguais; que não haja coleções, porque cada livro e cada autor têm a sua personalidade e projetos próprios; que se eliminem os intermediários (livrarias, distribuidoras) e que ganhem em partes iguais aqueles que constroem o livro: o escritor, porque o escreve, e a editora, porque o faz. Hierro Lopes edita o texto, pagina, mistura as cores, pinta a capa, cose as folhas umas às outras e vende-o diretamente ao leitor/comprador, personalizando com o nome que indicarmos, assinando (e às vezes) numerando cada exemplar. Nas últimas edições, um lacre com o logótipo da editora dá um ar de sua graça. Escolhi o Diário do Farol. A Ilha, a Cadela e Eu, porque foi o primeiro livro editado por Hierro Lopes. Por coincidência, a autora, Ana Cristina Pereira Leonardo, cronista do jornal Expresso, nasceu em Olhão, e o ambiente descrito na obra é o da ilha do Farol. A Ilha
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Ia começar a escrever que a ação se passa no Farol, mas este
maria leonardo
livro não é um livro onde haja uma ação a passar. É um livro de «estar», onde as coisas acontecem ao ritmo da natureza e do modo como as personagens vão interagindo com ela: com a chuva, o vento, a areia, os animais, as aves. Em forma de diário, vamos passando pelos dias que se acumulam em pequenas entradas numeradas de 1 a 55, que podem ocupar poucas linhas ou algumas páginas, ao sabor do tempo. É inverno e a ilha está quase deserta. A narradora consegue criar um ambiente simultaneamente parado e cheio de força, como se o tempo por ali não passasse, onde o olhar se pode d.r.
A Cadela
demorar nas pequenas coisas e os pensamentos não pesam («8. Desde que chegámos, o hibisco sob a acácia da casa deu três flores. Hoje de manhã uma delas estava toda encarquilhada, como se fosse uma folha de papel crépon do tempo da infância. Fiquei a pensar que as coisas vivas nos lembram coisas mortas e às vezes o contrário. São pensamentos simples» – p.13), mas se os elementos se impusessem na paisagem: «28. Faz um vento
danado. Varre os céus e a ilha deixando-a ora a descoberto, ora à mercê das nuvens. O mar encrespado do canal muda de cor conforme a luz incide ou não incide sobre ele. […]. No canal, as ondas correm enviesadas parecendo empurrar toda a água do mar na direção da ilha» – p.26). A Cadela Esta cadela é o motor de muito do que a narradora faz, visto
“POR LINHAS E CÍRCULOS ME LEVO” Até 28 JUN | Biblioteca Municipal de Albufeira Nesta exposição, Estrela (Cátia do Santos) ilustra os seus pensamentos em traços abstractos pintados em acrílico
ser a sua companheira dos passeios (escolhidos ou forçado, à sua procura). Quando aquela chega a casa a cheirar muito mal, ou suja, ou molhada, ou a dona se dá conta de que as pessoas da ilha a conhecem e têm alguma história com ela (estes pronomes «a» e «ela» referem-se à cadela), certamente acontecida nas horas de ausência, não há ralhar nem castigos, mas a manifestação do carinho que as une e da inevitabilidade da desigualdade da relação: «Chamo-a insistentemente. Finge que não me ouve embora não se afaste nunca demasiado. Depois parece desinteressar-se do jogo e começa a farejar o chão à sua volta. Sou obrigada a voltar para trás. Não há nada de mais caricato do que um ser humano a tentar, inutilmente, ser obedecido por um cão. Faço-lhe uma festa quando chego perto dela e tomamos juntas o caminho de casa» (p.21). Não sabemos como se chama, mas sabemos que tem um amigo, cujo dono já morreu, e que, depois disso, passou a ser
«o cão de todos e de ninguém. Dizem-me que se chama Levezinho. À noite, cava um buraco na areia em frente da casa que foi do dono. É aí que dorme. Já vários o tentaram recolher, mas ele recusava-se a dormir a não ser ao relento. Mesmo com frio e chuva. Um cão solitário, o que combina particularmente bem com a ilha nesta altura do ano» (p.16). e Eu É com dificuldade que conseguimos afastar a narradora da autora, pois esta já disse que a obra se baseou na sua vivência de dois meses na ilha do Farol, no inverno de 2014. Para dificultar, há mais duas características que contribuem para a ideia de veracidade: o facto de o livro ter quatro fotografias (que incluem a cadela e o farol) e o género ser o diarístico, mas não do tipo confessional. Cada leitor, com as suas próprias referências, verá as dela. Ou não. Mas, certamente, verá as suas. Porque
as citações ou alusões também não estão no texto para dar estilo, mas surgem com a simplicidade que acompanha o pensamento divagante. Por exemplo, depois de constatar que «O silêncio voltou e o céu está carregado de estrelas», termina com dois versos, assinalados em itálico, como que acordados pelo sossego: «Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,/ Eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia» (p.33). Percebemos que é uma citação. Se reconhecermos Herberto Helder, tanto melhor. Estas referências que lhe (nos) vêm à memória, despoletadas por um pequeno nada, pode depreender-se neste passo: «Apanhei de novo a cadela a rebolar-se com assinalável prazer no cadáver ressequido de uma ave que não consegui identificar. Na minha cabeça chamei-lhe cadáver esquisito, expressão que neste caso pode ser interpretada literalmente» (p.31). Quando li, sorri, pois também eu, ao ler «cadáver esquisito», me lembrei logo do cadavre exquis dos surrealistas. E fiquei com vontade de jogar. Conhecem? Pode-se desenhar ou escrever. Eu costumava fazer com os meus amigos assim: um escreve uma frase numa linha e termina com uma palavra na linha seguinte, dobrando a folha de papel de modo a que o próximo (quantos mais, melhor) só veja essa última palavra e, a partir dela, escreva, por sua vez, uma frase, repetindo o processo. O resultado será, evidentemente, um texto surrealista, muito interessante. Vieram-me outras memórias (quem conta sete ondas antes de mergulhar?) e, acima de tudo, muita tranquilidade. Agora que o verão está a chegar e os barcos para o Farol estarão a abarrotar, é bom ler este livro calmo, feito de tempestades e de mar revolto.
“MALA - MOSTRA DE ARTISTAS DE LAGOS” Até 1 de JUL | Centro Cultural de Lagos Evento apresenta a vasta actividade dos artistas de Lagos, acompanhando o balanço da diversidade do trabalho dos artistas do concelho.
Última Quotidianos poéticos
Tiago Nené fotos: d.r.
foto: região sul
Poema do livro inédito ‘Nuvem com Superfície Variável’
Nuvem com superfície variável III / René Bértholo, 1974 Pedro Jubilot
pedromalves2014@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt
Nasceu em Tavira (1982), é licenciado em Direito, e exerce advocacia em Faro, onde reside. Tem desenvolvido intensa actividade na promoção da poesia do Algarve. Fundou com Fernando Esteves Pinto a associação cultural Linguagem de Cálculo e participou no Sulscrito. Fundou o Texto-al, com Luís Ene e Carlos Campaniço. Traduziu para português alguns livros de poemas de autores de língua espanhola. Está representado em diversas antologias de poesia e revistas, participou como autor convidado em encontros e conferências de escritores como o Palavra Ibérica (Punta Umbría) e Correntes d’Escritas (Póvoa de Varzim). Publicou como autor, os livros de poesia ‘Versos Nus’ (Magna, 2007). ‘Polishop’ (Colecção Palavra Ibérica, 2010), ‘Relevo Móbil Num Coração de Tempo’ (Lua de Marfim, 2012). Parece, no entanto, um pouco desconsolado, com a poesia na sua vida, e a vida na sua poesia: É um quotidiano em que a poesia é cada vez menos procurada, ao contrário de há uns anos em que havia claramente mais entusiasmo pelos segredos da escrita. Tornei-me um ser mais cerebral e creio que isso se reflecte na minha poesia, que é muito mais fria do que antes. Busco explorar ideias. Ao leitor caberá encontrar a poesia que mais gosta no meio dessas palavras. Apesar disso, no passado mês de Abril, foi-lhe atribuído o prestigiado Prémio Literário Amália Vaz de Carvalho com o livro ‘Este Obscuro Objecto do Desejo'. O júri reconheceu as qualidades que quis pôr à prova. Para além disso, há o apoio à edição do livro, que é uma das componentes do Prémio, a par da quantia monetária. Felizmente ganhei e não escondo que fiquei feliz. O mais importante é que o livro sairá no final de 2017, e numa editora relevante. Esse é para mim o maior prémio. Já tinha recebido antes uma menção
Tiago Nené tem desenvolvido intensa actividade na promoção da poesia do Algarve ta. Não tenho horários para a escrita. Neste momento escrevo quando tenho um projecto em mãos. Quando é assim, posso escrever durante o dia, entre tarefas profissionais. De preferência ao ar livre, com uma chávena de café. A ouvir música. Gosto de ouvir música portuguesa enquanto escrevo. Sérgio Godinho, Márcia, Samuel Úria, Dead Combo, ou Amália Rodrigues são óptimos para escrever. Uso papel e caneta. Depois dá-se o processo de reescrita, que é no computador.
honrosa num outro prémio, sem que a obra tivesse sido apoiada. Encontra-se a ler… «Poesia Presente», uma antologia de António Ramos Rosa que saiu recentemente. Tiago considera o poeta de Faro, como sendo talvez a sua maior influência literária nos dias de hoje. Tive a honra de o conhecer no final da sua vida. Sei que chegou a ler um livro meu, o que muito me satisfaz. E mencionou de seguida alguns outros autores que gosta, como Leonard Cohen, Al Berto, Herberto Helder, Manoel de Barros, Maria Benedetti, entre muitos outros. E na sempre difícil tarefa para um escritor, de entre tantas e diversas leituras e influências, ter de selecionar um livro/poema que consi-
Sylvia Beirute, o mistério recentemente revelado…
dere relevantes apontou os seguintes: Al Berto, O Medo. Poema: Foram Breves e Medonhas as Noites de Amor. Rui Costa, A Nuvem Prateada das Pessoas Graves. Poema: A Nuvem Prateada das Pessoas Graves. Do quotidiano de escrita/na escrita Gosto de escrever à medida que vou lendo outros autores. Preciso de ir buscar inspiração aos outros. É lá que encontro a motivação cer-
Foi um pseudónimo criado para me dar total liberdade criativa. Criei muita coisa, escrevi muito, falhei muito mas, por entre tanta coisa, cresci muito. Tenho a certeza que se não fosse essa experiência não teria atingido o estado de maturidade em que me encontro. Por outro lado, foi engraçado ter vivido a especulação em torno de quem seria o autor por trás de Sylvia Beirute (‘Uma Prática para Desconserto’; 4águas, 2011). Tudo isso foi muito poético. Mas como tudo na vida, terminou. Teve o seu tempo. Foi um longo exercício. Talvez um dia publique uma antologia com os melhores poemas de todo esse tempo.
Há cinco mil milhões de anos, esta terra arfava numa massa de rochas e fogo. Hoje à noite um peixe cintilante voou uma vez, afundou de novo em azul visível, olhou para baixo, bem para baixo e encontrou as luzes de um milhão de pensamentos. Cá fora, pela cidade, nos pórticos da igreja e ao longe das razões adolescentes riem e fumam, enquanto o seu significado se move para trás da névoa e da marcha de todo o tempo. Há cinco mil milhões de anos, esta terra arfava numa massa de rochas e fogo. E hoje à noite cores ameaçadas voam, escapando sem cessar, uma vez que é sabido que sob as penas brancas existe carne quente apaixonando a gordura; Mas olhemos com olhos flutuantes e vejamos os sinais de néon, todos os fluxos de água, os espinhos das flores ou a contundência das órbitas de estrelas distantes que em muito passam a ideia de agora. De qualquer forma, e apesar disso, um ar superior parece livre no céu, fluxos com ventos laterais não se deixam filtrar por verdadeiras ideias ou conflitos, um pinheiro cresce como se não respeitasse qualquer sugestão de não-desejo. Há cinco mil milhões de anos, esta terra arfava numa massa de rochas e fogo. de uma mosca nocturna forrando o céu a sede insaciável, as memórias estão cortadas pela metade, enxertadas por sonhos de cisnes pré-históricos, trilobites, aves mesozóicas, inaugurando um silêncio esculpido em cascas de som. E hoje à noite um peixe cintilante voou uma vez, afundou de novo em azul visível, olhou para baixo, bem para baixo, e encontrou as luzes de um milhão de pensamentos.