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RIO +
20:
O QUE ESPERAR PARA O FUTURO
PLURALE EM REVISTA
PARINTINS:
O CARNAVAL DA AMAZÔNIA
FOTOS DE LUCIANA TANCREDO E PAULO LIMA DE PARTICIPANTES DA RIO + 20.
EDUCAÇÃO E ARTIGOS
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JUL / AGO 2012
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Nº 30
ano cinco | nº 30 | julho / agosto 2012 | R$ 10,00
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Editorial
Os desdobramentos
da Rio+20
Parte da equipe Plurale em ação no Riocentro: (da esquerda para a direita): Sônia Araripe, Antônio Carlos Teixeira e Isabella Araripe. Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista e Plurale em site
s números foram grandiosos. Apenas no Riocentro, onde foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, estiveram 45.381 participantes, com delegações de 188 Estados-Membros e três observadores, mais de 100 chefes de Estado e de Governo, aproximadamente 12 mil delegados, cerca de 10 mil representantes de ONGs e 4 mil jornalistas dos mais diversos países. Outros milhares de representantes da sociedade civil participaram de eventos paralelos, os mais relevantes reunidos no Parque dos Atletas, na Cúpula dos Povos (no Aterro do Flamengo) e no Humanidade 2012, no Forte de Copacabana. Como se diz no linguajar popular, o tema sustentabilidade “caiu na boca do povo”. Exposições e palestras movimentaram o Rio de Janeiro ao longo de junho. Pessoas de diferentes nacionalidades, crenças e convicções acompanharam evento que não acontecia na cidade desde 1992, quando foi realizada a Conferência anterior da ONU, bem menos grandiosa, bem menos participativa e interativa do que esta.
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Mas o tom não foi apenas de comemoração e participação, como você irá conferir nesta Edição Especial de Plurale em revista. Protestos aconteceram em diferentes pontos da cidade, a organização deixou a desejar e o documento aprovado pelos delegados da Rio+20 foi chamado de “pouco ambicioso e frustrante” pelos críticos, enquanto os defensores alertaram para o cenário global de crise dificultando posições mais avançadas e chamaram de um documento de realista a bem-sucedido, dentro das possibilidades de negociação intensa. Um ponto é certo: será preciso acompanhar e monitorar, cobrar mesmo, as recomendações deixadas pelos líderes de Estado. É sobre isso que falamos nesta edição. A equipe de Plurale esteve online, direto do Riocentro, cobrindo pelo portal e mídias sociais o grandioso evento. Estivemos em seminários e rodas de diálogo espalhadas em diferentes pontos da cidade. Apresentamos aqui parte deste resultado. Além dos jornalistas apresentados no alto em fotos – Sônia Araripe, Antônio Carlos Teixeira e Isabella Araripe - também participaram
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2012
da nossa cobertura a fotojornalista Luciana Tancredo e os jornalistas Elizabeth Oliveira, Isabel Capaverde, Nícia Ribas, Paulo Lima e Marina Guedes. Trazemos ainda artigos inéditos e colunas repletas de novidades. Não é só. Estivemos, após a Conferência do Rio, em plena selva amazônica, em Parintins (AM), acompanhando o tradicional Festival Folclórico dos Bois Garantindo e Caprichoso. Nícia Ribas visitou também projeto educacional em Pernambuco e Elis Monteiro apresenta o lado criativo de jovens cientistas. A jornalista e escritora Maria Helena Malta escreve sobre a riqueza literária do mundo lusófono e correspondentes internacionais trazem novidades de diferentes pontos do planeta. Temos ainda o prazer de anunciar: Plurale, que completará na próxima edição (setembro/outubro) cinco anos, foi indicada ao Prêmio Comunique-se 2012. Só estar lá na lista de ícones do Jornalismo Sustentável, como Washington Novaes, Dal Marcondes, Amélia Gonzalez e Sérgio Abranches já é uma imensa vitória! Boa leitura!
Conte xto
FOTO:LUCIANA TANCREDO
8.
ESPECIAL RIO+20: ARTIGOS INÉDITOS, REPORTAGENS E ENSAIOS DE FOTOS
FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS:
PAIXÃO, LENDAS, E TOADAS NA FLORESTA AMAZÔNICA.
FOTO: NíCIA RIBAS
40. 36.
POR SÔNIA ARARIPE E ISABELLA ARARIPE
PROJETO EDUCACIONAL COMBATE TRABALHO INFANTIL EM PERNAMBUCO POR NÍCIA RIBAS
JOVEM CIENTISTAS, POR ELIS MONTEIRO
50 Foto: Ricardo Marques
ODISSEIAS AFRICANAS POR MARIA HELENA MALTA
54 PELO MUNDO
58 VIDA SAUDÁVEL
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65. BRASILEIRA CONCORRE A FESTIVAL DE ANIMAÇÃO ECO NA CALIFÓRNIA, POR ISABEL CAPAVERDE
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Quem faz
Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
Plurale em revista, Edição 29 ano cinco | nº 29 | maio / junho 2012 | R$ 10,00
AĂ‡ĂƒO | CIDADANIA | AMBIENTE www.plurale.com.br
Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br SĂ´nia Araripe soniaararipe@plurale.com.br
â€œĂ‰ sempre muito bom ler uma matĂŠria sobre os nossos programas de desenvolvimento sustentĂĄvel e nĂłs Edição Especial RIO+20 agradecemos muito todo o pessoal da REVISTA 0LURALE .Ă˜S PRECISAMOS DESTA DIVULGA ÎO para encontrar novos parceiros que ajudarĂŁo a aprimorar mais as nossas açþes. Sobretudo, OBRIGADO .Ă“CIA 2IBAS VOCĂ? SOUBE ENCONTRAR AS palavras e a forma de traduzir o que nĂłs temos no coração. VocĂŞ compartilhou e ďŹ cou sensĂvel aos diversos aspectos da nossa vocação.â€?
Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcelo TristĂŁo e Marcos Gomes FotograďŹ a Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto);
ENSAIOS: AS BELEZAS DA CIDADE MARAVILHOSA
DEPOIMENTOS: OS FILHOS DA ECO92
Jean-Daniel Vallotton, diretor executivo, e Miguel Rocha da Silva – presidente da Fundação Almerinda Malaquias, Novo Airão (AM)
Agência Brasil e Divulgação
Colaboradores nacionais Ana CecĂlia Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiĂĄria), NĂcia Ribas, Paulo Lima
e SĂŠrgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição AntĂ´nio Carlos Teixeira, Carolina Gonçalves (AgĂŞncia Brasil), Elis Monteiro, Elizabeth Oliveira, Fabiano Ă vila (Instituto Carbono Brasil), FlamĂnio Araripe, FlĂĄvia Vilella (AgĂŞncia Brasil), Isabela Vieira (AgĂŞncia Brasil), Isadora RamĂrez, LĂlia Gianotti, Luiza Martins, Malu Nunes, Maria Helena Malta, Marina Guedes, MĂ´nica Pinho, PatrĂcia Almeida Ashley, Paulo Lima, Washington Novaes. Plurale ĂŠ a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) ImpressĂŁo: WalPrint
Rosa Surinach, Media Consultant Advocacy, ONU-Habitat escritĂłrio de Nova York
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ARTIGOS INÉDITOS
Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite
“Conheci Plurale em revista durante a Rio+20 e ďŹ quei impressionada com a qualidade editorial e grĂĄďŹ ca da revista. Esperamos poder contribuir com nossas açþes no Brasil e no mundo, gerando boas notĂcias pra todos.â€?
“Como Diretor-executivo da Fundação AmazĂ´nica de Defesa da Biosfera - FDB, dou meu testemunho do trabalho corajoso e desprendido do Miguel Rocha e do Jean-Daniel. Ă€ frente da Fundação Almerinda Malaquias, eles tĂŞm merecido o apoio e o estĂmulo de nossa organização, porque tĂŞm merecimento.â€? JosĂŠ da Silva SerĂĄďŹ co, Diretor-executivo da Fundação AmazĂ´nica de Defesa da Biosfera, Manaus (AM) “A revista ĂŠ Ăłtima, texto excelente. Agradeço Ă Plurale e ao repĂłrter Marcelo Pinto pela oportunidade de poder veicular o que penso sobre algumas dessas questĂľes fundamentais ligadas Ă FilosoďŹ a Ambiental.â€? AndrĂŠ Campos da Rocha, professor de FilosoďŹ a Ambiental, Rio de Janeiro (RJ) “Querido Miguel: Felicidades por tu trabajo en la FundaciĂłn Almerinda Malaquias, presentado en Plurale revista. Seguramente seguirĂĄ creciendo en importancia e impacto social.â€?
“Adorei a edição da Rio+20 de Plurale em revista! É muito bom ler diferentes pontos de vista sobre a ConferĂŞncia, e os frutos dessa consciĂŞncia ambiental!â€? MĂ´nica CorrĂŞa, aluna da primeira turma do curso de CiĂŞncia Ambiental da UFF, Rio de Janeiro â€œĂ“tima matĂŠria “Os ďŹ lhos da Eco 92â€?. Esses jovens sĂŁo a prova viva de que todo o trabalho feito nos Ăşltimos vinte anos para mudar as mentalidades e comportamentos nĂŁo foi em vĂŁo.â€? Vicky White, presidente da Associação Golfe PĂşblico de Japeri – AGPJ “Agradecemos a publicação de produtos da Grife ProvidĂŞncia na seção Bazar ĂŠtico de Plurale em revista, nĂşmero 30. Ficou linda a pĂĄgina e a edição tambĂŠm estĂĄ Ăłtimaâ€? Helena Rocha, Grife ProvidĂŞncia, Rio de Janeiro (RJ) “Recebemos os exemplares e achamos muito bonita e interessante Plurale em revista, Especial Rio+20. ParabĂŠns!â€? Marcello Souza, Coord.OďŹ cinas Geração Renda, ONG Ressurgir, Rio de Janeiro (RJ)
Edição 28 “A Presidente Dilma Roussseff encarregounos de informar-lhe que recebeu o exemplar de Plurale em revista, Edição Especial Ă gua e agradece a gentilezaâ€? ClĂĄudio Soares Rocha, Diretor de Documentação HistĂłrica da PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia (DF)
Familia Bautista Pineda, MĂŠxico Plurale em Revista foi impressa em papel certiďŹ cado, proveniente de reorestamentos certiďŹ cados pelo FSC de acordo com rigorosos padrĂľes sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 SĂŁo Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos sĂł poderĂŁo ser reproduzidos com autorização dos editores Š Copyright Plurale em Revista
“Em nome das 175 crianças do nosso projeto, agradeço o envio de exemplares de Plurale em revista para a comunidade da ChĂĄcara do CĂŠu, aqui no alto do morro do Borel. Estamos usando a revista para pesquisas e trabalhando de forma transversal os temas da sustentabilidade, no dia a dia das nossas atividades. Muito obrigada!â€? Nyeta MagalhĂŁes, Gerente de Planejamento e Projetos da Associação Roda Viva
Correçþes s .A MATĂ?RIA SOBRE A Fundação Almerinda Malaquias, por um engano, a legenda desta foto saiu errada. Este ĂŠ Miguel Rocha da Silva. s .A MATĂ?RIA SOBRE ÂGUA DA %DI ÎO
o contado da Dra Paula Cabral ĂŠ: www.hagla.com.br
Aniversário
5 an
os
Setembro / Outubro
| fevereiro/março ano dois | nº 10
2009 | R$ 10,00
| AMBIENTE AÇÃO | CIDADANIA ano dois | nº 12 | junho/julho 2009 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
ORGÂNICOS
Foto capa: Luciana Tancredo
M REVISTA
JUN/JUL 2009
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Nº 12
UM MERCADO SAUDÁVEL ÃO E EM EXPLOS
CINEMA
MUITAS IDEIAS NA CABEÇA E UMA CÂMERA NA MÃO COLUNISTAS PLURALE LIVRE PENSAR
COLUNISTAS
ESTREIA TIME EXCLUSIVO
PERFIL
R UM PACIFICADO TI BRASILEIRO NO HAI
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ano cinco | nº 29 | maio / junho 2012 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
FOTO DE ISMAR I NGBER - CALÇADÃ O
PLURALE EM REVISTA
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DA PRAIA DE COPACAB ANA (RJ)
MAI / JUN 2012
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Nº 29
www.plura le.com.br
ARTIGOS INÉDITOS
Edição Especial s ENSAIOS: AS BELE CIDADE MARAVILHZAS DA OSA
RIO+20 DEPOIMENTOS: OS FILHOS DA ECO9 2
ão nº 31
itário na ediç ic bl pu ço pa es u se já a nt ra Ga 932 Mais informações: (21) 3904-0 soniaararipe@plurale.com.br
Plurale: Ação, Cidadania, Ambiente. Plural até no nome www.plurale.com.br
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Rio+20
Documento divulgado pela plenária da Rio + 20. no Riocentro, dividiu opiniões: sucesso ou pouco ambicioso?
Rio+20: sucesso ou fracasso? Por Sônia Araripe e Antônio Carlos Teixeira, de Plurale em revista Do Rio de Janeiro
ntes mesmo da Presidenta Dilma Rousseff encerrar oficialmente a plenária da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro, um clima de dúvida já pairava no ar. Afinal, tanto esforço e mobilização resultaram em sucesso ou fracasso? Na avaliação oficial da ONU, do Governo brasileiro e de alguns interlocutores, a grandiosidade do evento oficial e de várias ações paralelas teve sim resultados práticos e efetivos. “Assim como em 92, esta conferência terá efeito transformador nas gerações atuais e futuras.”, afirmou Dilma. Em coletiva, diplomatas do Itamaraty à frente das difíceis rodadas de negociação, com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, insistiram que o documento “O futuro que queremos” foi
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“o possível” dentro do contexto de crise global e de escassez de recursos. Foram várias idas e vindas na negociação. Em clima que beirou o impasse. Representantes brasileiros, nos bastidores, foram chamados de impositivos nas rodadas de negociações por alguns parceiros de mesa, principalmente os europeus. Bastidores à parte, o documento avançou até ser oficialmente aprovado em plenário. Curiosamente, este documento, antes de ser concluído, chegou a ser classificado pelo sempre diplomático secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como “pouco ambicioso”, mas, no dia seguinte, insistiu que aprovava e considerava um sucesso não só o documento, mas toda a Rio + 20. Polêmicas - Porém, um coro de interlocutores de alto nível discordou desta avaliação de autoridades. Líderes de Estado, representantes de ONGs e ambientalistas alertaram que o documento foi “pouco ambicioso” e que várias questões relevantes – como a definição sobre quais são os Objetivos de Desenvolvimento
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Sustentável e o financiamento para a economia verde, sem falar na questão do direito à reprodução das mulheres – acabaram não tendo definições claras. “Para atingir nossas metas em desenvolvimento sustentável também temos que garantir os direitos reprodutivos da mulher. As mulheres devem ter o poder de tomar decisões sobre se e quando querem ter filhos”, destacou ninguém menos do que a toda-poderosa, Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, em discurso na plenária da Rio + 20. Procurando encerrar a polêmica em torno dos resultados da Conferência, o chinês Sha Zukang, secretário-geral da Rio + 20, frisou: “Ninguém está feliz com nosso trabalho, mas esse é o nosso trabalho. Muitos governos assumiram compromissos em Copenhagen e, até hoje, não cumpriram. Prometer é fácil, difícil é cumprir”. Números - As estatísticas comprovaram que a Rio + 20 foi, sem dúvida, um evento de grandes números. Apenas no Riocentro, onde foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvol-
Foto: Luciana Tancredo Foto: Isabella Araripe
Participação de representantes da sociedade civil, como indígenas de diferentes etnias marcou a Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo
vimento Sustentável, estiveram 45.381 participantes, com delegações de 188 Estados-Membros e três observadores, mais de 100 chefes de Estado e de Governo, aproximadamente 12 mil delegados, cerca de 10 mil representantes de ONGs e 4 mil jornalistas dos mais diversos países. Foi a maior conferência da ONU já realizada. E não foi só uma Conferência da ONU já realizada. Outros milhares de representantes da sociedade civil participaram de eventos paralelos, os mais relevantes reunidos no Parque dos Atletas, na Cúpula dos Povos (no Aterro do Flamengo) e no Humanidade 2012, no Forte de Copacabana. Como se diz no linguajar popular, o tema sustentabilidade “caiu na boca do povo”.
Alguns detalhes na organização penalizaram o brilho da festa. Engarrafamentos prejudicaram os cariocas que queriam ir e vir livremente e a falta de previsão fez com que jornalistas tivessem que disputar mesas e cadeiras na sala de imprensa. Sem falar que até mesmo um problema aparentemente simples, quase deixou sem acesso à rede os correspondentes estrangeiros: o padrão de tomadas brasileiro exigiu que muitos corressem ao shopping mais próximo para comprar tomadas para adaptar. Lições que ficam para eventos ainda bem maiores e complexos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Sociedade civil - Representantes de diferentes etnias indígenas se reuniram na Cúpula dos Povos para debater a
questão da terra, de hidrelétricas, etc. O ministro Gilberto Carvalho, acostumado a lidar com a sociedade civil, foi escalado para dialogar com estas comunidades indígenas e também com outros grupos. “Esta participação da sociedade civil foi, sem dúvida, um grande marco da Rio + 20”, destacou o ministro Carvalho em coletiva no Riocentro. Exposições e palestras movimentaram o Rio de Janeiro ao longo de junho. Como os mais variados rostos na capa desta edição ilustram, pessoas de diferentes nacionalidades, crenças e convicções acompanharam evento que não acontecia na cidade desde 1992, quando foi realizada a Conferência anterior da ONU, bem menos grandiosa, bem menos participativa e interativa do que esta. Naquela época, a internet ainda estava engatinhando e a sociedade civil não estava efetivamente mobilizada. O que se viu ao longo de junho no Rio foram passeatas de todos os tipos, gente participando de forma ativa para deixar claro que desejam sim defender um modelo socialmente mais justo e igualitário. Resultados concretos - Nas próximas páginas, você poderá acompanhar alguns dos temas tratados ao longo da Rio + 20. Muitos dos pontos ficaram como metas, um conjunto de ações que precisarão ser acompanhadas de perto daqui para a frente a fim de apurar se serão mesmo executadas. Mas vale ressaltar as ações concretas que já foram anunciadas. Como a iniciativa de prefeitos de diferentes megalópoles, inclusive o Rio de Janeiro, de reduzir emissões e a iniciativa de fazer diferença na mobilidade urbana através do uso incentivado de bicicletas. Não é só. Na área econômica muito também se avançou. As empresas participaram de perto das rodas de diálogo e as ações concretas também foram vistas. O mercado de seguros, importante baluarte da estabilização econômica, aderiu aos Princípios para Sustentabilidade. Confira ainda, neste bloco Especial Rio + 20, entrevista sobre a questão do lixo marinho, o debate sobre a riqueza da caatinga e artigos relevantes. Leia a cobertura completa de Plurale na Rio + 20 no Portal Plurale: www.plurale.com.br
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Foto: ONU
Frases
Muitos interlocutores relevantes passaram e deixaram sua marca na Rio + 20. Selecionamos alguns destes momentos ocorridos em diferentes eventos ocorridos ao longo da Conferência.
“Vocês prometeram combater as mudanças climáticas, garantir o acesso universal à água potável e alimento, respeitar o ambiente. Essas promessas não foram descumpridas, mas foram vazias. Cumpram o que prometeram” BRITTANY TRILFORD, jovem ativista neo-zelandeza de 17 anos que foi selecionada para discursar aos líderes na Plenária da Rio + 20.
PRESIDENTA DILMA Rousseff, encerrando a Rio +20
“Quantas vezes o homem optou por algo que ainda não existia? Quando optou por voar, por exemplo. Agora temos que escolher um modelo de sociedade que ainda não existe. Um modelo de sociedade sustentável”. MARINA SILVA, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora
“Morreram as utopias, desapareceram os sonhos e nós nos encontramos perdidos” LEONARDO BOFF, durante evento da Carta da Terra, Rio+20
“Para atingir nossas metas em desenvolvimento sustentável também temos que garantir os direitos reprodutivos da mulher. As mulheres devem ter o poder de tomar decisões sobre se e quando querem ter filhos” HILLARY CLINTON, secretária de Estado dos EUA, em discurso na plenária da Rio + 20
“Em 20 anos, nós inventamos a Internet e democratizamos a informação. A sociedade civil e os jovens estão empoderados como nunca aconteceu antes. Também mudei. Cresci, casei, tenho dois filhos, uma menina de dois anos e um menino de quatro meses. E hoje como mãe acredito que o poder do amor entre as gerações terá força para fazer as mudanças que o mundo precisa”. SEVERN SUZUKI, a menina canadense que calou o mundo na Rio 92, agora uma jovem mãe 10
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Foto: Luciana Tancredo
“Assim como em 92, esta conferência terá efeito transformador nas gerações atuais e futuras”
Entrevista
Doug Woodring Co-fundador da ONG Ocean Recovery Alliance Doug Woodring, co-fundador da ONG Ocean Recovery Alliance é um ativista em favor da vida marinha e da biodiversidade. Ele não se conforma com o efeito do plástico descartado inadequadamente em oceanos e rios impactando diretamente peixes e a biodiversidade de uma forma geral. Esteve no Rio de Janeiro pela Rio + 20, participando de evento no qual alertou sobre este problema (leia mais abaixo). Ele falou à Plurale sobre o trabalho que a ONG vem desenvolvendo e também sobre tecnologias avançadas para tentar minimizar este impacto. Confira a seguir a entrevista.
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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Do Rio de Janeiro Foto Divulgação
lurale em site - Qual é o impacto do plástico descartado inadequadamente nos oceanos e rios para a vida marinha? Doug Woodring - Mais de 270 espécies de animais e pássaros são conhecidos por serem impactados por plástico, de alguma forma. Isso não inclui animais e pássaros que não estão relacionados com o oceano. No oceano, não existe “contagem de corpos” porque frequentemente não sabemos quando o animal morre nos mares. Então, o impacto para a vida marinha continua acontecendo por muitos anos. Há também uma chance de que o plástico possa carregar outras substâncias tóxicas que estão agregadas na sua composição para a água do mar. Quando um animal come o plástico, então é possível que es-
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tas toxinas entrem em contato e matem o animal. Estas toxinas podem seguir para a cadeia alimentar quando animais predadores caçam estes animais depois da morte e também até ao ser humano quando este consome frutos do mar. Plurale em site - O que a ONG tem feito para ajudar a reduzir o problema? Doug Woodring - Nós temos dois projetos globais que anunciamos no Clinton Global Initiative – the Plastic Disclosure Project (PDP) (www.plasticdisclosure. org) e “Global Alert”, uma “web-based map” que faz um link dos rios com os oceanos, que estará conectado em breve. O PDP é como a revelação do carbono: as empresas e instituições devem reportar ali o seu uso anual de plástico e também podem consumir informação relacionada ao plástico. Uma vez que você mede algo, fica mais fácil administrar. Nós não dizemos que você não pode usar o plástico,
mas nós queremos que ele não tenha impacto no meio ambiente, o que significa que muito mais precisa ser feito na nossa sociedade para recuperar esse recurso para reuso ou para abastecer a criação de novos plásticos. Plurale em site- Vocês acabam de realizar um evento sobre este tema na Rio+ 20. Qual o significado dele? Doug Woodring - Ao invés de falarmos dos problemas em si, nossa intenção foi falar sobre o futuro e sobre o que está sendo feito hoje em dia, época em que líderes estão criando ótimas oportunidades em tecnologia, inovação, modelos, novos materiais e soluções. Nós queremos que as pessoas percebam que existem opções em potencial para os negócios, para o aprimoramento das marcas e impactos fortes e positivos em desenvolvimento. Ter esse evento significou o começo de mudanças reais envolvendo empresas engajadas, que entendem alguns dos problemas e podem influenciar as demais organizações em novas direções construtivas para um resultado em comum.
Nós somos uma sociedade muito orientada a consumir, e frequentemente não ligamos quando acabamos de usar as coisas e simplesmente jogamos nosso lixo fora para que outra pessoa lide com o problema
Plurale em site - A coleta manual é difícil, mas o que mais pode ser feito para remover o plástico dos mares e rios? Doug Woodring - Sim, a prevenção é muito mais fácil do que ir para o mar e coletar pedaços pequenos, ou restos dispersos. Nossa plataforma, chamada “Global Alert” irá permitir que as comunidades reportem em “trash
hotspots”, o que significa que barreiras podem ser colocadas nos rios (como cerca de linhas), o pescador também pode se envolver na coleta de materiais nas foz dos rios, e a reciclagem pode se tornar uma opção para o abastecimento de plástico, assim como o fluxo de matéria-prima pode ser mais agregado. Claro que esse procedimento deve ser apoiado por uma infraestrutura e a reciclagem do plástico para abastecer tecnologias deve ser feita de forma cautelosa, mas é aí que estão as grandes oportunidades. Plurale em site - Quais são as tecnologias que estão sendo utilizadas? Doug Woodring - Todos os tipos de reciclagem, reuso, novos materiais e plástico para abastecimento, este último, não para ser incinerado, mas para o material voltar ao seu estado líquido e, em alguns casos, em um combustível diesel de baixo teor de enxofre, que é ainda mais limpo do que muitas misturas de diesel no mercado.
Plurale em site - Você ainda sente que é necessário convencer as pessoas a se mobilizarem em torno dos problemas ambientais que vivemos hoje ou já sente uma mudança no comportamento e atitudes das populações ao redor do mundo sobre o tema? Doug Woodring - Eu acredito que ainda é preciso que façamos muita coisa, ainda temos um longo caminho a ser percorrido. Nós somos uma sociedade muito orientada a consumir, e frequentemente não ligamos quando acabamos de usar as coisas e simplesmente jogamos nosso lixo fora para que outra pessoa lide com o problema. Muitas comunidades não possuem a infraestrutura necessária para a reciclagem ou gestão de resíduos, e mantêm o ritmo com este tipo de consumo. Há grandes oportunidades para que as empresas se envolvam mais do que são hoje em dia, e as que já estão engajadas irão fortalecer a sua marca com consumidores fiéis e funcionários satisfeitos.
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Entrevista
Doug Woodring “Estão se esquecendo dos oceanos” Por Marina Guedes, Especial para Plurale em revista Do Rio de Janeiro
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e ainda hoje não há consenso quanto aos resultados efetivos da Conferência da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, a Rio+20, o mesmo não pode ser dito a respeito de sua programação paralela, como o Plasticity 2012. O evento, realizado no dia 21 de junho, tirou do enfoque o bioma florestal (como a Amazônia e Mata Atlântica, por exemplo) para tratar de outro não menos importante: o oceano. Idealizado pela ONG Ocean Recovery Alliance (em Português Aliança para a Recuperação dos Oceanos), o evento foi além da já abordada questão de que o plástico causa danos irreversíveis ao meio ambiente. Seu mérito foi, como declarou o fundador da ONG, Doug Woodring, ter levado ao conhecimento público algumas das iniciativas que vem sendo realizadas como alternativas ao uso do plástico tradicional feito a partir do petróleo – notadamente um recurso não renovável. “Hoje, neste evento paralelo à Rio+20, é onde começamos formalmente a discutir o assunto, na tentativa de reduzir a poluição dos plásticos. Nossa meta não é falar muito dos assuntos como os danos que sofrem os animais nos oceanos com o descarte dos plásticos, mas a prática e racionalidade que vem sendo feita para solucionar a questão”, declarou Doug. E Doug foi além: “Muito dinheiro vem sendo gasto pelo homem para estudar diversas questões, como até mesmo o espaço. Mas esquecemos-nos dos oceanos. Hoje, finalmente, percebemos a sua importância. Pesquisas revelam que há 10% de plásticos encontrados no estômago de uma espécie de peixe que vive a 100 metros de profundidade. Isso significa que o plástico está atingindo camadas muito mais profundas que imaginávamos. Outro dado alarmante é o fato de que estes peixes ingerem cerca de 12 toneladas de plástico por ano”. No "cardápio" daquilo que vem sendo feito como alternativa criativa e inovadora ao uso do plástico convencional está o chamado bioplástico. Produzido a partir de plantas, o material tem como princi-
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pal vantagem o fato de ser biodegradável e, por isso, contribuir para a redução no impacto ao meio ambiente. Dentre as criações apresentadas pela empresa norte-americana Ingeo, embalagens para armazenamento de alimentos, pratos e até mesmo itens associados aos aparelhos eletrônicos são, agora, feitos a partir de plásticos originários de plantas. A receita é simples: o açúcar das plantas é transformado em um composto químico que combinado com outros elementos chega ao estágio final do plástico. ECONOMIA VERDE A questão da oportunidade de negócios, como salientou Doug, também está inserida no âmbito do plástico. “Percebemos que o resíduo (plástico) é muitas vezes esquecido. Mas acreditamos que seja uma enorme oportunidade de negócios, porque resíduo é um recurso, que não deveria ser tratado como lixo. Praticamente tudo o que produzimos pode ser reutilizado de alguma forma ou transformado em alguma outra coisa, como combustível, composto orgânico ou no caso do plástico, na reciclagem. Há oportunidades de trabalho, de inovação”. Uma das questões principais da Rio+20 é justamente a economia verde, recordou Doug. “A reciclagem cria novos empregos. Inovação cria empregos. O que precisamos é que as empresas ao redor do mundo e cada uma das cidades e sociedade consumidora entendam que há soluções ao redor de produtos e materiais. Precisamos trabalhar em sincronia para criar uma cadeia econômica para que as coisas realmente aconteçam. A maioria das cidades tem problemas com o descarte de resíduos, precisamos criar formas de usar este resíduo. Precisamos que os catadores e a comunidade estejam envolvidos no processo. O plástico não desaparece do ecossistema, não vai embora, permanecerá por décadas, centenas de anos. Agora estamos começando a perceber isso. É a hora para mudarmos nosso pensamento, aqui na Conferência, e usarmos isso para uma mudança no sentido positivo”, pontuou Doug.
Sociedade Civil
20 anos passados a limpo Por Elizabeth Oliveira, Especial para Plurale em revista Foto da SOS Mata Atlantica
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iante dos riscos iminentes de retrocesso na agenda socioambiental brasileira, o movimento ambientalista promete não dar trégua na defesa das conquistas alcançadas, nas últimas duas décadas. O recado foi dado na Cúpula dos Povos, como parte da programação da sociedade civil na RIO+20, por representantes das dez organizações participantes da elaboração do documento “Na contramão do desenvolvimento sustentável: o desmonte da agenda socioambiental no Brasil”, no qual são feitas duras críticas ao governo federal. “Atropelos no licenciamento, paralisia na agenda de mudanças climáticas, lentidão na mobilidade urbana e no saneamento, além de investimentos em energia suja”, são pontos destacados na publicação. “Inicia-se agora um movimento de vigilância permanente da agenda ambiental. Não vamos esperar a Rio+30 ou a Rio+40”, afirma João Paulo Capobianco, ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente. Entre os mais respeitados ambientalistas brasileiros, ele considera que é preciso mobilizar a sociedade para impedir que se cumpra o que chamou de “agenda de retrocesso anunciada”. “A ideia aqui é
de aproveitar a presença da sociedade para dar um basta na situação atual e fazer o Brasil voltar a trabalhar a agenda ambiental como antes”. Miriam Prochnow, membro do Conselho Consultivo da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), faz um resgate histórico: “Saímos do Fórum Global, na Rio-92, com uma missão e nesses 20 anos de luta, o movimento ambientalista fez muita coisa acontecer”. Entre muitas conquistas, ela recorda que na Rio-92 foi criada a Rede de ONGs da Mata Atlântica, que conseguiu em 2006 a sanção da Lei da Mata Atlântica, depois de 12 anos de tramitação. “Depois da sanção, avanços importantes aconteceram, mas a Lei está na agenda para sofrer mudanças. Como ambientalistas que somos, conclamamos a todos os que estão aqui para fazer o movimento que precisa ser feito”. “Atualmente existem mais de 460 leis tramitando no Congresso para desmontar a legislação ambiental, das quais mais de 40 para acabar com Unidades de Conservação. Um dos PLs trata da venda de terras para estrangeiros”, afirma Mario Mantovani, diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica. Conclamando a sociedade a se mobilizar, o ambientalista disse que pretende atuar via Coalizão das Florestas, movimento que reúne mais de 200 organizações sociais. Rubens Born, da Vitae Civilis mencionou que em 20 anos o Brasil teve avanços, tais como, a Lei da Mata Atlântica e a Lei dos Cri-
mes Ambientais, entre tantos outros resultantes da mobilização da sociedade. “Agora está se falando de retrocesso, mas não é só o retrocesso que é perigoso, a omissão também é um perigo”, alerta. Para o ambientalista, a solução de tantos problemas passa por avanços no processo que chama de 6RS (Resistir, Reparar injustiças, Recuperar ambientes degradados, Reorganizar a sociedade, Romper com alguns paradigmas e Reconstruir novas formas de gestão e de governança). “Para dar conta de tudo isso precisamos nos requalificar, seja no campo do discurso ou das ações. Além disso, não pode abandonar os 3Ss (de senso crítico, senso de urgência e o senso de responsabilidade)”, orienta. Representando os povos indígenas do Brasil, o líder Davi Yanomami, de Roraima, saudou os participantes do evento e afirmou que 20 anos depois de ter participado da Rio-92, voltava ao Parque do Flamengo para rever velhos amigos e conhecer novos ambientalistas, mas alertou que o momento não era de festa e, sim, de luta. Mesmo sendo de terras e realidades tão distantes, o líder indígena seguiu a mesma linha de raciocínio do secretário-geral da Rio-92, Maurice Strong, que ao receber uma homenagem no RioCentro, pela passagem de 20 anos daquele grande evento, disse que não havia muitos motivos para celebração, já que os acordos firmados, desde então, não foram cumpridos.
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Colunista
Malu Nunes
RIO+20:
Compromissos assumidos precisam gerar resultados esmo antes de a Rio+20 começar, a previsão já era de que não seria firmado um acordo oficial expressivo entre os países, o que se confirmou. O alento – mas não a solução – é que outros setores da sociedade estão assumindo papéis e responsabilidades em direção à sustentabilidade. Embora as iniciativas voluntárias e setoriais sejam importantes, são insuficientes para alterar o modelo de desenvolvimento que tem levado os recursos naturais a se extinguirem cada vez mais rapidamente em prol do crescimento econômico. A efetiva transformação exige novos modelos decisórios e a dúvida é se o Brasil conseguirá assegurar isso, uma vez que seus posicionamentos internos e externos sobre as questões ambientais ainda são antagônicos.
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Em relação aos resultados da conferência, era mesmo esperado que se repetisse o que aconteceu na COP 17 da Convenção do Clima, realizada em 2011, em que o acordo final foi conciliatório. O documento final gerado na Rio+20, intitulado “O Futuro que Queremos” e aprovado por mais de 190 países, é um mínimo denominador comum. Em linhas gerais, é uma carta de muito boas intenções, reafirmando compromissos anteriores e fortalecendo os dois temas centrais da conferência: a transição para uma Economia Verde no contexto da preservação do meio ambiente e da biodiversidade, na perspectiva da erradicação da pobreza e das desigualdades; e o estabelecimento de quadro institucional (instrumentos de governança) para que se implemente o desenvolvimento sustentável.
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Como apenas boas intenções não bastam, o documento final foi frustrante. Embora se pudesse prever que a crise econômico-financeira nos Estados Unidos e na Europa seria usada como justificava aos poucos avanços, era desejado um empenho maior dos negociadores da conferência para que fossem definidos alguns compromissos, metas e caminhos mais certeiros. Uma das propostas não finalizadas, por exemplo, foi o estabelecimento de metas de desenvolvimento sustentável para substituir os objetivos do milênio (ODM). Essa responsabilidade ficou delegada à Assembleia Geral da ONU, que terá até 2015 para finalizá-lo, pois esse é o prazo de validade dos atuais ODM. Mais uma vez, decisões importantes foram postergadas. Por outro lado, foi animador acompanhar durante a Rio+20 vários resultados
Foto: Luciana Tancredo
práticos de iniciativas voluntárias ou setoriais. Segundo dados oficiais da ONU, foram firmados mais de 700 acordos que incluem governos, empresas, universidades e sociedade civil. Um exemplo foi o compromisso dos oito maiores bancos de desenvolvimento multilateral do mundo de prover mais de US$ 175 bilhões durante os próximos dez anos para apoiar transportes que emitem menor índice de carbono, nos países em desenvolvimento. Mais um legado foi a Cúpula dos Prefeitos – formada pelos 59 prefeitos das maiores cidades do mundo, integrantes do grupo C40 – que se comprometeram a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em cerca de 1,3 bilhão de toneladas até 2030. Outra iniciativa relevante lançada na Rio+20 é a Declaração do Capital Natural (NCD – Natural Capital Declaration), na qual CEOs de instituições financeiras assumem o compromisso de considerar o capital natural (soma de todos os recursos naturais, de florestas a combustíveis fósseis) no planejamento e nas decisões sobre seus produtos e serviços financeiros. O documento reforça a concepção de que o mundo necessita de um novo padrão contábil, na qual a conservação ambiental seja incluída nas contas dos governos e também faça parte dos negócios das empresas. Isto é, aquele que degrada o meio ambiente tem que pagar pela recuperação, pelos danos que causa. As discussões de capital natural também são uma porta aberta para o fortalecimento de estratégias de conservação da natureza que valorizam quem protege a natureza, como o pagamento por serviços
ambientais (PSA). A vantagem e o diferencial do instrumento econômico de PSA em relação a outras ferramentas de conservação é que ele possibilita colocar os provedores de um serviço ambiental – como um pequeno agricultor – à frente do processo de conservação. Um exemplo de iniciativa neste sentido é o Projeto Oásis, que teve sua expansão nacional lançada durante a Rio+20, e que premia financeiramente proprietários de terras que conservam suas áreas naturais e de mananciais, e que adotam práticas conservacionistas de uso do solo. Como toda a sociedade se beneficia dos serviços ambientais gerados pela conservação de áreas naturais nessas propriedades, nada mais justo do que os proprietários serem reconhecidos por isso. Todas essas iniciativas apresentadas na Rio+20 terão muito mais efetividade a partir do momento em que forem regulamentadas, tornarem-se política pública e ganharem escala nacional e mundial. Se elas se mantiverem isoladas, servirão apenas paliativamente para minimizar a falta de ação dos governantes dos países. Para atingir resultados futuros que garantam a sustentabilidade, é necessária uma mudança profunda nos modelos decisórios, e esse é um ponto que levanta preocupação aos brasileiros. Como evoluir nos modelos decisórios se o governo mantiver posicionamentos antagônicos sobre as questões ambientais? Externamente, nas últimas conferências da ONU sobre Diversidade Biológica e Mudança do Clima, por exemplo, o Brasil assumiu um discurso em prol da proteção de seu patrimônio natural, inclusive se comprometendo com metas de redução de emissão de
gases-estufa, de forma voluntária, e de ampliação das áreas naturais protegidas. Por outro lado, internamente, ainda impera uma política econômica de desenvolvimento a qualquer custo, que se sobrepõe à conservação da natureza. Essa visão foi corroborada pela aprovação no Congresso Nacional do projeto de lei que altera o Código Florestal, o que significou um desmonte sem precedentes da legislação ambiental, falsamente justificado pela sua “falta de eficácia e aplicabilidade”. Após pressão da população, ambientalistas e comunidade científica, a perspectiva era a de que a presidente Dilma Rousseff vetasse integralmente o texto que prevê a alteração do Código. Contudo, mesmo com a aprovação parcial do texto e 12 vetos, o resultado ficou abaixo das expectativas e piorou a proteção das florestas de todo o país. Além disso, abriu margem a um novo retrocesso legislativo, pois as medidas associadas ao veto precisarão novamente do aval do Congresso. Como um país que assumiu metas e uma posição de protagonista nas próprias conferências das convenções da ONU poderia flexibilizar a lei ambiental para permitir mais desmatamentos? A esperança é que agora, pós-Rio+20, os governantes do Brasil comecem a reconhecer, interna e externamente, a proteção da natureza como prioritária para o próprio desenvolvimento do Brasil. Também é importante que atuem com marcos regulatórios para fortalecer as iniciativas exemplares, incentivando todos os setores da sociedade a seguirem um caminho em respeito ao meio ambiente. Tudo isso é fundamental para assegurar que o Brasil realmente faça a sua parte e contribua para que os compromissos assumidos pelos países na Rio+20 avancem e sejam implementados seguindo a que foi proposto e dentro do calendário estabelecido. O documento “O Futuro que Queremos” não pode ser uma mera carta de intenções. Ele precisa gerar resultados práticos para a preservação do ambiente, seus processos ecológicos, serviços ambientais e biodiversidade, pois eles são a base da economia e fundamentais para nosso sustento, qualidade de vida e crescimento. Malu Nunes é engenheira florestal, mestre em Conservação da Natureza e diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
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Artigo
Washington Novaes
O longo caminho até a
‘‘economia
verde
ão surpreende que na Rio+20 se tenha decidido deixar para 2014 a fi xação de metas para o desenvolvimento sustentável, a vigorarem a partir de 2015 - de modo parecido com o que se fez na Convenção do Clima, deixando para 2015 a defi nição de compromissos de redução de emissões poluentes para cada país, mas
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a serem cumpridos só a partir de 2020. Como o tema inclui também a chamada “economia verde”, igualmente discutida no Rio de Janeiro, as defi nições são dificílimas, envolvem a produção e os seus caminhos em cada país e no mundo. E aí o carro pega. Quem leu na última segunda-feira o relato do correspondente deste jornal em Genebra, Jamil Chade, sobre as
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mudanças no panorama mundial, com os organismos econômicos questionando “a fronteira entre nações ricas e emergentes”, tem ideia da dificuldade das transformações propostas para cada país, considerados o seu nível de riqueza, tipos de exportação e importação, obrigações equivalentes. Quem é Primeiro Mundo hoje? E quem se inclui no campo da pobreza, entre as 194 na-
ções, se um terço da humanidade ainda cozinha em fogões a lenha (Ladislau Dowbor, Eco 21, maio de 2012)? Se já se produzem no mundo 2 bilhões de toneladas anuais de grãos, suficientes para prover cada família de quatro pessoas com 800 gramas diários? Se o PIB mundial de US$ 63 trilhões anuais, distribuído igualitariamente, desse a cada uma dessas famílias US$ 5.400 mensais? Mas como vencer a resistência e mudar critérios para 737 grupos corporativos, 75% dos quais de intermediação financeira, que “controlam 80% do sistema corporativo mundial”? A “economia verde”, disse o secretário-geral da reunião, Sha Zukang, não trata apenas de “baixo carbono”, tem de ser “discutida no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”. Mas a Cúpula dos Povos não gostou: a proposta não criticava o capitalismo, as “suas formas de dominação”; seria apenas um “disfarce para mais negócios e exploração dos ecossistemas”, com a ajuda de “tecnologias transgênicas e da biologia sintética” (Agência Brasil, 14/5). Ao longo dos debates, muitas críticas se centraram nas políticas de países que subsidiam fertilizantes inorgânicos, combustíveis fósseis e energias insustentáveis; contribuem para a perda da biodiversidade, com subsídios a certas culturas; e para a redução de empregos no campo, com mecanização acelerada. As operações na agricultura - acentuou-se - contribuem, só elas (fora mudanças no uso da terra e desmatamentos), com 13% das emissões globais, fora as de óxido nitroso (58%) e de metano (47%). Quem mudará ou quer mudar esse panorama, restaurar a fertilidade do solo com insumos naturais e nutrientes “sustentáveis”? Quem será capaz de “integrar lavoura, floresta e pecuária”? Reduzir insumos químicos e herbicidas? Implantar técnicas de manejo biológico? Reduzir desperdícios na área de alimentos (1,3 bilhão de toneladas anuais, segundo a ONU)? Transferir gratuitamente tecnologias para países mais carentes, de modo a poderem caminhar nessas direções? Determinar que compras governamentais (10% do
PIB) tornem prioritários esses caminhos, inclusive na exportação? E como chegar a tudo sem impor penalidades ou barreiras comerciais? Documentos da ONU (Boletim do Legislativo n.º 2/12, Senado Federal) chegam a dizer que a transformação resultará em “melhoria do bem-estar humano e da isonomia social”, e ainda com “significante redução de riscos ambientais e de escassez ecológica”. Por aí se chegaria ao “bem-estar intertemporal das futuras gerações”, à eliminação de “efeitos da degradação ambiental na oferta agregada”; também a um processo que conduzirá a “uma nova estratégia” e aos financiamentos globais para a “economia verde”. Mas - frisam - não podem ser criadas “barreiras ambientais”. E será preciso reformar o “regime global do direito de propriedade”. Tudo se completará com incentivos para a “economia verde” no valor de 2% do PIB mundial, ou US$ 1,3 trilhão por ano. Por esses caminhos se conseguirá - dizem os documentos um ganho de 60% na eficiência energética (prédios, indústria, transporte). Entrará na economia o pagamento por serviços ambientais. A simples enumeração dos objetivos e dos caminhos mostra o quanto é complexa, controvertida, delicada a questão. Mesmo sem entrar em questões decorrentes dessas estratégias. Como, por exemplo, saber onde atuar e de quem cobrar os custos. Na exportação de commodities de países “em desenvolvimento” para países industrializados, por exemplo, quem paga: quem exporta ou quem consome? É discussão semelhante à que ainda não tem solução no âmbito da Convenção do Clima, quando se trata de saber se a redução de emissões cabe aos países que exportam produtos industriais que implicam essas emissões (como os chineses) ou aos países que os importam (como os Estados Unidos, a Alemanha e outros). É o mesmo caso da taxação sobre emissões de empresas aéreas ou de navegação marítima (5% das emissões totais): onde fazê-lo, nos países de origem das viagens ou de destino? E os países no meio do caminho? E quando se pensa em cobrar por
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A tese da economia verde é atraente. Mas seus caminhos estão povoados de obstáculos de natureza variada
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serviços naturais - como na agricultura, por exemplo? Há estudos que mostram um valor de trilhões de dólares anuais para serviços prestados gratuitamente pela natureza - fertilidade do solo, regulação do clima e do regime hidrológico, etc. Vão ser incluídos nos preços de exportação? E nos internos? Países em desenvolvimento (inclusive o Brasil) temem que questões como essa acabem resultando na imposição de barreiras comerciais. Ou em restrições à soberania no uso de recursos naturais. A tese da “economia verde” é atraente. Mas seus caminhos estão povoados de obstáculos de natureza variada. Mesmo em 2014 não será fácil avançar. As realidades de um mundo diversificado - e em crise - continuarão muito fortes.
(*) Washington Novaes é jornalista. Artigo originalmente publicado em O Estado de S. Paulo em 6 de junho de 2012.
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Seguros Foto: Gabriel Heusi
Mercado segurador global engajado aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros
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m junho, a realização do 48º Seminário do IIS (Internacional Insurance Society), foi marcada pela adesão do setor segurador global aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros. Uma iniciativa do o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Iniciativa Financeira (UNEP FI). Com a presença dos maiores líderes do mercado segurador mundial o ato de adesão contou com a participação de 33 empresas de países como Japão, Nova Zelândia, Reino Unido, Espanha, Holanda,
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França, Noruega, Grécia, África do Sul, Canadá, Austrália e Brasil, representado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e pelas empresas: Itaú Unibanco Seguros, Mongeral Aegon Seguros e Previdência, Sul América e Bradesco Seguros. O momento não poderia ser mais adequado, em plena Rio+20, a adesão aos Princípios destacou o significativo número de iniciativas do setor de seguros no âmbito da sustentabilidade. Na grande maioria das empresas já há consenso em alinhar ações com compromissos verdes. Isso é bastante representativo, uma vez
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que, a indústria de seguros já representa 8% do PIB mundial e o setor pode ser a mola propulsora para a sustentabilidade. Prática - Agora, é preciso disseminar a importância de partir para a prática, do contrário não passam de boas intenções. O trabalho deverá ser feito de dentro para fora. Portanto, a estratégia de negócios é implementar ações positivas, que passam por parcerias com governos e outras instituições para gerenciar o risco de comunidades e publicamente explicar o papel das seguradoras na sustentabilidade.
Essa não é nenhuma novidade para um setor que sempre esteve ligado às práticas sustentáveis. As sementes dos Princípios atuais foram lançadas em 2007. Em 2008, avaliou-se como os sistemas econômico, social e de governança estavam interligados, o que resultou nos Princípios para Sustentabilidade em Seguros. A adesão representou uma evolução natural e uma forma inteligente de fazer negócios. Isso demonstra que o mercado segurador tem uma longa tradição com a formatação de produtos sustentáveis. Para um ambiente de negócios que está em movimento, os Princípios para Sustentabilidade em Seguros é um arcabouço global que viabilizam uma forma coerente de gerir novas oportunidades em seguros. Eles abordam todos os aspectos dos seguros, são operacionais e voluntários. E segmentam uma sociedade sustentável para toda a indústria de seguros. As questões ligadas ao desenvolvimento sustentável estão no centro dos debates da sociedade contemporânea. O posicionamento do setor internacional de seguros em relação a esse tema, com a adesão aos Princípios da ONU, representa
afirmaram conhecer os Princípios de Sustentabilidade em Seguros; e 54% já contam com uma gerência e um comitê de sustentabilidade. Quase metade (43%) consideram os aspectos de ASG (ambientais, sociais e de governança) como parte do processo de desenvolvimento de produtos. A pesquisa constatou que 32% das empresas buscam junto aos especialistas compreender os novos modelos de análise que levam em conta aspectos ASG na avaliação de riscos e na aplicação aos seus produtos; 71% atuam continuamente na redução do processo burocrático para análise de sinistro; e 54% elaboraram algumas mensagenschave e campanhas para o marketing relativo a temas ASG. A maioria das empresas (71%) atua continuamente na redução do processo burocrático para analise de sinistro. A inclusão de critérios sociais, ambientais e éticos na política de investimentos é estudada por 43%. Ainda, de acordo com os dados da pesquisa, 29% elaboram diretrizes corporativas envolvendo a alta administração. Quase metade (46%) criaram formas de comunicação com o cliente para divulgar as suas ações sociais ou ambientais por
a oportunidade de fazer parte da solução para os desafios existentes nas dimensões ambiental, social e de governança. No Brasil - O mercado segurador brasileiro aderiu aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros, por meio da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), que se tornou signatária. O ato representa um compromisso público do setor para o desenvolvimento social e econômico sustentável do planeta. Uma pesquisa realizada pela CNseg com o apoio da BSD Consulting, durante o último mês de maio, avaliou o alinhamento das práticas atuais do mercado brasileiro aos valores que orientam a formulação dos Princípios para Sustentabilidade em Seguros. As 28 empresas que responderam à pesquisa representam 87% do volume de arrecadação do mercado. Entre elas, 71%
meio dos produtos. Trinta e seis por cento possuem políticas de seleção e avaliação de fornecedores conhecidas pelas partes e baseadas somente em fatores como preço, qualidade e prazo. E 32% incluem aspectos de ASG em contratos ou na seleção e avaliação de fornecedores. Do total de empresas avaliadas na pesquisa, 43% verificam e incluem em contratos com prestadores de serviços critérios e exigências relativas aos cumprimentos da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal. E 32% informam publicamente sua postura relacionada aos aspectos ASG (por meio de Relatórios Anuais ou de Sustentabilidade). Comunicação - Com relação à comunicação, 36% disponibilizam informações especificas sobre aspectos ASG para sensibilizar corretores via seus canais de comunicação ou cartilhas. E 32% dialogam
no âmbito das entidades de classe sobre temas ligados à Sustentabilidade e à Responsabilidade Social. A informação também está no centro das preocupações das empresas avaliadas, 29% participam ativamente de grupos de trabalho para revisar ou criar novas políticas e normas. E 32% buscam junto aos especialistas compreender os novos modelos de análise que levam em conta aspectos ASG na avaliação de riscos e na aplicação aos seus produtos. Trinta e dois por cento utilizam veículos e canais de informações para divulgar campanhas de investimento social ou projetos ambientais específicos. O contato com centros acadêmicos também já faz parte da realidade de várias empresas: 18% têm parceria formalizada com universidades e comunidade científica para fornecer informações e contribuir financeiramente para o desenvolvimento de pesquisas que fomentem programas educativos sobre os temas de ASG. Dialogar com entorno onde atuam está entre as questões analisadas pelas empresas: 29% disponibilizam ferramentas para melhorar as práticas sociais e ambientais, aumentando a disseminação dos conceitos dentro da sociedade e nas comunidades; 43% mantêm diálogos esporádicos com entidades de classe ou federações de indústrias sobre temas ligados à Sustentabilidade e Responsabilidade Social; e 29% das empresas adotam postura proativa e recebem reconhecimento externo em relação as suas práticas. Finalizando, o lançamento Princípios para Sustentabilidade em Seguros é um marco para o setor e fortalece ainda mais a cultura e a disseminação do conceito da sustentabilidade no mercado mundial de seguros. Essa atividade vai ao encontro desse conceito, uma vez que já é da natureza do seguro atuar na prevenção e no gerenciamento de riscos. O desafio agora é amplificar as boas práticas, para que permeiem de forma pragmática toda a cadeia produtiva, influenciando no comportamento de consumidores, investidores, sociedade, reguladores e governo. Para isso, o engajamento de todos é essencial. Os Princípios saíram do papel para se transformar em práticas. Quem não cumprir poderá ser cobrado pelas próximas gerações. Afinal, um planeta sustentável é um mundo mais seguro.
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Foto: Sidney Gouvêia
A verdadeira riqueza da caatinga Trabalhar as várias estratégias de convívio com o semiárido é o caminho para superar as dificuldades da região
Texto Paulo Lima, Especial para Plurale em revista Do Rio de Janeiro
ma chuva fina envolve o Parque dos Atletas, um dos cenários da Rio+20. A temperatura agradável estabelece um contraste com as discussões travadas em vários painéis no interior de alguns pavilhões daquela extensa área ocupada por pessoas do mundo inteiro. Com o título “Ações para o desenvolvimento sustentável do bioma caatinga”, um desses painéis abordava os desafios do sertão nordestino. Técnicos, especialistas e pessoas que lidam diretamente com o dia a dia dos sertanejos expunham suas experiências. Paulo Pedro Carvalho era um dessas pessoas. Na condição de filho de agricultor, ele vivencia de perto a realidade da Chapada do Araripe, em Pernambuco, onde atua como coordenador-geral do Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais (Caatinga). Num ambiente dominado por paletós e gravatas, Paulo Pedro discrepava com seus jeans, tênis e camiseta sob uma descontraída camisa social. Sua exposição tornou próximo um cenário que se situava muito longe dali. Os exemplos e informações por ele fornecidos fizeram da caatinga um lugar menos inóspito, mais familiar e menos sujeito aos clichês que tanto a rodeiam. “Não existe a ideia de combate à seca e sim o estímulo à convivência”, disse ele a certa altura.
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Em vez da cantilena de sofrimento e vitimização que ronda o assunto, a mensagem era positiva. É preciso trabalhar a cultura da convivência com o semiárido. Não se trata de combater a seca, como se afirma por aí, num bordão repetido à exaustão pela imprensa e pelos políticos. Conviver, não combater. Há um abismo semântico separando as duas visões sobre o semiárido. Um duelo de opostos? Ao final do painel, Paulo Pedro conversou com Plurale e explicou os mecanismos dessa convivência do sertanejo com seu ambiente: “Para a gente da sociedade civil e diversas organizações que vêm enfrentando o debate para promover o desenvolvimento sustentável no semiárido, essa história de combate à seca é superada, é ultrapassada, ela não existe porque a seca é um fenômeno natural da região”. A imagem que se faz do sertão e do sertanejo é muitas vezes mediada pelas instâncias da cultura, como o cinema, a TV e a literatura. Como afirmou a Plurale o engenheiro florestal e consultor Júlio Paupitz, também participante do painel: “O que existiu no Brasil até agora é uma romantização da caatinga, uma forma idílica”. Ou seja, para boa parte das pessoas, esse bioma não passa de um cenário ressequido onde prevalece a fome, a sede e a miséria.
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Júlio Paupitz teve a oportunidade de conhecer a experiência de outros países, inclusive da África, onde morou. Estimulado por este repórter, ele fez uma comparação entre a realidade brasileira e a daquele continente: “O africano aceita o seu semiárido com mais naturalidade. Vamos falar as coisas diretamente: em termos de colonização mental, não é tão grande como aqui. Existe uma maior naturalidade do africano vivendo com seu meio”. Mas tanto num caso como no outro, a resiliência é a mesma: “O que sobressai no caso africano, como no brasileiro, é a capacidade de recuperação da vegetação depois dos longos períodos de seca. Uma chuva mínima, a vegetação brota de forma muito forte”, disse Júlio Paupitz. É nessa capacidade de resistência, nas várias estratégias de convivência e superação dos problemas que reside a verdadeira natureza desse ecossistema que, por sinal, é exclusivamente brasileiro. Conforme ressaltou Júlio num dado momento do painel, “a caatinga não é nenhuma novidade, ela está lá há 500 anos”. Então, não é possível viver em meio à adversidade sem que se aprenda como lidar com ela. Na prática, as pessoas que vivem no semiárido conhecem técnicas que as auxiliam nos períodos difíceis, como as secas. Como explicou Paulo Pedro, elas
“entenderam, estudaram e fizeram experiência sobre a realidade da região e estão montando seu planejamento, sua infraestrutura, sua ação baseada nessa realidade de Júlio Paupitz estocar água, estocar alimentos e estocar semente”. São técnicas aprendidas há muito tempo. “Isso aí nós conhecemos desde quando se sabe dos resgates mais remotos da história do Brasil”, completou ele. A estratégia fundamental é administrar os ciclos da caatinga de forma racional, tirando proveito dos períodos curtos das chuvas para fazer face às estiagens. Como acentuou Júlio Paupitz, “o manejo é a grande ferramenta”. Assim, diante dessas possibilidades reais de interação amistosa com o semiárido, soa risível o antagonismo presente na ideia de combatê-lo. “Combater a seca para nós”, disse Paulo Pedro, “é uma forma de querer trazer de volta uma coisa bastante superada da indústria da seca”. Essa é, segundo ele, uma visão de grupos políticos e econômicos que “se apropriam dessa história de colocar o sertanejo como coitadinhos para em cima disso explorá-los politicamente, financeiramente nos períodos de estiagem”. Aqueles que se debruçam sobre a paisagem sertaneja para estudá-la ou que estão naturalmente imersos nela são capazes de enxergar um cenário bem diferente. “Nossa imagem é um outro olhar sobre o semiárido, o semiárido da riqueza, da biodiversidade, do bioma caatinga exclusivamente brasileiro”, afirmou Paulo Pedro. Ele acredita que experiências agroecológicas bem sucedidas têm mostrado que é possível aproveitar a riqueza econômica sob a lógica da convivência na região. Embora as soluções para os problemas do semiárido apontem para a exploração de recursos inerentes àquele bioma, com as soluções se originando do melhor conhecimento que os sertanejos possam ter de seu lugar, não é possível prescindir do auxílio das chamadas políticas públicas. Que o sertanejo é antes de tudo um forte isso já se sabe, mas carece de um empurrão adequado. “Para a convivência digna com o semiárido, é necessário, sim, que haja ações públicas mais consequentes e permanen-
tes”, defende Paulo Pedro. E são ações que tragam infraestrutura e apoio, disseminando e socializando experiências. Um exemplo de iniciativa bem sucedida é o Programa 1 Milhão de Cisternas, um projeto da Articulação do Semiárido cuja implantação teve início nos anos 2000. A iniciativa ganhou impulso quando recebeu apoio governamental. O programa, que já ultrapassou as 400 mil cisternas construídas, é uma prova de que medidas simples e de baixo custo podem impactar a vida das comunidades. Durante sua exposição no painel, Paulo Pedro explicou que “cada cisterna construída é um motivo de celebração”. Graças ao programa, muitas famílias do semiárido já têm duas cisternas. Uma para suprir a água para beber e cozinhar. Outra voltada para a produção. Pergunto a Júlio Paupitz se podemos aprender algo com a experiência africana. Ele acredita que sim. “Essa experiência pode ser aplicada ao Brasil porque em alguns lugares, alguns países houve, uma investigação florestal mais concentrada, para fins produtivos, no bioma que seria uma coisa semelhante à caatinga, um tipo de cerrado também”. Uma alternativa seria apostar nos laços de cooperação. “A gente deveria incentivar bastante, trazer pesquisadores, levar pesquisadores para lá, para conhecer”. Mas será que esse aprofundamento do estudo que os africanos fazem de seu bioma se traduz em políticas públicas mais efetivas do Paulo Pedro que no Brasil? Júlio acredita que talvez a longo prazo, pois lá a atuação do governo “é muito mais lenta” do que aqui. “O que existe lá é uma presença de cooperação internacional bastante forte”, disse. Porém, “muitos desses trabalhos nessas áreas nem são conhecidos dos africanos. Ficam em instituições internacionais e passam despercebidos dos quadros nacionais”. No caso de nossa caatinga, algumas parcerias público-privadas têm proporcionado um impulso à região. “Hoje elas são uma realidade”, explicou Paulo Pedro. A Febraban, por exemplo, tem apoiado a ASA (associação que coordena várias ONGs com atuação no semiárido) na construção de cisternas com todo esse conjunto de formação e mobilização da convivência com o semiárido. Segundo ele, essas parcerias são extremamente
necessárias pois fortalecem experiências e ações que estão mudando a qualidade de vida dos habitantes do semiárido brasileiro, num processo que envolve resiliência e convivência. Mais do que proporcionar uma rima rica, essas são palavras-chave que ajudam a entender uma realidade ainda desconhecida da maioria dos brasileiros. O SERTÃO SEGUNDO AS PÁGINAS DA LITERATURA Se achassem água ali por perto, beberiam muito, sairiam cheios, arrastando os pés. Fabiano comunicou isto a Sinhá Vitória e indicou uma depressão do terreno. Era um bebedouro, não era? Sinhá Vitória estirou o beiço, indecisa, e Fabiano afirmou o que havia perguntado. Então ele não conhecia aquelas paragens? Estava a falar variedades? Se a mulher tivesse concordado, Fabiano arrefeceria, pois lhe faltava convicção; como Sinhá Vitória tinha dúvidas, Fabiano exaltava-se, procurava incutir-lhe coragem. Inventava o bebedouro, descrevia-o, mentia sem saber que estava mentindo. (Vidas Secas, de Graciliano Ramos) Levantou-se, bebeu um gole na cabaça. A água fria, batendo no estômago limpo, deu-lhe uma pancada dolorosa. E novamente estendido de ilharga, inutilmente procurou dormir. A rede de Cordulina tentava um balanço para enganar o menino – pobrezinho! O peito estava seco como uma sola velha! – gemia, estalando mais, nos rasgões. (O quinze, de Rachel de Queiroz) E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono. Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas -o espasmo assombrador da seca. (Os sertões, de Euclides da Cunha)
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Ensaio Especial
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Fotos:
ISABELLA ARARIPE e LUCIANA TANCREDO
Rio de todas as raças e graças Rio de Janeiro foi palco da diversidade de povos, culturas e pensamentos ao longo da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e vários eventos paralelos. As jornalistas Isabella Araripe e Luciana Tancredo apresentam para os leitores de Plurale em revista alguns destes momentos. Da esquerda para a direita no sentido horário, bandeiras de vários países complementam a bela vista do Rio de Janeiro da cobertura da instalação Humanidade 2012, no Forte de Copacabana. No Riocentro, jovens ativistas defendem os direitos reprodutivos das mulheres; no Píer Mauá, o solitário protesto do urso no barco do Greenpeace em prol da Amazônia; crianças marcam presença no Parque dos Atletas e o ator Marcos Palmeira (de cocar vermelho) participa da Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo. Ali próximo, o artista Vik Muniz dá entrevista explicando sua instalação da Baía de Guanabara com lixo reciclável; a Presidente Dilma Roussef e autoridades assistem apresentação de dança na abertura do Parque dos Atletas e uma índia, na Cúpula dos povos, se rende aos encantos do consumo global com bolsa de grife.
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Mobilidade
ONU propõe mudança de comportamento em prol da vida nas cidades Texto: Luíza Martins, Especial para a Plurale Fotos: Divulgação
s cidades mundiais são hoje aglomerados urbanos, que amargam problemas cada vez mais graves como, entre tantos outros, o congestionamento provocado pelo aumento de número de carros de passeio, má condições das ruas, falta de transporte público que atenda as altas demandas de deslocamento e pelo comportamento nada sustentável dos cidadãos. Frente ao desafio de aliar o inevitável crescimento das cidades com um modelo de vida urbana que proporcione mobilidade, conforto, segurança, saúde e bem-estar, a ONU-Habitat – braço das Nações Unidas que cuidas das cidades – criou a campanha global I’m a City Changer, uma plataforma que compartilha ações positivas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas e que vem sendo lançada em diversos países, de acordo com uma agenda mundial sobre a temática, e com características regionais. No Brasil, a campanha foi lançada durante a Conferência Rio+20, com foco na mobilidade urbana. “Hoje, mais da metade das pessoas do mundo moram em cidades e é nelas que
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estão as oportunidades para enfrentar os desafios globais. Precisamos de cidadãos transformadores para construir um futuro urbano melhor”, disse Joan Clos, Secretário Geral Adjunto da ONU Diretor Executivo da ONU-Habitat, que esteve no Rio de Janeiro durante a Conferência e para o lançamento da I’m a City Changer Brasil – Evolua com Mobilidade. Ex-prefeito de Barcelona (entre 1997 e 2006), Clos é hoje embaixador da Espanha para as Repúblicas da Turquia e Azerbaijão e presidente da Metropolis, a associação mundial das grandes cidades, e aposta na mudança de comportamento do cidadão para vencer os problemas urbanos. “O trânsito excessivo provoca consequências muito mais graves do que os atrasos enfrentados diariamente pelos motoristas: custa muito dinheiro, prejudica a saúde da população e atrapalha o crescimento do país. Portanto, amenizar o problema não é apenas uma questão de conforto, mas também um importante incentivo ao desenvolvimento econômico e social”. A CAMPANHA NO BRASIL: EVOLUA COM MOBILIDADE No Brasil, o tema mobilidade foi escolhido por provocar grande impacto social, econômico e ambiental nas metrópoles nacionais. Segundo o escritório da
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ONU-Habitat no Rio de Janeiro, a proposta idealizada para a versão brasileira da campanha buscou formas de reforçar a visão de cidade verde, abordando as quatro principais alternativas de comportamento que podem amenizar os efeitos do crescimento urbano: uso do transporte coletivo, uso da bicicleta, estímulo à carona e o comportamento que preza a civilidade. Para Wagner Andrade, Diretor da Agência Devolve, responsável pela criação da campanha no Brasil, a proposta é apresentar alternativas de engajamento e de comportamento que podem mitigar os efeitos do crescimento urbano, propondo que as pessoas abandonem antigos hábitos e adotem outros. “A intenção é despertar a atenção sobre os problemas que impactam a nossa cidade, como a mobilidade, e partir da percepção de que cada um de nós tem que fazer a sua parte, gerar o estímulo à ação e estimular um novo comportamento social”. De acordo com o grupo que está à frente das ações – ONU, Devolve, empresas parceiras que trabalham em esquema próbono e cidadãos voluntários – após pouco mais de dois meses do lançamento da campanha, ficou clara a mobilização social em torno da proposta (milhares de acessos e compartilhamentos em redes digitais de relacionamento, comparecimento à bicicleta-
da, acesso ao site), além do evidente engajamento do poder público e da imprensa: alguns jornalistas abraçaram a campanha, convidaram seus leitores a participarem das ações e ainda pedalaram na bicicletada. Mas ainda falta a participação do setor empresarial. “Temos um grande desafio de propagar as alternativas propostas pela campanha e não podemos deixar de lado a força das empresas no modelo de vida urbana em que vivemos. Estamos marcando encontros com empresários e buscando apoio institucional de entidades representativas, como é o caso da Firjan, para qual propomos um projeto educativo a ser desenvolvidos dentro das empresas, sobre os temas da campanha. Queremos a iniciativa privada ao nosso lado, nesta luta que é de todos e de cada um de nós”, acrescentou Wagner Andrade. ALGUNS NÚMEROS NACIONAIS DO PROBLEMA De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), circulam pelas ruas e estradas do país cerca de 45 milhões de veículos, sendo que 24 milhões deles, concentrados na região Sudeste. Só em São Paulo, 6 milhões transitam nos 17 mil quilômetros de vias da cidade. Além da capital paulista, Rio de Janeiro, Brasília e Recife são algumas das cidades que não suportam mais os frequentes engarrafamentos.
Uma pesquisa realizada em dez cidades brasileiras pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) revelou que os congestionamentos urbanos têm fortes impactos, principalmente em seis pontos: acréscimo do consumo de combustível, mais tempo gasto nos deslocamentos, emissão de poluentes com reflexos negativos na saúde, custo operacional, acréscimo da frota de ônibus e aumento das tarifas. A pesquisa mostra que o tempo total anual perdido em congestionamento aproxima-se dos 250 milhões de passageiros-hora para automóveis e 256 milhões para ônibus, significando um gasto adicional de R$ 194 milhões/ano. Já os gastos com tratamentos de saúde, em decorrência da emissão de monóxido de carbono, hidrocarboneto e óxido de nitrogênio estão estimados em R$ 40 milhões por ano. Segundo levantamento feito pela Universidade Federal Fluminense – UFRJ, só na cidade carioca o congestionamento gera um prejuízo de R$ 12 bilhões por ano, ou o equivalente a cerca de 10% do PIB do município. NA AGENDA Cerca de 200 pessoas, entre idosos, jovens, famílias e até uma criança de dois anos (na garupa do pai) percorrem de bicicleta o trajeto de 14 quilômetros do Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, ao Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, na manhã do dia 24 de junho, um domingo. A bicicletada, uma das ações da campanha da ONU-Habitat, teve como objetivo conscientizar a população para a necessidade de se pensar no transporte público da cidade. Para Rodrigo Moitrel, da Agência Devolve, um dos organizadores da bicicleata, é preciso estimular as pessoas a usar transportes urbanos mais sustentáveis e que possam minimizar o impacto do trânsito nas grandes cidades. “Nossa intenção é fazer a sociedade perceber, através dessas campanhas, que existem alternativas
para o problema da mobilidade urbana, mas que as mudanças dependem de cada um de nós”. Na agenda da campanha, já estão previstas mais duas bicicletas ainda para 2012. A primeira delas tem data marcada, dia 2 de setembro, um domingo, e vai acontecer simultaneamente às ações da I’m a City Changer na Itália, onde será realizado o Fórum Mundial Urbano, em Nápoles. Mais uma vez, o objetivo será o de mobilizar moradores e visitantes da cidade para pedalar pelas ruas e sensibilizá-los sobre o uso da bicicleta nos meios urbanos.
DICAS DE COMO FAZER PARTE EVOLUA COM MOBILIDADE Como: deixe o carro em casa e vá de bicicleta ou de transporte público. Adote a carona solidária como alternativa de deslocamento e faça amigos! No sinal vermelho, pare antes da faixa e mostre toda sua civilidade! Quando: Sempre!
2ª BICICLETADA Quando: 02 de setembro de 2012, domingo, às 11h (saída: Aterro do Flamengo, em frente ao MAM)
COMPARTILHE SUA HISTÓRIA Onde: www.imacitychanger.org Quando: hoje! Pessoas do mundo todo já começaram a postar vídeos, fotos e textos sobre ações que vêem contribuindo com as cidades na busca de soluções para os inúmeros problemas urbanos. São iniciativas, criadas por instituições, órgãos públicos e até individualmente, de cidades como Medellin, Nova Iorque, Nairobi, Muntok, Berlim, Kathmandu, Vancouver, Paris, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre. Todas as iniciativas buscam desenvolver cidades, visando à sustentabilidade e podem ser conferidas no site. No Brasil, há muitos exemplos bemsucedidos. Você conhece algum ou participa de ações desta natureza? Então, poste lá e faça também a sua parte! Visite: www.evoluacommobilidade.com.br Curta: http://www.facebook.com/evoluacommobilidade Assista o filme da campanha: http://www.youtube.com watch?v=CzPnbjcni8s
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Rio vai reduzir em 20% suas emissões até 2020
Por Flávia Villela Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou durante a Rio + 20, que até 2020 a capital fluminense vai reduzir em 2,3 milhões de toneladas as emissões de gases de efeito estufa, o equivalente a 20% das emissões do município em 2005. A meta faz parte do Plano de Baixo Carbono do Rio de Janeiro, em uma parceria com o Banco Mundial. Paes aconselhou os municípios de todo o mundo a serem mais ousados e não esperar decisões dos governos nacionais para promoverem o desenvolvimento sustentável. “Nossa meta é reduzir os gases de efeito estufa em 20% até 2020. Ainda temos uma redução de 12% a cumprir e é importante que essas iniciativas locais comecem a acontecer. Não podemos usar sempre a desculpa de que os chefes de Estado não chegaram a um consenso para não fazer nada.” Paes criticou o fato de a cidade do Rio ter mantido, 20 anos depois de abrigar a Rio92, o Lixão de Gramacho – fechado no início do mês – e metade de seu território sem saneamento básico. “Não adianta ficar apontando o dedo para o presidente e culpá-lo pelo que não foi feito. Precisamos ser referência de sustentabilidade”, declarou o prefeito. O investimento será de cerca de US$ 1 milhão e irá promover projetos de baixo
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Expansão de ciclovias e do programas de aluguel de bicicletas como forma alternativa de meio de transporte
carbono, além do monitoramento e da quantificação das reduções propostas. Dentre as ações, o programa prevê os monitoramentos do programa de reflorestamento de 1.300 hectares de áreas degradadas até 2016 e a expansão de ciclovias e do programas de aluguel de bicicletas como forma alternativa de meio de transporte. Com aproximadamente 6 milhões de habitantes, a maior fonte de poluição do Rio vem das emissões de veículos motorizados que respondem por cerca de 45% das emissões totais da cidade. Cidades eficientes - O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e parceiros divulgaram uma nova iniciativa que visa reduzir os níveis de poluição, melhorar a eficiência de recursos e reduzir os custos de infraestrutura em cidades do mundo todo. Lançada na Rio+20, a Iniciativa Global para Cidades Eficientes no Uso de Recursos trabalhará com governos locais e nacionais, o setor privado e grupos da sociedade civil para promover prédios eficientes em energia, o uso eficiente da
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água, gestão sustentável de resíduos e outras atividades. Cidades com mais de 500 mil habitantes estão convidadas a aderir à iniciativa, que pretende atrair 200 membros até 2015. Em um mundo em rápida urbanização, as cidades estão se tornando cada vez mais o foco dos esforços internacionais de sustentabilidade. Estima-se que até 80% da população mundial estará morando em cidades até 2050. Segundo projeções, essa ‘segunda onda’ de urbanização deve resultar em mais 3 bilhões de pessoas morando em cidades em um período de apenas 80 anos, principalmente na África e na Ásia. Hoje, as áreas urbanas respondem por 50% de todo o lixo, geram de 60% a 80% de todas as emissões de gases de efeito estufa e consomem 75% dos recursos naturais, no entanto, ocupam apenas 3% da superfície da Terra. No entanto, segundo o PNUMA, economias na ordem de 30% de água e 50% de energia podem ser conseguidas em cidades com investimentos limitados e incentivo às mudanças de comportamento.
ENERGIA & CARBONO NOVA ESPÉCIE É DESCOBERTA NA MATA ATLÂNTICA De Curitiba
Uma nova espécie de anfíbio anuro (rãs, pererecas e sapos) foi descoberta na Reserva Natural Salto Morato (PR), localizada no bioma Mata Atlântica, o mais ameaçado no Brasil. O Brachycephalus tridactylus foi encontrado em fevereiro de 2007 e, em junho deste ano, foi oficialmente declarado como uma nova descoberta no artigo da revista internacional Herpetologica. O estudo que originou a descoberta foi realizado pelo biólogo Michel V. Garey e recebeu apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza por meio de parceria com o Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGECO) da Universidade Federal do Paraná.
EFEITO CLIMA
Não se sabe ainda qual efetivamente é a influência das mudanças climáticas para os anfíbios, pois este fenômeno ainda é recente e pouco estudado. “Esta espécie, por exemplo, ocorre no topo dos morros onde o clima é mais ameno e mais úmido. Com o aumento da temperatura, ela pode não ter para onde ir, pois não existem lugares mais frios para ela se mudar”, afirma Michel Garay. “Estamos observando um declínio global dos anfíbios por diversos motivos: poluição da água e do solo, desmatamento, aumento da radiação ultravioleta, doenças, fungos, vírus, enfim, precisamos preservar os locais onde eles ocorrem e estudar seus hábitos”, ressalta Garey.
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA CAI 23% EM 12 MESES Carolina Gonçalves Repórter da Agência Brasil
Foto: Greenpeace BR
Brasília - O desmatamento na Amazônia caiu 23% entre agosto de 2011 e julho de 2012 na comparação com os 12 meses anteriores. Os dados divulgados hoje (2) pelo Ministério do Meio Ambiente apontam que 2,04 mil quilômetros quadrados foram desmatados nos últimos 12 meses. Com isso, quase 700 quilômetros quadrados foram poupados na comparação entre os períodos avaliados. O Sistema de Monitoramento em Tempo Real (Deter), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrou que, com exceção de Roraima, todos os estados da região mantiveram ou reduziram a taxa de desmatamento local. O Maranhão foi o estado que registrou a maior queda de desmatamento (67%), seguido pelo Amazonas com 45% menos áreas devastadas e pelo Acre e pelo Pará, onde a derrubada de árvores reduziu em 42% em cada estado. Para a ministra Izabella Teixeira, os números mostram “o resultado da robustez nas políticas e estratégias de monitoramento”. No ano passado, o Pará foi responsável por quase 47% do desmatamento.
MAIOR CÉTICO CLIMÁTICO SE CONVERTE DEPOIS DE ESTUDO Por Fabiano Ávila, do Instituto CarbonoBrasil
O físico norte-americano Richard Muller, fundador do projeto Temperatura da Superfície da Terra da Universidade de Berkeley (BEST), era um dos maiores críticos da teo-
ria das mudanças climáticas, sendo sempre citado por outros cientistas céticos ou procurado por veículos de comunicação que precisavam de uma fonte para questionar o aquecimento global. Pois este mesmo Richard Muller acaba de publicar um artigo no The New York Times intitulado “A conversão de um cético das mudanças climáticas”, no qual diz ter mudado de ideia devido aos resultados de um estudo conduzido por ele próprio que comprovaria que não apenas o planeta está aquecendo, como também é
possível responsabilizar as atividades humanas pelo fenômeno. “Nossos resultados mostram que a temperatura média na superfície sólida da Terra subiu 1,5 oC em 250 anos, sendo que 0,9 oC se deu apenas nos últimos 50 anos. Mais do que isso, é muito provável que essencialmente todo esse aumento foi resultado das emissões humanas de gases do efeito estufa”, escreveu Muller. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Berkeley analisaram mais de 14 milhões de medições de temperatura de 44,455 locais do globo iniciadas em 1753.
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VIDA Saud ável Cacau: muito além do chocolate
Pense em cacau e lembrou logo de chocolate? Maravilha. Mas saiba também que este fruto é fonte de magnésio, manganês, potássio, ferro, cobre e vitaminas B e E e flavonóides de ação antioxidante. Nutricionistas e especialistas têm recomendado a ingestão de cacau como complemento na dieta diária: pode ser, por exemplo, usado em receitas de sobremesas, em sucos ou, então, para polvilhar frutas e mingaus. Ajuda a melhorar o bom humor e a memória.
Sabonetes mudam vida de mulheres no interior de Alagoas Em busca de oportunidades, um grupo de mulheres se uniu em 2006 para fundar o empreendimento que daria origem à cooperativa. A ideia era produzir sabonetes artesanais usando como principal matéria-prima o leite de cabra, em abundância na região, em combinação com ervas e extratos locais. Além das dificuldades em gerir o próprio negócio, as mulheres de Maravilha - a 230 km, quatro horas de viagem de carro da capital Maceió - enfrentavam a barreira social de uma comunidade tradicionalmente rural e patriarcal. “Passamos por muitos preconceitos. Em casa, nas ruas; a sociedade não aceitava nosso trabalho”, comenta Angelina dos Santos, uma das fundadoras do grupo. Com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), uma articulação entre a Agência de Fomento de Alagoas e o Sebrae permitiu a capacitação técnica do grupo. Além do processo de formulação e fabricação dos sabonetes, foram realizados cursos em áreas complementares como cooperativismo, gestão de negócios, elaboração de cronogramas de trabalho e plano de vendas. Aroeira, babosa, juá, maracujá, aveia e mel, erva-doce e camomila são algumas das fragrâncias dos sabonetes. (Do Portal PNUD Brasil)
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Apoio:
Atenção à coluna
Um mal cada vez mais comum entre pessoas com menos de 40 anos, a hérnia de disco é motivo de preocupação para as autoridades de saúde em todo o mundo. A coluna vertebral consta de 33 vértebras dispostas umas sobre as outras. Entre elas, há um disco cartilaginoso elástico, cuja função é evitar o atrito e amortecer os impactos sofridos. Eles servem também para criar e manter um espaço entre as vértebras. Com o tempo e o uso repetitivo, esses discos se desgastam, facilitando a formação de hérnias, o que ocorre quando há o deslocamento de uma dessas placas cartilaginosas. As principais causas das hérnias de disco são predisposições genéticas, envelhecimento, inatividade física e tabagismo. “Quando a pessoa toma analgésico constantemente para dor na coluna, sem resultado, ou passa de uma semana a dez dias com dores ininterruptas na coluna, é importante que procure um medico”, alerta Dra. Valéria Brion, especialista em gestão de Medicina Preventiva da Unimed-Rio.
Energético de frutos da Amazônia A partir de pesquisas na flora brasileira e de análises sobre a necessidade de quem busca um energético, acaba de ser lançado um energético que combina o açaí, guaraná, cacau e maná cubiu. O intuito do produto E=MC². da Nação Verde é aumentar a resistência, energia e concentração. De acordo com os fabricantes, é eficaz também no combate aos efeitos nocivos de ressacas, dores de cabeça durante o período menstrual, fadiga mental, além de trabalhar no organismo como um desintoxicante.
www.congressoapimec.com.br
Realizaรงรฃo
Organizaรงรฃo
PATROCINADORES MASTER:
PATROCINADORES SENIOR:
EXPOSITOR:
PATROCINADORES:
APOIO DE DIVULGAร ร O:
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P e lo B rasi l Diretora de Plurale é indicada ao Prêmio Comunique-se Foi anunciada no último dia 26 de julho a lista dos jornalistas indicados ao Prêmio Comunique-se, um dos mais conceituados nesta área. Em cada uma das 12 categorias são indicados 10 jornalistas ao Prêmio deste ano. Com tema “Edição de Colecionador”, a premiação aproveita o momento para comemorar os dez anos do evento. Ao contrário de outros prêmios que costumam valorizar reportagens, neste, o jornalista é o homenageado. A votação, que começou em junho logo após o lançamento do prêmio, segue para segunda etapa, na qual os internautas podem escolher os três fi nalistas de cada categoria até 12 de agosto. Para votar basta ser cadastrado no Portal Comunique-se: http://premio.comunique-se.com.br/ Pela primeira vez, a editora de Plurale em revista e Plurale em site, a jornalista Sônia Araripe, foi indicada na categoria Sustentabilidade. “Recebemos a notícia com imenso orgulho por estarmos ao lado de grandes nomes do jornalismo especializado em Sustentabilidade, como Washington Novaes, Sergio Abranches, Amélia González e Dal Marcondes. Só isso já é a grande premiação! No ano que comemoramos cinco anos de trajetória de Plurale, compartilhamos a boa notícia com a equipe, parceiros e nossos leitores que sempre têm nos prestigiado”, comemorou Sônia Araripe.
A “Edição de Colecionador” da premiação inclui 11 outras categorias, além de Sustentabilidade, como Jornalista de Economia; Esportivo e de Televisão. No fi nal de agosto, uma nova lista, com os três fi nalistas por categoria, será divulgada. A festa que revelará o nome dos ganhadores acontecerá no dia 25 de setembro, em São Paulo. Categoria Sustentabilidade
INDICADOS
VEÍCULO
Amélia González
O Globo
Ana Luiza Herzog
Exame/Planeta Sustentável
Andréa Vialli
Folha de S. Paulo
Célia Rosemblum
Valor Econômico
Dal Marcondes
Agência Envolverde
Paulina Chamorro
Estadão-ESPN/ Estadão
Rosenildo Gomes Ferreira
Isto É Dinheiro
Sérgio Abranches
CBN/ Ecopolítica
Sônia Araripe
Plurale
Washington Novaes
TV Cultura
Rio de Janeiro receberá R$ 1,9 bilhão do PAC para prevenir desastres naturais Da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O governo federal vai repassar R$ 1,9 bilhão para o estado para a prevenção de catástrofes climáticas. O valor será liberado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para prevenção de desastres naturais e deve ser anunciado na próxima semana pela presidenta Dilma Rousseff. A informação foi antecipada no dia 20 de julho pela presidenta do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos.
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A verba deve chegar ao estado um ano e meio depois da enxurrada que devastou a região serrana do Rio de Janeiro. A maior parte dos recursos será destinada para a contenção de encostas e controle de inundações. “Só o Inea apresentou sete projetos e destes foram selecionados cinco que vão receber R$ 1,45 bilhão. Então, tem recursos para complementação dos investimentos na
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Baixada Fluminense, em São Gonçalo e região serrana”, disse Marilene. A presidenta do Inea disse também que a região serrana do estado vai receber um investimento de R$ 500 milhões. Ela não disse quando esse valor será liberado porque está em fase de licitação. O recurso também será do governo federal por meio de uma parceria do Fundo Estadual de Conservação Ambiental.
Apimec-Rio realiza Seminário sobre Sustentabilidade A Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais, seção Rio de Janeiro (Apimec-Rio) realizou no dia 27 de julho Seminário sobre Sustentabilidade. Dividido em duas mesas-redondas, o evento foi um sucesso, com o auditório do Sofitel praticamente lotado. A gerente do Departamento de Relações com o Mercado do Bradesco, Ivani Benazzi de Andrade, a gerente de Sustentabilidade da Souza Cruz, Simone Veltri e a gerente de Sustentabilidade da Vale, Renata Araújo, apresentaram cases de sustentabilidade das companhias. Na segunda rodada, falaram sobre a Rio + 20 e seus desdobramentos: Isaura Frondizi, sócia da Celta Capital Sustentável; Sônia Araripe, diretora de Plurale em revista e Eduardo Werneck, diretor de Sustentabilidade da Apimec-Rio. O evento foi coordenado pelo Assessor especial da Presidência da Apimec-Rio, Giberto Esmeraldo.
ANP responsabiliza Chevron por vazamento de óleo na Bacia de Campos no ano passado Isabela Vieira Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A Agência Nacional de Petróleo (ANP) anunciou no dia 19 de julho que a petroleira Chevron descumpriu a legislação brasileira na exploração de petróleo no Brasil e não observou o manual dela de procedimentos exigido pela agência para controlar riscos na operação. “Se tudo tivesse sido feito de acordo com esse mesmo manual da empresa, o acidente não teria ocorrido”, disse a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard. De acordo com o relatório da agência, a Chevron vazou 3,7 mil barris de petróleo em 120 quilômetros de costa do estado do Rio de Janeiro em 2011. O relatório completo sobre o acidente, de 68 páginas, será publicado amanhã pela ANP. O relatório foi apresentado após oito meses de análises e de receber contestações da empresa.
Segundo a ANP, os erros da empresa resultaram em 25 multas, das quais a petroleira ainda pode recorrer. O valor está sendo calculado e será divulgado em 30 dias. A expectativa da agência é que fique abaixo do teto de R$ 50 milhões. “Cada uma das infrações tem um teto de R$ 2 milhões. No entanto, a pena depende da gravidade do porte do agente e também da reincidência. Não tendo reincidência - com processo transitado e julgado - não existe como aplicar a pena máxima e chegar a R$ 50 milhões”, explicou Magda. A Chevron, que também é responsável por um vazamento de petróleo de menor proporção, em março deste ano, permanece proibida de perfurar e injetar águas nos poços - medida utilizada para aumentar a produtividade. Já a produção de petróleo, a empresa já tinha pedido voluntariamente.
Para voltar a operar, a empresa terá que apresentar no dia 27 deste mês medidas para impedir um novo acidente. A avaliação das causas do vazamento de março ainda está sendo feita. Em nota, a Chevron Brasil disse estar “confiante de que sempre atuou de forma diligente e apropriada, de acordo com as melhores práticas da indústria do petróleo, assim como em conformidade com o Plano de Desenvolvimento aprovado pela agência reguladora”. Leia a íntegra da nota divulgada pela ANP em Plurale em site:
Foto: Portal do Governo do Estado do Rio
Eduardo Werneck, Sônia Araripe, Gilberto Esmeraldo e Isaura Frondizi debateram sobre os resultados da Rio+ 20.
http://www.plurale.com.br/noticias-ler. php?cod_noticia=12259&origem=&filtr o=&q=ANP+conclui+investiga%E7%F5 es+sobre+o+vazamento+da+Chevron +no+Campo+de+Frade
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P e lo B rasi l VII CBUC apresentará mais de 100 trabalhos técnicos sobre unidades de conservação Um grande mosaico sobre as ações em unidades de conservação que estão sendo desenvolvidas em diversas regiões do país será apresentado no VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que se realizará em Natal, de 23 a 27 de setembro. São 123 trabalhos técnicos que foram selecionados e que serão publicados nos anais do congresso e expostos durante o VII CBUC. Ao todo foram recebidas 270 inscrições de autores de todas as regiões do Brasil. Os trabalhos foram submetidos a um rigoroso processo de avaliação que incluiu uma etapa de qualificação pelo Comitê Técnico do VII CBUC, composto por analistas da Fundação Grupo Boticário. Depois, cada um dos trabalhos foi analisado por três consultores externos vo-
luntários e foram aprovados os trabalhos que receberam ao menos dois pareceres favoráveis. A lista dos trabalhos selecionados está disponível no site do evento, no qual podem ser realizadas as inscrições: www.fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc. Com o tema “Áreas protegidas: um oceano de riquezas e biodiversidade”, o VII CBUC deve reunir aproximadamente 1.800 participantes, entre gestores de unidades de conservação, cientistas e técnicos ligados à administração pública, instituições de ensino e pesquisa, entre outros. Paralelamente ao evento, acontece o III Simpósio Internacional de Conservação da Natureza.
Mais de quarenta palestrantes do Brasil e de todo o mundo já estão confirmados no VII CBUC e no III Simpósio Internacional de Conservação da Natureza. Entre eles destacam-se: • Murray Rudd
Canadense, Professor de economia e política ambiental na Universidade de York (UK).
• John Amos
Geólogo americano que utiliza o sensoriamento remoto pra entender temas ambientais;
• Antonio Egg
Peruano, Doutor em ciências naturais;
• Jim Barborak
Norte-americano Especialista em manejo de recursos naturais;
• Carlos Eduardo Young
Brasileiro, Doutor em economia;
• Francisco Almendra
• Rodrigo Jesus de Medeiros • Beatrice Padovani
• Patricia Gandini
Economista brasileiro e Mestre em administração pela Harvard Kennedy School; Brasileiro, Mestre em ecologia, Doutor em geografia e Pósdoutor em ecologia e gestão da biodiversidade pelo Museu de História Natural de Paris (França). Professora adjunta do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco. Presidente de diretório na Administração de Parques Nacionais da Argentina, além de Pesquisadora da Universidad Nacional de la Patagonia Austral.
O Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação é promovido periodicamente pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A primeira edição aconteceu em 1997 em Curitiba (PR); em 2000 foi realizada em Campo Grande (MS); em 2002 em Fortaleza (CE); em 2004 em Curitiba (PR); em 2007 em Foz do Iguaçu (PR); e, em 2009, aconteceu novamente em Curitiba (PR).
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Avaliação do bem-estar do brasileiro Por Isabel Capaverde, de Plurale em revista (*) De São Paulo
É possível mensurar a felicidade? Que fatores contribuem para o bem-estar de uma sociedade? Desenvolvido pela equipe de macroeconomia do banco, o Itaú lançou o seu Índice de Bem-Estar Social durante debate com especialistas e público, promovido em São Paulo, em junho. Tendo como base três pilares, subindicadores que medem as condições econômicas, humanas e a igualdade social, o Itaú criou um índice nacional inédito para as condições de vida do brasileiro. Uma das conclusões do estudo, na verdade uma antiga discussão entre os economistas, é que nem sempre o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, a medida da riqueza produzida por todas as atividades econômicas do país) corresponde a percepção de bem-estar da população. No período analisado, de 1992 a 2010, há momentos em que o PIB cresceu como nos últimos cinco anos e o bem-estar do brasileiro não. Tudo vai depender se esse crescimento está sendo revertido em melhorias para a população em setores como segurança, saúde, educação e saneamento. “Ter dinheiro para pagar as contas no fi nal do mês gera bem-estar. Mas isso não é tudo. Sensação de bem-estar não necessariamente é reflexo de aumento de renda. Ao fazermos esse estudo não nos fi xamos num grupo social específico, de uma determinada cidade do país. Estruturamos o índice baseado em três pilares com pesos iguais, utilizando indicadores nacionais disponibilizados por instituições como IBGE, Banco Mundial e outras”, explica Caio Megale, economista do banco e coordenador do índice. Eduardo Giannetti, professor do Insper e convidado para o debate, disse que a economia é um meio e não um fi m. “O PIB é uma forma de ver o bemestar, mas a melhoria das condições
Da esquerda para a direita: Eduardo Gianetti, Samuel Pessoa, Ilan Goldfajn
humanas é muito subjetiva. A existência humana não se limita a isso”. Ao avaliar as condições econômicas, o índice do Itaú analisou consumo e emprego, levando em consideração fatores como aumento de poder de compra, emprego e taxa de desemprego, taxa de participação (população em idade ativa empregada ou procurando emprego) e rendimento médio real. O resultado é que de 1992 a 1997 houve um rápido crescimento do consumo, consequência do Plano Real, para em seguida, de 1998 a 2002, período de crise nos países emergentes, haver leve queda, com alta no desemprego. De 2003 em diante, voltamos a crescer de forma menos rápida, mas duradoura. Já no segundo pilar, condições humanas, foram analisados saúde, saneamento, educação e segurança e utilizados como parâmetros a mortalidade infantil, expectativa de vida, casos de tuberculose reportados, percentual da população com banheiro em casa e acesso à rede de esgoto, escolaridade média, distribuição do tempo de escolaridade média do brasileiro e a taxa anual de homicídios no país. De 1997 a 2003, o índice avança a taxas moderadas. Tivemos ganhos em educação, saúde e saneamento e pioramos em segurança. A partir de 2003, educação, saúde e saneamento continuam avançan-
do, mas de forma mais lenta e os homicídios caem. Como consequência o índice cresce de forma mais acelerada. Já nos últimos dois anos houve estagnação, pois a segurança voltou a piorar. No terceiro pilar, igualdade social, o Itaú optou pelos índices de Gini e Theil e teve como resultado uma redução da desigualdade a partir de 1994, sendo que se torna mais constante a partir de 2002. A conclusão final do estudo é que ainda não somos uma Suíça, mas estamos evoluindo na qualidade de vida nos últimos 20 anos. Para Megale, o índice do Itaú é complementar a outros índices como o PIB ou o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Samuel Pessoa, sócio da Tendências Consultoria Integrada e que ajudou o Itaú na criação do índice, acha que ele é mais amplo e adaptado à realidade brasileira. Já Gianneti acredita que ele possa ser utilizado na criação de políticas públicas. A proposta do banco é que o Índice Itaú de Bem-Estar Social seja anual e o desafio é transformá-lo em regional. E quem sabe, incorporar outros indicadores ao índice, como foi sugerido pelo público presente ao debate e que agradou Ilan Goldfajn, economista-chefe do banco. Por exemplo, um indicador de avaliação de instituições nacionais como o Judiciário. (*) A repórter viajou a convite do Itaú.
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Educação
. . . e r a d brincar, estu
Criançae tem qu
! o d n u m o r a d u M
os lares de muitos filhos e pouco dinheiro, é comum botar os pequenos para trabalhar antes da hora. Começam lavando a louça, varrendo o chão, depois vão para a feira vender os produtos que ajudam a semear na horta caseira, ou acompanham os pais nos biscates. Na adolescência, uma atividade atraente por causa do dinheiro fácil, é o tráfico de drogas. E muitos acabam abandonando a escola. Para combater o trabalho infantil em comunidades carentes de Pernambuco e Alagoas, a Fundação Telefônica Vivo fez uma parceria com a ONG Visão Mundial, que já atua no Brasil há 36 anos, e durante o próximo biênio vai tentar manter 5.127 crianças e adolescentes fazendo o que
N Texto e fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista De Recife (PE)
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têm que fazer: estudar e brincar. Como? Oferecendo-lhes a chance de aprender percussão, frevo, maracatu, break, ciranda, artes plásticas, informática, além de integrar times de futebol, participando de campeonatos; e frequentar o Baú de Leitura, que as leva para o mundo dos livros. Tudo isso antes ou depois de irem para a escola. Ao investir R$ 5 milhões no Projeto de Combate ao Trabalho Infantil, a Fundação pretende ainda reduzir a evasão escolar e afastar crianças e adolescentes do mundo do tráfico, uma realidade das comunidades em que vivem. “Nosso objetivo é garantir que essas crianças não abandonem a escola e tenham chance de desenvolver suas habilidades,” diz a presidente da Fundação, Françoise Trapenard.
cia, da ONG Visão Mundial, que já atua há quase 20 anos naquela Comunidade, a parceria com a Fundação Telefônica Vivo está sendo muito importante: “Podemos ampliar os benefícios e dotar os ambientes com estruturas mais adequadas.” Formada em Ciências Sociais, Rafaela acredita que o Brasil já vive um processo de transformação social, graças às diversas iniciativas que vêm surgindo tanto no setor público quanto no empresariado. Com uma visão abrangente do problema social brasileiro, ela busca Na sala do a integração com outras instituiBaú de Leitura, ções que lutam por melhorias. os Direitos e Deveres. “Unindo forças, trabalhando de forma integrada, articulados em CHÃO DE ESTRELAS rede, conseguiremos mais igualdade e justiça soNa manhã de 31 de maio, uma quincial.” Em todos os ta-feira quente, Mônica Maria Barbosa da Programas de DeSilva, 40 anos, oito filhos, bateu à porta do Centro de Organização Comunitá- senvolvimento de ria Chão de Estrelas, no Recife, levando Área (PDAs) que pela mão o seu caçula, Eduardo. Com coordena, inclusiela, estava também a filha, Manuele, 21 ve o Chão de Esanos, e a neta Gabriele. Recebidas pela trelas, ela investe coordenadora Célia Barbosa Fernandes, fortemente na muelas queriam inscrever Eduardo e sua so- dança de postura brinha, Gabriele, ambos de quatro anos, dos educadores contratados para no Baú de Leitura. À Plurale em revista, Mônica contou ensinar as crianque dois de seus filhos, Sérgio Maurício e ças: “Essa postura Alegria na Pedro José, de 16 e de 17 anos, estão en- de lutar pelos seus hora das direitos é passada volvidos com o tráfico de drogas e que no refeições. dia seguinte, sexta-feira, ela iria à cadeia, para as crianças no buscar o Sérgio, que estava preso. Quem convívio diário.” Esses educadores, quase sempre, também chegou logo depois foi Cássia de vêm da própria comunidade. É o caso Lima Silva, trazendo seu filho Cássio, cinde Thiago Silva de Santana, mestre de co anos: “Ele é muito vergonhoso, como percussão, que chegou ao Centro Coo irmão mais velho, Caíque, que só comemunitário como aluno do curso de inforçou a falar depois que veio para cá.” Essas mática e hoje é mestre. Quem ensina a mães lutam para manter seus filhos longe dançar frevo, maracatu, ciranda e break das drogas e do trabalho infantil, ocupané o educador Márcio Nascimento, que se do seu tempo livre com atividades saudáorgulha do talento dos seus pequenos veis. Infelizmente, há muitas que ainda os mantêm trabalhando, por uma questão de alunos: “Quando eles se apresentam no Festival do Recife e em congressos intersobrevivência. Formada por 18 bairros, a comunidade nacionais, fazem muito sucesso.” O treinador de futebol Silas André BorChão de Estrelas tem, segundo a pesquisa ges Silva, que tem sob seu apito times encomendada pela Fundação Telefônica de três faixas etárias, torce muito pelos Vivo, 1.177 crianças entre 6 e 14 anos trabaseus atletas durante os campeonatos lhando como autônomos, vendedores, trarealizados entre times de diversas comubalhadores domésticos e entregadores de nidades. O artilheiro Jeferson, 15 anos, cargas e fretes. Rafaela Pontes, coordenaestuda à tarde na 7ª. Série, mas não perdora Geral do Projeto Promovendo Infân-
de os treinos e as palestras do programa. Já o professor de informática, Sebastiano da Silva, vibra com os progressos de seus alunos e com a parceria com a Fundação Telefônica Vivo, que permitiu ampliar o número de computadores. A educadora Regina Albuquerque, que também é da comunidade e tem uma filha no Centro Chão de Estrelas, faz visitas às famílias para avaliar cada situação e a melhor forma de interferir para melhorar sua qualidade de vida. Tamila de Melo e Viviane Virgínia Maria Gomes, coordenadoras locais do Programa, destacam a importância de manter um bom relacionamento com as famílias dos alunos, através de palestras, assim como com os professores dos colégios existentes na Comunidade. É como explicou a coordenadora geral, Rafaela: quanto mais instituições envolvidas na busca de soluções para o problema social brasileiro, melhor.
ABRANGÊNCIA DO PROJETO Pesquisa realizada pelo IBOPE e dados do PNAD-2009 revelam que o estado de Pernambuco possui 81 mil crianças e adolescentes, entre 5 e 14 anos, trabalhando, principalmente na agricultura. Em Alagoas, são 34 mil, sendo 17% fora da escola, índice mais baixo de escolarização dentre os estados do Norte e Nordeste, onde foi realizada a pesquisa. Baseada nesses números, a Fundação Telefônica Vivo decidiu atuar em dois municípios: Recife (PE) e Inhapi, na região semi-árida de Alagoas. No Recife, além da comunidade Chão de Estrelas, com 909 crianças e adolescentes, estão sendo atendidos mais 1.260 em Casa Grande e 560 em Nova Descoberta. Em Inhapi, (AL), das 2.398 crianças entrevistadas, 83% foram identificadas
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Educação como trabalhadoras, com alto índice de distorção entre a série escolar e a faixa etária. A grande maioria atua em cultivos e trabalho doméstico. Na faixa dos 12 anos, muitas atuam em vendas, trabalho doméstico e produção de carvão. Pelo menos uma vez por mês, a coordenadora do projeto, pela Visão Mundial, Rafaela Pontes, sai de Olinda, onde mora, dirigindo seu carro até Inhapi, no sertão de Alagoas, e volta revigorada: “Já dá para sentir uma transformação na vida daquelas famílias, principalmente agora, com a parceria da Telefônica.” A seu ver, houve muito o que Alunos da percussão recepcionaram comemorar no Dia Internacional do Combate com maracatu a ao Trabalho Infantil, 12 de junho. equipe de Plurale (*) A repórter viajou a convite da Fundação Telefônica Vivo.
Alunos do break, a dança de rua.
A parceria com a Fundação Telefônica Vivo permitiu comprar mais computadores.
Artes plásticas, uma das atividades preferidas.
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UMA CARAVANA CONTRA O TRABALHO INFANTIL
VISÃO MUNDIAL ESTÁ NO BRASIL HÁ 36 ANOS
De 28 de maio a 1º de junho, aconteceu a etapa pernambucana da Caravana do Nordeste contra o Trabalho Infantil, organizada pelo Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Fepetipe). Começou com uma audiência pública na Assembléia Legislativa de Pernambuco, seguida de seminários regionais nos municípios de Salgueiro (Sertão), Garanhuns (Agreste) e Goiana (Mata/litoral), sempre com a participação de representantes dos governos municipais, da Sociedade Civil, operadores de direitos da criança e do adolescente. Simultaneamente foram realizadas atividades educativas com crianças e adolescentes de programas sociais. No último dia da caravana, uma equipe do Forum entregou ao governador Eduardo Campos um documento com os resultados colhidos durante a Caravana, pedindo o compromisso do Governo para com o cumprimento das ações do Plano Estadual para Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e proteção do Adolescente Trabalhador.
Organização não-governamental cristã que promove justiça e assistência, a Visão Mundial faz parte da World Vision International, que atua em quase 100 países. Prioriza crianças e adolescentes que vivem em comunidades carentes. No Brasil, concentra sua atuação na região Nordeste, norte de Minas Gerais, Tocantins, Amazonas e em grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Atualmente beneficia diretamente, com assistência e recursos financeiros, 80 mil crianças e adolescentes brasileiros. A metodologia aplicada pela ONG tem surtido tanto efeito que já foi até certificada pela Fundação Banco do Brasil, como tecnologia do social. “Nossa metodologia consiste em buscar patrocínio, além de obter contribuições mensais de R$ 50,00 de pessoas que mantém afilhados, com quem costumam trocar correspondência, acompanhando seu desenvolvimento” explica Rafaela Pontes. Em 2010, a Visão Mundial investiu R$ 34 milhões em seus projetos no Brasil.
Estante SUSTENTABILIDADE E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL Por Marta de Azevedo Irving e Elizabeth Oliveira, Editora SENAC Nacional, 176 págs, R$ 40,00 A partir de um convite à reflexão sobre inquietações que atingem a sociedade em tempos de crises econômica, social e ambiental, a professora e pesquisadora Marta de Azevedo Irving e a jornalista Elizabeth Oliveira uniram esforços para brindar o leitor com Sustentabilidade e transformação social, uma publicação atual e instigante. A quatro mãos, as autoras perpassam pela discussão de temas do cotidiano, buscando evidenciar a conexão entre eles e aprofundando o debate por meio de explicações sobre assuntos que merecem, ora um resgate histórico ou, por vezes, uma contextualização. Não poderia ser diferente. Afinal, este conteúdo busca alcançar diferentes tipos de públicos, incluindo estudantes e profissionais, interessados em compreender melhor o conceito de sustentabilidade, seus antecedentes e aplicação prática para gerar as mudanças essenciais.
DIÁRIO DO CLIMA Por Sônia Bridi e Paulo Zero, Globo Livros, 304 págs, R$ 29.90 Uma viagem por catorze países durante seis meses em busca de explicações e soluções para o problema do aquecimento global. No livro Diário do Clima, a repórter Sônia Bridi e o repórter cinematográfico Paulo Zero, seu marido, compartilham o que encontraram: na Austrália, o cultivo de frutas de clima seco substitui o trigo e a pecuária por conta das secas, alterando a cultura, o hábito e a rotina de antigos fazendeiros. Na Groenlândia, um terrível estrondo precede o desprendimento de um bloco de gelo do tamanho de uma casa. Na Itália, um projeto de engenharia visa impedir a inundação de Veneza, que já obriga os moradores a desocupar o primeiro andar de alguns prédios.
ONG – TRANSPARÊNCIA COMO FATOR CRÍTICO DE SUCESSO Por Maria Elena Pereira Johannpeter e Naida Menezes, Editora Unisinos, 291 págs, R$ 37,00 (Livraria Humanas) Uma metodologia para ajudar as organizações do Terceiro Setor a melhor planejarem as suas ações de forma sustentável. Assim pode ser definido o projeto Desenvolvimento de Princípios de Transparência e Prestação de Contas em Organizações da Sociedade Civil, desenvolvido pela ONG Parceiros Voluntários a convite do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que teve o copatrocínio da Petrobras. Os resultados desse esforço conjunto de mais de três anos estão agora compilados no livro ONG – Transparência Como Fator Crítico de Sucesso (Editora Unisinos), de autoria da presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários, Maria Elena Pereira Johannpeter, e da historiadora, Naida Menezes. Além da distribuição gratuita de mil exemplares às fundações, organizações sociais, governos, empresas e universidades, em Porto Alegre, o livro também pode ser encontrado na Livraria Humanas.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 2012-2050 Por Fernando Almeida, Editora Campus/ Elsevier, 288 págs, R$ 89,90 Neste livro, Fernando Almeida apresenta as mais diversificadas, e em alguns casos inéditas, interseções entre os temas em torno da sustentabilidade, sejam corporativos ou sociais, abordando aspectos como gestão da inovação, risco e governança, reputação e educação, entreoutros. Trata-se de um livro que incorpora a sensibilidade e a cultura dos diferentes grupos de interesse, reunindo autores do universo acadêmico, do setor produtivo, do mundo político e das organizações não governamentais. A lógica desta obra encerra uma abordagem ampla, que cobre desde a visão global até os aspectos nacionais e locais dos assuntos.
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Amazônia
a d L A V A N R A OC A índia guerreira cunhã poranga do campeão Caprichoso
FLORESTA AMAZONICA Festival Folclórico de Parintins movimenta a região em torno de dança, música, lendas e paixão
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Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Fotos de Isabella Araripe, de Plurale em revista (*)
Enviadas Especiais De Parintins (AM)
inguém sabe ao certo como começou esta rivalidade que vai muito além da “briga” de torcidas de futebol ou do amor de Escolas de Samba do Rio de Janeiro. O fato é que Parintins, encravada em ilha fluvial no Amazonas, quase na fronteira com o Pará, entrou para a história pela paixão que o azul e o vermelho despertam. E neste caso não se trata apenas destas cores tão diferentes, mas sim do amor pelo Boi Caprichoso, preto e azul, e o Boi Garantido, branco com vermelho. Região de criação de rebanhos, hoje a quarta maior do Estado, reza a lenda que os primeiros forasteiros em Parintins, vindos de diferentes regiões, trouxeram também suas crenças e gostos. Muitos chegaram do Ceará, Maranhão e de outros estados do Nordeste, onde há forte tradição do Boi Bumbá. Os fazendeiros trouxeram também suas tradições, como a sinhazinha da fazenda e o “caldeirão” cultural abraçou a realidade local, suas origens e lendas: as tribos de índios, suas guerreiras, aqui chamadas de cunhã poranga, o pajé e detalhes que somam um enredo incrível. Some ainda a alegria e disposição de um povo festeiro por si só e pronto, está concluída a receita para uma das mais tradicionais festas da região Amazônica: o Festival Folclórico de Parintins. Realizado ao longo de três dias, sempre no último fim de semana de junho, não é exagero contar que Parintins vive para este acontecimento. Claro, tem o gado, a riqueza da floresta, as famílias ricas da região, mas é nesta época que definitivamente esta ilha se torna a capital amazônica da alegria. Toadas - Nós, do Sul Maravilha, adoramos comparar com nossa realidade e batizamos este acontecimento como o `Carnaval` Amazônico. Mas todo cuidado é pouco: as semelhanças são tão grandes
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quanto as diferenças. E não ficam apenas nos termos, mas também na alma. Quadra de escola de samba em Parintins é curral de boi; não se toca samba enredo e sim várias toadas; no lugar do puxador do samba, aqui é o levantador de toadas; porta-bandeira é porta-estandarte e as musas da bateria do Rio aqui são representadas por uma profusão de moças lindas de tirar o fôlego de qualquer turista desavisado. Como a cunhãporanga, lindamente incorporada de índia guerreira; a rainha do folclore e a sinhazinha da fazenda, coberta da cabeça aos pés, como que saída de um livro de José Alencar. Em Parintins, existe toda uma liturgia, em tom de religiosidade, de fé mesmo. Carnaval e religião misturados, lendas e crendices amazônicas embaladas por música da melhor qualidade que traz ainda ligações
andinas. Em meio aos tambores indígenas, soa a flauta andina que nos lembra os “vizinhos” do outro lado da Cordilheira dos Andes. Alguém ainda duvida da imagem do “caldeirão/’ cultural? “É uma grande ópera popular, um de nossos produtos de exportação”, resume Oreni Braga, presidente da Amazonastur, a agência de desenvolvimento de Turismo do Estado do Amazonas. Centenário - Se pela televisão já parece grandioso e surpreendente, ao vivo e de bem perto, o impacto de conhecer algo tão irremediavelmente diferente é ainda maior. Gosto como se fosse algo que se experimenta pela primeira vez. A ilha Tupinambara, onde está localizada Parintins fica no meio da Floresta Amazônica, pouco antes da fronteira com o Pará: se for de barco, são 420 quilômetros de distância de Manaus, levando cerca de um dia de viagem pelo Amazonas e seus afluentes com sorte e bom tempo; mas de voo fretado, dá para
correr em menos de uma hora o percurso. A pista curta, mas em bom estado, já começa a garantir a sensação de frio na barriga. Que se espalha pelo corpo. A cidade não é tão pequena como possa parecer. Parintins tem 5,9 mil km², 100 mil habitantes, que recebem cerca de 300 mil turistas nesta época do ano. Anote na agenda para refletir sobre sua vinda em 2013: o Festival de Parintins acontece sempre no último fim de semana de junho. A ilha inteira “mergulha” neste grande festa folclórica que atrai gente das redondezas, de Manaus e muitos turistas de mais longe, como do Rio de Janeiro, de São Paulo e do exterior. No Festival de 2013 será comemorado o centenário das duas agremiações. Contam os historiadores da região que o Boi Garantido nasceu com Lindolfo Monteverde, que, quando menino adorava ouvir as histórias de sua avó sobre o boi de pano nas noites de São João. Quando esteve no Exército, Lindolfo ficou muito doente e fez promessa para São João. Se ele ficasse bom, enquanto estivesse vivo, haveria sempre um boi para brincar nas ruas. Assim nascia o Garantido. Já o Boi Caprichoso foi criado pelos cearenses irmãos Cid, também em 1913, que se mudaram para Parintins em busca de dias melhores. De acordo com a historiadora Aldaci Castro, além do boi-bumbá, Roque Cid organizava o Cordão dos Marujos, manifestação de cunho religioso, trazido do nordeste, que deu origem ao nome da percurssão do boi Caprichoso, a famosa Marujada de Guerra. Quem programa uma visita para conferir de perto tanta riqueza cultural, 2013, sem dúvida tem tudo para ser uma ótima oportunidade, com a comemoração dos dois centenários. É bom até programar-se com alguma antecedência. Apesar de voos regulares e dos voos charters na época do Festival de junho, quem deixa para última hora corre o risco de encontrar lotação esgotada. A opção hoteleira é limitada e uma alternativa podem ser os barcos de diferentes padrões: desde o tipo gaiola, mais tradicional que corre os rios amazônicos, até os grandes cruzeiros de luxo, que atracam nos portos de Parintins e se transformam em hotéis cinco estrelas. Consulte sites,
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Amazônia
pouco para os não-iniciados. Nem mesmo um turista deve ir para o lado vermelho vestindo as cores do rival e vice-e-versa. “Conheço uma senhora que é Garantido tão fervorosa que desistiu da ideia de ter piscina para não ter que ver todo o dia a água azul”, conta Renato da Silva Dutra, 30 anos, azul desde criancinha. “Meu sangue é azul. Amo o Caprichoso com todas minhas forças. É paixão mesmo”, resume Seu Nilo Mendonça Gomes, 73 anos, mais de cinquenta torcendo e se apresentando pelo Boi Azul. Diz que faz parte da “palminha”, espécie de instrumento de percussão feito a partir de dois pedaços de madeira que se
A Coca-Cola apoia o Festival de Parintins há 18 anos. Este ano foram investidores cerca de R$ 5,5 milhões, sendo R$ 2,5 milhões diretamente para as apresentações dos bois Garantido e Caprichoso. Desde 1994, os investimentos da Coca-Cola Brasil no festival ultrapassam os R$ 70 milhões. “Nossos investimentos em Parintins refletem nossa relação de proximidade e nossa relação de longa data com o Amazonas. Tudo que fazemos no Amazonas está ligado à sustentabilidade, inclusive quando criamos milhares de empregos que diminuem consideravelmente a pressão ambiental do homem sobre a floresta”, diz o vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, Marco Simões. Investimentos - Este ano, durante o Festival o Governo do Amazonas confirmou que fará obras a serem concluídas até 2013, ampliando área total de 15 mil metros quadrados para cerca de 19 mil m², saltando dos 12,2 mil para 17,5 mil lugares, dando maior espaço para camarotes e melhorando a infraestrutura em torno da área. Será mesmo preciso investir mais para profissionalizar ainda mais o turismo local. A área em torno do Bumbódromo fica praticamente interditada para acesso dos visitantes, com uma profusão de ambulantes,
parecem com tacos do piso, batidos para ajudar na percussão da Marujada. Seu Nilo se lembra do tempo quando os moradores brincavam só nas ruas de Parintins, bem diferente do clima frenético e profissional do Bumbódromo. Esta não é, definitivamente, uma festa amadora: a apresentação de cada Boi sai por cerca de R$ 6 milhões e os patrocínios são expressivos como do Governo Federal, Governo do Amazonas e várias empresas privadas com negócios na região como da CocaCola, Bradesco, Petrobras, Oi, etc.
carros, locais e turistas. Não há acessos para deficientes e a sensação é que poderia haver melhoria também no quesito segurança em caso de evacuação de emergência. Felizmente, a festa é muitíssimo ordeira, com um ou outro exagerando na bebida. Nada que tire o brilho de milhares de pessoas pulando e cantando os refrões e gritos de cada torcida. Aliás, torcida não: galera. Quando uma agremiação se apresenta, a outra fica calada sem nem se mexer. Vaias e manifestações não são permitidas, senão tiram ponto do grupo que representam. Os ingressos da
Fernando Sérgio Oliveira é artesão do Garantido e faz tuxuaus que pesam até 40 kgs
Seu Nilo Mendonça Gomes: “Meu sangue é azul.”
fale com quem já esteve por estas bandas, procure agências de viagem com experiência na região e selecione o roteiro com calma. Vale aproveitar a ida até o Festival para conhecer também os encantos de Parintins e redondezas amazônicas. Paixão – Os parintinenses tomam mesmo “partido” nesta disputa entre azul e vermelho. No curral do Garantido, afetado este ano pela cheia provocada pelas chuvas, o ritmo na véspera da primeira apresentação era de alegria pelos últimos acabamentos. Fernando Sérgio Marques de Oliveira, 58 de idade, 38 anos de Garantido, se esmerava nos detalhes finais de Barcos trazem moradores de municípios próximos e turistas
“capacetes” e “tuxauas”, grandes fantasias representando animais e lendas da região que chegam a pesar 40 quilos. “Isso aqui é minha vida. É um tremendo orgulho ser artista de Parintins”, diz Fernando. A fama dos artesãos autodidatas da região foi tanta que carnavalescos famosos do Carnaval carioca, como Joãosinho Trinta e o campeão Paulo Barros vieram “beber” nesta fonte e levaram muitos destas técnicas e artesãos para trabalhar nos barracões do Rio. Do outro lado da Baixa do São José, a torcida é pelo Caprichoso. Todo cuidado é
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galera sĂŁo gratuitos – ao contrĂĄrio dos turĂsticos que dependendo do local podem custar atĂŠ R$ 500 por pessoa para um sĂł dia – mas ĂŠ preciso chegar bem cedo na fila. Foi o que fez Alcilene de Oliveira, 41 anos. A tĂŠcnica de contabilidade de Manaus estreava no BumbĂłdromo de Parintins, mas veio com grupo de 20 familiares, acostumados a virem todos os anos torcer pelo Boi Garantido. “Ver na televisĂŁo ĂŠ bacana, mas estar aqui ao vivo no Festival ĂŠ uma grande emoçãoâ€?, resumia. Nem se incomodou com o cansaço de ter chegado Ă s 5 h da madrugada para garantirem bom lugar nas arquibancadas. Triciclos – O turista nĂŁo deve pensar apenas em brincar e assistir o Festival de noite. Vale tambĂŠm conferir algumas
tambĂŠm artesĂŁo Jackson Cursino, 34 anos, que faz arte em cabaças com desenhos locais em xilogravura. Na praça principal, os irmĂŁos Ivan e Elcilene Martins, que sĂŁo de Parintins, criaram uma “ambientaçãoâ€? do boi branco do Garantido ou preto do Caprichoso para os turistas tirarem fotos. Ou da jovem Amanda Forcino, 17 anos, filha do dono da loja Foto Sonora que reforçam as vendas de camisas dos dois bois. “Este ano vendemos mais do vermelho. Esgotou o estoqueâ€?, disse. Azul foi campeĂŁo - Mas deu o azul do Caprichoso, com o tema “A Cultura Popularâ€?, enquanto o Garantido trouxe este ano o tema “Tradiçãoâ€?. SĂŁo trĂŞs intensas noites de apresentaçþes dos integrantes das duas agremiaçþes: primeiro uma e depois outra com duas e meia de espetĂĄculo. Quando o boi do vermelho se apresenta a galera pula e se sacode sem parar. A do azul, quieta e em respeito, nĂŁo se mexe. Mas a situação se inverte e se ĂŠ chegada a hora do Caprichoso, a outra arquibancada assiste e se cala solenemente. Os triciclos, como o de SĂlvio E perde ponto se a galera Jorge, levam moradores e oponente vaiar ou fizer turistas pela Ilha qualquer manifestação. particularidades de Parintins. No lugar dos Nem precisaria punição: se tem algo que poluentes tĂĄxis, hĂĄ triciclistas pelas ruas, marca o caboclo destas paragens, alĂŠm da como os que temos conhecimento em vĂĄ- cordialidade, ĂŠ a civilidade. rios paĂses asiĂĄticos. Levam passageiros de NĂŁo hĂĄ como negar. O Festival FolclĂłum lado para outro da ilha por R$ 3 a 5 por rico de Parintins ĂŠ espetĂĄculo sim, grandiopessoa. â€œĂ‰ muito prĂĄtico e os turistas ado- so, gigantesco, como Broadway da floresta ram conhecer a cidade desta formaâ€?, diz o ou opera popular. Com direito a muitos triciclista Silvio Jorge, 34 anos, lembrando efeitos especiais, novidades e colorido que os triciclos nĂŁo poluem a floresta. HĂĄ que tanto tem inspirado os carnavalescos uma empresa recicladora de lixo, mas ainda do SambĂłdromo, no Rio de Janeiro. GuarĂŠ comum o povo local enterrar ou incene- dadas as devidas proporçþes, o Garantido rar os resĂduos. Os rios da Bacia AmazĂ´nica nos lembrou muito a empolgação da massĂŁo a principal via de transporte. No trecho sa pela Mangueira. Ou da torcida rubro-necompreendido entre a foz do Rio Nhamun- gra no MaracanĂŁ. JĂĄ o Caprichoso lembrou dĂĄ e Parintins a largura do Rio Amazonas ĂŠ a tĂŠcnica e cuidado de Paulo Barros, na de aproximadamente 50 km. Unidos da Tijuca ou do lendĂĄrio JoĂŁosinho A regiĂŁo cresceu por conta principal- Trinta, na Beija-Flor. mente da pecuĂĄria. Mas ĂŠ, sem dĂşvida, Emoção aqui nĂŁo falta. Se o vermelho pelo Festival de Parintins que esta parte ĂŠ sangue, pulsar; o azul ĂŠ de arrepiar, lĂrico, da Floresta AmazĂ´nica ĂŠ lembrada e eter- poesia em forma de gente e boi. A imennizada. HĂĄ outra curiosidade que faz total sa escultura articulada de Luiz Gonzaga diferença: o povo local ĂŠ muito simpĂĄtico e foi inesquecĂvel, assim como os tuxuauas adora conversar com os visitantes. - grandes fantasias armadas, que sĂŁo “vestiGente simples e criativa como a arte- dasâ€? por homens fortes, pesando 40 quilos sĂŁ Lilian Paz, 30 anos, que oferece roupas cada- do Garantido. O pajĂŠ do vermelho com toques da regiĂŁo, como botĂŁo de cĂ´co desceu em armação de ferro espiral sole tingimento com frutos da floresta e o tando fogos de deixar o Batman do Times
Square de boca aberta. E no Caprichoso, peixes pareciam flutuar, servindo de inspiração para o genial Paulo Barros, campeĂŁo no Rio pela Unidos da Tijuca, nĂŁo por acaso, tambĂŠm azul e amarela. Mas foi quando o levantador de toadas, o cantor oficial do azul, o deficiente visual David Assayag - que jĂĄ foi Ăcone do Garantido - entrou na segunda noite toando “Nossa Senhoraâ€? de Roberto Carlos, com crianças caminhando em procissĂŁo, e o pĂşblico azul acendendo seus celulares que ficou bem claro o sentimento gostoso da primeira vez. Arrepiou atĂŠ a sola dos pĂŠs. Para nĂłs, ilustres turistas observadores, independente da aguerrida disputa entre azul e vermelho, o espetĂĄculo marcou para sempre. Este sentimento inesquecĂvel de ter visto e sentido - depois de tanto tempo - algo inĂŠdito. Qual foi a Ăşltima vez que vocĂŞ sentiu aquele frio na barriga como se fosse a primeira vez? (*) A Editora e a repĂłrter fotogrĂĄfica viajaram a convite da Amazonastur.
SERVIÇO s / &ESTIVAL &OLCLĂ˜RICO DE 0ARINTINS ACONTECE SEMPRE NO ĂžLTIMO l M DE SEMANA DE JUNHO / DE DEVE SER AINDA MAIS CONCORRIDO PORQUE SERĂŽO COMEMORADOS OS CENTENÉRIOS DOIS "OIS #APRICHOSO E 'ARANTIDO 2ESERVE A VIAGEM COM ANTECEDĂ?NCIA s ! 4RIP VOA PARA 0ARINTINS COM VOOS REGULA RES SEMPRE A PARTIR DE -ANAUS ! 'OL FUNCIONA COM VOOS CHARTERS NA Ă?POCA DO &ESTIVAL &OL CLĂ˜RICO )NFORME SE SOBRE A DATA DA VIAGEM s (É TAMBĂ?M A OP ÎO DE SEGUIR DE BARCO MAS Ă? PRECISO TER TEMPO LEVA PELO MENOS UM DIA DE -ANAUS ATĂ? 0ARINTINS SE O TEMPO ESTIVER BOM s (É DIVERSAS OPÂ ĂœES DE HOTĂ?IS NA CIDADE PARA TODOS OS GOSTOS E BOLSOS / !MAZON 2IVER 2ESORT Ă? UM DOS MAIS CO NHECIDOS MAS HÉ VÉRIOS OUTROS s / IDEAL Ă? PROCURAR UMA AGĂ?NCIA DE VIAGENS ESPECIALIZADA EM 0ARINTINS (É VÉRIAS BASTA PESQUISAR NA INTERNET PORTAL AMAZONASTUR: http://www.visita mazonas.am.gov.br/site/ PREFEITURA DE PARINTINS: hhttp://www.parintins.am.gov.br/ BOI CAPRICHOSO: http://www.boicaprichoso.com/ BOI GARANTIDO: http://www.boigarantido.com.br/
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Caprichoso
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Fotos:
ISABELLA ARARIPE
Entre a paixão pelo azul ou pelo vermelho ense rápido? Você prefere a cor azul ou vermelho? Em Parintins, muito mais do que questão de gosto ou preferência pessoal, azul e vermelho representam paixão sem fim. Isabella Araripe esteve no Festival Folclórico de Parintins, em junho, em plena selva amazônica, e colheu para os leitores de Plurale em revista registros destes momentos de pura emoção ao longo de três dias de exibição da Agremiação do Boi Caprichoso, azul e do Boi Garantido, vermelho. Aqui, não são torcedores, é a galera, que vibra na apresentação de sua paixão e depois se cala, ordeira para ouvir a dos concorrentes. E há particularidades na apresentação de lendas e personagens do Amazonas, como as belas sinhazinhas e as índias guerreiras cunhã porangas. O tema do vencedor Caprichoso este ano foi “Viva a Cultura Popular Brasileira”.
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Garantido
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O Boi Garantido (vermelho) sofreu com as chuvas que chegaram a alagar a sua quadra, ou curral, como se chama em Parintins. Mas isso não diminuiu a garra da Agremiação ao longo de três dias de apresentações. O tema este ano foi “Tradição”, aguardando a chega dos 100 anos de história do grupo em 2013. Enormes esculturas, construídas por artistas locais, encantaram o público. A porta-estandarte do Caprichoso mostrou toda a graça das mulheres amazônicas. Moradores de Parintins se apresentaram como tribos de índios e nem mesmo a chuva ou um princípio de incêndio em uma das alegorias reduziu a vibração da galera. A música foi outro ponto alto do Festival.
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Arte em Parintins Por Isabella Araripe, de Parintins (AM)
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m uma terra com artesãos tão talentosos como Parintins, encontramos um grupo de genuínos artistas na Associação Só Arte. Autodidatas, os 40 sócios se reuniram em regime de cooperativa para vender suas criações. Mateus da Silva Pereira, 37 anos, secretário da Só Arte, conta que o grupo se reuniu há 10 anos. O trabalho ajuda a complementar a renda de alguns e é fonte de sobrevivência de outros. “No Festival Folclórico de Parintins vendemos mais”, conta Mateus, que começou a mexer com artesanato aos oito anos e hoje tenta ensinar o ofício aos filhos. Ele trabalha com pintura, mostrando aos turistas a riqueza amazônica. Outra artesã, Ciomar Bastos, 47 anos, é vice-presidente da Só Arte, e se especializou em trabalhos com cipó. Vende também em seu quiosque souvenires da região. “Dá para ajudar nas contas de casa”, diz Ciomar. Confira nesta página uma pequena amostra do interessante artesanato da cooperativa. Bolsas de palha e casca de côco, onça, barco da região e enfeites, com preços que variam de R$ 30,00, a carteira de palha, a R$ 120,00 o barco amazônico verde. O grupo aceita encomendas de pessoas físicas e empresas.
Serviço: s !SSOCIA ÎO 3OARTE 0ARINTINS !- Tel XX (92) 9257 7526 X (92) 3533 4259
Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
foto: Christina Rufatto/ Divulgação
Bazar ético
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Juventude
Há mais de 30 anos abrindo caminho para a Ciência Tema deste ano é “Inovação tecnológica para os esportes” Texto: Elis Monteiro, Especial para Plurale em revista Foto: Ricardo Marques
quipado com seus cinco sentidos, o homem explora o universo ao seu redor e chama esta aventura de Ciência - Edwin Powell Hubble O Brasil tem, segundo o IBGE, 8.514.876,599 km². Imagine quantos projetos, ideias e jovens brilhantes podem caber em todo esse mundaréu? Pois é esta resposta que o Prêmio Jovem Cientista busca há mais de 30 anos, garimpando talentos, valorizando e estimulando a pesquisa país adentro. Em plena forma, o projeto chega este ano à sua 26ª edição com fôlego de adolescente e um tema dos mais atuais – “Inovação tecnológica nos esportes”. Considerado pela comunidade acadêmica um dos mais importantes incentivos à Ciência no país, o PJC, iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Roberto Marinho, da GE e da Gerdau, busca ideias simples que solucionem problemas complexos da sociedade. Os números mostram que o passar dos anos só faz bem ao PJC. Em 2011, o Prêmio teve recorde de inscrições – 2.321 trabalhos, crescimento de 7% em relação a 2010. Somadas todas as categorias, são distribuídos R$ 600 mil em prêmios, incluindo as bolsas de pesquisa concedidas pelo CNPq. Os temas também ficam cada vez mais atuais e norteiam todo o processo de inscrições e desenvolvimento dos trabalhos. Escolhido pelo CNPq e pelos parceiros, o tema sempre terá relação com um grande desafio atual da sociedade que demande soluções de ciência e tecnologia. O deste ano não podia ter timing melhor,
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já que o país respira os grandes eventos esportivos que receberá até 2016. Para ajudar professores e alunos, o PJC cria cadernos com planos de aula e dicas de linha de pesquisa, o chamado Kit Pedagógico, e o distribui de graça para mestres e escolas. A equipe do PJC também viaja pelo país apresentando o projeto em escolas, secretarias de educação e universidades. A ideia é aproximar ao máximo o Prêmio Jovem Cientista do aluno. - O estímulo à ciência e pesquisa é como uma semente que deve ser plantada desde cedo pelos orientadores educacionais nos seus alunos. Quanto mais cedo se desmistifica a ciência como complexa, mais cedo se abrem os caminhos para o conhecimento. Além disso, hoje muitos jovens já percebem que a ciência pode significar uma carreira bem-sucedida, capaz de lhe propiciar, inclusive, ascensão social – diz Eloisa Aquino, responsável pela divulgação do PJC. Integração - Mais do que descobrir talentos, o PJC tem como meta apontar caminhos para a pesquisa e promover a integração entre o mundo acadêmico e a sociedade. Dividido em cinco categorias (Graduado, Estudante do Ensino Superior, Estudante do Ensino Médio, Mérito Institucional e Menção Honrosa), o PJC já premiou centenas de pesquisadores uniu professores e alunos de gerações diferentes. Criado pelo CNPq em 1981, o PJC produziu inúmeros casos de sucesso. Como o da professora da PUC-Rio Zaia Brandão, que aos 74 anos, em plena atividade, foi escolhida Jovem Cientista em 2008. Aos 54 anos de carreira e toda uma vida dedicada à pesquisa, ela recebeu o prêmio das mãos do presidente, no Palácio do Planalto, ao lado de outros Jovens Cientistas. “Fiquei encantada quando vi meus colegas de prêmio, jovens de desde o ensino médio, era uma rede reprodutora de talen-
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tos. Ser cientista e trabalhar com ciência não deixa a gente ficar velho”, diz Zaia. Campeã do PJC 2011 na Categoria Ensino Médio, Ana Gabriela Person Ramos (leia entrevista no box), de 20 anos, também seguirá o caminho da pesquisa científica. O projeto vencedor do ano passado, cujo tema era “Cidades Sustentáveis”, continua a mil. Gabriela criou embalagens ecológicas para plantas com resíduos de biomassa, que podem ser levadas diretamente à terra sem poluir o meio ambiente. Este ano, o desafio do PJC é continuar crescendo, superar adversidades como greves constantes na educação e pouco incentivo dado à ciência no país e provar que a inovação tecnológica pode ser simples e não é feita apenas por pesquisadores de jaleco branco em laboratórios high-tech. No esporte, por exemplo, uma nova modalidade como o slackline ou suplementos alimentares usados no dia a dia para enriquecer a saúde de atletas são inovações importantes. De acordo com Fernando Francisca, coordenador de Projetos da Fundação Roberto Marinho, o tema Inovação nos esportes é bastante amplo.
“O estímulo à ciência e pesquisa é como uma semente que deve ser plantada desde cedo pelos orientadores educacionais nos seus alunos” Eloisa Aquino, responsável pela divulgação do PJ - Vai desde a preocupação com a nutrição, passando por equipamentos utilizados na prática esportiva. Você já pensou, por exemplo, em quantas mudanças a bola de futebol sofreu desde sua criação? A primeira bola era feita de couro animal e costurada a mão. E hoje elas são fabricadas com elementos mais elaborados, como o polímero. Isso permitiu que os gomos fossem unidos por ligação térmica e não mais por costuras – diz ele. Ainda segundo Fernando, com bastante frequência ouvimos falar do nascimento de novos esportes, como o Volençol e o Pet in
bol, que possuem regras baseadas no voleibol. Para sua prática, são necessários materiais recicláveis como garrafa pet e cabo de vassoura. - Não há restrição em pesquisas que apontem possibilidades na prática es-
portiva. O Parkour é um exemplo. É um esporte novo que dialoga com o corpo e a mente do atleta e que vem ganhando espaço na sociedade, principalmente no meio urbano. Se formos pensar na trajetória das modalidades esportivas,
notamos que houve muitas mudanças em um espaço curto de tempo. Neste momento, precisamos ampliar as oportunidades para o surgimento de soluções criativas neste campo, junto com estudantes e pesquisadores.
ENTREVISTA ANA GABRIELA PERSON RAMOS Ela ainda é uma menina – está com 20 anos - mas já conquistou um título de peso: ela é uma Jovem Cientista. De fato e de direito. Ana Gabriela foi vencedora da categoria Estudante do Ensino Médio da XXV Edição do PJC (2011), que tinha como tema “Cidades Sustentáveis”. A estudante, natural de Campinas, criou embalagens ecológicas para plantas com resíduos de biomassa, que podem ser levadas diretamente à terra sem poluir o meio ambiente, já que a biomassa é constituída de substâncias de origem orgânica, como bagaço de cana-de-açúcar, cascas de arroz, resíduos florestais e agrícolas e excremento de animais. A pesquisa lhe rendeu o título, o troféu – que recebeu das mãos da presidente Dilma Rousseff - e a oportunidade de continuar trabalhando com projetos de sustentabilidade ambiental. Em entrevista à Plurale em revista, Gabriela conta como ficou sua vida depois da conquista do PJC e dá dicas para os candidatos ao Prêmio. Plurale em revista - Em que medida a pesquisa com a qual você venceu o Prêmio Jovem Cientista evoluiu depois da premiação? Ana Gabriela Person Ramos - Após ganhar o Prêmio, a pesquisa sobre as embalagens ecológicas, que já estava sendo um pouco deixada de lado, ganhou força total, pois eu me senti segura e incentivada a nível nacional. Portanto, me uni com mais duas parceiras de pesquisa, a Tatiane Florido e a Graziele da Silva, e juntas demos continuidade ao projeto. Estamos estudando a fundo o processo de decomposição de cada tipo de embalagem, além de utilizar novos resíduos e agentes ligantes; participamos da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE) e ficamos com o primeiro lugar na categoria Ciências Agrárias. Agora, novas oportunidades estão surgindo, como a publicação do trabalho na revista “Inciência”, participação garantida na Mostra de Ciência e Tecnologia (MOSTRATEC), que acontece todo ano em Novo Hamburgo (RS), e um convite para participar da Agrishow - Feira Interna-
cional de Tecnologia Agrícola em Ação, que acontecerá em Ribeirão Preto (SP). Plurale - Como o prêmio está influenciando sua vida? Ana Gabriela - O Prêmio me abriu os olhos para uma possibilidade que eu não conhecia, que é caminhar cientificamente com uma pesquisa mesmo antes de ingressar na faculdade. Isso abre muitas portas, além de fortalecer as minhas escolhas e áreas de atuação que pretendo seguir. Plurale - Você prestou vestibular recentemente. A carreira escolhida tem a ver com a pesquisa? Ana Gabriela - Estou me preparando para prestar Ciências Biológicas ou Engenharia Ambiental. A minha pesquisa tem tudo a ver com ecologia e sustentabilidade, área em que desejo atuar. Plurale - Você acredita que o papel da ciência e da tecnologia no desenvolvimento do Brasil está devidamente valorizado? Consegue apontar principais avanços e, principalmente, desafios? Ana Gabriela - A valorização da ciência no Brasil está em processo de expansão, mas acredito que ainda há muito a se fazer quanto à valorização dos cientistas, tanto na obtenção de bolsas quanto na melhoria dos laboratórios e locais de pesquisa. O Brasil tem um potencial enorme na produção da ciência e da tecnologia, e é preciso estimular os estudantes (principal-
mente os do ensino médio, que, em sua grande maioria, não têm acesso a laboratórios e não são incentivados a pesquisar), pois a ciência está em todo lugar, faz parte da vida e nós podemos utilizá-la a favor da harmonização entre nós e o meio ambiente que nos cerca e nos completa. Plurale - Pretende algum dia voltar a participar do Prêmio, nas categorias Estudante Universitário ou Graduado? Ana Gabriela - Já pensei na possibilidade, mas deve ser muita sorte faturar o Prêmio duas vezes, né? Plurale - O tema do PJC neste ano (2012) é “Inovação Tecnológica nos Esportes”. Que assunto você gostaria de ver abordado nos trabalhos inscritos? Ana Gabriela - Gostaria de ver trabalhos que visam a melhorar a saúde dos esportistas, pois estes se desgastam ao longo do tempo e se “aposentam” por problemas físicos. Acredito que a ciência é uma ferramenta que está aí para melhorar a qualidade de vida do ser humano, assim como construir uma relação de gratidão e harmonia com os recursos naturais, que nos permitem construir e descobrir sempre mais. Plurale - Que dicas você daria a quem quer inscrever uma pesquisa no prêmio? Ana Gabriela - Caprichem na parte escrita e na criatividade! E lembrem-se que é possível ganhar!
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Colunista Plurale
Patricia Almeida Ashley
Legislação, governança e estratégias de Estado para a sustentabilidade omo evento paralelo à Rio+20 no período de 17 a 20 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, foi realizado o I Congresso Mundial sobre Justiça, Governança e Legislação para a Sustentabilidade. A participação de advogados, magistrados, procuradores, ministros e membros do Poder Judiciário Federal e Estadual, do Ministério Público, de Tribunais de Contas do Brasil acompanhados por equivalentes autoridades do exterior, de dirigentes da Comissão de Direitos Humanos, do Programa Ambiental das Nações Unidas, do Banco Mundial e com participação ativa da Fundação Getúlio Vargas, nos trouxe importantes reflexões sobre o papel da legislação e governança para uma justiça e sustentabilidade ambiental. Houve dois eventos mundiais preparatórios para esse congresso que subsidiaram com documentos, consensos em reflexões mundiais. Recomendo a leitura da declaração final do I Congresso Mundial sobre Justiça, Governança e Legislação para a Sustentabilidade (em inglês). Não me ocorre que tenha havido grande divulgação na mídia sobre os temas do congresso, em especial sobre a importância da legislação a ser atualizada e tornada coerente em nível global a orientar as legislações nacionais, visando seu alinhamento e adequação para o desenvolvimento sustentável, no meu entendimento questão nevrálgica para políticas públicas nesse sentido. Já a questão da governança para a sustentabilidade, ao tomar conhecimento, não profundamen-
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te por minha leitura, de textos síntese do congresso, houve uma ênfase no nível global da governança e pouca ênfase ao nível local de governança, talvez em função de uma perspectiva global do evento. Quando pensamos no contexto brasileiro, nem sempre a legislação federal é suficiente para vigorar no nível federativo dos estados e dos municípios. O modelo brasileiro de Estado e de Direito por ser dedicado a permitir uma república federativa oferece margens para regulamentação infra-constitucional por estados e municípios, além do nível federal. Federal não é o mesmo que Central e, assim, Governo Federal não é o mesmo que Governo Central (como o é na Inglaterra). Processos de mudança no marco institucional brasileiro de legislação para o desenvolvimento sustentável requerem pactuação do federal com o nível estadual e o nível municipal, melhor ainda se apoiado por confederações de municípios e estados (a exemplo do I Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, organizado pela Frente Nacional dos Prefeitos que tive a grata satisfação de participar e testemunhar compromissos alinhando diretrizes federais e municipais para o desenvolvimento sustentável). Como profissional de educação, de forma indissociável entre ensino, pesquisa e extensão universitária, penso que o Brasil trará lições para lidar com um contexto nacional complexo, heterogêneo, por vezes difuso, por vezes complicado, por vezes incompreensível, mas que só nascendo ou vivendo profundamente as surpresas
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maravilhosas que o Brasil nos traz para compreender como emergem, de forma complexa e, por vezes, silenciosa, as inovações que vem ocorrendo aqui em políticas públicas, empresariais e da sociedade civil, em legislações, em ciência e tecnologia que possam nos mostrar vetores e caminhos para o desenvolvimento sustentável. Onde pecamos no Brasil ainda é uma tradição copiar e colar (mimetismo) o conhecimento dos outros de fora, pela importação e mercantilização de soluções institucionais, educacionais e tecnologias adotadas para contextos culturais e legais distintos do nosso, pelo clientelismo para favores pessoais, pela privatização da coisa pública para garantir uma sobrevivência mais parecida com a nobreza ou serviçal à nobreza. Essa tradição de mimetismo de fora para dentro do Brasil, no meu entendimento, é em parte fruto de um passado de Brasil colônia escolhida para então ser depósito de rejeitos ou degredados (tanto humanos, como padrões tecnológicos e materiais) e supridor de recursos e serviços ambientais e matérias-primas (fora o tráfico humano e sexual). Imagino a fala nos séculos a partir do Descobrimento do Brasil, dita por governos portugueses e aliados. “Se não se comportar e se corrigir, te deportamos para o Brasil”. Penso, às vezes, que ficamos sem rei ao encerrarmos o governo imperial no século XIX, mas transportamos o ideal de rei, de nobre, de máximo garantidor do brio de nação aos que exercem funções diretivas, executivas, abandonando formas colegiadas, participativas, parlamentaris-
tas. A fusão da função de presidente como Chefe de Estado e Chefe de Governo sem ter maioria parlamentar é algo extremamente complexo, ao contrário de sistemas parlamentaristas em que o governo é fruto da maioria parlamentar da situação ou coalizão representada pelo Primeiro Ministro. Quando mantemos a figura de Chefe de Estado separada do Chefe de Governo, fica mais clara a distinção entre a função pública de Estado da função pública de Governo. É o caso de países conhecidos como a Holanda, Inglaterra, entre outros. Bom, aqui não temos mais Rei ou Rainha (nunca tivemos a figura feminina como Rainha, mas como Princesa, a Isabel), não temos Chefe de Estado separado de Chefe de Governo e, ainda, temos o Poder Legislativo eleito de forma separada do Poder Executivo. E ainda sem sincronia com eleições estaduais e municipais. Não seria a hora de fazermos uma séria reflexão sobre se Desenvolvimento Sustentável é para ser assunto de Governos (planejamento de curto e médio prazo em mandatos de 4 anos) ou assunto de Estado (planejamento de longo prazo de diretrizes estratégicas de nação)? Como fazermos o desenvolvimento sustentável se só pensamos (quando pensamos) em planos de governo ou no máximo em Planos Plurianuais ou um pouco mais em Planos Decenais de Saúde, de Educação, de Planejamento Urbano? Bom, 10 anos é inviável para ser sustentável o desenvolvimento. É para pensarmos 20, 30 a 50 anos na frente. Dez anos são equivalentes a duas turmas de graduação de cinco anos ou cinco turmas de Mestres formados. Não sei como mudarmos eixos em dez anos. Ok, que pensemos em 20 anos. Mas é pouco. Ou seja, hoje no Brasil desconheço qualquer consenso entre técnica e política para 20 anos, na minha limitada rede de conhecimento. Uma exceção é o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado o PMDI que está previsto na Constituição Estadual de Minas Gerais. Planejamento de longo prazo é para mim um grande desafio para trazer a abstração conceitual do desenvolvimento sustentável para a concretude consciencial participativa de acordos de governança, legislação e políticas públicas e privadas em âmbito nacional, estaduais e municipais nesse sentido. Retomando o ponto da governança ambiental global pela Rio+20 e da governança global para a Sustentabilidade no I
Congresso Mundial sobre Justiça, Governança e Legislação para a Sustentabilidade. A questão é que tratar da governança global, passando uma régua global para a governança ambiental (estou aqui fechando o foco na sustentabilidade ambiental) me parece surreal, como alguns pensam em transformar o PNUMA em uma agência ambiental (vejam: ambiental é uma perna só do desenvolvimento sustentável) similar aos poderes de uma Organização Mundial do Comércio (OMC). Sustentabilidade Ambiental como tema para uma agência global me lembra fragmentação, visto que o ambiental só não basta para o sustentável, ou concentração e globalização de governo por regras a serem
“ Não é tendo mais coisas consumidas e maior patrimônio acumulado a cada ano que vamos ser uma nação sustentável” concebidas para defender interesses não necessariamente nacionais, de uma pátria, mas globais (é por consenso? como consensuar pátrias desiguais em recursos e capitais? difícil consenso! então é por votação? nossa, vence a maioria dos países em desenvolvimento ou a minoria dos países que concentram a produção de emissão de carbonos no mundo?). A sustentabilidade global passa fundamentalmente por apontar o dedo para o que estamos excedendo e não o que estamos carecendo. O Brasil avançou muito em programa de redução da pobreza, da miséria. Mas, estamos errando novamente, como interesse de Estado e prioridade estratégica para a sustentabilidade da nação e futuras gerações, a remuneração e condições de trabalho dos profissionais
de educação e ao considerarmos educação como gastos e não como investimento como % do PIB. Não é tendo mais coisas consumidas e maior patrimônio acumulado a cada ano que vamos ser uma nação sustentável, o que é medido pelo PIB. É a felicidade por exercício pleno de nossos direitos sociais e humanos (ter dignidade pelo acesso a bens públicos, serviços públicos, sem distinção), que incluem o direito a uma natureza protegida (não só os serviços ambientais a participarem de uma economia verde a ser mercantilizável). É também podermos viver uma vida contemplativa, com tempo para convivência familiar, comunitária e intercultural. É não ter que trabalhar 40 horas e, pior, 44 horas ou, pior ainda, três turnos de aulas para ministrar como professores, trabalhadores, para garantir um salário para sobreviver e, mais, não ter que ficar 3 ou 4 horas no deslocamento casatrabalho. É também não precisarmos de carros para nos deslocarmos e podermos contar com sistemas públicos de transporte de qualidade e limpos em fontes energéticas e não geradores de resíduos. Bom, retornando a uma perspectiva da razão de ser Brasil, nos tempos atuais os degredados que foram os colonizadores no Brasil se ilustraram, criaram identidades locais e se renovaram para se misturarem a outros degredados. Criamos uma nação diferenciada em que não se encontra mais a cor legítima, a etnia pura, graças a Deus! Somos a miscigenação de todos os povos do mundo, com muito prazer, mas também com muita luta, coragem, enfrentamentos e persistência para criarmos uma nação que faz diferença. Entendo que esse passado insustentável está com os dias contados. Isso pois, se não mudarmos, não só o Brasil se esgota como nação potencialmente altiva e soberana, mas a conta global será um passivo para toda a humanidade. Não somos mais supermercado de coisas reproduzíveis, produção em série, produção em massa. Os degredados estão emancipados e buscam um futuro de um Brasil para todos, sem pobreza material e espiritual.
Prof a. Patricia Almeida Ashley Rede EConsCiencia e Ecocidades Universidade Federal Fluminense Email: redeeconsciencia@gmail.com
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Cultura
Odisseias africanas Texto: Maria Helena Malta, Especial para Plurale (*) Fotos: Divulgação
“ Não há mais lugar de origem ” (José Eduardo Agualusa, em Fronteiras perdidas)
“
A ir pelas picadas de cá, estou-lhe a falar de um rio que tem lá (...). Para a frente, quando voltar a falar no assunto, vou lembrar-me é das paisagens daqui...” Estas são palavras que parecem dizer da dificuldade de abrir mão de um lugar pelo outro, após o fascínio
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de inúmeros e mágicos encontros, e após a descoberta de grandes diferenças e surpreendentes semelhanças. São palavras do poeta, escritor, antropólogo e cineasta Ruy Duarte de Carvalho, um angolano nascido em Portugal, em seu livro Desmedida. Palavras que também poderiam ser do escritor, músico e artista plástico Valter Hugo Mãe, um português nascido em Angola, que já fez sucesso na Feira Literária de Parati (Flip) e é autor, entre outros, de O filho de mil homens, O nosso reino e O remorso de Baltazar Serapião - este, vencedor do Prêmio José Saramago de 2007. Palavras, enfim, que poderiam ter sido ditas por vários outros escritores-viajantes do mundo lusófono, como o também agrônomo e jornalista angolano José Eduardo Agualusa (Nação crioula, O ano em que Zumbi tomou o Rio) e o jornalista e escritor moçambicano Mia Couto (autor, entre outros, do premiado Terra sonâmbula e dos ensaios e artigos reunidos em E se Osama fosse africano?).
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Nosso destaque, aqui, é para Valter Hugo Mãe, Ruy Duarte de Carvalho e José Eduardo Agualusa, que parecem repetir, em suas próprias vidas, as viagens de ida e volta dos antigos colonizadores: um vindo de Angola para descobrir o Portugal mágico das aldeias (e suas pequenas tragédias, todas elas também marcadas a sangue e cultura em nosso DNA); o outro saindo de Portugal e optando por viver na Angola colonizada, como militante e, após as feridas e turbulências da guerra, como cidadão nacional e descobridor do Brasil literário. E o terceiro, Agualusa, que se diz afro-luso-brasileiro, saindo de Angola para Recife e depois para o Rio de Janeiro, encantado com a cidade recortada pelos morros e suas histórias. Se Stuart Hall celebra o lento e gradual descentramento do Ocidente, inventando a identidade híbrida das diásporas e o homem traduzido do exílio (que teria no escritor Salman Rushdie seu melhor exemplo), talvez se possa dizer que esses novos autores - sobretudo os portugueses-africanos Mãe e Ruy Duarte, e o angolano Agualusa - materializam uma espécie de não pertencimento ou de identidade livre, já que se aventuram por longínquos caminhos geográficos e/ou literários, rompendo fronteiras temporais e espaciais, ainda que, às vezes, sejam aquelas situadas entre a tradição e a utopia, a realidade e a fantasia.
O português que virou angolano redescobre o país de Rosa e Euclides É de uma forma terna e mágica, que o escritor Ruy Duarte - que morreria quatro anos depois da primeira edição de Desmedida (Língua Geral) - transmuta-se em homem múltiplo e mistura, em sua viagem, seres, culturas e trajetórias políticas. Em seu longo périplo pelo Brasil, Ruy é ao mesmo tempo um contador de causos e um ouvinte atento, além de antropólogo, etnógrafo,
José Eduardo Agualusa
historiador e biógrafo. Não por acaso, seu livro traz o sugestivo subtítulo “LuandaSão Paulo-São Francisco e volta”. Poderíamos até perguntar, como já fizeram em relação a outras obras: ficção antropológica ou antropologia ficcional? Não importa. O livro de Ruy Duarte, recheado de imagens literárias de outros autores, além de narrativas de todo tipo, é uma prova da transtextualidade de que fala a especialista Heidrun Olinto, em artigo que ressalta a importância da “rearticulação de fronteiras interdisciplinares”. Aliás, ao falar de Euclides, Guimarães Rosa e outros grandes autores brasileiros, o próprio Ruy comenta, com entusiasmo e humor, como se falasse de sua própria obra: “São livros desses, os tais certos livros. Convocam tudo, vários saberes e várias vias de apreensão e expressão, de que resulta um produto que responde simultaneamente à expectativa do entendimento e à da emoção. Para além, portanto, das transdisciplinaridades. Um convocacionismo. (...) Uma espécie de ponte entre a forma clássica, pré-moderna, diletante, recuperada agora pela pós-modernidade para o deslumbramento suicidário pós-estruturalista...” No início do século XXI, o autor de Desmedida faz tudo isso, mas é sempre o viajante que envereda pelas páginas de Euclides e, principalmente, de Rosa, a esbarrar em Ramiros, Zés Bebelos, Riobaldos e Diadorins. Além de comentar os livros que recolhe pelo caminho, ele desfia biografias de antigos desbravado-
res do Brasil (como Richard Burton, SaintHilaire, Langsdorff, Lévi-Strauss, os pintores Albert Eckhout e Frans Post, cientistas como Agassiz, Georg Marggraf e o engenheiro paulista Teodoro Sampaio), além de passear, aqui e ali, por trechos da história de vários países - em especial, o dele e o nosso. Às vezes, volta rapidamente a Luanda - para passar o Natal, rever o platô de Benguela, trocar ideias com o amigo Paulino ou simplesmente contemplar a lamacenta Lagoa dos Elefantes e seguir os rastros da misteriosa rainha Jinga - para, em seguida, retomar os caminhos de seu múltiplo Brasil. Sua prosa é direta, em primeira pessoa, como a de quem simplesmente fala ao leitor. Mas, de vez em quando, o autor se volta para um interlocutor - geralmente seu assistente, o banto Paulino kia Samba - como se estivesse numa simples mesa de bar, exatamente como faz o personagem do português António Lobo Antunes em Os cus de Judas. E então Ruy relata as anotações de viagem, esclarece detalhes e pinça um caso aqui, outro ali, às vezes vendo coisas que seus autores favoritos não viram. Logo de início, ainda em São Paulo, Ruy Duarte recorda as aventuras do suíçofrancês Blaise Cendrars nos loucos anos 20, ao lado de Mario de Andrade, Oswald e Tarsila, nas locomotivas que cortavam a mata, em direção ao modesto e colorido casario das cidadezinhas mineiras, que inspiraram não só a pintora paulista, mas, como anota o autor, o próprio movimento Pau-Brasil. Não por acaso, Ruy - que se confessa um leitor voraz, ao longo da vida, de tudo que chegava daqui - inicia seu livro numa boa conversa em torno da mesa, numa antiga fazenda de café, cercado de paredes que guardam segredos dos tempos de fartura do chamado ouro negro paulista. Mais detalhadas que a passagem por São Paulo só mesmo as incursões pelo
grande sertão de Guimarães Rosa, a presença da paisagem (que o autor não se cansa de decifrar), e o vaivém das balsas que singram o São Francisco, sempre encontrando figuras que lembram o violeiro Aquiles ou o vaqueiro Mariano, e tudo isso sem contar a visão onírica de fantasmas, lobisomens e mães d’água. É uma busca sem trégua, que inclui todas as margens, com uma precisa intenção. Ou melhor: com a “intenção e a certeza quase de que no fim (...) haveria de alcançar alguma noção mais precisa de um Brasil que mexe comigo desde que me sei gente.”
O angolano que virou português descobre sonho e magia nas velhas aldeias Nas páginas de Valter Hugo Mãe - nascido em Saurimo, Angola, mas depois morador do norte de Portugal -, também há muito de onírico, sobretudo em personagens como os de O filho de mil homens (Cosac Naify) e O nosso reino (Editora 34), que povoam as pequenas aldeias portuguesas, como Parada Lindoso, no município de Ponte da Barca, onde Mãe se escondeu para terminar seu último livro. É como se o autor derrubasse as fronteiras que o separam de um passado em muito semelhante ao nosso. Nesses recantos, em ruas, becos, praias e casas às vezes apertadas, o tempo parece cristalizado: é possível ouvir o uivo dos lobos e o padre ainda dita as regras da rígida (e sempre ambígua) moral ocidental e cristã, enquanto o
“O nosso reino” e “O filho de mil Homens” obras de Valter Hugo Mãe
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Cultura quarentão Crisóstomo sai em busca do filho que não teve; uma anã causa piedade e rebuliço; a vizinhança deseja matar o rapaz “maricas”, e crianças travessas consValter Hugo Mãe
piram contra “o homem mais triste do mundo”, que é capaz de “abrir os bichos” com seus caninos esfomeados. Em O nosso reino, narrado por um menino (talvez aquele garoto que Valter Hugo foi um dia) e mesclado de oralidades, a subversão também atinge a gramática: “fiquei com a dona Darci no coração e a dona tina levou-me à sua casa dias depois. a minha mãe assim me largara, leve-o comadre que chegou a hora, e a dona tina achava que o sabia. sonhara que se abrira um buraco na terra a vomitar velas e braços e pernas, e sonhara que o Carlos lhe dissera que viera por mim, jorrado desse buraco como uma oferta à qual não prestei atenção”. Nos livros de Hugo Mãe, parecem viver todas as vilas e aldeias do passado (e também do presente) de Portugal e Brasil. Em O filho de mil homens, o tal “maricas”, quase sempre condenado e perseguido, terá de enfrentar inúmeras angústias, até ser incluído e reconhecido por seus iguais: “O Antonino pensou que talvez um beijo cicatrizasse na pele e pudesse ser visto por todos. Lembrou-se da faca e pensou em como se assemelhava o rosto da mãe a uma lâmina prestes a cortálo. Lembrou-se de lhe haver prometido, tantos anos antes, nunca mais a desiludir. Pensou que se a mãe o insultasse, como fora por vezes insultado pelo povo, a sua carne se dividiria morta no chão...”
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Sem entrar em maiores detalhes, que a graça deve ser mantida, pode-se dizer que a maior vítima da violência cultural talvez tenha sido a anã: “Foi só mais à noite que as vizinhas entraram como a medo na sua casa. Entravam ali como se houvesse cão feroz. As vizinhas tinham medo. Viam a anã mesmamente pequena mas subitamente outra pessoa. Como estariam enganadas, por pensarem que um palmo de gente assim não serviria para nenhum homem e só conheceria da vida beatitudes e preocupações com tamanhos de criança. Como estariam enganadas ou o mundo seria cruel, por haver quem fizesse um filho a uma mulher assim, porque quando o filho lhe crescesse na barriga iria irromper de todo o corpo, desmembrando-o, desfazendo-o...” Como a Alice de Lewis Carroll, Valter Hugo Mãe parece mergulhar em outro mundo. E o melhor é que ele efetua uma mágica revolução na velha aldeia de O filho de mil homens, ao derrotar a intolerância e pacificar as conflituosas relações de um punhado de personagens antagônicas - algumas movidas pela inocência e pelo espanto; outras pelo ódio -, que passam a formar uma espécie de alegórica, moderna e divertida união. Algo que, ao afastar preconceitos e tiranias, acaba, como também faz Ruy Duarte de Carvalho à sua maneira, criando comunidade - isto é, causando estranhamento e mexendo com a consciência do leitor - e, portanto, inserindose na boa arte de via longa (um conceito do saudoso Bento de Jesus Caraça, que foi uma das estrelas do neo-realismo português, sempre perseguido pelo salazarismo da arte de via curta).
Haja coincidência! Holandeses saíram de Recife para a conquista de Angola Semelhanças entre os dois países (já agora focando em Angola e Brasil) também se encontram, e até mais explícitas, no livro de Ruy, onde mais divertidas do que as andanças pelas margens do São Francisco são as confabulações em torno da nossa independência que - “acredite, Paulino”, diz ele ao banto - teve o apoio de negros, índios e, “ao contrário da nossa”, até de brancos portugueses, a começar por Dom Pedro, “o próprio filho do rei de Portugal”! E que dizer dos holandeses que passaram trinta e quatro anos governando Olin-
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da e Recife, e depois se precipitaram para a tentativa de retomar Luanda? Numa das voltas à sua cidade, Ruy Duarte de Carvalho lembra a saída da frota de Salvador Correia de Sá do Brasil, para aportar, já em 1648, na longínqua enseada do Quicombo e reconquistar Luanda e Benguela para os portugueses. O autor de Desmedida comenta, diante do amigo perplexo: “Um tio-avô seu terá sido vigário da igreja matriz de Olinda depois de ter sido resgatado da condição de prisioneiro no Marrocos, na sequência da derrota portuguesa em Alcácer-Quibir...” E, mais adiante: “Tinha sim, Paulino, tinha índios, indígenas de lá, e tinha negros, indígenas daqui, levados para o Brasil como escravos, a combater do lado dos brancos, tanto de uns como de outros e tanto nas lutas deles como naquelas que vieram fazer por cá, e mesmo aqui também tinha negros indígenas nossos a participar das nossas lutas sem ser exatamente do lado que a gente fica agora a pensar que seria correto referir e reter...” E até Zumbi dos Palmares surgiu em Ipanema com sotaque português Cruzamentos e semelhanças entre as ex-colônias de Portugal ocorrem, nesses livros, a todo momento. O também angolano José Eduardo Agualusa, que morou dois anos por aqui, reuniu cariocas e africanos em seu delicioso O ano em que Zumbi tomou o Rio (Griphus), escrito em Berlim, por conta de uma bolsa de criação literária. Mas o leitor não precisa se assustar. Se a favela desce para tomar a cidade, ela o faz utopicamente e, pelo menos aqui, com talento, criatividade e muita ironia. Basta dizer que Agualusa transforma ex-militares de Angola, desiludidos com a guerra de lá, em cúmplices de traficantes de drogas daqui, envolvidos com um caótico “Comando Negro”. Eles não apenas fornecem armas baratas, contrabandeadas da África, como treinam os manos favelados para a revolução no asfalto. Boa parte da ação se desenrola na Zona Sul do Rio e no “Morro da Barriga” - a metonímia perfeita para as favelas da cidade - e tudo isso em clima de thriller, onde cada capítulo parece cronometrar a história, com direito a data e localização no próprio título, provocando suspense e algumas gargalhadas. Afinal, lá está a socióloga bemintencionada, casada com o policial do bem; lá está a socialite carente que namora
o traficante, e há até um jornalista africano, que é ao mesmo tempo negro, anão e gay. E isso sem falar nos corruptos de sempre e nos que acabam sendo vítimas inocentes da violência. Permeando tudo, uma forte tensão racial, diretamente proporcional ao crescimento da consciência dos negros em relação ao racismo e à histórica (e ambígua) opressão social em que estão mergulhados. Num trecho que se passa em Ipanema, já quase no fim de sua narrativa, Agualusa descreve a angústia que parece antecipar um inevitável confronto: “Francisco não pode mais. Afasta-se. Abraça-se a uma árvore e vomita. O sol emerge de repente por sob as nuvens baixas e ilumina a cidade com uma luz macia... (...) Os prédios escorrem uma água verde. Parecem exaustos, perplexos, fantasmas dos prédios que foram. Também os jovens soldados do Comando Negro estão assim. Olham em silêncio a coluna de blindados que avança pesadamente, rasgando o asfalto, pela Avenida Vieira Souto.” Uma coisa é certa: nos corações e mentes desses criadores africanos (todos sempre questionando o poder de mando e autoridade, as histórias e os motivos tradicionalmente aceitos), as feridas pro-
Santos, da Universidade de Coimbra, os portugueses não se sentiram à vontade no espaço-tempo de Próspero. Viveram deslocados e foram “objecto de humilhação e de celebração, de estigmatização e de complacência.”
O Portugal que nos pariu: nem Próspero, nem Caliban Mas será que essa distância portuguesa do Próspero europeu explicaria, de fato ou, ao menos, em parte - o tom sereno, universal e bem-humorado com que os intelectuais de origem africana vêm se mostrando, na literatura que aqui aporta nos últimos anos? E será que essa nova literatura pode representar o início da derrubada das fronteiras internas do mundo lusófono? Boaventura ressalta a importância de se repensar a posição do intelectual e do crítico no cenário pós-colonial. E lembra que é preciso “interromper os discursos hegemônicos ocidentais” que, por meio da desculpa da modernidade, “racionalizaram ou modernizaram o desenvolvimento desigual e diferencial das histórias, das nações, raças, comunidades ou povos”. Boaventura (autor de A gramática do tempo: Para uma nova cultura política) defende “uma terceira via”, uma via cultural, que
Ruy Duarte de Carvalho
vocadas pelo Próspero colonizador - que foi, ele próprio, um Caliban em relação ao resto da Europa - parecem cicatrizadas, tanto pela luta aguerrida da independência (que não foi simplesmente negociada, como a nossa), quanto pelo lugar de onde Portugal foi um colonizador tão diverso dos ingleses, e isso sem falar do imaginário com o qual todas as tribos vêm construindo uma mesma nação. É sempre bom lembrar que, embora Portugal tenha sido a primeira potência européia do Ocidente a lançar-se na expansão ultramarina, como ressalta o sociólogo e economista Boaventura de Souza
seja capaz de destruir a subalternidade do colonizado. “Dado que a condição do subalterno é o silêncio, a fala é a subversão da subalternidade.” Intelectuais sem fronteiras - e é bom repetir que Ruy Duarte de Carvalho foi, ele próprio, um militante da guerra de independência de Angola -, em nenhum momento esses autores portugueses-africanos se fazem de vítimas ou produzem textos panfletários. Diante das surpreendentes semelhanças entre Angola e Brasil, em outra das conversas com seu assistente, é com serenidade que Ruy conclui: “Estamos juntos enquanto produto histó-
rico, substância da expansão, e implicados em processos equivalentes de caldeação e de formação genética, antropológica, mestiça, linguística, social, comportamental e cultural (...), embora ocupando lugares complexa e paradoxalmente distintos, nalguns aspectos.”
A velha e boa receita de Oswald: mastigar, engolir, subverter Lambidas as feridas do período das guerras de independência - tão bem retratado por autores como o também angolano Pepetela -, os livros mais recentes soam como criações soberanas. Talvez sejam simplesmente mais bem digeridos, embora sigam a mesma boa e velha receita antropofágica que, no caso dos brasileiros, foi herdada de Alencar e Oswald: engolir a cultura do colonizador, depois de mastigá-la bem e subvertê-la devidamente, sempre acrescentando (a gosto) algumas pitadas das perfumadas especiarias tribais locais, para enfim dar à luz uma literatura inovadora. Boaventura de Souza Santos reafirma o elo do europeu com suas colônias: se o discurso colonial construiu a tal polaridade entre o colonizador (Próspero) e o colonizado (Caliban), o pós-colonialismo ressalta a ambivalência e a hibridez entre ambos, “já que não são independentes um do outro nem são pensáveis um sem o outro”. Em nosso caso, o colonizado, também afetado pela calibanização de seu Próspero, como lembra Ana Mafalda Leite, “metaforiza em si a hibridez” da configuração colonial portuguesa. E o faz, em certos casos, atingindo a sintaxe e até misturando suas criações com os ritmos híbridos da velha oralidade. Em uma palavra: antropofagicamente. Em duas palavras: calibanizando e canibalizando. E não é só: estes livros questionam os próprios cânones ocidentais e, pelo que se ouve do campo teórico, já provocam reflexões e debates a esse respeito. Afinal, como em toda boa literatura, eles revelam a realidade e são plenos de vida: não limpam o suor do rosto, não estancam o sangue, não escondem a lágrima, não disfarçam o mau-cheiro do esgoto, não calam o protesto, não contêm o riso e, muito menos, o otimismo de seguir viagem. (*) Maria Helena Malta é jornalista e escritora.
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P e lo Mundo Mudança de Clima: Verdades ou Curiosidades?
Wilberto Lima Jr., de Boston Correspondente de Plurale nos EUA
Uma reportagem recente chamou a atenção sobre o assunto de mudança de clima. Já a Rio+20, curiosamente, aqui nos EUA, não foi muito divulgada. Em 2011, aconteceram três fatos climáticos que foram bem destacados aqui pela mídia americana. Um deles foi a onda recorde de calor no Texas. Outro foi o mês de novembro do ano passado, excepcionalmente quente na Inglaterra e o outro, as grandes inundações em Bangkok, Tailândia. O que, realmente, discutiu-se foi a
verdadeira influência do aquecimento global sobre os referidos eventos. O que se concluiu foi que, muito certamente, os eventos do Texas e da Inglaterra foram influenciados, mas não os de Bangkok. Segundo Tom Peterson, da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), os cientistas não podem, efetivamente, ligar qualquer simples evento do clima às mudanças climáticas, mas podem avaliar como a mudança do clima pode ter alterado a probabilidade de tais eventos acontecerem. No caso do Texas, pesquisadores destacaram como o estado sofreu com o calor excessivo ainda que dentro do padrão climático do fenômeno La Niña. Ao causar a queda de temperatura da área central do Oceano Pacífico, o La Niña geralmente esfria o Mundo, mas é de se esperar que ele faça com que o Sul dos Estados Unidos fique mais aquecido. A realidade, entretanto, mostrou que o aquecimento global fez com que a onda de calor de 2011 ocorresse dentro de uma probabi-
lidade 20 vezes maior do que no período normal de ocorrência do La Niña. No caso da Inglaterra, os cientistas da Universidade de Oxford e do governo britânico constataram que o último novembro, foi o segundo mais quente da região, em mais de 300 anos. As análises feitas apontaram que o aquecimento global foi responsável por uma probabilidade de 62 vezes maior do evento ocorrer. A terceira análise considerou as excepcionais e severas enchentes nas áreas central e sul da Tailândia, em especial, Bangkok. Os cientistas não acharam nenhum sinal de que as mudanças climáticas tivessem algum impacto naquele evento, observando que o nível de chuva não teria sido excepcional. O nível de inundação foi muito mais influenciado por outros fatores, tais como, as políticas de operação de reservatórios da região. Vale observar que tudo o que foi mencionado é fruto de pesquisa e observação científica. Ou seja, mais munição para o debate entre aqueles que não dão importância ao aquecimento global e os que reconhecem seus efeitos e o efetivo processo de mudança climática. (*) Fontes: Associated Press, The Boston Globe
Atrativos da ciência em Amsterdam Texto e foto Flamínio Araripe, Especial para Plurale em revista, de Amsterdam, Holanda
As crianças se divertem no Nemo Science Center, museu de ciência de Amsterdam, Holanda. O espírito é o mesmo de tantos museus interativos que tornam atrativo o conhecimento científico. Em vez de “é proibido mexer”, a ordem é inversa: “é proibido não mexer”. São cinco andares concebidos pelo arquiteto italiano Enzo Piano de pura beleza e diversão. Logo no aeroporto de Amsterdam existe um amplo espaço de divulgação do Nemo Center Science. Vi como uma das joias do turismo de Amsterdam, cidade encantadora de 750 mil habitantes que recebe 3,5 milhões de turistas por ano. Na visita ao Museu, a presença de dois experimentos é conectada à realidade da ci-
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dade de mais de 100 km de canais: um de engenharia, simples módulos para a montagem de pontes, e outro de hidráulica, onde o desafio é conter a correnteza da água. Um terço dos Países Baixos foi aterrado onde era mar. O sistema de água corrente, a cachoeira do Nemo ao ar livre, percorre toda a cobertura inclinada onde se avista uma das mais belas paisagens do grande canal e de Amsterdam. No interior, as instalações envolvem o visitante numa interação reveladora da vida, projetam imagens da parte invisível do corpo, a eletricidade. O visitante dança e gesticula com as imagens fantásticas.
ESOF: Integrando ciência, tecnologia e sociedade Por Vivian Simonato, de Dublin (Irlanda) Correspondente de Plurale na Comunidade Europeia
centro, ressaltando o compromisso com os direitos humanos e equidade dos mais vulneráveis, uma vez que muitas vezes os menos privilegiados são os mais impactados com os desequilíbrios naturais. Mary Robinson ainda fi nalizou seu discurso afi rmando que os cientistas devem ser os principais agentes neste diálogo sobre justiça climática - informando, desafiando e propondo soluções, mas também traduzindo esse conhecimento em políticas públicas proativas e reais. Ainda em continuidade às atividades do ESOF, ao longo do ano Dublin será uma arena científica com mais de 160 eventos e atividades acontecendo continuamente que cruzam os mundos da arte e cultura para entreter o público e trazer a ciência para a vida cotidiana. A gama de eventos científicos incluem exposições fotográficas e de arte, peças de teatro, festivais de cinema, passeios, espetáculos de rua, instalações interativas e palestras públicas. Mais informações: www.dublinscience2012.ie
tipos de equipamentos de esporte necessários ao desenvolvimento dos alunos dos ensinos médio e fundamental. Até o momento já forneceu AU$17 milhões em equipamentos esportivos, ainda sem contar os resultados de 2012. Funciona assim: a escola se registra e nomeia um coordenador para o programa. O supermercado emite vouchers que serão entregues aos clientes no ato de suas compras. Todos podem ajudar, mesmo se você não tiver uma criança na escola. Para cada AU$ 10 (10 dólares australianos) gastos, um voucher é entregue ao cliente no ato do pagamento e conforme o produto adquirido, algumas vezes as quantidades de vouchers podem até do-
brar! Só ficam de fora – pra não virar incentivo – as compras de cigarros, bebidas alcoólicas, gift cards e celulares. Já para a escola, cada voucher corresponde a um ponto. O website do programa informa quantos pontos são precisos para se adquirir um produto da wish list (lista de pedidos) de sua escola. O catálogo de produtos contempla mais de 300 itens esportivos, um mais lindo que o outro! Os vouchers devem ser depositados nas urnas das escolas públicas.Depois de computados, a rede de supermercados fará a entrega dos materiais esportivos correspondentes a cada escola. O valor limite de investimento nessa fantástica iniciativa é de AU$ 6 milhões de dólares/ano no total, para todas as escolas da Austrália. Nunca foi tão fácil transferir a solidariedade das prateleiras dos supermercados diretamente para as escolas e tornar a prática dos esportes acessível a todos.
Foto: isadora ramírez
Promover o diálogo entre o público em geral sobre o papel da ciência e tecnologia para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes. Este é um dos principais objetivos do Fórum Aberto de Ciência (ou Euroscience Open Forum, ESOF). Bianual, o ESOF é itinerante e esse ano aconteceu de 11 a 15 de julho em Dublin, Irlanda, reunindo mais de 4 mil participantes de 74 nacionalidades, 500 palestrantes, além de cinco Prêmios Nobel. Considerado o maior e mais importante evento de ciência geral da Europa, seu caráter interdisciplinar visa não somente apresentar os últimos avanços da ciência e da tecnologia, mas também fomentar, promover o diálogo e estimular o inteMary Robinson, ex-Presidente da Irlanda e resse do público nessas duas áreas ao Presidente da Fundação Mary Robinson para discutir os avanços alcançados podem Justiça Climática, durante o ESOF ser melhor integrados para promover soluções nas áreas de energia sustentável, saúde, mudanças climáticas, entre outros. Um dos destaques do evento foi a palestra da ex-presidente da Irlanda e Presidente da Fundação para Justiça Climática que leva seu nome, Mary Robinson. Falando para uma plateia de cientistas, Mary Robinson ressaltou a necessidade de uma nova narrativa em mudanças climáticas, que coloque as pessoas em seu
Foto: Isadora Ramírez
Solidariedade na prateleira
Por Mônica Pinho, de Perth, Austrália Especial para Plurale em revista
Criado e gerenciado por uma grande rede de supermercados da Austrália, o Sports for School Program já emplaca o seu terceiro ano de sucesso e solidariedade. Trata-se de um programa dirigido às escolas públicas no sentido de beneficiá-las no fornecimento de todos os
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Geleiras
Lei de Glaciares passa a ser aplicada na Argentina epois de quase dois anos de espera, a Argentina poderá ver, finalmente, a aplicação plena da Lei de Proteção a Glaciares e Ambiente Periglaciar, fruto de um acordo histórico entre forças opositoras no Legislativo do país. Poucas semanas depois de sua promulgação pela presidenta Cristina Fernández de Kirchner, em outubro de 2010, um juiz de San Juan, a pedido de empresas de mineração local, apresentou medidas cautelares que impediam até o dia 3 de julho a aplicação plena da lei no estado, onde está a mina Veladero e o projeto binacional (Argentina-Chile) Pascua Lama, em construção. Ambos empreendimentos são de extração de minério a céu aberto e pertencem à multinacional Barrick Gold. As medidas cautelares, revogadas no início de julho pela Suprema Cor-
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te do país, afetavam alguns dos pontos mais importantes da lei, como a proibição de atividades contaminadoras em zonas de geleiras – justamente onde estão Veladero e Pascua Lama – e a realização de um inventário nacional de glaciares pela primeira vez no país, onde se identifique e defina quais zonas serão protegidas pela nova lei. Este último ponto é importante porque a Barrick Gold alega que seus empreendimentos não estão localizados em zonas de geleiras. As geleiras são uma importante reserva estratégica de água doce na Argentina, que tem 70% do território considerado como árido ou semiárido. San Juan fica na região do Cuyo, fronteira com a Cordilheira dos Andes, que abriga grande parte das geleiras do país e depende diretamente delas para o caudal de seus rios.
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2012
Texto: Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale na Argentina De Buenos Aires Foto: Luciana Tancredo, Perito Moreno, na Patagônia argentina
Atividades como a extração de minério a céu aberto utilizam grande quantidades de água e compostos químicos de grande fator de contaminação e difícil eliminação, como o cianuro. Organizações ambientalistas argentinas, muito importantes durante a pressão pela aprovação da lei apresentaram, em maio de 2011 e março de 2012, duas queixas à Suprema Corte argentina exigindo a suspensão de Pascua Lama e o fim da extração de minério em Veladero, porque consideram os empreendimentos como uma séria ameaça ao futuro das reservas de água doce no país. Com a plena vigência da lei de Glaciares, as possibilidades de suspensão de atividades contaminadoras passam a ser muito maiores, dependendo da vontade política e da seriedade dos órgãos fiscalizadores. Os ambientalistas prometem não descansar na vigilância.
Os principais temas que impactam as Relações com Investidores, você encontra em uma só revista: na RI
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P e las Em pr esas
ISABELLA ARARIPE
Ação Voluntária 2012 mobiliza colaboradores da Unimed-Rio
Foto: Divulgação
No dia 28 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Voluntariado, e a Unimed-Rio, sempre atenta a iniciativas de caráter solidário, promove, desde junho deste ano, a terceira edição do projeto Ação Voluntária. Criado em 2010, o programa tem como principal objetivo estimular os colaboradores a desenvolver uma ação em parceria com uma organização social. Os recursos para o projeto, caso aprovado, são fornecidos pela operadora. Durante a campanha, são ministradas palestras para instrução dos colaboradores no que diz respeito ao que deve ser feito para a inscrição de seus projetos e a que critérios estes devem obedecer. Além do apoio financeiro, a Unimed-Rio dá todo o suporte para que os idealizadores da ação e mais dois colegas transformem a vida de algumas pessoas. No ano passado, foram 11 projetos inscritos e seis selecionados, mobilizando 106 colaboradores e alcançando 349 beneficiários diretos.
Foto: Divulgação
Volvo apresenta ônibus híbrido produzido no Brasil A Volvo apresentou na Rio+20 o ônibus híbrido da marca já produzido no Brasil. O veículo, movido a eletricidade e a diesel, até então era fabricado apenas na Suécia. A fábrica da Volvo, em Curitiba, é a primeira fora da Europa a produzir chassis híbridos da marca. A unidade exposta na Rio+20 é a primeira de um lote de 60 adquiridos por operadores de Curitiba, reconhecida pelo pioneirismo de seu sistema organizado de transporte coletivo urbano. Os 30 primeiros híbridos começam a rodar em setembro em Curitiba. Eles trafegarão nas linhas convencionais bairro a bairro, e na linha Interbairros 1, ligando terminais e bairros sem passar pela região central. Os 30 restantes serão entregues no próximo ano. Inicialmente, a Volvo fabricará um chassi padrão, na configuração 4x2 eixos.
Raupp: micro e pequenos empresários terão acesso a recursos não reembolsáveis da Finep Heloisa Cristaldo, Enviada Especial
São Luís – O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, anunciou durante conferência na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho, que micro e pequenos empresários poderão voltar a solicitar créditos da subvenção econômica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Entre as novidades está a criação de duas modalidades para descentralizar a aplicação de recursos do orçamento
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da instituição, em um total de R$ 1,2 bilhão a serem investidos nessas operações até 2014. Segundo o ministro, a Finep lançará o primeiro pacote, de R$ 400 milhões, em agosto. Além da chamada por edital, a financiadora vai disponibilizar verba para projetos já apoiados por outra linha de crédito da instituição. A nova modalidade é uma junção da subvenção econômica, que são recursos não reembolsáveis, com a oferta de créditos reembolsáveis.
Foto: Fundação Boticário/ Divulgação
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Fundação Grupo Boticário e Fundação Araucária firmam parceria em Curitiba De Curitiba
A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, uma das mais tradicionais financiadoras de projetos de conservação da natureza no Brasil, e a Fundação Araucária, instituição de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico no estado do Paraná, firmaram nesta terça-feira (3) a parceria para um edital conjunto. O café da manhã aconteceu na sede do Centro Integrado dos Empresários e Trabalhadores das Indústrias do Paraná (CIETEP), em Curitiba, e contou com cerca de 70 pessoas,
além da presença da diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes; do presidente da Fundação Araucária, Paulo Roberto Brofman; do secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Sérgio Vieira; e, do secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Jonel Nazareno Iurk. O objetivo do edital conjunto é financiar projetos de instituições paranaenses que contribuam para a conservação da natureza no Paraná, com prioridade para a região
A diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes sela o acordo com o presidente da Fundação Araucária, Paulo Roberto Brofman
da Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucárias) e para a região litorânea do Lagamar. As inscrições vão até 31 de agosto e podem ser feitas diretamente nos sites www.fundacaogrupoboticario.org.br e http://www.fundacaoaraucaria.org.br.
Sustentabilidade é tema da 2ª edição do Prêmio de Inovação em Seguros Antonio Carlos de Almeida Braga A 2ª edição do Prêmio de Inovação em Seguros Antonio Carlos de Almeida Braga 2012, criado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) foi lançado no último dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi especialmente escolhida porque, este ano, o foco da premiação será a Sustentabilidade. O ano de 2012, marcado pela realização da Rio+20, também é o ano da Sustentabilidade para o mercado segurador, levando em conta a relação direta da atividade seguradora com o desenvolvimento sustentável, uma vez que atua na prevenção e no gerenciamento de riscos. De acordo com Jorge Hilário Gouvêa Vieira, presidente da CNseg, o mercado segurador
deve utilizar sua experiência em neutralizar e mensurar riscos para alertar a sociedade sobre as atuais mudanças ambientais que afetam o planeta. “Podemos ser preciosos disseminadores de informações e novas práticas. Esse é o grande foco da segunda edição do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga, mostrar à sociedade que não estamos apenas testemunhando a maior crise ambiental da história da humanidade, estamos agindo e pensando nas novas gerações”. As inscrições podem ser feitas de 5 de junho a 5 de agosto pelo endereço eletrônico: www.premioseguro2012.com.br O café da manhã aconteceu na sede do Centro Integrado dos Empresários e Trabalhadores das Indústrias do Paraná (CIETEP), em Curitiba, e contou com cerca de 70 pessoas,
Rexam publica Relatório de Sustentabilidade nível A da GRI A Rexam, empresa líder global de embalagens para consumo, lançou em julho seu primeiro Relatório de Sustentabilidade, que recebeu o nível de aplicação A da Global Reporting Initiative (GRI), estrutura de diretrizes para relatórios de sustentabilidade bem abrangente.
“Estamos extremamente orgulhosos das nossas conquistas nos últimos 20 anos”, afirmou Graham Chipchase, CEO do Grupo Rexam. Na América do Sul, a Rexam lidera a produção de latas e tampas para bebidas, com 10 fábricas no Brasil, uma no Chile e uma na Argentina.
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CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Documentário sobre Belo Monte é financiado pelo público “Belo Monte – Anúncio de uma Guerra” é um documentário independente que teve sua edição e finalização financiada por mais de 3429 pessoas que doando diferentes quantias através do site Catarse, possibilitaram à equipe fazer três expedições à região do Xingu, Altamira, São Paulo e Brasília para entrevistar líderes indígenas, ativistas, ambientalistas, autoridades, políticos e população ribeirinha sobre a maior e mais polêmica obra em andamento no país, a usina hidrelétrica de Belo Monte. Segundo a produtora Cinedelia realizadora do filme, esse financiamento colaborativo transforma o filme num ato político da sociedade. A produtora fez um trabalho investigativo que revela que a obra está sendo imposta pelo governo, contrariando a vontade dos povos indígenas e do clamor da sociedade gerando graves impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais. O filme de cerca de 1h45min pode ser assistido na íntegra pelo site http://www.belomonteofilme.org/portal/br. Vale conferir.
“O lixo é sua própria vida” A frase foi retirada de um dos depoimentos do documentário “Aterro”, de Marcelo Reis, que registra a história de sete mulheres pioneiras na reciclagem na década de 60, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Diante do atual e controverso sistema de aterragem, elas falam do destino do lixo. Da época em que Marcelo conheceu essas mulheres e suas histórias até a realização do filme, muita coisa aconteceu no mundo com a popularização da discussão de temas como sustentabilidade, reutilização, consumo consciente. “Aterro”, que está sendo vendido em DVD e tem seu trailer disponível no You Tube http://www.youtube.com/ watch?V=QA_5lEk0KDs&hd=1, é o primeiro longa metragem do cineasta. O filme recebeu o Green Award (“prêmio verde”) no Third World Independent Film Festival 2011, Califórnia, USA e o prêmio Luis Espinal, na 7ª Mostra Cine Trabalho em 2012.
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Foto: Divulgação
Festival Visões Periféricas homenageia Eduardo Coutinho
De 16 a 25 de agosto, três salas de cinema, espaços em comunidades e até uma praça pública irão exibir a sexta edição do Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro. Além de uma seleção de 104 filmes, o evento será palco do intercâmbio de linguagens e produções do audiovisual que vem das periferias (incluindo comunidades quilombolas e indígenas), feitas por pessoas que vivem à margem dos circuitos formais da economia, da arte, da comunicação e criam suas próprias lógicas de circulação cultural. Nesta edição o homenageado é o cineasta Eduardo Coutinho que aos 79 anos e com dezenas de prêmios nacionais e um do festival de Berlim é considerado um dos mais importantes documentaristas do país. O Festival também comemora os 25 anos de atuação do Centro de Criação de Imagem Popular – Cecip, que contribui para capacitar e dar voz às pessoas da periferia, por meio do cinema feito por elas. A lista dos filmes selecionados está no site www.visoesperifericas.org.br/2012. Em todos os locais de exibição a entrada é franca.
Selecionados para a segunda edição do FilmAmbiente O 2º FilmAbiente - Festival Internacional de Audiovisual Ambiental que acontece de 31 de agosto a 6 de setembro, no Rio de Janeiro, divulgou os filmes selecionados entre os mais de 300 vistos, oriundos de 17 países – Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, China, França, Grécia, Inglaterra, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Sérvia, Coréia do Sul, Espanha, Suíça e Estados Unidos. Em competição são 13 longas (duas ficções e 11 documentários) e 16 curtas (nove animações, duas ficções e cinco documentários). Mais 44 filmes serão exibidos em seis mostras. Para saber tudo sobre a programação acesse http://www.filmambiente.com.
Cinema
Tem brasileira concorrendo ao
Fotos: Divulgação
Green Screen Climate Fix Flicks
Por Isabel Capaverde, de Plurale em revista
O
Green Screen Climate Fix Flicks é um festival de cinema lançado por climatologistas da Universidade Macquarie, Universidade de Melbourne e do Instituto de Sustentabilidade Monash - todas instituições da Austrália integrantes do ranking das dez mais ecologicamente corretas daquele país - com o objetivo de aumentar a consciência das oportunidades e dos efeitos positivos de um futuro de baixo carbono. Pois, tem uma brasileira concorrendo a essa premiação. Flávia B. Vidaurre, de Niterói (RJ), estudante do quarto ano do programa Animation/Illustration, na
San Jose State University (SJSU), em San Jose, Califórnia (USA), faz parte da equipe de estudantes realizadora do fi lme de animação “Green Ninja Footprint Renovation”. Eles foram estimulados pela SJSU a fazer o fi lme para participar do festival, que reúne realizadores de universidades do mundo inteiro. O fi lme de 2 min 48seg conta a história de um homem que enquanto dorme seus pés crescem a um tamanho gigantesco, devido a grande pegada de carbono da sua casa. Acorda assustado e grita pelo Green Ninja (Ninja Verde) um super-herói do clima que atende ao chamado. Quando o Green Ninja acaba seu trabalho, diminuindo a pegada de carbono da casa, os pés do homem voltam ao tamanho normal. A direção do
fi lme é de um ex-aluno da SJSU, Marty Cooper e a supervisão geral de um instrutor de Animação da universidade, David Chai, que também é diretor de animação independente. Importante ressaltar que o fi lme leva a chancela da universidade, da SJSU. O “Green Ninja Footprint Renovation” já ganhou o Top Prize no Festival de Filmes Australianos, em Sidney, escolhido por realizadores, cientistas e artistas da área. “Vale frisar que é um time de estudantes que ama animação”, destaca a jovem Flávia em entrevista à Plurale em revista. No Green Screen Climate Fix Flicks a escolha é feita pelo público em votação on-line. A história do super-herói verde é o único filme americano entre os dez finalistas. O resultado será anunciado no final do ano em Melbourne, na Austrália. O prêmio é de U$ 5 mil e se a SJSU ganhar, investirá a quantia na criação de mais vídeos de animação educativos para promover a conscientização entre as novas gerações de forma lúdica. Alunos como Flávia, que participaram desse filme, estão convidados a participar de outros festivais internacionais. Para assistir o filme e saber mais sobre o super-herói do clima acesse http://www.greenninja.org.
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I m a g e m Fotos: Isabella Araripe
O futuro que sonhamos para nossos filhos e netos
O
pequeno Erasmus Vinkhuyzen, de apenas sete meses, filho da ativista sueca Sylvia Karlsson, professora de Estudos Ambientais da Universidade holandesa Wageningen e de pai holandês, Onno Vinkhuyzen, foi o melhor retrato da expressão que marcou a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável: o futuro que queremos. Sylvia, hoje com 41 anos, contou à Plurale em revista que esteve na Rio 92 como jovem estudante e voltou à Rio + 20 com Erasmus no colo e o marido. “Quando ele crescer e
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ver todas estas fotos e reportagens terá uma linda recordação de ter participado deste evento tão importante. Estamos todos aqui buscando mudanças que virão no longo prazo”. Também o jovem estudante Felipe d`Oliveira Meyohas, 11 anos, estudante da 7ª série, morador da Ilha do Governador, participou deste momento histórico. Visitou exposições, curtiu a Cúpula dos Povos e deixou um recado claro para os homens poderosos na instalação do Museu de Arte Moderna: “Queremos um mundo menos poluído e igual para todos”. Eles sabem o que querem!
A Aberje acredita na importância da comunicação para a transmissão dos valores de sustentabilidade. Pioneira no Brasil, é uma das poucas instituições no mundo com certificação no Global Report Initiative. Desde 2007, já formou cerca de 400 profissionais no curso de Relatórios de Sustentabilidade GRI. Além de cursos, promove eventos, comitês e premia os melhores projetos de Comunicação da Sustentabilidade todos os anos.
Não basta ser sustentável, tem que comunicar. Participe desta rede e faça a sustentabilidade ir além.
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PLURALE EM REVISTA
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