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“Em Portugal só se atua quando

Texto JOÃO TAVARES

Overão está aí à porta e, inevitavelmente, os incêndios florestais também. Segundo o Instituto Português do Mar e Atmosfera, apenas 20 por cento do país não enfrenta a seca. E em partes do Algarve, a seca vai de elevada a extrema. Se a isso juntarmos as temperaturas abrasadoras e os muitos terrenos ainda por limpar, então algumas zonas assemelham-se a uma cabeça de fósforo pronta a arder. Mas o Algarve diz-se preparado, apesar dos grandes incêndios registados nos últimos anos em Tavira e na serra de Monchique.

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“Em Portugal só se atua quando já está tudo a arder. O que temos de fazer é apostar forte na prevenção”, começa por dizer o presidente da direção da Federação de Bombeiros do Algarve ao nosso jornal, não escondendo, contudo, o seu otimismo. “A nossa grande arma no Algarve é a excelente coordenação entre os bombeiros e todos os outros agentes de Proteção Civil. Fizemos muitos exercícios para detetar problemas e limar ares- tas”, conta Steven Sousa Piedade. Segundo o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), o Algarve vai contar durante a fase Delta com seis meios aéreos: três helicópteros ligeiros (Loulé, Monchique e Cachopo), um pesado (Loulé), e ainda dois aviões bombardeiros médios (ambos estacionados na pista de Portimão), com depósitos que podem despejar entre 3 a 5 mil litros de água. No terreno vão estar parte dos quase 1300 bombeiros algarvios (mais de 700 são profissionais), que estão distribuídos por 17 corporações. “A serra é sempre o ponto mais crítico, devido à vegetação e aos acessos”.

Um dos pontos sempre controversos é o apoio dado pelo Estado às corporações, que põem à disposição do país as viaturas e os seus homens e mulheres, cuja dedicação é muitas vezes paga com a própria vida. “A realidade do Algarve é diferente do resto do país, e para bom. Temos a comparticipação do Estado e da Associação de Municípios do Algarve. É um bom incentivo, sem o qual seria complicado termos os meios humanos que temos durante o DECIR”, conta o responsável máximo da federação. “Temos brigadas a So- tavento e no Barlavento e todos os meios das 17 corporações. Estão todos preparados”.

“Governo tem de se chegar à frente e renovar as viaturas”

Steven Sousa Piedade adiantou ao Postal do Algarve que existem corporações no Algarve dotadas de viaturas com mais de 40 anos de idade. Adianta que essa realidade tem de mudar e só pede um tratamento igual ao dado às forças de segurança.

“Quem suporta os meios da GNR e da PSP é o Governo. Mas isso não acontece com os bombeiros. Todo o reequipamento vem de vários programas, das autarquias e associações humanitárias. Se há realmente vontade em ter uma força forte na defesa das populações e bens, o Governo tem de se chegar à frente e renovar as viaturas. Não estou à espera de que o governo reequipe todas as corporações de uma só vez, mas a médio prazo se for comprando algumas viaturas por ano, em seis anos se calhar a frota fica toda renovada”, adianta o dirigente, ciente de que existem limites. “Por muito que queiramos esticar o elástico, os meios serão sempre finitos”.

Arranque com menos 11 meios aéreos

A fase Bravo teve início no passado dia 15 e já com uma má notícia

Dos 34 meios aéreos que estavam previstos pelo DECIR, só 23 estavam disponíveis àquela data. Um arranque a ‘meio gás’ de um ano que se adivinha particularmente difícil devido às condições climáticas e à seca. Neste primeiro momento, que se estende até 31 de maio, vão estar disponíveis em todo o país 2303 brigadas, 10400 meios humanos e ainda 2299 viaturas. O número de meios assume o seu expoente máximo na fase Delta, entre 1 de julho e 30 de setembro (o período considerado mais crítico). Nesse intervalo de tempo, 3084 brigadas, 13891 homens e mulheres e 2990 viaturas vão estar em prontidão no ataque aos incêndios rurais. Números que representam um aumento de 7,5% em comparação com 2022. Já para não esquecer os 72 meios aéreos previstos para a fase mais crítica do verão, anunciados no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais. Muitos dos helicópteros e aeronaves que vão combater as chamas ainda estão a ser alvo de concursos e ajustes diretos por parte do Governo. JT

Cada bombeiro recebe mais 3 euros por dia

OS BOMBEIROS combatem o fogo no terreno, debaixo de temperaturas abrasadoras, e colocam as próprias vidas em risco. Muitos integram as corporações como voluntários, não tendo qualquer salário durante todo o ano. Mas a Diretiva Financeira para o ano de 2023 estabeleceu que, integrados no DECIR, os bombeiros vão receber 64 euros por dia, mais três euros do que no ano de 2022. Valor ligeiramente inferior ao que vão receber os elementos do comando: 74,7 euros (71€ no ano passado). A Diretiva Financeira engloba ainda várias despesas das corporações, relacionadas com o combustível das viaturas, equipamento, danos nos veículos e ainda alimentação. Anos anteriores mostraram que alguns bombeiros “sobreviveram” diariamente com algumas sandes e sumos no estômago.

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