Revista ARC DESIGN Edição 80

Page 1

design | arquitetura | inovação | sustentabilidade

| N.º 80 | 2015 | R$ 24,50 |

A FORMA SEGUE A MATÉRIA materiais que inovam

I SALONI VISÃO FUTURA

BIENAL DOS CONTRASTES

DESIGN TO SERVE Edson Matsuo


FIRMA CASA APRESENTA: COLEÇÃO CAPACHO IRMÃOS CAMPANA Seguindo sua tradição própria, os irmãos Campana continuam explorando as infinitas possibilidades que os materiais convencionais apresentam. O resultado dessa busca inusitada são peças únicas, com acabamento primoroso e surpreendentemente criativas. Conheça a coleção Capacho.

firmacasa.com.br Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1487 T 11 3385 9595


EDITORIAL

O

passado, se não passou, está passando, rápido. E ARC DESIGN gosta de futuro. Os instrumentos de renovação que já temos a nosso dispor são o enfoque desta edição, ilustrada por alguns eventos recentes – Salão do Móvel, Bienal de Design 2015 – e os utiliza como exemplo para pensar e falar sobre os avanços do

design contemporâneo. E, numa visão global, chegamos à conclusão: hoje, a forma segue a matéria, e não mais a função (Bauhaus), ou o fiasco (Sottsass). Como abertura desta edição, repleta de conceitos inovadores, a entrevista exclusiva de Edson Matsuo, o mago da Melissa, que acredita no design significante, no “design to serve” e naquele transformador. De que são feitos e como são produzidos os objetos? Estas são hoje as duas questões fundamentais no design, para aqueles que pensam – etapa inicial – e não apenas criam produtos. Tom Dixon e Philippe Starck, em declarações recentes, enfatizam o caminho sem volta das “novas fábricas” (ver na reportagem sobre a Bienal Brasileira de Design 2015 e os Makers). Há bibliotecas de materiais em diversos países do mundo. A Material ConneXion – a maior delas – oferece um repertório que ultrapassa as 7.500 ofertas de novos materiais sustentáveis, além de orientação e dados técnicos sobre os mesmos: uma bela fonte para descobrir novos caminhos (ver dois artigos nesta edição). Mais importante do que a criação de novos objetos, dizem muitos, é elaborar um novo pensamento. Inaugura-se uma nova era? Parece que sim, e por isto na Design Week, paralela ao Salone de Milão, fomos à procura – não tanto de produtos – mas de pensamentos e ideias que servissem de estímulo a nossos leitores. Esta a razão da ênfase nos materiais, pois são e serão eles os geradores da tão almejada inovação no design internacional. Nossos designers, vistos em seu conjunto, mesmo sem ter ainda se aprofundado nessa nova visão projetual, ganham prestígio e aceitação por parte da mídia e do público, não só no Brasil. Várias mostras coletivas durante o Salone de Milão são a prova deste alvissareiro fenômeno. Estamos no caminho, ou nos caminhos certos para o amadurecimento do setor, nos parece. A Bienal Brasileira de Design 2015, realizada em Florianópolis foi mais um impulso em direção ao contemporâneo e ao industrial. Apresentou o vigor da indústria catarinense e muitas das ideias da nova vanguarda, desde seu tema, “Design para Todos”, com Avril Acola, até a filosofia do designer pensador americano Dan Formosa, chegando aos Makers e à tecnologia 3D, mostra com curadoria de Jorge Lopes. Teoria e prática? Também estão presentes nesta edição com provocadores artigos. E, para coroar, o design brasileiro, Campana’s – originais e inesgotáveis, mais uma vez elegendo uma expressão inédita, com nova leitura do Cangaço. Fiquem atentos, é o futuro chegando! Maria Helena Estrada Editora

3


ÍNDice

junho julho agosto | 2015 | N.º 80

22

16. DESIGN DE SIGNIFICADOS

Conheça as ideias e a sensibilidade contemporânea de Edson Matsuo, da Grandene, criador que deseja sempre ser surpreendido e que se inspiração na prática de escutar = ouvir + sentir.

ALÉM DO DESIGN 22. MUITO O Salão do Móvel de Milão, percebido como alavanca para novas ideias. Uma visão menos curiosa em relação a novos produtos e mais focada nos novos pensamentos.

44.

PONTO DE PARTIDA PARA A INOVAÇÃO “Grown materials” são a aposta mais avançada para o desenvolvimento dos materiais sustentáveis. Conheça quais são e como utilizá-los neste texto do Dr. Andrew Dent, vice-presidente da Material ConneXion, USA.

48. V BIENAL: NOVOS TERRITÓRIOS

As Bienais de design traduzem sempre o momento do projeto no Brasil. A Bienal para Todos, Florianópolis, mostrou uma realidade situada entre o já existente e a e futura vanguarda do design no Brasil.

44

Composição com dois exemplos de novos materiais sustentáveis. No fundo da foto (vermelho), painel leve e rígido, composto por PC, PETG, e PMMA disponível em vários acabamentos e cores. Uso em planos de trabalho, divisórias, sistemas expositivos, sistemas retro iluminados, para fins residenciais e comerciais. Sobreposto – em preto – produto textil realizado em 3D, feito de segmentos de fibra de vidro ligados por fios de poliéster. Usado como reforço para argamassa em fachadas, painéis sanduiche e sistemas de amortização.

design | arquitetura | inovação | sustentabilidade

| N.º 80 | 2015 | R$ 24,50 |

A FORMA SEGUE A MATÉRIA materiais que inovam

I SALONI VISÃO FUTURA

BIENAL DOS CONTRASTES

DESIGN TO SERVE Edson Matsuo

4


58.

70.

74.

TRÊS VERDADES, OU UMA SÓ? Trazer o passado e suas riquezas para uma leitura contemporânea, quando bem interpretado, sempre se traduz em poesia. É o que acontece pelo caminho da sensibilidade, com a Coleção Cangaço.

58

PARA ALÉM DAS COMMODITIES O Programa Design Export, nas palavras das dirigentes do Centro Brasileiro de Design, Curitiba, criou metodologia que insere o design no processo de desenvolvimento de novos produtos.

COMO ELES ESTÃO PENSANDO, O QUE ELES ESTÃO FAZENDO Antes de fazer, pensar. Uma boa regra que nossos entevistados praticam. A baixa tecnologia aliada à alta inspiração, no exemplo sulista; a fusão do design com o artesanato chega do Nordeste; o design na construção e fortalecimento de marcas e negócios, por uma agência paulista.

48 08. News 60. No mercado 66. A maior riqueza do Brasil 68. Do sensível ao objeto cotidiano 81. Endereços 82. Última página 5


Informe publicitรกrio

6


7


news & happenings Inúmeros e diversos caminhos, materiais e formas. Confira uma breve amostra dos produtos lançados no MADE durante o DW!, o grande festival de design de São Paulo. Todo o setor D&D se agita e comemora. 2015, o ano dos materiais: vidro, metal, sucata, madeira, alguns já conhecidos, mas ainda sem batismo, objetos utilitários e outros cuja louvável utilidade é a beleza… ou a arte. Na Marché Art de Vie, projeto Design na Caixa, da Dinbox, com 30 peças de diferentes autores em “caixas” de 20x20x25 cm. Nas fotos, Cactus, de Ronald Sasson e Objeto Vazio, de Domingos Tótora

Fruteira Metro, design Carol Gay, formada por réguas de vidro deformadas por “fusing”

Cadeira Boloto Sucata, da Outra Oficina, estúdio de Leo Capote e Marcelo Stefanovics. Assento em sucata com acabamento eletrostático e pés em madeira

8


Mesa Mangue, design Luiz Pedrazzi, em metal pintado e vidro. Versão em latão e vidro

O estúdio Mula Preta une-se à América Móveis e lançam coleção com séries limitadas a oito unidades de cada peça. A lâmina de jacarandá aparece aqui em conjunto com detalhes em poliéster preto

9


news & happenings Cerâmicas do Brasil A CASA museu do objeto brasileiro apresenta, a partir de 12 de agosto, a exposição “Cerâmicas do Brasil – Edição 2015”. A mostra reúne em pé de igualdade criações de indígenas, artistas e designers populares e eruditos. Sua característica central é a transversalidade, por lidar sem distinção com esses universos muitas vezes vistos de maneira estanque. “Além de misturar as autorias, a exposição também questiona os limites em geral muito rígidos entre artesanato, design e arte”, explica a curadora Adélia Borges. Haverá um corte preciso no tempo – século 21 –, mas aberto às várias vertentes do trabalho com esse material, que está presente na cultura brasileira desde os povos originários. Da cerâmica indígena foram selecionados os Paiter - Suruí, de Rondônia, e os Waujá/Mehinako, do Parque Nacional do Xingu, Mato Grosso, os últimos presentes com obras de Yamony Mehinako e Uleyalu Mehinako. Entre os populares, as paneleiras de Goiabeiras, de Vitória, Espírito Santo; Irinéia Rosa Nunes da Silva, de União dos Palmares, Alagoas; Sara Carone, de São Paulo; Inês Antonini, de Minas Gerais, Heloísa Galvão, nascida no Espírito Santo e radicada em São Paulo. www.acasa.org.br Nas fotos, peças de Uleyalu Mehinako (acima) e Bruno Jahara

Leo Romano A Decameron apresenta com destaque em seu showroom a Coleção Chuva, de Leo Romano. O arquiteto criou peças exclusivas e personalíssimas – espelhos, mesas laterais, de centro e de jantar, aparadores e bancos – nas quais o designer deu ênfase ao trabalho artesanal com a madeira, incluindo um minucioso cuidado com os detalhes e a proposta do desenho. www.decamerondesign.com.br

10


11


news & happenings Nas tramas de Nicola Visitar o passado, quando a tônica é a qualidade e a originalidade, é um real prazer. E é o que tem nos proporcionado a Galeria Passado Composto Século XX. Com a coleção que representa – em paralelo às mostras sobre Genaro de Carvalho e Jacques Douchez – um resgate da memória nacional e das tapeçarias artísticas brasileiras, a galeria realizou a exposição do artista Norberto Nicola (1930-2007) com foco na criação de suas tapeçarias e com o tema “Nas Tramas de Nicola”. Agora o acervo Norberto Nicola continua à disposição na galeria, que conta com doze obras, como estudos, quadros, tapete, cadeira espreguiçadeira, tapeçarias planas e tridimensionais. www.passadocomposto.com.br

Poltrona Bowl O centenário de nascimento de nossa grande designer e pensadora, Lina Bardi, marca também seu renascimento. Artigos jornalísticos, exposições e reedições de seus móveis, que permaneceram ocultos por tanto tempo – salvo uma breve tentativa da Nucleon 8 nos anos 1980 – começam a entrar no mercado. Agora é a vez da Bowl, criada em 1951 e reproduzida com fidelidade nas formas e liberdade nas cores pela Arper, Itália. No Brasil é distribuída pela Dpot. www.dpot.com.br

12


13


news & happenings Tecnologia para a saúde A Philips, historicamente ligada ao design com tecnologia, reforçou um conceito de inovações para o consumidor. O evento Innovation Experience reuniu as novidades de três áreas de atuação da marca holandesa. Na área de saúde, por exemplo, duas ainda são inéditas no Brasil, mas já são tendências mundiais. A primeira é o Philips Visiq, um equipamento portátil de ultrassonografia com alta qualidade de resolução. A Philips ressalta que é possível monitorar o quadro do paciente em tempo integral, com a ajuda de um aplicativo, mesmo que ele esteja em regiões distantes e com poucos recursos hospitalares. www.philips.com.br

iF Design Award O iF DESIGN AWARD está com as inscrições abertas para sua edição de 2016. O júri oficial do iF DESIGN AWARD 2016 será realizado entre os dias 19 e 21 de janeiro de 2016 e a cerimônia de premiação acontecerá no dia 26 de fevereiro de 2016, em Munique (Alemanha), no Museu da BMW. Assim como em edições anteriores, o Brasil contará com membros no júri internacional. Em 2015, o país foi representado pelos designers Marcelo Rosenbaum e Gustavo Greco. As inscrições para o iF DESIGN AWARD 2016 estão disponíveis via internet, até o dia 15 de outubro, e custam entre € 275 e € 450, dependendo da disciplina. No Brasil, o Centro Brasil Design é o escritório representativo do iF. Informações: www.ifdesign.de ou www.cbd.org.br Telefone: (41) 3076-7332

14


Super MDF A Masisa apresenta o Super MDF que traz a tecnologia líder mundial em processos de madeira de alta durabilidade, superando a dos painéis convencionais. Indicado para aplicações externas. Criado em parceria com a Accsys Technologies, o SMDF é fabricado por meio do processo de acetilação – patenteado pela empresa – que confere ao produto propriedades de resistência às intempéries. O material oferece novas oportunidades de uso e soluções para arquitetos, designers e para a indústria da construção. www.masisa.com

Catálogo de artesanato mineiro O Sebrae Minas anuncia mais uma edição do Catálogo de Artesanato Minas Gerais, importante instrumento de comercialização dos artesãos mineiros. São 223 peças utilitárias e decorativas feitas em tecido, fibras, madeira e minerais por 211 artesãos de 55 municípios. Informações: artesanatomineiro@sebraemg.com.br ou no site www.sebraemg.com.br

15


entrevista

DESIGN DE

16


Gosto mesmo é de fazer. E sei que para fazer temos que sentir, que escutar as pessoas. Escutar = ouvir + sentir.

SIGNIFICADOS Mais do que uma entrevista, sugerimos a Edson Matsuo, o Banzai, Diretor de Gestão de Design da Grendene, alguns temas que são inerentes ao seu pensamento em relação ao projeto. Mas encontramos muito mais; ele foi além do sugerido. Não percam! Traduzem o verdadeiro novo significado do design

D

o que eu gosto? Gosto de ser surpreendido. É isso que me motiva. Estou sempre à procura de novos quereres, para encontrar novos e mais motivos, novas coisas para me surpreender. Sempre aprendo com o que me surpreende, mesmo quando é surpresa negativa. Mas gosto mesmo é de fazer. De fazer junto com as pessoas. Quero sempre fazer, e me lembro de aulas do Sérgio Rodrigues: “vamos fazer, sem estrelismo, mão na massa”. Talvez por essa memória, hoje me vejo como um sapateiro, e é isso que sou. “Matsuo é sempre um entusiasmado, brincalhão... mesmo falando muito a sério” (nr). As coisas precisam ser reais, de verdade. Um bom-dia precisa ser de verdade, tem que interessar mesmo, não ser apenas um cumprimento automático, padrão. Tudo começa assim: temos que olhar, escutar, sentir. “Matsuo tem até um anel que dá choque para assustar as pessoas que cumprimentam sem esse bom-dia de verdade. Também gosta de brincar mudando a mão de posição quando percebe que está recebendo um cumprimento meio desligado, no modo automatizado”. (nr) 17


n

Bea + Maico

Pensar, Sentir, Compartilhar, Fazer, Servir

alita

Um sentimento e ação sempre presentes, que são a base de tudo, que tudo permeiam. É o fazer com, em alternativa ao fazer para. Trata-se de uma ética, de uma forma de trabalhar que respeita o outro, que se preocupa em conhecê-lo, fazer junto, seja com a equipe ou o com o usuário.

Bruno + Th

Design: Produtos e Ideias. Nasce e cresce a expressão do orgulho de origem, a busca de uma personalidade própria. Vemos o fortalecimento do “created in” mais do que do “made in”, o primeiro tem muito mais valor. É o fortalecimento desse orgulho que já estamos vendo e tem que ser ainda mais destacado.

u

Clairi + Gla

Adoro o trabalho dos grandes nomes do design, dos criadores geniais que produziram coisas incríveis. Tive oportunidade de trabalhar com vários deles nos projetos para a empresa. Mas o que mais me atrai hoje é o design de significados, de novas ideias, mais do que design de produtos, como os trabalhos de Simon Sinek, de Youngme Moon - no livro “Diferente” -, de John Maeda.

uno

Cleiton + Br

O design é como uma ferramenta essencial, transformadora e transformável, pela capacidade de cada um de nós poder ressignificá-lo a cada nova situação e a cada novo cenário. Isto cria uma diversidade de olhares e permite ações diferenciadas que, no final, transcendem o próprio significado do design.

Para tudo deve haver um propósito, um PORQUÊ a dar significado ao que fazemos.

Duda + Jena

Na comemoração dos 40 anos da área de design da Grendene, toda a equipe brincou de “ser Matsuo”

18

ari

Isabella + M


Design to serve O design tem que ser para as pessoas, tem que servir às pessoas. “Design to serve”. O que não serve, não serve. É fazer servindo/servir fazendo. É fazer com as pessoas, não para as pessoas. O servir me parece como aquela frase do “gentileza gera gentileza”... fazer com, é caminho. Simples, saindo do pedestal, coletivo, junto. E esta forma de fazer é a melhor, a que se faz com mais prazer, a mais eficaz, a melhor do ponto de vista da gestão, pois minimiza o retrabalho e o desperdício. Tem uma coisa que adoro, a principal, que podemos chamar de Design de Gambiarra. Aquele design anônimo, feito pelo próprio usuário para resolver seus problemas mais diretos. Ele interfere no produto para ajustá-lo à solução que quer/precisa. Não tem um nome para isso, um título, mas resolve, serve a quem interessa e é compartilhado. Ele atua como designer. Mas tem um ponto que é muito importante: ele faz isso com restrição de recursos, com muitas limitações, com base na criatividade, essa restrição é sensacional para a criatividade.

Antes do design havia o artesão, que fazia sem intermediários, sem especialistas, sem interferências. Fazia com sentido/significado. Isso é essencial e deve ser valorizado. Ele fazia e só depois teorizava.

Mirian + Dea

Fran

Monalise +

rdana

Priscila + Jo

Rafa + Êrico

Brasil e Design O mundo está, cada vez mais, buscando a identidade das coisas. A diferenciação com base nos contrastes culturais. É essencial não perder isto, a valorização das comunidades, dos indivíduos, das culturas... Vejamos o Brasil: não é um país, é um continente. Tivemos o privilégio de receber imigrantes de todas as partes do mundo, portanto somos um mix de etnias e culturas e, melhor ainda, falamos a mesma língua. Entretanto, guardamos importantes culturas regionais que nos dão também uma enorme riqueza e uma vantagem competitiva sem igual. O que falta é conhecermos mais e melhor essa nossa riqueza e transformá-la naquilo que as pessoas desejam.

ilva

Santana + PS

ani

ThaisB + Tu

19


One by One

A coleção que não faz distinção entre pé direito ou esquerdo é uma inovação de grande sucesso. Rompeu paradigmas ao permitir comprar apenas uma peça – e não o par – para formar a (des) combinação que mais agrade, ou mesmo para calçar apenas um pé, quando esta for a necessidade. Para tanto, exigiu mudanças em toda a empresa, até mesmo na controladoria. Conquistou importantes prêmios internacionais como na Bienal Interamericana de Design 2014 e o o iF Design Award 2015

SP

20


Design transformador Sou otimista. Acredito que podemos fazer, podemos mudar as coisas no mundo. A tecnologia, as redes sociais, a possibilidade de acesso fácil e rápido ao conhecimento, de qualquer lugar, por qualquer um, está ajudando muito para isto. E não interfere no já citado “orgulho de origem”. Fontes de Inspiração? São muito particulares e exclusivas. Para mim, são e serão sempre o que buscamos e o que sentimos nas e das pessoas. A alma do design não se desconecta das pessoas... é quase uma mística... formas e materiais são decorrência. Melissa/Grendene. Sou um fã, faço parte de uma equipe de fãs da Melissa – é assim que eles chamam os consumidores, os aficionados da marca (nr). É gente que coleciona os calçados, que forma uma comunidade que participa em processos criativos, que opina e interage com a marca/ empresa. Todas as pessoas da equipe são fãs também. É com todas elas que fazemos... o que vocês conhecem.

NYC A partir de cima, em sentido horário, imagens das Galerias Melissa em Nova Iorque, Londres e São Paulo

Você é a soma do que conquistou ontem e do que sonha para amanhã. lnd

21


Iinteriores SALONI 2015

I Saloni 2015. La Passeggiata

i Saloni 2015, Mil達o 22


Porque caminhar ativa o pensamento, estimula a percepção e acende a criatividade.

MUITO ALÉM DO DESIGN O que mais chama a atenção, a cada ano, durante a semana do design em Milão? Seguramente os produtos finais. Mas a força e coesão do sistema italiano, as várias ações que reforçam o setor – das políticas e econômicas às de imagem – transparecem claramente. Falamos da visão de futuro e da política setorial que tudo abrange e que até hoje nenhum país conseguiu abalar Maria Helena Estrada 23


I SALONI 2015 SALONE UFFICCIO

“D

esign after Design” é o título da mostra na Trienal de Milão, que inaugurará o Salão 2016. Nada mais coerente com este artigo. No universo do que se convencionou chamar “design”, o grande espetáculo, a parte final do show, é a razão pela qual hoje 450 mil pessoas se acotovelam durante uma semana para ver tudo, ver mais. Em 1954, ano do primeiro Salão, foram mil visitantes. Exemplo do orgulho italiano na conservação desse patrimônio? Uma grande empresa do setor de luminárias acaba de ser vendida, mas seus proprietários só o fizeram quando encontraram uma empresa, também italiana, para comprá-la. “Somos gazelas seguidas por leões”, comenta Roberto Snaidero, presidente do I Saloni 2015, “não podemos afrouxar o passo”. ARC DESIGN inicia sua visita ao I Saloni 2015 pela mais visível das portas – e pela mão, ou “cabeça”, do arquiteto e designer Michelle De Lucchi, o cidadão de longas barbas (para não ser confundido com o irmão gêmeo, segundo ele). De Lucchi, que afirma no livreto sobre o Salone Ufficcio 2015, La Passeggiata, que “é preciso ficar de pé, caminhar e pensar. Não é necessário saber a meta, talvez seja melhor mover-se sem objetivo: é necessário perder-se para descobrir alguma coisa nova (...) Flanar pelos estreitos caminhos da inovação é o que anima todos os Silicon Valley do mundo”. De Lucchi começou sua carreira de grande visibilidade na Memphis, com a cadeira First (1983), e é o autor da famosíssima – até hoje – luminária Tolomeu, prêmio Compasso d‘Oro 1985. Ele é da geração de designers que se dispunham a derrubar o estabelecido e instaurar o novo. La Passeggiata expõe um dos recorrentes temas do design, mola propulsora para seu avanço: o projeto filosófico, algumas vezes ancorado nas artes, outras na tecnologia e, sempre, uma “pré-visão” do futuro; neste caso, o do trabalho. O movimento leva a uma mudança, explica De 24

Em sentido horário: vista parcial do Salone Ufficcio; planta do pavilhão; Michele De Lucchi

Caminhar para pensar. Pensar para melhorar. Melhorar para mudar. De Lucchi

Lucchi, exemplificando sua teoria com a frase “Caminhar para pensar. Pensar para melhorar. Melhorar para mudar”. O instrumento eficaz para operar mudanças? A pesquisa e uso de

novos materiais, que levam a novas tecnologias de produção e, possivelmente, a novas formas – tudo sem esquecer os preceitos da boa qualidade ambiental e dos serviços que o design deve prestar.


(R)EVOLUÇÃO MATERIAL

25


I SALONI 2015 MATERIALS VILLAGE “Cada ideia tem uma solução material” é o lema da Material ConneXion, a maior materioteca existente no mundo (veja artigo nesta edição, pg 44). São mais de 7.500 materiais e processos inovadores, avançados e sustentáveis para as disciplinas do design, e mais de 40 novas sugestões são examinadas a cada mês. Este acervo recebe a consultoria do ThinkLab, divisão que trabalha com as marcas e empresas visando o desenvolvimento de produtos para o amanhã. Com sede em N. York e atividades em oito países do mundo – entre eles a Itália –, é a grande estimuladora de novas ideias e produtos. Empresários e designers, aproveitem! No design contemporâneo inovador vemos um denominador comum, um referencial que a todos engloba – a pesquisa e uso de novos materiais, que permitirão que se alcancem novos paradigmas no projeto. É o caso da instalação Materials Village – nos jardins do grande pavilhão Tortona –, uma plataforma de eventos e iniciativas para a promoção de empresas que tenham projetos baseados na inovação dos materiais. Promovida pela Material ConneXion Italia, a mostra, em configuração de pequena vila, reunia empresas de diversos setores e suas inovações - como a 3M, com o novo produto Scotchlite, um material refletidor; a Florim, com os novos pavimentos cerâmicos contínuos; a Coalesse, de móveis de luxo para escritório, lançando a cadeira de Michel Young, totalmente em fibra de carbono; a Tileskin, com ladrilhos em papel adesivado e inúmeros grafismos, que absorve odores; na coleção Gufram, a cadeira Bounce, de Karim Rashid, superleve e, claro nos rosas e pastéis característicos do designer; na categoria luxo, os mosaicos da Friul Mosaic, com produtos “green”, luxuosos e sustentáveis, e esteticamente avançados... e muitos outros.

26

Rodrigo Rodriquez, CEO da Material ConneXion Italia; visão da “Village”. Abaixo, estande com cadeiras Bounce, Karim Rashid, da Archiproducts para Gufram


Estande da Archiproducts

27


I SALONI 2015 MIND CRAFT

28


Mind Craft, pavilhão dinamarquês. Imagem central, instalação sobre piso espelhado; sino em composto de algas com papel reciclado; Louise Campbell com papel e caneta com ponta de feltro tem desenho modificado pela variação da elasticidade do papel. Mostra vencedora da Semana do Design 29


I SALONI 2015 DE GUSTIBUS Hora da saudade. Coleção De Gustibus, iniciativa de George Beylerian, no Pallazzo Lita

George Beylerian

Ainda no campo limítrofe ao dos materiais, uma importante inovação – ou mudança – é a possível substituição de redes de energia elétrica, principalmente nas luminárias, pelo uso de baterias instaladas no local de consumo: mais um exemplo das necessidades ambientais impulsionando a renovação no design... e dando um fim às incômodas fiações. Mas nem só de tecnologia vive o homem: há preciosidades – seja pela beleza ou pela tradução da identidade do país de origem. Caso desta delicada sugestão em homenagem aos mestres do design italiano, com peças selecionadas por George Beylerian para formar a coleção De Gustibus – 32 objetos, reproduções autorizadas, de Sottsass e Castiglioni chegando a De Lucchi, Branzi, Alberto Meda e outros. Os preços? Menos que cem euros, cada.

Rodolfo Dordoni

Piero Lissoni

Candelabro Clip de Michele De Lucchi

Paesaggio Italiano de Aldo Cibic

Keith Mascheroni

Vico Magistretti Ao lado, Ferruccio Laviani e John Mascheroni Girachille de Achille Castiglioni

Talher Aulenti de Gae Aulenti Gianfranco Frattini 30

Federica Marangoni

Giulio Cappellini


Ettore Sottsass

Andrea Branzi

Pauzinhos Stella de Mario Bellini

Bandeja oval de Richard Sapper

Ao lado, Donato D’Urbino e Paolo Lomazzi

Jonathan De Pas

Anna Castelli Ferrieri

Formaggiera de Joe Colombo

Trio de vasos de Angelo Mangiarotti Petisqueira de Perry King & Santiago Miranda

Pratos decorativos de Alessandro Mendini

Matteo Thun

Garrafa Medamade para azeite de Alberto Meda

Marcello Morandini

Paola Navone Tobia Scarpa

Antonio Rodriguez

Roberto Sambonet

Cini Boeri

Elio Fiorucci

31


I SALONI 2015 IN FIERA

“

Queremos envolver e apaixonar, mais do que ensinar. Germano Cellant

�

Os mestres da ironia. Meta Cactus, designers Drocco e Mello, revestido em poliuretano expandido; mesa Bellaforza, de Denis Santachiara, 2015, Gufram

Abaixo, a marca do poeta. Monument for a Bulb, Ingo Maurer, 2015

32


Estande Moroso

Somos gazelas seguidas por leões, não podemos afrouxar o passo.

Roberto Snaidero, presidente do I Saloni 2015

A marca do gênio. Reedição da estante giratória Joy de Achille Castiglioni, Zanotta

33


I SALONI 2015 MADE

O DESIGN BRASILEIRO PEDE PASSAGEM Sucesso de público e crítica em Milão, o design brasileiro se apresentou com suas diversas especificidades. Já não chegamos encabulados, mas oferecendo novas e frescas visões e possibilidades na criação. E o público soube apreciar.

Banco indígena da tribo Kamaiurá, coleção BEI

34


Em todas as exposições brasileiras sobressaía o desejo e a intenção de declarar que não precisamos mais copiar outros modelos e outras culturas. Estamos percorrendo um novo caminho, o de revelar todas as nossas riquezas e potenciais

35


I SALONI 2015 MADE

Acima, vista da entrada com armรกrio Capaxo, design Campana, em primeiro plano. Ao lado, banco Sela, Ricardo Graham e luminรกria Fool, Fernando Prado

36


Estante Cross, grupo Alva

Chaise longue Cinto, Carol Gay

Falamos de duas mostras – uma originada em São Paulo, uma no Rio – e de duas empresas que expuseram no escandalosamente grande recinto da Feira: A Lot Of e Saccaro. MADE A MILANO, mostra produzida em São Paulo, trazia peças icônicas e designers consagrados e iniciantes de várias partes do Brasil.

Poderia ser definida, graças à sua principal tônica, como sinônimo de design jovem, próximo à arte e ao experimentalismo. Abraça a vanguarda com novos conceitos, materiais inovadores, liberdade de expressão e anuncia o surgimento de uma geração que se prepara para conquistar o mundo. A mostra apresentou uma

coleção de incríveis bancos indígenas – nossos primeiros designers – e, no mesmo espaço, deu um salto em direção às mais atuais expressões da identidade e sonoridade brasileiras. Nas palavras de seu curador, Waldick Jatobá, “A exposição teve o objetivo de mostrar nosso design contemporâneo, que vive um grande momento 37


I SALONI 2015 MADE

A exposição teve o objetivo de mostrar nosso design contemporâneo, que vive um grande momento de criação, desenvolvimento e promoção. Waldick Jatobá

38


Página da esquerda, poltrona Leiras, Domingos Tótora. Acima, lounge no cortile do Palazzo por Marcio Kogan; armário Bucha Soberana, grupo Cultivado em Casa

de criação, desenvolvimento e promoção”. Apresentação brilhante em um palácio milanês dos anos 1600, contou com a Apex-Brasil como principal patrocinadora. Logo na entrada do “cortile” manifestava-se o espírito brasileiro – ênfase de toda a mostra – com inúmeras cadeiras de praia sobre um praticável de madeira. O visitante passava, sem sustos, do século 17 ao século 21 e chegava diretamente à “praia preta”, apelido recebido pela simpática ideia de Marcio Kogan, em razão do revestimento das cadeiras – todo preto, com estrutura em madeira escura.

39


I SALONI 2015 RIO+DESIGN

RIO + DESIGN Rio de Janeiro. A cidade quer respirar design, quer ressurgir em beleza – a natural, claro; e a criada pela arquitetura, urbanismo, design. E conta, fato raro em nosso país, com total apoio de seus dirigentes, como, no caso do design, com Dulce Ângela Procópio de Carvalho, Subsecretária de Desenvolvimento Econômico; e dos diretores do Sebrae/RJ e FIRJAM. Com curadoria de Guto Indio da Costa, nesta sétima edição o projeto foi dirigido à madeira – sustentável –, à inovação e à tecnologia no design do Rio de Janeiro. O foco foi na

Cadeira de 3 Pés, Ricardo Graham

40

Luminária Ouriço de Angela Carvalho

Banco Buzios, Guto Indio da Costa


geração de negócios. No campo da tecnologia brilharam dois projetos nascidos na PUC Rio: o Gota, para a exploração de petróleo e gás natural, em conjunto com a FMC Technologies do Brasil; a medição do Cristo Redentor, realizada pelo laboratório NEXT, dirigido por Claudio Magalhães, com Celso Santos e Jorge Lopes. Nas palavras de seu curador, “o grande ganho do projeto pode-se dizer que é histórico, traduzido pelo conjunto da obra. Um projeto que leva, a cada ano, 50 designers cariocas e em torno de 100 produtos a Milão, está formando uma geração de profissionais que se alimenta de informações e entra em confronto com o design internacional”.

Marca para Rio 450 anos, Crama Design

Poltrona Benjamin, Sergio Rodrigues

Skate, projeto Bernardo Marral, escritório Terravixta, inspirado em conceitos biônicos e muita pesquisa

Banco Ratoeira, EM2

41


I SALONI 2015 IN FIERA

No recinto da feira, no grande estande da A Lot Of, brilhavam o talento dos irmãos Campana e a coragem de Pedro Paulo Franco, CEO da empresa. Belos produtos e belíssima cenografia. A Saccaro, também na feira, mostrou uma apoteose da madeira, com a mesa Serra Pelada, referência aos garimpos, com projeto de Roque Frizzo. Em todas as exposições brasileiras sobressaía o desejo e a intenção de declarar que não precisamos mais copiar outros modelos e outras culturas. Estamos percorrendo um novo caminho, o de revelar todas as nossas riquezas e potenciais. Ou, citando uma declaração sobre “Arts & Food”, mostra com curadoria de Germano Celant, antevisão à Expo 2015 e aberta durante o Salão do Móvel, queremos “envolver e apaixonar, mais do que ensinar”.

42


Estande A Lot Of no Salone, com coleção Estrela, by Campana

43


materiais e inovação

Tubérculos modificados durante seu processo de crescimento

Material ConneXion é a maior biblioteca de materiais disponível para empresários e profissionais do projeto. São, hoje, mais de 7.500 amostras de materiais e processos inovadores, avançados e sustentáveis, abrangendo todas as disciplinas do design. A sede é em N. York, onde a empresa foi fundada, e já conta com oito filiais em várias partes do mundo. Pedimos ao Vice Presidente, Dr. Andrew Dent, que nos falasse sobre a atual tendência de utilização dos Grown Materials, e quais são esses materiais avançados já em utilização 44


MATERIAIS: PONTo DE PARTIDA PARA A INOVAÇÃO Dr. Andrew Dent

H

á um novo pensamento sobre a produtividade em relação aos materiais cultivados, o que sugere uma mudança de paradigma na forma como vemos e empregamos os produtos e processos naturais. Sabemos que ainda temos muito mais a aprender com a Mãe Terra e de como ela produz, sempre de forma altamente eficiente e sem desperdício. A natureza pode criar resistência, leveza e durabilidade de maneiras infinitamente mais complexas e emocionantes do que os seres humanos, e as áreas de biomimetismo e de sustentabilidade “berço a berço” são alguns dos exemplos do que podemos aprender com o mundo natural. Nós, no entanto, precisamos adaptar esses fenômenos ao nosso alto volume, a necessidades maiores, se quisermos realmente nos beneficiar dos ensinamentos da natureza. Englobados sob a denominação “grown”, ou o que brota ou cresce na terra, já temos, com seu estudo, alguns bons exemplos de como nos aproximarmos dos mecanismos que regem a vida natural. “Grown” é uma ideia sobre como desejamos que seja nosso futuro – materiais colhidos da terra, usando os processos eficientes e sem desperdício, próprios da natureza. Esta ideia celebra os métodos existentes para nossa colheita anual, na silvicultura e pecuária sustentáveis; mas também vê o potencial no aproveitamento de outros processos biológicos que utilizam bactérias, plânctons e algas.

Detalhe da biblioteca de materiais na sede da Material ConneXion, N.Y. 45


Precisamos utilizar materiais de fluxos de resíduos, tais como amido, resíduos animais e de culturas, e mesmo água de estações de tratamento de plantas. Mas também precisamos de processos de produção mais eficientes para garantir que temos rendimentos básicos e o mais seguro dos produtos. Consideráveis pesquisas e desenvolvimentos ocorrem nesta área, com algumas inovações notáveis no que se refere à madeira, às fibras naturais, às algas, aos micro-organismos e biopolímeros.

Madeira Alguns dos avanços mais interessantes no que diz respeito à madeira tem sido a forma de protegê-la do tempo e dos elementos naturais. Isto, por duas razões: permitir o uso da madeira para uma maior gama de aplicações na construção, e também ser capaz de usar aquela proveniente de locais próximos e capazes de serem suficientemente duráveis. Os meios de tratamento da madeira podem incluir, para curar a superfície das tábuas, o uso de um subproduto do processamento da cana-de-açúcar (Kebony), além da fossilização. São operações capazes de transformar a madeira em em um mineral durável (Organowood).

Fibras Além das fibras conhecidas – como madeira, algodão e linho –, há uma gama cada vez mais valiosa de fibras naturais de linho, cânhamo e juta, além da fibra de coco, que estão sendo usadas (com desempenho impressionante) para peças compostas. O linho tem rigidez equivalente à fibra de vidro e uma melhor capacidade de amortecer a vibração. A fibra de coco é encontrada em diversos usos, como na embalagem de ovos, no mobiliário e nas lâminas de turbinas, bem como um componente para pranchas de surfe. Alternativas aos blocos de cimento para construção estão sendo produzidas por mineralização do canabium, tornando a parte lenhosa do cânhamo rígida e muito durável. 46

A madeira e seus processos de transformação

Andrew Dent Vice-presidente, Library & Materials Research, o Dr. Andrew H. Dent desempenha um papel fundamental na expansão da base de conhecimentos técnicos da Material ConneXion. Sua pesquisa se direciona à implementação de projetos de consultoria e à seleção mensal de mais de 40 novos materiais apresentados à biblioteca de materiais. Com sede em N. York, ele supervisiona todas as materiotecas internacionais, bem como a base de dados on-line de materiais. Dr. Dent recebeu seu PhD em ciência de materiais da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Antes de se juntar à Material ConneXion, ele ocupou vários cargos como pesquisador, tanto na indústria quanto acadêmicos, como por exemplo na Rolls-Royce PLC, na Universidade de Cambridge, na Marinha dos EUA, na NASA e no Ministério da Defesa britânico. Desde que se uniu à Material ConneXion, Dr. Dent tem ajudado centenas de clientes, da Whirlpool e Adidas à BMW e Procter & Gamble, a desenvolver ou melhorar seus produtos por meio da utilização de materiais inovadores. Dr. Dent tem contribuído para muitas publicações e livros e é um orador frequente em seminários sobre inovação de materiais em muitas das disciplinas do design.

Algas

Micro-organismos

As algas são uma promessa significativa para a produção do século 21, simplesmente porque elas podem ser criadas em escala industrial, com pouco impacto para a produção existente de alimentos. Este “material maravilha” tem sido usado para fazer plásticos, tecidos e até mesmo baterias, e um recente projeto de arquitetura em Hamburgo (Alemanha) o está usando como biorreatores fotovoltaicos para gerar energia para o edifício.

Os processos naturais de bactérias e outros micro-organismos também podem ser controlados para criar novos materiais. Eles são um componente essencial de muitos biopolímeros – incluindo o plástico PLA – à base de milho, e alguns dos bioplásticos mais recentes, semelhantes ao polipropileno, e conhecidos como PHAs e PHBs. As bactérias também são usadas ​​para secretar membranas semelhantes à pele, como as utilizadas para o biocouro,


Exemplo de matéria que brota da natureza, uma das fontes dos Grown Materials

depois de terem sido imersas em uma solução de suco de abacaxi. Os micro-organismos fúngicos são o principal componente da Myco Board, um equivalente do MDF, que é produzida pelo aquecimento e compressão de cogumelos crescidos como resíduos agrícolas fibrosos.

Biopolímeros Os primeiros biopolímeros foram, de fato, os primeiros plásticos, há mais de 150 anos, quando as resinas à base de celulose foram

desenvolvidas a partir de madeira e algodão. Nossas alternativas modernas incluem produtos em plástico feitos a partir de amido de batata (Avebe), milho (NatureWorks), cana-de-açúcar (Braskem), melaço (Indorama Ventures PCL) e resinas de engenharia de mamona (Arkema). Esses plásticos são, então, transformados em materiais de embalagem, tecidos, revestimentos, peças de engenharia e também como integrantes em compósitos.

Estas são algumas das mais recentes pesquisas relativas ao estudo dos materiais brotados na natureza ou por ela criados. E gostaria de finalizar com o lema, ou slogan, da Material ConneXion: Toda ideia tem uma solução material.

47


bienal design 2015

V BIENAL: NOVOS TERRITÓRIOS Andador Voador, deselvolvido pela equipe interdisciplinar do Hospital Sarah Kubitschek. O andador fornece um meio de locomoção independente que favorece autonomia de crianças com lesão cerebral na exploração e interação com o ambiente e a sociedade

48


A Bienal do Design para Todos (Design for All) foi, na verdade, a Bienal da indústria e das novas ideias: estes os aspectos que sobressaíram, e podemos dizer que assistimos a uma boa Bienal, pela riqueza e diversidade de temas, pelo equilíbrio entre o desejável e o possível Maria Helena Estrada

Banheiras especiais para bebês. Design Equipe Megabox Design. A forma interna permite conforto e uma melhor postura para o bebê e libera as mãos de quem está dando o banho na criança

R

ealizada em Florianópolis, SC, um dos estados mais industrializados do Brasil, esta V Bienal teve – em nossa opinião e olhando pela perspectiva do design contemporâneo – quatro grandes destaques: um seminário internacional e as mostras Design Catarina, Makers e Coletivos Criativos. O seminário soube equilibrar visões tradicionais no design, com os conceitos transformadores que já invadem o território. Dan Formosa, Avril Accola e Manuel Duque foram os portadores das propostas e ações inovadoras. O conceito chave da Bienal, o Design para Todos, e exemplos de sua aplicação prática, foram introduzidos por Avril Accola, que desenvolve um trabalho com empresas nos setores de alta tecnologia, comunicação, produtos, pesquisa e desenvolvimento. Dan Formosa, fundador do Smart Design e hoje consultor da 4B Collective e do Brainpoll, tem como mantra que “o design deve ser para pessoas, não para coisas”. Sua palestra foi um questionamento: “será que o design conseguirá se reinventar?”. Manuel Estrada, designer gráfico, falou sobre questões inerentes à atividade, que bem conhece, como fundador e presidente da Fundación Diseño Madrid e diretor da Bienal Ibero-Americana de Design. Mas, o que destacar quando falamos em design? Os critérios estéticos, a utilidade e necessidade dos produtos ou, como já acontece no mundo, a curiosidade, descoberta e performance dos mais diversos materiais e formas produtivas? A Bienal 2015 soube contemplar os dois extremos – quase opostos – como convém a um país cuja característica é a desigualdade. Como país convidado, a Holanda compareceu trazendo produtos com tecnologias inovadoras e a presença no seminário do curador da mostra, Jorn Konijn. Na palestra “Acho que Estamos Presos ao Futuro”, Konijn falou sobre o papel da mudança como força motriz para a prática do design de hoje.

49


Design Catarina, com curadoria de Roselie de Faria Lemos, coordenadora executiva da Bienal, mostrou a realidade de um estado industrializado, consciente de que a qualidade é um dos componentes fundamentais na prática do design, especialmente se falamos em exportação e na valorização do conceito-projeto. Foram selecionados produtos em inúmeras categorias tipológicas, todos “made in SC”, com indústrias tradicionais ou não. Desde artigos para o largo mercado, como os da Hering, grande produtora de básicos exportáveis, até sofisticadíssimos itens, e falamos da indústria naval e da tradicional indústria têxtil que foi buscar criadores “além fronteiras”, como Ronaldo Fraga e Fernanda Yamamoto; até a indústria dos “games”, com a incrível e amedrontadora (para mim, que tenho medo até de roda-gigante de parquinhos) montanha-russa virtual. Makers é o termo adotado para designar os que produzem, por meio da tecnologia de impressão 3D, suas próprias criações. Mostra os avanços recentes dessa tecnologia em áreas que abrangem todo o mundo dos objetos, mesmo aqueles que traduzem emoções humanas... e o que mais sua imaginação – ou necessidade – alcançar. A manufatura digital, ou Terceira Revolução Industrial, já superou dúvidas e incertezas e chegou para ficar. “É o momento”, segundo o curador da mostra, o designer e cientista pesquisador Jorge Lopes, “no qual os makers não dependem mais da indústria para construir seus protótipos, ou mesmo produtos finais. Desde joias a carros e casas, a remédios e vacinas e até difícil de imaginar (nr), comida. “O campo de utilização da tecnologia 3D é inesgotável e, no Brasil e em vários outros países, as pesquisas e a atuação nessa área estão bem avançadas, e vêm evoluindo rapidamente”, comenta.

50


Na página ao lado, tecido da tradicional fábrica Renaux, com desenho de Ronaldo Fraga. Nesta página, Renda-se, projeto de Renato Cardoso com renda de bilro executada por 12 participantes do Casarão das Rendeiras da Lagoa da Conceição

51


Na mostra Makers vemos cerâmicas modeladas virtualmente pelos belgas Dries Verbruggen, Claire Warnier e Tim Knapen, por meio de um programa que capta a energia das mãos. Também, a reprodução digital de fetos em vários estágios da gravidez, a partir da transformação de arquivos de ultrassonografias 3D e ressonâncias magnéticas. A mostra, ponto alto da BBD 2015, concebida por Jorge Lopes, figura de proa do Laboratório de Tecnologia 3D da PUC-Rio, apresenta obras de designers brasileiros e internacionais, como os protótipos tridimensionais criados para o filme de animação “Almofada de Penas”, de Joseph Specker Nys, com produção executiva de Maria Emília de Azevedo. São novos horizontes que se apresentam, abraçando desde os úteis ou fúteis objetos cotidianos até os mais importantes avanços da medicina - campo de atuação, aliás, que é um dos preferidos por Jorge Lopes.

Revestimento em madeira, formato de azulejo, com desenho que remete a Tarsila do Amaral. Cerâmica Mosarte, também autora do Cobogó. Design Catarina

Linha Salinas, coleção de Carlos Alcantarino para a Butzke. Design Catarina

52


Chegamos agora ao tema da Bienal 2015: Design para Todos. Proposta ambiciosa. Quem são esses “todos” a que se refere a Fundação Design for All, nascida na Espanha e que está se espalhando por diverso países, principalmente europeus? O ponto de partida no Brasil, por uma necessidade fundamental (e até estatística), deveria ser outro, dirigido a nossos problemas básicos e às populações carentes – sem abandonar o foco, espera-se, na melhoria de produtos já existentes ou de projetos em andamento, seja do ponto de vista funcional, seja construtivo. Tudo isto seduzindo, ao mesmo tempo, os empresários renitentes, que ainda acreditam ser o design apenas um luxo! Por esta e outras razões nosso repertório ainda é pequeno, e essa carência é visível na mostra; apesar da sensível e inteligente atuação do curador geral da Bienal, Freddy van Camp.

A Canoa Canadense, Estaleiro Kalmar. Esse modelo é uma adaptação das linhas das canoas desenvolvidas por índios canadenses há mais de 125 anos. A construção artesanal em madeira é a chave para a durabilidade do produto, que se mostra resistente à umidade, com um perfeito acabamento em verniz. Design Catarina

Mesinhas de Carolina Haveroth com tampo realizado em cerâmica e tinta acrílica. Design Catarina Rilix Coaster, simulador de montanha-russa, utiliza realidade virtual. Carrinho com kit de vibração, óculos de realidade virtual e fones de ouvido. Desenvolvido pela equipe do projeto Rilix... Aconselhável para os não medrosos. Design Catarina 53


interiores

Escaneamento e impressão 3D do Cristo Redentor. No projeto, a estrutura da estátua do Cristo foi escaneada por processo fotográfico utilizando drones, com coordenação do NEXT da PUC Rio, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, da empresa canadense de drones Aeryon e da empresa suíça de processamento de imagens PIX4D, o que tornou possível obter o arquivo para impressão nas dimensões exatas. Makers

Vasos série Functional em cerâmica, trabalhados por extrusão em 3D. Design Olivier Van Herpt, Holanda. Makers

Vaso fundido em bronze a partir de prototipagem rápida. Design de Maurício Klabin – 1998 (in memoriam). Maurício Klabin, provavelmente, foi o primeiro designer a experimentar a combinação das tecnologias de escaneamento a laser 3D e a tecnologia de prototipagem rápida – ambos recém-chegados ao Brasil no ano de 1997. Makers

Projeto l’Artisan Eletronique. Design Dries Verbruggen, Claire Warnier e Tim Knapen – UNFOLD Design Studio, Bélgica. Makers

54

Vaso antropomorfo, Santarém, representando Xamã, século XII, Coleção Museu Nacional – UFRJ. Makers


Capacete construído em impressora 3D em várias cores. Makers

Cadeira Chubby. Design Dirk Vander Kooij. Impressa em 3D em plástico reciclado extrudado por braço robô. Makers

A terceira exposição a merecer destaque é a Coletivos Criativos. “Mostra voltada especificamente para a constituição de projetos”, explica o guia da Bienal, “que representem legados tangíveis e intangíveis para a cidade onde a exposição se realiza”. Uma rua em acentuada ladeira, com corrimão e assentos ao longo do trajeto, e também equipamentos lúdicos, foram os destaques e legados para a cidade. Mas qual a finalidade de Bienais consecutivas, que se deslocam por diversas capitais do País? Estamos vendo se delinear e ser construída uma linha evolutiva em torno do design internacional e do projeto brasileiro (este, de tão difícil realização por motivos que todos conhecemos, infelizmente), que torna esta resposta precipitada. Tivemos até agora Bienais localizadas ao Centro, Sul e Sudeste; a próxima edição, em 2015, será realizada no Nordeste, em Pernambuco. Esperamos por um novo repertório de perspectivas e visões para completar o quadro de como se delineará o design no Brasil.

Luminária Tulip. Design Cretea, Itália. Impressa em 3D pela tecnologia FDM. Makers

55


Luminária Lungplants do designer holandês Tim van Cromvoirt. É uma luminária cinética com ar de escultura que parece respirar. Estes “organismos” mostram um movimento muito natural em um ciclo contínuo

Mostra de cartazes Design para todos? no Parque dos Coqueiros

56

Balanço de Juliana Castro no projeto Coletivos Criativos, com curadoria de Bianka Cappucci Frisoni, Katia Veras, Isabela Sielski e Simone Bobsin


Cadeira Endless do designer holandês Dirk Vander Kooij. Cadeira resistente, feita com linhas grossas e onduladas

Jorge Lopes, Roselie Freitas e Freddy van Camp

Bicicleta Bough do designer holandês Jan Gunneweg. Feita à mão em madeira de imbuia e pesa cerca de 15 quilos 57


design brasileiro

Poltrona Cangaço. Estrutura em aço, revestida em palha trançada, e couro recortado e pespontado. Edição limitada, 50 peças

Já diziam os sábios de todos os tempos que a força vem da verdade. Mestre Espedito, Fernando e Humberto Campana, juntos, nos emocionam pelo impacto desse novo universo, pela força e beleza que suas peças transpiram. Para além do artesanato e do design está a arte? Então é arte o que nos foi oferecido por Sonia Diniz, na Firma Casa, ao trazer a Coleção Cangaço e a memória de Virgulino, o Lampião, que “foi o mais estrategista, o mais inteligente, o mais apaixonado, o mais irreverente. Gostava de cordel, moda, forró, viola e repente. E além de gostar de moda, gostava de costurar, usar perfume estrangeiro, ouvir histórias, rezar. Dançar xote e cozinhar”. Quando nos encontramos com a coleção Cangaço, não basta o olhar ou o sentar; é fundamental tocar, perceber cada detalhe, cada corte e costura. Todo um antigo mundo de encantamento, doçura e violência transparece na criação do novo Cangaço. A inspiração das formas, a paixão pela beleza, o colorido, a máxima perfeição dos bordados, a exuberância do desenho e as seis mãos de mestres. Nós só temos que agradecer. Maria Helena Estrada Entre aspas, no texto, trecho extraído do cordel de Moreira de Acopiara, encartado no catálogo da Mostra. TODAS AS PEÇAS FORAM PRODUZIDAS PELO ESTÚDIO CAMPANA EM COLABORAÇÃO COM ESPEDITO SELEIRO, DE NOVA OLINDA, CEARÁ, PARA A FIRMA CASA

58


Espelho Cangaço. Estrutura em alumínio e aço com moldura em couro trabalhado. Edição limitada, 25 peças

Armário Cangaço. Peça que melhor estampa a memória do Cangaço. Estrutura em madeira, revestimento em couro com adornos metálicos. Edição limitada, 25 peças

TRÊS VERDADES,

OU UMA SÓ? 59


no mercado

Design de A a Z

1

Três grandes protagonistas definem o design que consumimos: o criador, o produtor e o ponto de venda. O consumidor, hoje, sabe o valor do que está comprando, é consciente e exigente. Confira exemplos do que oferecem algumas das melhores lojas de São Paulo 60


2

1 A Lof of Brasil

2 ATEC

A coleção Estrela representa a contínua fonte de inspiraração dos Irmãos Campana: uma estranha e original beleza. As peças, desenvolvidas em metal com um corte preciso, são ligadas por uma solda fina. Fazem parte desta coleção uma cadeira, mesas, sofá e luminárias.

Sistema de escritório para trabalho informal, a linha Public Office traz um kit modular de peças, e propõe que as pessoas escolham com liberdade seu modo de trabalhar. Proporciona conforto em todos os setores – dos locais abertos aos espaços que requerem maior privacidade.

3 Carbono Guilherme Wentz assina o sofá C117, com estrutura em ferro e pintura eletrostática. O estofado pode ser revestido em lona, linho ou couro. Para o sofá C 118, o designer Felipe Protti priorizou a assimetria e o contraste de cores, além de mesclar os materiais de revestimento (tecido e couro). A base em ferro recebe assento em couro envelhecido e almofadas em tricô.

3 3

61


4 4

4 CASUAL Design internacional é o DNA da loja. Bons exemplos são o sofá FAT, da B&B Itália, assinado por Patricia Urquiola, e a poltrona MAD King, do famoso e performático Marcel Wanders.

5

5 COD Com a base em grafite e assento revestido em tecido crepe, a cadeira Sayl possui encosto feito com fios de elastômero, que se adaptam às formas e movimentos do usuário. Design do supercompetente Yves Behar para a Herman Miller.

6 DPOT (1) O design brasileiro em exportação, pela empresa catarinense Butzke: linha Mucuri, de Zanine de Zanini, desenvolvida em madeira Cumaru 100% certificada. Além da espreguiçadeira, completam a linha mesa lateral e cadeira. Alfio Lisi trabalha com a madeira, mas não abandona a experimentação. O resultado? As três alegres versões para a linha de mesas laterais Coninhas, variação das mesas Cone.

62

6

6


8 FAS A antiga lâmpada bulbo, hoje proibida, é a marca registrada do designer Ingo Maurer. A loja reune diversas interpretações contemporâneas do antigo modelo, utilizando LEDs em vez da lâmpada incandescente, mas mantendo a forma do bulbo. Não é sem razão que o designer é conhecido como o poeta da luz.

7

7 Empório Vermeil O banco “Carello” foi produzido pelo StudioCaaa com assinatura de Carlos Alexandre para a marca Schuster. Peça em MDF e aço inox (polido, fosco ou laqueado), com estofado revestido em tecido de algodão.

8

9 FIRMA CASA Os irmãos Campana mais uma vez surpreendem e encantam, agora em dose dupla: as coleções Cangaço (ver nesta edição) e a Capacho. Materiais totalmente diversos na base e revestimento – metal e couro, os primeiros, madeira e fibra de coco, a outra linha – e a mesma sensibilidade ao tratá-los. Lançamentos quase simultâneos, pontos de partida totalmente diversos – a coleção Capacho, composta por armários de madeira revestidos, que poderia parecer brutalista, é de um enorme refinamento. Ambas em edição limitada.

9

9 63


10 La Lampe A luminária Albert, de Jader Almeida, é minimalista em cada detalhe. Com estrutura metálica, em latão polido e envernizado, emite luz difusa.

11 MICASA A poltrona Karuselli, do designer finlandês Yrjö Kukkapuro para a Vitra, é um dos muitos produtos da marca que podem ser encontrada no espaço.

11

12

10

12 MONTENAPOLEONE O clássico carro de chá do finlandês Alvar Aalto ganha releitura de HellaJongerius com o TeaTrolley.

64


13 SCANDINAVIA DESIGNS Luminária da Norman Copenhagen composta por 69 peças feitas de material flexível. Criada em 1969, sua comercialização foi retomada em 2001 com a parceria do designer Simon Karkov. Recebeu o prêmio do Design Formand na feira IMM, Colônia, e espelha com perfeição a estética escandinava.

14 TOK&STOK

13

O que a marca entrega ao consumidor com a linha assinada por Maurício Arruda é uma filosofia que está na sua origem – atender a geração “jovem urbana”. A coleção traz de vasos em terracota a luminárias e mobiliário, como a cadeira Alcindo em destaque na foto.

15 VITRA 15

A designer holandesa Hella Jongerius acaba de lançar, na coleção Vitra, o sofá Polder. Sempre na vanguarda, especialista sempre atenta às cores, a Jongerius criou uma peça leve, de dimensões reduzidas e estofamento na medida do conforto, ou seja, sem os almofadões ultra macios, que são mortais em termos de ergonomia.

14

65


opinião

A maior riqueza do Brasil Totalmente sustentável, de fonte renovável, com alto valor de mercado e, ainda, pouco explorada: a criatividade brasileira Por Gian Franco Rocchiccioli*

A

última vez em que comemoramos, enquanto nação, o achado de uma grande riqueza natural, ela estava localizada a aproximadamente 7 mil metros abaixo do nível do mar: eram os reservatórios de petróleo da camada do pré-sal. Recentemente, ao ter contato com a tese defendida pela socióloga e jornalista norte-americana Virginia Postrel em seu livro The Substance of Style (A Substância do Estilo), comecei a me questionar se nossas reservas naturais se resumem realmente a apenas commodities. Será? A era do design

Em seu livro, Virginia defende que depois da “era da produção em massa”, inaugurada pela Ford no início do 66

século 20, da “era da conveniência”, criada pelo McDonald’s nos anos 1970, vivemos hoje o que ela chama de “era do design”, momento em que, virtualmente, tudo pode e deve ser apreendido com a experiência. Na opinião de Postrel, essa apreensão empírica determina nossa forma de ver o mundo e as coisas, incluindo carros, prédios, roupas, móveis, lojas, até os objetos mais simples como escovas de dentes e luminárias. Segundo sua visão, o grande ícone dessa nova fase é representado pela rede de cafeterias americana Starbucks. As cores sedutoras, uma música ambiente leve e o aroma de café impregnado no interior das lojas fizeram do simples ato de tomar café – independentemente de ser ele

bom ou ruim – uma experiência “multissensorial”. Não é novidade para ninguém que, nas últimas décadas, praticamente todos os setores da economia precisaram repensar seus negócios. Como decorrência direta dessa era de transformações, as empresas não só passaram a reconhecer a importância do conhecimento como insumo de produção, como também perceberam claramente o seu papel transformador no sistema produtivo. Além do capital, da matéria-prima e da mão de obra, as áreas estratégicas das empresas voltaram suas atenções para o uso das ideias como um recurso essencial para a geração de valor. De fato, a criatividade, ou a capacidade de inovar de forma


significativa, consolidou-se como o fator determinante da vantagem competitiva das empresas. Em praticamente todos os segmentos da economia, aqueles que conseguem criar e continuar inovando são os que obtêm sucesso por longo prazo. Na verdade, desde a revolução agrícola é assim. A diferença é que só recentemente as empresas passaram a reconhecer, de fato, a importância da criatividade e da inovação em seu planejamento estratégico. O primeiro mapeamento das Indústrias Criativas foi concebido e realizado pelo DCMS (Departamento de Cultura, Mídia e Esportes) do Reino Unido, no final da década de 1990. Seu objetivo era demonstrar que esse segmento da indústria possuía um vasto potencial de geração de empregos e riqueza. Valor Econômico

A partir de 2001, mais dois estudos trouxeram novas perspectivas para esse tema. O pesquisador John Howkins agregou ao método britânico uma visão empresarial baseada nos conceitos de propriedade intelectual, no qual, marcas, patentes e direitos autorais forneciam os princípios para a transformação da criatividade em produto. Em seguida, o professor Richard Florida aprofundou o entendimento a respeito dos profissionais que trabalhavam com processos criativos, a quem ele denominou de “classe criativa”. Além da representatividade numérica, seu estudo apontou as características sociais dessa nova classe de trabalhadores, assim como seu potencial de contribuição para o desenvolvimento. Uma década depois do lançamento da primeira metodologia sobre as indústrias criativas, a UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento publicou, em 2008, o primeiro estudo de abrangência internacional sobre o tema, e com foco direcionado a

entender o potencial das trocas comerciais. O trabalho conseguiu demonstrar que as exportações das indústrias criativas no mundo já superavam a incrível marca dos U$ 500 bilhões. No Brasil, esse movimento também se iniciou em 2008, quando, pela primeira vez, a FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - lançou seu estudo “A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”. O que se mostra surpreendente é que, ainda que o Brasil apresente desempenho abaixo da média internacional em uma série de indicadores importantes, como na área da educação, na distribuição da renda, etc., o PIB criativo brasileiro já é o quinto maior do mundo, algo em torno de 110 bilhões de reais (segundo dados de 2012), ficando atrás apenas dos EUA, Reino Unido, França e Alemanha.

Para se ter uma ideia do potencial dessa indústria, somente o PIB criativo dos EUA, país que lidera o ranking, atingiu em 2012 um valor de 1 trilhão de reais, ou seja, algo em torno de 25% do PIB total brasileiro. Estes dados nos mostram claramente que, dentre tantos setores da economia, a criatividade do povo brasileiro parece ser um de nossos recursos naturais mais valiosos, consolidando-se assim, cada vez mais, como uma excelente oportunidade de investimento para os próximos anos. Entretanto, algumas perguntas ainda permanecem: o que faremos com essas reservas? Será que continuaremos com a mentalidade de um país de commodities? Não seria a hora de deixar de teorizar e começar a praticar a ideia de transformar o Brasil no Vale do Silício da criatividade? É esperar para ver.

(*) Gian Franco Rocchiccioli é Chief Strategy Officer da Pande e Vice-Presidente da ABEDESIGN (Associação Brasileira das Empresas de Design). 67


opinião

Do sensível ao objeto cotidiano Uma educação que contempla a formação de novos olhares e a construção de novos saberes por intermédio da “cultura do design”. Por Débora Carammaschi*

A

“cultura do design” é voltada, sobretudo, para a experiência humana e para a inovação mercadológica, ressignificando as relações homem-homem e homem-máquina. Em seu caráter multidisciplinar, o design, atualmente, combina princípios construtivos e funcionais da Engenharia, o pensamento espacial e de composição da Arquitetura (e do universo das Artes) e as discussões de usos, função social, modos de vida, identidade, dentre outras, da Antropologia, da Sociologia e

68

da Psicologia e de todas as áreas que dizem respeito aos estudos do corpo e do homem, absorvendo também tópicos antes próprios das discussões de Gestão, Marketing e Comunicação. Sob uma economia majoritariamente de serviços e numa era marcada pela complexidade, o design se expande para além da lógica de projetação de produtos para se ocupar de serviços e ambientes, bem como de processos, modelos de gestão e inovação e até mesmo de estratégias, configurando-se como

uma nova abordagem, com suas diversas metodologias. Diante desse cenário, proliferam no mundo escolas de design, com orientações diversas e experiências singulares, mas com a tarefa comum de formar profissionais capazes de responder a essas demandas e desafios sociais e econômicos do século XXI. O design, como um dos modos de perceber o mundo, numa cultura predominantemente visual, vem transformando diferentes olhares, propondo novas conexões e


inter-relações a partir do entendimento do mundo contemporâneo. Cabe enfatizar que, nem por isso, o design escapa à lógica de produção de bens para o consumo. Como afirma Roland Barthes em sua autobiografia: “Em nossa sociedade mercantil, é preciso chegar a uma ‘obra’: é preciso construir, isto é, gerar uma mercadoria”. O autor evidencia por que os processos, em geral, são bem menos enfatizados do que as finalizações. Nesse sentido, numa nova abordagem da educação no campo do design, o saber e o saber fazer devem se desdobrar na construção de novos saberes, capazes de lidar com a carga simbólica dos produtos, serviços, ambientes e negócios dos quais se ocupam e refletir a subjetividade e os afetos do ser humano de seu tempo. Alguns desses novos modelos de educação enfatizam a sensibilidade do educando, por uma formação que estabeleça conexões com a vida cotidiana e que desenvolva conhecimentos, competências, habilidades, valores e atitudes do designer como agente mediador e transformador, que decodifica a realidade, promovendo e traduzindo novas linguagens e conteúdos, que irão impulsionar outras práticas criativas, em outros territórios da cultura.

A abordagem do design possibilita ao estudante elaborar outros fenômenos culturais, produtivos e midiáticos, bem como buscar propósitos e realizações que atendam a seus anseios e que o levem à autonomia como indivíduo e ao cumprimento de seu papel como ser social comprometido com os desafios da coletividade. Nessa concepção de ensino por intermédio de um projeto cultural de design, muitas etapas de pesquisa são percorridas e revelam a construção de criatividade e singularidade, com base em múltiplas vivências e experiências acumuladas. Há um fértil território da educação pela “cultura do design”, que permite reflexões e estímulos para a capacidade criativa humana, que transforma a cultura, a organização social e as formas convencionais de produção de conhecimento, modificando os sistemas produtivos, promovendo o desenvolvimento sustentável, respeitando e promovendo as pessoas e o ambiente. Por fim, é tarefa dessa nova educação despertar um olhar crítico sobre a “cultura do design”, explorando suas dimensões políticas para a construção de um novo perfil de indivíduo - cidadão e consumidor consciente.

IED O Istituto Europeo di Design, para marcar os dez anos de chegada ao Brasil em 2015, lançou, no início do ano, uma carta aberta à sociedade brasileira intitulada “Futuro-presente – um novo olhar e um compromisso com a educação de qualidade”. O documento apresenta uma visão para a próxima década e compartilha dez conceitos que definem a visão sobre o ensino do design da faculdade: 1) Pensar visualmente. 2) Pensar nas pessoas. 3) Conectar-se. 4) Compreender realidades e resolver problemas. 5) Explorar o mundo e inspirar-se. 6) Pensar e agir local e globalmente. 7) Empreender. 8) Comunicar. 9) Agir com Ética e responsabilidade para um mundo sustentável. 10) Gerar inovação pela criatividade. A íntegra da carta pode ser encontrada no link http://ied.edu. br/arquivos/carta.pdf. O texto serve como uma ampliação dessa discussão sobre a educação e o papel do design e dos designers na sociedade contemporânea.

(*) Débora Carammaschi é Diretora Acadêmica do Istituto Europeo di Design – IED Brasil


design brasileiro

PARA ALÉM DAS COMMODITIES Os principais aliados para conquistar e garantir espaço no mercado internacional? Inovação, design e qualidade. O Brasil precisa vender ao mundo o que tem de mais valioso: sua cultura, sua grande diversidade e principalmente a criatividade atrelada a uma indústria que procura se reinventar constantemente. Essas são as ferramentas que permitirão materializar os requisitos tão desejados em produtos para a conquista do mercado externo. Com elas será possível fazer uma revolução. Matéria produzida a partir de texto fornecido pelo Centro Brasil Design

70


D

ecidida a apoiar as empresas brasileiras no desenvolvimento de produtos inovadores e de bom design voltados à exportação, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) investiu no programa Design Export. Sob gestão do Centro Brasil Design (CBD), a iniciativa oferece à indústria nacional uma metodologia que insere o design no processo de desenvolvimento de novos produtos. Simples, didática e objetiva, a metodologia desenvolvida pelo CBD dá às empresas melhores condições para competir no agressivo e exigente mercado internacional. A competição globalizada exige que as empresas lancem novos produtos continuamente, o que ainda é visto pelos empresários como algo empírico. Mas, felizmente, agora, este processo pode ser aprendido e seguido a partir de uma metodologia que o gerencia, assim como os riscos do lançamento de um novo produto. O trabalho tem início com consultorias individualizadas em gestão do design nas empresas, objetivando não apenas o desenvolvimento de novos produtos, mas especialmente, a criação de uma cultura organizacional de inovação e design. Os consultores orientam os empresários em todas as etapas do processo, da identificação de uma oportunidade de inovação, à seleção de um escritório de design apto a atender a demanda, até a implantação do projeto na linha de produção, oferecendo sempre subsídios e ferramentas necessárias à gestão do processo, como briefing, ficha de requisitos, contrato etc. Os participantes do programa têm acesso a recursos financeiros para apoiar a contratação dos serviços de desenvolvimento do produto inovador.

Ao longo dos dois últimos anos, 100 empresas participaram do Design Export. São empresas de 21 setores industriais, distribuídas por 60 cidades, em 7 estados brasileiros. Destas, 62% contrataram serviços de design pela primeira vez. “O programa tem dado excelentes resultados em termos de qualificação das empresas e seus produtos, possibilitando maior acesso e competitividade no mercado internacional. As primeiras 14 empresas abrigadas no programa, que já lançaram novos produtos, apresentaram um aumento de 57% em suas exportações de janeiro a setembro de 2014, em relação ao mesmo período em 2013” contabiliza Marcia Nejaim, Gerente Executiva de Competitividade e Inovação da Apex-Brasil. Saber utilizar o design como ferramenta estratégica é um dos lemas principais do Design Export. Letícia Castro, Diretora Executiva do CBD, aponta que “o diferencial do programa é realizar, na prática, o que muitos projetos apresentam apenas na teoria – metodologia que permite a inserção do design na política empresarial para o desenvolvimento de soluções inovadoras, garantindo a criação de uma cultura para inovação na indústria nacional”.

A disseminação dos resultados gera como consequência a sensibilização de outras empresas para a inovação e maior percepção da contribuição que o profissional do design pode agregar às empresas. Segundo Ana Brum, Diretora Técnica do CBD, “percebe-se que o tema design pode ser absorvido e praticado por qualquer empresa, independente do seu porte, segmento ou localização geográfica. Permeabilidade e a importância do design como ferramenta para a inovação e busca por novos mercados são, então, as palavras de ordem”.

Ao longo de mais de 16 anos de atuação junto à indústria brasileira, o Centro Brasil Design (CBD), identificou gargalos e dificuldades confrontados pelos empresários para inserir o design na cultura empresarial e fazer com que a inovação pelo design seja uma prática organizacional e produza resultados positivos e sólidos para os negócios. A partir desta demanda detectada, desenvolveu e registrou a metodologia Design na Prática® com o intuito de estimular a relação entre designers e indústria, além de disseminar a compreensão da importância da gestão do design nas empresas.

71


Eboat Mobilidade sustentável: um meio de transporte aquático 100% elétrico e movido por energia limpa e renovável

SiliconReff Empresa pernambucana cria estação urbana para recarga de energia O projeto traz uma solução prática e sustentável para quem precisa recarregar celulares e aparelhos móveis. A estação de recarga da SiliconReef, empresa especializada em criar soluções e projetos tecnológicos aliados à sustentabilidade energética, é baseada em um totem com conectores para seis celulares ou dispositivos móveis. A energia necessária para carregar esses aparelhos é capturada pelo painel solar e armazenada em uma bateria estacionária. A ideia é que a estação seja instalada em praças públicas, orlas, parques e outros lugares estratégicos. Além de trazer uma solução para um problema recorrente, a estação agrega valor ao ambiente graças à sua qualidade formal. O projeto também assegura boa usabilidade e facilidade na montagem e manutenção da peça. A Spark design & innovation foi a empresa responsável pelo design da estação, atuando junto aos empreendedores no âmbito do programa Design Export. Para Marília Lima, da SiliconReef, o programa proporcionou a criação de um produto com design inovador e de alto impacto. “Esses aspectos têm facilitado a promoção da estação e aumentado as chances de venda. A partir desse produto, novas demandas estão surgindo. Além da alavancagem comercial, o Design Export também nos deu acesso a fornecedores de alta qualidade, fato que ampliou nossa visão estratégica em relação ao design de produto”, detalha a executiva. 72

Fundada em 1977, a Eicomnor destaca-se por sua expertise na área de engenharia, principalmente envolvendo obras marítimas, fluviais e portuárias. Buscando ampliar sua área de atuação, a empresa vislumbrou a possibilidade de associar seus conhecimentos de engenharia, infraestrutura e mobilidade aquática. “Participando de fóruns sobre mobilidade, diante da nossa expertise, fomos convidados para o grande desafio de produzir um barco”, conta Walter Moreira Lima Filho, da Eicomnor. Através do Programa Design Export, a equipe da A Spark design & innovation foi selecionada para apoiar a Eicomnor na nova empreitada. Ao invés de utilizar combustível fóssil, como diesel, o Eboat adota um sistema de painéis solares para gerar a energia necessária a seus motores. Para ajudar na venda da embarcação para prefeituras e empresas de transporte, públicas e privadas, foi proposto um design inovador. “O projeto do Eboat reúne todos os aspectos que o produto expressa: inovação, tecnologia e sustentabilidade”, explica o designer Hugo Honijk. O processo de criação e desenvolvimento do Eboat foi aprovado por Walter e sua equipe. “Participar do Design Export foi ótimo, especialmente por se tratar de um produto tão complexo como o nosso, e nos ajudou muito no momento crucial de definir as diretrizes do projeto”, conclui o empresário.


Redesenho de cabines de comando para equipamentos de elevação e transporte A Bardella, empresa fundada em 1911, ocupa uma posição de destaque no Brasil e no exterior com o fornecimento de equipamentos para os setores industriais de metalurgia, energia, petróleo, gás e movimentação de materiais. “Identificamos a necessidade de melhoria em alguns desses equipamentos e surgiu a ideia de redesenhar as cabines de comando dos nossos equipamentos de elevação e transporte. Por indicação de associações do nosso setor, integramos-nos ao Programa Design Export e iniciamos os trabalhos com o apoio da equipe da Chelles & Hayashi”, conta Ticao Siguemoto, gerente de tecnologia da Bardella. “A cabine de comando de um equipamento de elevação e transporte é apenas um detalhe em um conjunto de múltiplas tecnologias, entretanto, impacta significativamente na segurança e na eficiência da operação, bem como na saúde e no bem-estar do operador. Ela tem potencial para agregar valor e diferenciação ao equipamento”, explica Gustavo Chelles, que liderou o projeto de design. Esses equipamentos, pela própria natureza dos trabalhos que executam, exigem muita habilidade, esforço físico e mental e um alto grau de responsabilidade por parte do operador. Qualquer erro pode implicar grandes prejuízos de ordem humana e material. “Descobrimos que as dimensões da cabine podem variar bastante, dependendo do tipo de aplicação e dos componentes nela instalados. Conforto e ampla visibilidade são essenciais, além de vários outros requisitos técnicos”, explica Gustavo. A Chelles & Hayashi apresentou três propostas de design à Bardella, norteadas pelos conceitos de robustez, confiança e tecnologia. “Realizamos uma revisão estética, ergonômica e hierárquica de funções. Um grande diferencial foi a inclusão de um banheiro químico. Os operadores costumam ficar bastante tempo dentro da cabine, muitas vezes suspensos a mais de 50 metros acima do nível do solo. O principal desafio foi transformar o produto sem gerar grandes impactos em seu custo”, ressalta Gustavo. O projeto envolveu um grupo multidisciplinar de trabalho integrado por funcionários da Bardella e da Chelles & Hayashi. Após a aprovação do conceito, os

esforços estão concentrados em viabilizar sua produção. A Bardella planeja registrar a patente da nova cabine, construir um protótipo e utilizá-lo como um simulador para treinar operadores, oferecendo mais um serviço diferenciado aos seus clientes. “Considerando que essa foi a primeira vez que trabalhamos com uma equipe de design, podemos dizer que a experiência foi excelente e valiosa. Rompemos um paradigma interno, comprovando que os conceitos de design podem ser aplicados na concepção do projeto dos nossos equipamentos”, finaliza Ticao. A satisfação pelo resultado alcançado por esse projeto também foi compartilhada por Gustavo Chelles e sua equipe. “É muito gratificante quando uma empresa que nunca trabalhou com um escritório de design reconhece o valor do nosso trabalho e está comprometida em dar continuidade ao desenvolvimento do produto”.

73


Pande

Fundada em 2002, atua no campo do design estratégico, auxiliando empresas nas atividades de Estratégia, Expressão e Cultura de Marca. Várias vezes vencedora do prêmio ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), também foi contemplada nos prêmios Colunistas (2012) e no Festival Brasileiro de Publicidade (2014).

Construir marcas e transformar negócios Lembra da criatividade? Sim, a tal. Cada vez mais ela vem se transformando de momento da euforia de mentes brilhantes para ferramenta do cotidiano de grandes corporações. De nossa origem no design, herdamos a criatividade como meio, de nossa visão estratégica e mercadológica aplicamos a criatividade em todos os processos de definição e construção de marcas. E, por mais que isso soe como contrassenso, a criatividade pode ser direcionada, guiada por uma estratégia e mesmo assim ser livre, por que se libertar de conceitos pré-estabelecidos é o primeiro passo para inovar. Para libertá-las, retiramos as pessoas de suas 74

zonas de conforto e as desafiamos a questionarem temas que não dominam, repensarem os que dominam e compartilharem meias ideias ou ideias absurdamente bizarras. Assim, construímos soluções coletivas, criativas, economomicamente viáveis e capazes de gerar competitividade para suas marcas, sem nunca perder de foco seu propósito. Hoje, com a velocidade com que a economia se movimenta, não há mais tempo para esperar que as ideias brilhantes surjam de repente, elas precisam ser construídas, prototipadas e implementadas de forma ágil e isso só é possível quando a criatividade passa a fazer parte da cultura das empresas.

Estratégia no centro da criação. Criação no centro da estratégia


O QUE ELES ESTテグ FAZENDO? www.pande.com.br

75


Fetiche Criado em 2008 por Carolina Armellini e Paulo Biacchi, o estúdio tem foco no desenvolvimento de produtos para os mercados moveleiro, de iluminação e acessórios para casa. Com vários prêmios de design, nacionais e internacionais, a dupla assina coleções para marcas como Tok&Stok, La Lampe, Florense, Schuster, Artefacto, Holaria e Schattdecor.

Produtos de baixa tecnologia, com alta inspiração Nosso trabalho sempre fez um paralelo entre o industrial e o artesanal. Percebemos que o caminho possível seria pela baixa produção e que poderíamos fazer um LOWTECH com cara de HIGHTECH, procurando acabamentos que entregassem essa promessa. Encontramos nossa própria identidade, um híbrido entre o industrial e o artesanal. Acreditamos que o design contemporâneo vive uma dualidade: de um lado existe um incentivo desenfreado pelo consumo e produção de itens de alto valor, com ciclo de vida curto e descarte rápido. São recursos, insumos, matérias-primas que viram lixo rapidamente. Na paralela, o resultado de um movimento, que valoriza o feito à mão, o processo e, principalmente, a história e contexto do produto. Hoje criamos coleções para a indústria e também mantemos o trabalho laboratorial com o FETICHE, o que nos alimenta trazendo novas experiências estéticas e novos materiais.

76

Abaixo, vasos Lily, em cerâmica para Holaria. À direita, luminárias Guarda Luz realizadas para MAM, SP, 2013; cadeira Gracia, em madeira e aço, produção Artesian, 2014; no alto, cadeira Exo, concha em couro, para Schuster, 2011


O QUE ELES ESTテグ FAZENDO? www.fetichedesign.com.br

77


Sérgio Matos

Nascido em Paranatinga, Mato Grosso, Sérgio Matos tem um vínculo afetivo e declarado pelo Nordeste, onde mora e se formou em design de produto na Universidade Federal de Campina Grande, Pernambuco. Seu trabalho já foi reconhecido em prêmios como o Design Excellence Brazil (2011); iF Product Design Award (2012) e Be Open (2014).

Design feito à mão, com os pés na brasilidade O feito à mão trama a força dos produtos referendados pela identidade brasileira. Os pés? Fincados no solo que abrigam as inspirações, e o designer logo incorpora a alma do lugar. Paraibano, pernambucano, amazonense... Para Sérgio Matos, o Brasil multicultural é a sua casa, morada para a criação das peças com densidade simbólica. A originalidade contrasta com o universo tecnológico de produção massiva e abre rotas para o resgate do luxo artesanal, da peça única que alimenta um design com o valor patrimonial do material e imaterial. “Temos orgulho de atar ao intrincado balé dos fios um registro de histórias marcadas pelas tradições. A cultura é matéria-prima essencial”, afirma. A fusão do design com o artesanato estabelece uma fórmula que resguarda as referências de pertencimento, a imersão nos saberes e fazeres ancestrais e a valorização da matéria-prima do entorno projetam a transformação social e econômica dos grupos envolvidos, sem apagar as digitais da originalidade.

Trechos extraídos do texto original de Raquel Medeiros

78

À direita, cadeira Trancelim, em aço e corda naval, é referência à dança homônima, típica das cidades cearenses de Barbalha, Crato e Juazeiro. Abaixo, no Banco Pião, Matos explora o universo do Movimento Armorial de Suassuna e desemboca no território da feira livre, tomado pelas artes e ofícios do Sertão

Na página ao lado, imagens do Projeto Brasil Original – iniciativa do Sebrae Amazonas, com consultoria do estúdio do designer –, que soma as belezas da natureza à cultura das comunidades indígenas e ribeirinhas dos municípios de São Gabriel da Cachoeira e Barcelos


O QUE ELES ESTテグ FAZENDO? sergiojmatos.blogspot.com.br

79


cOlAborAdores Andrew Dent, vice-presidente da Material Connexion, supervisiona todas as materiotecas internacionais da empresa. É PhD em ciência dos materiais pela Universidade de Cambridge, Inglaterra. Pesquisador e especialista em inovação de materiais, tem diversos livros e artigos publicados na área de materiais e em diversas disciplinas do design.

DÉBORA CARAMMASCHI é diretora acadêmica do Istituto Europeo di Design - IED Brasil. Pesquisa moda e cultura contemporâneas. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura; especialista em História da Indumentária e da Moda, com Licenciatura Plena em Imagem Pessoal e graduação em Serviço Social. Escritora e articulista da revista dObra[s]. Participou da edição do livro “Bonita – Maria do Capitão”, prêmio Jabuti 2012.

Gian Franco Rocchiccioli designer, com formação também em Publicidade. Atua como especialista em estratégia, criação e gestão de marcas. É sócio e diretor da Pande e vice-presidente da ABEDESIGN, Associação Brasileira das Empresas de Design.

Luciane Stocco é designer gráfica, ilustradora e fotógrafa. Pós-graduada em Comunicação Audiovisual pela PUC/PR com tese em semiótica da imagem. Cursou “Teorias da História da Arte” do programa de Pós-Graduação em Artes Visuais/ Mestrado do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Nesta edição, desenhou várias matérias reforçando a equipe de arte.

ROMA EDITORA, PROJ DE MARKETING

Rua Barão de Capanema 343, 6º andar, CEP: 01411-011, São Paulo, SP

Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda. ARC DESIGN Roma Editora, Projetos de Marketing Diretores Cristiano S Barata Maria Helena Estrada Diretora/Editora Maria Helena Estrada Publisher Cristiano S Barata

80

Textos Andrew Dent, Gian Franco Rocchiccioli, Débora Carammaschi, Maria Helena Estrada, Vanda Mendonça Revisão Colmeia Ideias falecom@ colmeiaideias.com.br

Projeto Gráfico Fogo Design

Edição de arte e design Cibele Cipola e Luciane Stocco Circulação e Assinaturas Rita Cuzzuol Contatos Editora mh@arcdesign.com.br

Redação redacao@arcdesign.com.br

Comercial e Marketing publi@arcdesign.com.br cbarata@arcdesign.com.br

Assinaturas assinatura@arcdesign.com.br

Telefone 55 (11) 3061-5778

www.arcdesign.com.br Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia da ARC DESIGN, não serão devolvidos.


como encontrar A Casa Museu do Objeto Brasileiro www.acasa.org.br (11) 3814-9711 A Lot Of Brasil www.alotofbrasil.com (11) 3459-2700 Alfio Lisi www.alfiolisi.com.br (19) 3571-6255 Angela Carvalho www.acarvalho.net.br APEX Brasil www.apexbrasil.com.br (61) 3426-0202 Atec www.atec.com.br (11) 3056-1800 Butzke www.butzke.com.br (47) 3312-4000

Design Santa Catarina www.scdesign.org.br (48) 3665-4894

La LampE http://www.lalampe.com.br/ (11) 3069-3949

Docol www.docol.com.br

Leo Romano www.leoromano.com.br (62) 3086-1965 | 3945-4870

Domingos Totora www.domingostotora.com.br (35) 9134-1997 Dpot www.dpot.com.br (11) 3082-9513 Eicomnor www.eicomnor.com.br (81) 3339-3413 EM2 www.em2design.com.br (21) 2249-4379 Empório Vermeil www.emporiovermeil.com.br (11) 3086-1551

Campana www.campanas.com.br

Fas Iluminação www.fasiluminacao.com.br (11) 3086-1661

Carbono Design www.carbonodesign.com.br (11) 3815-1699

Fernando Prado www.lumini.com.br (11) 3437-5555

Carlos Alcantarino www.alcantarino.com (21) 2227-1028

Fetiche www.fetichedesign.com.br fetiche@fetichedesign.com.br

Carol Gay www.carolgay.com.br (11) 99193-4574

Firma Casa www.firmacasa.com.br (11) 3385-9595

Carolina Haveroth www.carolinahaveroth.com.br (48) 3623-6500

Freddy Van Camp www.facebook.com/freddy. vancamp

Casual www.casualmoveis.com.br (11) 3061-0554

Grendene www.grendene.com.br

CENTRO BRASIL DESIGN www.cbd.org.br (41) 3018-7332 Chelles & Hayashi www.design.ind.br (11) 5573-3470 COD www.codbr.com Crama Design www.crama.com.br (21) 2512-8555 Cultivado em Casa www.cultivadoemcasa.com cultivado@cultivado.com.br Decameron www.decamerondesign.com.br (11) 3097-9344

Grupo Alva www.grupoalva.com.br (11) 5512-2067 Guto Indio da Costa A.U.D.T www.indiodacosta.com (21) 2537-9790 IED www.ied.edu.br (11) 3660-8000 IF Design Award www.ifdesign.de Jader Almeida www.jaderalmeida.com (48) 3333-8126 | 3223-3787 Jorge Lopes www.facebook.com/nextdesign. puc-rio

Luiz Pedrazzi www.studiopedrazzi.com luizpedrazzi@gmail.com Made www.mercadodeartedesign.com contato@mercadodearte.com Marché www.marcheartdevie.com.br (11) 3853-9761 Márcio Kogan www.studiomk27.com.br (11) 3081-3522 Masisa www.masisa.com.br Material Connexion www.materialconnexion.com Megabox Design www.megaboxdesign.com.br (41) 3672-3663 Melissa www.melissa.com.br

Salone Del Mobile www.salonemilano.it Sasson www.facebook.com/ronald. scliarsasson Scandinavia Designs www.scandinavia-designs.com.br (11) 3081-5158 Sebrae-MG www.sebraemg.com.br Sérgio Matos sergiojmatos.blogspot.com (83) 3066-4390 SiliconReef www.siliconreef.com.br (81) 3419-6739 Spark Design & Innovation www.sparkdesign.nl Terra Vixta www.terravixta.com terravixta@gmail.com Tok&Stok www.tokstok.com.br Vitra www.vitra.com (11) 3478-7111

Micasa www.micasa.com.br (11) 3088-1238 Montenapoleone www.montenapoleone.com.br (11) 3083-2300 Mula Preta www.mulapretadesign.com (84) 4141-7518 Next-Puc/RJ www.next.dad.puc-rio.br (21) 3527-2157 Pande Design www.pande.com.br (11) 3849-9099 Passado Composto www.passadocomposto.com.br (11) 3064-0805 Philips www.philips.com.br Ricardo Graham www.oebanista.com.br (22) 2542-2676 Roque Frizzo www.roquefrizzo.com.br (54) 3419-2077

81


últiMA pÁgina

A ÁRVORE DA VIDA Totem símbolo do Pavilhão Italiano na Expo 2015, Milão, segue o desenho da praça “michelangiolesca”, do Campidoglio de Roma. Idealizada pelo produtor de eventos veneziano, Marco Balich, também diretor artístico do Pavilhão da Itália, tem 35 metros de madeira e aço entrelaçados e oferece incríveis espetáculos luminotécnicos. Já é conhecida como a Torre Eiffel do Terceiro Milênio


nova edição, ampliada e com muitas inovações!! + App “Index Design Brasil” Novembro 2015. Os novos caminhos do design e o melhor do design no Brasil! Sua participação é indispensável!! Envie-nos informações de seus projetos e produtos. Fale conosco: index@arcdesign.com.br


TÁ FALTANDO DESIGN NA SUA CASA? NA TOK&STOK TEM.

DESIGN São Paulo • Balneário Camboriú • Barueri • Belo Horizonte • Brasília • Campinas • Curitiba • Florianópolis • Fortaleza • Goiânia • Guarulhos • João Pessoa • Londrina • Maceió • Niterói • Porto Alegre • Recife • Ribeirão Preto • Rio de Janeiro • Salvador • Santo André • São José do Rio Preto • São José dos Campos • Sorocaba • Uberlândia • Vitória tokstok.com.br | 0800 7010 161 facebook.com/tokstok

twitter.com/tokstokonline

instagram.com/tokstok

pinterest.com/tokstok


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.