POSTAL 1243 8MAI2020

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“LUTÁMOS PARA QUE ESTA SEMANA ACONTECESSE E UM VÍRUS ROUBOU-NOS A OPORTUNIDADE” P.21

RESISTIMOS

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Tavira reforça medidas de apoio às famílias desfavorecidas P.7

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Grupo 1000 Fatos, 1000 Abraços ajuda pessoas sem sair de casa. P.9

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Castro Marim distribui viseiras e equipamentos de proteção P.19

DISTRIBUÍDO COM O EXPRESSO VENDA INTERDITA Diretor Henrique Dias Freire • Ano XXXIII Edição 1243 • Quinzenário à sexta-feira 8 de maio de 2020 • Preço 1,50€

postaldoalgarve 133.490 foto samuel mendonça

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8 de maio de 2020

Redação: Rua Dr. Silvestre Falcão, 13 C 8800-412 Tavira - ALGARVE Tel: 281 320 900 Fax: 281 023 031 E-mail: jornalpostal@gmail.com Online: www.postal.pt FB: facebook.com/ postaldoalgarve FB: facebook.com/ cultura.sulpostaldoalgarve Issuu: issuu.com/ postaldoalgarve Twitter: twitter.com/postaldoalgarve Diretor: Henrique Dias Freire Diretora executiva: Ana Pinto Redação: Ana Pinto (CO-721 A) Cristina Mendonça (2206 A) Filipe Vilhena Henrique Dias Freire (2207 A) Design: Bruno Ferreira Colaboradores: Afonso Freire, Alexandra Freire, Alexandre Moura, Beja Santos (defesa do consumidor) Colaboradores fotográficos e de vídeo: Luís Silva / Miguel Pires / Rui Pimentel Departamento comercial, publicidade e assinaturas: Anabela Gonçalves, Helena Gaudêncio José Francisco Propriedade do título: Henrique Manuel Dias Freire (mais de 5% do capital social) Edição: Postal do Algarve - Publicações e Editores, Lda. Centro de Negócios e Incubadora Level Up, 1 8800-399 Tavira Contribuinte: nº 502 597 917 Depósito Legal: nº 20779/88. Registo do título (DGCS): ERC nº 111 613 Impressão: LUSOIBÉRIA – Av. da República, n.º 6, 1.º Esq. 1050-191 Lisboa Telf.: +351 914 605 117 e-mail: comercial@lusoiberia.eu Distribuição: Banca - Logista, ao sábado com o Expresso/ VASP - Sociedade de Transportes e Distribuição, Lda e CTT Estatuto editorial disponível: postal.pt/arquivo/ 2019-10-31-Quem-somos

Tiragem desta edição:

6.618 exemplares

••• OPINIÃO

Rui Soares

Ana Amorim Dias

Daniel Graça

Presidente da Associação Internacional de Paremiologia

Escritora anamorimdias@gmail.com

Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa, Professor aposentado

A palavra é tempo; o silêncio, eternidade

O que nos determina perante a adversidade*

Dependência económica

Vem o título a propósito de 7 de maio ser o “Dia Mundial do Silêncio”, com o objectivo de alertar para os males que a poluição sonora provoca, nomeadamente no aumento dos níveis de stress. A inspiração para este assunto parece estar ligada à prática milenar da meditação. A Associação Internacional de Paremiologia / International Association of Paremiology (AIP-IAP) e o Clube UNESCO de Paremiologia-Tavira (CUP-T) convidam a população a dedicar algum do seu tempo de recolhimento partilhando com familiares e amigos o essencial deste artigo.

A capacidade humana para suportar contratempos, fracassos, dores e perdas é quase ilimitada: se continuamos vivos é porque aguentámos… Mas a forma como nos comportamos durante os períodos de crise e, sobretudo, a nossa atitude posterior, é que vai determinar se o nosso caminho se faz na luz ou na sombra; se dentro de nós se vive num inferno ou num paraíso: Se nos fazem mal, guardamos rancor e mágoa (que nos “queima” por dentro) ou conseguimos experimentar o perdão? Se assistimos ao sofrimento dos seres que amamos e vivemos a sua partida, será que o fazemos a lamentar a perda ou a celebrar a sua passagem pelas nossas vidas? Se perdemos alguma batalha profissional, culpamos todos os outros ou encontramos coragem para renascer das cinzas, corrigindo os erros e superando as nossas capacidades? Se erramos, perante nós e perante os outros, será que teimamos nos erros ou aprendemos a pedir perdão e viver em verdade? Porque não é o superar das adversidades que nos torna mais fortes e felizes; é o que se aprende e evolui com cada mau bocado vivido… é a forma como escolhemos viver depois da tempestade passar; é a forma como reconstruímos a vida e nos reconstruímos a nós mesmos. Escolhemos ser apenas náufragos, perdidos nos destroços da nossa existência? Ou sobreviventes valentes, repletos de força e convicção para enfrentar a vida com um sorriso feliz bem cravado cá dentro? Bem, cabe-nos a nós escolher… certo?

Ao nível familiar, a dependência económica acontece porque a família depende de uma única fonte de rendimento constituída pelo ordenado auferido. Essa dependência agrava-se quando são os dois cônjuges a trabalhar na mesma empresa, se esta fechar ficam os dois sem qualquer rendimento. Ao nível nacional, numa economia aberta como a portuguesa, a dependência existe quando o país vende, ou compra matérias primas, essencialmente a um país, se esse país entrar em crise o país dependente entra também em recessão. Por isso é que os países, ou empresas, não devem estar dependentes de um, ou poucos, fornecedores ou compradores. A situação de dependência acontece nas regiões receptoras de turismo como o Algarve. Esta região está dependente da actividade turística, não tem produção industrial e pouca produção agrícola e sem um associativismo que lhe dê controlo de qualidade e capacidade negocial. A dependência do turismo é evidente. Há muitos anos que eu digo que bastaria rebentarem dois petardos, em locais estratégicos, que a imprensa nacional e internacional encarregar-se-iam de acabar com o turismo e a região entrar em crise económica. Não foi preciso tanto, bastou um vírus para instalar a derrocada económica. A reestruturação económica do Algarve cabe ao governo e às entidades públicas e privadas da região em partes iguais. Ao governo cabe a planificação económica nacional, na qual devem ser definidas políticas de desenvolvimento global de cada região, às entidades públicas locais cabe definirem estratégias e medidas concretas de desenvolvimento industrial e agrícola, às entidades privadas cabe fazerem investimentos enquadrados nas linhas orientadoras regionais, no sentido de amenizarem a dependência económica de um único sector. A globalização pôs-nos em concorrência com todos os países do mundo, por isso, quando pensamos a economia devemos ter esta realidade sempre presente. Não podemos estar à espera, dependentes, dos turistas de um ou dois países, temos que conquistar os turistas de todos os cantos do mundo. As tensões económicas e políticas surgem quando menos se espera, pelo que devemos estar preparados para contrariarmos as suas consequências. O Algarve não pode estar tão dependente do turismo!

Sendo certo que “O silêncio é ouro e muitas vezes é resposta”, e porque estamos vivendo um período em que os eventos culturais estão cancelados, a AIP-IAP não quer deixar de celebrar o seu (12º da AIP-IAP e 4º do CUP-T) aniversário – 7 de Maio. Para além de ser motivo suficiente, este ano há uma razão especial: por deliberação do executivo da Câmara Municipal de Tavira, liderado por Ana Paula Fernandes Martins, foi aprovado o contrato de comodato para instalação da sede da AIP-IAP/ CUP-T. “Saber esperar é uma grande virtude” e como “Mais vale tarde que nunca” cumpre agradecer publicamente e realçar que “A gratidão é a memória do coração”. Como Organização Não Governamental da UNESCO, a AIP-IAP/CUP-T continuará a actividade cultural, em cooperação institucional, orientada para a valorização do património cultural imaterial e para a promoção dos ideais da UNESCO.

* Texto escrito há nove anos e que impressiona pela actualidade


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Clínica de oftalmologia Vivina Cabrita disponibiliza teleconsultas A clínica de oftalmologia Vivina Cabrita, em Faro, disponibiliza o serviço de teleconsulta, para que utentes possam receber "os cuidados de oftalmologia que necessitam e, simultaneamente, minimizar o número de deslocações ao exterior, como é desejado no contexto de pandemia em que vivemos". A implementação deste serviço resulta das recomendações assinaladas pela Direção do Colégio de Especialidade de Oftalmologia, no combate à redução da transmissão da doença por COVID-19, nomeadamente as preconizadas em relação ao isolamento e distanciamento social. Entre as recomendações, o Colégio de Oftalmologia reforça "o princípio de que, sempre que seja possível, as pessoas devem evitar sair de casa e privilegiar a utilização de serviços telefónicos ou online para entrar em contato com serviços essenciais, como entidades públicas ou de saúde", explica a clínica Vivina Cabrita em comunicado.

"As visitas às clínicas de oftalmologia só deverão ser realizadas em caso de urgência, de forma a prevenir infeções cruzadas entre doentes e os profissionais de saúde visual, uma vez que as consultas da especialidade poderão revelar-se demoradas e implicam uma grande proximidade física e espacial", pode ler-se. Neste sentido, a introdução da teleconsulta, ou seja, a realização de consultas médica realizadas à distância, no conjunto de serviços oferecidos pela Clínica Vivina Cabrita afigura-se como natural e necessária, "com vista a salvaguardar profissionais de saúde, proteger as famílias e a preservar a comunidade". Para realizar a teleconsulta na Clínica Vivina Cabrita, apenas necessita de um smartphone, tablet ou computador (com câmara e microfone), ligação à internet e a aplicação Zoom instalada. A marcação pode ser efetuada pelos números 289 894 400 e 917 597 347 ou através do e-mail oftalmologia@ limacabrita.pt.

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􀪭 A implementação do serviço de teleconsulta visa salvaguardar profissionais de saúde, proteger famílias e preservar a comunidade

Faro lança apoio municipal de emergência ao arrendamento O Município de Faro lançou um Apoio Municipal de Emergência ao Arrendamento (AMEA) para munícipes que se encontrem em situação grave de carência económica resultante de fatores ligados à pandemia da Covid-19. Esta medida foi implementada no âmbito de um conjunto de iniciativas promovidas pela Câmara de Faro para combater os efeitos da crise pandémica junto das famílias, empresas e associações e visa "a concessão de apoio a pessoas ou famílias do concelho que, nesta altura, estejam a ser afetadas por situações ligadas à epidemia/ pandemia, situação temporária de desemprego, doença, rutura familiar, entre outros", explica a autarquia em comunicado de imprensa. Nesse sentido, poderão vir a usufruir deste apoio "os indivíduos ou agregados familiares que reúnam um conjunto de condições, nomeadamente residir no concelho, ininterruptamente, há mais de três anos, ter mais de 18 anos; encontrarem-se numa situação socioeconómica desfavorecida; apresentarem uma taxa de esforço do agregado igual ou superior a 40 por cento ou não

serem beneficiários de outros apoios para o mesmo fim". Quem quiser fazer o pedido terá de entregar um formulário, podendo solicitar esclarecimentos relativamente às condições de acesso na divisão de intervenção social e políticas participativas da autarquia, durante as horas normais de expediente, pelo número 289 870 869 ou através do email dis@cm-faro.pt. As candidaturas podem ser entregues diretamente, de forma condicionada ao funcionamento dos serviços em cada momento, de acordo com a evolução da pandemia, no Balcão Único do Município, na Loja do Cidadão, ou naquela divisão. Os pedidos podem ainda ser remetidos por carta registada com aviso de receção para o endereço da divisão - na Praça José Afonso, n.º 1, 8000-173 Faro - ou por endereço eletrónico. As normas estipuladas para a concessão de apoio municipal de emergência ao arrendamento pelo município vigoram até ao dia 30 de junho de 2020.

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Albufeira investe 300 mil euros em equipamentos para apoiar aulas à distância A Câmara de Albufeira investiu 300 mil euros em equipamentos informáticos e ligações à internet para distribuir pelos alunos dos três agrupamentos escolares do concelho, para apoiar as aulas à distância no terceiro período letivo. Em comunicado, o município adianta que adquiriu 694 “tablets” com “software” de gestão de sala de aula para o ensino básico, 612 “routers” sem fios com três meses de serviço de banda larga móvel e acesso à Internet e, ainda, 110 portáteis para os alunos do ensino secundário, num investimento de cerca de 300 mil euros. O presidente da Câmara, José Carlos Rolo, sublinha que se trata de “mais uma medida de apoio às famílias, no âmbito da pandemia da covid-19, que visa promover a igualdade de oportunidades no acesso à educação, permitindo aos alunos acompanharem o Plano Nacional de Ensino à Distância com sucesso”. Segundo o autarca, o processo foi conduzido em articulação com os três agrupamentos escolares do concelho, que,

a pedido da autarquia, fizeram o levantamento das necessidades de equipamento informático e acesso à Internet dos alunos do 1.º, 2.º, 3.º ciclo e ensino secundário. Com base nesse levantamento, o município preparou os procedimentos de aquisição, no sentido de “disponibilizar todos os equipamentos e ferramentas necessários” para que os alunos do básico e secundário tenham acesso às aulas e aos conteúdos digitais. A medida visa promover “a igualdade de oportunidades” e “contribuir para o sucesso escolar”, numa fase em que, devido às restrições para travar a propagação do novo coronavírus, é necessário recorrer ao ensino à distância. “Este é um novo desafio, para o qual temos de estar à altura para que ninguém fique para trás”, concluiu José Carlos Rolo. As Câmaras de Lagos, Portimão e Lagoa, já tinham, igualmente, anunciado a disponibilização de equipamentos informáticos e ligações à Internet para apoiar as aulas à distância no terceiro período.

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􀪭 Medida visa promover a igualdade de oportunidades no acesso à educação

IEFP implementa atendimento por videoconferência O IEFP reforçou canais alternativos ao atendimento presencial e o atendimento dos candidatos a emprego já está a ser feito com recurso a plataforma de videoconferência Para facilitar o acesso generalizado à informação e aos serviços por si prestados, o IEFP tem apostado na diversificação dos seus canais de acesso e de prestação de serviços à distância aos cidadãos e entidades, nomeadamente o portal iefponline, o email e o Centro de Contacto. Em continuidade com a estratégia de modernização dos serviços de emprego, o IEFP implementou um novo serviço de atendimento à distância, através de videoconferência, permitindo que a comunicação com os seus utentes se faça de uma forma célere, reduzindo o tempo e evitando deslocações aos serviços de emprego.

A iniciativa pretende melhorar a qualidade da resposta aos candidatos a emprego, através do desenvolvimento das intervenções técnicas necessárias ao seu processo de inserção, das quais se destacam as sessões coletivas e entrevistas individuais, por recurso à videoconferência. Este atendimento à distância é efetuado junto dos candidatos com condições tecnológicas para participar em intervenções promovidas através de videoconferência e iniciou-se no corrente mês de maio. Neste sentido, foi endereçado a todos os candidatos inscritos, um email de divulgação, solicitando a resposta a um questionário relativo aos equipamentos que possuem para aceder a estas intervenções online. Mais informações sobre este novo serviço em www.iefp.pt/servicos-online

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􀪭 O novo serviço pretende melhorar a qualidade da resposta aos candidatos a emprego


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Estação de piscicultura de Olhão ofereceu 2,5 toneladas de corvina a instituições de solidariedade foto d.r.

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􀪭 A estação contribuiu com material usado na investigação com vista a aumentar a capacidade para testar covid-19

A Estação Piloto de Piscicultura de Olhão já doou cerca de 2,5 toneladas de corvinas produzidas nas suas instalações a 16 Instituições Particulares de Solidariedade Social, anunciou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). O IPMA adianta, em comunicado, que contribuiu também com material usado na investigação da estação com vista a aumentar a capacidade para testar covid-19 na região algarvia. A estação de Olhão está a trabalhar com um terço do pessoal para garantir “a manutenção de peixes, salvaguardando o futuro e a continuidade da investigação que se faz em aquacultura no nosso país”, refere o comunicado.

Alcoutim renova largo da Igreja da Nossa Senhora da Assunção em Giões foto d.r.

􀪭 A intervenção representa um

investimento de 172.500 euros

A Câmara de Alcoutim vai renovar a zona envolvente da Igreja da Nossa Senhora da Assunção, em Giões, após ter sido aprovada a candidatura ao Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (PADRE), que tem enquadramento no Programa Operacional CRESC Algarve 2020.

A renovação urbana da zona envolvente da igreja, desenvolve-se no espaço publico adjacente, composto por um largo. No espaço público vai-se proceder à substituição da pavimentação existente por calçada à portuguesa, sendo implantado no espaço um cruzeiro. A operação é ainda composta por um MUPPI outdoor digital Interativo, Hotspot WIFI para promoção dos produtos e recursos endógenos existentes e a instalação de rede WIFI para que os utilizadores acedam a título gratuito às TIC. A operação, que se prevê estar concluída até ao próximo dia 31 de dezembro, tem um investimento elegível 172.500 euros, ao qual foi atribuída uma comparticipação comunitária (FEDER) de 120.750 euros.


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Faro entre 14 cidades europeias que integram projeto artístico "Europe at Home" foto vasco célio

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􀪭 Projeto conta com um fotógrafo e um escritor em cada cidade Um grupo de 14 cidades europeias, entre elas Faro, lançou o projeto “Europe at Home”, que visa retratar a quarentena forçada pela pandemia de covid-19 em fotografias e textos em várias áreas da União Europeia, anunciou a organização. A cidade de Faro, candidata a Capital Europeia da Cultura em 2027, foi a dinamizadora do projeto, que conta com um fotógrafo e um escritor em cada cidade, num total de 28 artistas, a produzir imagens e textos sobre a vida durante o período da quarentena que a pandemia de covid-19 obrigou a população europeia a respeitar, explicou o representante da localidade portuguesa. pub

Bruno Inácio, que representou a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura (Faro2027) na conferência de imprensa de imprensa por teleconferência que fez a apresentação do projecto no passado dia 30 de abril, adiantou que o trabalho de cada artista na sua cidade é também valorizado no “site” (www.europeathome.eu), que agrupa as 14 cidades aderentes. O apoio de Kaunas foi muito importante, salientou Bruno Inácio sobre a cidade da Lituânia, Capital Europeia da Cultura em 2022, onde o trabalho realizado inicialmente pela fotógrafa Gabija Vainiutė serviu de inspiração para Faro iniciar os contactos e o tra-

balho para alargar o que tinha feito localmente, com o fotógrafo Vasco Célio e o escritor Sandro William Junqueira, a outros parceiros europeus. Além de Faro e Kaunas, participam no projeto outras cidades europeias com ligação passada, presente ou futura com a Capital Europeia da Cultura, como Bodo (Noruega), Chemnitz (Alemanha), Esche-Sur-Alzette (Luxemburgo), Leeuwarden (Holanda), Novid Sad (Sérvia), Oulu (Finlândia), Piran (Eslovénia), Plovdiv (Bulgária), San Sebastian (Espanha), Tartu (Estónia), La Valletta (Malta) e Veszprém (Hungria). “Esta rede respondeu rápido e muito bem e a verdade é que já temos mais

cidades interessadas em integrar o projeto. Depois de lançarmos o projeto com estas 14 cidades, vamos abrir o projeto à adesão de novas localidades na Europa”, afirmou Bruno Inácio. O mesmo responsável explicou que a ideia inicial foi “convidar as cidades” para estas depois “escolherem um fotógrafo e um escritor” para se debruçarem e refletirem sobre como está a ser a vida durante este período de quarentena por toda a Europa. “Temos trabalhos realmente diferentes, uns mais artísticos outros mais baseados na realidade”, considerou Bruno Inácio, sublinhando que, entre os 28 artistas, “há pessoas jovens, a

mais nova tem 19 anos, e pessoas mais experientes, há jornalistas, fotógrafos, músicos e escritores”. Os trabalhos escritos contêm “visões mais pessoais, outros questionam o futuro e outros refletem esperança”, acrescentou, frisando que “não tem de haver relação direta entre imagem e texto” e “não se especificou que tipo de fotografias deviam ser feitas”. O projeto mostra assim que, apesar das diferenças existentes entre países, “há similaridades” entre todos e a “cultura pode unir” as pessoas e ser uma fonte de inspiração e esperança em tempos de dificuldade, defendeu.


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Tavira reforça medidas de apoio às famílias mais desfavorecidas A Câmara de Tavira anunciou um conjunto de “medidas urgentes e excecionais” para proteger os grupos mais frágeis e atenuar o impacto socioeconómico na população motivado pela pandemia da covid-19. O município precisou, em comunicado, que as medidas englobam apoios ao nível alimentar e visam também “a saúde e inclusão social da população mais vulnerável” e afetada pelas restrições de confinamento provocado pelo novo coronavírus. De acordo com a autarquia, serão servidas refeições gratuitas, em regime de “take-away” em todo o concelho, em colaboração com diversas entidades e instituições, e atribuídos vales a 240 famílias para adquirirem bens alimentares essenciais. Para ajudar as famílias mais necessitadas, a Câmara de Tavira atribuiu um apoio de 5.720 euros à Fundação Irene Rolo, a fim de que seja mantido o fornecimento das refeições diárias, no âmbito do projeto “Chefe à porta”. A autarquia equaciona também avançar com a disponibilização diária de mais 500 refeições quentes em regime de “take-away”,

“caso a situação de carência alimentar persista ou evolua para uma maior necessidade de resposta”, lê-se na nota. Para apoiar as pessoas sem-abrigo, foi disponibilizado um alojamento provisório com 20 camas em quartos modulares (contentor), com o fornecimento de alimentação diária e “kits” de higiene, conforme refere a Lusa. As medidas englobam ainda a abertura de duas cantinas escolares, que funcionam no regime de “take-away”, para que alunos possam usufruir de refeições diárias, apoio que já abrange 60 alunos do pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico. “A par desta medida, a autarquia assegura a abertura das escolas, uma vez por semana, para que as crianças tenham acesso ao serviço de fotocópias e impressões”, indicou a câmara. Por outro lado, está em fase de procedimento a aquisição de 239 “tablets”, 68 computadores e diverso equipamento informático de comunicações, para facilitar o estudo em casa aos alunos que tinham sido sinalizados sem acesso às novas tecnologias.

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􀪭 Apoios visam atenuar o impacto socioeconómico na população motivado pela pandemia da covid-19 pub

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Médico formado pela UAlg obtém a melhor classificação na Prova Nacional de Acesso à especialidade Bruno Morgado, graduado em Medicina pela Universidade do Algarve, obteve a melhor classificação na primeira edição da Prova Nacional de Acesso (PNA), utilizada para seriar os recém-graduados em Medicina no acesso à especialidade. Depois de 40 anos, a PNA substituiu o Exame Harrison que já não era bem visto pelos alunos, incluindo Bruno Morgado, que o considerava “uma aberração”. O Mestrado Integrado em Medicina da UAlg tem a duração de quatro anos e é direcionado a estudantes graduados, detentores, no mínimo, de um primeiro ciclo de estudos - licenciatura. O seu programa é integralmente baseado em Problem Based Learning (PBL) e comporta o ensino clínico desde o 1º ano. Embora a maior parte destas características não seja inovadora, por si só, em Portugal, dado que outras escolas médicas as aplicam de uma ou de outra forma, a integração de todas

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􀪭 A média obtida pelos finalistas de Medicina da UAlg foi superior à média nacional elas no mesmo curso de Medicina só se verifica na UAlg. A combinação de todas estas componentes é primordial para a preparação dos

futuros médicos, explica Bruno Morgado, que obteve na seriação 136 pontos em 150. Já com uma licenciatura em Ciên-

cias Farmacêuticas, para este médico, a exercer no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), o curso da UAlg é, “sem

dúvida, o melhor do País”. De destacar ainda que a média obtida pelos finalistas de Medicina da UAlg foi superior à média nacional.

Concluída a requalificação da estrada entre Faro e Mar-e-Guerra Os trabalhos de requalificação da Estrada Municipal 518-1, que faz a ligação entre a cidade de Faro e a localidade de Mar-e-Guerra, estão praticamente concluídos, o que permitiu o restabelecimento do trânsito por aquele itinerário. Adjudicada em outubro último por mais de 273.000 euros à sociedade Candeias & Silva Lda., "a intervenção permitiu renovar totalmente a via de rodagem, tendo sido igualmente reforçado o pavimento", explica a autarquia farense em comunicado de imprensa. Da empreitada fizeram ainda parte trabalhos de colocação de sinalização horizontal e vertical e a execução de rede de drenagens, entre outros. Com esta obra, que surge após a requalificação municipal, em 2019, da ligação entre Mar-e-Guerra e Patacão (131 mil euros),

ficam completas as intervenções pensadas para aquela que é uma das zonas mais movimentadas da malha periurbana, prosseguindo agora os trabalhos de recuperação das ligações às designadas freguesias rurais. Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, entende que “a pavimentação da estrada de Mar-e-Guerra representa uma significativa melhoria na circulação de pessoas e mercadorias, num itinerário bastante importante para a economia do concelho”. Para Rogério Bacalhau, importava igualmente “garantir o deslocamento dos alunos que usam o transporte escolar e também das famílias de um modo mais confortável e seguro”, objetivo que é plenamente alcançado com a execução de mais esta obra do programa municipal “Faro Requalifica”.

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􀪭 A intervenção permitiu renovar totalmente a via de rodagem


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Fazer o bem, sem olhar a quem:

Conheça o grupo dos “1000 Fatos, 1000 Abraços” fotos d.r.

􀪭 Ana Gomes e a sua mãe são as caras principais da "Rosa Fardas",

mas não deixam de lado a sua equipa, crucial para o sucesso do projeto

Filipe Vilhena / Henrique Dias Freire

jornalpostal@gmail.com

Um final feliz em tempos de pandemia. Nalini Ribeiro e Ana Gomes não se conhecem fisicamente, mas juntas já ajudaram centenas de profissionais de saúde, com a doação de fatos de proteção para combater a pandemia do novo coronavírus. Vamos ao início desta história. Ana Gomes é gestora financeira da empresa “Rosa Fardas”, que pertence à sua mãe de 83 anos. Esta empresa é responsável pelo abastecimento de vários hotéis na região algarvia, produzindo diversas peças de costura para eles. Como qualquer negócio, o futuro da “Rosa Fardas” ficou incerto com a pandemia e Ana Gomes revela que “pensámos fechar portas”. Os

tempos eram nebulosos e afetavam a equipa que, por um momento, perdeu a esperança. Contudo, Ana Gomes, de 58 anos, arregaçou as mangas e começou a produzir batas e pijamas para os Hospitais de Faro e Portimão, a pedido destes. O projeto cresceu e avançou depois para a confeção do kit de proteção Covid-19, que para além de respeitar todas as normas (tecido TNT descartável) foi analisado e aprovado por uma equipa médica da linha da frente, do Hospital de Faro. Para a gestora financeira, esta foi “uma aposta incerta, pois não sabíamos se o investimento iria ter retorno”. A “Rosa Fardas” estava a oferecer a mão de obra neste projeto, que era feito com o coração e não tinha como objetivo ganhar dinheiro. É aqui que entra Nalini Ribeiro. Aos 51

anos de idade, é professora no Agrupamento de Escolas Tomás Cabreira em Faro, a terminar o Mestrado na área das Emoções, em Espanha. Nalini Ribeiro começou “a acompanhar a página da ‘Rosa Fardas’” e a gostar do trabalho que esta estava a desenvolver. Depois disso, decidiu fazer um donativo para ajudar a empresa de Ana Gomes a produzir mais materiais. A vontade de ajudar aumentou ainda mais e Nalini Ribeiro confessa que “uma noite deitei-me a pensar que tinha de ter uma ideia que me permitisse ajudar pessoas sem sair de casa!”. Foi este pensamento que impulsionou Nalini Ribeiro a criar o grupo de Facebook “1000 Fatos, 1000 Abraços” e convidar cerca de 20 amigas a fazer uma doação para ajudar na produção de 1000 fatos, que iriam ser entregues aos profissionais de saúde que estão na linha da frente no combate à covid-19. A surpresa chegou no dia seguinte: o grupo tinha exatamente 1012 pessoas, interessadas em ajudar. O crescimento exponencial da página em 24 horas, fez com que Nalini Ribeiro percebesse que a sua ideia havia inspirado pessoas que, como ela, também queriam ajudar e não sabiam como, neste tempo de pandemia.

tureiras da “Rosa Fardas” que são a peça fundamental, as voluntárias que se juntaram para costurar, os membros que através de mensagens de texto, donativos e ou divulgação apoiam o grupo e as empresas: Gascan, Sa, O&G associados, co-promotores da Alameda Beer Fest, Restaurante 8 Tapas, Restaurante Dois Irmãos e PRATUS.COME que se juntaram à causa.

as doações chegarem, “os hospitais ficam com o seu dinheiro e o grupo assegura as despesas”, diz a gestora da “Rosa Fardas”. Neste momento, o grupo continua a crescer e as encomendas a chegar. Os dentistas já estão a aparecer na “equação”, pois também terão de utilizar material de proteção. Recentemente, também os Bombeiros Voluntários do Algarve pediram

O grupo continua a crescer e as encomendas a chegar Daí em diante, Ana e Nalini formaram uma equipa. Uma equipa que nunca teve contacto físico, que nunca tomou um café ou falou de uma possível parceria. “Aconteceu tudo naturalmente”, dizem. Começaram a trocar mensagens em privado e ajustar a tarefa que cada uma iria desempenhar. O grupo já tem cerca de um mês e conta com cinco mil membros. Em termos de doações, já são mais de sete mil euros e centenas de fatos que já chegaram aos Hospitais de Faro e Portimão. Entrar nesta “rede de solidariedade” é fácil. Basta entrar no grupo, procurar o número de IBAN e fazer a doação. Qualquer valor é significante. Qualquer ajuda é necessária. Todos aqui são importantes, as cos-

􀪭 Nalini Ribeiro sempre foi solidária mas não esperava que o grupo tivesse tanta adesão

Ana Gomes e Nalini Ribeiro dizem receber muito mais do que dão com esta iniciativa. O apoio, as mensagens e o resultado do projeto são muito gratificantes. O grupo “1000 Fatos, 1000 Abraços” está repleto de comentários positivos, gratidão, solidariedade e boa energia, de pessoas que se juntam para ajudar e que confiam nas mãos destas mulheres o seu dinheiro. Ana Gomes revela que “é um processo transparente. Faço vídeos e mostro o trabalho que estamos a desenvolver”. Enquanto

ajuda para a aquisição de batas. O projeto ainda está a ser estudado, mas Ana Gomes e Nalini Ribeiro prometeram não voltar as costas a estes homens e mulheres que transportam doentes. Todos são bem-vindos a participar e a praticar o bem na região algarvia. Num momento em que tanto ouvimos falar de números, fixe este: cinco mil pessoas participam num grupo solidário que angariou mais de sete mil euros para a realização de fatos para profissionais de saúde. pub


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Albufeira isenta consumidores das tarifas de água, águas residuais e resíduos A Câmara de Albufeira isentou as famílias e as empresas do concelho das tarifas fixas de água, águas residuais e resíduos sólidos durante quatro meses para mitigar os efeitos da pandemia de covid-19. Em comunicado, a Câmara de Albufeira adianta que a medida, cujos efeitos se fizeram sentir já na fatura de abril, se aplica a todos os consumidores domésticos e não-domésticos, durante quatro meses e prolonga-se até ao próximo mês de julho. Segundo a autarquia, no caso dos consumidores domésticos, a isenção das tarifas corresponde a uma poupança mensal de 8,90 euros, o que significa que, para um consumo de 10 m3 por mês, o valor a pagar com a isenção será de 15,29 euros, em vez de 24,26 euros, o que corresponde a um desconto de 37%, exemplificou. Já os consumidores não-domésticos com consumos de 50 m3 por mês, antes da medida iriam pagar

150,81 euros, passando agora a pagar 125,33 euros. No caso de o consumo chegar aos 500 m3, em vez de 1.356,37 euros passarão a pagar 1.253,30 euros. De acordo com o município, na fatura de abril, apesar de já estarem contempladas as referidas isenções, apenas surge discriminado o consumo, sendo expectável que em maio, junho e julho as faturas já possuam a informação relativa às isenções, prossegue a nota. Com vista a evitar o contágio pelo novo coronavírus, o município decidiu, ainda, suspender o serviço de leitura de contadores de água. Assim, para que não haja faturação por estimativa e acautelando a deteção de eventuais fugas de água nas redes prediais, os consumidores devem comunicar, nos dias indicados na fatura, a leitura do contador para o número 808 202 274 ou para o email agua. leitura@cm-albufeira.pt.

foto d.r.

􀪭 A isenção aplica-se a todos os consumidores domésticos e não-domésticos e prolonga-se até ao mês de julho pub

DOIS MINUTOS PARA OS DIREITOS HUMANOS 1. PORTUGAL © Amnistia Internacional Portugal

A Amnistia Internacional sinalizou o direito à habitação e a discriminação como problemas registados em 2019, no mais recente relatório sobre a situação de direitos humanos na Europa. No documento é ainda feito um alerta sobre a deterioração do padrão de vida das crianças em risco de pobreza e que vivem em condições inadequadas. A inexistência de um órgão totalmente independente para investigar a conduta das forças de segurança voltou a ser referida.

2. ANGOLA As autoridades estão a impedir ativistas de distribuir informação e produtos de higiene essenciais, como desinfetantes, sabonetes e máscaras, aos povos indígenas e às comunidades tradicionais, no contexto do combate à COVID-19. No início de abril, nove membros da organização MBATIKA foram atacados pela polícia e detidos, na província de Cuando Cubango. Apesar de terem sido libertados, continuam a aguardar autorização para prosseguirem com as ações de sensibilização.

4. BANGLADESH 1 5

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Junte-se a nós. Encontre o grupo mais perto de si em www.amnistia.pt/grupos

Os refugiados rohingya que, nas últimas semanas, têm sido detetados em águas próximas à zona de costa devem ser resgatados e acolhidos, ao mesmo tempo que outros governos da região terão de partilhar as responsabilidades nas missões de busca e salvamento. Devido à pandemia de COVID-19, há países que não permitem o desembarque de barcos. A Malásia já proibiu o desembarque de duas embarcações com cerca de 500 pessoas a bordo.

3. MOÇAMBIQUE Ibrahimo Abú Mbaruco deve ser localizado, de forma urgente, pelas autoridades. O jornalista da Rádio Comunitária de Palma, localizada na província de Cabo Delgado, está em paradeiro incerto, depois de, alegadamente, ter sido abordado por militares. Há receios de que tenha sido vítima de detenção arbitrária. A província é palco de ataques do grupo Al-Shabab, desde 2017. Na resposta, as forças moçambicanas têm sido acusadas de cometer violações de direitos humanos.

5. MUNDO O número de execuções diminuiu cinco por cento, em todo mundo, conclui o relatório da Amnistia Internacional sobre a aplicação da pena de morte em 2019. Pelo menos 657 pessoas foram mortas, mas estes dados não incluem a China, que trata o tema como segredo de Estado e terá executado mais de um milhar de condenados. Na lista de maiores carrascos seguem-se o Irão, com pelo menos 251 execuções, e a Arábia Saudita, com 184 – um máximo nunca antes atingido.


Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o

MAIO 2020 n.º 138 www.issuu.com/postaldoalgarve

6.618 EXEMPLARES

MISSÃO CULTURA •••

O confinamento e a Arte – o Cinema

Ficha técnica

foto d.r.

Sessão do Programa JCE - Juventude/Cinema/Escola, no Auditório do Museu Municipal de Portimão em 2018 •

Este é um texto que não quereria escrever. Num tempo de confinamento. É neste tempo que parece que a cultura é a salvação. Abrimos as redes sociais, os jornais, as revistas e surgem milhares de propostas para ler livros, ouvir música, concertos, ver filmes e por aí fora … Como bem disse António Guerreiro, no Jornal Público de 27/03/2020, «Estas listas ministradas como fármacos doces e agradáveis dizem-nos, pelo menos, duas coisas evidentes. Em primeiro lugar, que os media têm uma concepção pastoril da sua missão, muito especialmente no que diz respeito à cultura, e animados por essa concepção indicam os caminhos que o rebanho deve seguir para não se sentir completamente perdido e entediado, administram lições e conselhos que têm como pressuposto a ideia de que os leitores e espectadores não alcançaram a maturidade nem a autonomia e devem ser colocados sob tutela. (…) » Tendo a concordar que este tipo de lista nos infantiliza.

Mas nós tornámo-nos crianças perdidas no desconhecido e o nosso anseio de partilhar gostos e de enchermos o tempo e o espaço com os nossos tesouros dá-nos alento e conforto. E voltamos aos nossos valores seguros. Aquelas obras que estão no cantinho mais secreto do nosso ser. E também damos uma espreitadela em obras desconhecidas. E por vezes, embora raramente, escrevamos sobre algo que é importante para nós. É isso que irei fazer. Para vos falar de como o cinema – a 7.ª Arte – é capaz de nos preencher. Hoje estamos impossibilitados daquilo que é sagrado no cinema: o espetáculo em sala escura. Há até quem afirme que irá haver uma mudança de paradigma e que a lógica de Thomas Edison quando inventou o Kinetoscópio vai prevalecer. Edison inventou um processo filmográfico que consistia essencialmente em duas etapas: após a captação das imagens ser feita pelo cinetógrafo, a sequência de imagens era visualizada através de um

óculo dentro de um caixote de madeira. Esse segundo dispositivo era o denominado Kinetoscópio ou Cinetoscópio. Uma pessoa de cada vez introduzia uma moeda e o mundo das imagens em movimento iniciava-se. Era um espetáculo individual que pode ser comparado ao ato de ver cinema em casa. Edison comercializava a sua invenção nos Estados Unidos, mas também veio à Europa para divulgar orgulhosamente o Kinetoscópio. Foi em Paris que o pai dos Irmãos Lumière viu uma demonstração da nova máquina de reprodução de imagens em movimento. Entusiasmado, regressa a Lyon e convence os filhos – Auguste e Louis – a irem mais longe e a criarem uma máquina que projetasse imagens para várias pessoas. Auguste e Louis inventaram o Cinematógrafo. A 28 de dezembro de 1895, realizou-se em Paris a primeira sessão de cinema com este novo aparelho. 33 espectadores terão pago bilhete. Sentaram-se numa sala que ficou escurecida e o milagre da imagem em movimento projetou-se na tela. O cinema, tal

como o conhecemos, começava! Esses espectadores exultaram e transmitiram a outros, que passaram o maravilhamento a outros. Contrariando a premissa dos próprios Lumière «O cinematógrafo é uma invenção sem futuro». Não foi. Assim se têm passado os anos e, se bem que a morte do cinema tenha sido várias vezes anunciada (com o aparecimento da TV, do vídeo, da Internet), nunca tal óbito ocorreu… Porque os amantes de cinema vão sempre preferir o espetáculo coletivo ao visionamento caseiro. O próprio cinema tem-se reinventado com novos formatos, com outro som, com maravilhas da tecnologia e, sobretudo, com temas que nos abrem o Mundo. Assim retomamos o tempo presente e questionamos o futuro. Será que vai haver a tal mudança de paradigma e passaremos todos a ver cinema como Edison o inventou? É preciso mais uma nota para dizer que Edison se converteu ao espetáculo coletivo e iniciou uma guerrilha sobre a patente do cinema. E irá dedicar-se à realização de filmes para salas

Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Paginação e gestão de conteúdos: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • Artes Visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Filosofia Dia-a-dia: Maria João Neves • Letras e Literatura: Paulo Serra • Marca D'água: Maria Luísa Francisco • Missão Cultura: Direção Regional de Cultura do Algarve • Reflexões sobre Urbanismo: Teresa Correia • Colaboradores desta edição: Graça Lobo, Vítor Azevedo Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/ postaldoalgarve FB: www.facebook.com/ postaldoalgarve/ Tiragem: 6.618 exemplares

escuras. Ironia… Por isso mesmo considero que a morte do cinema em sala não irá acontecer. Mas poderemos sempre ver/rever os filmes em casa como forma de um outro prazer – o de termos um outro tempo para a análise. Regressamos às listas e às conversas online. É um prazer partilhar aquilo que gostamos. É um prazer falar com os outros sobre aquilo que gostamos. Tempo para o fazer neste momento não nos falta. Enquanto aguardamos com ansiedade ver um filme em sala de cinema. l Graça Lobo (Técnica superior da Direção Regional de Cultura do Algarve)


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LETRAS E LEITURAS •••

Paulo Serra

Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL

A colecção Retratos, da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), traz-nos «um olhar próximo sobre a realidade do país». Cobras, lagartos e baratas - Os melhores amigos do homem? é um retrato contado por Ana Daniela Soares, que viu, ouviu e viveu de perto como os portugueses cada vez mais escolhem répteis, insectos ou anfíbios como animais de estimação, naquele que é um mercado em crescimento – além de que o tráfico de vida selvagem é um dos mais lucrativos, depois do tráfico de drogas e de pessoas (p. 91). Ainda que a companhia doméstica de bichos exóticos possa surpreender e até arrepiar alguns dos leitores – até porque um animal de estimação hoje pode também considerado um parceiro –, este pequeno livro é um trabalho surpreendentemente isento de qualquer juízo de valor, em que a autora reparte em diversos capítulos o que resultou da sua pesquisa, nomeadamente das conversas com tutores, criadores, biólogos (como Élio Vicente, do parque temático Zoomarine), consultores em bem-estar animal, proprietários de lojas de animais e veterinários, de modo a revelar este «admirável mundo novo dos animais exóticos de estimação» (p. 10). Em Portugal, onde se chegou a vender 400 mil tartarugas por ano, há até quem tenha ouriços ou furões. Hoje é legal «ter como animais de companhia determinadas espécies de aranhas, escorpiões, lagartos, cobras, mamíferos como suricatas ou petauros-do-açúcar e até baratas-de-madagáscar, as quais podem atingir 10 cm» (p. 10).... Contudo, neste Retrato descobriremos histórias bastante mais insólitas que ocorrem em Portugal: pitões encontradas abandonadas na natureza, com 20 kg de peso e 1,70 m; crocodilos recolhidos na Barragem de Castelo de Bode com 1,5 m; uma mulher que passeava um elefante pelo Algarve (para sermos claros, tinha 4 m de altura e 4.000 kg); clientes que compram enganosamente mini pigs (moda que começou com George Clooney) que atingem os 100 kg; um senhor, em Portugal, que tinha um casal de leões adultos na sala (apesar das fiscalizações que ocorrem quando surgem denúncias para a apreensão de grandes felinos é preciso ter um mandado; nos EUA, por exemplo, vivem 300 tigres como animais de estimação); pode com-

Cobras, lagartos e baratas Os melhores amigos do homem?, de Ana Daniela Soares foto alfredo cunha

para estarem contidos num apartamento, e são libertados na Natureza, há que ter em conta que eles não estão preparados, depois de criados em cativeiro, para viver livremente e são um risco biológico e ecológico para o nosso ecossistema, inclusive os aparentemente inofensivos peixes vermelhos de aquário ou as tartarugas que podem colocar em risco espécies endémicas como o cágado.... Hoje, aliás, gasta-se mais a erradicar espécies exóticas do que na prevenção dos cuidados a ter com a natureza... (p. 52) Ana Daniela Soares é licenciada em Enfermagem e em Ciências da Comunicação. Integrou os quadros da RTP em 2004. Apresentou e fez reportagem em vários programas, concertos e emissões especiais na Antena 1 e Antena 2. Apresenta desde 2010 a rubrica À Volta dos Livros, transmitida de segunda-feira a sexta-feira, às 17:40 horas e às 21:20, na Antena 1. Em 2013, foi distinguida com o Prémio Pró-Autor, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores. Desde 2015 integra o canal de informação RTP 3 onde coordena e apresenta o programa Todas as Palavras. l

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Ana Daniela Soares viu, ouviu e viveu de perto como os portugueses cada vez mais escolhem répteis, insectos ou anfíbios como animais de estimação • prar uma formiga por 500 euros e colónias a vários milhares de euros. Estes animais exóticos são, muitas vezes, sobretudo para contemplação É bom ressalvar que estes animais exóticos são, muitas vezes, sobretu-

do para contemplação, até porque não se deixam manear, pois são de gerações de cativeiro ainda muito recentes, ao contrário de animais domésticos, como os cães, que co-evoluíram com o homem ao longo de centenas de milhares de anos. São animais selvagens, cuja proximidade podem dar aos seus cuidadores,

erradamente, a sensação errada de que podem manifestar afecto (p. 12). Além de que, quando se tornam demasiado grandes

Obra revela o admirável mundo novo dos animais exóticos de estimação •

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Terra Americana, de Jeanine Cummins >

«Uma das primeiras balas entra pela janela aberta por cima da sanita diante da qual se encontra Luca, de pé.» (p. 6) A frase inaugural deste romance agarra de imediato o leitor, até porque a história arranca em plena acção, com mãe e filho a procurarem proteger-se de um tiroteio na casa de banho. Luca, o filho de Lydia, tem oito anos. Os dois são os únicos sobreviventes desse ataque dos sicários naquele que é um bairro bom de Acapulco. Não haverá testemunhas pois apesar do movimento por trás das janelas dos vizinhos, estes já se preparam «para negar credivelmente que viram seja o que for» (p. 12) quando chega a polícia, que também não vai fazer nada, enquanto toda a família (16 pessoas) está morta no quintal das traseiras. A polícia não vai ajudar porque, das mais de duas dúzias de agentes da autoridade e pessoal médico, uma boa parte recebe do cartel da zona 3 vezes o ordenado que o Governo lhes paga. No México, a taxa de crimes por resolver situa-se acima dos 90 %. Sebastián, marido de Lydia, era repórter num local onde os cartéis assassinam um jornalista de tantas em tantas semanas: «Tudo aconteceu tão depressa nos últimos anos. Acapulco sempre teve pendor para a extravagância, portanto, quando finalmente caiu em desgraça, fê-lo com o espectacular espalhafato que o mundo se habituara a esperar da cidade. Os cartéis entregaram-se à farra e pintaram as ruas de sangue.» (p. 63-64) Apesar da acalmia que se instalara mais recentemente, Sebastián fora ameaçado, diversas vezes, para parar de escrever sobre os cartéis: «Uma imprensa livre era a última linha de defesa, dizia ele, a única coisa que protegia o povo mexicano da aniquilação total» (p. 42). E este seu idealismo e integridade pareciam a Lydia uma hipocrisia egoísta. O que ela não sabe é que Javier, o cliente que se tornou um visitante regular da sua livraria e um amigo, é o líder do cartel, pelo que, quando a verdade é desvendada, cria-se uma relação de amor-ódio entre ambos (com ecos intertextuais de O Amor nos Tempos de Cólera, de García Máquez). Ficaremos a saber como esta mãe se sente «esfarrapada como um pedaço de renda, definida não tanto pela matéria de que é feita, mas pelas formas que lhe faltam.» (p. 105), enquanto engole a dor e se empenha em chegar aos E.U.A., o único porto seguro para si e, particularmente, para o seu filho, pois estranhamente parece que é Luca o mais procurado. A forma determinada e calculista, de fria eficácia, com que Lydia supera o trauma e inicia uma fuga pela so-

foto joseph kennedy

lugares e diferentes circunstâncias, uns urbanos, outros rurais, uns de classe média, outros pobres, uns educados, outros analfabetos, salvadorenhos, hondurenhos, guatemaltecos, mexicanos, índios, cada um deles carrega uma história de sofrimento em cima daquele comboio rumo ao Norte.» (p. 183) Terra Americana, de Jeanine Cummins, publicado em Março pelas Edições Asa, também disponível em ebook e com exímia tradução de Tânia Ganho, é um dos livros mais controversos deste ano. A autora foi inclusive acusada de “apropriação cultural” pois é um romance escrito sobre o México por uma autora norte-americana, pelo que não “pode conhecer a fundo a realidade que descreve”. A leitura deste livro quer-se compulsiva, virando as páginas ao ritmo da tensão, e a prosa é belíssima. É particularmente bem conseguida a forma como a narrativa oscila entre a focalização na perspectiva de Luca e da mãe, sem haver uma alternância sistemática entre as personagens, sendo que essa cisão de perspectiva pode ocorrer subitamente de um parágrafo para o seguinte, conforme aprouver melhor vivenciar a intriga por um dos dois migrantes. l

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Jeanine Cummins foi acusada de “apropriação cultural”, por ser um romance escrito sobre o México por uma autora norte-americana • brevivência, pode até desconcertar o leitor mas, como afirma o narrador, «se há uma coisa boa no terror é o facto de ser mais imediato que o luto» (p. 31). Lydia deparar-se-á, por fim, com a única forma possível de migrar para o país vizinho: «Lydia estuda os comboios de mercadorias em que se deslocam os migrantes da América Central, de uma ponta à outra do país. De Chiapas a Chihuahua, agarram-se ao cimo dos vagões. O comboio ganhou o nome La Bestia, porque a viagem é uma missão de terror em todos os sentidos possíveis e imagináveis. A violência e os raptos são endémicos ao longo da linha férrea e, além dos perigos criminais, os migrantes também correm o risco, todos os dias, de ficarem mutilados

ou de morrerem, quando caem do alto dos comboios.» (p. 87) Livro é um dos mais controversos deste ano A Besta: uma viagem de comboio a que todos os anos sobrevive meio milhão de pessoas. Nessa viagem, Luca, o nosso pequeno herói, «um homem de idade num corpinho mínimo» (p. 178), e a sua mãe conhecerão ainda personagens fascinantes com quem partilham o fado de terem de mudar de país para se manterem vivos, afastando-se da violência ou da miséria: «é aquilo que todos os migrantes têm em comum, é aquela a solidariedade que existe entre eles, apesar de virem todos de diferentes

Livro foi publicado em março pelas Edições Asa •


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REFLEXÕES SOBRE URBANISMO •••

Cidades, isolamento social e a arquitetura fotos d.r.

Teresa Correia

Arquiteta / urbanista arq.teresa.correia@gmail.com

O isolamento social como um fator de segurança De forma surpreendente, a nossa população cumpriu exemplarmente as indicações no sentido do seu confinamento, demonstrando um grande sentido cívico. Os idosos estão em casa, até por vezes, excessivamente isolados, as cidades estão mais vazias, e a circulação rodoviária é muito menor. Ninguém questiona que o isolamento social se constituiu como um fator de segurança do ponto de vista sanitário. Porém, quem por acaso circulou a pé mesmo que por trajetos curtos, pelas ruas na cidade de Faro, quase inevitavelmente se encontrou com um sem-abrigo, ou alguém a pedir esmola. Não são poucos, e agora com as ruas vazias, salientam-se, não existindo, provavelmente, casas-abrigo para este tipo de população. Não existem reações suficientemente fortes por parte do Estado para este tipo de população indigente, verificando-se apenas uma solidariedade ocasional. Por outro lado, os pequenos egoísmos salientam-se relativamente ao emprego, ao teletrabalho, ao dever

A população cumpriu exemplarmente as indicações no sentido do seu confinamento, demonstrando um grande sentido cívico • As cidades pós-Covid e a problemática dos espaços verdes Perante tão grave crise, ficou patente que será importante planear de forma adequada, com o justo equilíbrio entre os espaços construídos e os vazios, com espaços verdes inseridos nas malhas

Os idosos estão em casa, por vezes excessivamente isolados, as cidades estão mais vazias • que ficou por cumprir, à visita ao próximo que não se fez, ao espaço familiar que se reduziu ao núcleo. Na verdade, a saúde pública é uma condição que se sobrepõe a tudo o resto, pelo que o isolamento social só pode ser considerado como uma medida excecional e transitória, porque o custo é elevadíssimo, em termos sociais, económicos e humanos.

urbanas, e com uma densidade urbanística equilibrada. A qualidade das nossas cidades é agora colocada à prova, de forma a que seja possível, percorrer as ruas, sem congestionamento, fazer um exercício físico individual em parques verdes largos e amplos, ou ir ao centro comercial ao ar livre. Estamos na fase das revisões dos

PDM´s no Algarve, pelo que será importante a ponderação da qualidade e da proporção dos nossos espaços verdes, e do seu correto dimensionamento. A importância das árvores e dos espaços lúdicos é agora reforçada, impondo-se a necessidade de criar um fator de dimensionamento apropriado ao nosso clima, sociedade e território. Os arquitetos são chamados a ter um papel ativo neste planeamento, sendo aqueles que mais qualificados estão para a construção da cidade. Este saber deverá ser empregue em cada caso, tendo por base a análise da envolvente onde irá intervir a exposição solar, as vistas, o tipo de sistemas construtivos que utiliza, os valores arquitetónicos em presença e, sobretudo, com a qualidade do espaço que irá proporcionar. Construir edifícios e cidades saudáveis é complexo e não existem regulamentos e regras suficientes que possam produzir a qualidade de vida gerada por um edifício ou um espaço público bem projetado. Os regulamentos podem evitar o pior, mas não geram o melhor. A qualidade é gerada pelo correto posicionamento de todos os elementos face ao problema em causa, ou ao objetivo pretendido. Daí, a arquitetura é uma arte e uma técnica simultaneamente, que deverá ser respeitada e estimulada por todos, mas sobretudo pela nossa administração pública.

O ato de projeto como fator de salubridade das cidades A realidade é que a maior parte da produção de projetos públicos é hoje feita normalmente internamente pelas próprias autarquias, existindo pouca encomenda externa. Acontece que os próprios técnicos municipais estão, por vezes, extremamente sobrecarregados e é-lhes exigido um esforço extra de produção de projetos e planos, o que não abona à qualidade e à diversidade, por manifesta falta de tempo e recursos. Os decisores das

mais e melhor. Esse desafio que nos é agora apresentado, após a crise, deverá ser uma oportunidade para que possa ser dado um papel a outros intervenientes, e estes possam projetar uma visão apropriada, tanto no espaço público, como na mobilidade, ou nos edifícios. Será fundamental a criação de parcerias entre autarquias, Estado e entidades credíveis como a Ordem dos Arquitetos, por exemplo, para que haja um posicionamento correto face ao que será necessário fazer tanto em termos de legislativos

Os decisores devem agora refletir se a salubridade das nossas cidades não merece mais e melhor • nossas cidades devem agora refletir se a salubridade das nossas cidades, com um planeamento de pormenor, e de diferentes escalas, não merece

como em boas práticas, na área do Planeamento e da Construção, com vista a um melhor desempenho na saúde pública. l


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ARTES VISUAIS •••

Como visitar museus em tempos de Covid19? fotos d.r.

Saúl Neves de Jesus

Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; http://saul2017.wixsite.com/artes

Têm sido várias as semanas de confinamento a que têm sido sujeitas as pessoas de muitos países, como forma de limitar a proximidade social, para diminuir a probabilidade de contágio e propagação do novo coronavírus. Mas mesmo terminando o estado de emergência nos vários países, as restrições em espaços públicos irão manter-se por algum tempo. Os museus e espaços de fruição de artes visuais não são exceção.

Imagem do site da Google com as opções de museus para visitas virtuais •

Imagem do site do Museu do Vaticano com as opções de possíveis visitas virtuais, nomeadamente da Capela Sistina • Assim sendo, têm sido muitos os museus que, embora estando encerrados para visitas presenciais, têm criado a possibilidade de visitas virtuais às suas exposições. Embora nada supere uma visita presencial, a era digital tornou possível fazer visitas virtuais pelas coleções dos museus, enquanto permanece confortavelmente sentado no seu sofá. Não é necessário viajar pelo mundo para participar em atividades culturais interessantes, pois algumas podem mesmo ser desfrutadas a partir de casa. Sem ter necessidade de viajar, sem filas e tempos de espera, para além de não ter que pagar ingresso, pode ficar a conhecer muito do conteúdo dos principais museus do mundo através dos seus sites, sem pressas. Esta é seguramente uma boa forma de aproveitar o isolamento social, entrando pelas “portas” digitais desses museus.

Numa iniciativa promovida pela plataforma da Google dedicada à arte e à cultura, e pensada em todas as pessoas que estão em isolamento pelo mundo, várias centenas de museus juntaram-se para oferecer estas visitas online às suas coleções. Através do site https://artsandculture.google.com/partner?hl=en pode visitar e conhecer as obras que se encontram no Rijksmuseum ou no Museu Van Gogh, na Holanda, mas também ver a coleção do Museu do Louvre ou do Museu d’Orsay, em França, ou o espólio do MoMA Museu de Arte Moderna, do Museu Solomon Guggenheim ou da Galeria Nacional de Arte, nos EUA. De Portugal podemos encontrar o Museu Coleção Berardo e o Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa. A lista inclui ainda a Galeria de Arte Vancover, no Canadá, o TATE ou o

Imagem do início da visita virtual à Capela Sistina, em que cada um pode gerir as aproximações feita no espaço •

British Museu, em Inglaterra, a Belvedere, na Áustria, o Museu de Arte Moderna, no Japão, o Museu Pera, na Turquia, o Museu Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, na

que era conseguir-se uma visita presencial antes da pandemia, pois só a podiam visitar um número limitado de pessoas em cada meia hora e com bilhetes comprados habitualmente

Imagem durante a visita virtual à Capela Sistina • Coreia do Sul, a Galeria Nacional de Singapura, em Singapura, o Museu do Palácio, na China, o MOCA-Museu de Arte Contemporânea, na Tailândia, a Galeria Nacional de Arte Moderna, na Índia, o Museu Dolores Olmedo, no México, o MATE-Museu Mario Testino, no Perú, o MASP-Museu de Arte de São Paulo ou o Museu da Língua Portuguesa, no Brasil, o Museu Botero, na Colombia, o Museu Arqueológico de Atenas, na Grécia, o Museu do Prado, o Museu Thyssen-Bornemisza ou a Teatro-Museu Dalí, em Espanha, o Museu Hermitage, na Rússia, o Museu de Escultura Dresden, na Alemanha, a Pinacoteca de Brera, a Galeria Uffizi ou os Museus do Vaticano, em Itália. Escolhi apresentar algumas imagens da Capela Sistina, que integra os Museus do Vaticano, tendo em conta a sua importância na história e na arte, bem como a dificuldade

com meses de antecedência. É nesta Capela que se realiza o Conclave, quando é necessário escolher um novo Papa, e as suas pinturas foram feitas no final do século XV e início do século XVI. Em particular, na parece do altar encontramos “O Juízo Final”, de Michelangelo (1534). Temos, assim, uma excelente oportunidade de emergir na história e na arte através das visitas virtuais a museus! Gostaria de terminar este artigo salientando que a arte também está na forma de observar e usufruir aquilo que está à nossa volta, pelo que, após o período de confinamento em que nos encontrámos devido ao estado de emergência, devemos procurar apreciar aquilo que nos rodeia, com consciência plena, foco, calma, serenidade e gratidão pelos momentos em que fruímos e comtemplamos cada pormenor... l


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MARCA D'ÁGUA •••

Qualquer semelhança com a ficção… é cada vez mais realidade Maria Luísa Francisco

Andar ao sol a fazer exercício é mais uma terapia do que uma higiene!

foto d.r.

Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa luisa.algarve@gmail.com

A tecnologia é um facilitador e responde às nossas necessidades

“As sociedades são conduzidas pela sua tecnologia, mas são definidas pela sua humanidade.” Gerd Leonhard Hoje em dia somos, de facto, conduzidos pela tecnologia sem a qual nos sentimos isolados ou perdidos. Através da tecnologia e dos meios de comunicação social chegam-nos, entre milhares de imagens, novas palavras que passaram a fazer parte do nosso novo vocabulário covídico! Agora a palavra do dia tem sido “desconfinamento”, depois de há cerca de dois meses o “confinamento” ter sido a palavra, provavelmente, mais pronunciada. As palavras têm muito peso em nós, ainda que inconscientemente. O substantivo confinamento, é muito redutor. Poderíamos usar a designação recolhimento, até porque é uma palavra à qual associamos um tempo de introspecção e reflexão. Experimentem dizer “estou recolhido/a” e a seguir dizer “estou confinado/a”. Há uma sensação diferente ao dizer uma ou outra palavra. Ao sentir que estamos recolhidos, associamos a essa palavra algum sentido de liberdade de pensamento, de retiro e auto-encontro e até

a sensação de opção. Por sua vez, quando se diz “estou confinado/a” não temos a sensação de liberdade ou de opção, porque a palavra soa a obrigação, a limitação e soa a “finado”! Se pensarmos que não estamos confinados em casa, mas estamos em casa por solidariedade, por respeito pelo futuro de todos nós, acabamos por sentir que é um recolhimento

responsável e um recolhimento solidário. Outra palavra que se usa muito é “higiénico”, como se não bastasse a corrida ao papel higiénico no início desta pandemia, ainda temos de ouvir essa palavra associada aos passeios! Quando muito os passeios são terapêuticos. Saímos para apanhar sol, o que é excelente para obter vitamina D e para fazer exercício físico.

Temos a tecnologia ao dispor e ela aproximam-nos dos outros. Passamos parte do dia a comunicar ou consultar redes sociais, a atender telefonemas, a escrever e responder a sms’s, a escrever e-mails, a receber e partilhar vídeos e a ler jornais digitais. Por exemplo, as reuniões através do Zoom, Skype ou Teams vêm mudar a forma de estar em equipa. E há um detalhe muito interessante: as reuniões começam sempre a horas e intervém uma pessoa de cada vez, o que não acontece assim tanto nas reuniões presenciais. Acredito que depois da situação de pandemia estar mais controlada, muitas empresas e entidades públicas continuarão a utilizar esta forma de reunir. Para além da redução de custos com deslocações, permite mais foco e atenção durante as reuniões. Estamos digitalmente mais experientes e esta tendência cada vez mais se reflecte nos nossos hábitos, como por exemplo nas compras online e na leitura do jornal online. Com tudo o que foi referido, e graças à internet e aos telefones, creio que nós não estamos socialmente isolados. Imaginem como terá sido com a pandemia de há 100 anos, em que não havia internet, nem telemóveis. Isso sim, foi isolamento social. Na semana passada participei num encontro de escritores através da plataforma Zoom e foi fantástica

a partilha, de certeza que durante aquela hora ninguém se sentiu socialmente isolado. O ser humano é um ser social, mas essa vertente, nesta fase, tem sido colmatada, tal como referi, com o acesso às novas tecnologias a partir de nossas casas. O ser humano é igualmente um ser de contacto físico e talvez essa ausência seja mais estranha nesta altura. Se alguém está triste, podemos dizer-lhe muitas palavras empáticas, mas um abraço caloroso e atencioso será muito mais eficaz. É certo que agora não são recomendados abraços, no entanto há novas formas de sermos presença, de sermos solidários, de sermos esse abraço, que apesar de intocado nos torna mais humanos. Têm razão aqueles que defendem que a vida nunca mais será a mesma depois desta pandemia. Começamos a fazer cenários, a recordar filmes de ficção científica, mas não sabemos ainda para onde estamos a caminhar. É isso o futuro, o desconhecido, o incerto. No entanto, uma coisa é certa, dependeremos, daqui para diante, mais uns dos outros do que alguma vez teremos dependido. Já estamos a experimentar essa mudança e está a ser muito rápida. Apesar da semelhança entre o que há décadas era ficção e hoje vai sendo realidade, existe em nós a esperança de um mundo melhor. Gerd Leonhard refere que os próximos 20 anos irão trazer mais mudança do que os últimos 300 anos e a ficção científica irá dar lugar à realidade científica. Fiquemos seguros e atentos aos próximos capítulos da humanidade! l

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CULTURA • SUL

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FILOSOFIA DIA-A-DIA •••

5 Anos de Café Filosófico! Que desafio?! fotos d.r.

Maria João Neves Ph.D Consultora Filosófica

O Café Filosófico teve o seu início na Casa Álvaro de Campos em Tavira em Maio de 2015. Cumpre agora 5 anos, é um marco! Os participantes deslocam-se de várias localidades algarvias para estes encontros mensais que se realizam em Tavira ou Faro. Por que se darão a tanto trabalho? Que traz o Café Filosófico às suas vidas? Para esta edição do quinto aniversário resolvi recolher alguns testemunhos: “Participar nos encontros do Café Filosófico foi como um convite à visitar áreas do conhecimento que minha vida académica e profissional ainda não haviam me propiciado. Visitar a História, Lugares e Ideias que formaram (e continuam formando) nossa civilização, com este grupo eclético, é ter a oportunidade de, ao menos uma vez por mês, sair do quotidiano e saltar para outro tempo/espaço. São Textos, Poemas, Música, e tantas outras expressões que ampliam os horizontes humanos, há milénios! Fui cativado logo no meu primeiro evento. Não buscamos a essência académica como poder-se-ia inferir. Ao contrário, estendemos o convite a qualquer interessado e praticamos a diversidade. Seja das ideias que discutimos, seja das opiniões que temos. O que podemos aprender e ensinar? Mensalmente recebemos a inspiração através desta coluna, publicada pela Doutora Maria João Neves jornal Postal do Algarve/Cultura Sul; e frequentemente inspiramos a matéria a explorar no mês seguinte. Dos Gregos aos Millenials, não há restrições à contribuição. Ao contrário, a sua narrativa é o ponto alto de nossos encontros ! Aos 60 anos, já não sou mais menino. Tive oportunidade estudar agronomia, químicos de engenharia e até finanças, posto que minha vida profissional foi generosa em oportunidades. Aliás, já nasci Alemão no Brasil, com o improvável nome Ingo, e fui Brasileiro na Alemanha. Vivi na Europa e nas Américas, passei períodos na Asia. Na diversidade busco o caminho para tolerância e solidariedade. O Café Filosófico permite praticar isto aqui mesmo, no Algarve.” Ingo Lipkau, empresário, Albufeira.

Primeiro Café Filosófico em Tavira, Casa Álvaro de Campos, Maio de 2015 • “Vivemos um momento ‘intrinsecamente filosófico’ de paragem colectiva e reflexão (que bom se, também ela, fosse colectiva!). ‘Se nada fizermos, somos como prisioneiros. Se nos pusermos a pensar, poderemos seja criar maravilhas e inventar uma outra maneira de viver, seja criar bodes expiatórios e, nesse caso, adicionamos infelicidade à infelicidade’, disse há dias o neuropsiquiatra francês Boris Cyrulnik. Pensamento crítico e liberdade. Lucidez e cidadania. Procura para o sentido da vida. Livre. Lúcida. Que magnífica ideia, professor Marc Sautet! Desde há quase trinta anos, às 11h00 dos domingos no Café des Phares, em Paris. Procura e encontro no ‘café-philo’. Não por diletantismo, nem entretenimento – a necessidade de ser! Assim esta Ria Formosa (para onde a vida me trouxe após o exercício do último posto como diplomata da União Europeia em ilhas do Oceano Índico – umas descobertas pelo português Pedro de Mascarenhas em 1513 e outras, muito antes, pelos fenícios) favoreça a criação de maravilhas, a invenção de outra maneira de viver. Que magnífica ideia, professora Maria João! Desde há cinco anos, um final de tarde por mês entre Tavira e Faro (também por cá andaram os fenícios ...). Longa vida ao Café Filosófico!” Eduardo Vaz, diplomata, Tavira.

“Ao abeirar-me dos 72 anos, a grande maioria usados a estudar e a cuidar, com intervalos de meditação sobre o que observo, lembrei-me de que fui tocado pela análise atenta das moedas de 10$00 emitidas, creio que, entre 1971 e 1974. Aprendi que todas as medalhas/moedas têm duas faces e um bordo e que neste pode estar a mensagem mais importante, como pude mostrar a alguns dos participantes nos cafés. Os cafés permitem desviarmos o olhar das faces da rotina e centrá-lo nas mensagens que tendemos a desvalorizar.” Herberto Neves, médico, Faro.

O Café Filosófico andou, pela cidade de Faro, um pouco como o Fado Vadio. De café em café, sempre à procura de condições ideais para a sua realização, que nunca apareceram. Esta busca fez parte da experiência e, para mim, ainda hoje, me serve de tema de reflexão. No ano passado houve sessões em que saímos do espaço físico do próprio Café Filosófico que me agradaram especialmente: a sessão no motoclube com a presença e testemunho do seu presidente José Amaro, e a sessão no Teatro Lethes em que assistimos à peça de teatro sobre o poeta e filósofo sufi Ibn Qasi. A sessão de Verão, no jardim da casa da Maria João foi outra experiência muito interessante.” Isabel Pereira, engenheira mecânica e escritora, Loulé. Café Filosófico aconteceu em muitos espaços nas cidades de Tavira e Faro Durante este anos o Café Filosófico aconteceu em muitos espaços nas cidades de Tavira e Faro. Os cafés frequentemente com eventos musicais cujo volume impede uma conversa à mesa; os jardins públicos com algum desconforto de vento, insectos ou ausência de casas de banho em boas condições; os espa-

Primeiro Café Filosófico on-line, Abril de 2020 •

“Frequento o Café Filosófico da Doutora Maria João Neves desde o primeiro dos seus cinco anos de existência, em Tavira. Desloquei-me os 45 Km de distância desde Loulé, onde vivo, até aquela cidade para experimentar este espaço aberto de reflexão, que é o Café Filosófico. Por vezes, nessa viagem, tinha a companhia de outras pessoas amigas. Era uma óptima oportunidade para conversarmos um pouco sobre o tema do texto que a Maria João nos Café Filosófico no Motoclube de Faro tinha enviado, ou puSetembro de 2019 • blicado no jornal.

ços culturais por vezes com clientela demasiado ruidosa... A tudo isto o Café Filosófico resistiu, adaptou-se, encontrou alternativas mostrando grande flexibilidade e resiliência. Agora, devido à pandemia, o Café Filosófico enfrenta um novo desafio: estabelecer-se num espaço on-line. Muitos resistem ainda às actividades on-line. Seja pela aversão à tecnologia, seja pelo facto de o encontro pessoal ser um ingrediente muito apelativo destes encontros. Contudo, o espaço virtual apesar de topologicamente distante permite uma elevada intensidade na interacção dos participantes. Constrói-se um universo comunicacional para o qual são transferidas uma grande parte das interacções sociais. Há

até, poderia dizer-se, um quase roçar da experiência da ubiquidade, um transcendermo-nos ao sentirmo-nos próximos apesar de estarmos geograficamente longe. O primeiro Café Filosófico surgiu em França em 1992 no Café de Phares em Paris, iniciativa do filósofo Marc Sautet (1947-1998), autor do livro Um Café para Sócrates publicado em 1995. A sua ideia de trazer a filosofia de volta às suas origens, isto é, para a rua, levando o cidadão comum a reflectir sobre as experiências quotidianas em vez de simplesmente passar pela vida, rapidamente conquistou o mundo. Existem múltiplas variantes das mais às menos estruturadas, mas há alguns elementos comuns: o exercício das capacidades intelectuais, a procura de rigor apesar do ambiente relaxado. O foco coloca-se no entendimento do ponto de vista do outro em vez de se argumentar para ganhar uma discussão. Como já tive ocasião de referir num artigo publicado nesta coluna em 2017 intitulado “Bica, galão ou Café Filosófico?”, esta não é uma simples “conversa de café” a bem do rigor, o Café Filosófico exige um moderador qualificado que seja, pelo menos, licenciado em filosofia. O moderador tenta que os participantes vão além doxa, o mero discurso opinativo ou das ideias mal alicerçadas, promovendo a gestação de um pensamento fundamentado, lúcido e responsável. Nestes 5 anos a propor, a escrever e a moderar o Café Filosófico talvez tenha chegado o momento de também eu partilhar o que é que este significa para mim. Encontro em Nietzsche a forma sintética de o expressar: o Café Filosófico é o círculo que eu escolhi! “Escolha o seu círculo - Livremo-nos de viver num círculo no qual não é possível calarmo-nos dignamente nem comunicar o que temos em mais alta conta, de tal modo que não nos restam para comunicar senão as queixas, as necessidades e toda a história da nossa miséria.” (F. Nietzsche, Aurora) Pelo contrário, no círculo do Café Filosófico não existe essa necessidade nem tendência lamurienta. As experiências pessoais apenas surgem para servir de trampolim no diálogo permanente entre aquilo que é particular e o universal que a todos diz respeito. Aqui encontro as condições de calma, dignidade, empenho e respeito que são ideais para que o pensamento floresça. Também na solidão ou no diálogo que se estabelece com um livro o pensamento prospera. Porém, o Café Filosófico possibilita o pensar em conjunto! Obrigada a todos vós que há tantos anos me acompanham nesta aventura por me propiciarem esta experiência preciosa! l


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CULTURA • SUL

ESPAÇO ALFA •••

Tempos de reflexão / . . Às vezes ficamos “hipnotizados” pelos equipamentos que temos, pelos que queremos adquirir ou pelas constantes novidades. Será mesmo importante termos mais pixels nas nossas câmaras? Termos uma lente um pouco mais luminosa? Termos mais “milhentas” funções, das quais só utilizamos 10% e muitas delas nem sequer sabemos que existem? Não seremos nós o mais importante, criando, imaginando, alterando o ângulo de visão, inventando alternativa para o flash Na fotografia, como na vida, são os momentos menos bons que nos dão a oportunidade para mudarmos para melhor • ou o spot que não temos, improvisando, utilizando a luz natural a nosso nologia, a nossa visão pessoal, a nossa meio para atingir um fim? o tempo para pensar mais claramenfavor? Percebendo que na fotografia capacidade de inovar, criar, de construir Na fotografia, como na vida, são os te e a oportunidade para mudarmos nós somos mais importantes que a tec- utilizando apenas o equipamento como momentos menos bons que nos dão para melhor. l foto vÍtor aZevedo

Vítor Azevedo

Membro da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve

Agora que estamos em tempo de recolha e introspecção, poderá ser um bom momento para refletirmos acerca da nossa atividade fotográfica, libertos da ansiedade de ir a correr fotografar, aproveitar a oportunidade, fazer mais uma sessão, editar, editar, editar. Claro que temos mais tempo para visualizar e editar aquelas fotos que, há meses, esperam no fundo do disco rígido pela nossa atenção. Mas a minha mensagem é mesmo de reflexão. Analisemos o nosso trabalho. Será que o que até aqui fizemos é mesmo tudo o que gostaríamos de ter feito? Não gostaríamos de ter variado e inovado mais? De buscar novos olhares? Novas leituras? Novas áreas para fotografar?

dr

ESPAÇO AGECAL •••

Cultura portuguesa, o passado e o presente...1 Jorge Queiroz

Sociólogo e gestor cultural, Sócio da AGECAL ‒ Associação de Gestores Culturais do Algarve

"Quando a tempestade acabar não recordarás como conseguiste, como sobreviveste. Nem sequer estarás seguro que a tempestade realmente acabou. Mas uma coisa é certa, quando saíres da tormenta não serás a mesma pessoa que nela entrou. Disso trata a tormenta." Haruki Murakami, escritor japonês. in "Kafka à beira mar Se desejarmos avaliar o momento actual, objectiva e projectivamente, teremos de partir da análise do pro-

cesso de desenvolvimento cultural do País, tarefa fundamental não só pelos elementos ideológicos de várias épocas e interpretações que subsistem, mas igualmente pelos patrimónios e infraestruturas que nos chegaram. A cultura em sentido amplo e as artes, funcionaram desde sempre intimamente ligadas aos poderes e aos mecenas, mas foram em muitos momentos consciência crítica da sociedade e contrapoder. A cultura como função do Estado é recente, foi sobretudo no século XIX que, resultado das ideias iluministas e democratizadoras, a educação e cultura transitaram para a esfera pública. Durante o Estado Novo, não recuando aos movimentos culturais do período da 1ª República (1910-1926), o organismo estruturante de toda a política cultural em Portugal foi o Secretariado Nacional da Propaganda criado a 27 de outubro de 1933, cujo objectivo era divulgar a ideologia da “Revolução Nacional ”, suportada numa mitologia étnica, de desígnios e heróis, transformada em doutrina do Estado e suporte da ditadura. O SNP dotado de poderosos meios

num País com escassas capacidades internas, dirigido por António Ferro, intelectual prestigiado pela estreita relação com o movimento modernista português, admirador dos regimes autoritários. Como jornalista entrevistou Mussolini, Hitler, Primo de Rivera, escreveu também um livro apologético sobre Salazar. Ferro seguiu como linhas estratégicas, a sedução dos intelectuais e artistas de qualidades reconhecidas, propondo-lhes encomendas orientadas para temas previamente escolhidos, também desenvolveu um programa de cultura popular encenada ligada à doutrinação. O legado dessas décadas foram de diversos géneros, o folclore como encenação das danças do mundo rural e as “marchas populares”, a Exposição Colonial de 1934, a promoção do cinema de pendor nacionalista, os bailados “Verde Gaio” e o “Teatro do Povo”, prémios nacionais de história, ensaio, poesia,… contudo a grande realização desse período de forte exaltação nacionalista foi a “Exposição do Mundo Português”, realizada em Lisboa entre Junho e Dezembro de 1940, assinalando a

Fundação da Nacionalidade em 1140, a restauração de 1640 e a celebração das obras do Estado Novo em 1940, logo no inicio da II Guerra Mundial. Desta exposição, a mais importante realização cultural de meio século de regime, persistem marcas na área entre os Jerónimos e o rio Tejo, o “monumento aos descobrimentos” da autoria do arquitecto Cotinelli Telmo e do escultor Leopoldo de Almeida, o jardim da Praça do Império e o Museu de Arte Popular. Nos diversos projectos trabalharam os arquitectos Pardal Monteiro, Carlos Ramos, Jorge Segurado, Raul Lino, entre outros e dezenas de pintores reconhecidos como Bernardo Marques, Carlos Botelho, Almada Negreiros, Jorge Barradas, Sarah Afonso,… Portugal só voltaria a organizar uma exposição de maior grande envergadura em 1998, com a EXPO de Lisboa também ligada aos oceanos , que transformou a zona oriental de Lisboa. Mas nem tudo foram adesões e seduções do regime corporativo, muitos cientistas, escritores e artistas ligados às correntes democráticas da oposição, eram vigiados e tiveram de

se exilar, vários foram presos, as suas obras banidas ou censuradas. A lista é vasta, com referência para figuras centrais da cultura portuguesa como Jaime Cortesão, Borges Coelho, Júlio Pomar, Jorge de Sena, Miguel Torga, Abel Salazar, António José Saraiva, Costa Pinheiro, José Cardoso Pires, e tantos outros, incluindo intelectuais ligados as lutas pela independência das colónias. Uma conflitualidade dialéctica percorre a história da cultura portuguesa no século XX, em apenas 100 anos o País conheceu quatro regimes político-constitucionais: monarquia, 1ª Republica, Estado Novo e a Democracia Democrática Parlamentar. Nessa vivência de antagonismos dialécticos, coexistem cosmopolitismos e cultura popular, nacionalismo e universalismo, o que originou alterações de discursos sobre a identidade nacional. Após o 25 de abril de 1974 e o fim de 500 anos de “Portugal Ultramarino” surgiu uma nova realidade económica, social e cultural, um novo discurso sobre a cultura portuguesa como parte integrante da “cultura europeia”. l


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REGIÃO •••

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Castro Marim distribui viseiras e equipamentos de proteção O Município de Castro Marim está a distribuir centenas de viseiras e equipamentos de proteção individual pelos bombeiros voluntários, forças de segurança, centros de saúde, serviços de apoio domiciliário da Unidade de Cuidados Continuados do Azinhal e da Cruz Vermelha em Altura e Mercado de Altura. A realçar que algumas das viseiras foram doados pelo Movimento Maker – Portugal, uma iniciativa voluntária com mais de 8.000 membros e que produz as viseiras em impressoras 3D. O Município agradece "as largas de dezenas oferecidas por este movimento", cujo objetivo é essencialmente “juntar pessoas com vontade de partilhar conhecimento através de um espírito de entre ajuda”. Foi assim que a iniciativa se organizou agora, no atual contexto pandémi-

co, para a produção de viseiras. Para fazer as viseiras é preciso apenas uma folha grossa de acetato transparente, um elástico, um furador de papel e filamento de impressão para a impressora 3D, por isso todos os que reunirem as condições podem aderir ao Movimento. Este é um movimento solidário nacional, que se estendeu agora a Castro Marim, onde, estimuladas pela Câmara Municipal, também têm surgido iniciativas solidárias como a confeção de máscaras comunitárias e a criação da rede de voluntários. A autarquia castromarinense adquiriu ainda equipamentos especiais, higienizáveis, de alta proteção, para os profissionais de limpeza urbana, que todos os dias estão na linha da frente, e são também disponibilizadas viseiras a todos os colaboradores da rede de voluntários.

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􀪭 Castro Marim tem promovido várias iniciativas solidárias de apoio à população pub

Festival do Caracol com “take-away” e eventos “online” Marim, onde se trocarão ideias e receitas”, lê-se na nota. Segundo o município, a componente internacional será introduzida “com a partilha de receitas marroquinas, francesas e espanholas, nacionalidades que todos os anos marcavam presença no evento, mas serão também partilhadas as tradicionais receitas portuguesas”. Paralelamente, serão transmiti􀪭 Festival pretende envolver todos os comerciantes dos “show cookings” e momentos do concelho que quiserem aderir em regime de ‘take-away culturais, de música, dança e outras performances, à semelhança A Câmara de Castro Marim vai manter a rea- do que acontecia no evento, que se realizava lização do Festival Internacional do Caracol, anualmente na Colina do Revelim de Santo mas com entregas ao domicílio, debates e António, em Castro Marim, segundo refere a momentos de culinária transmitidos através Agencia Lusa. de plataformas digitais. O primeiro ‘show cooking’ será com o ‘chef’ Sob o mote “Faça como o caracol, festeje em @ Abílio Guerreiro, formador da Escola de HoteCasa”, a iniciativa visa “minimizar o impacto eco- laria e Turismo de Vila Real de Santo António, nómico” provocado pela covid-19, “envolvendo em data a anunciar, refere o município. todos os comerciantes do concelho que quise- “Afirmar Castro Marim como destino dos merem aderir em regime de ‘take-away’”, refere, lhores caracóis do Algarve e potenciar também em comunicado, o município castromarinense. os produtos locais e tradicionais, bem como a “No decorrer do Festival, que se estende por cozinha e a cultura mediterrânicas, continuam dois meses, prevê-se que sejam realizados a ser as diretrizes que movem a realização do encontros e debates ‘online’ entre os comer- Festival Internacional do Caracol, que este ano ciantes, transmitidos pelo município de Castro se estreia em versão 'online'”, conclui. foto d.r.

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••• REGIÃO

Algar entrega bens alimentares para crianças até aos 3 anos de idade A Algar, empresa responsável na região do Algarve pela valorização e tratamento dos resíduos sólidos urbanos, entregou 263 quilos de farinhas lácteas, num valor superior a 1.000 euros, ao Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve Este gesto resulta de uma parceria entre a Algar e a Entrajuda (Algarve), através da campanha “Separar para Alimentar”. A iniciativa, que em 2019 celebrou 6 anos de existência, foi criada com o propósito de sensibilizar a população para a importância da reciclagem e, simultaneamente auxiliar as famílias que diariamente são apoiadas pelo BACF - Algarve, através da entrega de alimentos nutricionais para crianças até aos 3 anos de idade. Este tipo de alimentos, motivado pela sua especificidade e valores de aquisição mais elevados, são menos frequentes entre os donativos habitualmente recebidos pela instituição. Segundo Nuno Alves, presidente da Direção do BACF do Algarve, "o Banco Alimentar do Algarve coopera atualmente com 120 instituições, prestando apoio a 4.516 famílias, mediante a distribuição de géneros alimentares a 10.750 pessoas, das quais 2.828 são crianças com idades inferiores aos 12 anos, para quem vai este apoio do “Separar para Alimentar”. O BACF contribui ainda com 23.540 refeições que são preparadas diariamente por 68 instituições (pequenos-almoços, almoços, lanches e jantares)". De salientar que foram as famílias que geralmente recebem o apoio do BACF, que em 2019 entregaram as suas embalagens de plástico, metal e ECAL (embalagens de cartão para alimentos líquidos) vazias ao BACF pub

foto d.r.

􀪭 A Algar fez a entrega de 263 quilos de farinhas lácteas, num valor superior a mil euros, ao Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve Algarve para que fossem recicladas e como contrapartida serão elas que vão receber esta ajuda. Balanço da campanha nos últimos 6 anos “Desde 2013 que a campanha tem recebido a adesão por parte da população e de várias entidades locais,

que com o gesto da separação dos resíduos já garantiu o encaminhamento para reciclagem de 49 240Kg de resíduos de embalagens e permitiu a entrega de 6.000 euros em bens alimentares, ajudando assim quem mais precisa”, diz José Barreto, administrador Executivo da Algar. Esta campanha terminou em 2019 para dar lugar a uma nova causa “Tone-

ladas de Ajuda”, um novo projeto que está a decorrer e que o BACF - Algarve também já fez questão de abraçar. Trata-se de uma nova campanha que tem como objetivo valorizar todos os resíduos recicláveis que as instituições inscritas queiram entregar na Algar, nomeadamente, as embalagens de plástico, metal, papel, cartão e vidro, em troca de uma con-

trapartida financeira. Todos os que desejarem colaborar com a “Toneladas de Ajuda”, a favor do BACF - Algarve, podem entregar, separadamente, as embalagens usadas acima referidas, nas instalações da Algar, que se encontram distribuídas por toda a região do Algarve (www.algar.com), informando que o fazem a favor da referida instituição.


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“Faltará uma peça do puzzle no fim do meu curso”: O que o vírus roubou aos alunos da Universidade do Algarve foto samuel mendonça

/ d.r.

􀪭 A Bênção das Pastas seria celebrada no Estádio de S. Luís, em Faro, com todos os alunos que finalizaram o curso Filipe Vilhena / Henrique Dias Freire

jornalpostal@gmail.com

A pandemia está a deixar marcas no mundo. Todos os eventos foram cancelados ou reagendados, deixando a amargura no peito de quem esperava há muito para celebrá-los. Os estudantes foram todos para casa, deixando para trás o convívio diário na Universidade, as noites de quinta-feira e os eventos que estavam agendados, como o Traçar das Capas, a Bênção das Pastas e a Semana Académica. São momentos de perda para todos, que, em casa, não deixaram de se manifestar. Centenas de alunos do primeiro ano que foram praxados iriam agora ver a sua abençoada pelos padrinhos, que tinham também a oportunidade única de batizar com cerveja o percurso académico dos caloiros. Acompanhado deste momento, a habitual Serenata que enche de orgulho qualquer estudante com espírito académico. Os estudantes uniram-se e no dia 30 de abril, quinta-feira, a AAUlg lançou

o desafio “Hoje seria… dia de vestir o traje!”, que desafiava os alunos a recordar momentos em que estivessem trajados. A corrente espalhou-se e a rede social Instagram encheu-se de fotos de recordações, marcadas por trajes e amizades, agora feitas à distância, porque a vida assim o obriga. Seria um dia especial, como diz José Santos, finalista do terceiro ano da licenciatura em Gestão: “a impossibilidade de traçar a capa aos meus afilhados e de comemorar o fim da minha vida académica vai deixar-me na memória de que todo o percurso destes três anos não foi consagrado da devida forma e na altura certa”. Os seus sentimentos são, certamente, compartilhados por muitos alunos da Universidade do Algarve. Mas José Santos não deixa os sentimentos de nostalgia tomar conta dele, pois “o espírito da academia prevalecerá e este cantinho de tradição a sul manterá a força. Até que o último estudante caia, a tradição na UAlg permanece acesa. Não é altura de festejar, mas sim de nos contermos para festejarmos o dobro numa próxima oportunidade”. Caloiros e finalistas perderam a oportunidade de comemorar momentos especiais e o Traçar das Capas deverá ser reagendado. Outro momento encheu também de mágoa e tristeza

os finalistas. No dia 2 de maio, o estádio de S. Luís iria encher as suas bancadas de pais, familiares e amigos orgulhos, que estariam ali, debaixo do calor, a apoiar quem mais amam. A Bênção das Pastas também foi cancelada e, com ela, a oportunidade de vários estudantes levantarem orgulhosamente a sua mão e mostrarem a todos que completaram com sucesso mais uma etapa da sua vida. Para Inês Palminha, finalista da licenciatura de Educação Social, neste dia “pretendíamos celebrar as nossas vitórias, conquistas, dissabores, aprendizagens, amizades e tudo aquilo que integrou o nosso percurso académico”. A não celebração deste momento “foi como sentir um vazio no peito”. A estudante de Educação Social fez, em pensamentos, a retrospectiva de um dos dias em que depositava maior ânsia de viver: “esperava viver este dia com toda a intensidade e toda a caloricidade que o momento transmite, juntamente com os meus amigos e família. Acima de tudo, junto dos meus colegas de turma que me ensinaram muito e desempenharam um papel fundamental no meu crescimento. Com eles aprendi a ser melhor, e sei que este dia seria o resultado de tudo aquilo que vivemos juntos”.

Quando tudo terminar, a festa estará garantida Este momento de celebração de fim de curso não é novidade para outro estudante, Rodrigo Raziel, que está a terminar algumas unidades curriculares na licenciatura de Ciências Biomédicas, mas que já levantou com orgulho a sua pasta. Rodrigo sempre esteve envolvido nas praxes académicas e nos momentos onde se “respira” espírito académico. Sobre a Bênção das Pastas, diz que “é um dia de despedidas, de vitórias, de inícios e de fins... acima de tudo é um dia de transição, e como tal, um dia marcante e inesquecível na vida de todos os alunos. Tanto para a Bênção quanto para o traçar, o sentimento é o mesmo, é triste, injusto e doloroso”. Foi esta a mensagem que passou a todos os que não puderam comemorar este dia. O estudante da Faculdade de Ciências de Tecnologias ressume o dia como “mais do que abanar as pastas”. Contudo, era inevitável que a cerimónia fosse cancelada e, neste momento, resta esperar por novas datas. Na linha de comemorações académicas chegava agora o tempo de celebrar a Semana Académica. A viagem ao “país das maravilha”, onde todos os cursos estavam empenhados

em construir a sua barraca, ouvir os concertos e viver a melhor semana com os seus amigos. Os alunos que fazem a barraca, por norma do segundo ano dos cursos (apesar de existirem exceções), sentem que o trabalho para angariar dinheiro foi em vão. Todas as semanas, eles estavam em vários bares farenses a angariar dinheiro para colocar de pé uma barraca que teria o nome do seu curso em letras bem grandes. Beatriz Baiolete é aluna do segundo ano da licenciatura de Ciências de Comunicação e iria estar na Semana Académica. A aluna refere que “lutámos para que esta semana acontecesse e um vírus roubou-nos a oportunidade”. E a verdade é que este momento não se deve repetir e, tal como centenas de alunos que iriam participar neste momento, Beatriz confessa que “vou sempre sentir que me vai faltar uma peça do puzzle no fim do meu curso”. Todos os estudantes saíram a perder com o vírus e, certamente, a todos faltará uma “peça” no seu “puzzle académico”. O mundo luta contra a pandemia e, a todos nós, roubou algo. O mais importante, é que este momento nos trará lições, que vão ficar para a vida. E como na vida também se aprende, os estudantes vão lembrar-se para sempre deste momento. Quando tudo terminar, a festa estará garantida.


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NECROLOGIA

8 de maio de 2020

JOSÉ AUGUSTO X AVIER JÚNIOR

ANTÓNIO FELICIANO DO MONTE

MARIA ARMÉNIA DE JESUS BAPTISTA

04-12-1957  07-04-2020

30-03-1932  07-04-2020

18-09-1933  12-04-2020

Os seus familiares vêm, por este meio, agradecer a todos quantos que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos quantos de qualquer forma, lhes manifestaram o seu pesar.

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23-12-1960  20-04-2020

12-12-1946  21-04-2020

Os seus familiares vêm, por este meio, agradecer a todos quantos que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

Os seus familiares vêm por este meio agradecer a todos quantos de qualquer forma, lhes manifestaram o seu pesar.

Os seus familiares vêm, por este meio, agradecer a todos quantos que de algum modo lhes manifestaram o seu sentimento e amizade.

SANTA MARIA  TAVIRA SANTA MARIA E SANTIAGO  TAVIRA

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22-04-1941  22-04-2020

05-02-1929  25-04-2020

13-11-1939  28-04-2020

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8 de maio de 2020

Tiragem desta edição: 6.618 EXEMPLARES

O POSTAL regressa dia 22 de maio

Hubel Verde aposta em formações online para a comunidade agrícola

••• ÚLTIMA

Taxistas de Portimão recebem kits de prevenção à Covid-19 foto d.r.

foto d.r.

􀪭 O objetivo é ajudar os profissionais do setor na prevenção contra a atual pandemia

􀪭 No último dia deste ciclo de conferências, as produções em foco são os abacates, citrinos e kiwi A Hubel Verde, Engenharia Agronómica S.A., promove entre os dias 7 e 15 de maio um ciclo de formações online que permitirá a agricultores e técnicos agrícolas ficar a conhecer novas abordagens e soluções na produção de diversas culturas do mercado. As conferências são gratuitas e realizar-se-ão online através da plataforma Zoom, em parceria com a empresa mundial ED&F Man. Sob o mote “O uso de bioestimulantes para melhorar a eficiência da fertilização mineral e a qualidade da produção”, as conferências

contam com apresentações de Federico Maj, engenheiro agrónomo na ED&F Man. Este ciclo de conferências estará dividido em quatro dias: - Dia 7 a formação foi integralmente dedicada à cultura da vinha; - Dia 11 é dado destaque à cultura do amendoal e outras culturas Prunóideas (ameixeira, cerejeira, damasqueiro e pessegueiro) e Pomóideas (macã e pêra); - Dia 13 são apresentadas abordagens para otimizar a produção em olival; - Dia 15, o último deste ciclo de

conferências, as produções em foco são os abacates, citrinos e kiwi. As inscrições podem ser feitas através do site da Hubel Verde: www. hubel.pt/pt/hv/. “Esta é uma oportunidade para continuarmos em contacto com o mercado agrícola, partilharmos e recebermos conhecimento e contribuirmos para uma agricultura nacional que se quer cada vez mais moderna e competitiva, mesmo em momentos adversos como o que toda a nossa sociedade atravessa”, disse ao POSTAL João Caço, diretor executivo da Hubel Verde.

O Município de Portimão entregou aos representantes das duas associações de taxistas a operar no concelho cerca de 80 'kits' de prevenção contra o SARS-Cov-2. Os ‘kits’ são compostos por 12 máscaras, 12 luvas, duas viseiras, um frasco de desinfetante de mãos e um autocolante de obrigatoriedade de uso de máscara e serão distribuídos pelos associados da Rádio Táxi Arade e da Coope Portimonense – Cooperativa de Táxis de Portimão. O objetivo é ajudar os profissionais do setor na prevenção contra a atual pandemia, tendo sido igualmente abrangidos por esta ação os táxis

turísticos. O prazo de distribuição das máscaras aos cidadãos via CTT já terminou, assim como dos “kits” destinados aos comerciantes e que foram entregues loja a loja por múltiplas equipas constituídas pelos Bombeiros, Escutas, Juntas de Freguesia, Proteção Civil e Ação social e voluntários. Quem não recebeu as máscaras na caixa de correio ou nos seus estabelecimentos comerciais deve contactar a Linha Proteção 24, através do número 808 282 112, indicando o número de cliente da EMARP, de forma a que seja combinada a respetiva entrega.

Regulamento municipal de Loulé de uso do fogo está em consulta pública foto d.r.

􀪭 O documento estabelece

as normas e regras relativas às atividades cujo exercício implique o uso do fogo

O Regulamento Municipal de Uso do Fogo e Limpeza de Terrenos de Loulé, iniciativa que se enquadra no Plano Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios, encontra-se em fase de consulta pública. A poucos meses do período crítico dos incêndios florestais, este documento estabelece as normas e regras claras relativas às atividades cujo exercício implique o uso do fogo, designadamente, fogueiras, queimas de sobrantes de exploração agroflorestal, queimadas, fogo

técnico e utilização de fogo-de-artifício ou de outros artefactos pirotécnicos, bem como o que concerne a limpeza de terrenos no concelho de Loulé. No que toca à limpeza de terrenos situados em espaços urbanos e urbanizáveis, o presente regulamento aborda também esta matéria, a qual se reveste de elevada importância, tendo em conta as reclamações existentes e, às quais não se consegue dar seguimento adequado, por falta de enquadramento legal. Com a elaboração deste regulamento pretende a autarquia "contribuir não só para um correto esclarecimento dos munícipes sobre a matéria, como também para a criação de condições de segurança que permitam uma diminuição do risco de incêndio e a proteção de pessoas e bens". A audiência dos interessados decorre até ao dia 15 de maio, podendo estes apresentar sugestões à Câmara Municipal, através do correio eletrónico gap@cm-loule.pt ou da morada Praça da República, 8104-001 Loulé, dentro deste prazo. O regulamento pode ser consultado em www.cm-loule.pt


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