SLEEPING DREAMS TIAGO SOARES
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SLEEPING DREAMS TIAGO SOARES DE SOUZA
Textos, poemas, ilustrações e projeto gráfico: Tiago Soares Diretor administrativo: Marcelo Alves Ishii
Conselho Editorial: Agenor Sarraf Pacheco (UFPA) - Ana Pizarro (Universidade Santiago/Chile) - Carlos André Alexandre de Melo (UFAC) - Elder Andrade de Paula (UFAC) - Francemilda Lopes do Nascimento (UFAC) - Francielle Maria Modesto Mendes (UFAC) - Francisco Bento da Silva (UFAC) - Francisco de Moura Pinheiro (UFAC) - Gerson Rodrigues de Albuquerque (UFAC) - Hélio Rodrigues da Rocha (UNIR) - Hideraldo Lima da Costa (UFAM) - João Carlos de Souza Ribeiro (UFAC) - Jones Dari Goettert (UFGD) - Leopoldo Bernucci (Universidade da Califórnia) - Livia Reis (UFF) - Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro (UFAM) - Marcela Orellana (Universidade Santiago/Chile) - Marcello Messina (UFAC) - Marcia Paraquett (UFBA) - Maria Antonieta Antonacci (PUC/SP) - Maria Chavarria (Universidad San Marcos) - Maria Cristina Lobregat (IFAC) - Maria Nazaré Cavalcante de Souza (UFAC) - Miguel Nenevé (UNIR) - Raquel Alves Ishii (UFAC) - Sérgio Roberto Gomes Souza (UFAC) - Sidney da Silva Lobato (UNIFAP) -Tânia Mara Rezende Machado (UFAC)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC _______________________________________________________________________ S676s Soares, Tiago, 1998 Slepping dreams / Tiago Soares; orientação de: Talita da Silva Oliveira. - Rio Branco: Nepan, 2019.
48 f.: il.; 21 cm.
ISBN 978-85-68914-65-6 E-book. 1. Crônicas. 2. Ilustrações. I. Oliveira, Talita da Silva. (Orientadora). II. Título.
CDD: 070.4 ________________________________________________________________________ Bibliotecária : Irene de Lima Jorge CRB-11º/465.
AGRADECIMENTOS
MARCELO ISHII MARINA BYLAARDT TALITA OLIVEIRA
PU 6
SO
FAMILIA
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LIBERDADE CIE
IDEOLOGIA
DA DE
S O Ç A L
As Asas de Icaro
Desejo ter uma boa vida, cheia de prazeres, dinheiro, amigos e vinho. Logo desejo possuir o tempo e dominalo como me apraz. Não desejo ficar preso a convenções, lugares ou pessoas, logo desejo ser como um pássaro. Mas por qual motivo desejo isso mesmo? Sinto como se esquecesse algo e todas as minhas ações fossem um gesto de arrogância.
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LAÇOS
H 8
ESPERANÇA
Sisifo Cego - O que você está observando todo esse tempo que esquece do mundo a sua volta? - Uma memória: estou correndo, ofegante e esgotado, cada movimento que faço é desgastante. Mas me veem a mente o “motivo” de
estar realizando esse ato, então sinto como se uma música começasse a ser tocada, meus membros ganham força, minha respiração volta ao normal e pela primeira vez vejo a luz do sol.
- Então é uma lembrança boa, não? - Não sei, ainda não encontrei a resposta. - Vamos Ariadne, o trem parte as oito. - Sua mãe está chamando é melhor você se apresar. A quanto tempo estou nesse lugar, em algum momento a passagem do tempo se tornou irrelevante e a única coisa que faço é relembrar.
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ENCONTRAR UMA HARPA EM DESERTO
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Rien Quero chegar a lua entĂŁo construo um foguete vermelho. Uma caixa 36x64 duas caixas de sapato uma tinta vermelha outra tinta azul o travesseiro ĂŠ meu navegador o cachorro o menino astronauta esqueci a janela nĂŁo faz falta. 11
TSDSKDA
DÉJÀ VU
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AGAIN
TĂŠdio A qualquer momento a qualquer momento flash, sons estarrecedores em uma sequĂŞncia inquietante. momento vivenciado incontĂĄveis vezes sem qualquer chance de uma fuga para o novo. uma ave Que a muito tempo se encontra sem asas. 13
IO D Ó
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INDIFERENÇA
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CR
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RS
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O ideal de um tolo
Sou artista sem musa aquela que tive se despedaçou ao cair do altar sou um padre sem fÊ
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SER
SER EU
EU SER
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EU SER
MONOCROMIA Liberdade antes significava revolução agora significa solidão em um mundo de espelhos a liberdade para mim significa uma saída do eu
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s e õ
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ç a s n se V s e õ ç a s n e s 18
I
ç a s n s e e s õ ç D A sa n e s s e õ
ç a s n e s
A Loquacidade de uma rosa
Não vejo com os olhos
pois esses me enganam
vejo através de uma flor vermelha.
Não falo com a boca
ela diz o não dito
falo através de cicatrizes
simples e banais
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E M R O F I N FLUXO
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Pare o tempo
Uma única palavra pode ocasionar uma guerra gerar uma revolução ou até mesmo parar o tempo.
Entre a destruição e a leniência escolho a pertinência de um gesto de amor
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R DE PO
SEX O
OURO
VIN
HO
HO
VIN
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VINHO
JasĂŁo em Corinto
O pretÊrito do desejo consumação entre dantes assim como judas prossigo de modo inconsciente desatadamente corrompido.
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S
D E S T I N O
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JOGADO AO VENTO Abrir uma porta fechar um pensamento atravessar uma tempestade roteiro desvairado determinismo transloucado palavras esvaziadas de um deus sem sentido.
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ÓRI A ADO ID AD E
BI L
SI
SE N
PAS S
MEM
TE
SEN
PRE
ÃO
RAZ
Aporia de Eros
O que fui ontem não posso ser hoje mas se tenho reminiscências suas o ontem não faz diferença e o hoje é um meio de erigir memórias suas
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MERITO BELEZA PRAZER NOVO AVENTURA DINHEIRO
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WINE OF LIVE
F E L I C I D A D E
ETERNA NOITE COMO TÂNTALO
Venci um jogo do qual não via saída em um labirinto que em cada canto havia um corvo persegui um pássaro dourado
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E
A 30
C
F
I
L
A
S
O
Chuva de Novembro Vejo a agua da chuva escorrer pela janela o dia está cinza e não tenho o que fazer deixo de ser ator e passo a espectador. Ligo o televisor uma odisseia no espaço leio um livro a divina comédia. Os carros passam em uma velocidade inquietante caminhão de maçãs jogadas ao acaso guarda-chuva vermelho sem utilidade
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ARE YOU TIRED ?
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ASQUIESCÊNCIA DO DESTERRO Não quero uma medalha por vencer uma guerra. o prêmio por vencer uma corrida também pode ser esquecido. Nessa arena de gladiadores largo a espada e me deito no chão pois aquilo que desejo deve ter um brilho maior do que essa simples ilusão 33
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ENTRE MARTE E MÉRCURIO Não posso desejar aquilo que nunca tive pois não quero ser um ladrão inconseguente. Mesmo assim o verbo Amor açoita a minha mente levando-me a acreditar que possuir uma bota e uma espada pode me levar a você
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VELOCIDADE PRÊMIO 36
AURORA DE UM SERVO DE CRONOS Tic, tac, tic , tac... o tempo bate a porta tic, tac, tic, tac... corre e vai embora tic, tac, tic, tac... como posso ter esquecido tic,tac, tic, tac de ter vivido
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R E T O R N O
NÃO PERCAS AQUILO QUE DESEJAIS
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CADUCEU QUEBRADO Hipérbole absurdamente absurda ser livre de qualquer amarra. um ser lupino ganhou vida, já não há matilha. Um ser hiprócrita um ser indiferente ( peixe sem aquário ) navio sem rumo em busca de um tesouro quimérico. Vi incontáveis ilhas todas iguais. não foi a falta de visão de um argonauta que o deixou de certa forma tresloucado.
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O B S E R V O
TODOS OS DIAS O MEU REFLEXO NO ESPELHO
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B U S C A N D O
COMO NUM LIVRO AS PÁGINAS ANTERIORES DA MINHA VIDA
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P R O C U R O DESESPERADAMENTE UM MODO DE NÃO DEIXAR PÁGINAS EM BRANCO
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ODI ET AMO
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A
cordo as 6:00, em um piscar de olhos desligo o despertador e corro para o banheiro. Ligo o chuveiro e durante quatro minutos, deixo uma agua gélida percorrer o meu corpo. Após tomar um rápido café da manhã subo no ônibus exatamente trinta minutos depois. E um trajeto de cerca de quinze minutos até a empresa na qual trabalho, fico na indecisão entre o meu espelho de bolso, no qual todo ser humano parece que tem um, ou se reviso a pauta da reunião de hoje. No final das contas resolvo pelo segundo, quando estava prestes a abrir a pasta um adolescente senta ao meu lado ouvindo it´s my life. Apesar dele estar usando fones de ouvido qualquer pessoa no veículo consegue ouvir, como a reunião é sobre a aquisição de uma nova filial, continuo a revisar o conteúdo. Quando estava subindo a escadaria encontro uma criança vendendo flores, ela me oferece papoulas e girassóis, mas por conta da pressa derrubo os girassóis no chão. Ao entrar no saguão o relógio marca 7:00, a essa hora o fluxo de funcionários ainda não é alto. No elevador encontro uma anciã, que me toma por seu confidente e discorre sobre como seu pedido de empréstimo para o pagamento do velório da neta foi negado. Como tenho tempo antes da reunião, resolvo atende-la e lhe explicar a situação, pois ela pode trazer prejuízos para a instituição. A reunião transcorre sem nenhum problema, apenas alguns desencontros financeiros sobre a taxa base de juros. Mas no final consigo convencer a outra parte sobre a importância do negócio, pois ambos os interessados sairiam com um lucro em torno de 37%. Na hora do almoço, costumo ir para o restaurante distante a três quadras dali, são oito minutos de caminhada. O local me permite realizar encontros que podem trazer futuras transações para a empresa. Sem contar que o ambiente me possibilita descansar, sem perda de produtividade. Pela tarde, raramente ocorre algo fora do comum, são clientes habituais que buscam serviços habituais. Uma vez ou outra, encontro um cliente que requer um trato diferente dos demais, mas mesmo esse tipo, segue um modelo, uma rotina. No final do expediente elaboro um resumo dos principais acontecimentos e clientes do dia, sócios a visitar, planilhas a serem preenchidas. Saio habitualmente do trabalho as 19:00 horas. Sempre no último dia do mês percorro o percurso de volta a pé, leva cerca de 45 minutos, faço esse exercício e paro em uma loja de brinquedo: o quebra nozes. Seu lado exterior sempre me chamou a atenção: uma porta de vidro com uma tonalidade verde, com o desenho de uma andorinha sobre a maçaneta. Na vitrine, um soldado de madeira, sem mãos, em um estado de beatificação observando uma linda criança dormindo ou pelo menos é o que acredito. Quando chego em casa, exatamente as 8:00 horas, como algo na geladeira e depois de seis minutos, tomo novamente um banho, com a
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mesma agua gélida da manhã. Quando estava indo para o quarto, um acontecimento inesperado, trágico e absurdo ocorre: recebo um telefonema do hospital: - Sua filha teve complicações em seu estado de saúde, pelo início da manhã e acabou de falecer, como o senhor sabe a leucemia é uma doença grave, você terá que comparecer ao hospital para tratar de questões financeiras e assinar alguns papeis. Sinto como se estivesse despertando pela primeira vez de um pesadelo, no qual era apenas um espectador, para em seguida iniciar outro. Quanto tempo fiquei parado com o telefone pendurado na orelha? não consigo distinguir. Revejo os acontecimentos do dia, não dos últimos sete anos e vejo que tenho seguido mecanicamente um roteiro, o mesmo caminho todos os dias, as mesmas faces e os mesmos gestos. Meu olhar é atraído para uma caixa, a abro e vejo o soldado de madeira e a criança.
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CARPE DIEM