Plurale em Revista - Edição 46

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ano oito | nº 46 | março / abril 2015 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

Yunus e artigos inéditos Entrevista exclusiva com a Ministra do Meio Ambiente

Bocaina, Namíbia, e Patagônia

Foto de Luciana Tancredo – TUCANO-DO-BICO-VERDE no Parque Nacional da Bocaina (RJ)

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INVESTIR EM DUAS FÁBRICAS, DOIS CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO E QUATRO UNIDADES DE NEGÓCIO FAZ PARTE DO NOSSO TRABALHO. O SORRISO NO ROSTO DE MILHARES DE PESSOAS É PARTE DA RECOMPENSA. Sempre que vendemos um produto, transformamos a vida de alguém. Quando investimos em uma região, transformamos a vida de milhares de pessoas. Com a atuação de cada franqueado ou revendedor, aumentamos a nossa capilaridade e levamos beleza para diversas cidades espalhadas por todo o país. Transformar a vida das pessoas é a nossa maneira de continuar espalhando a beleza.

belezaquetransforma.com.br


Conte xto

Entrevista exclusiva com a Ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente

Bazar ético

14.

Luciana Tancredo

54.

8.

A exuberância da natureza na Serra da Bocaina, na divisa entre o Rio de Janeiro e São Paulo

32.

A visita de camareiras da Rede Accor ao projeto de plantio de árvores na Serra da Canastra, na nascente do Rio São Francisco, em Minas

30 Arquiteto que resgata o sagrado Por Lou Fernandes

Por Nícia Ribas

38 Patagônia Por Danilo Vivian

50 PELAS EMPRESAS Por Isabella Araripe

58 CINEMA VERDE Por Isabel Capaverde

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44.

Hélio Rocha, jornalista brasileiro é voluntário na Namíbia, um dos países mais secos do planeta, no qual a busca pela água é questão de vida

PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2015

Foto de Hélio Rocha

Prêmio de Inovação em Seguros

Foto de Nícia Ribas

Por Luciana Tancredo


14 e 15 de julho de 2015 Local de realização: Fecomercio – São Paulo/SP REALIZAÇÃO:

Estão abertas as inscrições para o maior evento da área de RI e Mercado de Capitais da América Latina. As vagas são limitadas, faça já sua inscrição. O maior encontro do mercado de capitais brasileiro e da América Latina, em Relações com Investidores, já tem data marcada: dias 14 e 15 de julho próximos. Uma vez mais a capital de São Paulo sediará o Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, promovido conjuntamente entre a ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas e o IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores. O 17º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais é parte do calendário de eventos das principais companhias abertas, agentes reguladores, dirigentes de entidades, analistas e profissionais de investimentos, bem como advogados, auditores e especialistas em relações com investidores de todo o Continente. Como acontece todos os anos, representantes de companhias abertas, bolsas de valores, consultorias e instituições financieras deverão passar pelo evento, que reúne público superior a 700 pessoas em seus dois dias de realização.

PATROCINADOR DIAMANTE:

Paralelamente aos painéis da programação oficial, haverá uma exposição de serviços composta de estandes onde as empresas e instituições expõem seus produtos e serviços pra um público customizado, tornando-se também um oportuno ponto de encontro de todo o mercado. Mais informações: (11) 3107.5557 - (11) 3106.1836 www.encontroderi.com.br

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PARCEIROS DE MÍDIA:

APOIO INSTITUCIONAL:

ABRAPP, ABVCAP, AMEC, ANBIMA, ANCORD, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, BRAIN, CODIM, FIPECAFI, IBEF, IBGC, IBRACON e IBRADEMP


Quem faz

Cartas

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br

oportunidade, aproveitamos para apresentar a Vossa Senhoria os protestos de estima e consideração. Atenciosamente,” Adelino Ozores, presidente do Instituto Entre Rodas & Batom, São Paulo (SP), por e-mail

Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Jurandir Santos e Julio Baptista Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta edição Acervo da Coleção Brasiliana Fotos, Assessoriaa de Comunicação do Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas, Carolina Stanisci (1 Papo Reto), Dal Marcondes (Envolverde), Daniéle Carazzai, Danilo Vivian, Gabriela Kopko (Agência Saúde), Hélio Rocha, Lou Fernandes e Lúcia Chayb (Eco 21).

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

“Querida Sônia, Muito obrigada por teu carinho e atenção sempre!” Maria Elena Pereira Johannpeter, Presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários, Porto Alegre (RS), por e-mail “A matéria sobre a reinvenção do CDI, de Elis Monteiro, assim como toda a Edição 45, está excelente. Agradecemos o carinho com que a equipe de Plurale em Revista sempre trata a nossa organização e o apoio para a divulgação de nossas iniciativas. Vocês também são grandes agentes de transformação da sociedade ajudando a divulgar e a incentivar projetos que fazem a diferença no mundo. Parabéns!” Rodrigo Baggio, presidente do CDI e membro da liderança Ashoka, Washington (EUA), por e-mail “Em nome do Instituto Entre Rodas & Batom, registramos nossos agradecimentos a Plurale em Revista e ao jornalista Nélson Tucci, pela excelente matéria sobre a nossa instituição. Ficamos honrados de fazer parte dessa impecável publicação, oportunidade ímpar de ver noticiada nossa missão e realizações sociais em uma publicação de altíssimo nível, credibilidade e respeitabilidade.Na

“Caro Nelson Tucci Acompanho seu trabalho e agradeço pelo prazer de ler seus textos sempre tão claros e atuais. Acredito que nós, leitores, somos tão carentes de modelos de textos como os seus e eu não poderia deixar minha opinião sobre sua matéria “Instituto Entre Rodas e Batom” publicada na Revista Plurale. Adorei a forma que apresentou o excelente trabalho do instituto e também os dados que divulgou, demonstrando que a violência contra mulheres e pessoas vulneráveis é muito mais comum do que pensamos.” Marlene Galvão de Freitas, Diretora executiva - APAE Sapucaí Mirim (MG), por e-mail “A edição 45 da Plurale traz artigos e matérias de leitura bem interessante e agradável, tais como: objetivos do desenvolvimento sustentável, questões sobre a arte de envelhecer e sobre a corrupção vista como um “câncer” antissocial. Igualmente interessante é o depoimento de Lou Fernandes – Indira Prem sobre as benesses da meditação feito por Sri Prem Baba. Vale também conferir os três estudos de caso que aprofundam o problema da escassez da água em nosso país. Como sempre, Plurale inovando e reunindo conhecimento de qualidade. Parabéns para Sonia Araripe e sua competente equipe de trabalho.” Luiz Guilherme Dias, Sócio da SABE, Consultoria para o Mercado de Capitais, Rio de Janeior (RJ), por e-mail


E ditorial

Entrevista com a Ministra Izabella Teixeira, artigos inéditos, Serra da Bocaina, Patagônia e muito mais ASCOM / MMA

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

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cada edição de Plurale, temos procurado trazer aos leitores um leque amplo de temas relevantes. Neste número apresentamos o resumo de entrevista exclusiva nossa e de colegas da Mídia Ambiental com a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em Brasília. Na entrevista, a Ministra conta sobre os desafios ocupando o cargo também no segundo mandato da Presidente Dilma Rousseff, como Gestão de Recursos Hídricos, desmatamento, conservação, parques nacionais, etc. Tivemos as companhias dos jornalistas Dal Marcondes (Envolverde), Lúcia Chayb (Eco 21) e da jovem ecologista Raquel Rosenberg (Engajamundo). Na entrevista, Izabella Teixeira contou que havia chegado de mais uma visita à Serra da Bocaina. Local também de expedição da nossa Editora de Fotografia, Luciana Tancredo, que nos apresenta o Tucano-de-Bico-Verde que ilustra a capa desta edição e muito mais em um ensaio deslumbrante. Da Mata Atlântica para a gelada Patagônia, Danilo Vivian nos apresenta as Torres del Paine, patrimônio nacional do Chile. Não é só. Temos ainda a viagem como voluntário do também jornalista Hélio Rocha para a distante e árida Namíbia, na África. Ele revela como a busca por água lá pode ser decisiva para a vida e a morte. Da Austrália outra realidade: Marina Guedes esteve na bela exposição de Wil Aguiar e seus cliques de ondas incríveis. Newton Victor Meyohas - Plurale

Tudo isso e muito mais. Nícia Ribas esteve na Serra da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco com camareiras de hotéis do Grupo francês Accor que foram conhecer, in loco, o projeto de recuperação das matas ciliares. Deolinda Saraiva descortina o lirismo da musical Conservatória (RJ) e no Bazar Ético é apresentado o criativo trabalho de Mulheres da Reserva, do município de Silva Jardim (RJ). Artigos inéditos – de Nélson Tucci, Patricia Almeida Ashley e Renato Manzano – reforçam esta edição com temas atuais como a questão da Educação, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e o papel dos executivos nos recentes escândalos de empresas envolvidas em denúncias de corrupção. A jornalista Lou Fernandes – Prem Indira conta como o arquiteto Carlos Solano procura resgatar o sagrado no que faz. Confira ainda as colunas tradicionais de Plurale, como Ecoturismo, por Isabella Araripe e Cinema verde, por Isabel Capaverde. Apresentamos ainda todos os detalhes da 5ª edição do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros, promovido pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). Também estivemos acompanhando a visita do Prêmio Nobel Muhamad Yunus ao Rio de Janeiro. Tivemos o prazer de cobrir a sua palestra, fazer pergunta e entregar, em mãos, a nossa Plurale para o economista que fez fama ao criar o conceito de negócios sociais. Confira o que Yunus falou. Boa leitura!

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Entrevista

Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente

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PLURALE EM REVISTA | Marรงo / Abril 2015


Mantida pela presidente Dilma no Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira tem o desafio de enfrentar a crise hídrica, preparar o país para o acordo climático de Paris e aliar turismo e a preservação de áreas de conservação Por Sônia Araripe (Plurale), Lúcia Chayb (Eco 21) e Dal Marcondes (Envolverde) * Fotos: MMA e Agência Brasil

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esvinculada de partidos, a ministra Izabella Teixeira foi mantida no Ministério do Meio Ambiente na cota pessoal da presidente Dilma Roussef. Em um ano de muitos desafios ambientais internos, o Brasil tem ainda de enfrentar a renovação do acordo climático global, em dezembro, na COP 21 que será realizada em Paris, e ainda trabalhar para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que deverão substituir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) sejam realmente relevantes para apoiar a transformação do modelo econômico e de desenvolvimento, não apenas do Brasil, mas globalmente.

Em meio ao fogo cruzado na Praça dos Três Poderes o Ministério do Meio Ambiente procura estruturar uma ação baseada em políticas públicas. Um dos principais desafios será fazer com que o país se adapte a uma nova realidade hídrica, onde a escassez não é mais privilégio dos nordestinos, mas pode atingir qualquer região, impactando estilos de vida, modos de produção e modelos de gestão da água. Izabella Teixeira recebeu em Brasília, no fim de março, os jornalistas/editores Sônia Araripe, de Plurale, Lúcia Chayb (ECO21) e Dal Marcondes, da Envolverde, para uma conversa franca sobre os cenários ambientais que se formam no Brasil e no mundo. Confessou estar cansada, mas não pensou nem por um momento em recusar o desafio de ajudar o país a transpor esse momento delicado na área ambiental. Uma das principais priorida-

des é a transição para um novo modelo de gestão de águas que permita dar mais segurança às pessoas e às empresas. Uma amante da natureza, a ministra contou que tinha acabado de visitar a Serra da Bocaina, na divisa entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, justamente destaque de capa nesta edição de Plurale. Brasiliense de nascimento, carioca de coração, a ministra falou sobre a relevância de ter um projeto articulado de preservação e turismo. Confessou preocupação com as filas gigantescas para visitação de um dos principais pontos turísticos carioca, o Cristo Redentor no Parque Nacional da Tijuca. “Não é possível ter filas tão grandes no sol e chuva para subir até o Corcovado”, lamentou. Aqui as principais partes desta entrevista que contou com a participação também da jovem Raquel Rosenberg, da ONG Engajamundo.

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Entrevista

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Plurale/Envolverde/Eco21 – Quais sãos os seus grandes desafios nessa nova gestão? – Ministra Izabella Teixeira - Nova? Eu estou fadigada (rs). Achei que eu tinha terminado o trabalho e, na verdade, estava pronta para ir embora. Até porque eu sou servidora pública e me aposento esse ano formalmente. Foi uma convocação da presidenta e essa convocação tem dois lados. Primeiro, um reconhecimento do trabalho que foi feito, de organizar o Ministério porque o Ministério existe enquanto Ministério. E se existe significa envergadura política. Hoje é um Ministério com mais credibilidade nas conversas, no diálogo. Segundo, por um olhar para o futuro sobre desenvolvimento e o quê que o Ministério pode oferecer. Então, independentemente do contexto atual de início de governo, a presidenta dialoga com essas duas perspectivas. É obvio que do ponto de vista da agenda tradicional tem que acabar com o desmatamento ilegal, e não é só na Amazônia. Hoje o desmatamento ilegal na Amazônia é crime organizado segundo a Polícia Federal. Então não é uma tarefa trivial. O desafio não é só acabar com o desmatamento. Se fechamos uma madeireira ilegal em menos de uma hora, não tem mais os empregos informais que estão ligados àquilo. Há um problema social, de inclusão econômica, de modelo de desenvolvimento da região que não dá pra fugir de uma vocação florestal e uma vocação de acesso a recursos genéticos que a região tem.

O Brasil precisa compreender que a água é um recurso escasso. Enquanto a seca era no Nordeste a mídia não tinha muito interesse em fazer disso uma pauta nacional. Mas agora que a escassez atingiu o Sudeste a grita se tornou generalizada.”

– Qual é a saída então? Porque visitamos muito a região para reportagens e só se vê madeireiras. – Ministra Izabella Teixeira - Primeiro, tem que acabar o desmatamento ilegal e tem que recuperar a floresta naquilo que há uma vocação de recuperação da floresta. Tem 22% do território desmatado da Amazônia em recuperação. O projeto TerraClass, feito pela Embrapa e pelo Inpe, faz isso. Recuperação é floresta secundária já, ou seja, a Amazônia tem 22% do seu território desmatado com a vocação de sumidouro, de captura de carbono. Em termos de área isso dá duas vezes e meia o que foi desmatado entre 2008 e 2012. Só para vocês terem uma ideia do que está em recuperação, a magnitude disso. Recuperar aquilo que foi desmatado de maneira inadequada, indevida, ilegal, e fazer retirar a pressão sobre a floresta em pé. Ou seja, é

preciso fazer uma recuperação de área degradada, terá que trabalhar degradação de pastagem no outro patamar, ou seja, criar uma interlocução política, influenciar um modelo de desenvolvimento em que recuperação de pastagem etc. Para será a base para que possamos vocacionar também a Amazônia para as concessões florestais da floresta nativa. A produção de madeira ilegal na Amazônia hoje é em torno de 68% do mercado. Não tem concessão que sobreviva a um mercado ilegal dessa maneira porque o preço é lá em baixo. Não cria mercado. É preciso também criar as condições para você ter um mercado legal. Aí sim, pode-se falar de concessão florestal, de produção sustentável na Amazônia a partir de um olhar mais estruturado da chamada agenda florestal nativa. Existe a agenda florestal plantada, que o Bra-

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sil tem protagonismo em eucalipto, em pinus etc, e que no meu entendimento poderá e deverá ter protagonismo em outras espécies. A nossa capacidade de manejo está aí e o brasileiro pode ser extremamente competitivo com Finlândia, com Suécia etc. O Código Florestal oferece a partir do Cadastro Ambiental Rural uma tremenda oportunidade para você plantar a floresta em uma lógica de negócios e de recuperação. Uma coisa é plantar uma floresta de APP, daquilo que é uso restrito ou uso exclusivo de proteção para serviços ambientais, e outra coisa é você otimizar o manejo das reservas legais. – O cadastro está avançando? – Ministra Izabella Teixeira – Está avançando. Nós temos o desafio de chegar em cerca de 329 milhões de hectares. Lembrando que o cadastro é competência dos estados e municípios. Nós tivemos que fazer um sistema, a presidente criou o Sicar para apoiar os estados e municípios. Para vocês terem ideia, quando nós começamos tínhamos 11 estados que queriam o cadastro. Hoje (em março) só seis tem cadastro próprio, os outros migraram para o nosso cadastro. Estamos continuando a comprar todas as imagens de satélite. A maior compra de imagem de satélite no mundo é o Brasil que faz. – Tem desafios em relação ao cadastro. – Ministra Izabella Teixeira – Tem. Fizemos a primeira reunião da história de Secretário de Meio Ambiente com Secretário de Agricultura, foi há três semanas. Eu e a ministra Kátia Abreu fizemos essa reunião. Nunca eles tinham sentado junto. Obviamente o Meio Ambiente vai trabalhar junto com a Agricultura e vice-e-versa, ou então


– De que maneira o Ministério do Meio Ambiente pretende tratar o tema da escassez hídrica? – Ministra Izabella Teixeira – O Brasil precisa compreender que a água é um recurso escasso. Enquanto a seca era no Nordeste a mídia não tinha muito interesse em fazer disso uma pauta nacional. Mas agora que a escassez atingiu o Sudeste a grita se tornou generalizada. Precisamos de estudos e pesquisas para entender mais claramente os motivos da seca, não basta simplesmente afirmar que é causada pelas Mudanças Climáticas. Estamos no terceiro ano de seca e

LUCIANA TANCREDO

não faz Cadastro, não faz Código Florestal, não faz nada. Ou seja, essa situação polarizada é burra para Agenda de Desenvolvimento do País. As disputas políticas mostram que você precisa ir avante. O povo não quer viver de problemas, ele quer soluções. Uma agenda ambiental que vive de problemas não se imporá como uma agenda que ajuda a construir os novos modelos de desenvolvimento, que é o sonho de todo mundo. Todo mundo deseja influenciar o desenvolvimento. Ou se entra, e obviamente quando se entra em negociação você ganha muita coisa, mas também perde muita coisa. Terá que entender a dinâmica de território. A dinâmica da Amazônia não é a dinâmica do Sul do País. As pessoas que colonizaram o Sul do País há 100 anos, com agricultura, com a migração da década de 30, década de 40, 50, 60, 70 anos atrás, elas tem direito de ter suas propriedades como fizeram uso. Elas não declararam o fim do mundo por causa disso. E, de repente, tinha um quadro de 90% da agricultura brasileira na ilegalidade. Eu não tenho interesse em chamar todo mundo de criminoso ambiental. Tenho interesse de chamar todo mundo de produtor sustentável. Falar que o Brasil produz alimentos de madeira sustentável, protegendo águas e nascentes, se beneficiando dos serviços ambientais, incrementando a sua produtividade a partir da sua riqueza da biodiversidade, e não ‘vilanizar’. Obviamente aqueles que descumprem a lei, pau neles. A lei tem que ter mecanismo para punir e excluir se necessário. Então, o Cadastro acaba trazendo uma realidade que foge do achismo ambiental - acho isso, acho aquilo. O que vai dar o dado de realidade é o Cadastro Ambiental Rural. E nós teremos que fazer uso disso, para o bem e para o mal.

Divulgação

Como é que a gente pega um parque de 100 mil hectares de Mata Atlântica absolutamente fantástico, que desce para dentro, que pega o mar, ligando São Paulo e Rio de Janeiro, e abre esse parque? Em quais condições? Como se debate isso?”

– Essa escassez não foi uma surpresa para os gestores de recursos hídricos? – Ministra Izabella Teixeira – Não, graças aos diálogos entre a ANA e os gestores do Estado foi levantada a hipótese de se utilizar o “volume morto” do sistema Cantareira. O governador teve, então, tempo para investir nas obras necessárias para explorar essa reserva adicional. A lógica da Agência Nacional de Água é manter o máximo de reserva possível, preservando os mananciais e reservatórios, mesmo que a situação não esteja crítica. São Paulo trabalhou com o cenário de chuvas no final do ano, que foram muito frustrantes. As chuvas de fevereiro foram melhores. As obras de interligação de represas, que incluem a Guarapiranga e a Billings, podem ajudar a melhorar o nível de acesso à água estocada e diminuir a pressão sobre o sistema Cantareira.

poderemos ter um quarto e quinto. Os meteorologistas acreditam que estes ciclos são de quatro a cinco anos. O MMA monitora o stress hídrico do Sudeste há bastante tempo e estive com o governador Geraldo Alckmin um ano atrás para conversar sobre a necessidade de ampliar as estruturas de preservação de água. Nossa preocupação é basicamente com a grande quantidade de pessoas que dependem dos sistemas hídricos de São Paulo, que vai muito além da capital, com o Vale do Paraíba e o Rio de Janeiro sendo diretamente afetados. Uma das necessidades que apontamos, juntamente com a Agência Nacional de Águas (ANA) foi em relação à Sabesp, que precisaria de uma atenção redobrada do governo do Estado.

– Mesmo com as grandes obras, há que se entender que o cenário de escassez é crônico, não? – Ministra Izabella Teixeira – Sim, o problema é crônico. Não se trata de uma simples crise, que será superada, e tudo volta a ser como antes. A menor quantidade de chuvas da história na região Sudeste passa a ser a série de 2014, e não mais 1953, que detinha o recorde anterior. E janeiro deste ano choveu abaixo de 2014. Fevereiro não. Estamos monitorando o Paraíba do Sul e alertando o Rio de Janeiro que é necessário estabelecer mais eficiência na alocação das águas. A cidade do Rio d Janeiro necessita de 50 metros cúbicos por segundo, está recebendo 110, no entanto não consegue suprir todas as suas necessidades de uso. O sistema de distribuição é ineficiente. A ANA está reorganizando a oferta para ofere-

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Entrevista

Não é fácil abrir um Parque Nacional porque quando se coloca uma pessoa dentro de um território de domínio da União. Eu passo ser responsável pelo que acontece com aquela pessoa dentro daquela área. Do ponto de vista jurídico, é preciso de tudo muito organizado” cer 70 m³/s, o governo do Rio está resistindo. Há três tipos de ineficiência do sistema, a primeira, do próprio Guandu, que ainda opera por gravidade, sem um sistema de bombeamento. É preciso fazer uma obra que está planejada há 20 anos, mas não foi feita, depois muita água ainda é utilizada para diluir esgotos, e, quando chegamos no Baixo Paraíba, a intrusão de água do mar, salina, que torna a água inservível para o tratamento convencional. Estamos conversan-

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– E qual a sua visão sobre áreas protegidas e turismo? Este é um debate muito presente. – Ministra Izabella Teixeira – A discussão quando se quer tratar de áreas protegidas, que seja visível, é preciso dialogar sobre a qualidade de vida e bem-estar das pessoas; é necessário ter estrutura de turismo, que não seja só nos atrativos turísticos; tenho que dialogar com o negócio turístico como um todo. Isso não é trivial de ser feito. É preciso ter segurança jurídica para os investimentos. Não é fácil abrir um Parque Nacional porque quando se coloca uma pessoa dentro de um território de domínio da União. Eu passo ser responsável pelo que acontece com aquela pessoa dentro daquela área. Do ponto de vista jurídico, é preciso de tudo muito organizado. do com representantes de diversos países que enfrentam escassez crônica de água para aprender, desenvolver tecnologias e modelos de gestão capazes de enfrentar esse novo cenário no Sudeste e também ajudar a resolver a seca no Nordeste. Entre nossos interlocutores estão representantes dos governos do Japão, Cingapura, Espanha, Israel, Estados Unidos, Uruguai …Algumas destas empresas já até atuam em nosso país. – A atual escassez não tem nada a ver mesmo com mudanças do clima, ou é só porque é muito difícil de comprovar? – Ministra Izabella Teixeira – Realmente é muito difícil de comprovar, temos fenômenos de falta de chuva que afetam o país de quando em quando. Houve períodos secos nos anos 1950, 1980 e agora. Nos casos anteriores, quando choveu as autoridades abandonaram os planos de investimentos para essas contingências. Temos ilhas de calor e diversos sinais de mudanças no clima, mas não é possível afirmar com certeza que essas secas pontuais sejam de fato oriundas das mudanças climáticas. O Painel Intergovernamental Para as Mudanças Climáticas (IPCC) vai continuar estudando e compondo séries históricas, mas mudanças climáticas são medidas em décadas e séculos e não em anos. Vamos continuar a apoiar os pesquisadores, a ciência, a buscar respostas, mas vamos também tomar providências para mitigar os impactos da escassez hídrica.

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– O que falta então? – Ministra Izabella Teixeira – Falta uma melhor mobilização das pessoas de tratarem a questão de abertura de Unidades de Conservação com uma base real das possibilidades de fazê-la. Efetivamente, o que significa abrir Unidade de Conservação? Vamos olhar o caso do Rio. O Parque da Tijuca tem uma vocação, e o Parque Estadual da Pedra Branca – que é três vezes maior que a Tijuca e tem floresta primária de Mata Atlântica, que é lindo e está sofrendo invasão – é outra realidade. Qual é a visão da Prefeitura do Rio para trabalhar conjuntamente com o Governo Estadual e Governo Federal e vice-e-versa, para entregar à população aquelas áreas protegidas, essas duas joias da coroa? Não tem visão pactuada. Ou tem visão pactuada em torno de interessados, mas não necessariamente uma visão política construída em que você vai dialogar com o bem-estar. – Explique um pouco melhor, por favor. – Ministra Izabella Teixeira – Quando ocorreram as chuvas em São Paulo que começaram a destruir com a inundação, a Folha de S. Paulo começou a noticiar: São Paulo perde não sei quantas árvores. Eu pensei: é a primeira vez que eu vejo com indicador de degradação, de perda, de vulnerabilidade, a perda de árvores. Isso significa dizer que o paulista cada vez mais valoriza suas áreas verdes. Se você mora em Vila Nova Conceição (área nobre na Zona Sul da capital paulista) uma das riquezas não é só o fato de ter casas, é também ter área ver-


de, ter praças, um centro de convivência. Ou a área ambiental começa a discutir com esses prefeitos estrategicamente o papel da qualidade de vida das cidades, ou então você vai continuar reduzindo o desmatamento da Amazônia sem dialogar com o cidadão comum no dia a dia. O prefeito do Rio fez o Parque Madureira. É um sucesso. Quando um visitante vai ao Jardim Botânico, ouve o silêncio. Por que isso não é vocacionado no País? É claro que eu tenho que eu tenho parques naturais de 3,5 milhões de hectares, mas eu também tenho que traduzir esse verde no dia a dia de cada cidadão. – Mas há muitas críticas sobre as concessões públicas.... – Ministra Izabella Teixeira – É fácil fazer a crítica porque não abre. Mas como é possível abrir sem plano de manejo, se não dou a base real para fazer as concessões públicas com o caráter de segurança do que ele pode fazer. Nós tivemos que fazer os planos de manejo de unidades de conservação e em quatro anos nós fizemos 60. Os dois governos do presidente Lula fizeram 58. Os dois governos do Fernando Henrique fizeram 22. E nós contratamos 111 e vamos entregar a diferença este ano. Agora eu tenho revisão de plano de manejo…. tem plano de manejo que diz o seguinte: só pode andar no parque com sandália havaianas! Juro! Está escrito. Isso não é regra de plano de manejo. Plano de manejo tem que dar as diretrizes de uso, tem que dizer da zona intangível, da zona primitiva do parque, onde você não entra, qual é a pesquisa que você quer ali, onde você entra, como você usa. O Parque da Bocaina tem uma demanda e o de Itatiaia tem outra. Fui na Bocaina porque decidimos fazer este o parque símbolo desse momento de nova abertura dos parques nacionais. O Rio de Janeiro, acreditamos que a partir de 2016 nasce uma nova cidade, vem um novo apelo. Como é que a gente pega um parque de 100 mil hectares de Mata Atlântica absolutamente fantástico, que desce para dentro, que pega o mar, ligando São Paulo e Rio de Janeiro, e abre esse parque? Em quais condições? Como se debate isso? O que se quer de um turismo que nós já recuperamos, aquela parte das praias, ali em Trindade. Um trabalho feito pelo Instituto Chico Mendes de fechar, remover, junto com o Ministério Público. A gente quer transformar aquilo em uma referência. Ago-

Qual é a vocação? O Parque é uma âncora do desenvolvimento local? Pode ser. Em que condições? Não é só chegar e falar abre......

O povo não quer viver de problemas, ele quer soluções. Uma agenda ambiental que vive de problemas não se imporá como uma agenda que ajuda a construir os novos modelos de desenvolvimento, que é o sonho de todo mundo. Todo mundo deseja influenciar o desenvolvimento.” ra tem que entender o que é referência. Subi o parque e resolvi dormir lá em cima e no outro dia fui até Cunha. Aí todo mundo olhou para mim.... Eu queria entender Cunha. Cunha é um município de 22 mil habitantes. Tive uma conversa ótima com vários pousadeiros, gente que faz turismo. Perguntei: como eu tomo um banho de água quente? Aí me falaram que era para aquecer a água no fogão à lenha. Eu fiz um sobrevoo de helicóptero, depois eu desci e subi tudo de carro. A cidade é bonitinha. Um polo de cerâmica, um polo da parte de joias, uma cidade bem arrumadinha. O que vai ser? A gente explode turismo ali ou a gente mantém as características daquele município e faz as pessoas ganharem dinheiro?

– Aliás, essa questão de vocação tem que ser estudada no Brasil inteiro. – Ministra Izabella Teixeira – Você terá que discutir isso com a sociedade, você terá que pactuar um projeto mínimo, você terá que trabalhar sim, no meu entendimento, Bocaina, como um parque âncora do desenvolvimento regional dali, que vai ter que dialogar com as vocações específicas de Itatiaia porque é muito próximo. Se você pegar a Via Dutra, descendo Cunha, pega a Dutra … Itatiaia está a menos de 50km....Enfim, não adianta vir com pacote pronto. Não é assim. A decisão política de abrir os parques está tomada. Quais são as questões essenciais? Como eu faço um turismo com qualidade e com retorno …com turismo científico também, com eu abro para pesquisa? Qual é o networking mínimo de cada unidade de conservação. E aí escolher o Rio de Janeiro porque tem o maior conjunto de Mata Atlântica, como você tem no sul de São Paulo e norte do Paraná, uma outra estrutura que terá que ser montada. É a mesma coisa se você for pegar a Pedra Azul, no Espírito Santo, que é belíssima também. Você pode combinar várias situações e isso tem que estar em uma narrativa de abertura de parques, em não uma coisa dissociada do desenvolvimento regional, ou dissociada minimamente da interlocução daquela sociedade. Explodir Cunha, tirar o caboclo de Cunha…Preservar na fotografia antiga também não serve. – Dal – Aqui no Brasil se tem a sensação que liberou e liberou geral. – Ministra Izabella Teixeira – Não pode ser assim e também não pode ser tráfico e não pode ser roda presa. E tem que qualificar os editais de concessão. Você tem que modelar para atrair a expertise internacional para fazer PPP Parceria-Público-Privada) no Brasil. Nós levamos quatro anos construindo modelos de PPP, com o Bando Interamericano (BID) junto. No caso de Bocaina é super interessante porque é marinho-costeiro e serra com cachoeiras fantásticas! Tem problema de caça, problema de invasão de limites, dialogar com aquele entorno; uma Paraty-Cunha passando no meio, etc. (*) Com a participação de Raquel Rosenberg (Engajamundo)

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E n s a i o

TEXTO E DE FOTOS:

Luciana Tancredo

Serra da Bocaina: estado da arte

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artindo de São José do Barreiro, no Estado de São Paulo, por uma estradinha cheia de curvas, para um lado e para o outro, subindo, subindo com vontade, chegamos ao Alto da Serra da Bocaina. De lá, na divisa entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o olhar se perde nos tons de verde que vão mudando conforme a distância das ondulações, mais parece um mar verde do que realmente montanhas. O Parque Nacional da Serra da Bocaina foi criado por Decreto Federal em 1971, com uma área aproximada de 134 mil hectares e uma expressiva biodiversidade. Para quem não sabe, a definição do parque teve um objetivo estratégico: preparar

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Luciana Tancredo uma espécie de escudo natural, com vegetação nativa, nas escarpas da Serra do Mar, como proteção de um eventual acidente nuclear nas usinas de Angra. Felizmente, a Serra está intocada, sem precisar testar esta sua capacidade. E podemos apreciar, a natureza preservada com diversas espécies. Como o Tucanodo-Bico-Verde que ilustra a capa desta edição e tantos outros animais. No Parque Nacional da Bocaina, não se pode entrar de carro, só quem tem permissão especial concedida com certa antecedência. Então, os passeios têm mesmo que ser a pé.

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TEXTO E FOTOS DE

Luciana Tancredo Entrando na Bocaina, a vegetação repleta de bromélias e orquídeas coloridas deslumbram o visitante, que depois de caminhar um pouco começa a apreciar a primeira das muitas cachoeiras da região, a imponente Santo Isidro, perfeita para um mergulho. Um pouco mais para dentro, começam a aparecer os verdadeiros moradores da região - o macaco Bugio e o Tucano-doBico-Verde, mostram aos visitantes que a casa é deles. Mais adiante, trilha adentro , chega-se nas Cachoeiras das Posses, dos Veados , da Palmeiras e muitas outras. E é por essa trilha que muitos fazem a chamada travessia do Caminho do Ouro, atravessando rios e caminhando mata adentro. Nessa região, frequentada por muitos praticantes de voo-livre e parapente, pois existem duas rampas de salto por lá, são os que gostam de um bom trekking e de mergulhar nas águas geladas de uma cachoeira é que fazem a festa. Há diversas opções de pousadas na região. Saiba mais sobre a Serra no site oficial do ICM-Bio e procure dicas de pousadas e trilhas em sites que falam da região: http://www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/


Diálogo

Encontro de Justiça Socioambiental da Bocaina abre um novo espaço de diálogo entre comunidades tradicionais e unidades de conservação Da Assessoria de Comunicação do Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas

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uscando ampliar o conhecimento e debater alternativas para a redução e solução de conflitos relacionados ao acesso dos recursos da biodiversidade nos territórios tradicionais o Ministério Público Federal (MPF) em Angra dos Reis (RJ), a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria Geral da República (PGR), o Fórum de Comunidades Tradicionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), o Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), através do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), realizaram entre 9 e 10 de abril o “Encontro de Justiça Socioambiental da Bocaina - Territórios Tradicionais: Diálogos e Caminhos”, no Quilombo do Campinho, em Paraty. Na abertura do evento foram realizadas homenagens aos mestres Euzébio Higino de Oliveira, caiçara da Praia Barra Seca em Ubatuba (SP), Marciana Paramirim de Oliveira, pajé da Aldeia de Araponga em Paraty (RJ) e o quilombola José Adriano da Silva do Quilombo Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis (RJ). Apresentações culturais de Luís Perequê, o Coral Guarani Itaxi da Aldeia de Paraty Mirim, Jongo dos Quilombos do Bracuí e Campinho e a Folia do Divino Espírito Santo de Ubatuba (SP).

O evento ainda contou com tradução simultânea para o guarani, por Julio Karai Xiju, liderança da TI Sapukai. Um novo caminho para o diálogo No Brasil, a gestão territorial e o consequente estabelecimento de tensões e conflitos pelo uso do espaço são temas atuais. As Unidades de Conservação, as Terras Indígenas e os Territórios Quilombolas são considerados Áreas Protegidas pelo Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), que prevê estratégias para a gestão compartilhada. A Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), prevê que os governos tomem medidas, com a participação dos povos afetados, para proteger e preservar o meio ambiente dos territórios em que habitam. Para o gestor da APA de Tamoios e membro da Coordenação Colegiada do Mosaico Bocaina, Vinicius Martuscelli Ramos, é possível compatibilizar o uso do território com a preservação ambiental, respeitando o Plano de Manejo da UC e os modos de vida tradicionais, “Os gestores são os atores da ponta, estão em contato direto com as comunidades, e devem mediar possíveis conflitos para garantir o fortalecimento da conservação ambiental das áreas protegidas e seu entorno, caminhando para a solução do uso das Comunidades Tradicionais nas Unidades de Conservação”. Os conflitos gerados podem não apenas se configurar como resultado do pro-

cesso histórico e da sobreposição de áreas protegidas criadas, mas também como resultado da presença e das práticas de populações tradicionais no interior de unidades de conservação, sobretudo de proteção integral. O encontro demonstrou que é possível, e legalmente permitido, o uso compartilhado dos recursos naturais pelas comunidades com o objetivo da conservação, principal objetivo de uma UC. “É compatível a dupla afetação de Unidade de Conservação na Comunidade Tradicional, mas para isso é necessário diálogo e bom senso. A divergência é central, mas é nesse caminho que a gente avança, mostrando que no conflito temos a oportunidade de corrigir erros do passado”, diz Ronaldo dos Santos, quilombola do Campinho e coordenador da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (CONAQ). O Encontro promoveu um novo espaço de interação entre pesquisadores, representantes das comunidades tradicionais, procuradores do Ministério Público Federal, gestores de Unidades de Conservação e órgãos ambientais, impulsionando os atores locais a pensar como unir a preservação ambiental com possibilidades de desenvolvimento social e comunidades das áreas preservadas. “Sabemos que no Brasil, as áreas onde o meio ambiente resiste de maneira preservada são, em grande maioria espaços de convívio de comunidades tradicionais”, pontua Felipe Bogado, procurador do Ministério Público Federal. Bogado destaca a importância de fazer com que a sociedade brasileira enxergue o trabalho desses povos e permita que eles tenham sua sociobiodiversidade preservada. No encerramento do evento foi produzida e validada em plenária a Carta do Encontro de Justiça Socioambiental da Bocaina. Ela contém 13 itens que ressaltam a existência de marcos legais que garantem os direitos das comunidades tradicionais e a conservação das áreas protegidas, assim ampliando o diálogo e mantendo uma relação entre UCs e comunidades tradicionais. Além disso, será formado grupo permanente, envolvendo todos os principais atores e coordenado pelo Ministério Público Federal, para traçar uma estratégia para debruçar sobre os casos concretos e temáticas específicas de cada situação, visando buscar maneiras efetivas de reduzir esses conflitos no território. A primeira reunião do grupo deve ocorrer até o mês de julho de 2015.

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Artigo Renato Manzano

O CEO

mentiu sozinho? Em meio aos grandes escândalos e mentiras que assolam o mundo corporativo, muitos executivos e especialistas de Comunicação Empresarial estão envolvidos até o pescoço e são os responsáveis por dar forma às escaramuças de seus superiores e à manipulação da opinião pública através da mídia.

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maioria das pessoas talvez não saiba e nem mesmo se lembre. Mas a autossuficiência proclamada pela grande empresa de petróleo, em 2006, nunca aconteceu. De lá para cá, pelo contrário, o gasto com importações chegou próximo dos US$ 50 bilhões, abrindo um rombo imenso na balança comercial brasileira. Em 2009, a gigante mineradora fez uma campanha publicitária impactante em nível nacional, declarando ser a primeira empresa do setor no mundo a “zerar seu footprint”. Não era verdade: os impactos gerados no Brasil e no mundo jamais foram zerados mesmo com a impressionante escala de plantio de árvores. Há poucos anos, uma imensa rede de supermercados obteve matérias favoráveis em vários jornais, a partir de sua assessoria de imprensa, sobre sua política de qualidade de vida dos colaboradores e chegou a ser dada como exemplo em uma revista de negócios. Pendurou cartazes imensos em todas as lojas. Neles se via a imagem de colaboradores felizes praticando ginástica laboral. A empresa ganhou um importante prêmio da área de RH com a iniciativa. Mas o programa era uma farsa. “Só para inglês ver, moço”, disse-me uma funcionária que se queixava de dores nas costas, porque ficava sentada por muito tempo no caixa e só podia sair para ir ao banheiro com autorização expressa do supervisor. “Aqui a gente parece escravo”, confessou

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seu sentimento. De fato, havia professores de educação física contratados e os alto-falantes, com estardalhaço, convidavam os clientes para se juntar aos colaboradores para a sessão de alongamento. Mas notei várias vezes que apenas meia dúzia deles participava. Era pura encenação. Os demais eram literalmente proibidos de deixar seus postos de trabalho pelos quinze minutos. “O supervisor não deixa”, explicou-me a moça inconformada. Depois soube: os cartazes foram produzidos pela agência de comunicação com modelos: nenhum empregado jamais foi retratado na campanha em uma situação real. Em 2004, um tradicional conglomerado de construção civil chegou a lançar um livro escrito por um renomado edu-

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cador e consultor sobre o “pensamento empresarial, pedagógico e filosófico” de seu fundador que moldou o pensamento de toda a organização. A obra exaltava os princípios, valores, a transparência, as relações humanas e “uma nova visão de mundo”, baseada, sobretudo, na “construção da confiança”. Com carinho, na ocasião, recebi o livro das mãos de um alto executivo da empresa e o li com respeitosa atenção. Hoje, com tristeza, vejo que a marca se envolveu em um tremendo escândalo de pagamento de propinas e outras graves irregularidades, com dirigentes presos, processados... E isto me faz indagar: até que ponto essa empreiteira realmente acredita no legado de seu fundador?


As empresas mentem! A maioria dos que lerem este artigo identificará essas empresas com facilidade. Eu poderia citá-las diretamente, sem receio algum, mas não o faço por dois motivos. Primeiro porque seria injusto citá-las sem enumerar a imensa lista de verdadeiras instituições empresariais, das quais deveríamos nos orgulhar, que se envolveram em mentiras e falcatruas, gastando milhões de reais em propaganda para convencer a população de que são empresas íntegras e confiáveis. Segundo, porque citar esta ou aquela empresa pode passar a impressão de que esse é um problema restrito a esta ou aquela marca institucional, o que está longe de ser verdade. Infelizmente, ludibriar, passar por cima do código de ética institucional da própria organização, desrespeitar as leis e os direitos dos cidadãos, corromper e manipular, não tem sido exclusividade de poucas empresas. O fato é que um número muito expressivo delas, de todos os tamanhos e em todos os setores, adota uma “moral elástica” e a corrupção para garantir lucros e/ou vantagens sempre que possível ou “necessário”. Resumindo, as empresas mentem enquanto tentam vender uma imagem exemplar. Que o diga o resultado do estudo de grande repercussão da professora Bethania Tanure, em 2012, feito com 330 representantes de alto escalão das maiores empresas do Brasil, quase metade delas com faturamento superior a R$ 5 bilhões anuais, naquele ano. Segundo a pesquisa, 74% dos altos executivos admitem que o discurso de suas empresas é o oposto do que realmente acontece na prática. Ou seja, são presidentes, vice-presidentes e diretores de mega empresas admitindo mentir,

principalmente em assuntos relacionados a governos, funcionários, fornecedores e parceiros. E mais: dão pouca importância à qualidade de vida de seus subordinados, privilegiam amigos em detrimento de funcionários melhor capacitados, entre outras mazelas apontadas no estudo. Falcatruas com assessoria técnica da Comunicação Empresarial A questão que se coloca aqui é a seguinte: esses executivos não atuaram sozinhos. O fato comum a todas essas empresas é que elas se utilizaram de seu aparato comunicacional para “blindar” suas reputações, como se costuma dizer no jargão profissional. Essas empresas possuem profissionais tecnicamente gabaritados, contratam institutos caros que se utilizam de pesquisas e metodologias de análise muito avançadas, além, é claro, de tecnologia de ponta. Tudo isso visa tanto a perscrutar a mente e os hábitos de seus públicos, quanto a montar verdadeiros dossiês sobre políticos, ambientalistas, autoridades do judiciário etc. - o que é ilegal, quanto também para ocultar seus crimes e tentar criar uma imagem totalmente diferente diante da opinião pública. Nem que para isso tenham de gastar fortunas em campanhas publicitárias e manobras de relações públicas contratadas a peso de ouro. Vejamos o que mostra uma pesquisa do Databerje realizada em 2009, com 282 respondentes entre as 1.000 maiores empresas listadas pelo “Valor Econômico”. Nela, 94,6% das organizações declaram ter departamentos de Comunicação estruturados. Esses departamentos abrangem os serviços de relações públicas, assessoria de imprensa, eventos, patrocínios, comunicação interna, marca etc. e é comum que

contem com o apoio de fornecedores especializados – normalmente grandes agências de “public relations”, assessoria de imprensa e publicidade. Em 40% das empresas com mais de 5.000 empregados, ainda de acordo com o estudo, essas áreas têm status de diretoria e em mais da metade delas o responsável pela comunicação organizacional têm representação no Conselho Executivo. Parte significativa das grandes empresas envolvidas nos últimos escândalos veiculados pela mídia entrou nesse estudo. Está claro, portanto, que os(as) executivos(as) de comunicação dessas organizações não podem alegar inocência diante dos crimes cometidos pelo alto escalão – até porque muitos fazem parte dele. Na quase totalidade dos casos eles(as) não só sabiam o que acontecia na organização como também eram os responsáveis por assessorar diretamente o primeiro escalão e por produzir conteúdos e veicular as estratégias midiáticas mentirosas e manipuladoras. São cúmplices conscientes. Sempre caberá o argumento de que estavam “sob ordens”. Mas cabe, igualmente, o recurso da recusa ou da tentativa de dissuasão dos altos executivos, ainda que isso possa levar à demissão – o que também não é incomum. Felizmente, há muitos profissionais que levam sua profissão a sério e não fazem concessões, mesmo colocando seus cargos e carreiras em risco. Segredos patéticos, Mas se por um lado as áreas de comunicação corporativa possuem esquemas muito bem estruturados (e caros), por outro são de um amadorismo risível. Isto porque é bastante comum que à boca miúda, muito além dos gabinetes dos executivos, a chamada “rádio peão” ou “rádio corredor” comente os fatos mais bizarros pelos corredores das empresas. Inclusive as falcatruas. São tabus. Mas nos “círculos de confiança” não são segredos assim tão bem guardados, já que mesmo os colaboradores mais humildes acabam tendo acesso a muita informação, ainda que por meios e formas as mais enviesadas. As informações vazam quase sempre da boca dos próprios executivos durante “conversas reservadas” com colegas e membros da equipe a quem se pede “o máximo sigilo”. Basta isso para que o movimento de sucessivos pedidos do mais absoluto segredo adquira um efeito cascata

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Artigo Renato Manzano

que inunda até o chamado “chão de fábrica”. É um fenômeno tão comum quanto degradante para a cultura de qualquer organização. Mas é, antes de tudo, patético. Mas é fato que também no mercado da Comunicação Empresarial há uma criminosa indústria da mentira. Pelo dinheiro, pelo status e pelo poder, muitos comunicadores preferem o “caminho mais fácil”. Recentemente, soube por fonte da mais alta confiabilidade, que há executivos de marcas conhecidas que chegam à desfaçatez de cobrar comissão de produtores culturais para aprovarem projetos culturais e esportivos incentivados por Lei. Nestes casos, trata-se de corrupção direta: é propina! Os produtores têm medo de denunciar e sofrer sanções do mercado. Assim, muitos pagam. A ética profissional e os conflitos morais A Comunicação Empresarial é um mercado no qual atuo há 30 anos. Tenho imenso orgulho de conhecer incontáveis profissionais de caráter ilibado, pessoas exemplares, técnica e eticamente, os quais jamais se envolveram em esquemas dessa natureza. Vejo ainda entre meus alunos toda uma geração que está assumindo postos e que não compactua com esse estado de coisas. Mesmo assim se deparam com um tremendo conflito... Há alguns anos, após ter ministrado uma aula de pós-graduação, uma jovem executiva veio me procurar em particular e disse em tom de brincadeira, para puxar conversa: “O senhor tem quase 30 anos de mercado na Comunicação e quer me convencer que nunca aceitou fazer nada de errado?”. Eu sorri e respondi com seriedade categórica a mais pura verdade: nunca! E contei a ela que pedi demissão de três excelentes empresas em defesa de questões éticas e morais, e que apesar disso ter me

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trazido momentos muito difíceis, inclusive financeiros, eu estava absolutamente feliz com minhas escolhas e em paz com a minha consciência. Ela trabalhava para um dos maiores conglomerados de bens de consumo do planeta. Visivelmente tocada, criou coragem e contou-me às lágrimas que havia participado de uma iniciativa para mascarar informações sobre os males que um determinado produto alimentício muito vendido poderia causar às crianças. Ela tinha fortes razões para acreditar que a empresa havia pagado propina a altos funcionários do Governo. Aquilo estava fazendo muito mal a ela. Essa jovem e bem sucedida executiva tinha uma filha pequena. E ela não deixava sua filha consumir o produto cuja estratégia de comunicação ela ajudara a compor. “Eu preciso do emprego”, disse-me ela, “mas sua aula foi perturbadora porque me colocou diante de um espelho para o qual eu tenho evitado olhar faz muito tempo. Não sei o que fazer. Penso em pedir demissão, porque não estou conseguindo conviver mais com isso”. Foi o que ela fez. Não é um dilema incomum. Não são situações fáceis. E os valores das empresas, onde ficam? Não há Missão, Sistema de Crenças e Valores ou Código de Conduta que se sustentem em uma organização sem que a verdade esteja presente nas atitudes, no próprio modo de fazer as coisas. É uma construção incessante e por vezes penosa. Sobretudo em um ambiente cultural, no Brasil, onde ser ético parece uma característica dos tolos. O principal propósito da Comunicação, dentro e fora das organizações capitalistas é ajudar na evolução humana e na transformação social, na construção de um mundo mais justo e igualitário. No caso específico das empresas, a Comunicação

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ajuda a criar o próprio sentido da organização, através de seus colaboradores, e a construir relações e vínculos inquebrantáveis baseados na verdade, na confiança e na coerência entre as marcas institucionais, seus produtos e serviços, e toda a sociedade. Se não for assim, a comunicação torna-se uma ferramenta poderosa para que pessoas, grupos, regimes e empresas atravanquem o progresso humano e subvertam o próprio estado de direito. A corrupção e a manipulação comunicacional são aliadas poderosas contra a Democracia e os princípios republicanos. É triste observar que em pleno século XXI, o espírito dos Robbers Barons do século XIX continue a nos assombrar e a assustar tanto, ainda que com toda sofisticação e tecnologia dos dias atuais. Contudo, há certas coisas, certas leis, que atravessam o tempo e são imutáveis porque fazem parte da essência da vida em sociedade. A máxima de Públio Siro, escrita no ano 50 a.C., segundo a qual:“A verdade, assim como a alma, nunca retorna, uma vez que tenha ido embora”, continuará para sempre verdadeira. Ela deveria orientar a construção das reputações de empresas e organizações humanas em geral, hoje e sempre. As empresas, afinal, acabam por refletir o ambiente político e social vigente. E nós, brasileiros, convenhamos, não temos muito do que nos orgulhar nesse quesito. Mas pelo imenso poder econômico e pela importância social que têm as empresas, sobretudo as grandes corporações, cabe a elas uma responsabilidade maior em dar o exemplo ético e mostrar que a riqueza pode e deve ser gerada com honestidade e competência e não com propinas, mentiras e manipulação. Os profissionais de Comunicação que se dedicam ao mercado empresarial fazem de seu trabalho a sua religião. Para nós o trabalho ético é algo sagrado. E é por isso que causa tanta indignação e revolta constatar que entre nós, como em outras profissões, há ainda muitos que cometam terríveis sacrilégios. (*) Renato Manzano é consultor e especialista em Estratégia, Gestão e Ativação de Negócios e Marcas (Branding), Marketing, Cultura e Comunicação Organizacional, Relações com Clientes e Públicos Estratégicos (RCPE).


Artigo Nelson Tucci

A sustentabilidade como disciplina obrigatória é apelo ao compromisso ético Ministério da Educação

Por Nelson Tucci

EXMO. Sr. Ministro Renato Janine Ribeiro. NESTA. Com a devida vênia, envio-lhe uma carta aberta.

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ascido nos longínquos anos 50 do século passado... sou filho dos “filhos da guerra”, ou seja, pais que passaram involuntariamente pelo período da II Guerra Mundial. Os mesmos pais que comiam pão preto (não desses chiques e caros de hoje, mas os antigos com farinha escura não processada), andavam em carros movidos a gasogênio, tomavam banhos frios, apagavam todas as luzes e acendiam fraquíssimos lampiões, ou uma vela, ao anoitecer para não dar mole ao `inimigo`. Um inimigo que, na realidade, não se via no Brasil mas... “era melhor prevenir que remediar”, como se dizia à época. Por estranho que possa parecer isto à “Geração do Milênio”, na primeira metade do século passado não existiam smartphone, tampouco internet, a televisão ainda não tinha chegado ao Brasil e as pessoas das notícias só tinham conhecimento pelo rádio ou pelos jornais do dia seguinte (comprando-os nas bancas ou “filando-os” nas viagens de bonde, quando não se tinha dinheiro disponível para tal). Carros – importados, naturalmente - só para famílias abastadas ou “carros de praça” (leia-se táxi, ok geração Y) em casos de extrema urgência. O Sr. Ministro, filósofo, pensador e professor, tem pouca idade mais que eu e, acredito, mais cultura também, por isso tem plenas condições de acrescer uma enormidade de dados aos que pincei pela memória. Agora mais que isso, meu caro Janine, você (permita-me tratá-lo assim, pela proximidade etária) tem responsabilidades gigantescas. E, sinceramente, boto a maior fé na sua gestão. Acredito que vá dar certo. Valendo-me do direito de opinar, como cidadão e jornalista, quero humilde-

mente deixar-lhe uma sugestão: institua a disciplina sustentabilidade (ou outro nome, se preferir, mantendo-se a essência da mesma) como obrigatória no ensino público de todo o país. Crianças, adolescentes e jovens adultos de hoje sempre tiveram facilidades em lidar com água, luz e comida. Alguns, é certo, têm consciência disto, mas outros tantos (e tantos são estes que fica difícil de contar...) não têm e não querem saber de reduzir o consumismo. Um consumismo cego daqueles que não conheceram privações – por menores que sejam - às quais os filhos e nós, os “netos da guerra”, também um dia enfrentamos. Logo, o desperdício e a falta de compromisso com o planeta, com a sociedade, e com as contas que papai, mamãe, titios, padrastos, madrastas e vovós pagam, não raro o são exacerbados. Não desejo que ninguém se submeta a dificuldades que meus pais e avós passaram; antes pelo contrário. Não tenho saudade também de ter um regime “meio militar” para tomar banho e fazer uso de energia elétrica. Mas o fato é que ficou uma herança, digamos, cidadã. Para eu e os demais “netos da guerra”, economizar é prática incorporada à rotina. Soa como natural. A exceção, até hoje, pra mim é o desperdício como largar luz acesa em cômodos sem ninguém (ou mesmo ocupados, durante a luz do dia); banhos de 40, de 30 ou até mesmo de 20 minutos por adultos e crianças; botar mais comida no prato do que se tem capacidade de comer; misturar lixo orgânico com mate-

riais recicláveis e deixar o ar condicionado ligado quando se pode abrir a janela. Importante A proposta de inserir a sustentabilidade como disciplina obrigatória no ensino público de todo o país não exime a responsabilidade do agronegócio que consume mais de 70% da água disponível, nem a indústria com aproximadamente 11% (os números variam, conforme a fonte consultada e a região). Todos os consumidores, sem exceção, precisam rever os seus respectivos hábitos e processos. Até porque estamos em um único planeta e não há um “Plano-Planeta B” do qual possamos nos socorrer depois. Então, vamos trabalhar no antes. Ao conscientizar pessoas, estas terão embasamento para mudar o que está errado e cobrar os negligentes e perdulários de forma incisiva. Sei que você entende exatamente o que estou dizendo e, assim, fica fácil estudar esta modesta sugestão. Trata-se de um compromisso ético com o planeta, em meu modo de ver. Até porque as crises da água e da energia vão passar, e poderão voltar, e vão passar de novo, e poderão retornar impiedosas. Os filhos, netos e bisnetos da guerra também passarão, mas não o globo terrestre. Com a devida licença do poeta Mário Quintana, todos nós que atravancamos a natureza passaremos e o planeta passarinho! (*) Nelson Tucci é jornalista e colaborador de Plurale

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Artigo Patricia Almeida Ashley

Abordagem Multiescalar e Multilateral em Blocos Regionais e Repúblicas Federativas na Negociação e Implementação da Agenda Global Pós-2015:

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epúblicas federativas tem uma característica comum que é a organização político-administrativa do governo, usualmente em duas camadas ou níveis, a nacional e a estadual. O Brasil é um caso único no mundo das repúblicas federativas, por ter três níveis de governo com os municípios tendo autonomia administrativa com sua respectiva Constituição Municipal [a Lei Orgânica Municipal]. Há uma complicação e, de fato, uma complexidade de diversos sujeitos e entidades políticas com responsabilidades constitucionais distintas e fontes de recursos próprios que limitam ou ampliam as possibilidades de políticas públicas federais, estaduais e municipais em se tornarem oportunas e coerentes em suas agendas, especialmente diante da complexidade de 17 objetivos e 169 metas da Agenda Global Pós-2015 com distintas atribuições para os entes federais, estaduais e municipais. Os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável para a Agenda Global Pós-2015 definidos pelo Grupo de Trabalho Aberto - GTA [Open Working Group - OWG] de países

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Que

Brasil emergirá até

2030?

membros da Organização das Nações Unidas contempla temas que avançam a agenda global de desenvolvimento anterior que se encerrará em 2015 – a Agenda de Objetivos do Milênio. Os 17 ODS definidos pelo GTA a serem alcançados em 169 metas até 2020 e 2030 são: Objetivo proposto 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares Objetivo proposto 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável Objetivo proposto 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades Objetivo proposto 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos Objetivo proposto 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas Objetivo proposto 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos

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Objetivo proposto 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia, para todos Objetivo proposto 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos Objetivo proposto 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação Objetivo proposto 10. Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles Objetivo proposto 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis Objetivo proposto 12. Assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis Objetivo proposto 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos Objetivo proposto 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e dos recursos marinhos, para o desenvolvimento sustentável Objetivo proposto 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos


ONU BRASIL

ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e estancar a perda de biodiversidade Objetivo proposto 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis Objetivo proposto 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável Processos democráticos com efetiva representatividade e influência da sociedade como um todo para a proteção dos bens difusos são fatos políticos e culturais recentes na República Federativa do Brasil, com uma história democrática ainda em sua infância ou adolescência. É relevante influenciarmos e monitorarmos a República Federativa do Brasil na negociação externa e nacional para a construção e implementação da Agenda Global Pós-2015, a ser publicada em setembro de 2015. Vivemos um momento atual no Brasil de articulação crescente de demandas da sociedade e organizações da sociedade civil, como a OAB, CNBB, movimentos sociais e ambientalistas, em busca de reformas políticas, eleitorais, tributárias e de melhores condições institucionais para uma sociedade com pleno acesso aos direitos humanos e proteção dos recursos naturais e da biodiversidade e diante dos riscos já visíveis das mudanças climáticas, com ressonâncias distintas no Poder Legislativo e Poder Executivo, além do avanço das ações de investigação de órgãos do Estado como Polícia Federal, Receita Federal, Controladoria Geral da União, Mi-

nistério Público e órgãos do Poder Judiciário Federal, inclusive no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Emergem as dúvidas, diante dos desafios da implementação da Agenda Global Pós-2015, sobre o que sobrará de vetores ultrapassados em marcos legais e políticas nacionais que não consideram bases sustentáveis, a exemplo do próprio Código Florestal que reduziu as áreas de preservação permanente em torno de nascentes, em margens de rios e, principalmente, com grande redução das áreas de preservação permanente em topos de morro, nos casos em que haja ocupação agropecuária ou instalações consideradas como áreas consolidadas quando ocupadas até 2008. A Agenda Global Pós-2015, como já vem sendo apontado nas discussões globais em sua formação, demandará amparo na atualização dos marcos legais para promover as condições institucionais favoráveis e as condições de financiamento que possam valorar economicamente aqueles investimentos e inovações que tragam a proteção ambiental, a inclusão e justiça social e o crescimento econômico sustentável. Inclusive, os organismos que ainda adotavam o uso do termo ‘crescimento econômico sustentado’ e resistiam à troca pelo termo sustentável, reconheceram agora em 2015 que o emprego correto para a nova agenda global é o uso do termo sustentável para quando forem se referir ao crescimento econômico na Agenda Global Pós-2015. Isso irá gerar toda uma mudança nas escolhas de quais indicadores são apropriados para a agenda global e não se encontra mais apoio político dos países membros das Nações Unidas e que estejam em condições de países em desenvolvimento ou países emergentes para a

adoção de uma seleção padronizada de indicadores globais para a Agenda Global Pós-2015, em vista das distintas condições institucionais de cada país para viabilizar a coleta e atualização de dados para compor tais indicadores, além dos riscos de indicadores globais não capturarem as desigualdades dentro de cada país. As últimas declarações em final de março de 2015, apresentadas na reunião de negociação intergovernamental na ONU quanto aos objetivos, metas e indicadores para a Agenda Global Pós-2015, foram convergentes por tais países em propor que haja uma delegação de autonomia a blocos regionais e aos países para o método de construção e seleção de indicadores, inclusive com a participação da sociedade em sua elaboração. É uma significativa mudança em relação ao modelo tecnocrata de indicadores mensuráveis de forma objetiva e global para o monitoramento da Agenda de Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Inclusive houve a troca recente do Chefe do Organismo de Estatísticas Oficiais das Nações Unidas, muito provavelmente pelas críticas às sugestões desse organismo para que fossem adotadas as clássicas métricas já disponíveis em agendas anteriores e negando ou desqualificando metas da Agenda Global Pós-2015 que hoje não possam ter métricas disponíveis na base de indicadores da ONU. Em síntese, temos uma Agenda Global Pós-2015 que desde a sua formação já terá, no documento final a ser aprovado pela Assembleia Geral da ONU em setembro de 2015, as diretrizes para meios de implementação, em que processos democráticos e participativos são premissas na formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas para a implementação da agenda global. E mais, é legitimada cada vez mais a força do multilateralismo nas declarações das negociações intergovernamentais que estão convergindo para ter uma participação política maior dos blocos regionais e dos Estados-Nação, inclusive dos Parlamentos, na construção de condições institucionais para a sua implementação. (*) Profª. Dra Patricia Almeida Ashley – Núcleo de Estudos em EcoPolíticas e EConsCiencias – www.ecopoliticas.uff.br – Contato: nucleo.ecopoliticas@gmail.com

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Obesidade estabiliza no Brasil, mas excesso de peso aumenta Por Gabrielle Kopko, da Agência Saúde

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índice de obesidade está estável no país, mas o número de brasileiros acima do peso é cada vez maior. Pesquisa do Ministério da Saúde, Vigitel 2014, alerta que o excesso de peso já atinge 52,5% da população adulta do país. Essa taxa, nove anos atrás, era de 43% - o que representa um crescimento de 23% no período. Também preocupa a proporção de pessoas com mais de 18 anos com obesidade, 17,9%, embora este percentual não tenha sofrido alteração nos últimos anos. Os quilos a mais na balança são fatores de risco para doenças crônicas, como as do coração, hipertensão e diabetes, que respondem por 72% dos óbitos no Brasil. “O mais importante para o Brasil neste momento é deter o crescimento da obesidade. E nós conseguimos segurar esse aumento. Isso já é um grande ganho para a sociedade brasileira. Em relação ao so-

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brepeso, não temos o mesmo impacto da obesidade, de estabilização, mas também não temos nenhuma tendência de crescimento disparando”, destaca o ministro da Saúde, Arthur Chioro. “No Brasil não há tendência de disparos como nos outros países em que o crescimento da obesidade é avassalador. Em comparação com nossos vizinhos conseguimos deter o crescimento, quando é essa a tendência”, reforça. O índice de obesidade do Brasil está abaixo, por exemplo, da Argentina (20,5%), Paraguai (22,8%) e Chile (25,1%). Entre os homens e as mulheres brasileiros, são eles que registram os maiores percentuais. O índice de excesso de peso na população masculina chega a 56,5% contra 49,1% entre elas, embora não exista uma diferença significativa entre os dois sexos quando o assunto é obesidade. Em relação à idade, os jovens (18 a 24 anos) são os que registram as melhores taxas, com 38% pesando acima do ideal, enquanto as pessoas de 45 a 64 anos ultrapassam 61%.

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A pesquisa demonstra ainda que as pessoas com menor escolaridade, 0 a 8 anos de estudo, registram a maior índice, 58,9%, enquanto 45% do grupo que estudou 12 anos ou mais está acima do peso. O impacto da escolaridade é ainda maior entre as mulheres, em que o índice estre os mais escolarizados é ainda menor, 36,1%. As mesmas diferenças se repetem com os dados de obesidade. O índice é maior entre os que estudaram por até 8 anos (22,7%) e menor entre os que estudaram 12 anos ou mais (12,3%). O Vigitel 2014 entrevistou, por inquérito telefônico, entre fevereiro e dezembro de 2014, 40.853 pessoas com mais de 18 anos que vivem nas capitais de todos os estados do país e do Distrito Federal. Realizada desde 2006 pelo Ministério da Saúde, a pesquisa, ao medir a prevalência de fatores de risco e proteção para doenças não transmissíveis na população brasileira, serve para subsidiar as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.


Espécies ex-ameaçadas ainda estão vulneráveis Da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

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o final de 2014, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou duas listas atualizadas das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, de flora e de fauna. No tocante aos animais, 170 saíram da categoria de vulnerabilidade. Entre elas, destacam-se a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) e a arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus). A lista brasileira usa como base os indicadores e as classes estipuladas pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). Dessa forma, aquelas espécies que constam na listagem do Brasil são as que estão nas categorias ‘Criticamente em Perigo’, ‘Em Perigo’ e ‘Vulnerável’ dessa instituição. “A melhora no status de conservação dessas espécies é um avanço significativo para toda a sociedade, incluindo o poder público, o meio científico e as organizações que atuam em prol da biodiversidade brasi-

leira. Esses bons resultados práticos são resultado da ação conjunta desses setores e devem ser reconhecidos”, afirma Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A instituição foi responsável por financiar projetos de conservação de 18 das 170 espécies que saíram da lista, com destaque, além da própria baleia-jubarte e da arara-azul-grande, para o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), o albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris) e a jaguatirica (Leopardus pardalis mitis). De acordo com Rosana Subirá, coordenadora substituta da Coordenação Geral de Manejo para Conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGESP/ICMBio), dois fatores foram determinantes para melhorar o status de conservação dessas espécies. “O primeiro foram as medidas de conservação rigorosas, como a proibição da caça à baleia-jubarte, que foi determinada por lei e fortemente fiscalizada. O

segundo foi a atuação diária de pessoas dedicadas à causa ambiental”, explica. Com relação a essa atuação, Rosana cita como exemplo o caso da arara-azul-grande “que teve sua captura na natureza para abastecer o tráfico ilegal fortemente reduzida devido a intensas campanhas de sensibilização feitas por pesquisadores com moradores das áreas onde a espécie ocorre”. Ela comenta ainda que a saída das 170 espécies ensina duas coisas: “a importância das pesquisas para que tenhamos uma compreensão cada vez melhor da nossa biodiversidade, sua dinâmica e inter-relações; e que, com vontade e esforço, é possível sim evitar a extinção de espécies”, conclui. “Um resultado direto disso é o fato de 23 das170 espécies terem recebido financiamento da Fundação Grupo Boticário, instituição que já apoiou quase 1.400 pesquisas em todo o país”, completa Malu Nunes, evidenciando como o fomento à pesquisa traz resultados práticos para a conservação de espécies e ecossistemas. Haroldo Palo Jr/ Divulgação

A jaguatirica (Leopardus pardalis mitis) saiu da lista

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P e lo B rasi l Inscrições abertas para o Prêmio Mobilidade Urbana Especial Fetranspor, 60 anos

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Prêmio Mobilidade Urbana é uma iniciativa da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). Sua missão é a promoção de um amplo debate sobre Mobilidade Urbana de modo a gerar o amadurecimento das reflexões sobre o tema e contribuir para inovação no setor. O tema Mobilidade Urbana refere-se aos meios, serviços, infraestruturas e políticas voltados à garantia dos direitos dos cidadãos, relativos aos deslocamentos de pessoas nas cidades. O prêmio – lançado em 2010- tem por objetivo reconhecer os melhores trabalhos sobre o tema, desde que estejam direta ou indiretamente ligados à Mobilidade Urbana no Estado do Rio de Janeiro.

Excepcionalmente, em 2015, o Prêmio Mobilidade Urbana reconhecerá uma personalidade que tenha contribuído de forma significativa para o desenvolvimento do tema objeto de cada categoria, e, de forma geral, uma personalidade de merecido destaque especial pela sua relevante contribuição à Mobilidade Urbana, em comemoração ao 60º aniversário da Fetranspor.

O trabalho vencedor de cada categoria será premiado em cerimônia oficial, com o Troféu Mobilidade Urbana e um cheque no valor de R$ 20.000,00. A cerimônia de premiação será em novembro. Leia o regulamento e saiba como se inscrever no site: http://www.premiomobilidadeurbana.com.br/

Prêmio Mobilidade Urbana “Mobilidade com qualidade merece reconhecimento”

Empresas precisam estar atentas às mudanças climáticas, protegendo e gerando valor, diz Castro O PMU é uma iniciativa da Fetranspor que premia case Por Nélson Tucci, de São Paulo Segundo Castro, a remoção das incer- mais de US$ 90 trilhões e estão permasucesso para a evolução da mobilidade urbana no esta tezas - que evitariam o impacto da precifi- nentemente atentos às emissões e a criação s mudanças climáticas têm cação das ações pelos investidores - é um de valor pelas companhias mundo espec Rio de Janeiro. edição está ainda nomais impacto significativo para as trabalhoEm que deve2015, contar com aaintegração todo. empresas. O diferencial está das áreas de sustentabilidade e de relações Em suas intervenções, Roberto Gonzaoscapacidade três das primeiros colocados na compa- com investidores. “Sem olhar paraem a água cada categoria serão pre nhias em proteger e gerar va- e o carbono, a governança não consegue lez (VP do Conselho do CDP) destacou que “hoje todos os segmentos são impactalor para os negócios. Essa questão foi o Afinal, são 60 anos de Inscreva-se. ser sustentável”, completou ele, que tam-Fetranspor. dos pelas mudanças climáticas”. Com o que

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ponto de partida para o evento realizado ontem, 7, pelo CDP (anteriormente Carbon Disclosure Project) e ABRASCA, no campus do Insper, em São Paulo. “Companhias precisam estar atentas em não gerar incertezas sobre suas políticas de emissão de carbono e gerenciamento de água”, enfatizou Antonio Castro, da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA).

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bém preside o Conselho do CDP. Já a diretora do CDP Latin America, Juliana Lopes, destacou que a entidade é um instrumento eficaz na gestão de riscos e que os temas apontados pelo colega Castro não podem ser negligenciados. “Estes hoje são imperativos para se fazer negócios”, pontuou. O CDP atualmente tem 822 investidores associados, que movimentam

concordou o colega Sérgio Lazzarini, professor do Insper, destacando exemplos bem sucedidos de PPPs focadas na sustentabilidade, utilizando métricas propostas pelo Insper. Lazzarini também citou exemplo dos Estados Unidos com o Public Energy Performance Contractting e explicou de que forma investidores apoiam projetos e se remuneram a partir de seus resultados.

PMU Especial Fetranspor 60 anos

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Inscrições abertas


“Relatório de Insustentabilidade da Vale” é lançado no Rio

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s violações de direitos humanos e impactos ambientais cometidos pela Vale no Brasil e em outros oito países da América, África e Ásia são denunciadas no “Relatório de Insustentabilidade 2015” da empresa, cujo lançamento aconteceu hoje (dia 16 de abril), na sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro. Produzido pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale, o relatório reúne informações sobre mais de 30 casos de conflitos envolvendo toda a cadeia de produção da Vale em diferentes países onde a empresa opera. Os casos mais graves incluem episódios de espionagem e trabalho em condições análogas

às de escravo, que recentemente foram objeto de denúncias ao Ministério Público. A publicação também apresenta casos de investimentos da Vale em projetos com pendências legais, associadas ao descumprimento da legislação de proteção ao meio ambiente, como o da fragmentação do licenciamento ambiental da duplicação da Estrada de Ferro Carajás. Em 2012, a Vale recebeu o “Public Eye Award”, o prêmio de pior empresa do mundo. Procurada pela Plurale, a Vale, através da Assessoria de Imprensa, divulgou nota comentando alguns dos principais pontos das denúncias feitas. Leia a íntegra da matéria no site Plurale. http://migre.me/pxBOu


S eguros

O executivo Antonio Carlos de Almeida Braga (esquerda) com Solange Beatriz Palheiro Mendes, Diretora-Executiva da CNseg e o presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi

5ª edição do

Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros é lançada pela CNseg Da CNseg

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oi lançada no último dia 30 de abril, a 5ª edição do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros, promovido pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). As inscrições irão até 30 de setembro. A premiação, criada em 2011, busca estimular e reconhecer os trabalhos que contribuem para a inovação no mercado de seguros. Poderão participar aqueles que forem colaboradores de empresas de se-

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guros, previdência privada e vida, saúde suplementar, capitalização, resseguros, corretoras e corretores de seguros e resseguros autônomos. Os projetos concorrerão nas categorias “Produtos e Serviços”, “Processos” e “Comunicação”. A avaliação será feita pela Comissão Julgadora em duas etapas, sendo a primeira de julgamento individual dos trabalhos. Este ano, a segunda fase foi ampliada, dando a 15 finalistas a oportunidade de defender seus projetos presencialmente. A mudança permite o conhecimento mais detalhado de um maior número de projetos concorrentes. Ao final do processo, os

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três primeiros colocados de cada categoria serão premiados. Para auxiliar e inspirar os interessados em participar da premiação, a CNseg promoverá, ao longo do período de inscrições, uma série de eventos voltados à inovação. A expectativa é de que o total de trabalhos concorrentes seja ainda maior que o recorde de 78, registrado em 2014. O aumento, de 41,3% em relação à edição anterior, reafirma a importância do Prêmio dentro e fora da Confederação, que vê na iniciativa uma maneira de reforçar o papel do setor como agente fundamental do desenvolvimento socioeconômico do país.


Para auxiliar e inspirar os interessados em participar da premiação, a CNseg promoverá, ao longo do período de inscrições, uma série de eventos voltados à inovação. A expectativa é de que o total de trabalhos concorrentes seja ainda maior que o recorde de 78, registrado em 2014 Sobre Antonio Carlos de Almeida Braga Nascido em 1926, filho de engenheiro português dos setores imobiliário e de seguros, Antonio Carlos de Almeida Braga fez da Companhia Atlântica uma das maiores seguradoras da América Latina, vendida para o Bradesco em 1984. Foi ainda o fundador, posteriormente, da Icatu Seguros. Por seu caráter, sua generosidade e, principalmente, sua trajetória profissional, sempre ligada à inovação, Antonio Carlos de Almeida Braga é praticamente uma lenda viva do setor de seguros e incontestável homenageado pela CNseg com o Prêmio em seu nome. Sobre a CNseg A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) elevou em 2008 ao status de Confederação a Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização. A CNseg conta em sua formação com a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), e a Federação Nacional de Capitalização (FenaCap). A entidade representa o mercado perante o Governo Federal, a sociedade em geral e as entidades nacionais e internacionais.

Poderão participar aqueles que forem colaboradores de empresas de seguros, previdência privada e vida, saúde suplementar, capitalização, resseguros, corretoras e corretores de seguros e resseguros autônomos. Os projetos concorrerão nas categorias “Produtos e Serviços”, “Processos” e “Comunicação”.

Vencedores da 4ª Edição do Prêmio, em 2014, com a Diretora-Executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes

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C ase sustentável

Plantar, plantar Rede Accor leva camareiras de seus hotéis para conhecer o projeto de replantio de árvores na Serra da Canastra (MG), que visa recuperar nascentes e margens dos Rios São Francisco e Grande 32

Texto e fotos de Nícia Ribas, de Plurale da Serra da Canastra (MG)

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anhã do dia 23 de abril, quinta-feira. Um grupo de mulheres de camisa branca chama a atenção dos que circulam pelo aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, São camareiras e governantas de hotéis da rede Accor iniciando ali o programa de visita à região da Serra da Canastra, onde sua empresa investe no plantio em torno de nascentes e margens dos Rios São Francisco e Grande. Graças à economia obtida com o reuso de toalhas, o projeto Plant for the Planet em parceria com a ONG Nordesta do Brasil, já reflorestou 140 hectares, devendo chegar a 180 até o final deste ano, num total aproximado de 400 mil árvores. Por que as camareiras? Porque são elas que estão na ponta da linha, mantendo os quar-

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tos bem arrumados e incentivando os hóspedes a colaborar com a mãe natureza. Do aeroporto, partem de ônibus em direção a Arcos, onde houve um plantio há dois anos, graças ao acordo feito com o proprietário da fazenda, Geraldo Aparecido Lopes. A área recuperada, de oito mil metros quadrados, recebeu 2.500 mudas de 50 espécies. “Estão vendo como as mudas crescem rápido? Aí está o resultado do trabalho de vocês no seu cotidiano!”, disse-lhes a presidente da Nordesta, Neuza Falco Galvão. Entusiasmada com o projeto, Neuza explica para a Plurale como funciona: “Procuramos pequenos e médios produtores, cujas terras abrigam nascentes e margens de rios. Se eles aderem, plantamos e cuidamos por dois anos. Trata-se de uma parceria muito importante para a preservação da nossa região e até o final deste ano, vamos abranger a bacia de mais um rio, o Araguari. Tudo isso graças a ativida-


des simples como o reuso de toalhas, incentivado pelas camareiras, por isso é tão importante que elas vejam o resultado”. Em seguida, Neuza lembrou a todos que no dia anterior, 22 de abril, comemorara-se o Dia da Terra. Segundo o sargento Alan Silva, da Polícia Militar de Meio Ambiente de Arcos, aquela área “estava degradada e corria o risco de a nascente ali existente desaparecer”. Ele espera que o projeto sirva de exemplo para outras empesas. Para a diretora de Comunicação do Grupo Accor, Antonietta Varlese, o objetivo é incentivar seus hóspedes a refletir e economizar recursos naturais através do reuso de toalhas: “Destinamos metade das economias em lavanderia ao financiamento do plantio de árvores, realizado pela Nordesta; Com esta visita, queremos estimular os colaboradores a se envolverem no projeto e torná-los multiplicadores no relacionamento diário com os hóspedes.”. A natureza encanta Entre o mar de viveiros da Nordesta, as camareiras ficaram entusiasmadas, querendo saber os nomes das plantas e fazendo fotos de todos os ângulos.” As mudas de jatobá, por exemplo, ficam germinan-

“Projetos similares estão sendo desenvolvidos em mais 21 países

Arnaud Herrmann, Diretor Global de Sustentabilidade da Accor

Neuza Falco Galvão, presidente da Nordesta, também plantou a sua árvore

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Case sustentável

do em tubetes por um ano e depois vão para o campo”, explicou Neuza, responsável pelos viveiros. Para garantir a germinação, as sementes são escarificadas, isto é, perfuradas, uma a uma. A Nordesta mantém junto aos viveiros uma criação de abelhas nativas, sem ferrão, que têm um importante papel como polinizadoras de culturas agrícolas. As camareiras, depois de se certificarem que elas não picavam, trataram de fotografar as colmeias. E Neuza aproveitou para contar que a cada quatro mil mudas plantadas, o proprietário da área ganha uma colmeia. “Muitas vezes, essa colmeia é o início de um novo negócio”, disse ela. Como parte do programa, o grupo fez o plantio simbólico de árvores. Vindo especialmente de Paris para o evento, o diretor global de Sustentabilidade da Accor, Arnaud Herrmann, contou à Plurale que projetos similares estão sendo desenvolvidos em mais 21 países. Ele plantou um pé de ingá. Mais árvores Em Piumhi, na Fazenda Guaiçara, de café, foram plantadas 517 mudas em janeiro deste ano. “Procuramos preservar a genética local, plantando a maior quantidade possível de espécies; aqui na Guaiçara temos 42.” explica o engenheiro ambiental da Nordesta, Claiton Majela da Silva. Perto dali, numa grande plantação de cereais – milho, soja, feijão, a Nordesta plantou 1.100 mudas em 2013. “Procuramos cercar um raio de 50 metros da nascente”, explica Claiton. Ele explicou que o processo começa com a coleta de sementes da região Centro Oeste de Minas Gerais, próxima ao Parque da Serra da Canastra. Em seguida, as sementes são beneficiadas e plantadas nos viveiros. As mudas são levadas para as áreas de plantio. Até 10 quilômetros na borda do Parque é considerado área de amortecimento: “ São os corredores ecológicos, que facilitam o fluxo de flora e fauna”, diz Claiton. O Parque abrange parte das bacias dos rios São Francisco, Grande e Araguari. O Plant for the Planet está beneficiando as três. Depois de uma longa viagem, entremeada de visitas a viveiros e plantio de mudas debaixo do sol forte do cerrado, as camareiras já esperavam pelo merecido descanso. Mas não podiam imaginar todo o conforto e beleza que as esperavam no Hotel Balneário do Lago, em Capitólio. Foi uma sucessão de emoções.

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Ao pé dos cânions da Serra da Canastra, muita emoção para as visitantes


Fotos de Nícia Ribas

Ana Milagros, do Novotel, de Lima, Peru, adorou o passeio e trocou contato com as colegas brasileiras e de outros países

O voo das

camareiras V indas dos mais distantes rincões brasileiros, algumas nunca tinham viajado de avião e nem entrado num hotel como hóspedes. Livres dos quartos e banheiros, dos lençóis e das toalhas, elas se soltam entre risos e conversas, trocando experiências, aproveitando a vida. Acostumadas a servir, agora são servidas. Com a benção do Padim Cícero, a cearense de Ibiapina, Cícera Esmerino de Souza, de Ibiapina (CE), mudou-se para São Paulo há mais de 20 anos, trabalhando como babá e auxiliar de serviços. Atualmente integra a equipe de camareiras do Ibis Budget Jardins, com 390 quartos. Ela limpa e arruma diariamente de 20 a 30. “Gosto do que faço, me divirto muito com as colegas e agora tive a chance de ver o resultado do reuso das toalhas”, diz ela.

A baiana de Alagoinhas, Dejeane dos Santos Silva foi para Macaé (RJ), onde já morava sua irmã, conseguindo uma vaga no Ibis. Evangélica e tímida, sai de casa para o trabalho e vice-versa. A viagem, para ela, é diversão pura, entrosando-se rapidamente com as colegas. Durante um passeio de chalana pelo Lago de Furnas, conhecido como o Mar de Minas, a piauiense Neide Tavares, do IBIS Barretos (SP), é a primeira a se aventurar, subindo pelas pedras até a Lagoa Azul. Patrícia Rabello, do Ibis Budget Piracicaba (SP) vai atrás. Mais adiante, ao avistarem a imensidão dos cânions, as camareiras se emocionam: “Deus é soberano!”, exclamam. Entre elas estão três colegas peruanos. Ana Milagros e Guido Pipa vieram de Lima; Glenny Torre, do Novotel de Cus-

co. No início ficam tímidos, apreciando em silêncio a beleza natural do lugar, mas logo se entrosam com as colegas brasileiras, trocando telefones e e-mails. Maria Aparecida, Maria José, Patrícia, Adriana, Andréia, Tátila, Verônica, todas as 28 camareiras acostumadas a um dia-a-dia duro de trabalho sob a vigilância das governantas, agora descem para o café da manhã, deixando suas camas por fazer. A todo momento dedilham seus celulares, enviando fotos pelo watstApp. Domingo elas voltam para suas casas e seus hotéis, mas nunca mais serão as mesmas. Em seus devaneios, entre um edredom bem esticado e uma toalha bem dobrada, elas vão se lembrar do azul do céu, do verde das montanhas, do branco das nuvens e se sentirão gratificadas por estarem contribuindo para a preservação do Planeta.

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Diálogo

Muhamad Yunus

vem ao Rio e fala para plateia formada por jovens Em palestra ele advertiu que o emprego tradicional já não é mais tão importante, defendeu o empreendedorismo e criticou o sistema que visa só o lucro, sem olhar o social Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Newton Victor Meyohas

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ão é todo dia que temos a oportunidade de poder ouvir um Nobel da Paz. Ainda mais se for encontrar Muhamad Yunus, o único economista que já atingiu este feito, aqui mesmo, na nossa cidade. O evento, organizado pela Yunus Negócios Sociais Brasil - centro de pesquisa e consultoria em negócios sociais liderado pelo professor que acaba de ser lançado no Brasil -, contou com o apoio de ONGs e de alguns parceiros privados e governamentais. Nascido em Bangladesh, Yunus ganhou fama global por seu trabalho transformador ao lançar, em 1976, o Grammen Bank. Foi laureado em 2006, não com o Prêmio de Economia, mas o Nobel da Paz. Fez jus à vontade de seu criador, Alfred Nobel, para quem o prémio deveria distinguir “a pessoa que tivesse feito a maior

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ou melhor ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz”. Sua trajetória é relatada no best-seller “Banker to the poor” ou “O banqueiro dos pobres”, como foi chamado quando traduzido para o mercado brasileiro. O livro conta a história de transformação de uma verdadeira legião de miseráveis em cidadãos empreendedores e com seus pequenos negócios. Este case foi apresentado no evento no Rio, do qual participamos. “Empreender é a palavra-chave”, explicou para os atentos ouvintes, o professor Yunus. A plateia, de cerca de 400 pessoas, era formada principalmente por jovens, engajados em causas relevantes e/ou empreendedores de negócios sociais novos. Na casa de Betinho - Em uma estrutura simples, em formato de arena, o professor falou durante duas horas para uma plateia atenta de cerca de 400 pessoas. O local não poderia ser mais apropriado – a

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sede da Ação da Cidadania, ONG fundada por Betinho (Herbert de Souza), criador do Balanço Social e um dos principais combatentes da fome no Brasil. O filho de Betinho, o jovem Daniel de Souza, foi um dos organizadores do evento. “Estou feliz por ver tantos jovens aqui”, disse Yunus, ao subir o pequeno tablado armado no meio do público, que o recebeu de pé sob aplausos. Simples, simpático e denso, muito denso, este poderia ser um bom perfil para o Nobel que roda o mundo expondo suas ideias e espalhando novos ideais. Para os jovens, garantiu que ninguém precisa mais ficar desesperado por não encontrar emprego tradicional e defendeu que basta uma boa ideia para empreender. “Quem precisa de um emprego? As pessoas precisam empreender, ter uma boa ideia e levá-la adiante. E eu sempre digo isso. Os jovens estão aí ajudando a mudar o sistema.” Ele contou que sempre era questionado pelos filhos das mulheres que ajudou a mudarem de vida e acharem suas vocações em negócios ao terminarem os estudos e não terem empregos. “Eles me pressionavam para saber o que fazer já que tinham estudado tanto e não encontravam emprego. Foi então que percebi que eles não precisavam ter esta posição. Poderiam aprender em casa, com suas mães, que com uma boa ideia é possível empreender e mudar de vida”, citou Yunus. Redução das desigualdades - O economista criticou o sistema capitalista que só visa o lucro e a vaidade, sem se preocupar com a sociedade e com a redução das desigualdades. “O sistema, como é hoje, está errado. Está baseado apenas no bem-estar de cada um. No seu lucro, na sua vaidade.


“95% das acionistas do Banco Grammen são mulheres. A maioria (85%) vinha da extrema pobreza, morava na rua ou em barracas. Hoje elas têm suas casas e trabalham em suas áreas de negócios. Ajudamos a mudar esta realidade.” “Ninguém quer dar um dólar para quem não tenha já algum, nem que seja 50 cents. Banqueiro é assim. Resolvemos mudar esta realidade. Mostramos que os pobres são bons pagadores.” “Criamos uma empresa de telefonia, a Drami Phone e passamos a dar telefones para os mais pobres. Estas pessoas, principalmente mulheres de pequenas vilas do interior, puderam ligar para melhorar suas vidas e das comunidades. Eles passaram a ter voz. Pobres também têm direito à tecnologia.” “O negócio social é bem diferente da filantropia tradicional. Na caridade, você doa e este dinheiro só tem uma mão, não volta. No conceito de negócio social o dinheiro tem vida ilimitada. Pode ser reinvestido e é possível se fazer um ótimo uso do dinheiro.” “Quem precisa de um emprego? As pessoas precisam empreender, ter uma boa ideia e levá-la adiante. E eu sempre digo isso. Os jovens estão aí ajudando a mudar o sistema.”

Por que não podemos pensar em lucro sim, mas também no bem-estar de todos, de uma comunidade, da sociedade?” Para empreender, explicou o economista, é preciso traçar um bom plano de negócios e saber que diferencial cada um tem. Alguém da plateia perguntou como resolver problemas que dependem de autoridades públicas, nem sempre cientes das dificuldades de comunidades carentes. Yunus respondeu que muitas vezes isso acontece porque as autoridades estão distantes da sociedade e dos problemas e por isso não sabem como resolvê-los. Mas defendeu que muitas vezes, com “soluções simples, mas não simplórias” é possível sim equacionar dilemas antes aparentemente intransponíveis.

Um grupo de intelectuais foi convidado para dialogar com o Prêmio Nobel, contando com a presença, do cantor Marcelo Yuka, um dos fundadores do grupo Rappa, que levou um tiro em assalto no Rio e ficou paraplégico. Yuka perguntou sobre o comprometimento da sociedade com um novo modelo de consumo. Ao fim do evento, conseguimos nos aproximar do Professor Yunus e perguntar para ele que setores seriam mais fáceis para os jovens empreenderem. Afável, ele gentilmente recebeu dois exemplares de edições recentes de Plurale em revista e respondeu. “Qualquer um. Design, moda, tecnologia, culinária....depende de uma boa ideia e da vontade do jovem”, sentenciou. Mais didático, impossível.

“O sistema, como é hoje, está errado. Está baseado apenas no bem-estar de cada um. No seu lucro, na sua vaidade. Por que não podemos pensar em lucro sim, mas também no bem-estar de todos, de uma comunidade, da sociedade?” “Os problemas, na maioria das vezes, não são complicados. Basta que as pessoas estejam próximas para conhecê-los e saber como resolvê-los. Governos e sistemas costumam estar distantes da realidade. Aí fica mais difícil achar a solução.” “Não recomendo que ninguém faça algo totalmente sozinho. Temos visto que empreender ou buscar soluções é mais fácil junto a outros, que já tenham vivido aquilo ou que estejam envolvidos na mesma área.” “O que diferencia um menino pobre e um rico é a educação, de casa e das escolas. A mãe, os pais e a escola fazem diferença.

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Bem-estar

Por Lou Fernandes – Prem Indira Especial para Plurale Do Rio de Janeiro

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á palavras que nos beijam como se tivessem boca. Passar alguns dias em companhia do arquiteto e escritor Carlos Solano é entender o sentindo da poesia de Manoel de Barros. Em seu curso Casa Natural, realizado neste último mês, no Rio de Janeiro, mas que ele ministra pelo Brasil a fora, Solano consegue reunir cultura popular, terapias da casa, ecologia e bem-estar. Um verdadeiro alquimista que ensina, tudo, tudo mesmo, para que se dê alma e vida à casa.

Carlos Solano, formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Minas Gerais (UFMG) é uma mistura de fogo e água – assim como o Feng Shui – que ele conheceu em 1991, por meio da arquiteta chinesa Ping Xu, PhD., e fez estudos na Europa e Ásia sobre o tema. Ele é autor dos livros “Feng Shui – arquitetura ambiental chinesa” , “Casa Natural” e colunista da revista Bons Fluidos. E ainda conseguiu a proeza de incentivar o plantio de “um milhão de árvores , na campanha que iniciou em 2007 ( www.ummilhao-

dearvores.org.br). Recentemente lançou o livro “Nossas Árvores – o Resgate do Sagrado”, em parceria com Sandra Siciliano. Sua meta agora é a de incentivar uma árvore para cada habitante do País. “ A casa que tem harmonia tem também um cheiro de sejam bem-vindos”, ensina Solano no seu livro Casa Natural, com receitas de Dona Francisca a faxineira “sabe tudo “, onde apresenta receitas que foram publicadas na revista Bons Fluídos, da editora Abril. Muitas delas, Carlos Solano ensinou em seu curso no Rio, que foi organizado pela tera-

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Carlos Solano:

Um arquiteto que resgata o

Sagrado no que faz

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anunciou a chegada de Jesus Cristinho rege a entrada da casa, oferte a pureza de uma aroma de rosas ou flores brancas. Samuel arcanjo guerreiro cuida das necessidades básicas como proteção e sobrevivência, uma pedra granada e um cheirinho de cravo podem ser oferecidos a este arcanjo pedindo forças para se livrar de tudo que nãos erve mais. A quem ficou decaído ou amolado, Rafael consola e dá certeza de amparo divino, rosas amarelas e cheirinho de lavanda agradam o arcanjo. Saquiel preza a caridade, um jasmim cheiroso abrem as portas para sua visita. Anael traz beleza e alegria, enchei a casa de canções e enfeite com lírios azuis. Cassiel governa os bens materiais e objetos cor de terra são bem vindos para recebê-lo. Miguel é a verdade e a luta deste Arcanjo, ensina Solano, é contra tudo que nos distancia da grandeza de Deus*.

peuta Márcia Côrtes Duarte, e ainda contou com a participação especial de Fernando e Tantinha, raizeiros e benzedeiros. Uma das primeiras lições que Solano ensina é limpar o ambiente. Para realizar um “limpa tudo” caseiro, devemos reunir meio litro de água, quatro colheres de vinagre branco comum, duas colheres de chá de bicarbonato de sódio e gotinhas de limão. “É um super curinga da limpeza caseira, uma fórmula simples e econômica que ajuda na remoção das gorduras e desinfeta, pois o vinagre é um ácido. Se não tiver limão, use erva cidreira ou eucalipto. Para dar espuma, é só acrescentar um pouquinho de detergente biodegradável (é só ler no rótulo). O vinagre pode ser usado para eliminar odores da casa e manchas. O próximo Curso Casa Natural será em Belo Horizonte. Destralhar a casa para se encantar a vida Tudo que acontece fora deve também acontecer dentro da gente. Outro ensinamento importante é fazer a terapia do “destralhamento”. Conforme garante Solano, “a saúde melhora, a criatividade cresce e os relacionamentos se aprimoram. Conforme preconiza o Feng Shui, confirma o arquiteto, é comum a pessoa se sentir cansada, deprimida, desanimada em

um ambiente cheio de entulho. “Pois existem fios invisíveis nos ligando aquilo que possuímos e uma das pergunta que devemos nos fazer é: por que estou guardando isso? O que vou sentir ao liberar? Depois de “destralhar”, Solano orienta que se jogue sal grosso nos ralos, ponha um prato com carvão no quarto que tira cheiros e fluídos ruins e deixe um ramo de boldo num copo com água para purificar a casa”, orienta Solano. Liberar as mágoas, parar de fumar, terminar projetos inacabados, diminuir o consumo de carne ou eliminar o uso da carne. E arremata coma as sábias palavras do evangelho de Tomé “se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará. Se não deixas sair o que está em ti, o que está em ti te destruirá”. A Casa deve estar sempre pronta para receber a visita de um anjo outra orientação do curso Casa Natural é abençoar a casa. Segundo Solano, na cultura popular das benzedeiras, devemos ter uma casa sempre preparada para receber a visita de um anjo. Isso requer muito zelo e carinho com todos os cômodos e, mais ainda, com as pessoas que vivem na casa. Conforme diz dona Francisca, o idioma dos anjos não é feito de palavras mas de perfumes e cores. Gabriel que

Gratidão atrai satisfação Solano garante que satisfação existe mas depende da gratidão. Segundo ensina, um pensamento de gratidão pela casa que nos acolhe do frio, das tempestades, o alimento que nos traz saúde e os amigos que nos trazem a certeza de sermos presença, muda tudo e traz alegria de viver. Pois como ele mesmo diz “a coisa mais importante da vida é a vida”. Ele nos ensina que temos três casas: a casa corpo, a casa casa e a casa planeta. “E devemos dar atenção a todas elas”. Além dos livros e cursos que ministra, Carlos Solano promoveu o Empório Casa Natural, em Belo Horizonte, reunindo e expondo objetos raros e delicadezas feitas à mão e com amor, voltados para a casa e uso pessoal., com vivências e receita do “bem viver”. No livro que escreveu, em parceria coma paisagista Sandra Siciliano, “ Nossas Árvores e o Resgate do Sagrado”, Solano ensina que não basta homenagearmos as árvores, precisamos cultivá-las. E foi assim que nos presenteou com mudas de ipê. E finalizou nos ensinando que “ os ipês são árvores especiais, contemplá-las é como fazer uma oração”. Saímos do curso em estado de graça. (*) Todas essas orientações estão no livro Casa Natural: receitas – volume 1/ Carlos Solano; ilustrado por Débora Damasceno e Marina Nabuco Leva – Belo Horizonte: Ed. Do Autor, 2014.

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Turismo

A magia das canções de amor em Conservatória Por Deolinda Saraiva, Especial para Plurale De Conservatória (RJ)

Entrar em Conservatória pelo Túnel que Chora é como atravessar um portal para chegar a um lugar mágico, em que a música, a gentileza e a tranquilidade escolheram para morar. Resquícios da história do Brasil colonial recebem o visitante já nessa travessia, observada nas paredes rústicas do túnel, cavado pela mão dos escravos para dar passagem à linha férrea, inaugurado por D. Pedro II. Foi dos cascalhos de pedra dali retirados que se fez o pavimento das ruas de pé-de-moleque que compõem a arquitetura da cidade. Para chegar ao seu nome definitivo, esse pequeno enclave nas serras do Sul Fluminense passou por outros batismos. Primeiro, foi a Conservatória dos Índios Araris, assim chamada a partir de uma sesmaria ali autorizada por D. João VI no século 19 para abrigar uma tribo de índios. Os Araris eram originários de Valença, viviam em guerra com outras tribos, e foram deslocados pela administração da Coroa Portuguesa ao serem abertos os primeiros caminhos para o desenvolvimento da cultura cafeeira no Médio Paraíba. Depois, foi fundado o Curado de Santo Antonio, e o vilarejo passou a se chamar “Santo Antonio do Rio Bonito”. Em mea-

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dos do século 20, por haver cidades com o nome de Santo Antonio no estado, foi-se buscar nomes de origem. Não existiam mais os Araris, mas Conservatória – palavra de origem portuguesa, que até hoje designa tipo de cartórios em Portugal para registro de populações e documentos – ficou como o nome definitivo. Festa de 137 anos de seresta Conservatória é um dos mais antigos distritos de Valença, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, e tem sua arquitetura colonial característica do século dezenove tombada pelo patrimônio histórico municipal. O vilarejo tornou-se nacionalmente conhecido pelas serenatas que promove sob suas noites estreladas. Há versões diversas para a cultura seresteira. Uns falam de músicos que acompanhavam a Coroa e se apaixonaram pela vila ou namoraram as moças locais e lá ficaram tocando nos saraus de época. Outros contam sobre um violonista que criou a tradição de tocar em noites enluaradas e passou a ser acompanhado por outros músicos. O que importa é que, no dia 30 de

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maio, no Aniversário do Seresteiro, serão comemorados 137 anos de tradição seresteira em Conservatória. É um dos eventos mais importantes do vilarejo. A cidade das serestas – tocada em ambientes fechados - e das serenatas (apresentada nas ruas, sob o sereno) também oferece uma paisagem de vales, rios e pequenas reservas de Mata Atlântica, com ipês, quaresmeiras, espatódias, paineiras e diversas espécies que deslumbram o olhar do visitante. Outro atrativo é a segurança e tranquilidade sentidas por todo lugar em que se passa. Não há desemprego em Conservatória, porque o turismo ocupa intensivamente a mão-de-obra local. Talvez por isso, não há crianças abandonadas nas ruas, flanelinhas, pedintes ou favelas, nem mesmo grades nas janelas. E os índices de criminalidade são praticamente nulos. Assim, você pode caminhar tranquilamente pelas ruas nas madrugadas frias de Conservatória sem sentir medo de seu semelhante, coisa rara em cidades turísticas próximas de grandes centros. A música que transpira por todo o vilarejo, as placas que relembram antigas canções de amor afixadas na porta das casas, as rodas que se formam nas ruas para relembrar serestas, sambas-canção, chorinhos ou bossa nova... tudo isso faz de Conservatória um lugar de pessoas gentis e solidárias, de comerciantes que batizam seus negócios inspirados pelo amor das antigas canções, como “Sonho Meu”, “Dó-Ré-Mi”, “Além do Horizonte”, “Bela Cigana”, “Lua Branca”, “Melodia” ou “Serenata de Amor”. É um lugar para onde se tem vontade de sempre voltar.


Guilherme de Brito e Tito Madi fizeram a música “Canção para Conservatória”, que bem define essa paixão. “Conservatória, meu amor, Quando eu partir por onde for Hei de lembrar teus violões, tuas estrelas, teu luar E essa flor que a saudade já semeou dentro de mim Ao regressar vou te ofertar para enfeitar o teu jardim. E quando alguém te visitar, eu acho que deves falar Que eu estou apaixonado e diz por quê Eu posso um dia te deixar, mas vou querer levar pra mim Teus violões, tua seresta e o teu jardim. Se não puder, quero ficar pra amar teu céu, beijar teu chão. Conservatória onde perdi meu coração.”

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cidade, de clima seco e frio, fica a 600 metros de altitude e sua temperatura média é de 20 graus. Mesmo no verão, as noites de Conservatória são frescas e agradáveis. Conservatória é distrito de Valença, de onde dista 30 km. Está a 25 km da divisa de Minas Gerais, fica a 160 quilômetros do centro do Rio de Janeiro e a 480 quilômetros de São Paulo. Turismo tem ufologia, história e poesia Serra da Beleza – Com 1,2 mil metros de altitude, oferece uma deslumbrante vista da serra da Mantiqueira. É um encontro inesquecível com a natureza, com o canto dos pássaros e com o misticismo do lugar. Ufólogos e estudiosos garantem que, nas noites estreladas de lua nova, misteriosas luzes circulam pelo vale, surpreendendo os visitantes.

Clima seco e frio Ponte dos Arcos – Construída durante a colonização para dar passagem à Maria Fumaça, que hoje repousa como relíquia no centro histórico. É uma imponente construção com dois arcos, constituída por grandes blocos de pedras ligados por óleo de baleia. Fazenda Santa Clara – Já em Minas Gerais, distante 34 quilômetros de Conservatória, a fazenda foi o cenário da novela Terra Nostra. Com quase 200 anos, tem 365 janelas e 3 andares em pau a pique, foi a única fazenda do Brasil a se tornar um local de reprodução de escravos, segundo documentos em posse dos herdeiros. Ainda conserva a senzala e o pelourinho originais. Fazendas São João da Prosperidade e Taquara – Abertas à visitação para grupos, as duas estão localizadas no município de Barra do Piraí.

Arte e poesia – É importante conhecer a “Casa do Poeta”, com saraus de poesia e exibição de aquarelas; a Casa D’Arte, de esculturas de santos barrocos em papel; o Museu Vicente Celestino, com discos, roupas e peças do cantor; e o Museu da Seresta, hoje instalado na Casa da Cultura. Onde ficar, o que provar Há várias opções de hospedagem na cidade, entre elas Pousada D’Amoras (telef. 24-2438-0044 WhatsApp 24-988621699, site WWW.pousadadamoras.tur. br), Pousada da Figueira (tel. 24-24380125 www.pousadadafigueira.com.br) e Hotel Fazenda Prosperidade (tel. 24-24380124, WWW.hotelfazendaflorenca.com. br) . Recentemente, a Pousada D’Amoras abriu um restaurante anexo, o Bistrô 88 (tel. 24-2438-1699 ou 24-99983-5829), com pratos de bacalhau, escondidinho, cozido, saladas, massas e pizza.

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Ecoturismo

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isabella araripe

W Parque Nacional da Ibitipoca é o mais visitado de Minas Gerais O Parque Estadual do Ibitipoca é o mais visitado de Minas Gerais, um dos mais conhecidos do Brasil e a principal atração da região. Ele está localizado na Zona da Mata, nos municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca. Com uma área de 1.488 hectares, a unidade de conservação ocupa o alto da Serra do Ibitipoca, uma extensão da Serra da Mantiqueira. A fauna é rica, com a presença de espécies ameaçadas de extinção, como a onça parda, o lobo guará, entre outros. O Parque possui portaria, estacionamento, área de camping, restaurante, Centros de Visitantes, de Administração e de Pesquisas, casa de hóspedes e alojamentos destinados a pesquisadores e funcionários. Nos dias úteis o ingresso custa R$ 10,00 e aos finais de semana e feriados o preço é R$ 20,00.

Travessia das Sete Quedas será aberta em junho

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A temporada 2015 da travessia das Sete Quedas, que integra o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO) e é administrada pelo ICMBio, será aberta dia 9 de junho. A data da abertura poderá ser alterada, dependendo do nível do Rio Preto. Responsável por proteger uma área de 65.514 hectares de cerrado de altitude, o Parque possui formações vegetais únicas, centenas de nascentes e cursos d’água, além de paisagens de rara beleza, com feições que se alteram ao longo do ano. O Parque também foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO, em 2001. A partir de 11 de maio as reservas poderão ser feitas pelo site Ecobooking (http://www.ecobooking.info/). Para mais informações ligue (62) 3455-1114.

Maior faixa de praia da América do Sul: Barra do Chuí Noronha é eleita uma das ilhas mais belas do mundo Uma curva do Rio Chui, no Rio Grande do Sul, é o ponto mais ao sul do país. O curso d’água funciona como divisa entre o Brasil e o Uruguai e desemboca no Oceano Atlântico, junto à Praia da Barra do Chuí. Uma das atrações da região de fronteira é o Farol da Barra, com 30 metros de altura e conhecido como o último posto brasileiro. Na Barra do Chuí começa a maior extensão de praia da América do Sul, com 254 quilômetros, uma faixa de areia que segue até a praia do Cassino, no município de Rio Grande (RS). Um dos pontos mais conhecidos da praia é onde ficam os restos do Navio Altair, que encalhou na beira da praia em 1976, após uma tempestade, e acabou incorporado à paisagem do litoral gaúcho.

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O Brasil apareceu, pela primeira vez, entre os destinos com as melhores ilhas do mundo. O feito foi conquistado por Fernando de Noronha, que aparece na 10ª posição do prêmio Travellers’Choice 2015, realizado por um dos maiores sites de viagem do mundo: o Trip Advisor. A pesquisa leva em conta avaliações de usuários que visitaram ilhas brasileiras e estrangeiras nos últimos 12 meses. O Travellers’Choice 2015 também elegeu os arquipélagos da América do Sul. Nesse caso, Noronha (PE) lidera a lista, seguida de Ilha Grande (RJ), com Boipeba (BA) na décima colocação. Dados de julho do ano passado mostram que a rede social recebe 3,6 milhões de visitas na versão brasileira do endereço eletrônico. O prêmio também elege os hotéis, os restaurantes, as atrações, as praias e os destinos mais bem avaliados pelos colaboradores - e o Brasil aparece entre os mais votados em todas as categorias.Noronha é eleita uma das ilhas mais belas do mundo

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Os principais temas que impactam as Relações com Investidores, você encontra em uma só revista: na RI

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Pelo Mundo

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água e a vida no continente africano

Num dos países mais secos do mundo, a busca pela água nos ecossistemas da savana e do deserto é a garantia da vida Texto e fotos por Hélio Rocha, Especial para Plurale Editor do Portal Pautando Minas http://www.pautandominas.com.br

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omo recuperar o ecossistema de um país pobre, onde é escassa a provisão de água, e por décadas populações foram segregadas e passaram fome? A preservação da biodiversidade africana, empreendida por diversas entidades de todo o mundo, encontra na realidade social e na severidade do clima do continente alguns de seus principais obstáculos. E um desses principais desafios está na conservação dos recursos hídricos e naturais da savana e do deserto, biomas que dominam amplos territórios no Sul do continente. Sempre tive interesse pela África e por colaborar, de alguma forma, com a conservação daquele que cresci vendo ser nomeado, na TV, como “continente perdido”. Por isso, aceitei o desafio de dar aulas para crianças numa escolinha destinada à tribo bushman, numa entidade chamada Naankusé, na Namíbia. Acabei inserido num contexto de luta pela preservação de todo um modelo de vida diferente do ocidental.

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A vida na Namíbia depende de um valor inestimável, a água, e a recuperação das tribos e dos ecossistemas onde elas vivem, depredados por anos de colonização branca, depende da manutenção dos recursos hídricos. A integração com a vida animal Naankusé tem por princípio conservar fauna, flora e populações tribais. Das unidades dispersas pelo país, trabalhei em duas: Naankusé, a unidade principal e a primeira da organização, e Kanaan, situada no deserto de Namib, ao Sul, que dá nome ao país. Ambos os locais têm algo em comum: a baixa disponibilidade de água. A entidade mantém dezenas de espécies em seus territórios. Dos pequenos a animais de médio e grande porte, como oryx, kudus, babuínos e predadores como chitas e leopardos. A maior parte dos animais transita livremente nos limites da reserva, onde estão seguros. Alguns, no entanto, ainda não estão recuperados para a vida selvagem e ficam nos limites da sede da fundação, onde são cuidados por biólogos, nativos da tribo bushman e voluntários.

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Cheguei para trabalhar na escola que a entidade mantém para as tribos. Minha proposta era trabalhar com crianças, ajudá-las a estudar, dar uma pequena contribuição ao desenvolvimento de um país. No entanto, a surpresa que os próprios pequenos lhe revelam, quando se chega para ajudá-los, é de que a cultura ocidental será apenas uma opção, junto ao conhecimento que eles já carregam dentro de si: a relação das crianças com a natureza, as histórias de seu povo e seu país, a luta por décadas pela soberania numa terra árida. “Muito sangue foi deixado nesse país pelos colonizadores, mas hoje somos um país livre. Somos pobres, mas somos livres”, disse-me a professora Hylma. De fato, muitas mortes marcam a história da Namíbia. Na verdade, um genocídio, no início do século XX, quando o chefe Hendrik Witbooi, do povo nama, uniu seus pares para combater a dominação alemã que perdurava desde o século XIX. Massacrados pelo poderio bélico alemão, os povos nama e herero foram desimados. Deixaram, porém, ao país o mito


fundador da resistência ante os colonizadores, até a independência, em 1990. Desta forma, duas semanas se passaram naquela escola. Matemática, inglês, religião, tudo era ministrado pela professora, com a minha ajuda diária, em inglês. Os meninos falam, ainda, africâner e o idioma bushman. Daqueles dias, destacou-se o quanto cada criança, mesmo aos cinco anos, conhece sobre babuínos, zebras, chitas, kudus. Alguns têm medo de um bicho, outros se sentem íntimos do mesmo, e assim todas convivem com as criaturas da savana como se fizessem parte de um todo: o grande ecossistema africano. E a certeza da escassez da água neste ecossistema eu teria em minha terceira semana, quando fui convidado a trabalhar em Kanaan, uma reserva recém-fundada, que estava sendo recuperada para receber a vida selvagem e as tribos nômades. Lá, antes uma fazenda, as espécies tinham sido extintas pelos caçadores, e restava aos biólogos e voluntários mapear a área para trazê-las de volta.

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Pelo Mundo

A busca pelas “árvores da vida” Seis horas de viagem numa velha Toyota Outlander 1987, cruzando, inicialmente, a savana africana, que em seguida dá lugar, gradativamente, às dunas e descampados do deserto de Namib, encerrados ao longe por escarpas e montanhas. Assim fizemos o caminho até Kanaan. Eu, Karl, o biólogo responsável, mais três voluntários, apenas. Embora destruída em sua vida natural pela caça predatória, a fazenda de Kanaan é o que se pode chamar de santuário. Plano, vazio, apenas com as montanhas ao fundo e uma imensa estepe amarelada. Outrora um local habitado por todos os tipos de manadas e predadores do Sul africano, hoje Kanaan é praticamente desabitada. Mas cabe à instituição recuperar o território, e nossa missão era encontrar os pontos por onde passam os animais. A busca, como nos informou Karl, “parte da identificação de locais onde haja poços de água, muitos deles já estabelecidos pelos antigos fazendeiros, mas destruídos pelos anos de abandono”. No vasto deserto de Namib, a vida depende desses pontos onde há água, que justificam a existência das inúmeras espécies de animais de médio e grande porte numa área dominada pela vegetação seca e rasteira. E a maioria dos

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poços, como nos explicou o biólogo, estava próxima a árvores centenárias capazes de conservar, no subsolo, água que fora depositada ali pelas chuvas, décadas atrás. A principal delas era o Camelthorn, ou “árvore da vida”, uma impactante figura de tronco seco e galhos retorcidos, que é apontada pelos nativos como a grande guardiã da vida no deserto. Junto a elas há poços, perto de onde poderíamos instalar as câmeras com sensores de calor. Foram horas de caminhadas para encontrar estes locais na fazenda, instalar as câmeras, marcar o ponto no GPS e voltar, aguardando alguns dias para saber o que a câmera flagrou.


Foram encontrados animais que, à noite, se aproximaram para beber água. Oryx, gazelas e hienas passaram por ali. “As hienas e as chitas são predadores naturais deste ecossistema, embora ainda sejam raros por aqui, que hoje é apenas um ponto de passagem para grandes manadas”, nos explicou o biólogo. Um passo, no imenso trabalho de se recuperar a vasta área degradada pela caça predatória. Ao fim de uma semana e com o retorno a reserva principal, uma certeza: no clima seco do deserto, a água torna-se ainda mais o sustento da vida. O retorno e a nova compreensão A volta à reserva principal permite compreender o quanto a escassez de água é a principal dificuldade para se dar qualidade de vida às populações do continente. Mais alguns dias dando aula para as crianças e, certa vez, fui conhecer o lugar onde elas viviam. Casas de estrutura simples, intercaladas por caminhos de chão e varais que se entrecruzam interminavelmente com as roupas coloridas dos africanos, formando uma festa de cores. Contundo, a água é pouca, e preciosa, o que se percebe nas mulheres que enchem balde numa torneira coletiva, no esgoto que sai pelos fundos das casas e passa por onde as crianças, inocentemente, brincam umas com as outras. A emergência da qualidade de vida na Namíbia ainda é dependente da criação de estruturas para o provimento de água, algo que o Estado e as organizações que lá atuam ainda são incapazes de garantir com qualidade. A volta ao Brasil se deu na consciência de que a água é um de nossos bens inestimáveis, um dos alicerces do nosso futuro com qualidade de vida para todos.

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Fotografia

Tubos

a possibilidade de encontrar o desconhecido Wilson Aguiar, fotógrafo brasileiro radicado na Austrália, expõe fotos em diversos paraísos naturais, como Brasil, México, Indonésia e destinos australianos Por Marina Guedes, Especial para Plurale De Sunshine Coast, Austrália

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té o início de maio, imagens que tem como foco as ondulações muito apreciadas por surfistas profissionais (popularmente chamadas de “tubos”) serão o foco da exposição assinada pelo fotógrafo brasileiro Wilson Aguiar. Paulistano, ele tem como paixões (além da família), a gastronomia, viagens e os esportes radicais: skate e surfe. Aos 35 anos - sendo 21 deles bem aproveitados no mar em diversos paraísos naturais como Brasil, México, Indonésia, além de diversos destinos australianos Wil conta que as fotografias escolhidas para sua exposição trazem, em sua maioria, cenas onde o meio ambiente é protagonista. “Minha ideia é mostrar algo que a natureza possui de mais espetacular, limpo, sem a interferência do homem”.

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A galeria escolhida para sua exposição intitulada “Tubes: the possibility to meet the unknown” (em Português: “Tubos, a possibilidade de encontrar o desconhecido”) fica no país que escolheu para viver ao lado da esposa e filha: Austrália. O local situa-se na University of the Sunshine Coast (Universidade da costa onde o sol brilha), no Estado de Queensland. Acertou quem deduziu que por aqui o sol brilha, sim, praticamente o ano todo. Em seu trabalho, a mistura de cores e enquadramentos inusitados impressiona. Mas Aguiar explica que parte do acervo escolhido para a exposição inclui imagens em preto e branco também. A abertura ocorreu dia 26 de março, com a presença de músicos violinistas para compor o ambiente da arte de retratar as ondas pelo fotógrafo. Atualmente, o brasileiro que tem no currículo o título de campeão na modalidade júnior em skate no Brasil (em

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1992), divide seu tempo entre o portal recém lançado de fotos publicitárias (willartphotography.com), estudos e, obviamente, momentos dedicados à fotografia externa. “Busco sempre enquadramentos diferentes, sem interferência de recursos visuais nas fotos que faço”. Em entrevista que concedeu a um jornal local da região de Sunshine Coast, Wil recomendou aos que buscam inspiração na arte de fotografia, que sigam sua paixão e registrem imagens de temas com os quais se identifiquem. “A possibilidade de registrar o desconhecido é o que me motiva na fotografia”, pontua o artista. Para conhecer mais sobre o trabalho de Wilson Aguiar, confira sua página no Facebook: www.facebook.com/willartphotography. O link para o seu site de fotografia é: http://www.willartphotography.com/


Fotos de

wil aguiar

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Viagem

Torres Del Paine:

lindas e de personalidade forte Texto e Fotos por Danilo Vivian, Especial para Plurale

As Torres del Paine, na Patagônia, são um patrimônio nacional do Chile. Suas imagens ilustram anúncios em ônibus que circulam por Santiago, rótulos de cerveja e as notas de mil pesos. 50

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eologicamente falando, são três picos bem definidos, em granito cinza-azulado. Na mesma cadeia, ficam os Cuernos, conjunto de picos em forma de chifres em granito cinza-claro e rocha sedimentar, escura, formando um efeito-camada. O maciço todo se ergue a três mil metros, formando paredões impressionantes. Abaixo, a água de degelo forma lagos em tons de verde e azul. Essa beleza atrai gente do mundo todo para um dos trekkings mais famosos do Planeta, o circuito W, percorrido em quatro dias, com hospedagem em abrigos ou campings. Pude realizar o sonho de fazer essa trilha com minha esposa, Renata, no natal. Chegamos ao abrigo Las Torres, o primeiro, dia 23 de dezembro. Quem está acostumado ao conforto de hotéis pode estranhar a simplicidade de um refúgio. Não há privacidade. Banheiros, só compartilhados. Nosso quarto, minúsculo, era composto por três beliches e muito equipamento: botas, mochilas, bastões de caminhada e quinquilharias que tínhamos de encontrar espaço para acomodar. Longe do ideal de férias da maioria das pessoas, mas de fazer brilhar os olhos de quem ama atividades outdoor. Primeiro dia: Refúgio Las Torres – Mirador Torres del Paine Levantamos às 08h e fomos para o refeitório, já lotado de trekkers. Tomamos

um café, preparamos a mochila e saímos. Como faríamos um bate-volta até o Mirador das Torres, optamos por levar uma mochila leve com equipamentos básicos, deixando as cargueiras (com 12 quilos de equipamentos cada) no abrigo. Isso nos daria agilidade e pouparia energia para o dia seguinte, quando caminharíamos com carga completa. A trilha começa em um trecho plano, cortado por riachos que atravessamos por pontes suspensas. Depois de dois quilômetros, dá uma guinada para a direita e tem início uma forte subida com pedras soltas e ventos fortíssimos, característicos da região – segundo os guias de trekking, podem atingir mais de 100 km/h. As torres são como algumas mulheres: lindas, mas de personalidade forte. Avançávamos lutando contra o vento e o frio (10 graus), deixando para trás trekkers mais lentos. A trilha vai subindo, deixando cada vez mais abaixo, um vale cortado por um rio de degelo. Uma hora e meia de caminhada e avistamos no fundo do vale o El Chileno, abrigo mais isolado do Parque. Ali só se chega por trilha e o abastecimento é feito da maneira mais antiga que existe: em lombo de burro. Descansamos por 20 minutos, enchemos os cantis e seguimos. Passado o abrigo, a trilha desemboca num bosque, chegando, por fim, a um descampado no ataque final às Torres. O cenário lembra o de expedições de alta montanha: o vento fica insuportável e pedras enormes dificultam o

avanço. Formam-se congestionamentos. Trekkers em jaquetas da North Face discutem a melhor forma de superar os obstáculos. Imagens que me traziam à mente cenas do livro No ar Rarefeito, de Jon Krakauer, maior autor nesse assunto. Com a habilidade adquirida em trilhas aqui no Brasil, passamos alguns grupos e atingimos o mirador, ponto final da trilha. Ali, um lago verde-esmeralda avança até uma imensa plataforma de granito coberta de gelo, acima da qual se assentam as Torres. Um sonho realizado. Ficamos ali meia hora e iniciamos o retorno. Três horas depois estávamos de volta ao abrigo. Era noite de Natal e brindamos com gente do mundo inteiro aquela data especial. Meu desejo de natal se realizara um pouco: confraternização entre povos e respeito pela natureza. Abrigo Torre Central – Refugio Los Cuernos – Abrigo Paine Grande Comparado com a subida das Torres, o segundo dia seria uma caminhada de criança: apenas 13 quilômetros e 100 metros de desnível. Por isso, dormimos um pouco mais em nosso quarto lotado e caímos na estrada às 10h. Vencemos algumas subidas mais chatas, três ou quatro pontes suspensas, e antes das 13h estávamos no abrigo, aos pés dos impressionantes Cuernos. Baixamos as pesadas mochilas, tiramos as botas e ficamos ali, aproveitando o sol pra bater papo com gente que conhe-

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Viagem

cemos na caminhada: Cecile, uma alemã que vivera no Xingú; Rodrigo e Andressa, casal de Franca-SP; Andrea, italiano que adora o Brasil; Paul e Jaime, casal de velhinhos que têm no currículo a lendária Appalachian Trail, trilha da costa leste dos Estados Unidos, com 3.500 quilômetros. No meio da tarde, o tempo fechou, nos obrigando a ir dormir mais cedo, poupando energia pro dia seguinte. O vento balançava o abrigo e o dia amanheceu frio (5 graus) e chuvoso. Mas não havia escolha. Tomamos café, colocamos capas de chuva nas mochilas e partimos. No primeiro trecho, uma praia de pedregulhos à beira do Nordenskjold, cravávamos nossos bastões no chão, lutando para nos manter em pé frente à força do vento. Caminhar assim, em contato direto com as forças da natureza e sem a proteção de fortalezas de aço, vidro ou tijolo, remete às nossas origens mais primitivas. Isso fascina qualquer aventureiro. Após uma hora de trilha, chegamos ao acampamento Italiano, um bosque com umas 20 barracas, cinco banheiros fedorentos e um posto de guarda da Conaf, o Ibama chileno. Dali, faríamos um bate-volta ao Mirador Francês, ascensão de mais de 800 metros. Repetimos a estratégia de deixar o equipamento pesado (que ficou no posto da Conaf) e subir com uma mochila pequena. A trilha sobe por bosques, acompanhando o vale. Em certos pontos, mal se nota que a inclinação aumenta rapidamen-

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te. Talvez por isso, minha energia foi acabando sem que eu percebesse e meu ritmo caiu. Por sugestão da Renata, paramos pra descansar e comer. Voltamos a caminhar e a energia se esvaia do meu corpo; sentia que iria desmaiar. Mas nessas situações, vale o condicionamento psicológico. Repetia mentalmente algumas das minhas façanhas, como concluir a Serra Fina, trilha considerada a mais difícil do Brasil e pedalar durante uma hora com câimbras numa

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Corrida de Aventura. Aos poucos, retomei o controle e chegamos ao Mirador, de onde se avista um enorme vale nevado e as Torres del Paine, mas por outro ângulo. Descansamos meia hora e iniciamos a descida, pois ainda tínhamos 15 quilômetros pela frente. Recuperado, ‘empurrei’ a Renata e a Cecile (que nos acompanhava), descendo o mais rápido que conseguia. Chegamos ao acampamento Italiano, pegamos nossos mochilões e seguimos para


o refúgio Paine Grande. A partir dali, a trilha torna-se plana e segue margeando três lagos: o Nordenskjold, o Scottsberg e Pehoé, em cujas margens fica o abrigo Paine Grande. Depois de 10 horas de trilha, chegamos ao refúgio. Comemoramos com um pisco sour, drink típico do Chile. Fomos para o nosso quarto de três beliches e caímos na cama. Quarto dia - Refugio Los Cuernos – Glaciar Grey Mais um dia de bate-volta; iríamos até um mirante de onde se avista o Glaciar Grey (terceiro maior do mundo, atrás da Antártida e da Groenlândia). De lá, voltaríamos para o abrigo e atravessaríamos o lado Pehoé de catamarã até a entrada do Parque, onde a aventura chegaria ao fim. A caminhada começa por um vale cercado de montanhas baixas e sobe para cruza-las, chegando a uma pequena lagoa. Em seguida, cruza outro morro chegando ao lago Grey, de águas cinzentas e salpicado por icebergs formados pelo descolamento de placas de gelo do glaciar. Esse processo se acelerou com o aquecimento global. Após três horas, chegamos a uma colina de onde se avista o glaciar, nosso ponto final. A vista é impressionante. Fiquei ali, contemplando a paisagem, alheio às fotos de outros trekkers, imaginando

como seria antes do aquecimento global, ou na Era glacial. Descansamos e pegamos a trilha para nossa última perna no percurso. Após sete horas de caminhada, chegamos de volta ao Paine Grande. Tiramos várias fotos formando, com os braços, um ‘W’. A aventura estava terminando. Algumas pessoas consideram fazer uma trilha como essa um ato de coragem. É possível. Caminhar 80 quilômetros sob chuva, vento e frio injeta uma considerável dose de autoestima em qualquer pessoa. Há também um componente de consciência ambiental; aventureiro se preze sabe que suas ações no dia-dia, longe da trilha, podem ter impacto nesses cenários, derretendo um glaciar, por exemplo. Nesse sentido fazer o W foi educativo. Mas, mais que tudo, estar nas montanhas significa ter contato com nossos instintos e nos sentir vivos.

Serviço Para chegar ao Parque Nacional Torres del Paine, é preciso pegar um voo de Santiago até Punta Arenas – duas empresas fazem o percurso, a LAN (www. lan.com) e a Sky (www.skyairline.cl) e depois ônibus até Puerto Natales (Buses Fernandes www.busesfernandez.com). De lá, tomar outro ônibus até o Parque – Buses Pacheco (www.busespacheco. com). As empresas que administram os refúgios são a Fantástico Sur (Torre Central, El Chileno e Cuernos - www.fantasticosur. com) e a Vértice (Paine Grande - www. verticepatagonia.com). Pelos sites, é possível reservar abrigos e espaço para camping. De maio a setembro, na baixa temporada, a maioria das trilhas permanece fechada.

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Bazar ético

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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

Mulheres da Reserva trabalham com design Luminárias com design são o carro-chefe de artesãs da Reserva Botânica, localizada no distrito de Gaviões, município de Silva Jardim (RJ). Acostumadas com a lida no campo, as mulheres passaram a conhecer a nova atividade há três anos. A jovem Cecília Freitas passou a administrar a fazenda da família e começou a pesquisar com uma amiga – a sócia Mônica Castedo – uma placa de fibras vegetais, oriunda de resíduos de produção agrícola, o VegPlac. “Ficamos um bom tempo pesquisando esse produto que seria, inicialmente para revestimento de interiores. Não foi fácil. Um final de ano, já sem dinheiro, resolvemos que precisávamos fazer objetos e vender alguma coisa. Fizemos as primeiras luminárias de nossa empresa, a Kaapora Design e com as aparas fizermos uma oficina criativa com nossas funcionárias e criamos alguns mobiles, enfeites de natal, descansos de panela”, conta Cecília. Foi um sucesso: os produtos foram vendidos em bazares e desde então a iniciativa só avançou. Atualmente, sete mulheres da Reserva – que engloba duas RPPNs, a Lençóis e a Quero-Quero- estão envolvidas na produção de objetivos de decoração que podem ser encontrados na Rede Asta e no Bazar da Chácara. A Kaapora

Design faz os contatos comerciais para que as produtoras escoem os produtos. Até mesmo a comunicação é difícil: na região, telefone é raro e internet não funciona. Os resultados do trabalho são inegáveis. Cecília se orgulha: “O mais gratificante é escutar a diretora da escola local dizer que não precisa se preocupar com as crianças da Reserva Botânica, pq nada falta. Do sapato ao livro. Isso mostra que nossa ideia inicial estava certa. Quando o pai ganha um dinheiro extra, compra uma moto. Se é a mãe, investe na formação dos filhos.” S ER V I Ç O https://www.facebook.com/pages/Kaapora-Design/679691162061161?fref=ts https://www.facebook.com/bazarchacara http://www.redeasta.com.br/

• Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.

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29 de maio das 8h30min às 18h

Palestrantes confirmados Palestra de Abertura

Painel 1 - Storytelling no envolvimento do público interno

“Storytelling: aspectos de uma comunicação inclusiva, participativa e envolvente”

Santander “Storytelling em Quadrinhos”

Com Rodrigo Cogo, Gerente de Conteúdo da Aberje e especialista em Storytelling

Painel 2 - Storytelling como estratégia de branding

Painel 3 - A força do storytelling nos projetos de memória organizacional

Volkswagen “Adeus Kombi”

Wilson, Sons “Protagonizando Histórias”

Goodyear “Quilômetros de histórias”

Memória Votorantim “Será uma vez...”

Garanta já a sua inscrição! Espaço Aberje Sumaré Rua Amália de Noronha, 151 - 6° andar - São Paulo/SP Próximo à estação Sumaré do metrô.

www.aberje.com.br/storytelling Apoio:

Realização:


Arte

Quando

mais é menos Jornalista deixa a vida corporativa para se dedicar à cerâmica e à vida no campo. De Curitiba, PR Fotos de Divulgação/ Boitatá

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esde os dezoito anos, a jornalista Daniélle Carazzai teve de se planejar. Aos 21 já era mãe de um filho de três anos, divorciada e o destino a fez tornar-se dona do próprio nariz, das próprias contas e de todas as reviravoltas que a vida adulta nos impõem. Quando chegou aos 30 anos tomou uma decisão que iria mudar de vez sua trajetória: quando chegasse à metade de sua vida, lá pelos 40 anos de idade, iria largar tudo para se dedicar ao que lhe dava mais prazer. Para isso, foi necessário planejar. “A partir desse meu desejo, comecei a traçar objetivos com bem práticos, com prazos e tudo. Como meu marido concordou com minha empreitada, compramos terreno na área rural, construimos uma casa simples, terminamos de pagar o carro e nos livramos de tudo o que não era essencial”, conta. Dois anos antes de pedir demissão de uma grande empresa onde era coordena-

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dora de comunicação, também preparou um sucessor e deu a notícia com alguns meses de antecedência. “A sinceridade sempre foi uma parceira que me abriu portas, fossem elas de entrada ou de saída”, completa. E assim foi, com um frio na barriga e boa dose de coragem. Nesse meio tempo, foi se descobrindo, prestando atenção no que fazia sentido em sua vida e foi na cerâmica que se encontrou. “Eu já gostava de arte e a cerâmica era o que mais me interessava em exposições, então, decidi que iria tentar seguir esse caminho”, afirma. Em dois anos de curso no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, referência nacional em cerâmica artística, desenvolveu seu olhar e sua poética até que, em 2013, abriu a Boitatá Cerâmica Artística. “Meu filho acabou indo morar em Curitiba e o espaço deixado virou meu atelier. Tenho a impressão que a vida cuida da gente quando fazemos as coisas com amor. Tudo se encaixa no tem-

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po e no espaço”, profetiza a artista. E completa, “o apoio da família também é fundamental, financeira e emocionalmente”. Mas ela garante que nem tudo são flores. Segundo ela, para mudar de vida é necessário desapego, uma boa dose de controle emocional e de paciência. “Virtudes que ainda estou desenvolvendo”, garante. Para ela, foi difícil passar de uma vida profissional muito ativa para uma realidade totalmente diferente, onde a natureza dita o ritmo, muito mais lento e natural. Agora, ela caminha como as estações, dá mais valor ao tempo e às relações duradouras, à família, à comida feita em casa, com ingredientes que, por vezes, vêm ali do quintal e até ao dinheiro – que é difícil de conseguir. “Como nunca fui uma pessoa consumista, nem meus meninos, foi mais fácil passar por essa transição. Mas sei que não é pra todo mundo”, comenta. O trabalho agora se divide entre os freelas de jornalismo e as horas modelando


argila, já que ainda não está sendo possível viver totalmente da arte. “No Brasil, ainda são poucas as pessoas que conseguem sobreviver somente do seu trabalho artístico. As pessoas ainda preferem compras em shoppings onde tem de tudo; a cultura de uma peça exclusiva, feita a mão, com qualidade, tem um caminho a percorrer”. Mas ela não reclama. “Pelo tempo que estou no mercado considero que minha obra está ganhando espaço. Tenho em mente que estou sempre aprendendo e o que considero realmente fundamental nesse amadurecimento artístico é a pesquisa, o parar para pensar no que se está fazendo, a criação de uma linguagem própria a partir de percepções e da absorção de todos os fragmentos que vamos encontrando pelo caminho”, reflete. Quando pergunto qual é esse seu caminho, ela me responde de imediato que é o não-objeto. “Não que eu não faça objetos, utilitários, mas eles não são meu foco principal. Eu gosto de desconstruir a partir da arquitetura, uma de minhas inspirações, transformando a argila em uma expressão que, quando pronta, tende naturalmente a causar outras. Não somos mais donos do que fazemos depois do ponto final”, finaliza. Para saber mais sobre a artista: http://danicarazzai.wix.com/boitata facebook.com/ceramicaboitata Instagram: @boitata_ceramica

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P e las Em pr esas

ISABELLA ARARIPE divulgação

Grupo Boticário inaugura exposição que resgata história da empresa

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Grupo Boticário inaugurou em 24 de março a Exposição Histórias Grupo Boticário, que reúne o acervo da memória da companhia no mesmo local em que foi construído o primeiro prédio próprio da empresa, em 1982, em São José dos Pinhais (PR). Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário, e Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e presidente do Conselho de Administração, participaram da cerimônia de inauguração. A ação faz parte das comemorações pelos cinco anos do Grupo Boticário e 38 anos da unidade O Boticário. A exposição é interativa, com vídeos e experiências sensoriais que contam a trajetória da empresa, contextualizada com marcos de cada período na história do Brasil. Tudo começa pela década de 70 quando O Boticário começou a produzir seus primeiros

divulgaçã

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Lançamento da grife de bolsas Mimo Meu

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produtos, ainda em uma farmácia de manipulação, no centro de Curitiba. A visitação termina na criação do Grupo Boticário, em 2010, e o lançamento das outras três unidades de negócio, nos dois anos seguintes. Há, também, objetos importantes que contam a história da companhia, como o primeiro molde de ânfora (embalagem de vidro usada em perfumes de O Boticário que se tornou um ícone da marca) e a batedeira de cozinha usada por Miguel Krigsner na primeira farmácia, para misturar as fórmulas dos produtos cosméticos manipulados.

Ecobalsas leva estudantes para passeio ecológico na Barra

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caba de nascer a Mimo meu, grife especializada em bolsas de tecidos e lonas, com foco em design, estampas diferenciadas e ótimos preços. “Este é um sonho realizado”, conta Lili Ribeiro, ex-funcionária de carreira da Vale que aposentou-se e depois de mudar-se com o marido para Nova Friburgo, na Serra Fluminense começou a acalentar o projeto de uma grife. Juntou-se à amiga Julie Scott Murray Breder e criou vários modelos de bolsas. A Mimo meu também tem nécessaires e itens que podem ser feitos sob medida para eventos e empresas. Maiores informações: http://mimomeu.iluria.com/ PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2015

m cinco anos, a Ecobalsas - empresa especializada em transporte lacustre - já levou mais de 16 mil alunos de escolas particulares do Rio de Janeiro para o passeio ecológico Expedição Barra. Há dois anos, o projeto foi estendido a estudantes de colégios municipais que, sem pagar nada, estão podendo conhecer um pouco mais sobre a fauna e a flora da região e navegar pela Lagoa de Marapendi, na Barra da Tijuca. Mais de 3.600 alunos já foram contemplados nos passeios que acontecem às segundas-feiras e têm roteiros elaborados em parceria com biólogos, educadores e com o Clube Marapendi. “O resultado tem sido muito positivo e gratificante. Por meio de uma prazerosa experiência de navegação, aproximamos as crianças da Lagoa de Marapendi e chamamos atenção para a importância de preservá-la. Elas se mostram muito interessadas em aprender mais sobre esse conjunto natural tão rico, porém pouco explorado e conhecido”, contou Georges Bittencourt, diretor da Ecobalsas. divulgação


ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA ISABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR divulgação

Nova bebida de Del Valle é composta por 100% de suco de fruta

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Coca-Cola Brasil lança, no próximo mês, Del Valle 100% Suco, a linha de sucos prontos para beber da marca com 100% de suco, fibras e vitamina C — elementos que podem ser encontrados na própria fruta. Além de alto valor nutricional, a bebida contém apenas açúcares da fruta e não possui, na composição, corantes e conservantes. Resultado de pesquisas nutricionais ao longo dos últimos anos, a nova linha chega para ampliar a família Del Valle, com a entrada da marca em um novo segmento.

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Os sabores de Del Valle 100% Suco são uva e laranja, em embalagens Tetra Pak de 1 litro e de 250 ml. As bebidas são fontes de vitamina C, um antioxidante natural que contribui para a proteção das células contra os radicais livres. A vitamina C ajuda na formação normal de colágeno, visando a função normal dos ossos, da cartilagem, das gengivas e pele. Também auxilia o metabolismo energético e na absorção de ferro. A fibra alimentar, presente na bebida, é importante para o funcionamento do intestino.

McDonald’s investe em programas sustentáveis

McDonald’s está comprometido com a sustentabilidade, por meio de projetos de economia de recursos naturais e parcerias com seus fornecedores. Os resultados desses esforços da rede podem ser medidos em números e em certificações para a empresa. No Brasil, a Arcos Dourados, operadora da marca McDonald´s no Brasil, tem várias ações de sustentabilidade. Hoje, estacionamentos e drive-thru de 40 restaurantes da marca são iluminados com LED e geram uma economia de até 80% de energia elétrica para cada restaurante. Diante desses resultados a empresa decidiu que a partir do mês de abril todos os restaurantes inaugurados serão equipados com luzes da tecnologia LED. “Promover a proteção dos recursos naturais, biodiversidade e gerar o respeito aos direitos humanos em todas as comunidades onde atuamos está na agenda de temas prioritários da Arcos Dourados”, afirma o Diretor de Sustentabilidade para a América Latina, Leonardo Lima, explicando que a empresa tem ações em vários segmentos, começando por uma eficiente gestão da cadeia de fornecedores, que passam por rígidas auditorias de padrão.

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divulgação

Telefônica Vivo: venda sustentável conquista clientes divulgação

Telefônica Vivo já contabiliza mais de 530 mil assinaturas ativadas via tablet, dentro de seu programa de Venda Sustentável. Todas as lojas próprias da operadora já estão utilizando o sistema, que dispensa o uso de papéis e utiliza o tablet no momento da assinatura do contrato do cliente. Para cada nova aquisição realizada em uma loja própria, costumavam ser impressas pelo menos duas páginas de contrato, mais 13 folhas opcionais referentes às cláusulas do documento. Além de contribuir para a redução de papel, o novo sistema simplifica o processo de venda e permite controle on-line, o que diminui o tempo para ativação dos serviços e minimiza custos com gestão de documentos.

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Frases O jornalista e escritor Eduardo Galeano, falecido recentemente, deixou obra relevante que marcará toda uma geração. O mais famoso livro – “As veias abertas da América Latina” – foi dado como presente pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a 5ª Cúpula das Américas, em 2009. No dia seguinte, já era o segundo livro mais comprado no site Amazon. Confira algumas das frases e trechos de livros marcantes de Galeano. 60

Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.

Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.

“A

utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.

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Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contra vento, e sou o vento que bate em minha cara.” (Em O livro dos abraços. )

O sistema internacional de poder fez com que a riqueza continue se alimentando da pobreza alheia. Sim, as veias da América Latina continuam abertas.” (Em entrevista para Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo)


Estante O Terceiro Templo, por Ivan Sant`Anna, Editora Objetiva, 192 págs, R$ 29,90 Os conflitos em torno do petróleo e as guerras político-religiosas pela posse das terras de Israel e da Palestina parecem cada vez mais distantes de uma solução pacífica. Em O Terceiro Templo, Ivan Sant’Anna relata com maestria os principais eventos políticos que culminaram na Guerra do Yom Kippur, travada entre as forças de Israel e uma coalizão de Estados árabes sob a liderança da Síria e do Egito entre os dias 6 e 26 de outubro de 1973. A entrada dos Estados Unidos na disputa, em defesa dos interesses de Israel, e da União Soviética, ao lado dos países árabes, resultou em um dos momentos de maior tensão mundial, quando a ameaça de uma corrida nuclear tornou-se iminente. O livro expõe de forma clara e concisa a atuação e as estratégias concebidas pelos principais líderes políticos do mundo diante do que se tornou um dos maiores impasses da agenda internacional.

Sirva para vencer – a dieta sem glúten para a excelência física e mental, por Novak Djokovic, Editora Évora, 202 págs, R$ 39,90 Novak Djokovic é um atleta acima da média. Natural de um país dividido por uma guerra civil, passou sua infância e adolescência fugindo de bombas e, às vezes vivendo à base de pão e água. Não desistiu e, mesmo tendo que se esconder ou treinar sobressaltado por conta dos bombardeios, se tornou o melhor tenista do mundo, encabeçando o ranking da ATP por dois anos consecutivos. Nem é preciso dizer que o caminho que o levou ao sucesso teve percalços, fracassos e descobertas. No livro “Sirva para vencer – a dieta sem glúten para a excelência física e mental”, lançado pela Editora Évora, Djokovic narra sua trajetória até o pódio e reforça o ditado popular – “você é aquilo que você come”. Antes de mostrar a solução, Djokovic decreve todos os problemas que teve enquanto participava de torneios, onde passava mal, se distraia, e perdia as forças para jogar, e competir, muitas vezes em partidas decisivas. Ganhou apelidos, trocou de técnicos e até ouviu de muita gente que não treinava suficiente, ou ainda, que era muito doente e fraco.

Carlos Franco – Editor de Plurale em revista

“Viver é a melhor opção - A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”, por André Trigueiro, 192 págs, Editora Correio Fraterno Autor de quatro livros todos best-sellers - o jornalista André Trigueiro, com longa trajetória de cerca de 30 anos em diferentes redações, se prepara para lançar mais um. Desta vez, de um tema realmente tabu: o suicídio. Trigueiro atua como voluntário-colaborador na ONG Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade com 53 anos de trabalho sério na causa. No livro “Viver é a melhor opção” -, o jornalista fala de sua pesquisa e militância em torno de um assunto tão sério quanto urgente. Todos os direitos autorais do livro serão para o CVV. “A prevenção do suicídio é um assunto urgente, e ausente. São mais de 800 mil casos por ano, 2.200 por dia, um a cada 40 segundos”, adverte o autor.

Contos da Vida Absurda, por Luís Pimentel, Editora Casarão do Verbo. A obra reúne textos premiados em diversos concursos nacionais de contos. Luís Pimentel é jornalista e escritor, tendo trabalhado em grandes redações. Suas tramas, seus enredos e seus personagens pertencem ao universo tenso e denso das humanidades, onde figuras miúdas, cotidianas, crescem no embalo de suas imagens, na música inconfundível dos seus textos. Como nas ficções que se desenvolvem nestas páginas, em que as relações conflituosas, o amor, o desamor, as esperanças e o desespero dão o tom. Um tom quase sempre contido, intenso, mergulhado em atmosferas às vezes opressivas, mas sempre dominado por um lirismo comovente.

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Conservação

Tatu-bola

ganha casa nova Por Carolina Stanisci, Editora do Portal 1 Papo Reto Fotos de Renê Cordeiro/Divulgação

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José A. Siqueira, Maria Jaciane e René Cordeiro

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inalmente, o tatu-bola vai ganhar casa própria. O mascote da Copa ameaçado de extinção terá um parque para chamar de seu, com a criação do Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola, pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, no último sábado, 14/3, na cidade de Petrolina (PE). No ano passado, pesquisadores da Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco) se mobilizaram fortemente em prol da iniciativa, como foi relatado pelos parceiros do Portal 1 Papo Reto na Edição 41 de Plurale em revista. A unidade de conservação tem 110 mil hectares, abrangendo os municípios pernambucanos de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista. O objetivo é proteger da devastação a rica biodiversidade da Caatinga. O Tolypeutes tricinctus, considerado na lista internacional de espécies da IUCN como “vulnerável”, foi o ponto de partida dos professores da Univasf René Cordeiro e José Alves de Siqueira Filho para a mobilização. Como o bichinho simpático se tornou mascote da Copa (lembram do Fuleco?), a dupla de amigos docentes se animou e intensificou o ativismo em prol de um parque numa área onde viviam assentados pelo Incra. O problema maior seria conseguir verba para tal. O então secretário do Meio Ambiente de Pernambuco, Carlos André Cavalcanti,


Região, antes de virar oficialmente o Refúgio de Vida Silvestre Tatu-Bola

Trabalho do professor José Alves de Siqueira Filho em campo

dizia que os recursos viriam de compensação ambiental de grandes empreendimentos realizados no Estado. “Estou sentindo uma felicidade imensa e a sensação de uma etapa de vida cumprida. Agora vamos fazer o refúgio virar realidade na prática”, afirma Cordeiro. O decreto com a criação do parque será publicado nos próximos dias no Diário Oficial de Pernambuco. Olhe o que os protagonistas deste caso disseram na época: Leia um resumo da verdadeira saga na qual se transformou o projeto de preservação do tatu-bola: O local escolhido para abrigar o parque é rico em fauna e flora: tatus, veados, mocós, preás, uma infinidade de répteis e de aves, além de juazeiros, umbuzeiros, umburanas. O lugar pertence ao estado de Pernambuco, e hoje contempla assentamentos realizados pelo Incra. Toda essa riqueza que salta aos olhos dos pesquisadores, porém, está ameaçada. Os assentados acabaram desmatando muito o entorno e caçam os animais. “Um morador tem uma horta orgânica, mas a maioria lá desmata. Há uma escola também, mas é tudo muito precário. A me-

renda é macarrão com salsicha, o banheiro é ruim”, conta René. “Se não houver preservação, em 10 anos não vai existir mais nada.” Um trabalho de campo feito pelos dois docentes da Univasf revelou o potencial daquilo tudo se tornar um parque. “Perguntamos aos moradores sobre o tatu. Eles diziam: ‘Tinha o tatu-bola, o fulano caçava, mas hoje não estamos encontrando’”, lembra René. O desaparecimento do tolypeutes tricinctus fez soar o alarme. Tendo tudo isso em vista, a dupla de amigos pensou: por que não aproveitar o gancho do mascote da Copa, o Fuleco (um tatu-bola), e conseguir recursos para um parque? Em tempo recorde, colocaram a mão na massa: entraram em contato com o pessoal da Associação Caatinga, responsável pela campanha que alçou o tatu a mascote da Copa, elaboraram um projeto para o parque, que envolve ação educativa, trabalho de campo e formação de guias, procuraram o secretário do Meio Ambiente do Estado de Pernambuco e postaram abaixo-assinado online mobilizando pessoas.

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VIDA Saud ável Receitas fáceis e nutritivas

Chá matcha, a novidade da vez Os chás, definitivamente, passaram a fazer parte do dia-a-dia de muitos brasileiros, fazendo uma verdadeira dobradinha com o tradicional café. O matcha é a novidade da vez. Com origem nos templos budistas do Japão, o matcha é elaborado com as folhas mais novas e tenras do chá verde, vindas de plantações protegidas do sol. Depois de colhidas, as folhas são trituradas muito lentamente em um moinho de pedra, até que sejam reduzidas a pó. Nutricionistas alertam que não adianta esperar milagres, mas admitem que como o vegetal produz mais clorofila, aminoácidos e l-teanina, que ajudam a

dissolver a gordura e a eliminá-la mais rapidamente. Isso foi mostrado a partir de um estudo publicado em 2005 no American Journal of Clinical Nutrition(Jornal Americano de Nutrição Clínica, em tradução livre). Foram avaliados os efeitos dos chás que possuíam catequina e cafeína na composição para o emagrecimento. Os homens que tomaram o chá verde com altas doses de catequina conseguiram eliminar mais peso do que os que tomaram uma bebida com baixas quantidades da substância: enquanto os primeiros perderam aproximadamente 2,5 kg, os outros cortaram somente cerca de 1,3 kg.

Mundo Verde lança linha sem glúten Estudos apontam que mais de 1% da população mundial sofre com a doença celíaca, mais conhecida como intolerância ao glúten. No Brasil, seriam mais de 2 milhões de pessoas com o problema, mesmo sem terem obtido ainda um diagnóstico médico. O Mundo Verde, maior rede de lojas especializadas em produtos naturais, orgânicos e para o bem-estar da América Latina, amplia agora o portfólio da marca própria Mundo Verde Seleção, que hoje conta com mais de 30 itens, e lança diversos itens naturalmente livres da proteína. São cookies, rosqui-

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nhas e mistura para bolos e tortas salgadas, que proporcionam ao celíacos ou não, uma dieta balanceada, sem contraindicações. Segundo o presidente da rede Mundo Verde, Carlos Wizard Martins, os novos produtos foram especialmente pensados para as pessoas que lutam contra esse tipo de intolerância alimentar. “A nova linha visa atender a uma demanda crescente no mercado alimentício, onde a qualidade de vida e o bem-estar vêm ganhando cada vez mais atenção”, afirma Martins.

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O site do Vigilantes do Peso tem várias sugestões gratuitas de receitas fáceis e nutritivas para quem deseja perder peso. Como mousse de manga diet, quiche de espinafre e queijo e salada de macarrão com legumes. Quem preferir pode comprar o livro pelo site com 200 opções. Confira diferentes receitas em http://vigilantesdopeso.com.br/receitas

Desperdício de alimento mundial é de um terço Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) comprovam que o nível do desperdício de alimento mundial é de um terço. O rastro de desperdício de alimentos em escala global é da ordem de 1,3 bilhão de toneladas (excluindo peixes e frutos do mar), ocasionando, além de significativas perdas econômicas (750 bilhões de dólares por ano), também forte impacto ambiental, pois essa enorme perda, excetuando China e EUA, se fosse um país, seria a terceira maior emissora de gases causadores de efeito estufa (são 3,3 bilhões de toneladas de gases nocivos). Cabe apontar que os gases de efeito estufa (GEE) modificam o balanço atmosférico entre carbono e oxigênio, dos quais depende o equilíbrio ecológico e a reprodução da própria vida. Junto com a produção de alimentos desperdiçados, perde-se também água, energia e produtos químicos usados na produção alimentícia. Somente o volume de água “perdido” nesse desperdício equivale ao fluxo anual do rio Volga, na Rússia, aponta o relatório da FAO.


CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Premier mundial do último filme de Eduardo Coutinho Um dos maiores documentaristas brasileiros, Eduardo Coutinho – morto em fevereiro do ano passado – deixou o seu 14º longa, Últimas Conversas, inacabado. Documentário que acabou editado pela montadora Jordana Berg, parceira de Coutinho em diversos projetos e concluído por João Moreira Salles. O filme é realizado a partir de entrevistas feitas pelo cineasta com jovens estudantes brasileiros. De um jeito muito peculiar, como fez em tantos

trabalhos - Santo Forte (1999), Babilônia 2000 (2000), Edifício Master (2002), Peões (2004), O Fim e o Princípio (2005), Jogo de Cena(2007), Moscou (2009), Um dia na Vida (2010), As Canções (2011) - Coutinho tenta saber como vivem o que pensam e o que sonham os jovens que entrevista. O filme foi exibido em premiere mundial no Festival É Tudo Verdade que acontece em abril no Rio de Janeiro e em São Paulo.

No meio do rio entre as árvores

Depois de rodar por vários festivais desde o seu lançamento em 2010, o filme No Meio do Rio Entre As Árvores chega ao circuito comercial brasileiro. Dirigido por Jorge Bodanzky (pai da também cineasta Laís Bodanzky e realizador que já trabalhou com Hector Babenco, Antunes Filho, Maurice Capovilla, José Agripino de Paula, Reinhard Kahn e João Batista Andrade), o documentário é resultado de uma expedição ao Alto Solimões, que ministrou oficinas de vídeo,

circo, fotografia às comunidades ribeirinhas dentro de reservas ambientais. Feito pelos ribeirinhos, a partir da tecnologia recém aprendida, o filme mostra a região e seus problemas pela visão deles mesmos. Não há interpretações externas. Eles escolheram o que queriam falar e filmar, seja o seu cotidiano, seus sonhos, suas dificuldades e como resolvem seus problemas, pois estão esquecidos pelo poder público. Por vezes são irônicos. Como ao falar da precariedade do atendimento médico na região. Nas palavras de um ribeirinho, “se a gente chega com câncer o exame vai indicar malária”.

Trinta anos de um circuito O Grupo Estação – hoje Circuito Estação Net de Cinema – no Rio de Janeiro, completa 30 anos em 2015. O circuito independente de salas manteve como característica exibir filmes não comerciais e promover mostras, festivais e maratonas cinematográficas com o objetivo de formar novos públicos. Ano passado chegou a passar por um momento difícil e quase fechou as portas, mas com o apoio de

uma legião de fiéis frequentadores que fizeram campanha em prol do Estação, como é conhecido, conseguiu um novo parceiro. Para celebrar o aniversário e a nova fase, a festa começa em abril. Filmes clássicos dos anos 80, maratona interativa de terror, sessões com piano ao vivo, clássicos do cinema francês e o relançamento da Revista Tabu marcam o início das comemorações.

A lei da água novo código florestal Discutir o impacto do novo código ambiental e levar essa discussão a universidades, escolas, sindicatos rurais e comunidades carentes é a proposta do documentário A Lei da Água – Novo Código Florestal, com direção de André D´ Elia e produção executiva de Fernando Meirelles. Como é um filme sem fins lucrativos, ele utilizou o sistema de financiamento coletivo (crowdfunding) para ser divulgado e exibido por todo país. Realizado ao longo de 16 meses, fruto de uma parceria entre Instituto Socioambiental (ISA), WWF-Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e Bem-Te-Vi Diversidade, o filme dá voz a ambientalistas, cientistas, ruralistas e agricultores que acompanharam de perto a tramitação do Código Florestal no Congresso, em 2012, opinando sobre seus impactos e trazendo perspectivas diversas e discordantes sobre o tema. Segundo o diretor, “o Código Florestal Brasileiro deve ser bom para a agricultura, deve ser bom para a floresta e deve ser cumprido. Espera-se que o público compreenda as questões relacionadas à lei, podendo decidir por si próprio o que é melhor para o Brasil. E que vença a melhor ideia!”

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I m a g e m Foto:

Walter Garbe/Acervo Brasiliana Fotos

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Todo dia é Dia de Índio

foto histórica de uma índia botocuda de seios nus provocou polêmica. O Facebook proibiu a sua exibição. Depois de protestes – inclusive de autoridades – a foto, de domínio público, pode, finalmente, ser exibida também nesta rede. A preciosidade – clicada em 1909 por Walter Garbe, no Espírito Santo - faz parte do acervo Brasiliana fotos, que começou com a união de esforços da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles, e pode ser encontrado no site: http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/

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PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2015


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Prêmio Mobilidade Urbana “Mobilidade com qualidade merece reconhecimento” O PMU é uma iniciativa da Fetranspor que premia cases de sucesso para a evolução da mobilidade urbana no estado do Rio de Janeiro. Em 2015, a edição está ainda mais especial, e os três primeiros colocados em cada categoria serão premiados. Afinal, são 60 anos de Fetranspor. Inscreva-se.

PMU Especial Fetranspor 60 anos Inscrições abertas

Até 10/8/2015

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Informações, inscrições e regulamento no site www.premiomobilidadeurbana.com.br


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