PROJETO PRÁTICAS INTEGRAIS DA NUTRIÇÃO NA ATENÇÃOBÁSICA EM SAÚDE

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PROJETO PRÁTICAS INTEGRAIS DA NUTRIÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: PROMOÇÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A PARTIR DA EXTENSÃO POPULAR Daniela Gomes de Brito Carneiro1, Amanda de Andrade Marques1, Ana Claudia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos2, Pedro José Santos Carneiro Cruz3. 1- Graduanda do Curso de Nutrição – UFPB, 2- Docente do Depto. de Nutrição-UFPB, 3 - Nutricionista e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE - UFPB

RESUMO Buscando constituir práticas que superem a preponderância do tecnicismo e biologicismo nas ações de saúde, o Projeto “Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde – PINAB” vem sendo desenvolvido com ações e reflexões no campo da Nutrição em Saúde Coletiva, Segurança Alimentar e Nutricional e Promoção da Saúde..O PINAB constitui-se em uma prática de Extensão Popular em saúde vinculada ao Departamento de Nutrição, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atua na Unidade de Saúde da Família (USF) Vila Saúde, na Escola Municipal Augusto dos Anjos (EMAA) e nas comunidades de Jardim Itabaiana, Pedra Branca e Boa Esperança, localizadas no bairro do Cristo Redentor, em João Pessoa - PB. Centra o desenvolvimento de suas ações nos eixos teóricos e metodológicos da Educação Popular, sistematizados por Paulo Freire.. Os estudantes de Nutrição são divididos em quatro grupos operativos: Gestantes, Escola, Programa Bolsa Família e Mobilização Popular. Suas atividades são norteadas por três eixos: atividades coletivas, visitas domiciliares e aconselhamento dietético. Em dezoito meses de atuação, tomando como base as atividades realizadas, percebe-se que a aproximação que os estudantes vivenciam com as classes populares provoca-os a pensar em seu papel como co-responsáveis na luta pela promoção da saúde destas pessoas. As dificuldades têm se configurado na tímida interlocução entre comunidade/USF/Escola, repercutindo na pouca integração de suas atividades. O diálogo do Projeto com a comunidade organizada ainda é frágil, mas vem sendo reforçado graças a iniciativas dos extensionistas em fomentar vínculos com as lideranças comunitárias. Não obstante, esta experiência tem possibilitado uma formação significativa na graduação, onde as necessidades daquelas pessoas envolvidas nas ações re-significam o saber acadêmico, gerando nos estudantes uma consciência da integração que precisa existir entre este saber e o saber popular. Palavras-Chave: Atenção Básica em Saúde, Extensão Popular, Nutrição.

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INTRODUÇÃO Este trabalho pretende sistematizar a experiência de um projeto de Extensão Popular desenvolvido na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desde agosto de 2007, discutir os limites encontrados e as potencialidades percebidas em estar produzindo ações que promovam a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e o Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA) em uma comunidade. O debate sobre Promoção da Saúde insere-se no contexto internacional da busca de alternativas à crise dos sistemas de serviços de saúde, cujas raízes encontram-se parcialmente estruturadas na reprodução de concepções e práticas cada vez mais insuficientes e inadequadas face às mudanças demográficas, epidemiológicas, políticas e culturais das sociedades contemporâneas (TEIXEIRA, 2007) Foi por essas motivações, entre outras, que no Brasil iniciou-se uma luta oriunda do Movimento pela Reforma Sanitária e movimentos populares pela construção de um sistema de saúde que fosse universal, integral, eqüitativo e descentralizado. Ocorrendo, então, a conquista do Sistema Único de Saúde (SUS) inserido na Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, no que se refere ao âmbito da Atenção Básica em Saúde, a Portaria Ministerial MS/GN No 648, de 28 de março de 2006, aprova a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a qual revisa as diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa de Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Tal portaria caracteriza a Atenção Básica por [...] um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. (...) Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2006, p.3)

A Promoção da Segurança Alimentar e Nutricional Concomitantemente às discussões sobre promoção da saúde e, também inserido nestas, está o debate sobre a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Uma das principais preocupações do atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao ser eleito, foi poder garantir a todos os brasileiros a realização de, no mínimo, três refeições ao dia. A partir daí, estratégias começaram a ser pensadas e formuladas com o intuito de combater a fome no Brasil, surgindo assim o Programa Fome Zero (PFZ), que teve início com o

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objetivo de garantir o primeiro dos direitos humanos, o direito à alimentação adequada (DHAA), ressaltando que um direito humano é um direito universal, que independe de nação, cor, raça, idade, credo, sexo ou qualquer que seja a discriminação. Todo ser humano, esteja em qualquer lugar do planeta, tem o direito de alimentar-se adequadamente. Posteriormente foi transformado em uma estratégia de política pública. O Fome Zero é uma estratégia impulsionada pelo governo federal para assegurar o direito humano à alimentação adequada às pessoas com dificuldades de acesso aos alimentos. Tal estratégia se insere na promoção da segurança alimentar e nutricional buscando a inclusão social e a conquista da cidadania da população mais vulnerável à fome. (BRASIL, 2008)

Assim, o Brasil vem obtendo grandes avanços na construção de políticas públicas que favoreçam a SAN. Em 2006, foi sancionada a Lei Orgânica de SAN (LOSAN), Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e outras providências, passando de uma política de Governo a uma política de Estado. Sendo assim, a partir desta todos os brasileiros têm o direito (e o Governo tem o dever) de estarem seguros alimentar e nutricionalmente (BRASIL, 2006). O artigo 3º da mesma (BRASIL, 2006, p.1) conceitua Segurança Alimentar e Nutricional como [...] a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade em quantidades suficientes sem comprometer o acesso a outras necessidades, com base em Práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável.

Para a promoção da SAN, a Educação Nutricional (EN) coloca-se como uma importante ferramenta, uma vez que a partir dela pretende-se gerar autonomia nos sujeitos co-responsabilizando-os pela promoção de sua saúde e SAN (VASCONCELOS; PEREIRA; CRUZ, 2007, FERREIRA, 2007; LIMA, 2003). Nesse contexto da SAN, a EN foi conceituada por Boog (2005, p.18), como [...] um conjunto de estratégias sistematizadas para impulsionar a cultura e a valorização da alimentação, concebidas no reconhecimento da necessidade de respeitar, mas também modificar crenças, valores, atitudes, representações, práticas e relações sociais que se estabelecem em torno da alimentação, visando o acesso econômico e social a uma alimentação quantitativa e qualitativamente adequada, que atenda aos objetivos de saúde, prazer e convívio social.

Ações caracterizadas como de Educação Nutricional podem concorrer para a promoção da saúde e da SAN no sentido de que nestas ações todos os aspectos da SAN contidos em seu conceito podem ser valorizados. No entanto, para tal, deve-se contemplar desde a preocupação com a produção até o acesso ao alimento, incluindo, as preferências, necessidades e possibilidades inerentes ao indivíduo. O processo educativo em nutrição, 3


com enfoque crítico, possibilita a apropriação das informações discutidas pelos indivíduos, prescindindo de “instruções” para sua alimentação, onde assume “as rédeas” de suas escolhas alimentares, tornando-se autônomo. Essa prática educativa contrapõe-se a prática tradicional, que ainda predomina, tanto no ensino universitário, como nos serviços. O Projeto Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde Apesar dos esforços de muitos em construir uma política de saúde comprometida com a promoção da saúde, com a integralidade, humanizada e dialógica, a academia, segundo Araújo, (2007, p. 292) [...] ainda continua pedagogicamente autoritária, comprometida com a transmissão do conhecimento, condicionadora, controladora e acrítica em termos do seu papel social e por isso mesmo, descomprometida com a transformação da realidade social onde atuam/atuarão os seus educandos.

Foi com base em tais inquietações, que professora e estudantes da Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) resolveram articular experiências e vivências neste campo, dando origem ao Projeto Práticas Integrais da Nutrição na Atenção Básica em Saúde (PINAB). Atuam no PINAB vinte e três estudantes do segundo ao oitavo período do curso de graduação em Nutrição da UFPB, bem como uma docente deste curso e um nutricionista, formado por essa instituição. O projeto tem suas atividades desenvolvidas na Unidade de Saúde da Família (USF) “Vila Saúde” e na Escola Municipal Augusto dos Anjos (EMAA), ambos localizados no bairro do Cristo Redentor, em João Pessoa – PB, abrangendo as comunidades de Jardim Itabaiana, Pedra Branca e Boa Esperança. A USF “Vila Saúde” consiste em uma unidade integrada, vinculada ao Distrito Sanitário II da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa - PB. Contempla em sua estrutura quatro equipes: Jardim Itabaiana I e II, Pedra Branca I e II. O Projeto constitui-se numa prática de Extensão Popular, traduzindo-se então num trabalho social, desenvolvido com a intencionalidade de articular as ações de pesquisa e ensino a partir dos problemas e da realidade percebidos na extensão, buscando atuar junto com a população em seus esforços para a superação das desigualdades sociais. Por isso, é um esforço dialógico empreendido por comunidade, equipes de saúde, estudantes e professores atuando sobre a realidade objetiva, a partir de sua análise crítica e das subjetividades ali presentes. Para estar sintonizado com os preceitos da SAN e DHAA, de acordo com o conceito de Educação Nutricional sistematizado por Boog (1997) e tendo em vista a opção

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por um projeto de Extensão Popular como conceitua Melo Neto (2006) optou-se pelo referencial teórico e metodológico da Educação Popular. No campo da saúde, a Educação Popular tem sido utilizada como uma estratégia de superação da grande distância e inexistente diálogo que há entre os cuidados em saúde sugeridos pelo meio científico e o processo de cura do mundo popular (VASCONCELOS, 1997) Ainda sobre a EP, Eymard Vasconcelos (1997, p.8) afirma que (...) busca entender (a EP), sistematizar e difundir a lógica, o conhecimento e os princípios que regem a subjetividade dos vários atores envolvidos, de forma a superar as incompreensões e malentendidos ou tornar conscientes e explícitos os conflitos de interesse. A partir deste diálogo, soluções vão sendo delineadas. Neste sentido, tem significado não uma atividade a mais que se realiza nos serviços de saúde, mas uma ação que reorienta a globalidade das práticas ali executadas, contribuindo na superação do biologicismo, autoritarismo do doutor, desprezo pelas iniciativas do doente e seus familiares e da imposição de soluções técnicas restritas para problemas sociais globais que dominam na medicina atual. É, assim, um instrumento de construção da ação de saúde mais integral e mais adequada à vida da população.

O projeto propõe construir suas práticas no campo da saúde, desenvolvendo ações de promoção da saúde e SAN no âmbito da Atenção Básica, no sentido de re-inventar o fazer em nutrição, de modo a aproximá-lo das reais necessidades da população. Sendo assim, os princípios afirmados pela pedagogia freireana, como a valorização do saber popular, do diálogo, a promoção da autonomia dos educandos e a superação das desigualdades sociais (FREIRE, 1996), norteiam a relação do PINAB, com a própria universidade e com a comunidade, desde o planejamento à execução de suas ações. O presente artigo pretende sistematizar a experiência vivenciada pelo PINAB desde a sua origem em agosto de 2007, refletindo sobre as possibilidades e os limites percebidos na prática da Nutrição na Atenção Básica em Saúde. DESENVOLVIMENTO Este artigo é resultado de uma sistematização de experiência. Para tal, foram utilizados algumas fontes de dados como lista de discussão na Web, atas das reuniões semanais e das oficinas de avaliação, relatórios semestrais dos grupos operativos, além das produções científicas produzidas pelos participantes do Projeto. Passaremos então a discorrer acerca de sua estrutura organizacional, as frentes de atuação e repercussões importantes no desenvolvimento de suas ações. Sendo assim, estas poderão vir a servir de inspiração para futuros trabalhos no campo da Atenção Básica e da

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Saúde Pública, no sentido de articular as práticas da Educação Popular com o cotidiano dos serviços da Atenção Básica. Estrutura Organizacional do Projeto O conjunto de estudantes é disposto em cinco grupos operativos, cada um apoiando a organização de atividades coletivas com os seguintes grupos da comunidade: gestantes; idosos; famílias beneficiárias pelo Programa Bolsa Família (PBF); escola; e mobilização popular. Além destas práticas, cada grupo ainda está inserido em mais três frentes de atuação: visitas domiciliares; aconselhamento dietético individual; e gestão do Projeto, através da participação em comissões, na perspectiva de descentralizar as atividades organizativas e instigar o caráter pró-ativo dos extensionistas. A organização das atividades e o apoio pedagógico ocorrem durante reuniões semanais, onde os participantes discutem encaminhamentos em rodas de conversa. Além disso, existe um suporte à distância, realizado através de uma lista de discussão da WEB. As ações coletivas dos grupos referidos realizam-se quinzenalmente na USF, em associações comunitárias e outros espaços. As visitas domiciliares realizam-se mensalmente, tem por finalidade favorecer a apreensão da realidade das famílias e o fortalecimento dos vínculos entre extensionistas e comunidade. O aconselhamento dietético é realizado sob acompanhamento dos nutricionistas, buscando associar a prática da educação nutricional crítica aos elementos da Educação Popular no espaço do cuidado nutricional individual. No sentido de qualificar a formação dos estudantes, através da reflexão sobre a prática, torna-se fundamental a realização de momentos teóricos, com a discussão de assuntos pertinentes ao cotidiano de nossas ações. Desta forma, mensalmente, a reunião semanal tem caráter teórico e, geralmente, contamos com um convidado como facilitador dos debates. Aconselhamento Dietético (AD) Como forte expressão da prática clínica com ênfase nos princípios da Educação Nutricional crítica encontra-se o Aconselhamento Dietético (AD), que consiste em uma abordagem efetuada por meio do diálogo entre o usuário e o nutricionista, que irá auxiliar o usuário a expor os conflitos que permeiam o problema, a fim de buscar soluções que permitam integrar as experiências de criação de estratégias para o enfrentamento dos problemas alimentares na vida cotidiana. (BOOG, 2005). Nessa perspectiva, o AD na prática do PINAB tem possibilitado a reflexão da responsabilidade pedagógica do nutricionista, ou seja, do seu papel como educador e

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facilitador da promoção da saúde do usuário, tem mostrado uma abordagem do atendimento clínico em nutrição, pautada, sobretudo pela humanização, diálogo e fomentadora da autonomia dos sujeitos quanto às suas escolhas alimentares e promoção de sua saúde. Parte de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, gerando um cuidado em saúde que, conforme fundamenta BUSS (2000), proponha a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução. Assim, o AD estimula a reflexão sobre a condição subjetiva do usuário, onde recorre-se ao diálogo como um instrumento importante para seu desenvolvimento satisfatório. Freire (2005) nos lembra que o diálogo: [não existe] se não há profundo amor ao mundo e aos homens. A fé nos homens é um dado a priori do diálogo. Por isso, existe antes mesmo de que ele se instale. O homem dialógico tem fé nos homens antes de encontrar-se frente a frente com eles.

Buscado exercitar o AD de acordo com o referencial da Educação Popular, podemos observá-lo antes de tudo como uma prática de promoção a saúde que se preocupa com a compreensão do homem no mundo. Assim, compõem o plano do AD valores sociais e culturais, individuais ou coletivos, sendo capaz de contribuir à promoção da saúde dos indivíduos. Visitas Domiciliares (VD) Tradicionalmente na estratégia da Atenção Básica, a VD é considerada um componente dos cuidados a saúde, pois os serviços são oferecidos ao indivíduo e sua família em suas residências com o objetivo de promover, manter ou restaurar a saúde, maximizando o nível de independência destas pessoas. Ao incorporar a VD como uma de suas atividades, o PINAB tem oportunizado aos estudantes do projeto vivenciar situações que os torna mais críticos frente a realidade. Por meio das visitas domiciliares, que acontecem mensalmente em duplas na área da USF, o estudante de nutrição tem oportunidade de adentrar na vida das pessoas, conhecendo a estrutura familiar e a realidade em que estão inseridas. Essa interação estabelecida com as classes populares permite enxergar o contexto onde vivem, compreendendo as desigualdades sociais. Por acreditar na dimensão pedagógica do projeto, o diálogo é utilizado como meio capaz de nortear suas ações, como explicita Caroline Cabral (2008, pg.4), estudante do projeto:

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“Através de um compartilhar de saberes e aprendizados oportunizados pela Educação Popular, somos provocados a extrapolar o nosso papel enquanto educandos. Com isso, aprendemos a desenvolver um cuidado integral na relação com aqueles indivíduos. Deste modo, paulatinamente, nos sentimos verdadeiros atores daquela realidade vivenciada durante a nossa atuação na comunidade, onde o diálogo se torna o elemento norteador de nossas ações.”

Durante as visitas domiciliares, estimula-se o estudante a assumir uma postura horizontal, de respeito, uma vez que a intenção maior não é depositar nas pessoas o conhecimento que nos é devido, mas sim promover uma interação com a família, um compartilhar de saberes. As visitas domiciliares podem também possibilitar uma maior compreensão sobre a importância de se considerar a SAN como elemento relevante na abordagem em saúde, conforme ressaltam VASCONCELOS, PEREIRA e CRUZ (2008). Atividades Coletivas (AC) O trabalho educativo na dimensão da Atenção Básica é desafiador, tendo em vista que, na maioria das vezes, a formação biologicista dos profissionais de saúde e a tradição educativa verticalizada dificulta que este tipo de ação seja realizada. Ademais, o cotidiano das ações prestadas nas USFs ainda é predominantemente marcado pela racionalidade da cura das doenças, em detrimento da promoção e prevenção da saúde. Os grupos comunitários podem vir a possibilitar a formação de uma coletividade capacitada a pensar a dimensão da saúde em outra ótica. Passando-se a dar importância não apenas a relação “usuário x profissional” que acontece nos atendimentos convencionais, no qual a maior parte das pessoas está habituada, mas investir em espaços onde o sujeito perceba-se como participante e atuante no seu processo saúde-doença. As atividades coletivas tem sido uma oportunidade na qual se fortalece vínculos entre todos os participantes (estudante- usuário- profissional) e cria-se espaços dinâmicos de interação, saindo da rotina dos atendimentos individualizados e puramente clínicos, onde o sujeito pouco é capaz de refletir acerca de sua condição, tornando-se assim um ser passivo e heterônomo. Os grupos educativos têm constituído uma oportunidade para colocar em prática os temas discutidos internamente no projeto e aqui neste trabalho, como a EP, a SAN, o DHAA, a EN e a promoção da saúde. Entre outras atividades, pode-se citar oficinas de Aproveitamento Integral dos Alimentos, na EMAA e na USF durante a Semana Mundial da Alimentação; vivências educativas e reuniões com lideranças comunitárias para discussão do Conselho Local de Saúde na USF; elaboração e execução de um curso sobre o PBF com os ACS’s intitulado “O Programa Bolsa Família e o Agente Comunitário de 8


Saúde”. Além disso, o grupo de gestantes já foi “palco” para discussão da sexualidade, da escolha e significado de nomes dos bebês, dos cuidados com o bebê (dar banho, trocar fralda, limpeza do coto umbilical), fazer exercícios adequados para a gestação e que favorecesse o parto normal; todos demandados pelas próprias gestantes. Os grupos de idosos também compuseram oportunidade para construir, em conjunto com trabalhadores e usuários, novas perspectivas para a promoção da qualidade de vida do idoso, extrapolando o próprio conceito de grupos de por doenças, como existiam nos coletivos de “hipertensos e diabéticos”. As atividades realizadas na EMMA tomam como referência a Portaria Interministerial n.º 1010 de 08/05/2006 (BRASIL, 2006). O grupo operativo desenvolve suas atividades com a comunidade escolar, incluindo escolares, professores e merendeiras. Nesses encontros são abordados temas como: SAN, DHAA, aproveitamento integral dos alimentos, transição nutricional, situação nutricional dos estudantes, mudanças nas práticas alimentares, além da temática da Semana Mundial da Alimentação de 2008, “Segurança Alimentar: Desafios das mudanças climáticas e da bioenergia”. Estas atividades trouxeram para a agenda da escola a promoção da alimentação saudável, provocando reflexões acerca de como re-significar essa questão e do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto. Potencialidades e Dificuldades encontradas Com base em relatórios semestrais, Mostras realizadas e oficinas de avaliação e planejamento, pôde-se refletir acerca das dificuldades e potencialidades vivenciadas pelo projeto apontando caminhos a serem seguidos e limites a serem superados. Uma potencialidade apontada está na formação dos estudantes inseridos no projeto. De acordo com Cabral et al (2008, p.5), em trabalho científico produzido pelos estudantes do PINAB, essas experiências têm contribuído para a nossa formação, tornando-a mais humanística, e também despertando uma postura crítica frente à realidade de saúde da maioria da população brasileira, permitindo aos estudantes atuar de maneira propositiva e dialogada frente à resolução dos desafios impostos por esta realidade concreta.

Cita-se, também, a articulação que o PINAB tem estabelecido com outros projetos de extensão e outros movimentos da Educação Popular por meio de espaços como o Fórum Permanente de Extensão (UFPB), pelo Curso de Extensão Popular – CEXPOP e pela Articulação Nacional de Extensão Popular – ANEPOP, dentre outros. Recentemente, o Projeto institucionalizou a parceria com outros projetos de Extensão Popular em saúde através da participação no Programa de Educação Popular em Saúde, vinculado ao 9


CCS/UFPB. Tais aproximações permitem que o Projeto participe de movimentos pelo fortalecimento das experiências de Educação Popular. Compartilhando saberes, construindo concepções diferentes, aprendendo e ensinando outros caminhos com diferentes iniciativas no campo da EP em saúde. Assim, contribuindo para a integração ensino-serviço e as transformações nas práticas de saúde. O PINAB realiza, ao final de cada semestre letivo, uma Mostra aberta a toda a comunidade universitária, incluindo outras instituições de ensino superior. Com isso objetiva-se socializar e refletir acerca das experiências vividas pelo PINAB: quem somos, o que fazemos, como fazemos e porque fazemos. Os temas discutidos, geralmente abrangem Educação Popular, Extensão Popular, Educação Popular em Saúde, Promoção da Saúde e Nutrição em Saúde Pública. Todavia, ao longo desse período de existência, o PINAB tem se deparado também com algumas fragilidades e desafios, como a falta de integração entre a EMAA e a USF Vila Saúde. Sabendo-se da importância da intersetorialidade na promoção da saúde no âmbito da Estratégia Saúde da Família e do SUS, um dos desafios que se impõe é contribuir para a integração desses dois equipamentos públicos, uma vez que o projeto desenvolve ações no território, que envolve a unidade e o âmbito escolar. Outro limite apontado é a pouca sinergia entre a agenda da USF e a agenda do PINAB. Esta questão vem sendo enfrentada com estratégias que facilitem a difusão e discussão coletiva das atividades, a exemplo da realização da Mostra do PINAB na USF. A tímida aproximação do projeto com a comunidade e suas lideranças consiste também em entrave. Uma das causas para tal distância está na origem do projeto, que “fincou os pés” na comunidade por meio da USF. Sendo assim, a comunidade ainda identifica os estudantes e demais integrantes do projeto como pessoas vinculadas à unidade, transferindo para eles a imagem que têm dos profissionais, onde muitas vezes os percebem como pessoas distantes deles. No entanto, o PINAB tem buscado criar canais mais consistentes de comunicação com a comunidade organizada, estando mais próximo de seus problemas, convivendo mais intensamente com sua forma de viver e conceber a vida. Para isso, o grupo MP tem se ocupado de facilitar reuniões com as associações comunitárias, apresentando o Projeto e dispondo seus integrantes a um diálogo com a população, onde, em conjunto, se pense em delinear as atividades do PINAB de forma mais integrada às demandas populares. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O PINAB tem atuado de modo a fomentar práticas integrais da nutrição, onde o indivíduo é percebido na sua inteireza e sua saúde entrelaçada ao seu modo de viver, contribuindo para a re-significação do papel do nutricionista na Atenção Básica em saúde, com a construção de caminhos para a promoção da saúde e da Segurança Alimentar e Nutricional da população envolvida no processo. Ademais, o trabalho desenvolvido tem propiciado um crescimento profissional e pessoal dos extensionistas, que passam a exercer um senso crítico em relação à saúde coletiva, às políticas públicas, aos cuidados com a saúde e à desigualdade social existente no país, estimulando-os a tornarem-se pró-ativos e co-responsáveis no processo de emancipação dessas pessoas com que lidam semanalmente nas atividades diárias. Nesse contexto, o projeto passa a ser um facilitador na formação desses futuros profissionais de saúde. REFERÊNCIAS ARAÚJO, L. M. Da prática médica à práxis médica: possibilidades pela Estratégia Saúde da Família. Tese (doutorado) UFPB/CE 1. Educação para prática médica 2. Práxis médica 3. Atenção básica 4. Saúde-doença. UFPB/BC C.D.U: 37(043). João Pessoa, 292p, 2007. BOOG, M. C. F. Contribuições da educação nutricional à construção da segurança alimentar. Saúde em Revista, Piracicaba, v. 6, n. 13, p. 17-23, maio/ago. 2004. BOOG, M. C. F. Educação nutricional: passado, presente e futuro. Revista de Nutrição. Campinas, v. 10, n. 1, p.5-19, jan./jun. 1997. BOOG, M. C. F. RODRIGUES, E. M. SOARES, F. P. T. P. Resgate do conceito de aconselhamento no contexto do atendimento nutricional. Revista Nutrição, Campinas, 18(1): 119-128 p.120. Jan./fev. 2005. BRASIL. Lei Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 16 set. 2006. BRASIL. Presidência da República Federativa do Brasil. Fome Zero. Disponível em: <http://www.fomezero.gov.br/>. Acesso em: 15 fev. 2009.

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