Bruno Miguel
TUDO POSSO NAQUILO QUE ME FORTALECE
Capa: A reconstrução do tênue limite entre o desenho e a pintura mostrando algo que todos sempre souberam explicar de maneira mais simples (ponto e linha versus plano e cor) 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica e caneta à base de óleo sobre tecidos estampados. 216 x 156cm
Bruno Miguel
TUDO POSSO NAQUILO QUE ME FORTALECE Curadoria e texto
Benjamin Moreh
De 6 de dezembro de 2013 a 10 de janeiro de 2014
TUDO POSSO NAQUILO QUE ME FORTALECE
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Essa ideia, comumente associada à religiosidade, apresenta neste recorte da pesquisa de Bruno Miguel um vasto mundo de interpretações, desde a irônica até a sagrada. “Tudo posso naquilo que me fortalece” entende que a força está no outro, na relação estabelecida, impossível de ser consumada individualmente. O poder se estabelece na relação, não em um dos elementos específicos apresentados, a construção do “entre” é o que interessa. Entre artista e obra, entre mensagem e leitura, entre o ontem e o amanhã, mas claramente não de maneira linear. Essas relações são abertas, rizomáticas, impossíveis de serem lidas com início, meio e fim. Tudo se contamina e prolifera com a velocidade da banda larga ou das relações virtuais. A obsolescência é programada para daqui a pouco. Nesse universo de busca incessante pelo entretenimento superficial, como se encaixa a pintura, com seu tempo de fatura e consciência histórica? Com fé! Na sua capacidade de transformar a avalanche de imagens descartáveis cotidiana em algo maior, sagrado. Tanto quanto o pequeno mundo que a cerca (a arte) for capaz de convencer o resto do mundo. Como a construção de uma religião. Em um tempo de tantas religiões, entendendo que a maior delas é o capitalismo e que a economia engole estados, políticas e sistemas, o artista pode sempre boiar ou nadar (muitos se afogam), contra ou a favor. Destruindo ou consolidando. Mas até que ponto essas iniciativas transbordam o meio das artes e chegam ao mundo? Acredito que esses trabalhos de Bruno transpirem um conformismo irônico. Eles buscam o alcance que um videoclipe ou um comercial de televisão têm, mas com um comentário sofisticado sobre o mundo, travestido de sedução barata. Bruno lança mão de todo um arsenal pop para se comunicar. Estampas de camisetas dos anos 80, pichações, ícones populares, cartões de dias dos namorados, propagandas vintage norte-americanas e imagens de produtos da antiga Alemanha Oriental se misturam a azulejos e pratos, frutos da nossa herança colonial. Tudo ocasionalmente despretensioso e aparentemente belo! E não é dessa forma que se constrói uma imagem atualmente? Não é essa a lógica da sedução cool do mercado? Bruno talvez não perceba, mas acima de qualquer retórica que ele desenvolva para justificar suas opções, a verdadeira força de sua pesquisa está no trabalho. Não na obra em si, mas na labuta do atelier, onde sua curiosidade e inquietação fazem com que sua pintura se mantenha em transformação. Onde suas compulsões buscam erros ansiosos por soluções imprevisíveis, tão generosas que se escondem por trás do deslumbre banal das imagens fáceis. Sua pesquisa é um tipo de pós-pop periférico, sempre relacionando alta e baixa cultura. Uma maquiagem vulgar e exuberante que superficialmente disfarça sua condição de eterna busca pela beleza. Não da pintura, mas do pintar.
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I CAN DO ALL THINGS THROUGH THAT WHICH STRENGTHENS ME
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This idea, often associated with religion, contains a vast range of interpretations in the work of Bruno Miguel, ranging from the ironic to the sacred. “I can do all things through that which strengthens me” leads us to understand that the strength lies in the other, in a relationship that it is impossible to foster alone. Power is established in a relationship, not in either or any of the individual elements that make it up. What matters is the construction of a “between”: between artists and their work, between the message and its reception, between today and tomorrow; but clearly not in a linear manner. These relationships are open, rhizomatic, impossible to understand in terms of beginning, middle and end. Everything is contaminated by everything else and proliferates at the speed of broad-band or virtual relationships. Obsolescence is designed to occur in a short while. In this world of incessant searching for superficial entertainment, where does painting fit in, given the time it takes to produce it and its historical awareness? As faith! In its capacity to transform the daily welter of disposable images into something greater, something sacred. To some extent the narrowly circumscribed art world has been able to convince the rest of the world. Like a religion. In a time of so many religions, the greatest of them being capitalism and the economy that gobbles up nation-states, politics, social systems, the artist can always drift or swim with or against the tide (many sink). Destruction or consolidation. But to what extent do these attempts spill over from the art world into the real world? I believe that Bruno Miguel’s work is an exercise in ironic conformity. He aspires to the same reach as a pop-video or an advertisement, but with a sophisticated comment on the world thrown in, dolled up as cheap seduction. Miguel has a whole arsenal of pop at his command. Printed T-shirts from the 1980s, graffiti, pop icons, Valentine’s Day cards, vintage US ads and images of products from the former East Germany mingle with wall-tiles and plates, the fruits of our colonial heritage. Everything casually unpretentious and apparently beautiful! But is this is not how images are created these days? Is this not the cool logic of market seduction? Bruno Miguel may not be aware of it, but, beyond his own rhetoric, his true strength lies in his work. Not in the work in itself, but in the hard slog in the studio, where his restless curiosity ensures that his painting is always undergoing some kind of transformation. Where his compulsions seek out errors that cry out for the easily-available but unpredictable that lurk behind the banal dazzle of facile images. He strives for a kind of peripheral post-pop, always making connections between high and low culture. A vulgar overdone make-up that superficially disguises his unending search for beauty. Not in painting, but in the act of painting.
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Work Hard and Die Young 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, caneta à base de óleo e verniz de madeira sobre tecidos. 55,6 x 100cm BRUNO MIGUEL | 9
Série “A história é contada pelos vencedores” Cia das Índias Versus Coca-Cola 2013. Tinta a óleo e colorjet sobre prato Cia das Índias e moldura de cedro e vidro. 73,4 x 53,2cm 10 | BRUNO MIGUEL
Série “A história é contada pelos vencedores” Cia das Índias Versus Apple 2013. Tinta a óleo e colorjet sobre prato Cia das Índias e moldura de cedro e vidro. 73,4 x 53,2cm BRUNO MIGUEL | 11
Série “A história é contada pelos vencedores” Cia das Índias Versus MasterCard 2013. Tinta a óleo e colorjet sobre prato Cia das Índias e moldura de cedro e vidro. 73,4 x 53,2cm 12 | BRUNO MIGUEL
Série “A história é contada pelos vencedores” Cia das Índias Versus Disney 2013. Tinta a óleo e colorjet sobre pratos de Macau e moldura de cedro e vidro. 73,4 x 53,2cm BRUNO MIGUEL | 13
Homenagem ao começo, ao meio e ao fim (Uma crônica sobre relacionamentos) 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica e caneta à base de óleo sobre tecidos. 100 x 80cm 14 | BRUNO MIGUEL
Comunismo e Manteiga de Amendoim, só conheço na teoria 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica e caneta à base de óleo sobre tecidos. 75 x 145cm
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Quero a luz dos olhos meus, na luz dos olhos teus 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet e caneta à base de óleo sobre banner. 80 x 150cm
Homenagem à atuação de Sylvester Stallone em Falcão – o Campeão dos Campeões 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica,tinta serigráfica e caneta à base de óleo sobre tecidos. 145 x 86cm 16 | BRUNO MIGUEL
Página 18 Honraria a Thiago Alexandre (meu irmão, o Alf) 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, e caneta à base de óleo sobre tecidos. 145 x 86cm
Página 19 Em louvor às perversidades do amor 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica e caneta à base de óleo sobre tecidos. 145 x 86cm Pela memória da guerra fria e seu maniqueísmo ingenuamente confortável 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica,tinta serigráfica e caneta à base de óleo sobre tecidos. 145 x 86cm
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Always Morandi 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, resina de poliéster e caneta à base de óleo sobre tecidos. 70 x 135,5cm
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I Love Kitsch Neo Pop Periférico 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica e caneta à base de óleo sobre linho. 140 x 210,5cm
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O Testemunho de como a pintura de gênero mudou minha vida 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica e caneta à base de óleo sobre tela. 140 x 210,5cm
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Aprendendo com a Indústria a mimetizar a obsolescência da arte contemporânea 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica e caneta à base de óleo sobre linho estampado. 131 x 210cm
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Em Louvor ao Fantasma da natureza morta 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, caneta à base de óleo e resina de poliéster sobre tecidos. 70 x 181,5cm Toda honra aos super-heróis da vida real (Para Marina, Supermãe) 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica e caneta à base de óleo sobre tecido estampado. 150 x 119,5cm
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Porque tudo que cabe na paisagem, cabe numa tela 2013. Tinta a óleo, esmalte sintético, colorjet, tinta acrílica, resina acrílica, cola branca e caneta à base de óleo sobre tela. 140 x 210,5cm
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Vegas Boogie-Woogie Wood (para Mondrian com carinho II) 2013. Tinta Acrilica, tinta a 贸leo, colorjet e ins铆gnias costuradas sobre tela. 140 x 210,5cm
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BRUNO MIGUEL Nasceu no Rio de Janeiro, em 1981, cidade onde vive e trabalha. Formou-se em artes plásticas e pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2009. Fez diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2007, realizou a exposição “Homenagem à pintura contemporânea”, sua primeira individual, na Vilaseca Assessoria de Arte, Rio de Janeiro. Recebeu Menção Honrosa Especial na V Bienal Internacional de Arte SIART, em La Paz, Bolívia, também em 2007. No mesmo ano, ganhou bolsa da Incubadora Furnas Sociocultural para Talentos Artísticos. Participou da exposição “Nova Arte Nova”, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em 2008, e em São Paulo, no ano seguinte. Em 2009, participou novamente da Bienal de La Paz, e da mostra “Nouvelle Vague”, na galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea. Em 2010 participou das mostras “Tinta Fresca”, na galeria Mariana Moura em Pernambuco, do Salão de artes de Itajaí, e da mostra “Latidos Urbanos” no MAC de Santiago, Chile. Realizou, no Rio de Janeiro, as exposições individuais “Spring Love”, no Largo das Artes, em 2010, e “Have a Nice Day!”, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, em 2011. Neste ano, também participou das mostras “Nova Escultura Brasileira”, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro, e “Fronteiriços”, nas galerias Emma Thomas, São Paulo, e Luciana Caravello Arte Contemporânea. Em 2012, participa da mostra “Novas Aquisições – Gilberto Chateaubriand” no MAM e “GramáticaUrbana”, no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, além da Individual “DVCO, NON DVCOR”, na
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galeria Emma Thomas em São Paulo. Em 2013 apresentou em dupla com Alessandro Sartore a exposição “Ex-culturas” no Museu da República. Em Nova Iorque, apresentou a individual “Make Yourself at Home”, na S&J Projects, além de participar das coletivas “Sign of the Nation” e “Etiquette for a Lucid Dream” em Newark. Deu aulas, em 2010, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde 2011.
AGRADECIMENTOS Luciana Caravello, Bernardo Mosqueira, Carlos Zilio, Guilherme Bueno, Gloria Ferreira, Luiz Ernesto, João Magalhães, Milton Abirached, Carlos Contente, Larissa Duarte Amorim, Rebeca Brandão, Lara Teixeira Ferro, Mauro Saraiva, Marta Mestre, Gabriel Secchin, Bruno Drolshagen, Rodrigo Martins, Ingrid Kita, Jaka Red, Mariana Corrêa, Max Olivete e todos os outros amigos que visitaram meu atelier no período da produção dessas obras e me ajudaram com suas observações.
Pintura para a nova classe média 2013. Tinta a óleo, colorjet, resina acrílica, ouro em pó e caneta à base de óleo sobre tecido estampado e banner. 40 x 170,5cm
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TUDO POSSO NAQUILO QUE ME FORTALECE FICHA TÉCNICA Curadoria e texto: Benjamin Moreh Molduras: Irmãos das Artes Assistência de atelier: Ingrid Kita, Jaka Red, Mariana Corrêa e Max Olivete Fotos: Jaime Acioli Assessoria de imprensa: CW&A Comunicação Tradução: Paul Webb Design do catálogo: Bitty Nascimento Silva Pottier - C-Art Brasil Design do convite: Luana Aguiar Catálogo: impressão e acabamento: Barbero - Graphus
EQUIPE DA GALERIA LUCIANA CARAVELLO ARTE CONTEMPORÂNEA: Direção artística: Waldick Jatobá Vendas: Ronaldo Simões Vendas: America Cavaliere Produção: Julia Vaz Financeiro: Valeria de Araujo Teixeira Montador: Fabio Francisco de Paula Apoio: Francinato Araujo Pereira 30 | BRUNO MIGUEL
A história da galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea, inaugurada em 2011, se mistura com o percurso profissional da marchand Luciana Caravello. Desde 1998, Luciana vem trabalhando com arte contemporânea, representando vários artistas visuais do Rio de Janeiro e outras regiões do Brasil, comprometidos com pesquisas sobre suportes variados. O espaço atual tem uma arquitetura privilegiada, adaptada para receber exposições de artistas consagrados e artistas emergentes, sempre mostrando o que há de melhor na arte contemporânea nacional. Assim, a galeria desenvolve uma programação consistente, cujo objetivo principal é destacar a constância da linguagem artística, evidenciando o contraste de trajetórias consolidadas com a ousadia e o frescor das experimentações mais de vanguarda.
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