Revista Inox - Ed. 42

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Associação Brasileira do Aço Inoxidável Janeiro/Abril de 2013

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ENTREVISTA

DIRETOR DA ABM TRAÇA PERSPECTIVAS DE MERCADO

APLICAÇÃO

INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS AUMENTAM DEMANDA POR EQUIPAMENTOS EM INOX

DESINDUSTRIALIZAÇÃO

UMA ANÁLISE DE EMPRESÁRIOS DO SETOR

MERCADO

A DEFESA DA COMPETITIVIDADE NA CADEIA PRODUTIVA DO INOX



sumário

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artigo ................... 10 entrevista .......................................... 6 O espaço do inox no mercado brasileiro de aço O diretor executivo da Associação Brasileira de Metalurgia (ABM), Horacídio Leal Barbosa Filho, fala do crescimento do uso do aço inox em diversos setores da economia no Brasil e das parcerias com as entidades congêneres

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O aço inox no lar Arturo Chao Maceiras, diretor executivo da Abinox, esmiuça as características e propriedades que fazem do aço inox um material ideal para ser utilizado em equipamentos domésticos como máquinas de lavar roupas, louças e secadoras

UM NOVO ESTÁGIO INSTITUCIONAL Um alerta para a necessidade de mobilização nacional, por parte das empresas que compõem a cadeia produtiva do aço inox; o retrato do crescente processo de desindustrialização do país; e as perspectivas para o mercado do aço brasileiro. Esses são alguns dos destaques da edição de número 42, da Revista INOX. A Abinox tem buscado elevar o patamar de representatividade da indústria, criando novas possibilidades e rotas alternativas para fazer valer as reivindicações da cadeia produtiva do aço inox. Exemplo disso foi a audiência pública realizada no ano passado, no senado federal, que culminou com a extinção da chamada guerra dos portos, onde a associação esteve presente defendendo os interesses do setor. Mas é necessário criar um novo estágio institucional. Gerar uma imagem mais consistente, por meio de uma maior participação das empresas associadas. Algumas já se posicionaram, como é o caso das empresas brasileiras produtoras de talheres em inox, que recorreram ao governo e foram atendidas contra práticas desleais de comércio, realizadas pelos chineses. A participação mais efetiva dos associados, com ações proativas que busquem maior representatividade institucional, faz com que as demandas econômicas e as políticas públicas sejam implementadas levando em consideração as necessidades do setor produtivo. Além disso, esta edição da revista dá um panorama so-

bre o processo de desindustrialização que o país enfrenta. As conclusões dos analistas para o setor não são animadoras, mas bem realistas. Um dado alarmante é de que a participação da indústria de transformação no PIB, que era de 25% há uma década, hoje caiu para menos de 14%. Para ampliar esse debate, na página 6, trouxemos a entrevista com Horacídio Leal Barbosa Filho, diretor da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), que fala sobre as perspectivas do competitivo mercado do aço inox e os campos de aplicação do material. O executivo da ABM afirma que o mercado a cada dia exige aços mais leves e com maior resistência, isso faz com que se aumente o interesse por aços mais nobres, como é o caso do inox. Confira o artigo que dá destaque às propriedades do inox na utilização dos equipamentos domésticos e a matéria sobre o uso do inox na indústria de cosméticos, onde o material se destaca pela facilidade de assepsia e é muito respeitado pelos profissionais. Quem fala sobre isso é o diretor da Inox Biaso, Marco Antonio de Biaso. A empresa é umas das principais desenvolvedoras de soluções tecnológicas em equipamentos em aço inox para esta indústria, que está em franco crescimento. Boa leitura! Arturo Chao Maceiras, diretor executivo da Abinox


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aplicação ....... 12

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Indústrias de cosméticos adotam o inox Para minimizar as possíveis contaminações dos cosméticos durante o processo de produção, o aço inox é o material utilizado nos equipamentos

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mercado .............. 16

Novo estágio institucional do inox A Abinox, em conjunto com outras entidades empresariais e sindicais, buscam a defesa da competitividade do aço inox na indústria nacional

desindustrialização ................................. 22 A preocupação das indústrias brasileiras de transformação O acelerado processo de desindustrialização que assola o Brasil numa análise de quem está à frente no mercado

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seção....................................................................................................................... 26

Notícias Inox Tudo em inox: um carro com chassi, escapamento, pára-choque, painel e até a chave; banheiros públicos que utilizam mictório em inox; Mozaik lança revestimentos inspirados em formas geométricas; o arquiteto Edo Rocha expõe escultura em galeria paulistana

Publicação da Associação Brasileira do Aço Inoxidável – ABINOX Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1234 – conjunto 141 – CEP 01451-913 São Paulo-SP – Telefone (11) 3813-0969 – Fax (11) 3813-1064 abinox@abinox.org.br; www.abinox.org.br Conselho Editorial: Celso Barbosa, Francisco Martins, Marco Aurélio Fuoco, Maria Carolina Ferreira e Osmar Donizete José Coordenação: Arturo Chao Maceiras (diretor executivo) Circulação/distribuição: Liliana Becker Edição e redação: Ateliê de Textos – Assessoria de Comunicação Rua Desembargador Euclides de Campos, 20, CEP 05030-050, São Paulo-SP, telefone (11) 3675-0809; atelie@ateliedetextos.com.br; www.ateliedetextos.com.br Diretora de redação e jornalista responsável: Alzira Hisgail (MTb 12326)

Repórteres: Adilson Melendez, Renata Rosa, Eduardo Gomes e Heloísa Medeiros Comercialização: Sticker MKT Propaganda Alameda Araguai, 1293, conjunto 701 – Centro Empresarial Alphaville Barueri - SP – CEP 06455-000 – www.sticker.com.br Diretor: Antonio Carlos Pereira - caio@sticker.com.br Para anunciar: (11) 4208-4447 / 4133-0415 - Dulce Josias Nery Junior (11) 9178-0930 - junior@sticker.com.br Edição de arte/diagramação: Vinicius Gomes Rocha (Act Design Gráfico) Capa: divulgação Aperam Impressão: Van Moorsel A reprodução de textos é livre, desde que citada a fonte.



O espaço do inox no mercado do aço no País Horacídio Leal Barbosa Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), fala sobre as perspectivas de mercado para o inox, seus campos de aplicação, do uso do aço no Brasil e das parcerias com as entidades congêneres nacionais e internacionais, para ampliar o debate no setor. Com cinco mil associados e perto de completar 70 anos, a ABM tem experiência acumulada no setor. Sua missão é oferecer suporte técnico-científico às áreas de metalurgia, materiais e mineração, posicionando-se como uma Instituição do Conhecimento.

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Foto: Divulgação

entrevista


Como o sr. vê a evolução do uso do aço inoxidável em suas diversas áreas de aplicação? Há um crescimento do seu uso? Hoje, com o mercado altamente competitivo, as empresas buscam melhorar suas margens, aumentando a competitividade. Uma das formas de obter isso é aumentar a disponibilidade do seu equipamento. Temos visto, especialmente em nosso evento de Tribologia, que uma das soluções colocadas em prática pela indústria é a substituição do aço comum por aço inoxidável, aplicando-o em algumas partes do equipamento, onde há mais atrito e corrosão. Acredito que haverá crescimento do inox em setores como a construção civil e o sucroalcooleiro, que necessita de maior resistência contra a corrosão. Já com relação à indústria de petróleo e gás, as reservas do pré-sal são enormes. Trata-se de um projeto que impactará todos os setores, inclusive o minerometalúrgico. Estamos no início, e há perspectiva de aumento do uso dos metais. Existe um aumento da demanda e interesse por aços mais nobres? Por quê? Qual o impacto disso no setor do aço inox? Cada dia se exige aços mais leves e com aumento de resistência. Essa é uma tendência porque hoje a preocupação mundial é com redução de peso. Então, aumenta o interesse por aços mais nobres, como também há uma permanente busca por novas tecnologias. Acho que o aço inox pode se aproveitar desse momento. Como se configura o comportamento do consumo de aço e, em particular, do aço inox no Brasil nos últimos anos? Há crescimento, mas ainda nossos níveis continuam abaixo dos países do hemisfério norte. Depois da crise financeira mundial, houve uma tomada de consciência no Brasil sobre a importância do aumento do consumo interno. Precisamos é criar condições para que esse abastecimento seja feito pelas nossas empresas. Quais os impactos da redução das tarifas de energia elétrica na siderurgia nacional? Isso pode ajudar a aumentar a competitividade nacional no setor? O impacto será grande nas aciarias elétricas e nas laminações. Claro que vai ajudar a aumentar

“Uma das soluções colocadas em prática pela indústria é a substituição do aço comum por aço inoxidável, aplicando-o onde há mais atrito e corrosão” a competitividade. Mas, precisamos tomar consciência de que há outros fatores que influem na competitividade como, por exemplo, garantir a estabilidade do processo, aumentar a vida útil do equipamento, ter maior disponibilidade do equipamento para produção. A competitividade só vai ser atingida quando tivermos pessoas altamente qualificadas. Como o sr. vê o uso do aço e do aço inox na arquitetura no Brasil? Quais as questões que impedem um uso mais massivo do aço na construção? Ainda é um pouco tímido o uso do aço por este setor, mas, com a tendência da construção civil ficar cada dia mais industrializada, aumenta a chance de crescer a demanda por aço, inclusive o inox. Temos ainda dificuldades culturais para usar o aço em larga escala, pois falta formação nas escolas de engenharia e arquitetura. Há anos a ABM vem contribuindo para a formação desses profissionais realizando, em conjunto com o CBCA - Centro Brasileiro da Construção em Aço, eventos para divulgar o uso do aço na construção civil, como acontecerá este ano, no 68º Congresso Anual, que será realizado em julho, em Belo Horizonte (MG). Em sua nova sede, cujo projeto é do arquiteto Gustavo Penna, o que a ABM vai mostrar em termos de uso do aço na arquitetura? Em que usos o inox se destaca nesse projeto? A exemplo do prédio atual, que é todo em estrutura metálica, a concepção do novo prédio é também de se utilizar os metais e materiais. É claro que pretendemos utilizar o aço inox. A previsão é de que este material não entre como componente de estrutura, mas como elemento arquitetônico, no detalhamento do projeto, como na sinalização, corrimãos e em outras áreas onde se pode tirar proveito da beleza do inox. JANEIRO/ABRIL 2013 • INOX 7


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“Tecnologia e inovação são essenciais para sustentar a competitividade. Mas ambos dependem de um aspecto, igualmente importante: capacitação e qualificação da mão-de-obra”

A cadeia de fornecimento e distribuição de aço e, em particular do aço inox, está preparada a atender às necessidades de crescimento do país? A ABM é uma caixa de ressonância e há tempos identificamos a falta de pessoal qualificado. Estamos falando disso desde 2004, como participantes dos Fóruns de Competitividade da Siderurgia e Metalurgia, agora denominados Brasil Maior. A capacitação e a qualificação de pessoal são a chave para podermos dar uma guinada em termos de inovação e competitividade. No caso do aço, por exemplo, é preciso investir nos recursos humanos em toda a cadeia, a começar pela formação de vendedores, porque a venda de aço não é só uma transação comercial. É uma venda técnica. Se o comprador souber especificar o aço, ou não for ajudado pelo vendedor, ele pode comprometer todo o projeto e, por consequência, sua competitividade. Diante do atual panorama econômico brasileiro, quanto o setor de aço espera crescer neste ano e em 2014? Segundo estimativas do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço, este ano o crescimento deve ser de 10%, índice que pode se repetir em 2014, ainda alavancado pelas obras de infraestrutura e Olimpíada de 2016.

Quais as tendências da arquitetura contemporânea que podem vir a facilitar a especificação do inox? A versatilidade do inox, bem como sua plasticidade, são atributos que devem interessar à arquitetura contemporânea, especialmente no detalhamento de projetos. Além disso, o fato de as construções serem cada vez mais industrializadas deve contribuir para ampliar a utilização desse material.

A carga tributária nacional afeta a competitividade e interfere na aplicação do aço no país? Por quê? Interfere na competitividade porque impacta diretamente nos custos. Mas, como já disse, esse é um dos fatores. Precisamos ter gente preparada porque a competitividade depende das pessoas.

Em que situações o aço inox pode ser especificado com uma boa relação custo/benefício? O aço inox concorre com outros materiais. O que vai determinar é o mercado.

Qual a maior implicação da defasagem de custo do aço inox entre mercado interno e mercado externo? Taxa de câmbio, preço de matéria-prima, energia são aspectos que prejudicam a indústria nacional e que têm de ser superados com inovação.

Nos últimos anos, o crescimento da economia e da renda nacional têm impacto positivo no setor de siderurgia? Quais as tendências para os próximos anos? Acredito que o Brasil, como um dos BRICs, vai continuar crescendo. E a tendência é de aumentar a renda e o consumo interno. 8 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013

Quais os principais objetivos da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração e as linhas de atuação da entidade? A missão da ABM está centrada no conhecimento, desde sua fundação, em 1944. Em princípio, seu objetivo era dar suporte técnico-científico àqueles


que trabalhavam na área de metalurgia, pois se iniciava o desenvolvimento industrial brasileiro. Hoje, congregando também as áreas de materiais e mineração, além da metalurgia, está se posicionando como uma Instituição do Conhecimento, de modo a atender às necessidades dos profissionais e empresas destes três setores. Essa ênfase ao conhecimento técnico-científico se volta à permanente busca do aperfeiçoamento dos profissionais. Qual a importância desse posicionamento? O mercado está cada vez mais competitivo, obrigando as empresas a buscarem incessantemente diminuir seus custos e aumentarem suas margens. Neste cenário, tecnologia e inovação são fatores essenciais para sustentar a competitividade. Mas ambos dependem de um terceiro aspecto, igualmente importante: a capacitação e qualificação da mão-de-obra. É indispensável que se tenha trabalhador capacitado, treinado, para poder extrair

o máximo dos equipamentos e para ser o agente inovador dentro das empresas. As questões ambientais da produção da cadeia siderúrgica estão evoluindo? Claro. A preocupação é constante com a redução de emissões e nossas empresas vêm atuando nesse sentido, seja utilizando novas fontes de energia, como o carvão vegetal, seja aproveitando os gases emitidos no processo de produção. Como é o relacionamento da ABM com as entidades congêneres? A ABM fará 70 anos em 2014. É uma senhora com experiência acumulada ao longo desses anos. Somos um fórum onde se pode discutir todos esses temas nos diversos momentos que proporcionamos. Estamos sempre ampliando nossas parcerias com as entidades congêneres nacionais e internacionais para aumentar esse debate. Heloisa Medeiros

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artigo

O AÇO INOXIDÁVEL NO LAR eu principal atributo, a resistência à corrosão e suas propriedades higiênicas fazem do aço inoxidável o material ideal para ser utilizado em diversos equipamentos domésticos tais como máquinas de lavar roupa, máquinas de lavar louça e secadoras. Nos utensílios que estão em contato com os alimentos, os consumidores querem hoje em dia o mesmo grau de funcionalidade, segurança alimen10 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013

tar e limpeza requerido em cozinhas de restaurantes ou na indústria de fabricação de alimentos. Existem várias razões para que a utilização do aço inoxidável no lar esteja tão difundida. A seguir, listamos as mais relevantes. O aço inoxidável é higiênico. A superfície dura e lisa do material faz com que seja difícil para as bactérias aderir e sobreviver nele.


O aço inoxidável é completamente neutro para os alimentos. O sabor e aparência permanecem intactos, mesmo quando em contato com substâncias agressivas e ácidas de frutas e vegetais. O aço inoxidável é mecanicamente resistente. As pias e utensílios de cozinha de aço inoxidável resistem ao impacto e à abrasão. O aço inoxidável tem uma superfície auto-protegida. A razão pela qual o aço inoxidável tem uma superfície altamente resistente à corrosão é a assim chamada “camada passiva”, que se forma sobre a superfície. Esta camada é caracterizada por um mecanismo de auto-regeneração que é o segredo de sua durabilidade extraordinária. O aço inoxidável é fácil de limpar. Com um mínimo de manutenção, o aço inoxidável pode ser mantido como novo durante décadas.

O aço inoxidável é belo. Como pode ser conformado mais facilmente do que outros materiais metálicos, o aço inoxidável é o material preferido pelos mais renomados e exigentes designers de produto. Uma ampla variedade de acabamentos decorativos estão disponíveis desde o escovado ao polido espelhado. O aço inoxidável é ecológico. Os utensílios utilizados no lar refletem as atitudes dos seus moradores. A maior sensibilidade para as questões ecológicas contribui para a ocorrência de um aumento do uso de aço inoxidável. Na verdade, este prestigioso material é produzido principalmente a partir de sucata. O conteúdo reciclado médio de um produto de aço inoxidável é de cerca de 70%. Por conter matérias-primas valiosas, o aço inoxidável é separado nos depósitos de resíduos. Depois de uma longa vida, o aço inoxidável passa a ser reciclado sistematicamente, contribuindo para a preservação do meio ambiente.

Arturo Chao Maceiras É engenheiro e diretor executivo da Associação Brasileira do Aço Inoxidável – Abinox, associação sem fins lucrativos formada por empresas e profissionais que integram a cadeia produtiva do aço inox JANEIRO/ABRIL 2013 • INOX 11


aplicação

INOX PRESENTE NA INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS Necessidade do setor por equipamentos com alta confiabilidade incentivou a adoção do aço inox em diversas aplicações da indústria de cosméticos 12 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013


Fotos: Divulgação Inox Biaso

Equipamento para elevação, basculamento e mistura de matérias-primas para fabricação

indústria de cosméticos é extremamente importante dentro da economia de grande parte dos países mais desenvolvidos, dentre os quais se inclui o Brasil, contribuindo para a geração de empregos e a redução de desigualdades regionais, através da exploração sustentável de várias espécies do bioma, especialmente na Amazônia. A sociedade vem exigindo a adoção de tecnologias de produção limpas, econômicas e ambientalmente corretas. Para atingir esses objetivos e minimizar as possíveis contaminações dos cosméticos durante seu processo de produção, devem ser realizados projetos de engenharia apropriados, por meio da escolha de materiais nobres, como o aço inoxidável. Ele está presente em diversas aplicações da indústria de cosméticos, que dedica atenção especial a aspectos relacionados à contaminação de materiais e produtos fabricados. É o material indicado na linha de produção – tanques da fabricação de cosméticos – estendendo a utilização para outras fases do processo de industrialização, armazenamento etc. A facilidade da assepsia do material, decorrente

de suas propriedades – é uma matéria-prima lisa; impermeável; livre de fendas, trincas e arranhões, de forma que evita o aprisionamento de matéria orgânica; não-tóxica; à prova de danos; resistente à corrosão; não-absorvente e incapaz de migrar para os produtos fabricados – é um dos mais importantes quesitos de atenção por parte dos profissionais da área de saúde e plenamente atendido pelo inox.

Tanques para fabricação de perfumes e colônias com agitação magnética. Na página ao lado, reator para processo e fabricação de cremes

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cientes que o correto é utilizar o aço inoxidável nos equipamentos em suas várias fases de processo, pois sem isso os equipamentos não serão validados e não poderão funcionar”, destaca Biaso. Na indústria de cosméticos, o aço inox pode ser utilizado desde o transporte de matérias-primas e estocagem, passando pelas linhas de transferências (interligação dos equipamentos) até o processo de fabricação do produto nos reatores, que são equipamentos de alta resistência nos quais o aço inoxidável pode trabalhar com pressão, vácuo, além de constituir os sistemas de agitação e turbinas de homogeneização até chegarem ao setor de dosagem e equipamentos de envase. De acordo com Marco Antonio de Biaso, o aço inoxidável utilizado na fabricação dos equipamentos para o setor de cosméticos é o aço Aisi 316L, e em partes que não possuem contato direto com o produto, como suportes, linhas de vapor ou água, o aço Aisi 304.

Reator para processo e fabricação de cremes

Marco Antonio de Biaso, diretor da Inox Biaso, que possui experiência no desenvolvimento de soluções tecnológicas em equipamentos em aço inoxidável para a indústria de cosméticos, conta que hoje existe uma procura grande do setor pelo produto. “Devido à durabilidade, facilidade de higiene e assepsia, resistência mecânica, segurança e aparência do produto”. O diretor ressalta que o consumo brasileiro de aço inoxidável está em constante crescimento e isso também se deve à indústria de cosméticos. “Hoje, por exigência dos órgãos fiscalizadores como a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os próprios fabricantes de cosméticos já estão

Marco Antonio de Biaso, da Inox Biaso

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HIGIÊNICO POR EXCELÊNCIA Umas das indústrias de cosméticos que optou pelo uso do aço inox em seus equipamentos é a Niely do Brasil. Segundo Pedro Xavier, diretor industrial da empresa, a escolha do inox foi essencial para cumprir com as questões sanitárias. “O material pode ser esterilizado e é bastante resistente à corrosão. E esses são fatores importantes para o nosso segmento”. De acordo com Xavier, outras vantagens do aço inoxidável são relacionadas ao baixo custo de manutenção, ao ciclo de vida longo e ao forte apelo visual. “O produto alia beleza e modernidade, deixando qualquer obra ou produto mais bonito”. Outra indústria, especializada em produtos de higiene pessoal, que utiliza o aço inox é a Casa Granado. Para o gerente de projetos, Elias Scardovelli, a escolha pelo aço inox se deve ao fato do produto ser um material higiênico por excelência. “O inox não oferece risco de contaminação e isso é essencial para o nosso mercado, pois trabalhamos com produtos que entram em contato direto com a pele e não podemos sofrer com materiais que possam ser contaminados. Além de ser um material totalmente inerte no que se refere ao fato de não alterar o aspecto do produto”. Renata Rosa



INOX BUSCA NOVO ESTÁGIO INSTITUCIONAL

Foto: Divulgação Villares Metals

mercado s chances de o aço inoxidável ser responsável pela contaminação de alimentos são quase inexistentes. É por esse, entre outros motivos, que o material, em suas várias apresentações, é o mais indicado para uso, entre outras, nas indústrias processadoras de leite, nos fabricantes de bebidas e nas usinas de açúcar e álcool. É raro encontrar, nos quadros técnicos dessas indústrias, um profissional que desconheça os benefícios que o inox agrega às suas operações. Assim como nas indústrias alimentícias, as características do inox – entre elas a alta durabilidade e a baixa manutenção – o recomendam para as operações em restaurantes industriais e nas cozinhas domésticas. Em equipamentos hospitalares, sua fácil assepsia e a imunidade à proliferação de agentes contaminantes o tornam vantajoso comparado a outros materiais. Na construção civil, sua resistência à corrosão, o habilita como opção no revestimento e proteção de fachadas, atributo que também lhe é favorável em aplicações no mobiliário urbano. Desde que foi constituída, ainda na década de 1980, a Associação Brasileira do Aço Inoxidável (Abinox) tem atuado como porta-voz do segmento, tanto no que se refere a estimular o consumo do material em áreas conhecidas como na prospecção de novas oportunidades para a aplicação. A “pavimentação” do caminho para a especificação do inox no setor de óleo e gás em equipamentos e máquinas destinados à exploração do petróleo do pré-sal, que contou com a ativa participação da associação é um desses exemplos. IMAGEM MAIS CONSISTENTE No Brasil, apesar de a cadeia produtiva do inox – e por consequência, a relação de associados da entidade – ser pulverizada e constituída, na maior parte por empresas de médio e pequeno porte, dela também fazem parte indústrias com significativa representatividade na economia do país e até no exterior. São esses associados que – a atual diretoria da Abinox acredita – poderiam e deveriam, em conjunto com a entidade, ampliar ações proativas, fazendo com que demandas econômicas e a implementação de políticas públicas com poder de refletir no fomento das atividades do segmento fossem mais “ouvidas”, por exemplo, pelas autoridades governamentais. 16 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013


Foto: Divulgação Aperam

“Precisamos criar uma imagem mais consistente da cadeia do setor através das empresas que participam da associação”, pondera Artur Chao Maceiras, diretor executivo da Abinox. Essa certa “fragilidade” institucional está, porém, começando a se modificar. “No campo institucional, temos participado, em conjunto com outras entidades empresariais e sindicais de movimentos que buscam a defesa da competitividade da indústria nacional, em especial, naquilo que afeta diretamente a cadeia brasileira do aço inox”, argumenta o presidente da Abinox, Marco Fuoco. Exemplo desse novo patamar alcançado pela Abinox foi sua participação, ano passado, em audiência no Senado Federal. Na ocasião, foi apresentado um dos pleitos do setor (a aprovação da Resolução 72) que, depois viria repercutir na extinção da chamada Guerra dos Portos – era assim chamada a disputa entre estados que ofereciam vantagens tarifárias, com a aplicação de alíquotas reduzidas do Imposto de Circulação de Mercadorias, para a importação através de seus portos, tornando artificialmente mais baratos os produtos importados. PLANO BRASIL MAIOR Em outro momento, a Abinox participou de reunião no Ministério do Desenvolvimento Indústria e

Comércio para apresentar o documento Propostas de Medidas Complementares – Plano Brasil Maior. Junto com outras entidades do Comitê de Mineração e Metalurgia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Abinox é signatária da proposta. “Enfatizamos as dificuldades da cadeia e o grave momento que ela atravessa devido às importações que superam atualmente volumes históricos. Não só de aço como também de bens de consumo duráveis e de capital”, detalha Fuoco. A proposta recebida pelo Ministério contém sugestões que visam adequar a exigência de conteúdo local para a concessão de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) . “Demonstramos que, embora seja exigido um mínimo de 60% de conteúdo nacional, com as do Plano Brasil Maior, é possível obter os empréstimos subsidiados comprovando apenas 27% de insumo local”, explica Fuoco. “Outros temas relacionados à defesa comercial, como antidumping cambial e celeridade nos processos também foram detalhados”, relata o presidente da Abinox. Como dá para notar, novas rotas e alternativas para buscar dar concretude às reivindicações da cadeia produtiva do material têm sido trilhadas pela associação. Mesmo assim, a atual gestão da Abinox

Inox é o mais indicado para uso em equipamentos que exigem assepsia e baixa manutenção

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Foto: Divulgação Anglo American

alimenta a expectativa de contar com a participação mais efetiva de seus associados – especialmente daquelas empresas que têm maior representatividade no segmento também em consequência de sua importância na economia brasileira – para consolidar sua representatividade institucional. Gestores de algumas dessas empresas deram depoimentos à revista Inox, nos quais lançaram ideias de como acreditam que isso possa ser feito. CRIAR NORMAS TÉCNICAS Uma dessas associadas é a Villares Metals, indústria de mais de 70 anos que é a maior produtora de aços especiais não planos de alta-liga da América Latina. Para Gladston Edi Sugahara, responsável pela gerência de marketing da empresa, um dos primeiros caminhos que o setor deveria seguir para suas reinvindicações terem maior repercussão junto aos órgãos de governo seria a criação de normas técnicas. “Por meio [da participação] de órgãos reguladores, que tornassem obrigatório 18 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013

o uso de materiais oriundos do aço inox”, sugere. “Trata-se de um produto que traz melhores resultados para o meio ambiente, a saúde e gera maior segurança”, justifica. “Os órgãos reguladores deveriam ter maior conhecimento das propriedades desse material, bem como das suas vantagens”, completa. Sugahara acredita que a construção civil – que deveria utilizar mais o material como elemento de fixação –, o setor de equipamentos de uso médico/ hospitalar, a indústria petroquímica e os meios de transportes são setores com potencial para explorar o consumo do inox. “Uma atuação efetiva dos órgãos de governo resultaria no aumento do uso do aço inoxidável. Por exemplo, na indústria petroquímica, onde o uso de equipamentos com maior resistência e durabilidade é vital, trazendo maior segurança, rentabilidade, diminuindo à exposição aos riscos e frequência da manutenção”, exemplifica. O gerente de marketing da Villares Metals considera que o agrupamento de empresas em associações aumentaria o “poder de fogo” do setor para que


Foto: Divulgação Anglo American

seus pleitos fossem atendidos. “A união do segmento siderúrgico como um todo já traria grandes resultados, bem como a atuação de outras entidades de classe, como a Abimaq, o Sindipeças, o Sindiforja, entre outros. Aumentaríamos a representatividade do setor junto ao governo e poderíamos cobrar mais transparência nos processos”, argumenta. PLAYER MUNDIAL Um dos maiores grupos em mineração e recursos naturais do mundo – possui operações na África, Europa, nas América do Sul e do Norte, Austrália e Ásia – a Anglo American está presente no Brasil desde a década de 1970 e é associada Abinox desde sua fundação. A empresa é fornecedora de uma das principais matérias-primas utilizadas na produção de aços inoxidáveis. “A Anglo American fornece ferroníquel para os maiores produtores de aços inoxidáveis no Brasil e no mundo, através das plantas de Barro Alto e Codemin”, informa Augusto Juan Bernardi, gerente de marketing da unidade de negócio níquel da Anglo American. Mais de 65% do volume de níquel produzido no mercado mundial é empregado na fabricação de aço inox. Bernardi observa que a companhia – e em especial sua unidade de negócio níquel – tem interesse especial em fomentar este mercado e ajudar a tornar o Brasil um importante player neste setor. Ele menciona como exemplo desse interesse o investimento que a empresa realizou, recentemente, na construção de sua planta em Barro Alto, no interior de Goiás, inaugurada no final de 2011. “Investimos US$ 1,9 bilhão naquela operação, atualmente em processo de ramp up”, informa. “Temos atuação direta na diretoria da Abinox e participamos ativamente das iniciativas da entidade”, avalia Bernard. “Essa sólida parceria permanece como foco para a Anglo American, uma vez que a atuação da associação resulta, a cada ano, em resultados significativos para todo o setor”, completa. TALHER DA CHINA A atuação conjunta é destacada por Fuoco que menciona como movimento de extrema importância para o setor nesse sentido, a iniciativa das empresas fabricantes de talheres de inox que recorreram ao governo contra práticas desleais de comércio.

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Foto: Shutterstock

“Investigação recente concluiu que os talheres chineses que chegavam ao Brasil tinham custo real de US$ 26,3 o quilo. No entanto, no Brasil, os chineses cobravam por ele US$ 6,6. Após reclamação da indústria nacional o talher estrangeiro passou a pagar uma tarifa de US$ 19,7 o quilo, equiparando assim a competitividade”, relata. Não bastasse a concorrência desleal (no caso acima, dos fabricantes chineses), a cadeia do aço inox – como a maioria das indústrias de transformação – ainda é impactada pela elevada carga de impostos, pelos altos custos logísticos decorrentes da infraestrutura defasada, pela taxa de juros que ainda continua entre as mais elevadas do mundo e pelo câmbio defasado. Estudo recente realizado por uma consultoria internacional, por encomenda do Instituto Aço Brasil (IABr) constatou que o aço brasileiro tem o menor custo de produção entre seis países analisados em diferentes partes do mundo, incluindo América do Norte, Europa e Ásia. Após a incidência da carga tributária sobre esses preços a situação se inverte – o aço brasileiro torna-se o mais caro entre os países analisados. “O estudo demonstra que o efeito dos tributos sobre vendas/valor adicionado, tributos corporativos, 20 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013

encargos trabalhistas e outros impostos acumulados atingem, em determinados produtos, a marca de 44%. Ficam, assim, em média, 20 pontos percentuais acima dos demais países. O resultado disso é que não só o aço, mas também os produtos em inox ficam mais caros no Brasil, tendo como efeito direto um custo mais elevado e a consequente inibição no crescimento do consumo”, pondera Fuoco. O horizonte, porém, mostra-se mais positivo. “Felizmente vimos o Governo Brasileiro apoiando e desonerando recentemente cadeias importantes para o aço inox como o automotivo, linha branca e de construção civil. Em todos eles, acreditamos ter havido um impulso de consumo e, consequentemente, de demanda do aço inox mantendo assim o nível de atividade nestes setores”, avalia o presidente da Abinox. É fundamental, porém, que as empresas do setor se mobilizem cada vez mais para garantir a permanência da isonomia tributária e de competitividade em relação aos produtos importados. Nesse caso, suas “vozes” serão mais fortes se pronunciadas pela “boca” das associações.

Adilson Melendez



Foto: Getty Images

desindustrialização

INDÚSTRIAS À BEIRA DO ABISMO? uando participou, no final de fevereiro, em Brasília, da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República, coube ao presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e membro do CDES, Luiz Aubert Neto, pronunciar-se representando o setor produtivo. Aubert começou elogiando a coragem da presidente Dilma Rousseff em reduzir a taxa de juros do país para patamares mais civilizados e o início da cruzada – como ele a denominou – da presidente em defesa do setor produtivo. O presidente da Abimaq listou uma série de medidas – desoneração do INSS na folha de pagamento; redução 22 INOX • JANEIRO/ABRIL 2013

dos juros via bancos públicos; esforços para não permitir a valorização do real frente ao dólar; margem de preferência para a indústria nacional em compras públicas; redução do custo da energia elétrica a partir de 2013; e plano de investimentos em infraestrutura – tomadas pelo governo para fortalecer o setor produtivo e amenizar sua perda de competividade. Ao final destacou, porém, que apesar das providências adotadas, o Brasil é ainda um país muito caro. “Quando a Quinta Avenida, em Nova Iorque está mais barata que o shopping do Metro Tatuapé, na zona leste de São Paulo, é que algo de errado está ocorrendo por aqui”, observou Aubert, ressaltando que o custo Brasil dificul-

ta produzir no país. “Não é somente a competição asiática que nos aflige na guerra comercial. Europa, Japão e EUA estão usando suas armas para conquistar nosso mercado. E a carga tributária é fator crítico à nossa competitividade. É substancialmente maior que a de qualquer país emergente e comparável a de poucos países ricos”, afirmou. MENOR PARTICIPAÇÃO NO PIB Para quem acompanha o dia-a-dia da entidade que Aubert preside, o pronunciamento dele não registrou exatamente nenhuma grande novidade. De maneira geral, ele apenas externou a preocupação das indústrias brasileiras de transformação com a contínua


Carlos Pastoriza

serva que o crescimento negativo dos principais segmentos da indústria nos últimos anos – “com exceção daqueles incentivados pelo governo”, destaca – e a pífia taxa de investimento são evidências desse fenômeno. Aos fatores mencionados pelo diretor-secretário da Abimaq para que a desindustrialização tenha se instalado e evoluído, o diretor da Liess acrescenta a legislação trabalhista paternalista – “que cria cada vez mais obrigações para as empresas”, afirma; a falta de educação profissional; e as taxas de importação de componentes e matérias-primas maiores que, de acordo com Raymundo, são mais elevadas que as taxas de importação de equipamentos. A análise de Sérgio Leme dos Santos, presidente da Dedini Indústrias de Bases, acerca do fenômeno é mais contundente. Para ele, há mais de uma década o país encontra-se em acelerado processo de desindustrialização e, em consequência dela, do que ele chama dá nome de reprimarização da pauta de exportação. “Análise detalhada da nossa balança comercial indica claramente um preocupante e constante crescimento das importações de bens de capital e industrializados, enquanto as exportações têm caído de maneira persistente em grande parte dos setores industriais”, explica. Para o presidente da Dedini, a queda nas exportações é sério indicador da perda de competitividade e traz como consequência a desindustrialização do país. Ele lembra que alguns setores que há duas décadas eram grandes fornecedores hoje registram participação quase inexpressiva na indústria nacional. Equipamentos portuários, de instalações siderúrgicas, de mineração e máquinas injetoras industriais são citados por Leme como exemplo desse retrocesso. Em oito anos, observa Leme, o déficit anual da balança comercial de bens de

Fotos: Divulgação

queda das atividades do segmento, que vem se verificando ao longo dos últimos anos. “O Brasil está em processo de desindustrialização há pelo menos cinco anos e o processo está se acelerando”, afirma Carlos Pastoriza, companheiro de Aubert na Abimaq – é o diretor-secretário da associação. O diagnóstico de Pastoriza não é apenas arroubo retórico, uma vez que a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) que, há uma década era de 25%, caiu para menos de 14% atualmente. A valorização do real frente ao dólar há anos e o custo Brasil ascendente– alta carga tributária, falta de infraestrutura e juros altos – estão, na análise do diretorsecretário da Abimaq, entre os motivos dessa redução. José Luiz Raymundo, diretor-superintendente da Liess Máquinas e Equipamentos, fabricante de máquinas e equipamentos industriais situada em Canoas, RS, região metropolitana de Porto Alegre, compartilha da avaliação de Pastoriza e a complementa. “O processo de desindustrialização foi muito acentuado nos anos de 2010 e 2011”, afirma, esclarecendo, porém que, desde a mudança do câmbio em 2012, seu ritmo desacelerou. Raymundo ob-

Luiz Aubert Neto

capital, cresceu mais de dez vezes, conforme levantamento da Abimaq. Com esses resultados, afirma Leme, a indústria de bens de capital deixou de gerar por volta de 50 mil empregos. “Estamos sofrendo as funestas consequências de uma longa ausência de política nacional que realmente incentive o desenvolvimento do nosso parque industrial, o defenda dos constantes ataques predatórios de vários países onde destacamos a China, Índia e alguns do leste europeu, bem como da aplicação de ferramentas tributárias que protejam de evidentes processos de concorrência desleal que sofremos”, afirma. CONSEQUÊNCIAS DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO O fenômeno da desindustrialização, como se verifica nas análises anteriores, instalou-se no país. Então, quais seriam os riscos para a indústria da transformação caso ele não cesse ou seja revertido? “No curto e médio prazo, o progressivo desaparecimento do setor industrial e, com ele, dos empregos de alto valor e da inovação tecnológica no país”, prevê Pastoriza. No longo prazo, ele avalia, em vez de potência, o Brasil poderá se tornar colônia dos países desenvolvidos. JANEIRO/ABRIL 2013 • INOX 23


José Luiz Raymundo

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evitando que ela se torne mais uma vítima do processo em desindustrialização em curso”, justifica. BATERIAS DE DEFESA O atual governo parece estar acordando para a grave situação enfrentada pela indústria da transformação, embora, ainda não esteja suficientemente alerta e operando no ritmo que se faz necessário. Tem, porém, tomado algumas providências para a que a desindustrialização não se agrave ainda mais. Se alguma coisa está sendo feita é também porque o governo tem “escutado” os setores industriais, conforme observou Aubert na reunião do CDES. “Temos defendido o setor de forma enérgica e alertado o governo e a sociedade desses riscos”, garante Pastoriza. “Temos feito propostas concretas de política industrial e econômica que preservem a indústria brasileira sem protecionismo, mas com isonomia nas condições de concorrência com os importados”, explica. O diretor da Abimaq menciona como exemplos de sucesso de sugestões que foram incorporadas pelo governo o programa PSI Finame (que proporciona financiamento ao investimento em condições internacionalmente competitivas) e a desoneração tributária para a aquisição de máquinas e equipamentos. O diretor da Abimaq também contabiliza como resultados dessa atuação política a desoneração da folha de pagamentos e a correção – parcial, ele observa – da sobrevaloração cambial no último ano. “São passos na direção correta, mas ainda muito tímidos face a enorme desvantagem competitiva que a indústria brasileira sofre diante dos importados”, considera. Já o diretor-superintendente da Liess acredita que falte articulação política das diversas entidades representativas da indústria. “Somos lembrados para

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“Exportaremos commodities agrícolas e minerais e importaremos produtos industrializados”, antecipa. “O risco não é para o setor industrial, mas para o país. Não há país de primeiro mundo que não tenha indústria forte”, endossa o diretor-superintendente da Liess. A análise de possíveis consequências desse fenômeno feito pelo presidente da Dedini é semelhante aos de seus colegas de indústria. Leme enxerga riscos de comprometimento em toda a cadeia industrial brasileira. “A cadeia sofrerá com a falta de demanda de fornecimentos, porque esses estão sendo transferidos para o exterior. No médio e longo prazo, isso redundará na perda significativa de postos de trabalhos, muitos deles altamente especializados”, afirma. Leme informa também que, com a gradativa perda de competitividade no país e com a chegada de concorrentes internacionais e a crescente dificuldade em efetuar vendas para o exterior, a Dedini deu início ao processo de compras internacionais de matérias-primas, componentes e até alguns equipamentos. “Não nos resta alternativa para podermos garantir a sobrevivência e o desenvolvimento da empresa,

Sergio Leme dos Santos

financiar campanhas e não exigimos dos políticos apoiados que defendam nossas posições”, reclama. “Nós, empresários, corremos os riscos de empreender, geramos riqueza e a distribuímos através dos empregos criados e dos impostos pagos e não nos colocamos na sociedade na posição de liderança e de formadores de opinião que merecemos”, opina Raymundo. Já Leme percebe a atuação de órgãos de classe como a Abimaq e reconhece seus esforços, mas não tem notado muito sucesso deles em sensibilizar suficientemente o governo. “Deveríamos ter uma atuação muito mais incisiva tornando claro não só para o governo, mas também para a população que, em última instância, será também uma grande vítima deste pernicioso processo”, afirma. “Acreditamos que tenha chegado a hora de uma mobilização em nível nacional para a solução do enorme problema, antes que seja demasiado tarde. Enquanto se incentivar o consumo com fins políticos e deixar a indústria sem uma política séria e um plano de infraestrutura adequado, o futuro da indústria será duvidoso”, conclui. Adilson Melendez


Brilhante, glamoroso e furioso Com um simples pano úmido, é assim que o empresário Hermes Balcon, um dos sócios da cervejaria Haus Bier, na cidade de Vilhena, em Rondônia, diz conseguir manter o brilho do carro, um “hot rod”, modelo Ford 29. Feito com chassi, escapamento, para-choque, painel e até mesmo a chave da partida, todos em aço inox, o possante é um modelo baseado no Ford 29 que ironicamente, comparado ao furioso carro de Balcon, foi conhecido no passado como “Fordinho”. Ao construir essa raridade, o empresário conseguiu, de uma só vez, obter a modernidade do brilho do inox, o estilo de um carro que remete aos gloriosos anos 20, início da indústria automobilística, aliados a um motor envenenado e a um visual furioso.

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Além disso, com uma carenagem composta por chapas de inox de quase 2 mm, Balcon conseguiu durabilidade e resistência. Assim, o empresário ainda brinca, “um carro na rua pode até encostar no ‘Ad Eterno’, nome dado por ele ao carro, mas o agressor sem-

pre será o mais prejudicado”. Segundo Balcon, o aço inox além de ser de fácil limpeza, ainda esconde a sujeira mais leve de poeira, mesmo após a chuva, o que é um terror para a maioria dos proprietários de carros pintados com tinta automotiva, ainda mais se for preto.

Protótipo de mictório de rua é feito em aço inox Na hora do aperto, tanto faz de qual material é feito o mictório instalado no banheiro. Assim, poucas pessoas reparam que, em banheiros de uso coletivo, em locais públicos, boa parte dos equipamentos utilizados, na maioria em formato de concha ou de caixa retangular na horizontal, são feitos de aço inox. Os benefícios que o material traz quando utilizado nesses equipamentos são enormes. Entre eles está a higiene, sendo de fácil limpeza e baixa emissão de odor. Pela resistência, quando utilizado em locais públicos e ao ar livre, o aço inox proporciona maior durabilidade quanto à corrosão e vantagens contra o vandalismo. Pensando nisso, a Prefeitura do Rio de Janeiro utilizou no projeto UFA (Unidade Fornecedora de Alívio), um protótipo de mictório de rua, feito todo em aço inox e instalado para testes em frente à Central do Brasil, estação de trens no centro da cidade. Segundo o secretário municipal de Conservação e Servi-

ços Públicos, Marcus Belchior, em entrevista para o UOL Notícias, “a principal dificuldade relativa a banheiros públicos é a operação. Esse é um modelo que deu certo na Europa e nos Estados Unidos. Se for bem avaliado, apresentaremos um projeto executivo para toda a cidade”. Ainda em testes, o mictório atenderá apenas ao público masculino. O equipamento possui ligação direta com a rede de esgoto da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos). A fim de evitar o mau cheiro, característico dos banheiros químicos, há uma válvula que impede o retorno do odor das galerias.

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Aço inox no passado presente de Edo Rocha

O artista plástico e arquiteto Edo Rocha expôs na Ricardo Camargo Galeria, uma síntese da sua produção artística de 1967 a 2013, intitulada O Passado Presente. A exposição trata do período

em que Rocha expressou a emoção e o pensamento por meio de diversos tipos de materiais e técnicas. Duas peças tiveram destaque na mostra, são esculturas feitas com tubos e fios de aço inox e estrutura acrílica, sobre mármore branco Tasso. Uma chamada “Tu, Tub, Tubo, Tubos” e a outra “2 Round and Round”. O aço inox é um dos materiais mais utilizados no trabalho de Rocha e faz parte do “passado presente” do artista. O artista plástico há dez anos não fazia uma exposição em São Paulo. Sua última mostra foi Arquitetura e Arte. Mesmo com pouco tempo para dedicar ao ofício, ele nunca deixou de manifestar sua expressão artística desde quando começou a pintar aos 13 anos de idade. “Em 50 anos, pintei mais de 600 quadros e, em 40 anos de arquitetura,

já realizei mais de 900 projetos (cerca de 10 milhões de m2). Não é pouco trabalho”, lembra o artista. “É por isso que considero a exposição O Passado Presente uma releitura desses dois mundos em que vivo, além de ser uma forma de enxergar melhor o futuro”, diz Edo.

Revestimento em inox traz o cinema para a Revestir 2013 Inspirada nas formas geométricas que compuseram cenários na história do cinema, a empresa mineira, de Nova Lima, a Mozaik, lança, na Expo Revestir 2013, a coleção Cine Lumiére, que inclui revestimentos feitos de aço inox, com gravações de efeitos luminosos e pastilhas que combinam octógonos e quadrados. Parte da nova coleção, os azulejos da linha Iluminate, trazem grafismos inspirados nos tapetes do hotel que serviu de cenário do filme O Iluminado, de Stanley Kubrick. As superfícies dos revestimentos recebem um tipo de escovamento localizado (lixamento), capaz de produzir uma tonalidade que muda conforme a reflexão da luz. Além disso, filmes como Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese,

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A Inquilina, de Antti Jokinen, entre outros, serviram de inspiração para a empresa produzir a nova linha de mosaicos. Para Rogério Marques, diretor de design da marca, “a nova linha da Mozaik contempla, tanto do ponto de vista de como a arquitetura é retratada pelo cinema, quanto a maneira como o cinema constrói espaços cenográficos usufruindo das formas plásticas”. Segundo a Mozaik, essa é uma linha de produto que busca harmonia com qualquer tipo de material, principalmente os rústicos, e pode ser utilizada em cozinhas, banheiros, lavabos, halls de entrada, lareiras e nichos da sala. Para Marques, “os metais emprestam a nobreza aos ambientes e são vistos como jóias”.




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