Danilo de S’Acre – Devorador de Imagens [Editora Nepan, 2019]

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D a n i l o d e S'A c r e o devorador de imagens


Organização e fotografia Talita Oliveira Projeto Gráfico Bianca Cabanelas, Matheus Mello, Kamila Silva Capa Bianca Cabanelas Revisão Jhillian Albuquerque Talita Oliveira

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC _____________________________________________________________________________________________________

D186

Danilo de S’ Acre: devorador de imagens / Organizado por Talita Oliveira; Projeto gráfico de Bianca Cabane las, Matheus Mello e Kamila Souza. - Rio Branco: Nepan, 2019. 16 f.: il.; 21 cm.

E-book. 1. Entrevista. 2. Artes visuais. 3. Artista. I. Oliveira, Talita (org.). II. Cabanelas, Bianca (ilustr.). III. Mello, Matheus (ilustr.). IV. Souza, Kamila (ilustr.). V. Título.

CDD: 070.4 __________________________________________________________________________________________________

Bibliotecária: Nádia Batista Vieira CRB-11º/882.


Diretor administrativo: Marcelo Alves Ishii Conselho Editorial: Agenor Sarraf Pacheco (UFPA) - Ana Pizarro (Universidade Santiago/ Chile) - Carlos André Alexandre de Melo (UFAC) - Elder Andrade de Paula (UFAC) - Francemilda Lopes do Nascimento (UFAC) - Francielle Maria Modesto Mendes (UFAC) - Francisco Bento da Silva (UFAC) - Francisco de Moura Pinheiro (UFAC) - Gerson Rodrigues de Albuquerque (UFAC) - Hélio Rodrigues da Rocha (UNIR) - Hideraldo Lima da Costa (UFAM) - João Carlos de Souza Ribeiro (UFAC) - Jones Dari Goettert (UFGD) - Leopoldo Bernucci (Universidade da Califórnia) - Livia Reis (UFF) - Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro (UFAM) - Marcela Orellana (Universidade Santiago/Chile) - Marcello Messina (UFAC) Marcia Paraquett (UFBA) - Maria Antonieta Antonacci (PUC/SP) - Maria Chavarria - Universidad San Marcos - Maria Cristina Lobregat - IFAC - Maria Nazaré Cavalcante de Souza - UFAC - Miguel Nenevé - UNIR - Raquel Alves Ishii - UFAC - Sérgio Roberto Gomes Souza - UFAC - Sidney da Silva Lobato - UNIFAP - Tânia Mara Rezende Machado - UFAC


Agradecimentos Marcelo Ishii Marina Bylaardt Talita Oliveira


Danilo de S´Acre (Colônia Custódio Freire, Rio Branco-Acre, 1958) Casa-Ateliê do artista Em 18 de abril de 2015.


COMO COMECOU SEU INTERESSE PELAS ARTES?

“A gente não tinha muitas condições de materiais, então a gente inventava” Acho que desde criança esse universo criativo, né? Eu tinha esse contato com a natureza, com as selvas, eu me sentia muito observador. Observava muito as plantas, as nuvens, principalmente, os insetos, os animais e a beleza da natureza, acho que isso me influenciou muito. Depois demonstrei uma certa facilidade pro desenho, utilizava materiais bem primários mesmo, carvão, terra, areia, barro e comecei assim.


eu sou um canibal de imagens

GOSTO DE DEVORAR IMAGENS

DEVORAR E VOMITAR ESSAS IMAGENS Danilo de s'acre


e quando tu comecou a querer realmente trabalhar com artes? Ainda na adolescência. A gente veio pra cidade, aí já conheci outros artistas, outras pessoas que trabalhavam com arte, um ajudava o outro. Conheci o Dalmir Ferreira, que já batalhava nas artes, conheci o Genésio Fernandes que me ajudou muito, me dava dicas, tintas, e a Universidade Federal que ajudou a gente no departamento de extensão. Naquele tempo não tinha internet, a TV estava chegando e livro de arte quase não tinha. Eu fui para Brasília quando tinha dezoito anos, terminei o segundo grau lá, fazia exposições já, entrei no teatro amador. E naquele tempo tinha muito disso, teatro amador era um núcleo que tinha gente que cantava, gente que era poeta, artistas visuais, era bem legal isso. O grupo de teatro ele agrupava muita gente de vários segmentos.


Depois de dois anos voltei para o Acre, entrei pro Grupo Semente e fiquei militando no campo das artes. Em 1980 trabalhava na UFAC, fui despedido e fui para o nordeste, Recife e João Pessoa. Fiz algumas exposições por lá, mas fiquei pouco tempo, porque minha meta era ir pra Itália. Depois fui pro Rio de Janeiro e do Rio fui para Itália. Fiquei treze anos lá. Dormi na rua, passei fome, mas depois dei a volta por cima, conheci umas pessoas e as pessoas ajudam sempre e isso é muito bom. Sempre tive boas pessoas no meu caminho. Me interessava muito esse contato com as pessoas, com artistas de vários lugares do mundo, acho que isso me enriqueceu muito. E a leitura, ver, visitar museus, visitar exposições, acho que isso traz para o artista uma capacidade muito maior de investimento no próprio trabalho.


Inspiração pra mim é você ter um insight pra começar e fazer. Inspiração é você pôr a mão na obra. Porque vai sair alguma coisa, mesmo que você não tenha noção do que vai ser.

Ultimamente eu tenho trabalhado mais com abstrato, então não sei de cara o que vai sair. É mais espontâneo, vai saindo com o tempo. Danilo de S’Acre


como costuma ser o ambiente que tu gosta de trabalhar? Eu já trabalhei na rua, já fui muito exposto trabalhando na rua. Não gosto assim de muita gente diferente vendo o meu processo de trabalho. Mas não tenho nada contra. Eu gosto de trabalhar em casa, com bagunça mesmo. Me concentro ali, gosto de ouvir música sempre enquanto trabalho e gosto do ambiente caseiro, a bagunça dos meninos, gente falando... Bagunça doméstica, isso me dá uma certa segurança. A solidão também gosto, mas já me acostumei com esse dinamismo familiar e usar a casa como ambiente de trabalho mesmo. Tem o ateliê, mas eu nem dou muita bola pro atelier. Prefiro pintar dentro de casa.


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Acho que o nosso universo aqui do Acre, a gente vive na Amazônia, desse calor tropical, acho que isso tem uma energia muito grande.

Acho que o artista amazônico ele tem um quê de diferente. A gente ainda tá meio amarrado, a gente vive naquela coisa de não se soltar muito. A gente tem que ser mundial, universal. Danilo de S’Acre


tu quer falar mais alguma coisa? Antigamente eu ficava naquela “não sei qual é meu estilo, não sei qual é minha escola” e eu ficava em crise porque tinha que ter um estilo, tinha que ter uma corrente.


Não vou ficar preocupado com isso e vou viver sempre em crise. Porque é tão bom a gente viver em crise nesse sentido da criação, né? Porque você tá sempre buscando outras coisas e inventando coisas diferentes e isso é bom, né? Faz parte do universo criativo.

A minha crise é no sentido de produzir coisas diferentes, ficar buscando coisas e sempre aprendendo. E no final a gente não sabe de nada. A gente vai embora e não aprendeu quase nada. E vai ser sempre assim.


Agora eu me acho tão

l i v r e que para mim eu posso fazer o q u e e u q u i s e r. Danilo de S’Acre


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