Plurale em Revista - Edição 49

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ano oito | nº 49 | setembro / outubro 2015 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

VIETNÃ: BONS MOTIVOS PARA CONHECER Artigos inéditos

FOTO DE MAURÍCIO CHICHITOSI (HISTÓRIAS PELO MUNDO) - CAMPO DE ARROZ – NORTE DO VIETNÃ

www.plurale.com.br

EDUCAÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO E OS CORAIS DA AUSTRÁLIA


PRESERVAR A NATUREZA É PENSAR NO FUTURO. E FAZER NO PRESENTE.


O Grupo Boticário tem orgulho de ver a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza completar 25 anos de grandes realizações pela conservação da biodiversidade. Uma iniciativa que já protegeu 700 nascentes em áreas rurais, mananciais que abastecem 8 milhões de pessoas, áreas de Mata Atlântica e Cerrado equivalentes a 11 mil campos de futebol, 240 espécies de animais ameaçadas e muito mais. Assim construímos, desde já, um mundo mais belo para o futuro.

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Conte xto

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O exemplo da água boa da região em torno de Foz do Iguaçu, Por Isabella Araripe

Várias razões para você colocar o Vietnã no seu roteiro,

MAURÍCIO CHICHITOSI- HISTÓRIAS PELO MUNDO

12.

Por Giuliana Preziosi, Editora do Blog Histórias pelo Mundo UNHCR

Artigos inéditos:

Por Christian Travassos, Marcus Quintella e Nélson Tucci nícia ribas

22.

25 anos de trabalho pela conservação, Por Miguel Krigsner

38

O “Velho Chico” e sua gente,

divulgação

Por Nícia Ribas

Pelo Brasil

18 a 21 Seguros: cadeia de valor

42 Cinema Verde,

Por Isabel Capaverde

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro Setembro / Fevereiro / Outubro2015 2015

MARINA GUEDES

54.

Iniciativas em defesa da grande barreira de corais, Por Marina Guedes


E ditorial Calypso Reef Imagery Cairns

Os parceiros Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi, do blog Histórias pelo mundo, apresentam a beleza do Vietnã e Marina Guedes mergulha para conhecer de perto o trabalho de proteção aos corais da Austrália. Em Pirapora, Nícia Ribas mostra a preocupação com a mais severa seca no Rio São Francisco.

Por este mundo afora Vietnã, Austrália, o “velho Chico”, Ibitipoca, Serra do Cipó, iniciativas em torno da garantia de água boa em Foz do Iguaçu e muito mais Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

U

ma edição bem variada. Artigos inéditos, entrevista sobre educação no mês que comemoramos o Dia do Mestre, o trabalho de proteção aos corais australianos, os segredos e encantos do Vietnã, o “velho Chico”, a Serra de Ibitipoca e muito mais. O jovem casal paulista Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi traz o olhar curioso e especial que acreditamos ser também de Plurale e seus leitores. Depois de fazerem um bom pé-de-meia, largaram sólidas carreiras na área de sustentabilidade empresarial e Direito e acreditaram ser possível sim realizar um sonho: cruzar o planeta em diferentes pontos, de norte a sul, leste a oeste, com o objetivo não tão somente de fazer turismo, mas de conhecer pessoas, suas histórias e estabelecer conexões. Nesta edição, os parceiros estiveram no Vietnã e trazem para você a exuberância e originalidade deste povo que ainda traz as cicatrizes na pele e na alma da guerra. Do Vietnã para a Austrália, Marina Guedes relata o trabalho genial de voluntários pela preservação dos famosos corais, tão lindos quanto ameaçados.

No Brasil, Hélio Rocha denuncia invasões no deslumbrante Parque Estadual de Ibitipoca. Com a temática água é hoje ainda mais determinante, Nícia Ribas relata, da região onde nasce o Rio São Francisco, a preocupação do setor de turismo com a maior seca de sua história. Também em Minas, Ana Cecília Vidaurre de Almeida e Artur Vidaurre de Almeida estiveram na incrível Serra do Cipó, bem próxima de Belo Horizonte e com tanto a apresentar em biodiversidade. Isabella Araripe visitou outro extremo, a região de Foz do Iguaçu, para conhecer iniciativas que buscam assegurar o acesso à agua boa. Trazemos ainda artigos inéditos, de Christian Travassos, Marcus Quintella, Miguel Krigsner e Nélson Tucci. Não é só. Em outubro, mês da homenagem aos mestres – abnegados professores de tantas glórias e pouco reconhecimento financeiro – entrevistamos Priscila Cruz, diretora-executiva do Movimento Todos pela Educação. Sem falar nas colunas Cinema Verde, por Isabel Capaverde, Estante, Vida Saudável, Pelo Brasil e muito mais. Boa leitura! 5


Quem faz

Cartas

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br

“Caro Bello, gostei de ler o seu artigo em Plurale em revista. Você tem o dom de escrever. ” Ana Maria Siqueira, por e-mail

Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Jurandir Santos e Julio Baptista Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Adriana Boscov, Ana Cecília Vidaurre de Almeida, Artur Vidaurre de Almeida, Bárbara Benatti e Carolina Fernandes (Todos pela Educação), Christian Travassos, Danielle Carazzai, Fernanda Cubiaco, Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi (Histórias pelo Mundo), Hélio Rocha, Marcus Quintella, Marina Guedes, Miguel Krigsner, Nélson Tucci e Vitor Abdala (Agência Brasil). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

“Caras Sônia e Lilia, Muito obrigada pelas vidas reveladas na matéria “Parada Certa”, um conjunto de histórias que contam muito dos valores do Instituto JCA. Grata pela visita, escuta e poesia das palavras” Tatiana Antunes, presidente do Instituto JCA, de Niterói, por e-mail “Fantástica a matéria “Parada Certa”, por Lília Gianotti, sobre o Instituto JCA! Vocês conseguem inspirar, colocar emoção. Fiquei muito emocionada ao ler a matéria, olhos cheios de lágrimas e muitos arrepios. Uma linda história de amor pela juventude! Muito obrigada ao Seu Jelson, não o conheci, mas consigo imaginar quem foi este HOMEM.” Márcia Vaz, gerente de Responsabilidade Social da FETRANSPOR, do Rio de Janeiro, por e-mail “Cara Sônia, Parabéns por todo o conteúdo relevante da Edição 48 de Plurale em revista. Em especial pela resenha de Felipe Araripe sobre o novo livro infantil de Míriam Leitão. Genial!” Renato Manzano, consultor, de Jundiaí (SP), por e-mail “Caro Luiz Fernando Bello, O tema da sustentabilidade tem sido muito discutido pelo economista porque emerge na polêmica do desenvolvimento explicitado na Conferencia (ONU) do Rio em 1992. Parabéns pelo excelente artigo publicado na Edição 48 de Plurale em revista. Um grande abraço” Severino Soares Agra Filho, Professor Associado do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA), por e-mail

“Muito obrigada pela matéria genial publicada na Edição 48 de Plurale em Revista sobre nosso Movimento Lixo Zero. Com esta parceria, compartilhamos com mais e mais pessoas o processo que o Movimento Lixo Zero iniciou, de significativa mudança na forma de como tratar e valorizar os resíduos pelos médios e grandes geradores, separando-os do rejeito, visando ao aproveitamento de recursos e disposição final adequada. Em breve teremos mais novidades e queremos novamente que a Plurale seja nossa porta-voz’ Alfredo Piragibe, Presidente do Instituto Lixo Zero, do Rio de Janeiro, por e-mail “Lutar pelos espaços públicos e pela sustentabilidade é defender a cidadania, acima de tudo. Por isso estou muito satisfeito ao ver meu trabalho reconhecido em matéria de Hélio Rocha (“Por mais praças e parques em Minas Gerais) e em confluência com a proposta de Plurale em revista.” Jucélio Maria, vereador de Juiz de Fora (MG), por e-mail Coragem e Pioneirismo são as duas palavras que definem o sucesso da Plurale: Coragem para largar outros caminhos e Pioneirismo ao identificar rumos mais importantes e ainda pouco trilhados. Parabéns pela vitoriosa longevidade! Luis Carlos Ewald, economista, professor da FGV, por e-mail Plurale em site “Muito bom o artigo “Se meu fusca fraudasse”, publicado em Plurale em site pelo jornalista PH de Noronha. Prisão para todos os envolvidos na fraude, principalmente o presidente. Talvez assim os executivos fiquem receosos de cometer fraudes deste tamanho, e o incentivo do bônus extra não seja tão atrativo, pois não vão poder aproveitar do xilindró!” Alexandra Lichtenberg, de San Francisco (Califórnia), por e-mail “Bela análise de PH de Noronha sobre a crise na Volkswagen neste artigo para Plurale em site. Estou acompanhando os desdobramentos para os próximos treinamentos de gerenciamento de crises.” Malu Fernandes, jornalista, do Rio de Janeiro, por e-mail


Frases A Conferência Ethos 2015, real Paulo, promoveu dois intenso

izada em setembro, em São

s de diálogos relevantes. Reunimos aqui alguns de dest aque do evento

É preciso levar fatos “e atitudes ilegais aos

DIVULGAÇÃO

superiores. Da mesma forma, garantir a não retaliação para quem falar”. As lideranças devem dar o exemplo, fazerem o que falam, estarem abertos para ouvir e lembrar que lidam com gente.

Andreas Pohlmann, jurista especializado em compliance

Sempre procuramos A preocupação da “ “Disney estimular acordos, reunir com as crianças e com famílias vai muito além da diversão. Temos responsabilidade de construir um futuro melhor. Uma vez que os recursos naturais não são inesgotáveis, precisamos de metas inteligentes

Beth Stevens, vice-presidente de Cidadania Corporativa, Meio Ambiente e Conservação da Walt Disney Company

Estima-se que hoje no Brasil cerca de 40% dos corpos hídricos estão poluídos

Mauro Armelin, da WWF-Brasil

atores intersetorialmente e estimular ações coletivas em torno de temas como o clima, a biodiversidade, tecnologias limpas, práticas responsáveis e integridade, entre outros

Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos

Eu acredito que a “economia circular não é uma panaceia para todas as questões sociais, mas, ao menos no que se

refere à visão ambiental, traz uma forma diferente de pensar o uso dos recursos naturais e ainda manter a prosperidade, o desenvolvimento. Sim, a economia circular pode ser considerada uma luz no fim do túnel. Mesmo com apenas 120 casos estudados, já é um começo

Peter Lacy, diretor global de Serviços e Sustentabilidade da Accenture Strategy, especialista sobre economia circular

Humanos não são “recursos. Toda empresa tem de ver exatamente quem anda contratando, de onde elas vêm, o que elas representam na sociedade e como podem contribuir para o desenvolvimento de produtos e serviços. Temos, também, de revisar as entranhas para inovar”.

Sílvia Valadares, chefe da comunidade de startup’s da Microsoft Brasil

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Entrevista

, z u r C a l i Prisc

executiva

diretora do movimento Todos Pela Educação

“A Educação precisa ser, de fato, prioridade” 8

PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2015


Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos Alexandre Ondir- Divulgação/ Todos pela Educação

C

asa de ferreiro, espeto de ferro. O ditado popular poderia ser alterado se a intenção for falar da qualificação da diretora-executiva do movimento Todos pela Educação, que reúne empresas, educadores, especialistas, ONGs e a sociedade civil em torno do objetivo maior de buscar uma educação de qualidade. Priscila Cruz, aos 40 anos, acaba de concluir com louvor o Mestrado em Administração Pública pela Harvard Kennedy School of Government, tendo recebido o prêmio de aluna destaque 2014/2015. É graduada em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (SP) e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Nesta entrevista exclusiva à Plurale, Priscila adverte que educação precisa ser, de fato, prioridade para todos. Reconhece que muito já foi feito e assegura haver bons exemplos espalhados por este Brasil continental. Mas alerta: “Há ainda muito a ser feito por gestores públicos, gestores escolares, no dia a dia na sala de aula por professores e alunos, pelas famílias, pelos empresários, enfim, por toda a sociedade.” Sua agenda concorrida a leva não só para audiências com políticos e especialistas no tema, mas também para rincões distantes como o sertão nordestino. Como uma das fundadoras do Todos pela Educação, em 2006, tem ajudado a impulsionar iniciativas que ajudem a alavancar o objetivo de melhorar o ensino no país. Como no lançamento das 5 Atitudes (www.5atitudes.org.br), que mostram como a população brasileira pode ajudar crianças e jovens a aprender cada vez mais e por toda a vida. Na conversa, a diretora-executiva do Todos pela Educação defende a melhor remuneração de professores, fala sobre os desafios dos próximos anos e, apesar da crise atual, mostra-se otimista sobre o futuro da Educação e da gestão escolar no Brasil. Plurale em revista - Esta é uma pátria educadora? Priscila Cruz - A Educação já aparece nas pesquisas entre as principais preocupações dos brasileiros, porém, ainda não podemos dizer que somos uma Pátria Educadora. Avançamos muito nas últimas

As pesquisas mostram que os brasileiros, em geral, entendem a Educação como importante. Mas ainda há uma dificuldade de colocar em prática a valorização da Educação no dia a dia. Por isso é importante buscar informar e deixar mais claro direitos e deveres, e o que pode ser feito por cada um, atitudes e ações simples, que estão ao alcance da maioria das pessoas.” duas décadas, mas ainda corremos atrás da garantia do básico, como ter todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos na escola, sendo alfabetizados até os 8 anos, com aprendizado adequado às séries e concluindo o Ensino médio até os 19 anos. Há ainda muito a ser feito por gestores públicos, gestores escolares, no dia a dia na sala de aula por professores e alunos, pelas famílias, pelos empresários, enfim, por toda a sociedade. Plurale - O que falta para chegarmos um dia a ter uma educação realmente de qualidade? Priscila - A Educação precisar ser, de fato, prioridade tanto dos governos quanto da sociedade em geral. Além disso, é preciso modernizar a escola. Formuladores de políticas públicas, gestores e as redes de ensino precisam ter coragem para implementar mudanças disruptivas, inovadoras, que possam trazer alternativas para as ideias que já não se mostram mais efetivas. Plurale - O Todos pela Educação tem procurado defender esta educação de qualidade. Lançou o documento “5 atitudes”. Quais são estas atitudes? Priscila - Em 2014, o movimento Todos Pela Educação percorreu as cinco regiões do país para ouvir pais de alunos e educadores sobre as ações e comportamentos que favorecem a parceria entre família, es-

cola e comunidade e que impactam positivamente no aprendizado dos alunos. Com base nesse levantamento, o movimento propõe 5 Atitudes (www.5atitudes.org. br) que mostram como a população brasileira pode ajudar crianças e jovens a aprender cada vez mais e por toda a vida. São elas: 1- Valorizar os professores, a aprendizagem e o conhecimento 2- Promover habilidades importantes para a vida e para a escola 3- Colocar a Educação escolar no dia a dia 4- Apoiar o projeto de vida e o protagonismo dos alunos 5- Ampliar o repertório cultural e esportivo das crianças e dos jovens Plurale - Como envolver mais a família e a comunidade na Educação das crianças e jovens? Priscila - As pesquisas mostram que os brasileiros, em geral, entendem a Educação como importante. Mas ainda há uma dificuldade de colocar em prática a valorização da Educação no dia a dia. Por isso é importante buscar informar e deixar mais claro direitos e deveres, e o que pode ser feito por cada um, atitudes e ações simples, que estão ao alcance da maioria das pessoas. Se as pessoas sentirem que é algo possível de ser feito por elas, a chance de se mobilizar é maior. Plurale - Estamos em outubro, mês do professor. A primeira atitude citada é valorizar mais o professor. O que falta para atingirmos esta meta? A começar pela remuneração e condições de trabalho, não é? Priscila - A valorização do professor depende de muitos fatores. Sem dúvida é preciso, no mínimo, equiparar a remuneração à de outros profissionais com a mesma escolaridade, dar melhores condições de trabalho e também criar planos de carreira que permitam a continuidade do seu trabalho em sala de aula – hoje, geralmente, um professor que quer progredir na carreira, acaba se tornando um gestor, ou seja, deixando a sala de aula. Entretanto, a sociedade como um todo precisa valorizar o professor. Isso passa por todos e cada um de nós valorizarmos mais o próprio conhecimento e o professor como figura central do processo de ensino-aprendizagem e construção do saber.

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Entrevista

Plurale - Em meio à crise, há casos dramáticos de cortes em bolsas de alunos do Fies e também de alunos que estão cursando o Ciências sem Fronteiras. Sem falar no caos para muitos municípios terem uma Educação Básica em condições decentes. Os jornais mostram que faltam de cadeiras a professores.... como lidar com carências com um tema tão urgente como a Educação? Priscila - É em um momento de crise que o país define de verdade suas prioridades. Sendo a Educação essa prioridade, ela precisa de condições para avançar. No Brasil, temos questões a solucionar na Educação que deveriam ter sido resolvidas no século passado, como acesso e infraestrutura básica, ao mesmo tempo em que lidamos com temas mais contemporâneos, como tecnologia e habilidades para o século 21. É como trocar o pneu com o carro andando. Plurale - Temos um problema sério quanto aos professores – muitos estão se aposentando ou estão para se aposentar. Até 2020, cerca de 40% dos professores do Ensino Médio irão se aposentar, de acordo com estudo do Ministério da Educação. E há pouca atratividade para atrair novos profissionais. Como resolver este hiato? Priscila - Voltamos à questão que trata do salário e condições de trabalho. Melhorar esses aspectos é fundamental para que a profissão seja mais atrativa. Porque um jovem que cursa matemática vai ser

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O Magistério precisa ser encarado como uma carreira profissional, e não apenas como vocação. É preciso que a sociedade volte a valorizar esse profissional ou nunca atrairemos os melhores.” um professor de uma escola pública, com todos os problemas que conhecemos como infraestrutura, violência, baixa remuneração e falta de progressão na carreira, se ele pode ter uma carreira mais estimulante, mais atrativa no setor financeiro, por exemplo? O Magistério precisa ser encarado como uma carreira profissional, e não apenas como vocação. É preciso que a sociedade volte a valorizar esse profissional ou nunca atrairemos os melhores. Plurale - Você tem estudado no exterior e acompanhado modelos e exemplos globais. O Brasil é tão diverso e tão inspirador. Temos projetos para se orgulhar e servirem de modelos? Priscila - Há muitas coisas interessantes acontecendo no Brasil, como Pac-

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to pela Alfabetização na Idade Certa (PAIC) do Ceará, os Ginásios Experimentais da cidade do Rio de Janeiro e do estado de Pernambuco, o programa de formação de professores do Instituto Chapada (Bahia). Porém, a maior parte acontece localmente e não é reconhecida e nem estimulada pelo governo, o que dificulta que ganhem escala e sirvam de inspiração para outros locais. Plurale - Quais são os projetos e desafios do Todos pela Educação dos próximos anos? Priscila - O maior desafio do movimento nos próximos anos é mobilizar, de fato, a sociedade. Além de todo o trabalho que fazemos junto aos poderes executivo, legislativo e judiciário, do acompanhamento e divulgação dos indicadores educacionais, é muito importante estimular e engajar o cidadão brasileiro a colocar a Educação como prioridade absoluta e que essa preocupação se reflita em suas ações cotidianas, no olhar que ele tem para a escola do seu bairro, na forma como conversa com seus filhos, nos diálogos com os vizinhos, na hora do voto, no momento de cobrança e também na disposição em apoiar e aprendizagem. Por isso estamos produzimos e estamos ainda produzindo materiais que podem ser usados por diferentes atores, como campanhas publicitárias, que podem ser veiculadas de maneira voluntária por empresas de comunicação, jornalistas, blogueiros e comunicadores das redes sociais; o livro 5 Atitudes pela Educação - Orientações para Coordenadores Pedagógicos, uma parceria com a Editora Moderna com apoio da Comunidade Educativa Cedac, cuja intenção é apoiar o coordenador pedagógico no trabalho com os professores, para que colocar em prática as 5 Atitudes; a publicação “100 perguntas que vão dar o que falar”, que visa auxiliar no diálogo entre os pais e as crianças ao trazer perguntas sobre sentimentos, Educação, cultura e esporte, e que pode sem impressa por qualquer organizações para distribuição aos seus colaboradores; e, por fim, o carro chefe que é o portal www.5atitudes.org.br que abriga todos os materiais de apoio à mobilização e estimula a troca de experiências e histórias de cada um com a Educação, para estimular à prática das 5 Atitudes.


Data: 26 de novembro de 2015 Local: BM&FBOVESPA End.: Rua XV de Novembro, 275 – 1º andar, São Paulo - SP

17º PRÊMIO ABRASCA RELATÓRIO ANUAL

| PROGRAMA | | 10:00 horas | Recepção e credenciamento dos convidados | | 10:30 horas | Abertura | | Dr.Antonio Duarte Carvalho de Castro, Presidente da Abrasca | | 10:40 horas | Pronunciamento da Professora Lucy Sousa, Presidente da Comissão Julgadora do Prêmio Abrasca – Melhor Relatório Anual | | 10:50 horas | Palestra A Empresa vista sob três ângulos, Lélio Lauretti, ex-presidente da comissão julgadora do Prêmio ABRASCA melhor Relatório Anual e especialista na área | | 11:30 horas | Entrega das menções honrosas nas categorias | | Análise econômico-financeira | | Aspectos sócio-ambientais | | Estratégia | | Gestão de Risco | | Governança Corporativa | | 11:45 horas | Entrega do prêmio para a vencedora da categoria Organização não Empresarial e pronunciamento da vencedora | | 11:50 horas | Entrega dos prêmios para as empresas fechadas vencedoras das categorias 1 e 2 e pronunciamento dos premiados | | 11:55 horas | Entrega do prêmios para as companhias abertas Vencedoras das categorias 1 e 2 e pronunciamento das premiadas | | 12:00 horas | Encerramento do evento e brunch |

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES ABRASCA – Tel.: [11] 3107.5557 nilsonjunior@abrasca.org.br

Realização

Organização

Patrocínio

Apoio Promocional

Apoio Institucional

Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis

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Colunista Christian Travassos

Contra a O

s brasileiros vivem em 2015 uma sensação comum: desconfiança e preocupação a cada indicador econômico divulgado ou nova notícia sobre a operação Lava Jato. O país opera em modo de segurança, mas não por decisões recentes. Há duas décadas, o Governo Federal amplia a fatia do gasto público como proporção do PIB, sem, no entanto, privilegiar o investimento e a infraestrutura. Além disso, a partir da crise financeira internacional, e ao sabor do calendário eleitoral, o Planalto afrouxou de maneira acintosa compromissos consagrados a duras penas. Os resultados foram antecipados reiteradamente pelos analistas de mercado, inclusive por nós aqui em Plurale, desde o artigo “2011: oportunidades, lições e desafios”, publicado em dezembro daquele ano - e disponível junto aos demais textos no site de Plurale. Hoje, entre os frutos colhidos, está a perda do grau de investimento pela primeira das três principais agências internacionais de classificação de risco - a Standard & Poor’s -, que tende a ser seguida em breve pelas demais. Na economia, não há almoço grátis - o cobertor é curto. Sob o argumento de incentivar a atividade, o governo aumentou seguidamente as despesas de manutenção da máquina pública, descumpriu metas fiscais e de inflação - sobretudo nos últimos quatro anos, o que levou à rejeição por unanimi-

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dade das contas do governo de 2014 pelo Tribunal de Contas da União. Em paralelo, passou a intervir em negociações e precificações de mercado, princípios básicos à confiança, ao planejamento empresarial e, portanto, ao investimento. O objetivo era conter artificial e provisoriamente as altas de preços - e manter-se bem na foto junto ao eleitorado. As consequências dessa estratégia se deram no setor energético, nos casos de energia elétrica e combustíveis: baixo fôlego na oferta e galope de preços, mas não apenas. Encontram-se na política e na economia, como no enfraquecimento da base do governo no Congresso e na instabilidade cambial.

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Os reflexos desse conjunto de medidas com foco no curto prazo tornaram-se logo visíveis na ponta da produção, crescentemente vulnerável à concorrência com pares internacionais mais competitivos. Hoje, os resultados da chamada “nova matriz econômica” são conhecidos por qualquer brasileiro, mesmo pelo desinteressado no noticiário econômico. Agora, na tentativa de compensar os efeitos das escolhas feitas, o governo propõe novos aumentos de impostos. Que maré. Em meio a inflação, juros e desemprego em alta, o ambiente de incertezas na Política reduz a clareza quanto aos rumos da economia. O investimento, semente do


crescimento futuro, segue ladeira abaixo o que se agravará com a perda do grau de investimento. Por seu turno, o consumidor passou a privilegiar compras do dia a dia e a evitar financiamentos de maior valor, o que acentua a contração econômica. Romper com esse círculo depende de consensos técnicos, mas também políticos. As estimativas de mercado já apontam para um encolhimento do PIB próximo a 3% neste ano, o que caminha para ser o pior desempenho em um quarto de século. O país está em recessão e as causas não são estrangeiras, como a propaganda governamental já tentou justificar. A inflação se aproxima de dois dígitos, mais que o dobro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional - em patamar acima da aprovação do governo. Os indicadores econômicos evidenciam um quadro de insegurança que marca hoje a tomada de decisão de empresários e consumidores. Pé no freio, estoques elevados, capacidade produtiva ociosa, novos projetos suspensos. Fazer o quê? Há de se embalar um filho que, ao fim e ao cabo, é de todos. Os fatos desnudam a fugacidade de soluções supostamente fáceis, um improviso que se tornou regra, de olho no curto prazo, sempre ele. Brasileiro não gosta de ler manual. No esporte, os 7x1 escancararam os contrastes entre planejamento e imediatismo. Comprovaram os limites da criatividade quando restrita ao improviso,

pelo qual um time de futebol por aqui costuma ser treinado por três, quatro técnicos numa única temporada. Nos negócios, sempre valorizamos a lógica do aprendizado pela prática - por circunstâncias familiares ou locais. Só que o mercado no Séc. XXI exige profissionalismo, estratégia - como a economia. Contra a maré, não restam muitas alternativas. A hora é de aprimorar a gestão das empresas e da economia doméstica: pesquisar pontos em que se pode racionalizar custos, reduzir desperdícios, o que pode ser feito em rotinas administrativas e de pessoal. Na ponta do lápis, cabe renegociar custos, prazos e volumes junto aos fornecedores, cientes das dificuldades encaradas por todos. As empresas encaram taxas de juros e impostos em elevação, esfriamento do consumo e incertezas em relação ao futuro. O custo elevado do crédito dificulta ainda mais o acesso de micro e pequenos empresários a recursos necessários ao investimento e ao capital de giro, em um momento marcado por desafios. Em períodos de incerteza e custos em alta, a empresa precisa reduzir a exposição de seu orçamento. O ideal é evitar a tomada de crédito, mas, não havendo outro jeito, pesquisar taxas no mercado é fundamental. Uma troca de financiamento pode ser viável e bem-vinda. O melhor é se antecipar aos problemas, o que também vale para o consumidor. Ter sempre em vista seu fluxo de receitas e despesas, con-

siderando sazonalidades que impactem o orçamento ao longo do tempo. E quando os recursos financeiros rareiam, o capital humano ganha peso ainda maior. Em tempos de crise, uma equipe bem treinada e motivada faz toda diferença. É preciso preservar a motivação, o comprometimento, de maneira a passar por esse período turbulento. Uma forma de ampliar a produtividade - e melhorar os resultados - está em intensificar o treinamento dos colaboradores, essencial no relacionamento com clientes ainda mais seletivos. Se ampliar o mercado é quase inviável, manter a clientela já é uma grande conquista. Outro ponto está na inovação. A crise exige repensar mix›s de produtos, adaptar-se a mercados cada vez mais competitivos. Parece mentira, mas parcela expressiva das empresas brasileiras ainda está alheia ao e-commerce, fora das redes sociais, alijada de um mercado que só faz crescer. Se em condições normais de temperatura e pressão, não se pode fechar os olhos a qualquer vento a favor, em tempos de crise, esse custo pode ser o naufrágio da embarcação. Quem é do mar, não enjoa. (*) Christian Travassos (christian. travassos@yahoo.com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre economia e sustentabilidade. É economista (Puc-Rio) e Mestre em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ).

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Colunista Nelson Tucci

Qual o futuro da crise dos refugiados? Fotos da UNHCR

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A

crise é ética ou estética? A crise é ética. E serão necessárias décadas para se equilibrar a psiquê das pessoas e dos países atingidos. A incidência de doenças mentais tende a ganhar contornos e proporções imprevisíveis. A solução para este gigantesco deslocamento humano não é simples. Será preciso uma sincera e propositiva união internacional de esforços – Comunidade Europeia, Rússia, China e Estados Unidos -, do contrário assistiremos a uma espécie de “Idade Média digitalizada” com o inevitável redesenho do mapa mundi. Esta é a constatação a que chegam renomados professores e pesquisadores entrevistados para a matéria. Há dois anos quando Plurale tratou do tema (veja artigo intitulado “Lampedusa e os pobre a quilo” - www.plurale. c o m . b r / n o t i c i a s - l e r. p h p ? c o d _ noticia=13066&origem=&filtro= ) a situação já era por demais preocupante. O papa Francisco também tinha passado pela ilha de Lampedusa, no sul da Itália, e lançado o alerta. No entanto, a sensação presente é que nesses últimos vinte e poucos meses nada, ou quase nada foi feito para se colocar um ponto final na crise humanitária. Assim, Plurale volta à carga em mais uma tentativa de disseminar a informação útil e abrir o leque do debate. Afinal, um planeta está longe, muito longe de ser sustentável quando a ONU divulga relatório contabili-

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zando 59,5 milhões de refugiados. Destes, metade são crianças e 1 em cada 10 mulheres que chega à Europa está grávida, completa a UNICEF. A par dos últimos acontecimentos – que inevitavelmente nos remete à foto do menino Aylan Kurdi, de 3 anos, morto em uma praia turca, como símbolo do drama dos refugiados --, entrevistamos Aleksandar Jovanovic e Paulo Saldiva, doutores em Linguística e Medicina, respectivamente, e por coincidência professores da Universidade de São Paulo (USP). Filho de imigrantes, pesquisador, ex-jornalista e professor universitário com dedicação à Linguística e às Relações Internacionais, Aleksandar Jovanovic tem a mesma desenvoltura para falar do seu Corinthians ou da História. E sem perder a verve, declara: “O colega Francis Fukuyama que me perdoe, mas ao declarar `O Fim da História` ele perdeu uma grande chance de ter ficado quieto”. Em sua opinião, o atentado às torres gêmeas, de 11 de Setembro de 2001, já foi um mau presságio no começo deste século. “Vivemos um fracasso ético e uma crise humanitária gigantescas”, enfatiza, disparando em seguida: “E em meio ao maior deslocamento de refugiados depois da II Guerra, assistimos países europeus colocando cercas de arame farpado nas fronteiras e marcando pessoas, com números nos braços, repetindo as condenáveis práticas a que o mundo assistiu da Alemanha nazista”.


Jovanovic confessou-se indignado com o posicionamento da República Tcheca, da Hungria e do Canadá nesta crise.

Indignado com as posturas da República Tcheca (marcar pessoas), Hungria (os arames e a xenofobia crescente) e o Canadá – “país considerado `tão normal` e que inexplicavelmente rejeitou o visto à família dos meninos Aylan e Galib, mortos na tentativa de fugir da guerra síria, quando estes já tinham parentes vivendo por lá” – Aleksandar Jovanovic destaca a luta do povo curdo contra o Estado Islâmico, no Oriente Médio. “Desde 1920 prometeram-lhes terra pra fixar a Nação curda e não entregaram até hoje. São hoje o povo mais injustiçado no mundo”. E de injustiça em injustiça, o risco de se redesenhar o mapa do Oriente Médio e depois da Europa é grande, adverte ele. “O Estado Islâmico está protagonizando uma espécie de retorno à Idade Média, com a diferença de que a barbárie é mostrada online. E se nada for feito para se conter esse status quo, breve teremos uma nova ordem mundial, para o bem ou para o mal”. SEQUELAS HUMANAS Do ponto de vista ético e estético existe coisa pior que sequelar-se o mapa mundi. “São

as sequelas humanas a que estas guerras submetem as populações refugiadas”. O médico patologista e pesquisador Paulo Saldiva tem uma clareza e simplicidade ao falar que até assusta. Ele começa a entrevista citando a música Asa Branca para explicar a saga dos refugiados. “Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação” ... O nordestino passou um pouco por isso também, a partir dos anos 40, no Brasil. Mas no caso dos africanos, por exemplo, a situação é ainda pior – explica Saldiva. “A primeira coisa que perdem é a identidade cultural. Entrando num mundo diferente, sem pessoas de sua referência, com outros valores, tendem a ter doenças psiquiátricas”. E acresce: “Em semelhante contexto cultural estão os haitianos que chegaram a São Paulo”. Além, evidentemente, das precárias condições sanitárias. Segundo o professor,

o nível de incidência de diarréia dos exilados sírios hoje é comparável ao que existe nos campos de guerra. “O efeito psiquiátrico é devastador e vai demorar décadas pra que recuperem a autoestima”, diagnostica. Pode até parecer estranha a analogia para algumas pessoas, mas na visão de Paulo Saldiva, a questão humanitária é bem pior que a econômica. “A econômica você senta, discute e resolve, mas a crise ética e a religiosa não”. Seu olhar, do ponto de vista coletivo, portanto, não é animador. Ele prevê um considerável aumento de tensões entre os povos. Com o que concorda o colega Jovanovic, argumentado que a solução da crise dos refugiados passa, obrigatoriamente, por concessões e diálogo aberto entre a Comunidade Européia, Rússia, China e os Estados Unidos. Sem isto, só aumentará o grau de dúvida quanto ao futuro de um mundo que se pretenda civilizado. (*) Nélson Tucci (nelson.tucci@uol. com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos. É jornalista e consultor em Comunicação Empresarial.

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Colunista Marcus Quintella

A mobilidade urbana foi abandonada ou adiada

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iante do persistente cenário caótico que presenciamos em todas as médias e grandes cidades brasileiras, a questão proposta no título deste artigo é bastante pertinente. Como contra fatos não há argumentos, resta-nos apenas cobrar respostas claras, sinceras e objetivas para essa e para tantas outras perguntas, tais como: se a mobilidade urbana é considerada pela sociedade como uma necessidade básica para a melhoria da qualidade de vida das populações metropolitanas, qual a razão para o descaso com o transporte público de massa? Por que os projetos de transporte metroferroviário iniciados ou imaginados, nos últimos anos, por meio de programas políticos de governo ou decorrentes de promessas de campanhas eleitorais, foram modificados, paralisados, ignorados, reduzidos ou desqualificados, sem justificativas técnicas plausíveis? Por que o PAC da Mobilidade Urbana não saiu do papel? Por que a Lei nº 12.587/12, conhecida como Lei da Mobilidade Urbana não está sendo cumprida? Em todas as pautas de planejamento das cidades da Europa e EUA, a mobilidade urbana é prioritária e chega a ser decisória para a escolha eleitoral de seus governantes. De forma clássica, a mobilidade urbana pode ser definida como o atributo das cidades ligado às facilidades de deslocamentos de pessoas e coisas dentro do tecido urbano, por meio de quaisquer tipos de veículos (bicicletas, motocicletas, automóveis, ônibus, trens, taxis etc) e utilizando uma infraestrutura viária (ruas, avenidas, vias expressas, viadutos, túneis,

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calçadas, ciclovias etc), que tornam possíveis o pleno direito de ir e vir cotidiano. A citada Lei da Mobilidade Urbana determina aos municípios a tarefa de planejar e executar a política de mobilidade urbana. Segundo o Ministério das Cidades, o planejamento urbano, já estabelecido como diretriz pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), é instrumento fundamental necessário para o crescimento sustentável das cidades brasileiras e a Política Nacional de Mobilidade Urbana passou a exigir que os municípios com população acima de 20 mil habitantes, além de outros, elaborem e apresentem plano de mobilidade urbana, com a intenção de planejar o crescimento das cidades de forma ordenada. A Lei determina que esses planos priorizem o modo de transporte não motorizado e os serviços de transporte público coletivo, tais como

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Bus Rapid Transit (BRT), Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), trens urbanos e suburbanos e metrôs, entre outros. Além disso, a legislação determina à União prestar assistência técnica e financeira aos entes federados e contribuir para a capacitação de pessoas para atender a esta política pública. Apesar da existência de todo esse arcabouço legal, as cidades brasileiras, principalmente as metrópoles, encontram-se em marcha lenta, certamente em decorrência de inúmeras obras não iniciadas, paralisadas ou atrasadas, de divergências e vaidades políticas, de descontinuidades administrativas, da falta de planejamento urbano sustentável, tecnicamente adequado, apartidário e apolítico, de cortes orçamentários recorrentes, da incompetente gestão dos projetos existentes, das precárias políticas públicas de incentivo ao transporte públi-


co de massa, entre outras falhas e mazelas do sistema político brasileiro. As cidades brasileiras precisam urgentemente oferecer melhor qualidade de transporte público em suas regiões metropolitanas, pois a insatisfação com a péssima mobilidade das pessoas é uma unanimidade e atinge toda a população, desde aqueles que usam o automóvel, passando pelos usuários dos ônibus, trens e metrôs, até os pedestres. Os lamentáveis episódios de revolta popular ocorridos em 2013, nas principais cidades do pais, reivindicando melhor qualidade e menor preço do transporte público, foram a gota d’água para o transbordamento do pote de paciência das populações urbanas com os malefícios diários impostos pelos governantes ao cotidiano das pessoas, em virtude do transito excessivo e da precariedade do transporte público. Tais malefícios impõem aos cida-

dãos perdas absurdas de tempo, danos materiais, insegurança, doenças respiratórias e psicológicas, acidentes etc. A monetarização desses malefícios pode atingir bilhões e bilhões de reais, dependendo dos critérios adotados e das cidades consideradas, mas, com certeza, superam com folga os investimentos realizados em mobilidade urbana. Nas regiões metropolitanas brasileiras, não existem entidades metropolitanas únicas e independentes para estudar, planejar, implantar, regular e gerenciar os problemas de mobilidade urbana. As agências estaduais de desenvolvimento, quando existem, divergem técnica e politicamente das secretarias de transportes, criando impasses que afetam diretamente os projetos em estudo. Dessa forma, convivemos com a insolúvel e complexa conciliação dos interesses dos municípios com seus respectivos estados,

no âmbito das regiões metropolitanas. Nem o Ministérios das Cidades, criado em 2003, foi capaz de melhorar a situação, pois as mudanças políticas de comando são frequentes e não há pessoas do ramo para tocar as ações, de forma puramente técnica e isenta de interesses político-partidários. O PAC da Mobilidade nunca existiu na prática e o PAC 1 entregou apenas 65% das obras previstas para mobilidade urbana, mesmo assim com atraso médio de entrega de quase três anos e com dúvidas em relação à continuidade e conclusão total das mesmas. O PAC 2 jamais produziu resultados significativos nas execuções de seus projetos de mobilidade urbana, visto que apenas 7% dos projetos estavam concluídos e em operação até o final de 2014, segundo um estudo da FGV. Para que haja uma inversão desse quadro atual, as cidades brasileiras precisam investir na modernização e expansão de seus sistemas de trens urbanos e metrôs, na construção de novas linhas de metrôs e VLTs e na implantação de corredores exclusivos de ônibus (BRT), além de transformar as atuais linhas de ônibus urbanos em sistemas alimentadores de terminais de integração modal. É imperativo que essas ações sejam apolíticas e tenham uma conotação social e humanística. As populações das grandes cidades brasileiras sofrem pela falta de um transporte público abrangente, integrado, econômico e competente, pois não suportam mais os congestionamentos diários, que trazem infelicidade, transtornos e baixa qualidade de vida para todos. Para que isso seja viável e exequível, não existe milagre. Os governantes precisam entender que os financiamentos dos projetos de mobilidade urbana não podem depender exclusivamente da tarifa cobrada ao usuário. A figura do subsidio governamental ao transporte público é legitima e existe em todos os sistemas de transporte público do mundo, variando, apenas, de país para país, o tamanho desse subsídio e a forma de financiamento a ser adotado. O financiamento da mobilidade urbana, por sua vez, pode acontecer por meio de aportes de recursos governamentais, empréstimos de bancos de desenvolvimento e organismos multilaterais, taxas, contribuições e impostos incidentes sobre as atividades geradoras de congestionamentos (veículos motorizados e combustíveis) ou sobre as partes beneficiadas com os projetos (comércio e valorização imobiliária), concessões públicas e parcerias público-privadas. Em termos técnicos, as grandes cidades brasileiras não podem fugir da opção

metroferroviária de passageiros para resolver seus problemas de mobilidade urbana. Na realidade, estamos engatinhando no setor metroferroviário, cuja participação na matriz brasileira de transporte urbano é ridícula, não chegando a 5%. Os investimentos nesse setor são mal planejados, carecem de projetos básicos e executivos, apresentam orçamentos superdimensionados e levam anos para saírem do papel. Quando saem do papel, sofrem atrasos, são mal gerenciados, passam por mudanças de regras, que acarretam em aditivos contratuais, pleitos diversos e pedidos de reequilíbrios econômico-financeiros, e, em certos casos, são descontinuados ou paralisados, por motivos financeiros, políticos ou investigatórios. Enquanto isso, os congestionamentos e a imobilidade urbana aumentam significativamente e as pessoas perdem saúde, tempo e até mesmo a vida. Volto a repetir que os benefícios sociais do transporte público baseado em sistemas metroferroviários são absurdamente grandes, a saber: economia de tempo de viagem, redução de poluição atmosférica e sonora, redução de acidentes de trânsito com mortes e danos materiais, economia com manutenção de vias urbanas, economia energética, maior conforto e segurança, valorização imobiliária, estruturação urbana, desenvolvimento econômico, entre outros benefícios. Na prática, as populações das grandes cidades brasileiras precisam se mobilizar para convencer seus governantes e políticos sobre os lucros sociais, econômicos e ambientais de um transporte público de qualidade, que beneficiará democraticamente a todos. Outro apoio importante seria da grande mídia, que poderia apadrinhar o transporte público e passar a promover debates técnicos e políticos sobre o tema, exibir programas e documentários sobre os sistemas de transportes nacionais e internacionais e cobrar intensamente soluções definitivas e competentes. Vamos nos mobilizar pacificamente e de forma inteligente para que a mobilidade urbana não caia no esquecimento e não seja adiada eternamente. (*) Marcus Quintella (mvqc@uol. com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Mobilidade. Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, Mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia - IME. Consultor em transportes e mobilidade urbana, com 38 anos de experiência em empresas públicas e privadas. Professor e Coordenador Acadêmico da FGV.

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P e lo B rasi l O Seguro no Brasil em 2030: fortalecendo o seguro para o desenvolvimento sustentável

Por Adriana Boscov, Colunista de Plurale De São Paulo

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o último dia 14 de setembro aconteceu, em São Paulo, a primeira Mesa Redonda de Seguros para o Desenvolvimento Sustentável do Brasil. Organizado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), em parceria com os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para Instituições Financeiras – PNUMA-FI (United Nations Environment Programme for Financial Institutions – UNEP-FI), o evento foi uma nacionalização do evento mundial “Insurance 2030 Global Roundtable” co-organizado pela

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UNEP FI e a Swiss Re em Maio de 2015. O evento contou com a presença de representantes do PSI, governo, setor de seguros e consultorias especializadas em sustentabilidade. Segundo Butch Bacani, representante do PSI, “A mesa redonda foi uma discussão estratégica sobre como o Brasil pode aproveitar o potencial da influência do setor de seguros para o desenvolvimento sustentável, e desenvolver caminhos para ação, escala e impacto até 2030 – horizonte das novas metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU que serão adotadas pelos governos ainda em setembro.” Durante a abertura, os participantes viram uma mensagem gravada da Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC), Chris-

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tiana Figueres, que focou no papel da indústria de seguros para a transição de uma economia baseada em baixo carbono e resiliente ao clima em preparação para a Conferência das Partes a ser realizada em Paris este ano (COP 21). A visão Seguros em 2030 é especialmente importante para o Brasil por diversos fatores relembrou Butch. O Brasil é o maior mercado de seguros da América Latina e conta com o maior número de signatários dos PSI, totalizando 9 empresas e uma instituição apoiadora. Além disso, foi o primeiro país onde a Bolsa de Valores, BM&FBovespa, incluiu os PSI em seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o mercado segurador instituiu metas concretas para atingir os 4 princípios, baseadas em uma extensa pesquisa sobre as práticas ambientais, sociais e de governança das empresas associadas a CNseg. O foco das discussões do evento foi como a indústria de seguros pode contribuir para o desenvolvimento sustentável. A indústria tem três grandes papéis: gerenciamento de riscos (físicos) investimentos e gerenciamento de riscos financeiros (Risk carrier); e por meio desses papéis pode influenciar as decisões de alocação de recursos, além de oferecer produtos e serviços que atendam as demandas de riscos ambientais, sociais e de governança (ASG) que vem surgindo. “O setor de seguros é um dos maiores investidores no mundo e, por meio de suas políticas de investimentos, está liderando o movimento para uma mudança de economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia baseada em energias renováveis e de baixo carbono”, disse Christiana Figueres, da UNFCCC. O PSI hoje conta com 85 signatários que representam um quinto do mercado e 40 trilhões de dólares em reservas. Empresas que querem mudar o curso de seus investimentos e práticas em prol do desenvolvimento sustentável.


Aramis Resende

Fórum Agenda Bahia trouxe alternativas viáveis para inclusão de corporações na redução da emissão de gases

De Salvador

O segundo ciclo de palestras do Fórum Agenda Bahia, evento promovido pelo jornal Correio e rádio CBN Salvador, aconteceu no dia 29 de setembro. Antecedendo a Conferência do Clima, que será realizada no mês de novembro, em Paris, o evento trouxe o seminário Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial, tendo com palestrantes os principais especialistas mundiais e locais no tema. O economista indiano Pavan Sukdev, sumidade em Baixo Carbono e embaixador da ONU para o Meio Ambiente, foi o principal palestrante do dia e falou sobre as possibilidades do Brasil para a inclusão da Economia Verde no mercado. Segundo Pavan, as corporações são agentes-chave na transformação do cenário mundial de desenvolvimento sustentável. “Se investir-

mos 2% do PIB em Economia Verde, podemos alcançar um crescimento maior com demanda menor de capital, menos demanda hídrica e aproveitamento das florestas, envolvendo bem-estar, equidade e redução de problemas com água potável”, pontuou durante a palestra. Quem também participou do Fórum Agenda Bahia foi a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Marina Grossi, que falou sobre a necessidade da consciência sustentável para o sucesso de qualquer empresa. “Nenhuma organização pode ter sucesso em um ambiente falido. Grandes empresas em grandes cidades podem ser agentes de mudança. Precisamos encorajá-las”, ressaltou. Rachel Biderman, diretora do World Resources Institute no Brasil, defendeu que é preciso precificar o carbono e di-

vulgar o pagamento de serviços ambientais, cuidando da legislação e criando instrumentos econômicos, como o ICMS ecológico. “Não é possível as indústrias solar e eólica pagarem altos impostos”, disse. Sobre o Agenda Bahia Em sua sexta edição, o Fórum Agenda Bahia busca alternativas viáveis para o desenvolvimento sustentável. O objetivo é debater, por meio dos cases apresentados pelos palestrantes, práticas que possam impulsionar cidades planejadas, modernas, competitivas e com mais qualidade de vida para seus habitantes. As propostas do evento apresentadas nos seminários de 2015 serão encaminhadas às autoridades públicas, como contribuição ao desenvolvimento sustentável. www.agendabahiacorreio.com.br.

5° Edição Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente Inscrições dos trabalhos técnicos já iniciaram Da Fiema

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á estão abertas as inscrições para os trabalhos técnicos da 5° Edição do Congresso Internacional de tecnologias para o Meio Ambiente. O Congresso é um evento simultâneo (FiemaCon) da Fiema Brasil – Feira de Negócios e Tecnologia em Resíduos. O evento tem como tema central resíduos, águas e efluentes e é organizado pela Universidade de Caxias do Sul – UCS. Alguns

dos temas a serem aceitos são: resíduos sólidos, tecnologias ambientais, biocombustíveis, tecnologias limpas, recursos hídricos entre outros. A inscrição pode ser realizada no site da feira – www.fiema.com.br - , na página FiemaCon ou direto através do endereço: http://goo.gl./O9mwnM. A relação completa dos temas aceitos, regulamento e modelo para formatação também estão no site. As inscrições acabam no dia 07 de novembro de 2015.

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P e lo B rasi l UVA participa da Semana de Responsabilidade Social 2015

Sônia Araripe, Editora de Plurale, ministrou curso gratuito de Jornalismo Sustentável Da UVA

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elo 11º ano consecutivo, a Universidade Veiga de Almeida participou da Semana de Responsabilidade Social do Ensino Superior, uma iniciativa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). Para esta edição, que foi realizada de 14 a 18 de setembro, a UVA preparou ações inéditas, entre elas o lançamento de seu primeiro Relatório de Responsabilidade Social. Participam da Campanha cursos dos Campus Tijuca, Barra e Cabo Frio, como Enfermagem, Turismo, Odontologia, Biologia, Engenharia Elétrica, Design Gráfico, Engenharia da Computação, Comunicação, Engenharia Ambiental, Relações Internacionais, Fonoaudiologia, Nutrição, Psicologia, entre outros. Fez parte da programa-

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ção o curso gratuito sobre Jornalismo Sustentável ministrado pela jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale. O Campus Barra-Marapendi, o visitante poderá conhecer e interagir com a “Casa dos Anões”. Serão montados dois cômodos, um quarto e um banheiro, para mostrar como é a rotina dos portadores de nanismo. Armários, cama, guarda-roupa, vaso sanitário, pia, entre outros, e diversas soluções tecnológicas desenhadas pelos alunos dos cursos de Arquitetura e Designer de Interiores, para tornar a vida desta parcela da população um pouco mais acessível. “Nosso objetivo é mostrar ao público em geral como vivem os portadores de nanismo, quais são as suas maiores dificuldades relacionadas à moradia e como a nossa Universidade pode ajudar a desenvolver soluções simples e muito eficazes para dar

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mais qualidade de vida a estas pessoas”, diz a arquiteta e Diretora do Campus, Lourdes Luz. Ao longo dos anos, a UVA tem participado do evento e coleciona, a cada edição, o mérito de instituição socialmente responsável, através do Selo de acreditação fornecido pela ABMES, é o que afirma a Coordenadora Geral de Extensão Universitária, Solange Iglesias. “Para essa edição, a Universidade conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) o que indica, também, a relevância do evento”, explicou a coordenadora que pontua a importância do tema. “Responsabilidade Social é o foco das iniciativas institucionais para harmonizar as complexidades do mundo contemporâneo, sem desabrigar a autonomia presente, naturalmente, nas soluções ideais.”


Brasil perde 1,8% de suas florestas em dois anos, diz IBGE Vitor Abdala – Repórter da Agência Brasil

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Brasil perdeu 1,8% de suas florestas entre 2010 e 2012, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2010, o país tinha 3,26 milhões de quilômetros quadrados (km²) de vegetação florestal, enquanto em 2012, essa área caiu para 3,2 milhões de km², uma perda de quase 60 mil km² em apenas dois anos. Nesses dois anos, houve a reposição de 204 km² de florestas, mas o desmatamen-

Agência Brasil

to foi quase 300 vezes maior: 59,4 mil km². A perda da vegetação florestal deveu-se principalmente à expansão agrícola, que respondeu por 68% da redução das florestas no país. A expansão da pastagem plantada respondeu por outros 28% e a silvicultura por apenas 4%. Segundo a pesquisa Mudanças na Cobertura e Uso da Terra do IBGE, no entanto, a principal perda de vegetação natural ocorreu nas pastagens naturais, que são áreas de vegetação campestre natural sujeitas a atividade pastoril de baixa intensidade e que perderam 7,8% de sua superfície nesse período.

A expansão agrícola também foi responsável por 65% do recuo das pastagens naturais. Outros 35% de perda foram provocados pela expansão da pastagem plantada. As áreas de vegetação campestre alagada, como charcos e pântanos, reduziram-se em 5,9%, enquanto as de vegetação campestre, como savanas, perderam 2,7% de sua superfície. Ao mesmo tempo, as áreas artificiais, que incluem áreas urbanas, cresceram 2,5%, as áreas agrícolas aumentaram em 8,6% e as pastagens plantadas avançaram 11,1%. A silvicultura teve crescimento de 4,6% nesses dois anos.


Água

sofre com a falta Velho Chico de chuva e o descaso

Texto e fotos de Nícia Ribas, de Plurale De Pirapora (MG)

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população ribeirinha do São Francisco está preocupada com o baixo nível de água neste inverno de seca. “Comparando com anos anteriores, o rio está dois metros abaixo e os peixes sumiram”, diz Carlos Henrique, da Marinha Mercante, a bordo do vapor Benjamin Guimarães, em Pirapora (MG). Os passeios turísticos pelo rio entre Pirapora e cidades vizinhas foram cancelados por causa da falta de chuva e os imensos bancos de areia que impedem a navegação.

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Carinhosamente chamado de Velho Chico, o rio sofre também com a poluição causada pelas mineradoras e por agrotóxicos utilizados na agricultura. Seu principal afluente, o Rio das Velhas traz toda a sujeira da região metropolitana de Belo Horizonte. Além disso, as constantes queimadas e desmatamentos provocam o assoreamento do Rio. É lastimável o descaso dos governos apesar da imensa importância econômica, social e cultural do São Francisco para os estados de Minas Gerais, Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, nos seus 2.700 km desde a Serra da Canastra, onde nasce, até desembocar no Oceano Atlântico.

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Carlos Henrique, da Marinha Mercante, a bordo do vapor Benjamin Guimarães: . “Comparando com anos anteriores, o rio está dois metros abaixo e os peixes sumiram.”

João Có é amansador de burro

O escultor Gelson Xavier e suas carrancas Família aproveita para fazer turismo em Pirapora

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Água

Enquanto não navega, o histórico vapor Benjamin Guimarães, tombado em 1985, com capacidade para 190 pessoas, recebe visitas, que não se cansam de fotografá-lo e de lamentar por não poderem fazer o passeio, que dura três horas e permite apreciar um lindo por do sol. Carlos Henrique fala com nostalgia dos bons tempos do São Francisco cheio e piscoso e está pessimista quanto à recuperação das condições para navegar: “ Dizem que ele nem está mais desaguando no mar por causa dos bancos de areia.” Arte a todo vapor As famosas carrancas colocadas na proa dos barcos para protegê-los dos maus espíritos e da má pescaria tornaram-se marca cultural da região. Ao longo do tempo, os artesãos locais diversificaram sua atividade, criando muitos outros trabalhos em madeira, inclusive réplicas do Benjamin Guimarães.

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Os irmãos artesãos Gelson e Adão Xavier entalham peças para decoração e vendem para todo o Brasil. Aprenderam com o pai, que saiu da roça para trabalhar em vapor e acabou se apaixonando pela arte de esculpir carrancas. O escultor Expedito Viana Rodrigues já participou de exposições em São Paulo, Brasília e no Minas Centro de Belo Horizonte, com suas carrancas, imagens de santos, retratos de pessoas, animais e o que mais lhe encomendarem. “Até o Tilden Santiago (político brasileiro que foi embaixador em Cuba) já levou trabalho meu para Cuba”, orgulha-se. Ele trabalha atrás de casa e leva até um mês para fazer uma peça. Aos clientes, Expedito exibe seu álbum com fotos das obras que vem criando há mais de 20 anos. “Uma das mais apreciadas é o anjinho curiando”, diz ele mostrando a foto de um anjo na ponta dos pés olhando por cima de um pedestal de frente para os fiéis, na missa. Quem não é mineiro estranha o verbo.

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, “Curiando O que Expedito? “ significa?

espiando rioso, uai, sa.” u c e d m “Ve iste à mis quem ass

O mineiro mantém suas tradições e um linguajar próprio. João Alves Pamplona, vulgo João Có, nasceu em Buritizeiro, mas logo atravessou o São Francisco para trabalhar numa roça em Pirapora. Sua especialidade? Amansador de burro. Para ele, o rio não volta mais a ser o que era “purque tem um tanto di gente disperdiçando água por aí e ninguém qué sabê de nada não, uai”. Ele trabalha na roça desde criança e não pode estudar, mas tem opinião formada sobre todos os assuntos, inclusive sobre homofobia: “Besteira, moça, pois tem inté burro que só gosta de cavalo”. Ele garante.


Ecoturismo

isabella araripe

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Local da canoagem nas Olimpíadas se transformará em área de lazer S

Paraná recebe nova unidade de conservação O Parque Natural Municipal Vista Alegre foi inaugurado pela prefeitura de Curitiba no último final de semana de setembro. A unidade de conservação possui 100 mil metros quadrados de área, num local onde antes funcionava uma pedreira. A principal atração do local é uma cachoeira de sete metros, que deságua em uma piscina natural. O parque tem 70 % da sua área recoberta com vegetação nativa, com diversos exemplares de araucária, uma cachoeira exuberante de aproximadamente sete metros de altura formada pelo córrego da Vista Alegre, pertencente à Bacia do Rio Barigui, além do lago e banhados. O parque conta com decks de madeira, dois portais nas entradas, estacionamentos, parquinho, iluminação, ponte, vias de acesso, pista de caminhada, labirinto de plantas e paisagismo.

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O local onde serão disputadas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 as provas de canoagem slalom, no Complexo Esportivo de Deodoro, no Rio de Janeiro, vai virar uma nova área de lazer e prática esportiva. Após a competição, o Parque Radical será transformado na segunda maior área de lazer da cidade, atrás apenas do Aterro do Flamengo. Os obstáculos que dificultarão a performance de canoístas profissionais nos Jogos serão retirados e permitirão a criação de um canal com uma correnteza leve, para diversão dos usuários, que poderão descê-lo a nado ou em boias. No terreno também serão instaladas quadras poliesportivas. Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a expectativa é que a área atenderá 1,5 milhão de pessoas entre turistas e moradores de 10 bairros e três municípios vizinhos.

Parque Nacional da Serra do Cipó ganha nova trilha

Fortaleza terá praia acessível em 2016 Desenvolvido pela Prefeitura de Fortaleza em parceria com o Governo do Estado, o projeto “Praia Acessível”, lançado no dia 1° de outubro, prevê cadeiras anfíbias para o banho de mar assistido - com ajuda de profissionais qualificados, vagas de estacionamento reservadas e sinalizadas, piso tátil, sanitários e chuveirões adaptados e esteira especial de expansão do calçadão à faixa de areia próxima ao mar. O primeiro local contemplado será a Praia de Iracema, com previsão de implantação do projeto até janeiro do próximo ano.

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Os amantes de caminhadas de longo percurso ganharam, no dia 10 de outubro, uma nova opção de lazer. O Parque Nacional da Serra do Cipó, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Minas Gerais, inaugurou uma trilha de 65 quilômetros que cruza toda a extensão do parque. O trajeto é na Serra do Espinhaço, região que o paisagista Burle Marx costumava chamar de “jardim do Brasil” pela diversidade de flores e plantas de formatos e cores diferentes, emolduradas pelo relevo de curvas sinuosas, riachos cristalinos e cachoeiras. Mais informações sobre a travessia: (31) 37187151 ou parna.serradocipo@icmbio. gov.br

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Denúncia

Ibitipoca:

reserva ambiental causa polêmica Zona de Amortecimento expulsa pequenos produtores e atrai grandes empresas para as imediações de reserva da Mata Atlântica em Minas Gerais

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Por Hélio Rocha, Especial para Plurale em revista De Juiz de Fora (MG) Fotos de Luciana Tancredo, de Plurale

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m santuário de preservação da Mata Atlântica original, na Zona da Mata mineira, a 320 km de Belo Horizonte, tem causado polêmica junto aos moradores da pequena vila de Conceição do Ibitipoca, distrito do município de Lima Duarte. Isto porque, no Parque Estadual do Ibitipoca, uma Zona de Amortecimento definida pelo Governo do Estado de Minas Gerais há sete anos, durante as gestões Aécio Neves (PSDB, 20032010) e Antônio Anastasia (PSDB, 20102014), vem causando dificuldades à vida de moradores que estão na região há décadas. De acordo com a população local, ela não foi discutida junto à comunidade. A demarcação, de suma importância para conservação da vegetação original, atendeu a critérios minuciosos, de acordo com o Governo, envolvendo a comunidade, que está representada no Conselho do Parque. Entretanto, entidades que representam as pessoas que vivem no vilarejo, além de lideranças políticas locais, vêm reiteradamente rechaçando a pouca interlocução da administração estadual com os moradores de Conceição do Ibitipoca. Há, segundo as famílias que moram no vilarejo, a negligência aos anseios dos pequenos produtores, em favor de grandes empresas instaladas na região que pretendem lucrar com o turismo, e, cogita-se, a mineração. A maior parte desses moradores, atingidos pela Zona de Amortecimento, é de agricultores que produzem para a subsistência. Um deles, cuja família está na região desde o século XVIII, no período colonial, é o produtor rural Waltembergue Sales de Carvalho. Estudioso da história, das riquezas e potencialidades da região, há mais de dez anos ele luta pela preservação da mata e em defesa dos moradores da vila. Ele afirma que muitas empresas, de alguns anos para cá, fincam raízes na região porque se interessam pelo turismo e, no longo prazo, pelos minérios que estão guardados no Parque do Ibitipoca. O local guarda uma das maiores reservas de quartzito no Brasil, uma rocha importante para a siderurgia.

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Denúncia

“Essas terras são valiosas. A mineração de Ibitipoca foi intensa, de 250 anos durante o ciclo do outro. Uma mineração de aluvião, superficial, que teve como berço a Fazenda do Tanque. Depois que acabou o ouro, Ibitipoca ficou na pobreza. Mas ainda há minérios aqui.” O turismo, no curto prazo, é a justificativa para grandes empresas instalarem reservas ambientais e pousadas na região. “Os grandes fazem tudo. Se você subir no alto do parque e olhar em volta, tem de tudo: estradas, pista de pouso de avião, plantação de eucalipto.” Estado nega lobby de empresas A forma rápida e com pouca interlocução para definição da Zona de Amortecimento, apontada pelos moradores, levanta suspeitas entre associações de pequenos produtores e lideranças políticas locais de que tenha havido lobby dessas grandes empresas na definição da Zona de Amortecimento, atingindo, sobretudo, pequenas propriedades rurais. Uma série de atividades foi inviabilizada, tornando-as dependentes do turismo. O Governo nega, afirmando que o processo atendeu a critérios técnicos, ao que Waltembergue e outros moradores rebatem afirmando que trata-se de “uma Zona de Amortecimento inventada para proteger o capital”. De acordo com o também morador local Álvaro Lobo, 80% do entorno do parque, aproximadamente, é ocupado por grandes empresas. Isso faz com que os pequenos produtores fiquem forçados a deixar o local. “Pouco tempo depois, com seus imóveis vendidos a ‘preço de banana’, eles estão nas filas dos programas de assistência do Governo federal, do qual não necessitavam antes.” Álvaro e Waltembergue lideram os moradores na resistência ao avanço das empresas na região e à perseguição praticada pela fiscalização estadual, tendo reunido laudos e documentos que atestam opiniões sobre a Zona de Amortecimento diferentes daquela defendida pelo Governo estadual. A Prefeitura de Lima Duarte e a Câmara Municipal da cidade têm sido parceiros importantes, visto que já representaram o Poder Público estadual e deram parecer, atestando a legalidade das atividades praticadas pelos moradores de Conceição do Ibitipoca.

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HÉLIO ROCHA

Líder entre os pequenos produtores, Waltembergue aponta interesse de empresários no parque.

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Multado, morador busca justiça Caso emblemático é o de Tiago Aguiar Salles, sobrinho de Waltembergue, que recebeu uma multa do Governo estadual por construir uma segunda casa para a família no terreno onde morava. Ele, que residia com o tio, decidira morar sozinho e expandira a residência na propriedade da família, fazendo ligações de água e luz autorizadas pela Prefeitura. A fiscalização estadual considerou a iniciativa um princípio de “loteamento”, multando o proprietário e ordenando a retirada das ligações.

NCREDO FOTOS DE

LUCIANA TA

Uma dos pareceres mais importantes, utilizados pela Associação de Moradores e Amigos do Distrito de Conceição do Ibitipoca (Amai), é o da advogada especialista em direito ambiental Samanta Pineda. Ela defende a legislação instituída pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação, utilizado para a demarcação das Zonas de Amortecimento desde a aprovação da lei que o instituiu, em 2000. No entanto, ressalta as falhas na legislação que tornam alguns proprietários vulneráveis à violência do Estado. “A legislação é boa, as unidades de conservação podem ser um eficiente instrumento de proteção dos recursos naturais, mas a realidade tem se mostrado diferente. São inúmeros os casos de áreas produtivas e ocupadas há gerações serem inseridas nos limites de uma unidade de conservação, o que demonstra a ineficiência dos estudos que precedem as criações”, diz a jurista. “Por ser a terra em comento uma propriedade do autuado, nada impede que o mesmo venha buscar melhorar suas condições de vida com o implemento de benfeitorias no local”, disse Tiago, em documento em sua defesa encaminhado à administração estadual. “Não houve desmatamento, tampouco a realização de obra causadora de prejuízos à natureza.” “Era apenas uma expansão da minha casa. Não aumentou o número de pessoas que vivem na região. Não foi desmatada área verde”, diz Waltembergue. “Até fazer um galinheiro vira motivo de fiscal baten-

do na porta e afirmando que o proprietário pratica atividade ilegal”, reclama Álvaro. Os dois contrapõem este fato ás pousadas que lucram com o turismo local, ecologicamente menos sustentáveis do que o trabalho centenário dos agricultores, que, historicamente, não degradaram o meio-ambiente e possibilitaram à reserva existir até hoje. “Nos ecossistemas cercados por grandes empresas, historicamente, houve degradação. Isso nunca aconteceu com os ‘puxadinhos’ ou os galinheiros dos pequenos produtores”, ratifica Álvaro.

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Recursos hídricos

Programa Cultivando Água Boa, que nasceu em torno de Foz do Iguaçu, deverá ser replicado em São Paulo Iniciativa de Itaipu Binacional, premiada pela ONU, deve ser aplicada na região do Sistema Cantareira (SP), podendo a ser uma das soluções para a crise hídrica que atinge São Paulo

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Por Isabella Araripe, de Plurale De Foz do Iguaçu (PR) Fotos de Alexandre Marchetti – DivulgaçãoItaipu Binacional

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remiado pela ONU, o projeto Cultivando Água Boa deverá ser replicado nos reservatórios do sistema Cantareira, em São Paulo, através do Governo do Estado de São Paulo. O anúncio foi dado pelo diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, durante o Encontro de experiências pioneiras e inovadoras de iniciativas sociais na gestão de água, em Foz do Iguaçu no dia 15 de setembro. De acordo com Andreu, a proposta foi feita após uma conversa com o secretário de Recursos Hídricos de São Paulo e presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga. “Os reservatórios do Cantareira têm suas margens devastadas, conflitos de propriedades, não há cercamentos, ou seja, o sucesso da experiência do Cultivando Água Nova aqui no Paraná, pode propiciar um grande resultado no que eu já estou chamando de CAB Cantareira”, diz Vicente Andreu. O diretor-geral do lado brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek , conta que um dos pontos fortes do programa Cultivando Água Boa é a construção de uma rede. “Aqui nós conseguimos juntar todas as prefeituras, além de uma coisa muito forte que são as cooperativas. Existe uma cooperação muito intensa do agricultor. Conseguimos constituir uma rede. Como começamos antes e temos a condição de ter agriculturas familiares pequenas, procedimento de royalties que ajudam nas parcerias estamos avançando cada dia mais”, conta. Para Jorge Samek a empresa não deve apenas proteger o meio-ambiente para ser considerada “boazinha”. A lógica vai além disso. “A matéria-prima de Itaipu é a água. Só produzimos energia porque temos água e para ter água é preciso haver reservatórios. Para ter um reservatório não pode haver assoreamento e é preciso ter mata ciliar. Não pode chegar veneno, não poder ter matéria orgânica de dejetos. São coisas que a gente faz até para proteger nosso próprio negócio mas que também ajuda o meio-ambiente e a renda do agricultor. Todos ganham”, afirma.

O diretor da Agência Nacional de Águas conta é preciso haver uma maior conscientização em relação ao uso da água no Brasil já que mesmo durante o processo de seca ainda temos padrões de consumo que ultrapassam os 250 litros por habitante/dia em plena crise. “Nós temos que tirar lições e não podemos perder o aprendizado que a crise hídrica tem traduzido para o nosso país”, disse Andreu. “A água, a terra e o ar você não herdou do seu pai. Você pegou emprestado do seu filho ou do seu neto. Nós temos que ter a obrigação de entregar melhor do que nós recebemos. Temos que cuidar do nosso planeta”, alerta Jorge Samek. A vice-presidente da ONU Água, Blanca Jiménez Cisneros, contou que a água é o segundo tema mais importante para o mundo depois da alimentação e por isso precisamos melhorar nossa visão sobre ela. “Não é apenas uma crise de escassez da água. É crise de qualidade da água no mundo”, conta. A Itaipu Binacional, por meio do Programa Cultivando Água Boa, junto com a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vai ajudar o governo brasileiro a criar uma rede internacional de boas práticas da gestão dos recursos hídricos com participação social. O encontro reuniu autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) e

representantes de 18 países com o objetivo de formar uma rede mundial de boas práticas na gestão da água a partir da experiência dos 11 vencedores do prêmio Water for Life de 15 a 17 de setembro no Paraná. De acordo com Josefina Maestu, diretora do programa Década Internacional para a Ação: “Água, fonte de vida” (20052015), das Nações Unidas, o evento foi uma oportunidade para fortalecer as iniciativas premiadas, que muitas vezes se encontram isoladas. “São projetos que têm em comum o fato de serem práticas participativas, de engajamento social”, afirmou Josefina. “Agora em rede, essas práticas fomentam novos projetos-piloto em outras localidades. É um projeto ambicioso, mas absolutamente necessário”, concluiu. O CAB Conhecido como CAB, o Cultivando Água Boa foi criado em 2003 é executado em 29 municípios que fazem parte da Bacia Hidrográfica do Paraná, no Oeste da cidade. O CAB é uma iniciativa da Itaipu Binacional em parcerias com órgãos governamentais, ONGs, instituições de ensino, cooperativas, associações comunitárias e empresas. São cerca de 20 programas, 2146 parceiros e 65 ações. O projeto recebeu o primeiro lugar na categoria de “Melhores práticas em gestão de água” do prêmio Water for Life 2015, da ONU-Água.

Nelton Friedrich, de Itaipu Binacional

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Recursos hídricos

De acordo com Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional, no início foi preciso fazer grandes negociações com moradores. O programa começou em apenas duas micro bacias em 2003 e hoje conta com 217 micro bacias recuperadas. Atualmente, já são 1322 km de matas ciliares recompostas nos 29 municípios presentes no projeto Cultivando Água Boa. As principais ações do Cultivando Água Boa são: a recuperação de microbacias hidrográficas, com ênfase na proteção de nascentes, recomposição de matas ciliares, conservação de solos, estradas readequadas, instalação de abastecedouros comunitários e implementação de cisternas para o reuso de água, além da promoção de sistemas de produção e consumo mais sustentáveis, com novos arranjos produtivos locais. Segundo Nelton Friedrich, o projeto pode e deve ser replicado pelo Brasil. “Os desafios são os mesmo em vários pontos do país, por isso o projeto é reaplicável”, afirma. O município de Santa Terezinha do Itaipu foi um dos pioneiros no Cultivando Água Boa. O prefeito Cláudio Eberhard que está no seu terceiro mandato e esteve presente desde o início do programa comemora o sucesso. “Esse ano conseguimos levar água potável para 100% dos produtores do nosso município”, conta.

Em 2003, foi implementado o Corredor da Biodiversidade Santa Maria, localizado nos municípios de São Miguel do Iguaçu e Santa Terezinha de Itaipu, permitindo uma conexão entre a Faixa de Proteção da Itaipu e o Parque Nacional do Iguaçu. O objetivo é, por meio desses corredores, permitir as espécies que antes se encontravam em áreas fragmentadas e isoladas se dispersem. Segundo Nelton Friedrich, a expectativa é de que seja criado um Corredor de Biodiversidade Trinacional: Brasil, Paraguai e Argentina. Mas as negociações com o lado argentino ainda caminham em passos largos. O projeto Coletivo Educador, que também faz parte do CAB e é uma parceria da Itaipu Binacional com a Prefeitura Municipal, busca desenvolver ações de educação ambiental e a Coleta Seletiva na região. Antes do programa, em 2013, eram 35 toneladas de materiais recicláveis processadas adequadamente. Hoje a média é de 100 toneladas. Em 2015, o Coletivo Educador bateu recorde e conseguiu coletar 119 toneladas de lixo. Com isso, os catadores chegaram a ganhar até R$ 1500 de renda. Segundo o prefeito, uma das exigências para a família poder ser aceita no programa é que as crianças precisam frequentar a escola. O mercado de orgânicos também cresceu na região do Oeste do Paraná. No início do CAB, 186 famílias praticavam agri-

Agricultor Seu Arruda

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cultora orgânica, hoje são mais de 1200 famílias. Em São Miguel do Iguaçu, 14 agricultores possuem Certificação de Produtos Orgânicos. Um deles é o agricultor Luiz Arruda, referência na agricultura orgânica na região e um dos contemplados pelo CAB. Antes de fazer parte do programa, em 2003, Arruda plantava soja e usava agrotóxicos. Segundo ele, a terra estava tomada por erosão e só existiam quatro árvores. Hoje em dia, com a mudança para a agricultura orgânica, Seu Arruda, como é conhecido, possui mais de 40 tipos de cultivo no seu terreno de cinco hectares e é um dos responsáveis por fornecer produtos para as merendas das 22 escolas do município. Seu Arruda conta que a agricultura orgânica trouxe um outro benefício para ele: o turismo rural. “Hoje em dia muitas pessoas procuram o meu sítio para fazerem visitas técnicas e aprenderem mais sobre orgânicos, trazendo uma renda extra”, afirma. Defensor do meio ambiente, Seu Arruda sonha com o aparecimento de mais agricultores orgânicos. “Hoje na agricultora familiar, a maioria dos agricultores são velhos. Fico pensando quem é que vai cuidar dos nossos alimentos e do meio ambiente. Não quero que o Lago de Itaipu fique que nem os de São Paulo com aquela espuma”, diz o agricultor. (*) A repórter viajou a convite de Itaipu Binacional.


E vento

Fórum das Águas Cidades Sustentáveis e Desafios

Da Cibapar

C

om o objetivo de realizar um espaço de discussão e compartilhamento de informação entre profissionais, pesquisadores, alunos e sociedade civil, o Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba - Cibapar - realizará de 21 a 23 de outubro de 2015, o Fórum das Águas “Cidades Sustentáveis e seus Desafios”, no Teatro Inhotim, em Brumadinho (MG). O Brasil e Minas Gerais têm experimentado um aumento de concentração de população em centros urbanos, o que gera, consequentemente, maior pressão sobre os recursos naturais disponíveis. Os recursos naturais são a base para o desen-

volvimento social e econômico das cidades, uma vez que desempenham o papel de prover a população de suas necessidades. Entretanto, os recursos são limitados, e assim, o tema cidades sustentáveis ganhou destaque. Como lidar com os desafios de uma população crescente, concentrada em espaços urbanos que precisam ser abastecidas de água e além de outras necessidades como alimentos e produtos industrializados? O foco do evento é debater os desafios para a construção de cidades sustentáveis, proporcionando trocas de experiências com boas práticas nacionais e internacionais, debates e ideias, soluções sustentáveis para a produção, consumo mais equilibrado dos recursos naturais no ambiente urbano e maneiras para ga-

rantir qualidade de vida para a população. Além de incentivar as políticas de preservação ambiental e mostrar um panorama atualizado sobre a crise hídrica no Estado de Minas Gerais. Afinal, é a sustentabilidade que garantirá um desenvolvimento econômico e social inclusivo nas nossas cidades para as atuais e futuras gerações. Sendo a água recurso central de desenvolvimento de um território, foi neste contexto que o III Fórum das Águas foi realizado. O último trouxe o tema “Escassez Hídrica e Saneamento: Impacto e Oportunidades” e os dados do choque de estiagem em 2014. Inscrições, programação e mais informações no site do evento: http://www.cibapar.org.br/forum-dasaguas

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Ecoturismo

Texto e fotos de Ana Cecília Vidaurre de Almeida e Artur Vidaurre de Almeida

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Serra do

Cipó

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em próxima de Belo Horizonte (a cerca de 100 km) e ainda não tão badalada para quem não é mineiro quanto outras áreas de ecoturismo, a Serra do Cipó está inserida na Estrada Real e no Circuito do Diamante. O Parque Nacional da Serra do Cipó tem 33.800 hectares, diversas cachoeiras, diversas opções de prática de atividades ao ar livre, como passeios, rapel, caiaque e tirolesa. A gastronomia mineira, claro, é outro destaque. Entre seus vales, grutas, rios e campos, a Serra guarda um importante patrimônio natural. Além da natureza pródiga, sítios arqueológicos revelam vestígios de comunidades primitivas que deixaram registros nas paredes de diversos paredões e cavernas, sendo protegidos por lei e fiscalizados pelo IBAMA e IEF.


FOTOS DE:

ANA CECÍLIA VIDAURRE DE ALMEIDA E ARTUR VIDAURRE DE ALMEIDA

Trilha dos Escravos e Máe Dágua – construída por escravos após a Abolição, remanescente da Estrada Real, era a rota de mercadorias na época do Ouro e Diamantes. Trilha tranquila mas é uma subida de pedras! Muito lindo e bacana fazer parte do turismo de memória! Os Poços da Máe Dágua formam a cachoeira Véu da Noiva. Gratuito. Cachoeira da Farofa (Parque Nacional): Ao contrário da primeira, a Cachoeira da Farofa possui uma trilha de 16 km (ida e volta) com algumas partes abertas ao sol, outras em subida, partes com areia, lagos etc. Podemos ver a exuberante biodiversidade de perto. Animais cruzam o nosso caminho, vegetação incrível de Mata Atlântica e Cerrado. Até lá cruzamos com o Córrego das Pedras, Lagoa Comprida e Ribeiráo Mascates. Ela é um paredão de rocha quartzítica. A caminhada é linda e todo esse esforço vale muito a pena, a cachoeira é simplesmente maravilhosa, enorme e revigorante!! O melhor de tudo, grátis.

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Ecoturismo

Véu da Noiva: Cachoeira simples em questão de caminhada, a trilha possui apenas 1 km com pedras e na chegada a cachoeira em si é bem alta e forma uma ampla piscina natural. Ela fica dentro do camping, propriedade da ACM, COM 120 metros formando um poço íngreme e custa R$ 10,00 por pessoa. O Salva vidas no local foi uma grande ideia e permite uma grande segurança a todos.

FOTOS DE:

ANA CECÍLIA VIDAURRE DE ALMEIDA E ARTUR VIDAURRE DE ALMEIDA

Cachoeira Grande: queda de 10 metros. Possui uma trilha curta e plana de 2 km, a cachoeira não é tão alta, porém é muito extensa, um grande paredão (60 metros de largura), muito boa para mergulhar e o rio que (gera??) a cachoeira, também pode ser mergulhado e alguns fazem até passeio de caiaque. No caminho podemos ver a Cachoeira São Tomé. R$25,00 por pessoa.

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Cachoeiras da Serra Morena: A Serra Morena possui duas cachoeiras muito bonitas, a primeira delas, Serra Morena 1, possui uma trilha simples e vale muito a pena pois forma uma piscina muito grande. Em volta da cachoeira existe uma extensa parte de terra/areia podendo até fazermos algum piquenique ou até curtir o dia como se fosse uma praia! Apenas 1 km de caminhada. Já na segunda, Serra Morena 2, o acesso é difícil com uma subida bem íngreme e eu achei um tanto perigoso para amadores (não trilheiros). O balneário possui uma pousada e um restaurante. R$ 25,00 por pessoa com voucher da pousada. O proprietário descobriu a região há 30 anos.

Como chegar DE AVIÃO: o aeroporto mais perto é o de Confins, a 60 KM da Serra Do Cipó. No aeroporto pode-se alugar um carro ou pegar um táxi. DE CARRO: Vindo de Belo Horizonte, acesso pela MG-010, passando por Lagoa Santa. Mais adiante, após a travessia de uma ponte sobre o Rio das Velhas, segue-se em direção ao distrito da Serra do Cipó, município de Santana do Riacho. DE ONIBUS: A empresa Saritur (www.saritur.com.br) faz a linha Belo Horizonte X Serra do Cipó.

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Artigo

Inspire-se pelos pelos Inspire-se

bons exemplos Miguel Krigsner*

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Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza chega aos 25 anos de atuação e esta data merece ser celebrada e dividida com todos que, de alguma forma, acreditaram e contribuíram com as iniciativas ao longo desse tempo. Instituição sem fins lucrativos, a Fundação foi criada em setembro de 1990 quando O Boticário tinha 13 anos, numa época em que havia pouca discussão sobre ações de proteção à natureza e mesmo as ideias de responsabilidade social empresarial eram pouco conhecidas e aplicadas. Atualmente, a Fundação é a principal expressão do investimento social privado do Grupo Boticário – que controla as unidades de negócio O Boticário, Eudora, quem disse, berenice? e The Beauty Box. A paixão pela evolução e desafios do Grupo Boticário e de quem faz parte dele, com o desejo incessante de crescer, dar oportunidades e fazer sempre mais, contribui para a empresa ser referência no mercado de beleza. O mesmo aconteceu com a Fundação: a instituição é, atualmente, destaque no setor ambiental, sendo uma das principais instituições conservacionistas do Brasil. A organização tem gestão autônoma e independente da empresa, sendo que suas ações são planejadas de forma a atender demandas de conservação da biodiversidade de toda a sociedade, no Brasil e no

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mundo. Com essa missão, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza apoia projetos de outras organizações, desenvolve estratégias inovadoras de conservação, dissemina conhecimento e sensibiliza a sociedade para a causa. Também mantém duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), conservando 11 mil hectares na Mata Atlântica e no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. A Reserva Natural Salto Morato está localizada em Guaraqueçaba, litoral do Paraná, dentro do maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil, é reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Hu-

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manidade e considerada referência nacional em manejo de reservas privadas. A Reserva Natural Serra do Tombador fica em Cavalcante, no interior de Goiás, preserva fauna e flora únicas de Cerrado e contribui na proteção do entorno do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros. O Cerrado merece um comentário à parte, já que em 11 de setembro celebra-se o seu dia. Tempos atrás fiz um sobrevoo de helicóptero de Cavalcante, no norte de Goiás, até Brasília. À medida que me aproximava da capital federal, percebia que estava vendo com os meus próprios olhos as marcas incontestáveis da devastação do segundo maior bioma do País, cuja fauna e


FOTOS DE HAROLDO PALO JR/ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO

RESERVA NATURAL SERRA DO TOMBADOR

flora um dia cobriam o Brasil Central. Ver aquilo de perto foi assustador. Por outro lado, a viagem também me surpreendeu positivamente. Estava em Cavalcante porque fui visitar a Reserva Natural Serra do Tombador. Logo na chegada pude contemplar uma paisagem maravilhosa e vi até um lobo-guará bem de perto. Ao contrário do que muita gente pensa, naquele bioma tem vida sim. Além disso, ele é a maior fonte geradora de água doce do país. O Grupo Boticário tem orgulho de contribuir, por meio de sua Fundação, para a proteção do Cerrado, da Mata Atlântica e de todos os demais ambientes naturais brasileiros, deixando um legado de rara energia e beleza para toda a humanidade. Sabemos que sozinhos não resolveremos todos os problemas ambientais do Brasil e justamente por isso trabalhamos em parceria, complementando os esforços públicos e engajando outros atores a também contribuírem na conservação. Ainda desejamos que o nosso exemplo inspire mais pessoas e instituições a também investirem na proteção do patrimônio natural nacional. A natureza conservada é um dos principais bens que podemos deixar aos nossos filhos e netos. É um dos maiores legados às futuras gerações. É preciso acreditar, com vigor que essa é uma das causas mais relevantes para o futuro do Brasil.

RESERVA NATURAL SALTO MORATO

(*) Miguel Krigsner é presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário e fundador e presidente da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

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P elo mundo

Dilma anuncia metas para o clima, mas ambientalistas esperam mais ROBERTO STUCKERT FILHO/ PR

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uas recentes notícias vindas de Nova York merecem ser analisadas pelas suas importâncias para o contexto atual e futuro. Foram anunciadas quase no mesmo dia e estão – de certa forma – interligadas ao futuro do planeta e, mais especificamente, ao Brasil que vivemos e ao que sonhamos para as futuras gerações. A primeira foi o anúncio oficial pela Presidente Dilma Rousseff – no dia 27 de setembro - das metas brasileiras para reduzir a emissão de gases de efeito estufa são de 37% até 2025 e de 43% até 2030, tendo como ano-base para os cálculos o ano de 2005. O anúncio foi feito durante a Conferência das Nações Unidas para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, em Nova York. A outra notícia foi a adoção da nova Agenda de Desenvolvimento Sustentável, aprovada, por unanimidade, por 193 Estados-membros das Nações Unidas no dia 25 de setembro. Foram propostos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS – que formam esta nova agenda global para acabar com a pobreza até 2030. Clima – As metas anunciadas pela Presidente Dilma estão dentro do contexto da agenda que prepara a próxima reunião da Con-

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venção do Clima entre as partes, a COP21, que será realizada em Paris, em dezembro próximo. “A Conferência de Paris é uma oportunidade única para construirmos uma resposta comum para o desafio global de mudanças do clima. O Brasil tem feito grande esforço para reduzir as emissões de gás de efeito estufa, sem comprometer nosso desenvolvimento econômico e nossa inclusão social”, afirmou a Presidente na ocasião. Na ONU, Dilma Rousseff citou o esforço brasileiro pela redução do desmatamento e também as iniciativas pelo uso de fontes renováveis de energia. O Brasil foi a primeira grande economia emergente a adotar uma meta absoluta para toda a economia e os especialistas avaliam que a escala de ambição é mais alta do que a da maioria das chamadas INDCs (Intended Nationally Determined Contributions), compromissos nacionais, apresentadas até aqui. Foi um compromisso significativo, avaliou a We Mean Business, coalizão internacional de mais de 200 empresas de todo o mundo coordenada no Brasil pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Em nota, estre grupo representante do setor privado também reconheceu que houve avanços expressivos em áreas específi-

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cas, como a de energias renováveis. Porém, o grupo, tanto no que se refere à meta global quanto às demais, vê como principal ponto crítico para o Brasil a definição dos meios pelos quais as metas serão implementadas. Na avaliação destes executivos, “será fundamental definir regras adequadas para a implementação das medidas, de modo a garantir, na prática, que o país alcance os objetivos propostos.” Ambientalistas que acompanham o tema de perto também destacaram a força do anúncio, mas fizeram algumas ressalvas relevantes, citando, por exemplo, que a meta de zerar o desmatamento poderia até ser antecipada. A coalizão Observatório do Clima, que reúne várias ONGs com foco em conservação e clima, como a WWF-Brasil, Imaflora, Fundação Grupo Boticário e IPÊ. “O país precisa dizer com clareza e transparência, quando publicar oficialmente a INDC, o que isso significa em termos de emissões – em toneladas de CO2 –, já que há dados diferentes para 2005 e a questão das emissões brutas versus emissões líquidas – o governo considera que terras indígenas e unidades de conservação são ações “antrópicas” para remover carbono da atmosfera, então expressa seus dados em emissões líquidas”, informou Carlos Rittl. Outro especialista sobre clima, Tasso Azevedo destacou que, no contexto internacional, a contribuição brasileira é muito importante. “É um país em desenvolvimento com metas de redução de emissões absolutas. O principal problema hoje é mover os países para metas absolutas, para poder ter um número de emissões. O Brasil está puxando a discussão para outro patamar porque constrange a China, a Índia e outros países a ter que pensar sua INDC de uma outra maneira”. A pouco mais de dois meses da Conferência das Partes em Paris (COP), alguns eventos ainda marcarão a agenda de debates e negociações.


Nova agenda sustentável, com 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, é adotada por unanimidade por 193 Estados-membros da ONU

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outra notícia foi o anúncio dos novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS – uma nova agenda global para acabar com a pobreza até 2030, no dia 25 de setembro, também em Nova York. Substituem os ODMs – Objetivos do Desenvolvimento do Milênio. Durante a cerimônia de abertura da Cúpula, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse que “A nova agenda é uma promessa dos líderes para todas as pessoas em todos os lugares. É uma visão universal, integrada e de transformação para um mundo melhor”. Ele foi adiante e ressaltou a relevância para o planeta da nova agenda. “A verdadeira prova do compromisso com a Agenda 2030 será sua aplicação. Precisamos da ação de to-

dos, em todas as partes. Os ODS são nossa guia. São nossa lista de tarefas pendentes com as pessoas e o planeta, e um plano para o sucesso”, afirmou Ban. A adoção oficial da Agenda de Desenvolvimento Sustentável aconteceu logo depois que o Papa Francisco se dirigiu à Assembleia Geral afirmando: “A adoção da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável na Cúpula Mundial, que abre hoje, é um sinal importante de esperança”. É bom reforçar que, por volta de 2030, a população mundial deverá atingir quase nove bilhões de pessoas, e não será surpresa se a disputa por água e energia se intensificar ainda mais e se os recursos naturais ficarem cada vez mais escassos. O embaixador Macharia Kamau, do Quênia, um dos coordenadores do

processo consultivo intergovernamental dos ODS, declarou à imprensa que a implantação da Agenda pode chegar a custar entre US$ 3,5 trilhões e US$ 5 trilhões por ano. Entre os 17 objetivos globais estão, por exemplo, as questões ligadas à energia, água potável e saneamento e saúde e bem-estar. Todos interligados. Otimismo e ceticismo, lado a lado: não haverá quem puna ou fiscalize seus cumprimentos, mas já está mais do que claro que a pressão da sociedade será cada vez maior. Governos, empresas e sociedade civil estão e ficarão, cada vez mais, engajados num objetivo único: a sobrevivência e a busca por um desenvolvimento sustentável. Não cada um para si. Mas por estas e as próximas gerações.

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Seguros

Seguradora Líder-DPVAT realiza encontro estratégico com fornecedores Iniciativa conjunta das Gerências de Gestão Estratégica e Administrativa reuniu diferentes fornecedores, chamados de aliados Do Rio de Janeiro

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Seguradora Líder-DPVAT, que administra o Seguro DPVAT, realizou, no dia 21 de agosto, um Café-Técnico com seus fornecedores para alinhar o posicionamento estratégico sobre sustentabilidade. Um banner, logo na entrada do evento já dava o tom de parceria: os fornecedores foram chamados de aliados. O auditório da Escola Nacional de Seguros (Funenseg) ficou lotado com cerca de sessenta convidados. “Estamos muito felizes com o resultado. O encontro teve como objetivo promover o engajamento e transparência, baseado nos Princípios para Sustentabilidade

em Seguros (PSI), do qual somos signatários, com este público da nossa Cadeia de Valor, mobilizando o compromisso socioambiental e de governança na conscientização e divulgação de boas práticas”, disse Lídia Monteiro, Gerente de Gestão Estratégica, que idealizou o evento em parceria com a Gerência Administrativa, como parte da meta compartilhada entre as áreas que abrange o tópico de Sustentabilidade. Conscientização da cadeia de valor Representantes deste nicho (fornecedores) da cadeia de valor da seguradora estiveram presentes, assim como gerentes, diretores, assessores, superintendentes e membros da Comissão Sustentabilíder. Este grupo

Lídia Monteiro e Valdirene Laia

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José Márcio Norton

atua como parceiro criativo em sustentabilidade, por meio da construção de iniciativas inovadoras com foco nas questões sociais, de governança e ambientais (ASG), discutidas em reuniões bimestrais. Adicionalmente, Valdirene Laia, Gerente Administrativa, ressaltou: “Em 2015 trabalharemos em conjunto com os nossos clientes e parceiros comerciais para aumento da conscientização sobre questões ambientais, sociais e de governança, gerenciamento de riscos e desenvolvimento de soluções”. Os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), instituídos em 2012, apresentam uma estrutura e iniciativa global em sustentabilidade da iniciativa Financeira do


FOTOS DE DIVULGAÇÃO

Programa das Nações Unidas para o meio ambiente, sendo a Seguradora Líder DPVAT signatária, assim como outras seguradoras e a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). O Assessor da Presidência da Seguradora Líder-DPVAT, José Márcio Norton, apresentou aos fornecedores a história da companhia, principais dados e também a abrangência e a relevância do trabalho, com forte cunho social, desenvolvido ao longo dos anos. “Única modalidade de seguro que dá cobertura à população em qualquer ponto do país, com 7.896 pontos de atendimento”, disse Norton. Troca de experiências Os fornecedores aplaudiram a iniciativa do encontro. A gerente do Corporativo dos Correios, Maria de Fátima Gomes Pinheiro, veio de Brasília, fez palestra sobre as iniciativas sustentáveis dos Correios e destacou a qualidade das apresentações e a troca de experiências. Os Correios são parceiros da Seguradora Líder-DPVAT na parte de canal de informações e pedidos de indenizações. “Em nome dos Correios, agradeço a oportunidade e o convite que muito me honrou. Parabenizo à Seguradora Líder-DPVAT pela realização de um evento que surpreendeu pela qualidade das apresentações, pelo ambiente propício para dividir experiências com excelentes profissionais e para agregar conhecimento sobre às tendências de Sustentabilidade”. Aldo Pires, representante da ADDTECH, da área de sistema gerencial de gestão, que trabalha com a Seguradora Líder-DPVAT desde 2010, também elogiou a

iniciativa. “É muito importante para nós da ADDTECH sabermos que não somos apenas mais um fornecedor. Temos como missão da nossa empresa agregar valor para os nossos clientes através de soluções e práticas inovadoras. Assim ser chamado de aliado é o feedback que precisamos para saber que estamos conseguindo cumprir nossa missão”, disse Aldo. Boas práticas Luiz Fernando Barbieri, que concentra-se na área de atuação de modelagem de processos, atuando com reestruturação organizacional, preparo de organizações para certificações ISO, etc; também aplaudiu o evento. “A minha percepção do evento é que o mesmo pode nos fazer conhecer mais sobre o negócio Líder DPVAT, dados que nos fizeram sentir orgulhosos de prestar serviço para esta Seguradora, além de conhecer boas práticas de sustentabilidade que são possíveis de serem

realizadas em parceria. Foi uma manhã de muito conhecimento e abertura de possibilidades, de reflexão e aumento de horizontes sustentáveis de forma estratégica”, avaliou Barbieri. Outra fornecedora, ou aliada, que compareceu ao Café-Técnico foi Maria Eugênia Buosi, da Resultante, consultoria estratégica em sustentabilidade. Ela frisou que por não trabalhar diretamente com os resíduos ambientais, as questões sociais e de governança são significativamente mais relevantes. Especialmente no que tange aos seus relacionamentos, desde os acionistas ao poder público. “A elaboração da Cadeia de Valor da seguradora se fez a partir do levantamento dos principais stakeholders que interagem com a Seguradora Líder-DPVAT a partir de seus principais processos (arrecadação, gestão e pagamento de indenizações), para que a instituição possa estabelecer melhores práticas de relacionamento”, concluiu Maria Eugênia.

Maria Eugênia Buosi

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Estante Conservando a Natureza no Brasil Por Maria Tereza Jorge Pádua, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza Maria Tereza Jorge Pádua integra um time de conservacionistas brasileiros que fez muito pela ampliação das áreas protegidas no Brasil, num período compreendido entre o final da década de 60 e início da década de 80. Como diretora de Parques Nacionais, Áreas Protegidas e Fauna Silvestre do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Florestas (IBDF), ela implantou, ao lado de sua equipe, em menos de 20 anos, a primeira unidade de conservação marinha brasileira – a Reserva Biológica Atol das Rocas - 14 parques nacionais e as primeiras áreas protegidas da Amazônia. Editado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, da qual a autora é conselheira, o livro narra os bastidores da criação e implantação de todas essas áreas protegidas e também como foi elaborado o primeiro Plano de Sistemas de Unidade de Conservação brasileiro, publicado em 1979. Traz ainda detalhes e relatos da criação dos Parques Nacionais Grande Sertão Veredas, na divisa de Minas Gerais com Bahia, e Pico da Neblina, na Amazônia, além de relatar o início do projeto Tamar.

Provocações Corporativas De Heródoto Barbeiro, Editora Alta Books, 320 páginas, R$ 64,90 O âncora do Jornal Record News, Heródoto Barbeiro, acaba de lançar seu livro “Provocações Corporativas” . No livro, o jornalista, professor e historiador, faz uso do conhecimento adquirido sobre a dinâmica e a estrutura das empresas e de seus dirigentes, por intermédio de entrevistas, mediações de debates em congressos empresariais e palestras para e sobre o mundo corporativo, para fazer uma reflexão sobre o cenário no qual as organizações estão inseridas. A obra é organizada como um programa de dez sessões de discussão. Em cada encontro, cinco executivos se reúnem para debater questões acerca de política, educação, economia, entre outros temas importantes que entrelaçam o mundo empresarial com a sociedade. Nessa obra de ficção, baseada na realidade, o autor pretende fazer uma leitura de mundo que pode servir como um programa de desenvolvimento de líderes e dirigentes das empresas.

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Carlos Franco – Editor de Plurale em revista

Faça as Pazes com o Dinheiro De Alex Campos, Editora Letra Capital, 208 páginas, R$ 31,50 Pelas ondas do rádio, os brasileiros que buscam notícias econômicas de boa fonte se habituaram a sintonizar a JBFM 99,9 (RJ) para escutar o que o jornalista Alex Campos tem a dizer. Com voz inconfundível, ele alinha pensamentos lúcidos, fruto de sua longa experiência profissional, e os traduz em palavras bem articuladas que transformam seus ouvintes em fiéis acompanhantes. Ao longo de sua trajetória, esse eloquente articulista vem interpretando episódios da história econômica agora transferidos para as páginas impressas deste Faça as Pazes com o Dinheiro como um verdadeiro presente ao público. Quem acompanha suas locuções sempre agradáveis, pode relembrar aqui o conjunto da obra. Objetivo, sintético, sempre com uma pitada de humor, Alex Campos faz da Economia – assunto árido para muitos, mas importante para todos – algo que atrai a atenção e encanta os ouvidos.

Passageiro da Memória De Romildo Guerrante, Editora Multifoco, 108 páginas, R$ 33,00 O livro do jornalista Romildo Guerrante não é exatamente um livro de memórias na medida em que os textos não seguem uma ordem cronológica nem há uma preocupação de reconstituição de sua trajetória. São impressões, flashes e episódios em que, diz o autor, uma fantasia perdida “vai ser desfiada da forma como ela se revela”. Assim, ele se sente à vontade para registrar temas que incluem recordações da infância, os bastidores do jornalismo, o cotidiano de uma grande cidade marcada pela violência, a violência da repressão durante a ditadura militar. O romancista Elias Fajardo diz na orelha do livro que Romildo é um “contador de causos contemporâneo”. De fato, Passageiro da Memória é um misto de recordações da infância no interior e histórias vividas como jornalista no cotidiano de uma grande cidade, narradas com a verve e o humor dos bons contadores de causos. A capa é de outro craque, o ilustrador e chargista Aliedo.


Os principais temas que impactam as Relações com Investidores, você encontra em uma só revista: na RI

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Ecoturismo

Porque você deve colocar o

ã n t Vie

no seu roteiro? Por Giuliana Preziosi, Especial para Plurale Editora do Blog Histórias pelo Mundo De Hanoi (Vietnã) Com fotos de Maurício Chichitosi

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ou confessar que antes desta viagem de volta ao mundo, o Vietnã nunca esteve no topo da minha listinha de países para conhecer, mas depois de visitá-lo, ele acabou de entrar para o topo da minha lista de países que quero voltar. O agito de Hanói Hanói é cidade do happy hour, com vários barzinhos e cafés a cada

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esquina. A melhor parte é que estes lugares não só oferecem uma boa comida, como ótimas opções de bebidas, seja um saboroso café ou diversas cervejas que chegam a custar a bagatela de US$ 0,25! Sim, centavos, e ainda tem promoções no horário de happy hour. Só de sentar em um destes cafés e observar o movimento das ruas pode ser uma experiência para lá de divertida. A gente já passou por várias cidades um tanto quanto caóticas, mas em Hanói o caos surpreende pela quantidade de motos nas ruas e também nas calçadas. Por falar nas calçadas, estas são, na verdade, um estacionamento de motos, enquanto os pedestres têm que circular entre elas, ou melhor, desviando delas.

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Atravessar a rua é um desafio e só não pode ter medo. Recebemos até um folheto com dicas de como atravessar as ruas do nosso hotel, onde dizia para ser confiante, manter contato visual com os motoristas, andar devagar, mas nunca voltar ou parar. Segundo um jornal local, existem cerca de 4 milhões de motos na cidade, que tem uma população de quase 7 milhões de pessoas. São 39 milhões de motos no país, o que representa aproximadamente uma moto à cada 2 habitantes! O sabor da comida vietnamita A comida vietnamita é deliciosa e foi uma das coisas que mais nos surpreendeu, principalmente pela forma de cozinhar, os temperos utilizados e o sabor. Na


Casal descansando em Hoi An

Saigon (Ho Chi Minh)

cozinha vietnamita, é possível encontrar muitos frutos do mar, peixes diversos, noodles de arroz, frango, carne e porco. Além disso, é super barato. Encontramos pratos sofisticados, como um pato ao molho de maracujá por apenas US$4,50. E os vietnamitas sabem que sua comida faz sucesso com os estrangeiros, pois é comum encontrar pequenas aulas de culinária em várias cidades que visitamos. Assim como o colombiano e brasileiro, o café vietnamita é bastante famoso pelo mundo. Em Hanói há várias cafeterias, das mais simples às mais sofisticadas. Mas foi a primeira vez que vimos o chamado “Egg Coffee”. Pelo nome pode parecer meio estranho: café com ovo? E não é que o café é delicioso! É tipo uma gemada com café ex-

presso. A espuma cremosa e saborosa fica incrível com o sabor do café. Vale experimentar, mas só encontramos em Hanói. Cultura, história e tradição Nas grandes cidades, como Hanói e Ho Chi Minh, é possível assistir o chamado Water Puppet Show, um teatro de bonecos na água. O palco é uma grande piscina onde os bonecos ganham vida e encantam a plateia. O teatro com os bonecos animados dançando sob a água é uma tradição que teve origem no século 11, em vilarejos do norte do Vietnã. Cada cena conta uma pequena história, tudo acompanhado com música ao vivo. O show já participou de festivais no mundo todo e sua originalidade encanta e atrai muita gente.

Em Hue, na parte central do Vietnã, é possível visitar a chamada “Imperial Citadel” conhecida como Cidade Proibida Púrpura, que foi idealizada como uma cópia da Cidade Proibida dos imperadores chineses em Pequim. Hue foi capital do país durante a Dinastia Nguyen por 140 anos, de 1805 a 1945. A Cidade Imperial de Huế é uma fortaleza murada e um palácio da antiga capital do páis. O local passou por três guerras e a maior parte foi destruída na Guerra do Vietnã. Mas os edifícios que ainda restaram foram restaurados e preservados. Como na China, a Cidade Proibida do Vietnã possui vários palácios, portões e pátios. Destaca-se o Palácio Tha’i Ho`a (Palácio da Paz Suprema), reservado à Família Imperial e onde tem Sala do Trono. Como estivemos nas duas Cidades Proíbidas (China e Vietnã), é dificil comparar uma com a outra, pois são diferentes e cada uma trás marcas muito fortes de seu país. Hoa Lu é uma cidade que fica cerca de 2 horas de Hanoi, ao norte do país. Foi capital do Vietnã nos séculos X e XI e guarda em seus templos muitas histórias daquela época. Atualmente é possível visitar os Templos dedicados aos reis Dinh Tien Hoang e Le Dai Hanh. Mas o que vale mais a pena na região é o passeio de barco em Tam Coc. São duas horas pelo lago Ngo Dong passando por algumas cavernas e plantações de arroz. Foi curioso ver a maioria dos barqueiros remando com os pés, para ter as mãos livres para segurar um guarda chuva para proteger do sol. Além disso, a maior parte dos barqueiros são mulheres que vivem nos vilarejos próximos ao lago. Dizem que as mulheres são especialistas em fazer vá-

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Ecoturismo

rias coisas ao mesmo tempo. Aqui, enquanto elas remam com os pés, elas tiram fotos, se arrumam, abrem e fecham o guarda chuva, bebem água, comem, conversam e o que mais for preciso. Halong Bay, uma das sete maravilhasas naturais do mundo Halong Bay fica no golfo de Tonkin, ao norte do Vietnã. A baía possui mais de 1.900 ilhas que fazem da sua paisagem um lugar exótico e surpreendente. Há muitos barcos que oferecem pequenos cruzeiros de uma ou duas noites para visitar a baía. Vale ficar atento na previsão do tempo, porque com chuva o lugar perde um pouco do seu charme. Nós fizemos o cruzeiro de duas noites e pegamos sol e chuva, mas adoramos o passeio. Procure por passeios de caiaque para explorar algumas ilhas de pertinho, passando por túneis no meio das rochas. É incrível! Nós chegamos em locais em que o único acesso é de caiaque. Alguns túneis só são acessíveis na maré baixa. Nós conseguimos passar por eles, mas em alguns trechos tivemos quase que deitar no caiaque para conseguir passar pelas rochas. A paisagem nestas pequenas lagoas escondidas é sensacional. Com a água transparente, nunca tinha visto tanta água viva ao redor. Ao mesmo tempo que era fascinante, dava um certo arrepio de pensar que estávamos tão perto delas. Em uma das ilhas, fomos em uma caverna chamada de Surprising Cave (Caverna Surpreendente), ou Sung Sot. A caverna faz jus ao seu nome, e arrisco dizer que foi a caverna mais impressionante que já visitei. A cada lugar apertadinho que passámos encontramos uma caverna diferente, uma mais incrível que a outra, até chegarmos em uma caverna enorme, que parecia cenário de filme. O problema de Halong Bay, e que algumas pessoas criticam quando vão visita-la, é que algumas ilhas estão ficando bastante sujas, principalmente por causa da pesca intensiva. Segundo nosso guia, o governo está tentando proibir a pesca em vários lugares da baía, para preservá-la. Mas, ainda assim, é um pouco polêmico, pois a pesca é a única forma de subsistência de alguns moradores da região. Como é proibido morar e construir casas nas ilhas, tem muita gente que mora em barcos que circulam na área.

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O charme de Hoi An Uma cidade de estilo colonial com casarões amarelos, ruas de paralelepípedo e lanternas coloridas por toda a parte. Assim é Hoi An, que fica na parte central do Vietnã. Lembra a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. Durante o dia, a cerca de 4km do centro da cidade, é possível curtir praias lindas e deliciosas para nadar. À noite, a diversão está no centro histórico da cidade, que fica colorido e iluminado por lanternas, repleto de restaurantes que oferecem até aulas de culinária. A cidade é famosa também pelos seus alfaiates e artesãos. Em Hoi An, é possível fazer um terno, camisa, vestido ou casaco, tudo sob medida. O melhor: fica pronto de um dia para o outro e, ainda, tem um preço super justo. Uma camisa de algodão sai por US$ 18/20 e um casaco de inverno por US$ 40/50. O povo vietnamita Fomos bem tratados em todos os lugares que visitamos. Principalmente nos hotéis, notamos uma preocupação muito

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grande em satisfazer os hóspedes. E não falo isso de uma cidade específica, mas sim de todos os locais que passamos. Se fizer o teste e procurar hotéis no Vietnã pela internet, verá que, em geral, os comentários são muito bons, não importa a quantidade de estrelas que o hotel tenha. Nas lojas, é preciso negociar para conseguir um bom preço, mas eles são simpáticos e não fazem pressão como em outros lugares da Ásia. No entanto, é preciso tomar cuidado com os batedores de carteira (“pickpockets”), principalmente porque a maioria anda de moto e pode pegar sua bolsa em segundos. Em Hanói, vimos um homem abrindo a mochila de um estrangeiro na cara dura. Todo lugar muito turístico é preciso tomar cuidado com coisas desse tipo. Em todos os passeios que fizemos, além das orientações básicas, os guias eram bastante falantes, adoravam contar histórias e informações que iam muito além do que estávamos visitando. Meios de transporte Fomos de norte ao sul do país e optamos por utilizar ônibus na maioria dos trajetos. Os ônibus são confortáveis, mas não são aconselháveis para pessoas muito altas ou acima do peso. São dois andares com assentos quase deitados, que parecem uma pequena cabine. Tem espaço para esticar as pernas e deitar o banco, mas são espaços pequenos. E, para nossa surpresa, a maioria dos ônibus tem até wi-fi. Não tão barato quanto os ônibus, o avião também é uma opção para trechos um pouco mais longos. Há companhias locais que podem apresentar um bom custo x benefício.


Hoi An

E n s a i o

FOTOS:

MaurĂ­cio Chichitosi

Praia em Hoi An

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Ecoturismo

Cicatrizes da Guerra

Museu da Guerra em HEU

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uarenta anos após o fim da Guerra do Vietnã, é impossível visitar o país sem mergulhar na história do que aconteceu durante esse período. A Guerra do Vietnã aconteceu nos territórios do Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Camboja e Laos, entre os anos de 1959 e 1975, e é tido como o conflito armado mais violento que aconteceu na segunda metade do século XX. Acerca de 70km de Ho Chi Minh, antiga Saigon, fomos conhecer os túneis de Cu Chi, utilizados durante a Guerra. São 250 km de túneis somente nesta área. Há outros complexos de túneis como este espalhados pelo país. Foi muito interessante visitar o lugar e conhecer as táticas utilizadas pelos vietnamitas para vencer a guerra contra os EUA. Enquanto os americanos investiam em bombas e misséis, os guerrilheiros comunistas, chamados de vietcongues, ganhavam vantagem por utilizar seu território, desconhecido pelo seu adversário, como sua melhor forma de defesa. De forma muito inteligente e tática, faziam armadilhas por toda a floresta. Além disso, estavam acostumados a lidar com as altas temperatura, o clima tropical e eram pequenos suficientes para circular facilmente nestes túneis. Já a nossa experiência nos túneis foi um pouco claustrofóbica. Nós andamos somente 50 metros dentro dos túneis e foi suficiente para ter uma ideia do que eles viveram naquela época. As passagens são muito estreitas, sendo que em alguns momentos tivemos que engatinhar para conseguir passar. Pessoas muito altas tem que rastejar para conseguir passar.

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Alguns trechos do túnel eram escuros e a sensação é horrível. Fico imaginando naquela época, que devia ser bem pior. Segundo nosso guia, alguns trechos do túnel foram expandidos para permitir a visitação de estrangeiros, porque durante a guerra eram ainda mais estreitos. Os vietcongues possuíam vantagem por conhecer cada centímetro do local onde estavam guerrilhando. Enquanto os EUA utilizavam de armamentos modernos e helicópteros, os vietcongues faziam usos de táticas de guerrilha que só eles dominavam. Já que a principal “arma” dos vietcongues era o seu território, os EUA resolveram atacar da forma mais covarde possível. Entre 1961 a 1971, foram despejados cerca de 80 milhões de litros de herbicidas e desfolhantes sobre o Vietnã do Sul. O objetivo era destruir as safras do inimigo e dizimar as selvas em que se escondiam os vietcongues e o Exército do Vietnã do Norte. Cerca de 16% do território do país foi bombardeado com toxinas. Entre elas, a mais utilizada era a dioxina, apelidada agente laranja. Uma substância altamente

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tóxica, que causa doenças graves como câncer de pulmão, câncer de pele, incapacidade mental, deformidades no organismo e abortos. Seu efeito em florestas pode durar por até duas gerações, comprometendo a fauna e a flora, bem como a contaminação do solo e das águas. As consequências do chamado agente laranja são visíveis até hoje. São mais de 3 gerações que ainda podem sofrer as consequências do agente laranja, sem contar os problemas sociais causados em decorrência disso. Segundo reportagem da Revista Carta Capital (maio 2015), há exatos 40 anos após o fim da guerra que, calcula-se, matou 3 milhões de pessoas, as questões relativas à potência e alcance dessa substância tóxica seguem em aberto e são cada vez mais difíceis de responder à medida que nascem no Vietnã uma segunda e, agora, uma terceira geração de crianças apresentando alta incidência de deficiências, como síndrome de Down, paralisia cerebral e desfiguração facial extrema.


Museu da Guerra em Saigon

Depois do passeio nos túneis, fomos ao Museu da Guerra, na cidade de Ho Chi Minh, e vimos fotos de perder o fôlego e arrancar lágrimas. Muitos foram os fotógrafos guerreiros que arriscaram suas vidas para registrar o que acontecia nos campos de batalha. São várias as fotos que venceram o Prêmio Pultizer, mostrando ao mundo o que estava ocorrendo. A sala com fotos das consequências do agente laranja são chocantes e abalam. Era comum ver as pessoas saindo emocionadas desta sala. Tudo isso me fez pensar como o ser humano pode ser tão cruel, movido por valores que nem sempre ele acredita, mas que é forçado pela sociedade em “defesa” de seu país. O Vietnã é um país fantástico de se conhecer, tem lugares incríveis para serem visitados, seu povo é simpático e hospitaleiro, mas, é impossível não se deparar com as consequências da guerra para entender os problemas sociais advindos dela. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Vietnã é um dos países com maior índice de pessoas com deficiência no mundo. Em 2009, o censo apontava que cerca de 8% da população tinha algum tipo de deficiência, mas estatísticas mais recentes apontaram que tal porcentagem é de 15%. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) aponta as dificuldades que pessoas doentes ou com algum tipo deficiência têm em encontrar emprego no país. Das quase 7 milhões de pessoas com alguma deficiência no país, uma parcela pequena consegue emprego fixo no Vietnã. O motivo apontado pela OIT é comum em outras partes do mundo, causado pela discriminação e a percepção errônea de que

esses trabalhadores são incapazes de realizar suas funções no mercado de trabalho. Já que é difícil arrumar um emprego fixo, muitas pessoas com deficiência resolveram se dedicar ao bordado e artesanato, se engajando em projetos sociais voltados para a venda destes produtos no mercado de turismo, que vem movimentando cada vez mais a economia do país. Nos pequenos passeios que fizemos, viajando de uma cidade para outra, era comum os ônibus pararem em grandes lojas, onde víamos pessoas com deficiência fazendo na hora os bordados à venda. A boa notícia é que organizações como UNICEF, USAID e OIT vêm trabalhando em conjunto com o Governo do Vietnã para promover uma sociedade mais inclusiva, atendendo os requerimentos da Convenção da ONU para os Direitos de Pessoas com Deficiências (UN Convention on the Rights of Persons with Disabilities). O objetivo é a conscientização da população e a criação de mecanismos de incentivo, por meio de leis, visando treinamento, emprego, educação e assistência médica para pessoas com deficiência. Como se tivesse sido uma briguinha de casal, segundo artigo publicado recentemente na BBC, os EUA e Vietnã normalizaram suas relações em 1995, e anunciaram um acordo amplo em 2013. O comércio bilateral movimentou quase US$ 35 bilhões em 2014. Agora eu pergunto: até quando o ser humano vai continuar colocando seus interesses políticos em primeiro plano, pouco se importando para o real valor da vida?! (Por Giuliana Preziosi)

Veteranos de Guerra

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Ecoturismo

como chegar e onde ficar: Vale dizer que brasileiros precisam de visto para entrar no Vietnã. É possível tirá-lo diretamente no Consulado do Vietnã ou utilizar o serviço online de empresas que emitem uma carta de aprovação utilizada para aquisição do visto quando chegar no país. É simples e fácil, basta se programar com antecedência. Não há voos direto do Brasil para o Vietnã, a maioria das companhias áreas fazem conexão na Europa ou em Dubai. Uma dica é chegar por Hanói e sair do país por Ho Chi Minh, assim ganha tempo para ir explorando o país de norte ao sul. De 10 a 15 dias é o período ideal para conhecer o Vietnã e passar por todos os lugares que mencionamos na matéria. Se tiver mais alguns dias de férias, vale dar um pulinho no Camboja, país vizinho e também superinteressante. Buscar hospedagem pelo Vietnã é uma delícia, pois além de ser barato, a maioria dos hotéis e pousadas oferecem um ótimo serviço. A média de preços para uma diária varia de US$ 20 a 60 para um quarto duplo com café da manhã. Em

Halong Bay

Halong Bay

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Hoi An vimos excelentes resorts, cinco estrelas, por cerca de US$ 60 a diária. Em Hue encontramos uma verdadeira barganha, ficando em um hotel com café da manhã e ótima localização por apenas US$12. Ótimas opções com excelente custo-benefício não faltam! SOBRE O HISTÓRIAS PELO MUNDO Giuliana Preziosi e Mauricio Cichitosi decidiram inverter um pouco a possível “lógica”, ou melhor, o padrão das ações esperadas após o casamento. Ao invés de economizar para comprar um apartamento e se estruturar para a chegada dos filhos, resolveram viajar pelo mundo por 500 dias. Ela, trabalha com sustentabilidade, ele trocou a advocacia pela fotografia. Para acompanhar essa aventura acesse: www.historiaspelomundo.com Facebook: https://www.facebook.com/historiaspmundo Instagram: @Historiaspelomundo


Surprising Cave

E n s a i o

FOTOS:

MaurĂ­cio Chichitosi

Halong Bay

Passeio de barco em Tam Coc

Hue Imperial Citadel

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C onservação marinha

Marta Espinheira na Estação de Pesquisa da Ilha Orpheus Texto e fotos de Marina Guedes, de Queensland, Austrália Especial para Plurale Fotos submarinas de Calypso Reef Imagery Cairns

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istribuída ao longo de mais de dois mil quilômetros entre Austrália e Papua Nova Guiné, a região oceânica conhecida internacionalmente como Grande Barreira de Corais é sinônimo de superlativos e encantamento. Formada por uma biodiversidade marinha que inclui rica variedade de fauna e flora, gera, anualmente, cerca de seis bilhões de dólares ao turismo australiano. Com águas tropicais e cristalinas, os mergulhos de cilindro ou de superfície (snorkeling) são, sem dúvida, os principais atrativos turísticos.

Iniciativas em defesa da Grande Barreira de Corais A particularidade de poder ser avistada a partir do espaço é uma das primeiras informações repassadas quando o assunto é Grande Barreira de Corais, assim como as ameaças a sua sobrevivência (a exemplo, o desenvolvimento portuário e o aquecimento global. Este último prevê a elevação da temperatura oceânica, resultando na morte dos corais - fenômeno chamado de branqueamento - além da elevação do nível do mar). Felizmente, ações voltadas à conservação marinha na Grande Barreira também são crescentes. É o caso de duas iniciativas em andamento no norte do estado de Queensland, na Austrália. A primeira trata-se do Centro de Reabilitação de Tartarugas Marinhas de Cairns. A segunda,

Os alunos na Ilha Orpheus, entrando na água para estudos sobre ecossistemas de corais

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denominada Estação de Pesquisa na Ilha Orpheus, instalação que pertence à Universidade de James Cook. Incansável Idealizadora do Centro de Reabilitação de Tartarugas Marinhas, Jennie Gilbert é definida entre os que a conhecem como incansável em prol da conservação. Seu passo é rápido, e a fala quase sempre acelerada. O constante bom humor também lhe é marca registrada. Caminhar ao seu lado - seja durante uma rápida apresentação aos visitantes e voluntários recém-chegados ao centro de tratamento das tartarugas, na Ilha de Fitzroy, ou em um almoço com vista para um privilegiado cenário a beira da marina na cidade


Reef lypso ção de Ca lga Foto Divu ns/ ery Cair Imag

portuária de Cairns - requer fôlego. Há quem diga que esta qualidade é a garantia do sucesso da instituição que coordena há 15 anos, e que já devolveu mais de 150 tartarugas ao mar. “Jennie é incrível na luta pela conservação marinha. Uma pessoa realmente estimulante”, comenta Nektarios Mihalaras. Quando não está embarcado, o pescador profissional de 42 anos dedica parte de seu tempo à entidade. “Sou voluntário há seis meses. Vi um anúncio e decidi participar”, recorda o australiano. Assim como os demais participantes (que hoje somam 200, de vários países), Nektarios cuida da limpeza dos tanques onde ficam as tartarugas em processo de recuperação, auxilia na alimentação dos animais (que inclui camarão, polvo e alface, sim, ali as tartarugas comem além de vegetais) e, quando preciso, também é responsável pelo reparo e manutenção dos equipamentos no centro de reabilitação. “Limpar os filtros de cada tanque é fundamental. Se deixarmos, as tartarugas comem qualquer coisa”, salienta Cassie Smith, voluntária há dois anos. A água que abastece os tanques vem direto do mar e passam obrigatoriamente por filtros que são constantemente verificados, evitando que eventuais plásticos ou impurezas sejam ingeridos pelos animais. Além da clínica veterinária – primeiro local de triagem das tartarugas - a organização conta com um local de tratamento

intensivo em Cairns, fechado para visitação pública. De lá, seguem para o centro de tratamento na Ilha de Fitzroy, cerca de uma hora de barco a partir de Cairns. É para onde vão os voluntários, diariamente. Algumas tartarugas chegam à triagem com peso abaixo do normal, nadadeiras amputadas ou imobilizadas por conta de acidente com embarcações, diversos machucados ao ficarem presas em rede de pesca e, também, acidentes com outros animais, como “abocanhadas” por crocodilos que também vivem nos arredores. “O que aprendemos aqui, sobre o comportamento destes animais, é maravilhoso”, diz, enquanto alimenta a pequena Tartaruga-de-pente carinhosamente batizada de “Harry”, diz Ray Watts, de 41 anos.

Danielle Ozorio, de 44 anos, também é voluntária há quase um ano. Ela recorda que conheceu o trabalho da instituição durante um festival de filme aquático em Cairns e decidiu se unir à causa. “Hoje, há 10 tartarugas em processo de recuperação em Fitzroy, de quatro espécies diferentes: Verde, Marinha Australiana, Oliva e De Pente. Outras quatro estão no centro intensivo de Cairns. A última soltura ocorreu em dezembro do ano passado, foram quatro da espécie verde, realmente emocionante”, recorda Danielle. Quando soltas, as tartarugas são rastreadas por meio de equipamento de satélite afixado em seu casco, permitindo que estudos sobre comportamento e deslocamento continuem. O nome dado a cada animal, conforme explica Jennie, é uma homenagem à pessoa que ajudou a salvá-la. Mas, às vezes, ocorrem surpresas. “Só podemos ter certeza do sexo quando elas atingem 30, 35 anos. Ella (um indivíduo da espécie Verde) tem dado indicativos de que talvez seja, na verdade, Elvis”, brinca Jennie, referindo-se à possibilidade de que possa ser um macho, contrariando as expectativas iniciais. No processo rotineiro de percorrer os tanques onde ficam as tartarugas e explicar o que houve com cada uma a quem visita ou ajuda no centro de tratamento, Jennie aproveita para acariciar o casco de algumas, e garante que os animais são capazes de reconhecer e demonstrar afeto pelos voluntários, que endossam a questão.

Turistas do cruzeiro Sunlover aprendem sobre a biodiversidade marinha

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C onservação marinha

“Todas têm personalidades. Estar aqui, convivendo com elas é uma terapia não somente para os animais como para nós também. Estou estimulada a cursar biologia marinha, e minhas duas filhas também querem participar como voluntárias. O envolvimento é geral”, comenta Danielle. Todos os animais que estão aqui, garante Jennie, serão reintroduzidos ao ambiente natural, mesmo os que estão no centro de tratamento intensivo. “O tempo em que cada um permanece em tratamento varia, até atingirem peso adequado e condição de sobreviverem no ambiente a que pertencem”, esclarece a coordenadora. Desde que foi criado, há 15 anos, o Centro de Reabilitação já devolveu aos oceanos mais de 150 tartarugas. O sucesso da instituição conta com a parceria de empresas de turismo que transportam voluntários, gratuitamente, de Cairns até a Ilha de Fitzroy (como Sunlover, por exemplo); companhia aérea que, quando necessário, transporta animais ao local de reabilitação (é o caso da Quantas Linhas Aéreas), além de doações pontuais. Constantemente, Jennie participa de ações para arrecadação financeira, como

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palestras, jantares e outras iniciativas. Ela também costuma ser fonte constante da mídia australiana quando o assunto é tartaruga marinha. Um trabalho que não tem rotina certa para acontecer, seja uma simples segunda-feira cedo, ou em um domingo à tarde. Havendo espaço para agregarem novas parcerias, Jennie e seus colaboradores estarão lá, com a incansável energia que os une à conservação marinha. Para conhecer mais sobre a instituição, visite o site: http://www.cairnsturtlerehab.org/ Estação de Pesquisa na Ilha Orpheus De sua mesa de trabalho, a vista é privilegiada: mar com variadas tonalidades de azul, que oscilam de acordo com a rápida e transitória maré. Porém, aquele é o local onde a brasileira de 39 anos radicada na Austrália, Marta Espinheira, menos fica quando está à frente da Estação de Pesquisa na Ilha Orpheus. Seu trabalho é dinâmico, e envolve gerenciar e cuidar de toda a estrutura e logística necessária para manter as instalações funcionando. “Aqui, formamos uma pequena família. Apren-

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demos muito com os pesquisadores que vem para cá. O retorno que temos deles é excelente”, destaca Marta. Especialista em ecoturismo, ela esclarece que a estação é fundamental para a educação universitária da Universidade de James Cook. “A estação de pesquisa é a melhor alternativa que um estudante pode ter. Quando saem daqui a expressão é outra, em muitos casos, funciona como um excelente estímulo para que se tornem futuros pesquisadores”, diz Espinheira. Normalmente, grupos de até 58 alunos ficam alojados por variados períodos na estação. O acesso à ilha é feito de barco. A viagem dura, em média, uma hora a partir da pequena cidade de Lucinda. No ano passado, Marta esclarece que 1200 estudantes estiveram na ilha. Natural da África do Sul, Cassey Perry, de 24 anos, participou de um curso intensivo durante uma semana focado em ecossistemas de corais, em julho. Estudante de Ecologia Marinha, a intercambista não esconde alegria quando fala da experiência em conhecer o local e suas particularidades. “Foi muito interessante para aprender sobre as interações en-


tre os corais e ter uma compreensão melhor sobre todo o ecossistema”. Presença voluntária Assim como no centro de reabilitação de tartarugas, a estação de pesquisa em Orpheus conta com a participação de voluntários, como a pesquisadora alemã também radicada na Austrália, Anja Pabel. Sua primeira visita a Orpheus ocorreu em 2010. Em julho de 2015, Anja retornou à ilha, alegre por estar novamente em um local que acredita ser fundamental à conservação marinha na Grande Barreira de Corais. Entre as funções que ajudou a desempenhar quando foi voluntária da primeira vez, Anja relata que envolveu tanto a limpeza das acomodações quanto ajuda na retirada de pragas animais e vegetais. “Quando terminávamos as obrigações, desfrutávamos do ambiente ao redor da ilha, com mergulhos de snorkeling ou mesmo apreciando a fauna local, como di-

versos pássaros”, lembra Anja. O trabalho voluntário, continua a pesquisadora que recentemente começou a lecionar no departamento de turismo da Universidade Central de Queensland, “é uma forma de passar a mensagem sobre a importância da conservação, de fazer as melhores escolhas para cuidar do mundo em que vivemos”. Conheça mais sobre as pesquisas e trabalhos realizados na Estação de Pesquisa em Orpheus pelo site: http://www.jcu. edu.au/oirs/ Finalmente na água O mês de julho é considerado alta temporada de turismo na região de Cairns. A cidade é uma das principais portas de saída para os mergulhos na Grande Barreira de Corais. Este ano, atipicamente, o período foi marcado por queda de temperatura e chuvas constantes. Aos inúmeros turistas, porém - em sua maioria de origem asiática - tais adversidades não impedem que o mergulho aconteça. Jennie Gilbert, coordenadora do Centro de Reabilitação de Tartarugas Marinhas

A bordo do Sunlover Reef Cruises, cujos principais clientes são chineses, era a única brasileira a realizar um mergulho de cilindro com o grupo. A primeira preocupação que me ocorreu foi a chuva: estaria o mergulho comprometido por conta disso? Para minha alegria, todos os instrutores me garantiram que não já que, submersa, não haveria problema. A expressiva quantidade de turistas chineses embarcados é tamanha que somos divididos em dois grupos: os que falam Inglês e os de descendência oriental. Juntei-me ao pessoal que recebeu a orientação em Inglês, claro, já que Português só mesmo se estivesse em algum local como Abrolhos ou Fernando de Noronha, dois redutos de mergulho no Brasil. O bom humor entre os profissionais que garantem a segurança de quem mergulha pela primeira vez é algo que me chamou a atenção. Mesmo na condição de estrangeira, tendo que absorver toda a informação básica em outro idioma, com a forma descontraída que os profissionais tratavam do assunto de segurança, era impossível não relaxar. A descida de cerca de 7 metros pelas cristalinas águas da Grande Barreira de Corais ocorreu em um recife chamado Moore, pouco mais de uma hora de barco a partir de Cairns. Ao lado de Chris Mcquillen, que há dez anos é instrutor de mergulho, tive finalmente o primeiro contato com este local sonhado por muitos adeptos da prática do mergulho. Mesmo que rápido (o mergulho todo durou cerca de 30 minutos), a experiência foi, para mim, motivadora para entrar de vez nesta atividade. Poucos dias depois, tive a grata surpresa de ser convidada para uma nova descida. Desta vez, na Ilha Fitzroy, acompanhada da também simpática instrutora Tanya Murphy, da empresa Cairns Dive Centre. Como dizer não ao convite? Impossível. E lá estávamos nós, entre arraias, peixe-palhaço (o popular «Nemo»), e outras belezas que a Grande Barreira de Corais reserva aos visitantes. Agora, o próximo passo é matricular-me em um curso profissional de mergulho e voltar às águas e biodiversidade que fazem da Grande Barreira de Corais um local especial no mundo. Informações sobre mergulhos e passeios com a Sunlover: www.sunlover. com.au

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P e las Em pr esas

ISABELLA ARARIPE

gaçã divul

o

McDia Feliz arrecada R$ 22,114 milhões em 2015

O

McDia Feliz, a maior campanha em prol da cura do câncer infantil e juvenil do país, atingiu em 2015 uma arrecadação de R$ 22,114 milhões, que serão destinados a projetos de atendimento a adolescentes e crianças com câncer de norte a sul do país. No dia

29 de agosto, o McDia Feliz registrou a venda de 1.659.689 milhão de Big Mac nos mais de 870 restaurantes McDonald’s em todo o país. Também faz parte dessa soma a venda de tíquetes antecipados de Big Mac pelas instituições participantes, que este ano somou a quantia de 1.087.890 milhão de tíquetes. A arrecadação da campanha inclui ainda a venda de produtos promocionais com a marca McDia Feliz, organizada pelas instituições participantes e os eventos de mobilização como o #EsquentaMcDia e a venda do molho especial do Big Mac, além das doações financeiras de empresas. Todos os recursos arrecadados pelo McDia Feliz serão destinados a 73 projetos, de 58 instituições de todo o Brasil,

que possibilitarão mais de 60 mil atendimentos a crianças e adolescentes em tratamento oncológico e seus familiares. A lista dos projetos selecionados para receber os recursos da campanha está disponível no site www.instituto-ronald.com.br. “Mais uma vez agradeço, em nome de todos os beneficiados, o empenho fundamental de funcionários, franqueados e fornecedores do McDonald’s, além da mobilização de instituições e voluntários que contribuíram para que mais uma vez o McDia Feliz gerasse recursos para a realização de projetos que possibilitarão saúde e qualidade de vida para milhares de adolescentes e crianças com câncer e seus familiares”, afirma Francisco Neves, superintendente do Instituto Ronald McDonald. divulgação

Coca-Cola Company antecipa em cinco anos a meta de neutralidade em água no mundo

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STOCOLMO – Com cinco anos de antecedência, a Coca-Cola Company anunciou nesta terça-feira, em Estocolmo (Suécia), que alcançará a meta de 100% de reposição de água até o final de 2015. Atualmente, a companhia devolve para o meio ambiente 94% dos recursos hídricos utilizados em seus processos de fabricação. O cálculo leva em consideração o total de litros de água

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utilizada no processo de fabricação das bebidas e os litros de água gerados ou retidos na natureza relativos aos investimentos socioambientais da companhia. No Brasil, a Coca-Cola já é neutra em água desde 2013, tendo sido capaz de repor 100% da água utilizada no processo produtivo, dois anos antes do anúncio global. Com base nos projetos de reposição de água da Coca-Cola em todo o mundo, o sistema está compen-

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sando o equivalente a 94% da água utilizada em suas bebidas. Desde 2004, a Coca-Cola devolveu bilhões de litros de água às comunidades e à natureza através de 209 projetos hídricos comunitários em 61 países. Estes esforços combinados colocam a Coca-Cola a caminho de tornar-se a primeira empresa global de alimentos e bebidas a devolver toda a água que utiliza na produção.


ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA ISABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR divulgação

Natura recebe principal prêmio ambiental da ONU

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Natura, maior multinacional brasileira de cosméticos e pioneira em produção sustentável, recebeu, em setembro, o prêmio Campeões da Terra 2015, principal reconhecimento ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), na categoria Visão Empresarial. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) reconheceu a empresa por seu compromisso de colocar a sustentabilidade no coração de sua estratégia de negócios, o que apoia a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 da ONU.

O presidente da Natura, Roberto Lima, recebe o prêmio da embaixadora da ONU, Franca Sozzani e do diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner.

A Natura emprega um modelo de produção sustentável baseado no fornecimento responsável de ingredientes naturais e trabalho com comunidades locais, para incentivar a inovação verde em todo o ciclo de vida de um produto. No final do ano passado, tornou-se a primeira companhia aberta a receber a certificação Benefit Corporation (B Corp), que destacou seus altos padrões de res-

divulgação

Diálogo Jovem para Mobilidade, da Fetranspor, é premiado

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programa Diálogo Jovem para Mobilidade, da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) foi um dos vencedores da 14ª edição do Prêmio Marketing Contemporâneo da ABMN (Associação Brasileira de Marketing e Negócios), que consagrou as melhores iniciativas de comunicação de 2015. A premiação foi realizada no Clube dos Caiçaras, na Lagoa, zona sul do Rio, no dia 25 de agosto. A gerente de Responsabilidade Social da Fetranspor, Márcia Vaz, recebeu a premiação. O Diálogo Jovem completou três anos e tem como objetivo criar mudanças no sistema de transporte público, ao apoiar 150 jovens participantes a liderar e promover uma cultura mais saudável de diálogos construtivos com diversas organizações no estado do Rio de Janeiro, tanto no sistema de transporte por ônibus quanto no setor público e organizações da sociedade civil que priorizem cidades para pessoas. “Por meio de metodologias participativas, os jovens são empoderados para difundir melhores práticas e ideias inovadoras às quais possam fomentar experiências positivas dos atuais passageiros, além de atrair novos usuários”, explicou Márcia Vaz.

ponsabilidade ambiental e social. Em 2014 a Natura também apresentou uma série de diretrizes estratégicas para garantir que todos seus negócios criem um impacto positivo em cada dimensão de suas atividades em 2050. A companhia tem operações em seis países da América Latina e na França, e controla a marca australiana Aesop, com mais de cem lojas em cinco continentes.

Itaú lança Programa de Compensação de Emissões de Gases de Efeito Estufa

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Itaú, maior banco privado da América Latina, lançou no dia 2 de outubro um edital para seleção de projetos que tenham gerado e certificado créditos de carbono. O objetivo do programa é mitigar o impacto das operações do banco no meio ambiente, adquirindo reduções voluntárias de projetos alinhados com a visão e os valores do banco. “Além de investir continuamente em projetos que reduzem nosso impacto ambiental, neste ano, compensaremos nossas emissões diretas de GEE dos últimos três anos (2012 – 2014), com créditos de carbono certificados de projetos que possuam cobenefícios sodivulgação cioambientais comprovados. Além disso, a partir do próximo ano, compensaremos também as emissões advindas do nosso novo data center, o Centro Tecnológico de Mogi Mirim, maior data center da América Latina, construído de acordo com os mais altos padrões de eficiência energética”, explica Denise Hills, superintendente de sustentabilidade do Itaú Unibanco.

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VIDA Saud ável

Verduras e legumes colorem os pratos das crianças Da Agência Sebrae de Notícias/ De Brasília

Chá de hibisco: nova onda do momento Primeiro foi o chá verde e agora, o novo hit parade é um chá vermelho, da flor hibisco. Pode ajudar no emagrecimento e é muito rico em nutrientes. Ao contrário do chá verde, tem um gosto mais doce, o que costuma agradar mais ao paladar, principalmente o feminino. Dentre seus nutrientes, destacam-se o cálcio, o magnésio, o fósforo e

o potássio, minerais importantíssimos para fortalecimento de ossos e dentes. Mas atenção: o excesso de chá de hibisco, assim como qualquer outro chá em excesso, pode levar a intoxicação, uma vez que o fígado não conseguirá eliminar toda a bebida. O ideal são até três xícaras por dia, sem açúcar e para ser consumido na hora.

SVB lança “Comendo o planeta”

As relações diretas entre a criação de animais para consumo e várias das crises ambientais, como desmatamento, extinção de espécies, emissão de gases de efeito estufa, escassez hídrica, poluição do solo e das águas e a proliferação de zonas oceânicas mortas são alguns dos temas apresentados no caderno Comendo o Planeta: Impactos Ambientais da Criação e do Consumo de Animais. Produzido pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), sob a coordenação de Cynthia Schuck,

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consultora científica e coordenadora do Dep. de Meio Ambiente da SVB, o material é respaldado por estudos científicos recentes e dados oficiais de órgãos reguladores e governamentais. Mais do que estimativas alarmistas, estes dados revelam a contribuição decisiva do setor pecuário nas alterações ambientais em escala global em curso, e convidam o leitor a refletir sobre seus padrões de consumo alimentar. Com copyright livre, pode ser reproduzido na íntegra ou em partes (desde que citada a fonte). Link para baixar gratuitamente a versão digital: http://www.svb.org.br/ livros/comendo_o_planeta.pdf

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Verduras e legumes costumam ser assunto tabu no quesito alimentação de crianças. Para alívio de mamães e papais, uma empresária de Brasília criou as marmitinhas coloridas saudáveis. A criança come de tudo, como se estivesse brincando: espetinhos de frutas decoradas, e cenouras e beterrabas disfarçadas de bichinhos, como o caranguejo de maçã, são alguns exemplos de recheio das marmitas. A criadora da Bentô Kids, Evelyne Ofugi, molda cada alimento com a delicadeza própria dos orientais. Para montar o negócio, em 2012, Evelyne largou o emprego de professora e investiu todos os R$ 25 mil que recebeu de indenização. O negócio tornou-se um sucesso. Contatos: E-mail: bentokids@gmail.com/ www.bentokids.com.br/ ww.facebook.com/bentokidsbrasilia

Bike elétrica que elimina poluição do ar Do Portal CicloVivo

Os tailandeses da empresa Lightfog desenvolveram uma bicicleta elétrica capaz de eliminar a poluição do ar respirado pelos ciclistas. Com um purificador instalado na parte da frente da bike, o sistema retém o material particulado encontrado nos centros urbanos e libera oxigênio puro para a atmosfera, contribuindo, em todos os sentidos, para a redução da poluição do ar, causada pelo trânsito. Chamada de Air Purifier Bike – livremente traduzido para Bicicleta Purificadora de Ar – o veículo adaptado é uma boa saída para aumentar o bem-estar das pessoas que vêm adotando as bikes como principal meio de locomoção nos agitados centros urbanos, em que é necessário, na maioria das vezes, compartilhar a via com automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas, sempre presentes nos congestionamentos das cidades.


Precisa se atualizar para o mercado? Este curso é destinado aos profissionais que buscam uma especialização multidisciplinar correspondente às demandas atuais do mercado.

Imagem: Shutterstcok.com

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Programa em parceria com a Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg), qualificada no Grupo de Excelência do Índice Geral de Cursos 2012 (Inep/MEC).

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Bem-estar

Para quem acha que todo mundo que mora em área rural vira imediatamente especialista em horta ou jardinagem aviso de antemão que é bem mais trabalhoso do que parece.

Era uma vez uns

Tomatinhos Texto e Fotos por Daniélle Carrazzai, Especial para Plurale De Campo Largo (PR)

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ssim que vim morar na roça pensei em plantar alimentos orgânicos, muito mais saudáveis e compatíveis com nossa nova forma de vida. Então fui a uma dessas lojas especializadas em sementes e produtos para jardinagem e comprei tudo o que achava necessário, de ferramentas a sementes. Comecei fazendo um canteiro pequeno, ao lado da casa. E já comecei errado, o lugar ficava mais da metade do dia na sombra, então algumas espécies nem chegaram a brotar com exceção da beterraba e da cenoura. Outra grande surpresa foi que um saquinho daquele de sementes que a gente compra

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tem um grande número de sementes. Mesmo seguindo as instruções do verso, quase sempre plantava muito mais do que era necessário e não paravam de brotar novas plantinhas no canteiro. Fui administrando tudo, colhi algumas das hortaliças e descobri também que o que há de insetos e pragas no mundo não é brincadeira, gente. Uma infinidade de pequenos pontinhos brancos, pretos, acinzentados, ferrugem, enfim, multicoloridos. Além das temidas visitantes frequentes, as formigas. Corri para o computador pra saber o que era tudo aquilo e o que fazer. Houve dias que passei horas lavando folhas de alface, couve e pimenta com esponja e detergente. Parece brincadeira, mas plantar sem veneno dá um trabalho mil vezes maior e passei a entender completamente o preço dos produtos orgânicos nos supermercados. Depois de algumas experiências, muitas delas mal sucedidas, estava feliz da vida com meus vasinhos de tomate cereja. Estavam para amadurecer, lindos, verdinhos, as plantas grandes e viçosas. Mas numa bela terça-feira acordei e vi todas as folhas com pontinhos brancos, totalmente murchas. No auge do meu desespero lavei tudo e fui pesquisar o que era. A praga da mosca branca se apoderou de tal forma da minha plantação de tomates que foi tudo dizimado em dois dias. Depois disso dei um tempo da horta orgânica, foi muita frustração, quase uma afronta para a minha nova condição de habitante da roça. Com a construção de uma pequena estufa pelo meu marido, tomei coragem e agora estamos produzindo novamente, só para nosso próprio consumo – o que já dá muito trabalho. Vamos diversificar em breve, quando montarmos uma estufa um pouco maior. As pragas continuam por aqui, de vez em quando vencem a batalha, mas a gente não desiste. Descobrimos alguns defensivos naturais e ficamos diariamente de olho. Logo teremos novos tomatinhos à mesa e a pimenta também está bonita, além do manjericão, do alecrim, da hortelã e da salsinha. Passando o inverno, lá vamos nós comprar mais pacotinhos com sementes, pesquisar na internet e esperar. É, porque a colheita demora, viu? Ah, e nesse inverno nossa laranjeira produziu pela primeira vez, foi uma festa! Daniélle Carazzai é jornalista e ceramista, vive na área rural de Campo Largo (PR), é casada e tem um filho. Todos embarcaram juntos nessa jornada e vivem felizes.

ce râ mi ca artística

FAC E B OO K .CO M /C E R A M I C A B O I TATA DA N I C A R A Z Z A I @ G M A I L .CO M FONE 41.9181-6467 CAMPO LARGO | PARANÁ

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Um pouco da história da nossa música

Está sendo finalizado com financiamento coletivo via site Catarse o documentário “Sambalanço, a Bossa que Dança”, com direção de Fabiano Maciel - premiado por “Galáxias”, “Todos os Brasileiros do Mundo”, “Oscar Niemeyer, A Vida é um Sopro” – e roteiro do jornalista especializado em música Tárik de Souza. O longa resgata a história de um ritmo que surgiu no Rio de Janeiro, no final dos anos 50 e início dos anos sessenta, nas boates de Copacabana e nos bailes nos subúrbios, misturando jazz, samba, bossa nova e música latina. Fala particularmente da obra de três artistas brasileiros, os músicos Durval Ferreira, Ed Lincoln (19322012) e o cantor Orlandivo. Fabiano entrevistou além dos próprios Durval Ferreira e Orlandivo, Eumir Deodato, João Donato, João Roberto Kelly, Silvio Cesar, Doris Monteiro, Clara Moreno, Amanda Bravo, Ed Motta, Marco Mattoli, Jadir de Castro, Wilson das Neves, Nilo Sérgio Filho, Henrique Cazes e o ator Paulo Silvino. Os que quiserem apoiar, não se acanhem. As colaborações começam a partir de R$ 20 e vão até R$ 10 mil. Todas garantem agradecimentos nos créditos do documentário. Nas colaborações a partir de R$ 5 mil, além das recompensas tradicionais como convites para a pré-estreia, camiseta e DVD, é possível inserir uma logomarca nos créditos iniciais como apoiador do longa-metragem. Lançamento previsto para dezembro. Mais detalhes: https://www.catarse.me/pt/sambalanco

Filmes de temática ambiental feitos com o celular

Festival de curtas sobre direitos humanos movimenta São Paulo

“Cidade Educadora” é o tema da 8° edição do ENTRETODOS – Festival de Curtas de Direitos Humanos que movimenta São Paulo no início do mês de outubro. Com sessões gratuitas em 78 pontos como centros culturais, salas de cinema, cineclubes, CEUs, escolas municipais, praças e parques abrangendo todas as regiões da capital, serão mais de 300 exibições. Sem contar os eventos paralelos como debates e bate-papos entre realizadores e público. Os curtas estão divididos por temas: “Vozes Urbanas”, “Possibilidades”, “Na lata”, “Incêndios” e “Visão de dentro”. Na Mostra Competitiva foram selecionados 28 curtas, 14 nacionais e 14 internacionais de países como Senegal, Alemanha, Singapura, França, Reino Unido, Irã, França, Iraque, Ucrânia, entre outros. O festival ainda terá uma Mostra Infantil e outra Juvenil.

O FESTin está de volta

Iniciativas muito interessantes têm surgido graças a tecnologia digital, democratizando e incluindo milhões de realizadores. Como o Mobile Film Festival, realizado em Paris, na França e aberto a todos os participantes do mundo que seguindo o regulamento e fazendo sua inscrição, enviem um filme, de um minuto feito com o celular. Em sua 11° edição o tema escolhido para o festival é “Vamos agir contra as mudanças climáticas”. O grande prêmio inclui o valor de 30 mil euros e a realização de um filme em um ano com um produtor.

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O FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa – promove as produções audiovisuais dos países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Realizado em Lisboa, Portugal, o FESTin chega a 7° edição em 2016, de 4 a 11 de maio. Competem longas-metragens de ficção, curtas-metragens de ficção e documentários. Há também seções não competitivas, como a Mostra de Cinema Brasileiro, de Inclusão Social e Mostra Infanto-Juvenil. As inscrições podem ser feitas até dia 30 de novembro de 2015. Para outras informações basta acessar http://festin-festival.com


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14 e 15 de setembro de 2015 – São Paulo (SP)

RENAISSANCE SÃO PAULO HOTEL Alameda Santos, 2.233 São Paulo – SP Realização:

Agradecemos aos patrocinadores e apoiadores que tornaram esta iniciativa possível e contribuíram de maneira efetiva para o seu êxito. Apoio Institucional

ABRAPP, ABVCAP, IBMEC, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FACPC, IBEF, IBGC e IBRADEMP Patrocinadores Ouro

Parceiros de Mídia

Patrocinadores Prata

Organização

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I m a g e m Foto:

Eny Miranda

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fotógrafa ENY MIRANDA é mineira, tendo nascido em Belo Horizonte e vivido em São João del Rey, mas é uma quase legítima carioca. Trabalhando no Rio há muitos anos e morando entre Copacabana e Ipanema, está sempre em busca dos melhores ângulos da conhecida Cidade Maravilhosa. Como este, a partir da vista do Arpoador, encaixando o Dois Irmãos e a Pedra da Gávea com o sol se pondo. Um presente para os leitores de Plurale.

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Universidade Corporativa do transporte. Há 7 anos aCelerando em direção ao fUtUro do setor. 80 mil

20,5 mil

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rodoviários formados em atividades educacionais para as áreas de operação, manutenção e gestão. profissionais certificados apenas no programa Rodoviário Cidadão, incluindo motoristas, despachantes, fiscais e inspetores.

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A Universidade Corporativa do Transporte está completando 7 anos e, desde o princípio, segue o mesmo caminho: o da educação e tecnologia a serviço da mobilidade. Por isso, apresenta novas tecnologias e métodos de aprendizagem no aperfeiçoamento de profissionais e na melhoraria do transporte público para cada cidadão. Saiba mais sobre as ações educacionais da Universidade Corporativa do Transporte em www.uct-fetranspor.com.br.

302 mil

Mais de

50

acessos a vídeos, artigos e cursos online e programas de autoaprendizagem. parcerias com universidades e instituições de ensino, como o Sest/ Senat, a Fundação Getúlio Vargas, a Coppe-UFRJ, entre outras.


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