Revista ARC DESIGN Edição 78

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design | arquitetura | inovação | sustentabilidade

| N.º 78 | 2014 | R$ 24,50 |

Design Brasil

Ideias e ações

OURIVES DA MADEIRA

I SALONI UM NOVO OLHAR

O QUE ELES ESTÃO FAZENDO? Heloísa Crocco

Domingos Tótora Guto Requena Crama Fred Gelli QuesttoINó Campana

Lina


LINA BO BARDI DESCOBRINDO NOSSAS RAÍZES CULTURAIS Foi necessário, por volta dos anos 1960, um olhar estrangeiro, o da italiana Lina, para penetrar nossa essência e peculiaridades, a originalidade nascida da mistura de raças, o fazer primitivo, (ela os chamava de pré-artesanato), que são a fonte e sobrevivência da cultura brasileira, em todos os níveis e modos. Seu mobiliário, e a posterior negação do design por este ter se tornado “instrumento a serviço da burguesia”, mostram a radicalidade em defesa de um projeto genuinamente brasileiro. “O móvel também tem sua moralidade e sua razão de ser, na sua própria época”, afirmava a Bardi. “As cópias dos estilos passados, as franjas, são indícios de mentalidades incoerentes, fora da moralidade da vida.”

Na capa, foto de Bob Wolfenson, da década de 1980. Quando perguntada, na ocasião, sobre qual o objeto mais precioso que tinha em casa, respondeu colocando na palma da mão a pequena lamparina.

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editorial

A

RC DESIGN, renovada, alia-se aos conceitos que, hoje, regem o design. Ideias que servirão, ou já servem, como guias para o design contemporâneo. É o caso da TOG, plataforma “open source” que permite ao cliente interagir com o objeto escolhido.

No Salão do Móvel, a sugestão a posteriori é para não nos contentarmos com o que ele oferece de material – dos móveis às cozinhas – mas procurarmos o imaterial, as diversas manifestações que anunciam o futuro do design. Ainda no plano teórico, a ARC DESIGN publica dois artigos que anunciam as novas posturas no campo do projeto: “A Inovação pelo Significado”, uma via diversa de atuação, e a “Internet das Coisas”, que anuncia um novo mundo de oportunidades. No âmbito internacional, temos Paolo Ulian, um jovem mestre italiano, e Bertjan Pot, a sensibilidade holandesa aliada à tecnologia. No design brasileiro, ineditismo: novas perspectivas nos trazem obras e pensamentos de alguns de nossos melhores criadores; os “Ourives da Madeira”, uma visão certeira e indispensável para o uso deste nobre material; o robô brasileiro, criação do designer/cientista/pesquisador Jorge Lopes e sua equipe na PUC/RJ. Uma sugestão imperdível, passear no Trem da Vale, percurso turístico entre Ouro Preto e Mariana, projeto que requalifica nossa herança cultural e estabelece um programa continuado de educação patrimonial. Mas, pensar em vanguarda e na inteligência do projeto – tema prioritário da ARC DESIGN – é falar de Lina Bardi. Leiam o arquiteto Marcelo Ferraz, seu “pupilo” e, como nós, permanente admirador do pensamento e obra da Bardi. Boa leitura! Maria Helena Estrada Editora

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ÍNDice

jun/jul/ago | 2014 | Nº 78

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18. SALÃO DO MÓVEL

O mundo está mudando muito – e com ele o design. Encontre alguns rumos anunciados pelo Salão do Móvel 2014.

E BERTJAN 24. ULIAN Design holandês e italiano em confronto. Duas sensibilidades, duas vertentes contemporâneas. Paolo Ulian e Bertjan Pot, tipologias tradicionais tratadas com um olhar contemporâneo

32. OURIVES DA MADEIRA

Móveis trabalhados com o mesmo cuidado que merece um material precioso. A produção de três mestres designers que trabalham a madeira com sabedoria e respeito.

40.

48.

32 40

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LINA BARDI O arquiteto Marcelo Ferraz, colaborador de uma vida, relembra a mestra Lina Bardi, seus projetos, suas ideias, suas palavras. Lina é nossa homenageada nesta edição da revista que procura, inspiradas por ela, trazer novas ideias para o cenário cultural

JORGE LOPES Manufatura digital ou 3D, que no seu início tinha apenas luminárias em plástico incolor, teve seu clímax com Ron Arad em grandiosa instalação no Salão do Móvel. Hoje conta com um brasileiro que, entre outros equipamentos, criou o primeiro robô móvel para impressão 3D.

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52.

56.

INOVAÇÃO PELO SIGNIFICADO É o mundo sensível a “mola” para chegarmos à inovação. Objetividade, frieza e cálculos precisos não substituirão o valor da sensibilidade para a criação de novos modelos. Pessoas sensíveis e “antenadas” captam e traduzem melhor a realidade

A INTERNET DAS COISAS Um novo conceito é visto por muitos como a grande revolução capaz de abrir enormes oportunidades para mentes criativas e empreendedoras. Grandes empresas investidoras já estão de olho nesse mercado. É ler para crer.

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58. COMO ELES ESTÃO PENSANDO O QUE

ELES ESTÃO FAZENDO O pensamento, o sonho e o fazer de seis designers brasileiros famosos. Da pesquisa que se desdobra em objetos, às fontes primitivas da natureza, do Brasil, de Roma...

76. TREM DA VALE

O trajeto entre Ouro Preto e Mariana. Um olhar curioso ao passado, um patrimônio a ser recuperado e a memória que aflora, dá lugar a um projeto cultural e turístico criado por dois arquitetos mineiros. Vale a leitura... e o passeio.

03. Editorial 06. Colaboradores

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08. News 12. Acontece 30. Homenagem Sergio Rodrigues 46. Notas 81. Endereços 82. Última página 5


cOlAborAdores Valter Pieracciani Fundador e sócio-diretor da Pieracciani – Gestão como Arte, dedicada a desenvolver a cultura da inovação e gestão do conhecimento nas empresas. Representa, no Brasil, a metodologia da Inovação pelo Significado desenvolvida pelo Prof. Roberto Verganti, do Politécnico de Milão e Harvard Business School.

Jorge Lopes Designer e pesquisador, especializado em manufatura digital. É professor de pós-graduação da PUC-RJ e também coordenador do Núcleo de Experimentação Tridimensional – NEXT, além de pesquisador no INT – Instituto Nacional de Tecnologia. É PhD em Design Products pelo Royal College of Arts, Londres, tornando-se assistente de Ron Arad, encarregado de desenvolver suas peças de série única.

FERNANDO MENDES Arquiteto e designer, considera-se discípulo de Sergio Rodrigues, em cujo atelier trabalhou por sete anos. Adepto das técnicas artesanais e de acordo com a tradição, no uso da madeira, sua cadeira preferida é a Aviador, classificada em primeiro lugar no Prêmio Museu da Casa Brasileira, em 2012.

Isabela Vecci e Samy Lansky Arquitetos mineiros são os responsáveis pelo Projeto Trem da Vale, de educação patrimonial e resgate cultural, com a restauração da linha ferroviária Ouro Preto – Mariana, e das respectivas áreas das estações e de suas sedes, incluindo a memória patrimonial.

Vanda Mendonça Jornalista especializada em design, arquitetura e interiores. Profissional com grande experiência, atuou nos principais veículos do setor e também como docente.

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Marcelo Ferraz Acompanhou Lina Bardi em todos os seus projetos de arquitetura. Hoje, seu escritório, Arquitetura Brasil, que tem como sócio Francisco Fanucci, tem realizado grandes obras, como a Praça das Artes, SP e o Museu Rodin, em Salvador. Designer, fundou, sempre com Vanucci, o estúdio e loja Marcenaria Baraúna, onde comercializa as cadeiras realizadas com Lina Bardi.


COLEÇÃO ETEL NO ARMAZÉM DA DECORAÇÃO

Linha Alva, por Marcelo Alvarenga e Susana Bastos

Rua 90, 174

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Setor Sul

www.azdecor.com.br

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news

O que você quiser... ela faz Este material é a cortiça, e Portugal é seu maior produtor. E ela chega ao Brasil por meio da Associação Portuguesa da Cortiça. Da rolha dos mais preciosos vinhos aos revestimentos das cápsulas dos foguetes espaciais, a cortiça está presente, além de ser utilizada em bolsas, sapatos, móveis, moda, até em um guarda chuva. Na arquitetura, Álvaro Siza revestiu o prédio da Quinta do Portal, no Douro, e Herzog e De Meuron a utilizaram na Serpentine Gallery, em Londres. A qualquer tarefa ela se adapta. O que é a cortiça? É a casca da árvore Sobreiro (uma espécie de carvalho), pronta para ser utilizada 25 anos após ter sido plantada! E depois, a cada nove anos, renovada, fornece de novo a cortiça. Mais ecológica impossível. www.corquedesign.com

As voltas da luz

Pedra-sabão Isabela Vecci, arquiteta e designer de Belo Horizonte trabalha com a pedra-sabão aplicada ao design contemporâneo. Uma pedra-sabão muito especial, que tem seu polimento bem dosado, conservando a opacidade e a textura da pedra, trabalho realizado na própria jazida. Em suas novas criações, como na mesinha Tigela, Isabela incorpora o metal banhado em latão, na estrutura. 8

A Knick Knack é uma luminária da coleção IMAGINE LED, da Philips, comercializada com exclusividade pela LabLuz. A peça de chão foi inspirada em uma animação de Osvaldo Cavandoli nos anos 1970, na qual uma única linha – La Linea – desenvolve a ação. Mas a “dança” desta luminária – cujo nome também pertence a um curta de 1989 da Pixar – vai além da sua função original. Com dimmer integrado, possui articulações que conferem flexibilidade funcional e estética à peça, que pode ser configurada em até 16 posições e oferece cinco opções de cor em tons vibrantes. www.labluz.com.br


Puro design Conhecida no mercado por apostar no design diferenciado, a Cinex firmou parceria com o Studio Adriano Design para desenvolver uma nova coifa. Além do desenho inovador, este depurador é o primeiro do mercado com sistema de filtragem em 360º - filtra o ar com maior eficiência e menor ruído, “A PURA chama atenção por atender a todos os requisitos de funcionalidade e ainda ser uma peça decorativa”, diz César Cini, presidente e fundador da Cinex. É feita sob medida, o que permite a personalização em diversos tons. www.cinex.com.br

Abrangendo outros brasis Humor e liberdade no banco Serpentina, criação do estúdio Mula Preta, assinado pelo arquiteto Felipe Bezerra com o designer André Gurgel, em Natal, RN. Tubos metálicos inspirados nas geladeiras, com pintura eletrostática. Lançado em 2012, chega agora ao Rio de Janeiro, na loja Área Útil. Livre pensar? Uma atitude fundamental para a inovação. www.autil.com.br

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news Arte e inovação Tapetes em resina de poliuretano com desenhos minimalistas, na verdade aquarelas “no limit”. Conversando com o design, a arte e a tecnologia aplicada aos novos usos dos materiais, a Resin Floor e Henning Kaumau, jovem designer alemão diplomado na Escola Bauhaus, se uniram na criação de tapetes de alta resistência, para uso interno ou externo. Informações pelo telefone (11) 995 19 62 71

Formas lúdicas Conhecida como uma loja de design high-end, a Firma Casa incorporou à sua coleção os produtos da linha Espuma, criação de André Bastos e Guilherme Leite Ribeiro, do estúdio Nada Se Leva. Mesas de centro e lateral ganham apoios variáveis conforme o desenho e dimensão do seu aro, além de espelhos e suportes de parede, evocando de forma lúdica as bolhas de espuma sob o reflexo do sol. Nos acabamentos sobre latão, ouro velho ou dourado polido. www.firmacasa.com.br

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Fitas exclusivas Os irmãos Fernando e Humberto Campana, sempre fiéis a seus princípios, criaram um painel exclusivo para a Masisa. Sua superfície escultórica é uma adaptação do conceito usado pelos designers para um biombo feito a partir de fitas de papelão. Os novos painéis, disponíveis nas versões Fitas Ouro e Fitas Preto, têm produção limitada e serão destinados a mobiliário e revestimentos em projetos de interiores. O produto foi lançado oficialmente durante a ForMóbile, realizada recentemente na capital paulista. www.masisa.com.br

Amor Perfeito Balanço Amor Perfeito, da Marcenaria Baraúna tem projeto de Cláudio Correa, designer da empresa. Para ser usado por duas pessoas, tem assento em planos inclinados, alternados, e estrutura em Cabreúva e Ipê, maciços. A instalação, nos jardins do Museu da Casa Brasileira, integra a programação do Design Weekend e permanece por mais um mês. www.barauna.com.br

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acontece

interiores

Arquitetura Expositiva A arquiteta italiana radicada no Brasil, Lina Bo Bardi completaria cem anos em dezembro deste ano. Uma das muitas homenagens dedicadas a ela em todo mundo está no Museu da Casa Brasileira (MCB), de São Paulo. “Maneiras de expor: arquitetura expositiva de Lina Bo Bardi” fica no MCB até 9 de novembro. O projeto tem curadoria de Giancarlo Latorraca, diretor técnico do Museu, e apresenta os diversos sistemas expositivos e mostras desenvolvidas ao longo da carreira da arquiteta. Além de uma visão da própria cultura brasileira, Lina Bo criou um gestual próprio de comunicar-se por meio de uma exposição, que ela própria batizou de arquitetura expositiva. www.mcb.org.br

Design Essencial Até o dia 14 de novembro, 11 unidades do Senac São Paulo participam do Design Essencial, iniciativa focada em atividades relacionadas ao design com ênfase nos objetos usados em interiores. Esta 9.ª edição, tem curadoria do arquiteto e artista plástico Guto Lacaz e a temática Objeto Extra Ordinário. “O procedimento de transformar um objeto já pronto em obra de arte abriu um grande campo para os novos artistas”, comenta Lacaz. “Até então, o artista era o que sabia pintar, esculpir, modelar e construir. Como seria possível o artista apresentar uma obra utilizando o que não havia feito?”, desafia. O resultado pode ser conferido na extensa programação do Senac, que inclui palestras, exposições, workshops e mesas-redondas. Estão no circuito as unidades de Araçatuba, Araraquara, Bauru, Lapa (Tito), Osasco, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santana, São Carlos e São José do Rio Preto. www.sp.senac.br

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Bienal de Design 2015 A Bienal Brasileira de Design é hoje um dos principais eventos do segmento, servindo como plataforma para disseminar o design brasileiro e mostrar o que de melhor se produz no País. Concentra as principais realizações da área cultural e do setor produtivo, aponta tendências, provoca discussões, propicia a capacitação e promove a Marca Brasil. É uma ação institucional do governo que tem seus alicerces no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no Ministério da Cultura e Apex-Brasil, já que sua ação é pertinente ao desenvolvimento social, econômico, ambiental e tecnológico nacional. Tem entre os principais objetivos divulgar nacional e internacionalmente a qualidade e relevância do design brasileiro e servir como ponte entre o mercado criativo e produtivo. Em 2015, a 5.ª edição da Bienal Brasileira de Design acontecerá em Florianópolis, Santa Catarina. Com coordenação do Centro de Design de Santa Catarina e curadoria de Adélia Borges, terá como tema central o “design para todos”, sem distinção de sexo, idade, tamanho ou peso. De 15 de maio a 12 de julho de 2015, adotando também o formato de festival aberto à participação do público de todos os gostos e idades. Agende!

Diagnóstico do Design Brasileiro O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) lançaram, no início de julho, o Diagnóstico do Design Brasileiro. Um amplo estudo, conduzido pelo Centro Design Brasil, que contribuirá para ampliar a compreensão sobre esta área e apontar possíveis caminhos para o fortalecimento do setor do design no Brasil. Propõe-se, ainda, a servir de base para a elaboração de ações e políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da competitividade industrial brasileira, tendo o design como fator estratégico para o ganho de conquista de mercado. O trabalho apresenta ainda indicadores, referências internacionais e contribuições de especialistas e formadores de opinião. “Este estudo traz informações importantes sobre o cenário atual do design no Brasil e possibilita o embasamento de políticas públicas e tomadas de decisões estratégicas no setor. O que é essencial para que o design seja utilizado como uma ferramenta que potencializa o desenvolvimento da indústria”, afirma a diretora do CBD, Letícia Castro. Está disponível, na íntegra, no site do ministério: http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1402666459.pdf

Acompanhe a Agenda do Design em www.arcdesign.com.br 13


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interiores design internacional

PRODUTOS ou PROJEÇÕES? Podemos pensar nos Salões, nos “I Saloni” do design internacional como o grande palco de venda de produtos, ou então como um laboratório onde são apresentados, crescem e se expandem os novos territórios, conceitos e visões que nortearão o design no futuro. São duas visões, dois interesses que nem sempre coincidem. Maria Helena Estrada

Abridor Parrot Sommelier, design Alessandro Mendini para a Alessi

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E

Acima, Light Rock, cadeira de balanço de Philippe Starck para a TOG, com diversas cores de base. Abaixo, Oka Chic, design Philippe Starck customizado por Judith van Valen. Coleção TOG

Fotos divulgação

nquanto a criação de produtos nos salões expositivos caminha, quando isto acontece, a pequeninos passos – como o aperfeiçoamento de matérias-primas já usuais (leia-se Kartell), maestria na execução de móveis (as tradicionais Cassina, Poltrona Frau), tecnologia das luminárias (Flos, Artemide), cozinhas que se assemelham a luxuosos laboratórios espaciais – novos campos de abrangência, novas maneiras de pensar, começam a surgir, com força e coerência. Não há mais formas originais a serem exploradas – parece – e o que poderemos chamar de inovação vem dos conceitos, da abrangência dos campos de atuação, dos serviços e do potencial de novos materiais, tecnológicos ou naturais. Projetos ricos em significado ou em emoção. Mas apesar do crescente interesse pelas novas plataformas e conteúdos do design, não se pode negar que o grande espetáculo, ainda é o desfile dos produtos. Inovadores ou não, quer entusiasmem ou desapontem, quer muitos visitantes saiam da Feira dizendo, a cada ano, “não tinha nada de novo”, tem sempre uma nova surpresa e muita beleza: nos produtos, nos estandes, nas mostras paralelas. O Salão é, de longe, o grande espetáculo do design.

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Acima e ao lado, cadeiras da coleção TOG, originais de Starck: Diki Lessi e Joa Sekoya. Abaixo, poltroninha TOG, com tecido impresso e “inspiração” bastante diferenciada

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Um primeiro exemplo de originalidade criativa vem com a TOG, All Creators Together, empresa fundada pela brasileira Grendene, que se uniu a Philippe Starck, a Nizan Guanaes e ao banqueiro André Esteves. O projeto investe na relação do marketing com o design, abarca o desejo do consumidor contemporâneo, que não deseja receber “o pacote pronto”, mas sonha em cravar, no produto, sua marca pessoal. Plataforma “open source” tem Philippe Starck como seu diretor criativo e os preços – parece – como grande atrativo. Algumas das novas outras perspectivas e plataformas para visualizarmos o design contemporâneo já estão atuantes como a “Design for All”, na linha da inovação e sustentabilidade. E aqui, cabe uma observação: enquanto a plataforma DfA praticada nos países desenvolvidos procura aperfeiçoar produtos existentes e melhorar suas performances, do Brasil à África as exigências têm um significado bem mais emergencial, profundo e radical. Todos (all), para nós inclui, principalmente, o design que contempla o social. Que resolve problemas e presta serviços – inadiáveis. Outras ideias para debates ou formas de pensar e agir também poderiam ser “pinçadas” no Salão do Móvel, como a plataforma dedicada a discussões e dirigida aos designers de todas as disciplinas para que possam manifestar o potencial social de sua profissão. “What Design Can Do?”, um evento internacional surgido na Holanda, conclama os designers a assumirem maior responsabilidade social e a pensarem em como o design pode impactar a sociedade. Rachel Armstrong, biodesigner, durante o Salão do Móvel de 2014, afirma. “Vivemos em uma época de incertezas e “WDCD?” tem como objetivo nos fornecer uma plataforma experimental a partir da qual poderemos começar a mapear e a explorar novas ideias”.


Fotos divulgação

Acima, coleção Vodo Mask, design Ambroise Meggica, customizada por Carlotta Amore e Matteo Orlandi

Acima, instalação com forte acento cenográfico, de Giulio Cappellini no Salão do Móvel 2014. Ao lado, banquetas NON, design Bakery Studio, na Cappellini

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Fotos divulgação

Um ponto de partida que é, também, oportunidade para que os dois polos ou funções opostas se manifestem: o design visto como solução para muitos problemas do mundo ou aquele que faz da estética, mesmo sem conteúdo, um valor absoluto. Da mesma editora da revista Wired, a Wired Health focou um campo mais que necessário, dedicando um dia inteiro de conferências a abordagens sobre o design para a saúde. Houve ainda espaço para a valorização do artesanato com o movimento “Hands on Design”, que promoveu o projeto “Slow Wood”. Neste, o Brasil trouxe sua contribuição com o início de uma parceria entre o Estado do Acre, a Fundação Chico Mendes, cujo filho esteve presente em Milão, e diversas instituições e escolas italianas.

Não estava em Milão... Mas estará na Semana do Design londrina. Primeira cadeira em fibra de carbono colorido, Halo, design Michael Sodeau, é produzida em Hypertex, material desenvolvido pelos engenheiros da Fórmula 1 durante sete anos de pesquisa. A Halo alia simplicidade gráfica, leveza (visual e real) e resistência

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Fotos divulgação

De fundamental importância, a materioteca Design ConneXion Italy, fundada em N. York, que expõe, a cada ano, materiais de todo o mundo desde a criação da sede italiana. Estes pareceram ser, no Salão do Móvel 2014, os principais temas para incorporarmos ao nosso vocabulário projetual. Penso que cabe à comunidade do design, no Brasil, conhecer os novos caminhos e conteúdos que o design contemporâneo contempla, eleger afinidades e encontrar no Salão milanês, além de produtos – novos conteúdos para a reflexão.

Acima, detalhe do festivo estande Kartell, onde predominavam brilhos e luzes

Na coleção Precious Kartell, gaveteiros criados por Anna Castelli Ferrieri em 1969, agora em versões com acabamentos metalizados 23


design internacional

Itália e Holanda lideram o design internacional, seguindo direções diversas. Escolhemos como exemplo Bertjan Pot, que despontou com o sucesso na Moooi, e Paolo Ulian, que considero o mais recente (último?) representante dos mestres italianos. Eles ilustram, neste artigo, as raízes culturais capazes de gerar conteúdos significativos. Maria Helena Estrada


Luminária Heracleon, exposta na grande mostra Moooi no I Saloni 2013 causava espanto pela delicadeza de suas pétalas e a luminosidade alcançada. Mais do que um lustre, podemos vê-la como um móbile iluminado

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Vaso Rosae, design Paolo Ulian, edição Attese, 2009


Luminária Paloma Bella tem a estrutura onde é fixada a lâmpada, revestida com uma touca de borracha usada para natação

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Luminária Anémone, criada em edição especial para a mostra A Incrível Aventura do Barão Bic, em 1998. Sobre uma base de alumínio e uma lâmpada são dispostos 100 braços reguláveis feitos a partir de 400 canetas BIC Cristal

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Mesinhas Wabi, com tampo construído unindo diversos pedaços de diferentes tipos de mármore. Suas bordas irregulares permitem acoplar diversas mesas

PAOLO ULIAN: ÉTICA E POÉTICA Rigor no desenho, critérios responsáveis na execução. Talvez o último dos designers italianos que podemos alinhar com os mestres Castiglioni, Enzo Mari ou mesmo Bruno Munari. A essencialidade do projeto é o traço que os une. Nascido sob os Alpes Apuanos, entre Sarzana e Massa Carrara, o mármore é seu companheiro de infância. Mas antes de tocá-lo, é infinita a variedade de materiais com os quais já trabalhou. Representante da nova geração, conhecida como “pós-Maestri”, Paolo Ulian (1961) dá continuidade à linha projetual que fez a fama do design italiano, e citamos, principalmente, Enzo Mari, com quem trabalhou. Somando-se a estas características, e chegando ao século XXI, vemos em Ulian o total respeito às exigências contemporâneas em relação ao design: utilização de refugos, noção precisa do que não pode mais ser feito em respeito ao meio ambiente, produtos duráveis no tempo. Uma irônica seriedade. Sua fórmula? “Respeito a si mesmo e ao mundo”, afirma. Cada material reencontra em suas mãos uma segunda vida, e ele nos diz mais sobre suas convicções, orientadoras de cada projeto. “O trabalho não tem sentido se não provocar uma reflexão que nos leve a mudar de atitude em relação aos objetos”, e conclui, “o que não tem nada a ver com estilo ou estética”.


O designer e crítico, Marco Romanelli, oferece em seu recente livro sobre Ulian (Corraini Edizione), uma análise das peças em mármore, objeto de uma exposição em abril de 2011, no Castello di Milano. Como escreve Romanelli, Paolo Ulian não escava a montanha para obter o mármore, mas vai atrás do refugo deixado por aqueles que o fazem. Coerência e continuidade com seu trabalho. Nascido em meio ao mármore, o conhece bem, sabe qual a vocação ou desejo do material. Como afirmava Adolf Loos, em 1989, “cada material possui uma linguagem formal que lhe pertence, e nenhum material pode trazer para si as formas que pertencem a outro. Porque as formas se desenvolveram com o material e através do material”. Exemplos de peças em mármore já são muitos, nos quais ele utiliza sobras do material ou placas que seriam usadas para pisos, como na mesa “Autarchico”, cujos pés são montados com resíduos empilhados que sobraram dos cortes. O mesmo processo é também empregado nas mesas e no vaso “Vago”, de 2008. A tigela em cerâmica “Uma Segunda Vida”, que em caso de quebra já tem programados os pedaços em que se partirão. Exemplo de seu humor e marca registrada, divertida, é o biscoito dedal, logo incorporado pela Nutella. Para a mostra “The Amazing Adventure of Baron Bic”, em 1908, ele cria a luminária “Anémone”, com 100 braços reguláveis, que utiliza 400 canetas Bic Cristal, com pontas vermelhas. Incrível, bela, de forte presença e imagem. Ulian expressa, em cada projeto, os conceitos que o mundo exige e espera atualmente dos designers e das indústrias. Esqueçam, já dizem muitos, a pressa em criar mais mesas e cadeiras. Reflexão, de acordo com ele, é palavra-chave para quem deseja se destacar no mercado... E sentir orgulho de sua obra, dizemos nós.

Estante em mármore de Carrara (região onde nasceu e vive o designer). Com restos de ladrilhos de mármore ele criou a estante formada por algarismos romanos, de I a V. Edição limitada, série numerada. Abaixo, relógio produzido com o aproveitamento de ladrilhos de mármore descartados, comportamento característico de Ulian

Um designer de essência poética – assim eu definiria Bertjan Pot – jovem holandês que declara ser movido pela curiosidade em saber como as coisas funcionariam. A recompensa por cada solução encontrada. O aparecimento de mais outro novo desafio. Devo dizer que este jovem holandês criador de objetos me pegou pela emoção. Bem diverso do que tenho visto nestes tempos de muita – ou pouca – tecnologia e nenhuma alma. E mesmo, às vezes, nem uma nem outra.

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BERTJAN POT

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Luminária Come on Led’s Go!, lançada em 2014

Nascido em 1975, na cidade de Nieuwleusen, Holanda, depois de formado em design criou o estúdio The Monkey Boys (1988-2003), adotando em seguida seu próprio nome. Colaborador da Moooi, famosíssima empresa de Marcel Wanders, seu nome passa a ser reconhecido com o lustre “Random Light”, uma esfera suspensa, em resina e fibras têxteis e com a Carbon Chair, ambas para a Moooi. Uma de suas primeiras luminárias de teto, a “Random Light” já nasceu best-seller. Um fio de resina foi disposto de forma aleatória sobre uma bola inflável, formando a malha translúcida que, depois de extraída a bola – já murcha – se torna a própria lâmpada, sem nenhuma outra estrutura. É a inovação de alma holandesa, que sonha sem fronteiras, que tem incentivos do governo, que sabe encontrar o próprio caminho e personalidade, sem outros modelos a não ser a própria cultura. A fama de Bertjan Pot, confirmada a cada nova criação, segue com a “Stairway to Heaven”, produto escolhido por Philippe Starck como o vencedor do prêmio Moooi/Frame, de 2012. Quem esteve em Milão certamente se lembrará da escada colocada de cabeça para baixo, na qual são acopladas diversas lâmpadas. Podemos dizer que esta luminária serve como uma das definições da obra de Bertjan Pot, que passeia do lúdico ao poético – um trabalho quase sempre muito delicado, como no grande lustre exposto na mostra da Moooi durante o Salão do Móvel 2013. 28

Acima, instalação para a mostra de Maarten Baas com a luminária Stairway to Heaven; abaixo, Carbon Chair, de Bertjan Pot com Marcel Wanders. Manufatura com materiais tecnológicos


Fotos divulgação

Bertjan se diz fascinado por técnicas, texturas, estruturas (muitas vezes com tecidos), padrões e cores. Seus projetos nascem da pesquisa de materiais, sendo seus interesses tecnológicos e suas fantasias, ou “fantasmas criativos”, como ele os define, procedimentos que estão alargando os limites da produção industrial. E, em entrevista concedida à revista francesa Intramuros, confessa, “amo manipular o real, desmanchar os objetos, as verdades e deformar as coisas”. Todas estas características e preferências são um caminho de liberdade, uma pesquisa aberta que se manifesta em uma coleção de máscaras – fantásticas, pura poesia! – realizada com fios de seda ou outros. Impossível descrevê-las, vale o olhar. Bertjan Pot foi para mim, amor à primeira vista (de sua obra) em cada detalhe e no efeito final de seus projetos, mas ele comenta, “prefiro ir conquistando devagarinho, sem grandes declarações enfáticas”. E é assim que ele tece suas verdades, embaralha fios, cria superfícies translúcidas de extrema delicadeza ou grande impacto, como nas máscaras, que explodem com força e beleza. Este artigo foi publicado na revista CASA BRASIL após as conferências dos designers na Feira Casa Brasil de 2013, promovida pelo Sindmóveis, Bento Gonçalves, RS, e agora atualizado para esta edição de ARC DESIGN.

Máscaras, coleção de 2010 mostra o universo de fantasia de Bertjan Pot

Trick @Flicks, exposição na Villa Noailles, França, no espaço da antiga piscina. 2013 29


homenagem

60 ANOS DE OFÍCIO E INSPI R AÇÕES

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Falar em criação de mobiliário em madeira é trazer à memória nosso grande designer, Sergio Rodrigues. Mais significativo ainda quando ele completa 60 anos de constante atividade. Ele é também o inspirador de uma geração de designers, sobretudo daqueles que hoje chamamos de Ourives da Madeira. Sergio Rodrigues é eleito um mestre do design brasileiro desde sua primeira peça, a Poltrona Mole, premiada no Salão do Móvel de Cantù, Itália, nos anos 1950. Pouco depois fundou a OCA, no Rio de Janeiro – primeira loja de design brasileiro – e criou todas as peças que até hoje mobiliam o Palácio do Governo Federal e outros espaços; além do auditório da Universidade, em Brasília. O mais incrível, em relação a este arquiteto, designer e ilustrador – com ótimos e divertidos autorretratos caricaturais – é que ao longo destes mais de 60 anos, ele jamais parou de produzir. E sempre com a mesma qualidade e maestria, sempre privilegiando a madeira. Parabéns, Sergio, e o nosso agradecimento por continuar criando com tanto rigor e coerência não só para o Brasil, mas também para o mundo, que, por meio de sua obra, capta a beleza da alma brasileira! Maria Helena Estrada

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design brasileiro

OURIVES DA MADEI RA Madeira. Rebelamo-nos contra aqueles que a usam com desperdício e sem criatividade, repetindo ao infinito velhos modelos. Mas já “rola” uma esperança no ar, e louvamos aqueles – designers e produtores – capazes de trazer uma nova ou aprimorada linguagem a um material tão antigo quanto o homem. Nesta reportagem apresentamos três belos exemplos de amantes da madeira, criadores de joias da marcenaria. São as propostas de Fernando Mendes, Ricardo Graham Ferreira e do Mestre Morito Ebine, aos quais, com liberdade, demos o nome de ourives da madeira. Sugere-se evitar o desperdício na fabricação, mas sem chegar à avareza. Valorizar as técnicas tradicionais do chamado “fine woodworking”, seguindo os conceitos dos mestres escandinavos e da memória brasileira, privilegiando encaixes perfeitos no lugar de cola, pregos e parafusos. Possuidores e respeitosos desta ancestral sabedoria, destaca-se hoje uma geração de criadores ou, melhor, de ourives da madeira. Tulio Mariante, da loja Novo Design – hoje sediada no MAM e no MAR (museus cariocas) –, é o grande incentivador do grupo. Da Redação, com Fernando Mendes e Ricardo Graham Ferreira

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“C

omece por analisar um móvel ou objeto de madeira, mas não utilize apenas os olhos: toque a madeira, acaricie-a”, nos aconselha o designer/marceneiro Fernando Mendes. “Como num passe de mágica, a madeira pode parecer macia, transmitir sensualidade, calor, aconchego. Verifique os encaixes, a solidez, os veios. Quando se olha com cuidado um produto de marcenaria não se vê apenas o objeto, mas como ele foi feito”, finaliza.

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Morito Ebine

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Banqueta Bandeja, em cedro rosa

Cadeira Folha. A sinuosidade acentuada das curvas do assento exigiu um trabalho manual de acabamento

Fotos: Marcelo Vilas Boas

Movimentos de serrotes diferentes dos nossos é o que caracteriza a marcenaria japonesa. Morito Ebine, japonês nascido em Tochigi, chegou ao Brasil há cerca de 20 anos já dominando esta arte que se pratica do outro lado do mundo. Genial e generoso, ele hoje transmite seus ensinamentos aos novos “ourives” brasileiros. Um serrote japonês – e existem dezenas de modelos especializados – corta “ao contrário”. O serrote ocidental corta a madeira no movimento para frente, enquanto que o japonês o corte se dá puxando o serrote. Esta simples diferença tem uma explicação: ao puxar o serrote estica-se a lâmina, elimina-se a necessidade do reforço aplicado nas costas do serrote ocidental para manter sua lâmina esticada. Esta diferença no sentido da serra permite que alguns modelos de serrote japonês (ryoba) tenham corte nas duas bordas da lâmina: com uma delas corta-se a madeira transversalmente e com a outra, corta-se no sentido longitudinal da madeira. Aumentando a sutileza: para cada tipo de corte existe um espaçamento adequado entre os dentes da lâmina. E a diferença no sentido de corte também ocorre no uso da plaina japonesa que, como o serrote, corta quando se puxa o instrumento. No que diz respeito ao acabamento, segundo Morito, no mobiliário este deve ser o mais discreto possível – o que não quer dizer que suas peças sejam mal-acabadas; muito pelo contrário: ele é sempre iniciado com a plaina bem afiada, segue com a aplicação de um pano molhado para arrepiar a fibra da madeira e, depois de seca, começa a ser lixada com lixas de vários grãos. Da lixa 150 para frente inicia-se a aplicação do óleo juntamente com a lixa. A cada dia é aplicada uma camada de óleo, sempre usando uma lixa mais fina que a usada no dia anterior. Um tampo de mesa de jantar pode ter a aplicação de mais de sete demãos de óleo!

Cadeira Broto, “tem o pé posterior como um broto, reto para cima”. Engenhosidade e precisão, características do trabalho do mestre Ebine


O resultado é uma superfície perfeitamente lisa e macia, onde se vê claramente toda a beleza das fibras da madeira. “O óleo é um elemento impregnante, enquanto o verniz cria uma camada que “impede” a madeira de receber o toque direto das mãos”, explica Ebine. Olhar uma peça pelo avesso – é esta uma das maravilhas encontradas no trabalho do Mestre; relata Fernando Mendes, que o entrevistou. É assim que melhor se percebe a construção de encaixes, ganzepes, espigas e cunhas que estão em todos os encontros de suas peças – “leves”, afirma Morito, “mas feitas para durar no mínimo cem anos”. É assim que ele justifica o uso da madeira que foi retirada da natureza. Como poderia parecer, ele não é absolutamente contra o uso da tecnologia. Todas as suas criações

são desenvolvidas em programa 3D de onde já saem projetados inclusive alguns dos gabaritos que auxiliarão na usinagem das peças que formarão cadeiras, mesas e bancos; mas não é aí que reside a sofisticação de suas criações. Hábil com as mãos no uso de serrotes, formões e plainas, este mestre japonês é capaz de executar à mão, de forma perfeita, qualquer encaixe. Sua escolha em desenvolver os gabaritos é para conservar o registro da construção de cada peça, para poder passar para seus auxiliares os métodos construtivos. Sua maior ambição é transmitir o conhecimento que vem acumulando nestes quase 30 anos de experiência com a madeira para novos aprendizes – entre os quais se incluem Fernando Mendes e Ricardo Graham Ferreira –, para que levem adiante o domínio da arte da marcenaria.

Cadeira Saci, Bancada de trabalho. “A primeira foi criada há 20 anos e fui modificando até o modelo atual”

Banqueta para piano Parafuso, toda feita com encaixes. “Primeiro desenvolvi a ferramenta para criar o parafuso em madeira”

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Fernando Mendes Ao longo dos sete anos que trabalhei no estúdio de Sergio Rodrigues, estudei marcenaria observando seu trabalho e lendo seus livros – naqueles tempos só importados. Era mais um lazer e interesse em conhecer melhor o ofício milenar da marcenaria. Visitava marcenarias com alguma frequência – aquelas que executavam as peças do Sergio – e ficava encantado com as ferramentas, com a construção das peças, com o cheiro e a beleza da madeira.

Ao longo dos anos estas informações dispersas foram se juntando e comecei a desenhar minhas primeiras peças. Logo passei, também, a fabricar algumas peças para o Sergio, visando atender aos pedidos de produção artesanal do estúdio do mestre-designer. A marcenaria que eu estudava nos livros passou a fazer parte da minha realidade tanto quanto o Desenho Industrial e a Arquitetura que eu já havia cursado. Os conhecimentos acumulados se aglutinaram num único ofício, sem qualquer subordinação do conhecimento intelectual ao fazer artesanal. Em minhas peças procuro misturar alegria, conforto e qualidade construtiva. A marcenaria, para mim, não é apenas um meio de transformar um projeto em realidade – é a própria fonte de inspiração para a criação dos desenhos.

Poltrona Grude, design de Fernando Mendes e Julia Krantz em sua versão final

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Fotos divulgação

Montagem da poltrona Grude, em compensado colado e desbastado, antes do acabamensto final

Cadeira Pedro, em freijó, criada em 2010 para o filho do autor, que tinha 10 anos

Comece por analisar um móvel ou objeto de madeira, mas não utilize apenas os olhos: toque a madeira, acaricie-a.

Fernando Mendes, designer/marceneiro

Mesa Afonso (homenagem a Afonso Luz), destinada ao Instituto Sergio Rodrigues. Terá versões equipadas para escritórios

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Encaixes na junção do tampo base nas mesas de Ricardo Graham

Ricardo Graham Ferreira

Fotos divulgação

Ourives é uma palavra que muito combina com meu fazer. Por vezes falo que lapido os encaixes, facetando suas arestas e evidenciando a beleza da madeira e sua forma, como numa joia. Encaixes são lindos. E são parte importante da estética das peças que produzo. Peças, e não somente móveis – este é o termo que prefiro utilizar. São peças feitas com impulso criativo e dirigidas pelo conhecimento das mãos, adquirido pelo trabalho manual. Hoje já são sete anos de atividades, sem contar os quatro de aprendizado na Itália e na França. E é fazendo que nasce a criação. Meu ofício acontece pelo amor que tenho em trabalhar a madeira. Assim, pelo entendimento que não passa pela mente – mas pelos dedos e pelas mãos –, modelo a madeira, criando formas e assentos que agradam aos olhos, às mãos e ao corpo.

Serrote e formão produzidos em madeira. Úteis e decorativos

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Fotos divulgação

Banco Sela, mais novo lançamento do ebanista, trabalha com o potencial de diversos tipos de madeira. Por suas curvas no assento, exige um acabamento manual

No “avesso” da mesa, vê-se a junção das pranchas com encaixe tipo borboleta, e cavilhas em roxinho

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capa

Lina Bo Bardi e o design O verdadeiro design, no significado mais completo e rico do termo, é aquele que dá sequência à mão humana na invenção de instrumentos, ferramentas e artefatos que facilitam a vida, trazendo conforto aos homens, buscando sempre o menor esforço e a economia de energia de toda ordem. É produto da inteligência humana e do conhecimento acumulado pelo homem ao longo de milênios. Marcelo Ferraz

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Bob Wolfenson

Lina em cadeira de sua autoria no audit贸rio do Sesc Pompeia


Lina na Cadeira de Beira de Estrada (1967) construída com três galhos e um pedaço de tronco, amarrados com cipó

P

odemos acompanhar a evolução da história da humanidade através do design de cada época e de cada povo, em todo e qualquer rincão do planeta. Por que é então que nas últimas décadas este termo vem perdendo seu rico e abrangente significado – aquilo que sempre foi -, passando a ser utilizado quase que somente para designar algo exclusivo, destacado da vida da maioria, para privilégio de poucos? Por que é que o termo design passa a ser vinculado estritamente ao consumo e ao mercado de objetos, perdendo seu significado de projeto? Lina Bo Bardi, em sua experiência no Nordeste Brasileiro, mais especificamente na Bahia, do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, ousou escarafunchar o mundo da produção artesanal (ou pré-artesanal, como ela preferia chamar), e trazê-lo para o centro da discussão sobre a produção contemporânea da indústria brasileira. Levantou questões como: quais são as bases socioculturais de nosso país? Que design produzimos? Que design poderíamos produzir? Que design deveríamos produzir? 42

Croquis de Lina Bardi para a cadeira Bowl


Miroslav Javurek

Cadeira dobrável Frei Egydio (1986) desenhada por Lina, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki para o Teatro Gregório de Mattos, Salvador, Bahia

Exposição Bahia (1959), Ibirapuera, São Paulo

Procurou dar respostas a estas questões, à luz do que ela chamava “uma leitura semiótica da realidade”. Uma análise das condições de produção em paralelo às condições de vida de uma população pobre, de origem rural, de pequenas cidades ou já vivendo nas periferias do que viriam a ser as metrópoles de hoje. Uma população cheia de “energia vital”, sonho e desejo de construção de uma vida melhor, de um mundo mais confortável; uma população que dava provas de resistência às injustiças sociais e, principalmente, às adversidades da carência gerada pela seca e pela má distribuição da renda, justamente através de seu design. Na produção de seus objetos e de seu habitat davam provas de que não renunciavam à sua condição humana de estar no mundo ao seu modo e construir o mundo ao seu modo. Isso é o que São Paulo pode ver no trabalho que Lina Bo Bardi trouxe do Nordeste para as exposições “Bahia no Ibirapuera”, na Bienal de 1959, e “A Mão do Povo Brasileiro”, no MASP, em 1969.

Fica muito claro que o contato de Lina com toda a produção popular do Nordeste a obriga a rever completamente seu ideário e seus conceitos sobre o design e a indústria: para que e para quem servem. Toda sua formação italiana, dentro de modelos racionalistas e funcionais, é colocada à prova e questionada, quando confrontada com uma realidade tão forte, urgente e esgarçada. Uma realidade em que os parcos recursos não subtraiam sua poética e que tinha na ética uma estrada sólida; nela, o desejo estético aflorava em cada criação, em cada objeto, utilitário e decorativo se fundiam em unidade indissociável. Lina inaugurou em 1962 o Museu de Arte Popular da Bahia, no Solar do Unhão, com uma bela exposição chamada “Nordeste”. Seu texto de abertura é um verdadeiro manifesto em defesa de uma nova ordem na criação e produção do design no Brasil. Um contundente e verdadeiro apelo, ou abre olhos, aos criadores e detentores dos meios de produção e aos pretendentes criadores. Vale a pena lembrar algumas passagens deste texto: 43


Marcelo Ferraz

Interior do restaurante do Benin (1986), Salvador, com mesa única de 30 lugares e Cadeira Girafinha desenhada por Lina, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki

Cafeteira primitiva feita com lata de Toddy

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“Esta exposição (...) é a procura desesperada e raivosamente positiva de homens que não querem ser demitidos, que reclamam seu direito à vida. Uma luta de cada instante para não afundar no desespero, uma afirmação de beleza conseguida com o rigor que somente a presença constante de uma realidade pode dar. (...) Matéria-prima: o lixo. Lâmpadas queimadas, recortes de tecidos, latas de lubrificantes, caixas velhas e jornais. Cada objeto risca o limite do ‘nada’ da miséria. Este limite e a contínua e martelada presença do ‘útil’ e ‘necessário’ é que constituem o valor desta produção, sua poética das coisas humanas não gratuitas, não criadas pela mera fantasia. É neste sentido de moderna realidade que apresentamos criticamente esta exposição. Como exemplo de simplificação direta, de formas cheias de eletricidade vital. Formas de desenho artesanal e industrial. Insistimos na identidade do objeto artesanal - padrão industrial, baseada na produção técnica ligada à realidade dos materiais e não à abstração formal folclórico-coreográfica. Chamamos este Museu de Arte Popular e não de Folclore, por ser o folclore uma herança estática e regressiva, cujo aspecto é amparado paternalisticamente pelos responsáveis da cultura, ao passo que a arte popular (usamos a palavra arte não somente no sentido artístico, mas também, no de fazer tecnicamente), define a atitude progressiva da cultura popular ligada a problemas reais. Esta exposição quer ser um convite para os jovens considerarem o problema da simplificação (não da indigência), no mundo de hoje; caminho necessário para encontrar dentro do humanismo técnico, uma poética. Esta exposição é uma acusação. Acusação de um mundo que não quer renunciar à condição humana, apesar do esquecimento e da indiferença. É uma acusação não humilde, que contrapõe às degradadoras condições impostas pelos homens, um esforço desesperado de cultura.”


Gambiarra criativa fotografada por Marcelo Ferraz em Minas Gerais

Com o golpe militar de 1964 e o início de um período ditatorial que durou 20 anos, todas as apostas de Lina vão por água abaixo. Ou melhor, o Brasil toma outro rumo, diametralmente oposto ao que ela vislumbrava em relação à sua produção industrial, ao seu design: ao invés de investir e apostar em soluções autóctones e afeitas aos brasileiros (respeitadas as ricas diversidades geográficas e humanas), adotamos modelos importados, de fácil consumo e assimilação, dentro de padrões mais americanizados de vida e de comportamento. Nosso design passa rapidamente a seguir e servir a um novo modo de vida, a um novo modo de produção, do consumo rápido e descartável. Lina abandona completamente o chamado design de objetos e mobiliário, depois da experiência no Nordeste, brutalmente interrompida e abortada. Deixa para trás suas incursões de longa data na produção de cadeiras (de madeira, metal, couro etc.), como objetos para o mercado. E não poderia ser diferente. Ela foi muito coerente com suas descobertas, ou redescobertas, do verdadeiro significado do design, através da proximidade com a produção popular, com o verdadeiro sentido das coisas, do senso estético. Para Lina, ficou muito evidente que só faz sentido projetar (to design) aquilo que trás uma demanda – seja de uso, seja poética. Algo que é útil e serve, tem sentido de existir. Isso ela viu de perto no mundo da arte popular,

Fifó – lamparina de querosene feita com lâmpada queimada

do pré-artesanato do Nordeste, na vida das pessoas. E se negou a voltar a pensar em mais objetos para o mercado, quase sempre tão manipulado e falseado pelos jogos de marketing e propaganda. Neste momento ela projeta a famosa cadeira Tripé de Beira de Estrada como protesto. Somente nos anos 1980, Lina volta a desenhar móveis, mas especificamente para seus projetos arquitetônicos em curso, como o Sesc Pompeia, as igrejas de Uberlândia e Ibiúna, o Centro de Convivência de Cananeia e as intervenções no Centro Histórico de Salvador. Sua justificativa era de que estes móveis faziam também parte da arquitetura, a completavam. Esta faceta designer de Lina é muito elucidativa do rigor profissional que sempre a acompanhou. Mais ainda, do sentido político da profissão, que tem em seus fundamentos o ideal de servir ao outro, resolver com a técnica e os meios disponíveis problemas práticos e “espirituais” da vida, do dia a dia: criar. Seu trabalho está por aí, em poucos, mas fortes projetos. Sua história já está bastante conhecida e contada. Seu exemplo ainda vive. O mundo continua carente de conforto, soluções inteligentes e econômicas, que se ajustem a grandes contingentes de população que carecem de tudo. O mundo continua injusto, e o design, na visão de Lina, não poderia servir a outro ideal que não diminuir a injustiça no planeta. Temos muito o que fazer. 45


Materiais Inovações Ideias Pesquisas O grafeno é nosso O campus Higienópolis, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, abrigará o MackGrafe, Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanotecnologia e Nanomateriais, que promete revolucionar o cenário científico nacional. O grafeno – da mesma “família” do grafite usado nos lápis – é uma fina folha transparente de átomos de carbono, organizados de forma hexagonal, com apenas um átomo de espessura. Propriedades ópticas e elétricas, além de flexibilidade e alta resistência, são apenas alguns dos predicados deste material, considerado o mais resistente da atualidade. Acredita-se que o grafeno irá substituir, com vantagem, o silício como matéria-prima para aplicações de alta tecnologia. O novo centro de pesquisas pode colocar o Brasil em vantagem competitiva no desenvolvimento de produtos voltados para o setor de telecomunicações, por exemplo. Ocupando 6.500 m², o MackGrafe envolveu investimento de R$ 20 milhões, dos quais R$ 9,8 vieram da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Além de equipamentos e de pesquisas, a Fapesp custeará uma bolsa de estudos para trazer o brasileiro Antônio Hélio de Castro Neto, que dirige o Centro de pesquisa de Grafeno da Universidade de Cingapura. A parceria entre as duas instituições permitirá que Castro Neto fique no Brasil por três meses ao ano. Além das Universidades de Cingapura e de Cambridge (Inglaterra), outras instituições mantêm centros de pesquisa sobre o grafeno. Os cientistas André Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester, ganharam o Nobel de Física em 2010 graças aos estudos da folha de carbono. Agora, o MackGrafe posiciona o Brasil dentre as poucas nações na vanguarda desta pesquisa. www.mackenzie.br/mackgrafe

Solar + eólica Um escritório de advocacia da Jamaica acaba de receber a atenção do mundo para o maior projeto híbrido de energia renovável em meio urbano. A iniciativa é da empresa WindStream, que batizou com seu nome este sistema acoplado ao telhado, que capta não só a energia solar, como também a produzida pelos ventos. O escritório jamaicano recebeu 50 unidades do WindStream SolarMill, capaz de gerar 106.000 kW/h de energia renovável por ano. O valor do investimento é um segredo, mas a empresa assegura que em apenas quatro anos o sistema se paga. Ela garante ao cliente uma economia de energia da ordem de US$ 2 milhões em 25 anos – a vida útil estimada do sistema. www.windstream-inc.com

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Materiais Inovações Ideias Pesquisas

Rio Criativo O Rio Criativo, primeira incubadora pública de empreendimentos criativos no País, está de casa nova, no centro da capital carioca. O espaço é dividido nos quatro núcleos (incubadora, núcleo de conhecimento, núcleo de negócios e laboratório de produção de conteúdos digitais), todos interligados para melhor atender às demandas do projeto. O propósito é fortalecer o ambiente de negócios e de inovação no universo da economia criativa. A incubadora tem viabilizado projetos em diversas áreas, como design, arquitetura, moda e artes cênicas. www.riocriativo.rj.gov.br

Via solar Substituir o asfalto por uma trilha energizada não é algo tão futurista assim – pelo menos no que depende do casal Scott e Julie Brusaw. Scott apresentou a ideia já em 2010 e desde então arrecada fundos para aprimorar e implantar seu primeiro protótipo. Ele o instalou na garagem de sua casa usando vidro de alta resistência. A primeira dificuldade do Solar Roadway, segundo Scott, foi encontrar um material resistente o suficiente para suportar o tráfego intenso de uma rodovia, e o material pensado veio da composição das “caixas-pretas” dos aviões. Utilizando vidro de alta resistência perfurado para drenar a pista (ótima solução em caso de neve) e captar a energia solar, Scott inseriu um detalhe a mais: lâmpadas de LED. Elas substituem as pinturas tradicionais sobre o asfalto e podem ser programadas para alertar o motorista diante de eventos súbitos, como um animal na pista. Mas a principal vantagem seria a de servir os carros elétricos, que além de não emitirem poluentes, poderiam ser “carregados” a partir da energia solar captada pela pista em pontos específicos do percurso, similares a áreas de escape. “Podemos reduzir em 50% os gases de efeito estufa porque não precisamos mais queimar carvão; não há mais escassez de energia nem interrupções. A estrada elétrica elimina nossa dependência do petróleo”, preconiza Scott. Proposta criativa e ambiciosa, vale a pena conhecer e torcer por sua viabilidade. http://solarroadways.com

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design & tecnologia

Fotos: Jorge Lopes

TRÊS DIMENSÕES E TANTAS POSSIBILIDADES!


“Not made by hand not made in China”, era o título enigmático da apresentação de Ron Arad no Salão do Móvel de 1999. Era também o grandioso lançamento da impressão em 3D Jorge Lopes

R

on Arad, famoso designer, lançou em meio a inúmeras peças únicas do chamado design arte, uma linha de óculos de sol impressos em 3D. A arquiteta americana, Neri Oxman, do MIT, que imprime objetos orgânicos desenvolvidos com geometrias complexas pelo conceito de “biomimetics” é uma das principais protagonistas que se une aos inúmeros anônimos inventores e “fazedores”, que em todo o mundo estão desenvolvendo produtos graças a esta tecnologia que permite rapidamente a materialização física de ideias, que até então poderiam ser inviáveis de construir ou até mesmo de produzir comercialmente em escala. Na verdade o processo de impressão 3D é extremamente simples, sendo compreendido como um processo de manufatura digital, que funciona por meio da deposição sequencial em camadas de matérias-primas que

podem variar de metais a chocolate! No âmbito do design, Ron Arad foi o precursor no uso da tecnologia com o ambicioso e conceitual projeto, onde criou, em 1999, diversas peças que só poderiam ser produzidas com o uso de impressoras 3D, devido à complexidade das geometrias 3D envolvidas, desta forma não permitindo a cópia do design dos produtos através de tecnologias convencionais de manufatura, como a injeção de plásticos (devido à ausência de ângulos de extração em moldes etc.). Importante ressaltar que o projeto previa que os arquivos fossem deletados após a entrega das peças únicas aos compradores. Um fato interessante relacionado à tecnologia de impressão 3D aconteceu em N. York, onde foi inaugurada em, Manhattan, a “Makerbot”, primeira loja de rua a vender impressoras 3D, matéria-prima e produtos

Na página ao lado, robô criado por Jorge Lopes e sua equipe, na PUC, RJ. Acima, a cadeira é um novo e complexo produto em 3D

impressos em 3D. Como a loja abriu na época de fim de ano, muitos pais, ao invés de comprar brinquedos de Natal para seus filhos, já puderam adquirir a máquina para imprimir os brinquedos de Natal! Imaginem crianças produzindo seus próprios brinquedos! (Óbvio, comprei uma para meu filho). Predição feita em 2003 pelo jornal americano “The New York Times” onde um pai dizia ao filho: “se você se comportar, mais tarde vou imprimir um brinquedo”, e que agora se tornou realidade! Outro exemplo interessante aconteceu em 2013 no Salão do Móvel em Milão, onde foi lançada a primeira estrutura de mobiliário de grande porte completamente impressa em 3D. Trata-se do projeto “Habitat imprimé” (printed living space) do designer, François Brument (http://www.via.fr/ evenements-expo-viadesign2013). 49


Jorge Lopes

“Habitat Imprimé”, ambiente criado por François Brument para o Salão do Móvel 2013, produzido como peça única em 3D

O sistema de armários modulares foi impresso com uma tecnologia alemã que permite imprimir em 3D peças de grande porte. A facilidade com que arquivos podem atualmente ser desenvolvidos em programas de computador cada vez mais amigáveis, a variedade de matérias-primas e máquinas disponíveis no mercado, agora operadas pelos próprios designers, nos faz vivenciar um grande momento de evolução dos processos de fabricação, o que alguns pesquisadores chamam de “Nova Revolução Industrial”. Escritores, como o editor da revista Wired, Chris Anderson, que escreveu o livro “Makers, The New Industrial Revolution” abordam esta “febre” de tecnologias agora acessíveis ao público em geral, e que está permitindo que inúmeros designers possam também ser empreendedores e fabricantes de seus próprios produtos! Porém, apesar da incrível 50

liberdade da customização digital oferecida pela impressão 3D, é importante ressaltar que ainda existem muitos avanços tecnológicos a serem desenvolvidos nesta área, e temos no cenário mundial uma relação ainda distante entre a produção em grande escala de produtos impressos em 3D e as tecnologias convencionais de produção como a injeção de plásticos, mas especialistas garantem que é questão de tempo até as impressoras 3D dominarem este cenário. Milão 2014! Este ano, no Salão do Móvel, vários laboratórios de Fabricação Digital com impressoras 3D e outras tecnologias para o desenvolvimento de produtos e protótipos figuravam nas diversas exposições que fazem da cidade um destino obrigatório para o lançamento de projetos experimentais em design. Um destaque brasileiro do Salão foi o robozinho 3&DBot, uma impressora robô 3D móvel, primeira

da história, desenvolvida completamente pelos designers do Núcleo de Experimentação Tridimensional do Departamento de Artes e Design da PUC Rio, e apresentada durante o Salão, na exposição Rio+Design. Outros destaques do Salão foram as estruturas 3D printed Soft Seat apresentadas pela Royal Academy of Arts da Holanda, trabalho de mestrado de Lilian van Daal; baseado em estudos em biomimética de estruturas naturais, Lilian analisou diversas plantas de forma a obter padrões tridimensionais, que pudessem ser impressos em 3D mantendo a característica de flexibilidade e amortecimento. Mais informações sobre impressão 3D: http://www.facebook.com/NEXT.DESIGN.PUC.RIO


Fotos Jorge Lopes

Pesquisa e cadeira impressa em 3D, utilizando o conceito de biomimética a partir do interior de estruturas naturais

Design Ron Arad, cadeira, modelo em escala reduzida impresso em 3D

Um visitante na feira Euromold, em Frankfurt, mostra leveza e a portabilidade de um equipamento de impressão 3D

Robô 3&DBot no Salão do Móvel de Milão. Primeiro robô brasileiro, é móvel e compacto 51


EM QUE ELES ESTテグ PENSANDO? O QUE ELES ESTテグ FAZENDO? 58


Heloísa Crocco Domingos Tótora Guto Requena Crama Fred Gelli Questto|Nó Campana

Alguns começam pelo conceito, pelo pensamento. Outros têm uma ideia e vão buscar a matéria ideal para o projeto. E alguns “colocam a mão na massa”, vão sentindo, e a forma começa a nascer. Confira algumas ideias e o trabalho recente de sete designers, (ou escritórios) que elegem uma – ou várias – destas formas de materializar o pensamento, a sensibilidade ou o sonho.

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Heloísa Crocco CROCCO STUDIO DESIGN, mais do que um local de trabalho, é um método de desenvolvimento de conceitos e produtos. Há sempre a busca de uma sintonia entre a essência do tema pesquisado e o compromisso na construção de um fato cultural. Os paradigmas da natureza perpassam todos os segmentos criativos de produção do estúdio.

TÓPOS + MORPHE Lugar, entranhas.

A forma que sempre houve e haverá.

Os grafismos aplicados nos produtos da coleção traduzem as modulações poéticas de grande expressividade plástica da natureza. Nos padrões da pesquisa na madeira, a TOPOMORFOSE, os veios do cerne da madeira dão o tom, buscando o que parece ser a sua impressão digital. A partir da pesquisa nasce uma ampla gama de produtos, de chocolates a pranchas de surfe, todos sintonizados com o conceito definido. Os produtos são fruto de parcerias com a Ogro Surfboards, confecções Auá e com a Vuello para a linha de complementos

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www.croccostudiodesign.com

= TOPOMORFOSE Impress達o digital da natureza.

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Domingos Tótora Maria da Fé é o pedacinho de mundo que escolhi. De lá saem minhas obras, e lá que planto minhas ideias. Comecei ao mesmo tempo em que começava a realizar meus primeiros trabalhos, propus o projeto Gente de Fibra, que envolvia a comunidade de mulheres no trabalho com a fibra da bananeira. Em 15 anos de vida, estes núcleos se desenvolveram e hoje a cidade respira artesanato. Invento minha matéria-prima, caixas de papelão que iriam para o lixo e, a partir delas – que já foram árvores – crio objetos que, por semelhança física, retornam à sua condição de madeira, de árvore.

Invento minha

matéria-prima

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www.domingostotora.com.br

Na página da esquerda, Banco Estriado; acima Cadeira Rio Manso, novas criações do designer

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Guto Requena Nós moldamos memórias através do uso experimental de tecnologias digitais. O bom design deve contar uma boa história. Nossa estética final é resultado do processo. Nós amamos hibridismos, interação e a sobreposição entre o analógico e o numérico. Nós aumentamos o ciclo de vida baseados na sustentabilidade afetiva. O design deve nos convidar a refletir sobre o tempo e o mundo em que vivemos. Design é solução de problemas. Qualquer um pode ser designer. Quem é o autor? A Cibercultura redefiniu para sempre o nosso cotidiano.

O projeto Love transforma histórias de amor em objetos

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www.gutorequena.com.br

Usando design e tecnologia, gravamos uma série de histórias de amor contadas por diferentes convidados. Sensores (voz, batimentos cardíacos e ondas mentais) capturam a emoção do convidado na narrativa e, utilizando uma interface digital, as peças são moldadas, dinamicamente, a partir destes registros.

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Crama Ricardo Leite é sócio-diretor de criação da Crama Design Estratégico, que desenvolve soluções completas de branding: construção, comunicação e experiência de marca para clientes como Oi, Vale, Ipiranga, GloboNews, AVON e IRB Brasil RE.

UX Branding, uma Como criar a marca para comemorar 450 anos de uma cidade conhecida como Maravilhosa? Como criar a marca para comemorar um estilo de vida único, um DNA múltiplo e singular? Como mostrar o perfil de quem tem orgulho de ser o que é, cheio de ginga e de personalidade, que fosse ao mesmo tempo de todos os cariocas, mas que pudesse representar o que cada carioca tem de mais essencial? Trabalhando com o conceito de UX Branding (User Experience), construímos uma solução única, porém múltipla. Marca narrativa, que convida todos a estarem em torno de uma mesma ideia, que integra, pois traduz um Rio que respeita as diferenças e promove expressões individuais. O diferencial da marca é poder aceitar interferências gráficas de maneira planejada ou livre, ganhando vida e significado pleno somente quando cada pessoa customiza a sua versão pessoal. E porque isso é importante? Porque entender que o branding tem mais a ver com a experiência das pessoas com as marcas é o futuro, pois os significados são construídos a partir do uso e da interação.

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www.cramadesign.com.br

nova dimens達o para as marcas

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Fred Gelli Fred Gelli, designer e pensador, foi escolhido pela revista americana Fast Company como uma das 100 pessoas mais criativas da atualidade. Seu referencial é a natureza, seus objetivos surgem da observação das possíveis conexões que o entorno desperta. Hoje, entre outras mil ideias, projeta, com Vic Muniz, a cerimônia de abertura dos jogos Paralímpicos de 2016, é CEO da Tátil Design e ainda participa da Cria e da Pipa, empresas voltadas a fomentar projetos de inovação social e apoiar o desenvolvimento do empreendedorismo.

A natureza é meu oráculo, é onde busco inspiração Você está Conectado? Muitas coisas estão acontecendo, e com grande velocidade. Para nossa sobrevivência, precisamos ser criativos e inovadores. Pensar e materializar nosso pensamento. Observar e conectar. Alinhar o pensamento com a ação.

Onde aprender? A natureza é meu oráculo, é onde busco inspiração. Por quê? É o maior, o mais antigo e bem-sucedido laboratório que existe. A natureza trabalha em ciclo fechado, não produz lixo, não desperdiça e é rica em diversidade.

Criatividade e os Articuladores do Conhecimento A criatividade é a capacidade de observar e estabelecer conexões. Não devemos fragmentar a realidade, buscar detalhes, mas observar do alto, em uma perspectiva holística. O lema é criar com, e não para. Os designers são articuladores criativos. São os pensadores, os filósofos contemporâneos. Porque sabemos, mais do que pensar, articular. Conectar o que nunca foi conectado.

As Empresas que Sobreviverão Uma discussão importante é sobre o futuro das marcas. Um futuro múltiplo e gerador de valores. O risco é a extinção. Empresas são os agentes de transformação do futuro. Sobreviverão aquelas capazes de se tornarem protagonistas como geradoras de valor para a sociedade.

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A logomarca criada pela Tátil para os Jogos Paralímpicos é tridimensional e multisensorial, com som e movimento, podendo ser percebida por todos e trazendo muitos significados


www.tatil.com.br

Partindo de cima, no sentido anti-horário: Girassol, Nautilus e Gavinha, a poesia e a eficiência da geometria da natureza; O Ninho, competência arquitetônica somente com ingredientes locais; Nas Folhas, caminhos que nutrem e estruturam 69


Questto|Nó

“Promover a inovação através do design onde ela realmente faz diferença: no dia a dia das pessoas, criando e implementando soluções que sejam significativas para cada um e que gerem resultados para todos.” Assim a Questto|Nó define sua missão e atuação.

A polinização criativa® A diversidade de setores e desafios que caracteriza nossa atuação propicia o que chamamos de polinização criativa®, onde conhecimentos adquiridos em um projeto enriquecem todo o processo futuro na atuação em outros setores.

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www.questtono.com.br

KÄRCHER A marca alemã de lavadoras de alta pressão, presente m mais de 60 países, não vinha obtendo o desempenho comercial desejado no Brasil.

Uma plataforma de produtos Buscando a otimização dos investimentos e adequação à realidade dos consumidores brasileiros, criamos uma plataforma de produtos com quatro categorias: Standard, Plus, Premium e Eco, do produto de entrada até o mais completo.

Menos máquina, mais eletrodoméstico Tradicionalmente, os produtos Kärcher apresentam uma estética mais robusta, ligada ao universo das máquinas. Alimentada por pesquisas junto aos consumidores, a equipe de designers optou por trazer o universo dos eletrodomésticos para mais perto da marca, sem, no entanto, perder a conotação de equipamentos de qualidade profissional. A forte influência da mulher brasileira na compra e uso destes equipamentos guiaram esta decisão. Linhas mais suaves e a predominância do preto remetem aos produtos mais sofisticados. A intercalação das cores amarela e preta entre as quatro categorias também ajudou a definir o family feeling da linha Home&Garden. O projeto foi desenvolvido entre 2011 e 2012, com a participação da Questto|Nó e das equipes da Kärcher na Alemanha e no Brasil, onde a linha está sendo fabricada. Foi lançada em novembro de 2013 e vem obtendo sucesso comercial acima das expectativas.

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Fernando e Humberto Campana “Os materiais pobres são os que nos motivam”, dizem os irmãos. Desde sempre tateando cada objeto ou descarte, a sensibilidade aflora pelas mãos, entendem o que “aquilo”, descarte ou visão, quer traduzir. Quem faz o que na dupla? Eterna pergunta agora respondida. Mas se os irmãos começam a criar de forma isolada, expressando peculiaridades individuais e únicas, os projetos em conjunto – e como sempre numa exuberância criativa pouco igualada – continuam.

“Materiais pobres são os que nos motivam” “Obras de cunho social, como as parcerias com a Copa Roca e outras comunidades continuam sendo uma tônica nos trabalhos. A Oriente Vida, em Tremembé, formada por esposas de presidiários, produz os bichos em couro, substituto da pelúcia, são algumas das parcerias que sempre procuramos fazer. E, também, tornar algumas peças acessíveis a um número maior de pessoas, como no caso do Capacho, um armário em linhas retas, industrializável, revestido em fibra de coco com maçanetas utilizando descartes de mármore de Carrara.” A cadeira Latão retoma a tradição Campana. Usa descarte dos empalhadores de rua, que substituem o trançado de velhas cadeiras em palha austríaca, já danificada, por tiras de plástico. A mais nova criação! A cadeira Lina, nova leitura da cadeira Bowl, tem estrutura em malha de prata bronzeada e revestimento em veludo de mohair e lã.

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Florinda Earings, brincos em bambu, fios de aço, titânio e ouro vermelho, com diamantes “pink gold” e “brown”. Dangerous Necklace, colar em capim dourado e diamantes “pink gold” e “brown”. As joias têm produção do italiano Fabio Salini e estarão à venda na Galleria O., de Roma; no alto à direita, Armário Capacho; abaixo, Cadeira Lina; na página à esquerda, Cadeira Latão

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Humberto Campana As muitas visitas a Roma impregnaram estes brasileiros com um bom barroco. De forma isolada começaram a surgir, na casa de um e de outro, ensaios, sugestões, objetos. Humberto nos diz que é sua origem italiana que aflora. Fernando começou de uma forma muito lírica e delicada, nas composições dos copos e, agora, nos objetos. Mais um caminho a ser percorrido.

Fontes Etrusca, escultura em mármore Carrara e piscina refletora em mármore Cardoso, ambos da região da Etrúria

Fernando Campana

Objetos em criação livre de Fernando Campana, unem memórias, sentimentos e inspirações

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interiores

INOVAÇÃO PELO SIGNIFICADO Enquanto o mundo empresarial não se conectar com o mundo da sensibilidade, não haverá a inovação radical serial que tantas vezes é aclamada... Mas ainda está por acontecer Valter Pieracciani

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e um lado, a realidade das empresas, na qual frios gestores de números e orçamentos conduzem um frenético dia a dia. Predomina a objetividade, o aqui e agora, a produção e, lamentavelmente, a frieza. Neste ambiente, por mais que se fale e se espere que a inovação radical aconteça, não há lugar para “devaneios culturais”. A “quilômetros” de distância está o mundo da arte. Da sensibilidade, das múltiplas interpretações possíveis. Da criação que não é sufocada por regras e prazos rígidos; a expressão humana está acima dos demonstrativos financeiros. Na hora de buscar a inovação radical, a sensação que se tem é de que ela terá de nascer no imenso fosso que se forma entre dois tão diferentes mundos e que, por conta disto, será muito difícil de ser alcançada. Complica este cenário a crença de alguns em uma abordagem que considera que a tecnologia é que é o verdadeiro “combustível” da inovação radical. As descobertas e avanços tecnológicos seriam, assim, a única via para gerar inovação diruptiva. É esta, de certa forma, a lógica que está na base do Sistema Brasileiro de Inovação, da legislação e dos incentivos fiscais a ele relacionados. Por esta visão, ao incentivar a ciência e a tecnologia, o governo brasileiro estaria

turbinando a inovação e, a partir dela, o desenvolvimento econômico. Contudo, e felizmente, estas premissas, apesar de verdadeiras, não são toda a verdade. Existem outros importantes caminhos para se alcançar a inovação radical. Ainda bem! Já que o Brasil, que muito precisa da inovação e do desenvolvimento econômico, não é, convenhamos, um polo mundial de criação de novas tecnologias. Um outro caminho seria o cliente. Porém, olhar cada vez mais para o mercado, com lentes de aumento poderosas, também não é a saída. Por este caminho extrairemos, no máximo, inovações incrementais. Pequenas – às vezes irrelevantes – mudanças no campo do desempenho. Os clientes poderão fazer melhor, o que eles já fazem hoje. Mas, não teremos a inovação radical capaz de criar mercados, marcas e realidades completamente novas; não há inovação que gere margens extraordinárias e sustentáveis para as empresas. Vejamos: o Viagra, o iPad, históricas inovações radicais de produtos; o Netflix, inovação radical no negócio que derrubou, de vez, a gigante Blockbuster; a fábrica de caminhões da Volkswagen, MAN, um dos símbolos de inovação em gestão. Enfim, em todas as dimensões da inovação, sejam produtos, processos, negócio ou gestão, as inovações radicais não nasceram

Acima, saca-rolha Anna G., com imagem da designer Anna Gigli, amiga do autor, em versão com “véu de noiva”. Design Alessandro Mendini para a Alessi. Abaixo, estante Book Worm, design Ron Arad para a Kartell

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da simples observação do mercado e muito menos de se perguntar ao cliente, “o que você deseja agora?”, pelos tradicionais métodos de pesquisa. Qual a saída então? Precisamos de inovação, e rápido! Existe uma terceira e, cada vez mais clara, via para a inovação radical. A inovação de significado! E nesta podemos (Brasil), de verdade, nos tornarmos campeões mundiais. A inovação de significado é a inovação guiada pelo design. Voltamos aí ao vão existente entre o frio mundo dos negócios e o sensível mundo da arte. A descoberta do poderoso combustível de inovação, que é o significado, aparece como uma espécie de “ponte” que transpõe este vão. Ponte na qual o pensamento do design e o “discurso do design” são as sólidas fundações. O termo “discurso do design” e o conceito da inovação de significado foram criados pelo professor Roberto Verganti, do Istituto Politecnico di Milano e da Harvard Business School. A abordagem tem chacoalhado as Abaixo, cadeira Aeron, da Herman Miler, o iPod e Nintendo Wii, exemplos de grande inovação de significado

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estruturas dos convencionais métodos de se produzir inovação. Verganti desenvolveu os conceitos e, mais do que isto, estruturou uma metodologia que combina a sensibilidade de designers e artistas com a necessidade premente dos homens de negócios de buscar resultados pela inovação. A metodologia utilizada com sucesso por empresas campeãs em inovação como Ferrari, Ducati, Whirlpool, Fiat, dentre outras, constitui-se na tal “ponte” que possibilita a conexão entre o pensamento da “página em branco” e da inspiração dos designers, com a lógica fria dos dirigentes de empresas. Esta conexão virou nitroglicerina pura para a inovação radical e é uma via que devemos abraçar imediatamente no Brasil, se quisermos competitividade para a nossa indústria e serviços, setor no qual, igualmente, a inovação guiada pelo design se aplica perfeitamente. Importante que fique claro que não propomos apenas mais uma abordagem na linha das diversas que têm surgido sob o nome de “design thinking”. Inovar em significado vai bem além: é basear-se nas emoções e relações de afeto que conectam clientes com qualquer bem, serviço ou negócio. Sentir e compreender as mudanças socioculturais nas quais estes clientes estão imersos e, então,

criar produtos e serviços com base nos princípios centrais do design. Partindo do zero. Pensando com as mãos (prototipando), mas, sobretudo, ouvindo, interpretando e usando, para difundir a inovação, gente do mundo do lado de lá. Da arte, da música, dos movimentos sociais. Designers e arquitetos principalmente. Os quais o professor Verganti chama de “grupos de intérpretes”. Eles são a base da inovação radical de significado e, ao mesmo tempo, a ponte entre o mundo dos negócios e o mundo dos sentimentos. Poderosas relações afetivas ligam pessoas e produtos. Quando inovadores em significado, estes produtos preencherão espaços no coração e na mente dos clientes, que rejeitarão imitações de todo tipo e darão preferência – até pagando mais – ao produto genuíno. Empresas brasileiras têm adotado com sucesso as lições do professor Verganti e colhido os frutos. BRF, Natura, Ambev e muitas outras estão tão atentas às mudanças socioculturais e aos significados novos, quanto aos seus orçamentos. Começa-se, inclusive, a estruturar no Brasil o primeiro grupo formal de intérpretes no campo dos alimentos e bebidas. Arte, afinal, tem em seu significado original, etimológico, a combinação de talento e técnica e é exatamente disto que a inovação radical precisa para acontecer. É hora de fortalecer as conexões entre designers e empresas, de trabalhar e criar juntos. Hora de mostrar ao mundo que, de fato, o Brasil é capaz. Antes que seja tarde demais...


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inovação

A Internet das Coisas Vanda Mendonça

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la já chegou! Casas e cidades inteligentes, equipamentos interligados e até embalagens de remédios personalizadas a partir das receitas para garantir a dosagem correta estão na mira da IoT (sigla para o inglês Internet of Things). A palavra de ordem é colocar a tecnologia a serviço do homem para simplificar tarefas do dia a dia e oferecer novos serviços para ampliar nossa qualidade de vida, de preferência, com soluções realmente inovadoras. O impacto esperado deste movimento é tão grande que a IoT está no radar dos governos de muitos países. Na China, está inserida nos planos da política industrial há mais de dez anos. Os números são impressionantes: segundo as projeções de algumas das maiores consultorias do mundo, 56

este mercado movimentará cerca de US$ 14,5 trilhões nos próximos dez anos, atingindo a marca de 20 a 30 bilhões de dispositivos conectados à internet em 2020. Por aqui, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também reconheceu o alcance da oportunidade e promoveu, em março deste ano, um seminário para focar o tema.

Conectividade sem fronteiras Já convivemos, por exemplo, com geladeiras que se conectam à internet e podem trazer programas de receitas para os adeptos da dieta, controle das datas de validade dos produtos estocados e até geração de listas de compras.


“Estamos apostando em nossa visão. Preferimos fazer isso do que fabricar produtos iguais aos outros. Vamos deixar outras empresas fazerem isso. Para nós, o objetivo é sempre o próximo sonho.” Steve Jobs, janeiro de 1984, após lançar o Macintosh.

Nas ruas, softwares usam o GPS do celular para informar o trânsito após o interessado digitar o destino, e o usuário de transporte coletivo urbano já não precisa ficar parado meia hora esperando pelo ônibus. Um aparelho instalado nos veículos informa sua posição exata e permite o monitoramento integral da gestão de trânsito. São muitas as novidades recentes, atraindo a atenção e investimentos de todos os tipos de empresa, de inovadoras startups, a gigantescas corporações. Mas, atenção: a potencialidade da nova onda tecnológica, quando combinada a mentes criativas e apoiadas com os recursos necessários - como acesso a investidores e programas governamentais de fomento -, permite ir muito mais longe. E é aqui que entram os designers, o modo de pensar e fazer do profissional. É esta a oportunidade que têm à frente ! Não apenas no desenvolvimento de interfaces amigáveis, na concepção formal dos equipamentos ou no trabalho de branding, mas, principalmente, no desafio maior: na criação de novas propostas, de novos serviços que poderão alterar – para melhor, acreditamos - o modo como muitas coisas são feitas hoje.

DESIGN VISIONÁRIO Um bom exemplo do potencial revolucionário destas oportunidades vem da indústria automobilística. Sabemos que está bem avançado

o desenvolvimento do projeto do carro que poderá sozinho conduzir o motorista, que entenderá suas necessidades e o guiará, com segurança e conforto. Contudo, segundo Peter Fassbender, diretor do Centro de Estilo Fiat, o que se deve ter em mente é algo muito maior: “Se você tem os carros conectados, não precisa de semáforos. Eles serão objetos de mobilidade inseridos ao meio, e não apenas o seu veículo, isolado”, afirma Fassbender. Com este olhar, a transformação em nossas vidas pode ir longe, chegar aos sistemas de trânsito, às redes de distribuição de água e energia, aos sistemas de educação, segurança, distribuição, e muitos outros, alterando definitivamente a forma como realizamos diversas atividades do cotidiano. “Estas novas criações precisam atender mais a qualidade de vida e a criação de valor. O designer tem que ter esta perspectiva. O design tem a capacidade de colocar juntas todas as visões de um novo produto, e não simplesmente sua estética”, destaca Fassbender.

INVESTIR NO FUTURO Um seminário destinado à temática da IoT marcou a disposição do BNDES para apoiar empresas que desenvolvam pesquisas focadas na Internet das Coisas, como uma forma de promover o que se convencionou chamar de uma Nova Revolução Digital para o País. O evento reuniu pesos pesados do setor no

Rio de Janeiro. O Banco promete fazer sua parte e abrir as comportas para alimentar os investimentos em tecnologia e inovação. O BNDES tem linhas específicas para o segmento de Tecnologia e Inovação, destinados a empresas que queiram aprimorar produtos, além de programas específicos para o design, como o Prodesign. “Mesmo quando o empreendedor ainda não tem uma empresa constituída, pode usar fundos de capital semente, como o Criatec”, explica Irecê Klauss Loureiro, chefe do Departamento de Tecnologia da Informação e Comunicação (Detic)., que reforça a contribuição do design como conhecimento especializado nos projetos. “Novos produtos e novas formas de relacionamento da sociedade – onde máquinas se comunicam e conseguem fazer tarefas antes feitas por nós – são uma realidade no âmbito das inovações. Eles irão requerer do designer mais do que criatividade, para integrar soluções inteligentes, tecnologia embarcada, interface amigável e atenção à segurança”, reforça a executiva. “Tudo isso já existe, sob o ponto de vista tecnológico, mas é preciso ser estruturado sob o ponto de vista do negócio. É preciso ir além, dar novos passos e há mais coisas a vencer. Daqui a dez anos nossa vida estará muito diferente”, avisa Irecê Loureiro. Mãos - e mentes à obra, designers! 57


FOTOS: Jomar Bragança

cultura material

Mobiliário museográfico executado em pedra-sabão sinaliza o diálogo entre as cidades de Ouro Preto e Mariana promovido pelo projeto Trem da Vale. Na página ao lado, vista da Estação de Mariana

O PASSADO

MUITO PRESENTE Reverenciar e preservar o passado. Enriquecê-lo por meio de um olhar contemporâneo e uma perspectiva que abranja dos aspectos culturais ao turístico. Foi este o partido adotado pelo escritório Santa Rosa Bureau Cultural, pilotado por Eleonora Santa Rosa, ao convidar os arquitetos mineiros Isabela Vecci e Samy Lansky para o projeto “Trem da Vale”, ligação entre Ouro Preto e Mariana, duas das mais ricas cidades históricas mineiras com um trajeto de delicada beleza ao longo dos trilhos. Foi o que vimos, e recomendamos. Maria Helena Estrada Texto baseado em depoimento dos arquitetos Isabela Vecci e Samy Lansky

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Jomar Braganรงa


Acima, vagão Oficina de Vídeos, com sala para produção e, na foto, a sala de exibição

foto: Jomar Bragança

A

Acima, Praça Lúdico Musical. Em primeiro plano os fechamentos em vidro que receberam plotagem com desenhos das crianças da Escola Estadual Prof.ª Santa Godoy

Acima, detalhe da passarela e da área externa de brinquedos 78

proposta do Bureau Santa Rosa para a Vale, nome atual da Companhia Vale do Rio Doce, ao imaginar a possível recuperação deste patrimônio destruído, era a de abrigar um projeto cultural, tendo como principal fio condutor o trecho ferroviário entre as duas cidades históricas. Além da restauração das estações e recuperação da malha ferroviária, o projeto foi idealizado por Eleonora Santa Rosa como um programa continuado de educação patrimonial. Um olhar para a história, uma ligação afetiva com a população local e a oportunidade para os visitantes – não apenas brasileiros – de conhecer esta face de nosso passado. O fio condutor – educação patrimonial – definiu o programa arquitetônico a ser instalado nas estações Ouro Preto, Mariana, Vitorino Dias e Passagem de Mariana, bem como seus pátios. As duas primeiras são as estações-âncora, onde estão sediadas todas as intervenções. As outras duas foram apenas restauradas.


foto: Jomar Bragança

Sala na colorida e convidativa sede de Mariana, para TV e vídeos. Ao lado, vagão-café, que funciona durante os percursos ida e volta Ouro Preto-Mariana

Em Ouro Preto há, agora, a Estação Cidadania/Portal Turístico; e em Mariana, a Estação Parque. Foram recuperados 18 km de ferrovia, que passam por quatro túneis, além da construção de dois giradores, pontes, arrimos e restauração da oficina de vagões. Mas como transformar todo este trabalho em um meio de transporte, um trem de verdade, que resfolegasse entre as duas cidades e mostrasse toda a beleza do percurso? Começando a viagem

A solução veio com a compra de uma Locomotiva Santa Fé, de 1949, maria-fumaça restaurada em Tubarão (SC). Além dela, houve o mesmo cuidado com seis carros – entre eles o Vagão Panorâmico, concebido com design mais aberto e em vidro transparente, que recebe os passageiros. Estes, além do inusitado da viagem, são presenteados com magníficas paisagens ao longo do trajeto. A estação de Ouro Preto, inaugurada em 1888, recebe no ano seguinte

a visita de D. Pedro II. Bem mais tarde, passa a ser a sede da Prefeitura. As de Vitorino Dias e Passagem de Mariana tinham sido invadidas por diversas famílias. E a estação de Mariana, até o início do projeto estava ocupada por uma videolocadora e um bar! Nas quatro estações do percurso todos os pátios estavam abandonados. Mas tanto as estações quanto os pátios são tombados pelo IPHAN e, assim, foram feitas apenas as intervenções estritamente necessárias para abrigar os novos usos – tendo sempre o cuidado de recuperar e preservar elementos e detalhes originais. Agora, no pátio de Ouro Preto, há a Lona Cultural, com dois vagões fixos de apoio, e mais outros dois – o Vagão-Café e um Vagão Sonoro Ambiental, que possui instalação sonora construída a partir de objetos do cotidiano, além de uma oficina de luteria. A estação de Mariana, bem menor, é localizada em área central, em frente à Prefeitura Municipal. Mesmo assim foram instalados três vagões fixos

para atividades complementares: um Vagão-Café, o Vagão dos Sentidos e um Vagão Oficina de Vídeos. Praça Lúdico-Musical

Instalada no pátio da estação de Mariana, a praça – com cerca de 700 m2 – é mais do que um simples espaço com brinquedos. Como foi pensada e construída? Como foi conseguida a total originalidade de seus brinquedos e instrumentos? A dupla de arquitetos começou pela interação com as crianças e professores da Escola Estadual Prof.ª Santa Godoy, próxima à estação. O resultado está em cada elemento da praça. Em uma área ao ar livre os equipamentos de lazer e recreação contêm componentes sonoros que são utilizados e acionados pelo corpo dos usuários. Assim, a ênfase não se resume só ao produto final, mas também ao processo que o gerou. A primeira ideia foi a de utilização dos antigos trilhos retirados da ferrovia, a partir dos quais foram instalados os equipamentos lúdicos e sonoros, 79


Jomar Bragança

tais como escaladores, “zanga chuvas” ou gangorras (a sonorização interna é obtida com o “pau de chuva” dos índios brasileiros), escorregadores, ponte móvel, sino e carrilhão de sinos, flautas, harpa etc. Uma festa para se olhar e escutar! Até o primeiro patamar (em borracha reciclada), há acessibilidade para todos por meio de uma rampa; a partir daí, o acesso se dá por uma ponte móvel – desafiante – que atinge o escorregador caracol e o sino. O sol é forte, a movimentação é grande, então há um lava-pés para banhos refrescantes, grama e novas árvores para sombrear a área. Em um dos primeiros encontros com as crianças foi solicitado que elas dessem sugestões para o projeto. O resultado? Cerca de 400 desenhos e textos. Coordenadores e professores da escola elegeram este material como um dos principais elementos da praça. O vidro temperado, com os desenhos, além de servir como vedação, tem um belíssimo valor simbólico. Nada foi esquecido! É o lema da empresa levado a sério: “vale conhecer, vale preservar, vale registrar”.

Vagão Panorâmico transformado a partir de um vagão comum que recebeu nova estrutura metálica com fechamento em vidro

Projeto Cultural Trem da Vale Ideia Original: Eleonora Santa Rosa e Jason Barroso Santa Rosa Coordenação geral: Eleonora Santa Rosa, diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, escritório de produção e gestão de bens culturais Autor[es] do projeto arquitetônico: Arq. Isabela Vecci e Arq. Samy Lansky

Eduardo Trópia

Vista geral da estação de Ouro Preto mostrando o girador e a Lona Cultural

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Colaboradores: Arquitetos Colaboradores: Silvio Todeschi, Camila Zyngier, Danila Ferreira, Leonardo Fávero, Pedro Morais, Tiago Esteves e Otávio Coelho Projeto luminotécnico exteriores e projetos hidrossanitários: Ceilux Projeto restauração das estações AF&T Sinalização: Lúcia Nemer Supervisão de obras: João Bagno Espécies Vegetais: Mirelli Borges Medeiros


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SERPENTINE GALLERY

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Projeto do arquiteto chileno Smiljan Radic, nascido em 1965, a instalação da Serpentine Gallery de 2014 estabelece uma tensão entre a leveza e o brutalismo, entre a transparência da estrutura e seu suporte de pedras. A estrutura “em forma de concha branca, translúcida, em fibra de vidro, frágil sobre grandes pedras” ... “à noite recebe uma suave luz âmbar, que atrai a atenção de quem passa por Kensington Gardens ”, diz o arquiteto. Inaugurada em 26 de junho, será encerrada em 19 de outubro.

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