NATAL, EQUADOR E ALEMANHA
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FOTO DE LUCIANA TANCREDO – TAMANDUÁ-BANDEIRA E FILHOTE NO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA (MG)
ano sete | nº 42 | julho / agosto 2014 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
SERRA DA CANASTRA: BIODIVERSIDADE PRESERVADA NA TERRA ONDE NASCE O “VELHO CHICO”
ARTIGOS INÉDITOS E CASE SUSTENTÁVEL 1
C AT EG O R I A S
Educação e Cultura
Jornalismo MIDIA IMPRESSA | MÍDIA DIGITAL
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Mobilidade com qualidade merece reconhecimento
Editorial
PLURALE: reconhecimento pelo IBEF e Prêmio Comunique-se
A jornalista Sônia Araripe recebe a certificação do IBEF de Pedro Cardoso Franco, Superintendente de Comunicação e Relações Institucionais de Furnas
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o longo de sete anos intensos de trabalho em conjunto, procuramos sempre perceber e ler os sinais dos leitores e do mercado se estávamos indo na direção certa. Ao que tudo indica, até agora, estes sinais têm sido muito positivos. Ganhamos vários prêmios, temos aumentado a rede de leitores fiéis e parceiros. Ficamos ainda mais felizes com as últimas notícias: a jornalista Sônia Araripe, Editora e Diretora de Plurale, foi indicada ao Prêmio Comuniquese 2014 na Categoria Jornalista de Sustentabilidade entre dez finalistas e a publicação acaba de ser certificada pelo Prêmio IBEF de Sustentabilidade pelo quarto ano consecutivo. “São confirmações da relevância de nosso trabalho. Mas nada teria sido possível se não fosse o apoio decisivo da nossa equipe aguerrida, de colaboradoras, Colunistas Plurale, apoiadores e parceiros. Percebemos, desde o início, que precisava ser uma construção coletiva, em rede, realmente plural”, avalia Sônia Araripe. Outra boa notícia é que acabamos de
lançar novidades no portal Plurale em site. Além de layout ainda mais moderno e arrojado, temos novos conteúdos e maior interatividade. O Portal e a revista também estão disponíveis nas versões para tablet e celular. Sempre acompanhando o que já de mais avançado em termos de tecnologia e praticidade para melhor atender você. Ao completar sete anos em outubro próximo, iremos comemorar, junto à toda esta rede os frutos colhidos. Nesta edição já começamos em clima de festa. Nossa Editora de Fotografia, Luciana Tancredo, esteve na Serra da Canastra, em Minas Gerais, onde nasce o Rio São Francisco (o “Velho” Chico) para nos apresentar a riqueza de biodiversidade preservada. Como a “mamãe” tamanduá-bandeira carregando o filhote em suas costas que ilustra a nossa capa e diversas outras espécies. No Nordeste, Nícia Ribas conferiu o colorido e alegria de Natal, com seu famoso cajueiro e suas praias incríveis. Juliana Mello esteve na Chapada dos
Veadeiros (GO) com vários fotógrafos talentosos para conferir de perto o incrível Encontro de Culturas. Para mais longe foi a nossa correspondente na Argentina, Aline Gatto Boueri: ela conheceu a belíssima região de Los Baños, no Equador, em meio à floresta exuberante. Da Alemanha, Elisabeth Cattapan Reuter narra o dilema da busca por energias alternativas e construções sustentáveis no berço do partido verde. Os correspondentes Wilberto Lima Jr. (dos EUA) e Vivian Simonato (da Comunidade Europeia) também trazem notícias. Apresentamos ainda artigos inéditos com diferentes temáticas: Nádia Rebouças aborda o polêmico tema da publicidade e o consumo infantil; Roberto Castello Branco traz uma visão econômica sobre a mudança climática; Rudolf Höhn aborda a sustentabilidade e as empresas e Flávia Galindo trata de agrotóxicos. Uma abordagem sempre plural, como sempre nos propusemos. Tudo isso e muito mais. Por você, para você. Boa leitura!
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LUCIANA TANCREDO
Conte xto
26.
ESPECIAL SERRA DA CANASTRA POR LUCIANA TANCREDO
42.
14.
BAZAR ÉTICO
AGÊNCIA BRASIL
ARTIGOS INÉDITOS:
38 LEITES VEGANOS POR RAQUEL RIBEIRO
ENTREVISTA SOBRE MOBILIDADE URBANA, POR SÔNIA ARARIPE ALINE GATTO BOUERI
POR NÍCIA RIBAS
08.
DIVULGAÇÃO
ATRAÇÕES DE NATAL (RN)
MARCELO CAMARGO - AGÊNCIA BRASIL
POR ROBERTO CASTELLO BRANCO, RUDOLF HÖHN, NÁDIA REBOUÇAS E FLÁVIA GALINDO
46 ALEMANHA BUSCA NOVAS FONTES DE ENERGIA POR ELISABETH CATAPPAN REUTER
60 CINEMA VERDE
POR ISABEL CAPAVERDE
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20.
CASE DE SUSTENTABILIDADE: GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO GRUPO BOTICÁRIO
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2014
56. EQUADOR: BAÑOS DE ÁGUA SANTA,
POR ALINE GATTO BOUERI
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Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no Twitter e no Facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcelo Tristão e Marcos Gomes Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabella Araripe, Isabel Capaverde, Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Antônio Batalha (Firjan), Antônio Carlos Quinto (Agência USP de Notícias), Evandro Teixeira, César Müller, Elisabeth Cattapan Reuter, Giselle Koprowski, Jéssica Lipinski (Instituto Carbono Brasil), Juliana Mello, Luiz Fernando Bello, Nádia Rebouças, Paola Filgueiras (Firjan), Paula Piccin (Instituto Ipê), Roberto Castello Branco, Ronnie Nogueira (Revista RI), Rudolf Höhn, Thereza Dantas (Ipema).
Impressa com tinta a ` base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint
Plurale em Revista é impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Plurale em revista, Edição 41 “Cara Sônia, Parabéns pelo belo trabalho que vocês levam adiante. Abraço” Ricardo Abramovay, Professor Titular do Departamento de Economia da FEA, Universidade de São Paulo, Coordenador do Núcleo de Economia Socioambiental (NESA), de São Paulo, por e-mail “Gostaríamos de cumprimentar Plurale em revista e Plurale em site pelas frequentes reportagens e notícias relacionadas a captação de recursos para ações de prevenção e controle ao câncer e também de combate ao tabagismo. Destacamos especialmente a recente matéria publicada na Edição 41 de Plurale, assinada por Cecília Corrêa. O espaço dedicado à iniciativa de jovens que doam seus cabelos para a confecção de perucas para outras meninas que estão em tratamento de câncer é um incentivo à solidariedade.” Celso Ruggiero, Diretor Executivo da Fundação do Câncer, por e-mail “Prezadas Sônia & Equipe É com satisfação que recebo Plurale e observo que, em seus 7 anos, a revista vai exibindo técnica, eficiência e excelência cada vez mais germânicas, goleando com sobras o habitat editorial onde se respira vida inteligente no jornalismo. Esses sete anos e essas qualidades germânicas... (puxa... outro gol da Alemanha!).” Alex Campos, Colunista de Economia da JBFM e Diretor de Redação do Jornal Corporativo, do Rio, por e-mail “Que orgulho de encontrar uma matéria sobre minha lojinha ‘Maria Preta’ na seção ‘Bazar Ético’ de Plurale em revista. A jornalista Raquel Ribeiro conseguiu resumir perfeitamente meu objetivo e minha filosofia em frases lindas. Reportagem como esta, em Plurale - revista de qualidade ímpar, tanto no conteúdo, quanto nas fotos e arte – é a confirmação que estou no caminho certo com meu trabalho, que pretendo desenvolver cada vez mais. Muito obrigada em meu nome e em nome de todos os artesãos de Maria Preta.” Beatrijs ‘T Kindt, comerciante de Visconde de Mauá (RJ), por e-mail “Amigos Plurale, Sensacional a entrevista com Miriam Leitão, na qual a entrevistada deixou aparecer um pouquinho de sua história para os leitores, enquanto a Sônia Araripe soube dosar o approach adequado para que os leitores fossem
harmoniosamente convidados a querer mais. Assim, favor planejarem novos produtos desta dupla do barulho. Abraços” Cid Nascimento Silva, Engenheiro, Rio de Janeiro (RJ), por e-mail “Recebi a Edição 41 de Plurale. Está ótima, adorei a entrevista com a Míriam Leitão, a matéria sobre o deserto do Atacama, leitura sempre muito agradável de assuntos interessantes. Parabéns a todos!” Lenina Mariano, Coordenação de Comunicação do IPEMA, de Ubatuba (SP), por e-mail “Sensacional a matéria sobre Atacama na Edição 41 de Plurale por Nícia Ribas!” Rosana Amin Tavares, pelo site “Parabéns à Equipe Plurale por ter divulgado matéria de tema tão relevante na Edição 41 sobre a solidariedade de doar um pouco os cabelos para perucas para moças em tratamento de câncer. Minha filha, Amanda, foi entrevistada por Cecília Corrêa, de Plurale. Estou orgulhosa por saber que com tão pouco você pôde fazer a diferença e ajudar as pessoas que tanto precisam melhorar a sua autoestima. Que gesto lindo! Sônia Albuquerque, do Rio de Janeiro, por e-mail “Christian Travassos, Ficou muito bom o texto “Claro que é a economia” publicado na Edição 41 de Plurale. Um dos temas mais fascinantes dos últimos anos é esta “sociologia das manifestações” (tema que vai além do viés político-econômico abordado no seu artigo). A maioria dos comentários/ colunas/artigos que li de um ano para cá ainda segue muito perdido na análise de causas e consequências, o que talvez seja até natural, porque não há definitivamente algo já concluído Quase todo mundo ainda não entendeu porque elas aconteceram, porque não voltaram a acontecer, quem foram os atores, etc.” Marcel de Queiroz Pereira, pelo site “Luiz Antônio Gaulia, Que texto fantástico este na Edição 41 de Plurale – “O tempo e a mudança. A maldição do Saturno tecnológico”. Todos nós somos escravos desta nova era. A humanidade nunca viveu tão conectada e tão distante. Você vê um tsunami do outro lado do mundo com a mesma frieza que vê um viaduto despencando aqui do lado. Essa enxurrada de informação nos congelou. Parece que tudo é um grande videogame.” Mussa, pelo site “Sônia Araripe, querida, meus parabéns pela revista e pelo site.” Yacy Nunes, jornalista, do Rio, pelo site
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28 DE OUTUBRO SÃO PAULO
10 PALESTRAS 14 PALESTRANTES *agenda sujeita a alteração
SUSTENTABILIDADE EM CONTEXTO APOIO DE MÍDIA
REALIZAÇÃO & ORGANIZAÇÃO:
APOIO INSTITUCIONAL
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Entrevista
O alto custo dos engarrafamentos nas grandes cidades Para o economista Riley Rodrigues, especialista em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan, apenas um planejamento integrado conseguirá resolver este dilema
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Foto de Antônio Batalha, Firjan
Q
ue o trânsito das megacidades brasileiras anda caótico qualquer um sabe. Mas qual é o custo destes engarrafamentos? Qual o impacto para a economia e também para as nossas vidas? E, principalmente, quais as soluções que podem ajudar a solucionar este impasse? Estas perguntas foram respondidas por recente estudo apresentado por economistas especialistas em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). O resultado do estudo - chamado “Os custos da (i)mobilidade nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo” - é impressionante, para não dizer, assustador. O custo dos congestionamentos nas duas
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principais regiões metropolitanas do país – Rio de Janeiro e São Paulo – já passou da casa dos R$ 98 bilhões no ano passado. O valor equivale a 2% do PIB brasileiro. Conversamos com o economista Riley Rodrigues, especialista em Competitividade Industrial e Investimentos do Sistema Firjan, e um dos principais autores do levantamento. Ele fala sobre o comparativo com outras megalópoles em países em desenvolvimento que enfrentam o mesmo drama, como Cidade do México, Bogotá e Caracas. E também avalia que soluções alternativas – como o incentivo ao uso de bicicletas e rodízios de carros – são apenas paliativos diante de uma “doença” urbana gravíssima. Há soluções, assegura Riley, que passam prioritariamente pelo maior uso de transporte público eficiente e integrado, mas não virão no curto prazo. “A reestruturação urbana, o planejamento integrado são
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ações de longo prazo. No entanto, são as ações definitivas”, reforça. Confira os principais pontos desta entrevista para Plurale. Plurale em revista – O que o estudo aponta? Riley Rodrigues - O custo dos congestionamentos nas duas principais regiões metropolitanas do país – Rio de Janeiro e São Paulo - ultrapassou R$ 98 bilhões em 2013, valor superior ao PIB de 17 estados, entre eles Espírito Santo, Ceará, Pará e Mato Grosso. O valor equivale a 2% do PIB brasileiro e a 2,3 vezes o investimento previsto na concessão de 7,5 mil quilômetros de rodovias para os próximos 25 anos. Plurale – Também aponta o aumento do tamanho dos engarrafamentos? Rodrigues – Exato. O estudo aponta que os períodos de pico nas duas regiões metropolitanas já atingem 11 horas, sendo que no Rio de Janeiro ocorrem das 5h30 às 11h e das 14h30 às 19h30; e em São Paulo das 5h30 às 8h30, das 10h30 às 14h30 e das 17h30 às 19h. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, o tempo perdido diariamente em congestionamentos de 130 km, em média, trouxe prejuízo econômico de R$ 29 bilhões em 2013, o que equivale a 8,2% do PIB metropolitano. A estimativa é de que em 2022 a extensão dos congestionamentos poderá atingir 182 km e o custo seja de R$ 40 bilhões. A previsão considera a hipótese de que não sejam realizados novos investimentos além dos já previstos relacionados à ampliação da infraestrutura de transportes (especialmente trem, metrô
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Evolução do custo dos congestionamentos na RMRJ (R$ bilhões)
Fonte: Elaboração do Sistema Firjan
e barcas) e também as projeções de crescimento populacional e de frota de veículos nos próximos anos. Plurale – O cenário em São Paulo deve ser ainda mais dramático ... Rodrigues - Nos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo, os congestionamentos atingiram, em média, 300 km por dia em 2013 e o custo relacionado foi de R$ 69,4 bilhões. O valor equivale a 7,8% do PIB metropolitano. De acordo com as estimativas do trabalho, se não houver intervenções para ampliar significativamente o transporte de massa, os congestionamentos poderão atingir 357 km em 2022, ao custo de R$ 120 bilhões. Plurale - Este mesmo estudo já foi realizado anteriormente. Comparados com os resultados anteriores, o cenário piorou? Em quanto e por que motivos? Rodrigues - Em relação aos estudos anteriores que realizamos, que foram exclusivamente para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a evolução dos congestionamentos e seus custos correu dentro do que havia sido projetado, o que não é bom, pois significa que a tendência de piora não foi revertida. Isso ocorreu por uma série de fatores, dentre os quais é possível destacar: não houve um aumento da oferta de infraestrutura de transporte de massa (trem e metrô); não houve um aumento da oferta de transporte hidroviário (não foram criadas novas linhas atendendo ao fluxo de origem/destino dos usuários do sistema, o que desafogaria principalmente São Gonçalo, Niterói, a Ponte Costa e Silva e a zona portuária do Rio de Janeiro); aumentou a concentração das ofertas de emprego no Centro, Cidade Nova, Zona Sul e Zona Portuária (Porto Maravilha, novos edifícios comerciais e hotéis); não houve maior oferta de empregos, saú-
Nos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo, os congestionamentos atingiram, em média, 300 km por dia em 2013 e o custo relacionado foi de R$ 69,4 bilhões. O valor equivale a 7,8% do PIB metropolitano.” de, educação e lazer na franja metropolitana; os sistemas BRS e BRT que começaram a funcionar têm impacto localizado e, em alguns locais, apesar dos ônibus ficarem mais rápidos, os demais veículos perderam velocidade; o volume de obras em ruas alimentadoras, que possuem grande número de linhas de ônibus, contribuiu para reduzir a velocidade de deslocamento; houve um aquecimento da economia, o que levou ao aumento da frota de veículos na busca por maior conforto (se uma pessoa vai ficar longos períodos nos congestionamentos, ela, pelo menos, quer ter conforto e não sofrer com a baixa eficiência e superlotação do transporte público). Em relação à Região Metropolitana de São Paulo, este foi o primeiro estudo que considera todos os 39 municípios, mas é possível verificar que os congestio-
namentos, ano a ano, estão aumentando, assim como seus custos. Basta comparar os dados do estudo do Sistema FIRJAN com outros estudos feitos em relação ao município de São Paulo, que responde por 72% dos congestionamentos e dos custos na Região Metropolitana. Plurale - Estes resultados, comparados com outras megacidades de países em desenvolvimento, como Cidade do México, Bogotá ou Caracas, é pior ou melhor? O Brasil está se destacando do ponto-de-vista negativo em termos de (i) mobilidade urbana? Rodrigues - Comparativamente, o Rio de Janeiro tem o pior congestionamento das Américas. O segundo pior é registrado na Cidade do México e o terceiro em São Paulo. Bogotá e Caracas registram problema sim, mas em menor escala. Há cinco anos o Rio de Janeiro não tinha o pior trânsito das Américas. Estava atrás de cidades como Cidade do México, São Paulo, Los Angeles e Nova Iorque, por exemplo. Mas as condições listadas anteriormente fizerem o tráfego piorar muito neste período. O de São Paulo piorou também, mas como está próximo da saturação, evoluiu menos. Além disso, a cidade, onde se concentra o problema, vem adotando medidas mais diretas e eficazes para combater o problema: faixas e corredores exclusivos, ampliação do metrô, construção de monotrilho, melhoria no sistema de trens e, agora, ataca o ponto chave, que é a reestruturação urbana. Não estou fazendo juízo de valor sobre o Plano Diretor no que diz respeito a aumentar a ocupação habitacional no centro e incentivar a ocupação econômica na periferia. A forma como está sendo feito é um ponto a ser discutido pelas autoridades e população. Estou dizendo que o conceito está correto, que esta é uma das soluções mais eficazes para o problema dos congestionamentos e baixo desenvolvimento econômico de regiões afastadas do centro. Plurale - Há efeitos no preço dos seguros e de outros itens da economia, como frete, etc. Quem paga a conta é o consumidor? Rodrigues - Há efeitos sim, sobre o preço dos seguros, fretes e outras variáveis. Analisemos por quatro ângulos: No caso da distribuição urbana de cargas (logística urbana): com os congestionamentos e horários de restrição de circulação de caminhões que existem nas duas regiões metropolitanas, há uma redução do volume distribuído por viagem, horas extras dos
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Entrevista motoristas e ajudantes, maior gasto com combustível, maior tempo da carga em trânsito exposta a riscos de avaria e assaltos, taxas extras cobradas pelo tempo maior para realizar a distribuição, ociosidade dos veículos e ocupantes. Tudo gera perda de produtividade e aumento de custos, inclusive dos seguros da carga e dos veículos. No caso do transporte de cargas para a indústria ou para centros de distribuição, temos os mesmos impactos acima, sem contar uma ociosidade maior dos veículos e ocupantes que precisam aguardar o horário sem restrição, devido ao tamanho de veículo (o VUC é liberado em São Paulo - mas não no Rio - porém só ajuda na distribuição fracionada, por exemplo bebidas, alimentos, cigarros). Neste caso o seguro das cargas e dos veículos é ainda maior, devido ao valor mais elevado e maior tempo de exposição ao risco. No caso dos ônibus, há o maior consumo de combustível, maior depreciação do veículo, necessidade de utilizar uma frota maior para atender aos usuários - o que impacta em mais congestionamentos. Nos três casos que acabei de comentar, os custos adicionais são levados para o produto ou serviço, seja mercadoria ou passagem de ônibus, com forte impacto sobre o consumidor ou usuário final. Desta forma, os impactos negativos se multiplicam pela economia. O quarto caso envolve veículos em geral. Quanto maior o congestionamento, maior a exposição a riscos de acidentes, o que implica em seguros mais elevados, em especial para quem frequenta comumente aquelas regiões em que são registrados mais acidentes. Há ainda problemas de perda de negócios para quem utiliza o carro como instrumento de trabalho. Plurale - O estudo cita como solução o planejamento integrado dos modais. Mas isso não e fácil em termos de transportes e novos investimentos de infraestrutura levam anos. O que poderia ser tentado a curto prazo? Mais transportes coletivos? Campanhas de transporte solidário? Rodízios? Horários escalonados em diferentes turnos em empresas? Rodrigues - Analisemos cada uma das sugestões: Mais transporte coletivo: construir linhas de metrô, trem, monotrilhos, VLT, BRT levam anos, exigem desapropriações e custam
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caro. Não são soluções de curto prazo e precisam estar atreladas ao planejamento integrado. O aumento da frota de ônibus, táxis, vans ou similares não é uma solução, pois o efeito é aumentar os congestionamentos. É possível reduzir o intervalo entre composições de metrô e trens, mas demandamos muita tecnologia de sinalização e controle de tráfego e segurança (sem contar, por exemplo, que no Rio as duas linhas viram uma só a partir da estação Central e que vivemos parados no túnel “aguardando a liberação do tráfego à frente”, ou seja, inventamos o congestionamento do metrô. Mas intervalos de 15 a 20 minutos nos trens, como nos ramais de Santa Cruz, Japeri e Duque de Caxias, são excessivos e é preciso reduzir, respeitando os limites da segurança dos usuários. O transporte solidário é uma proposta que tem pouco impacto em um universo de 23,4 milhões de viagens/dia no Rio e de 43,7 milhões de viagens/dia em São Paulo. Além disso, possui riscos, o que reduz seu alcance a conhecidos. Quem dará carona a desconhecidos, com risco de assaltos ou coisa pior? Rodízios foram implantados em São Paulo (a exemplo de outras grandes cidades do mundo) e se expandiu para outras regiões, mas os congestionamentos continuaram crescendo. É certo que retirar, em tese, 20% dos veículos de circulação em determinadas regiões ajuda, mas isso impacta a distribuição urbana de cargas (muitas empresas não são locais), o transporte logístico de mercadorias industriais ou de grandes volumes, muitas famílias com dois veículos para driblar o rodízio, que tem efeito de curto prazo, até que a sociedade se ajuste a ele. Os horários escalonados em diferentes turnos de empresas pode ter efeito contrário. Se eu tenho de sair de casa às 6h para levar meus filhos para a escola, mesmo que eu deixe de entrar no trabalho às 8h e passe para as 9h, não vou voltar para casa. Vou ficar na rua. Ou pior, vou contratar um veículo para levá-los à escola, com impacto contrário. Indústrias que podem ter turnos diferenciados já possuem, mas vejamos que o horário de pico já soma 11 horas nas duas regiões metropolitanas. Como escalonar para fugir de 11 horas de pico? O efeito, como pode ser visto, seria mínimo. Alguns setores podem ter horário diferenciado ou home office. Isso é muito bom, mas quando você tira uma gota do rio, não há diferença em seu volume. É preciso mudar o fluxo do
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rio para fazer com que ele se distribua e, em cada sentido, tenha um volume menor. É claro que a reestruturação urbana, o planejamento integrado são ações de longo prazo. Mas são as ações definitivas. Veja o exemplo de Los Angeles. Sua região metropolitana tem o pior tráfego dos EUA, o quarto pior das Américas. Em 2013 a perda média por usuário do transporte coletivo ou privado foi de 93 horas. Mas na metade da década de 1990 esta perda era de 700 horas. Isso ocorria por causa da concentração de atividades (empregos, escolas, universidades, hospitais, mobiliário urbano de lazer) na região central. Passados 20 anos e depois de uma mudança no perfil econômico - com a concentração sendo substituída pelo adensamento racional, criando uma região policêntrica, distribuição dos fluxos do transporte para diversas áreas, em sentidos diferentes (mesmo que no mesmo horário), além de dinamizar áreas então deprimidas economicamente - os congestionamentos caíram muito. As horas perdidas passaram de 700 para 93. Não existe solução mágica, só solução, e esta é de longo prazo e precisa ser integrada, prevendo reestruturação urbana e ampliação do transporte de massa. Plurale - O estudo mediu também o impacto ao meio ambiente com mais emissões de gases do efeito estufa? Rodrigues - Este estudo não tratou a questão, pois o foco era trabalhar os custos visíveis dos congestionamentos e das soluções para estes problemas. Este foco ambiental exige um trabalho específico, detalhado, com outra metodologia e avaliações. O estudo “Os custos da (i)mobilidade nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo” pode ser acessado através do link http://migre.me/kG5bb.
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Estante O CASO DOS NOVE CHINESES, Por Ciça Guedes e Murilo Fiúza de Melo, Editora Objetiva, 254 págs, R$ 39,90 Na madrugada de 3 de abril de 1964, três dias após o golpe militar, policiais do Departamento de Ordem Política e Social invadiam, sem ordem judicial, um apartamento no bairro do Flamengo, no Rio, e capturavam um grupo de estrangeiros. As torturas começaram ali mesmo. Horas depois, os homens da polícia política entravam em outro prédio, no Catete, e detinham mais pessoas. No fim do dia, nove chineses estavam presos, identificados como agentes internacionais instalados no Brasil para disseminar a revolução comunista. Na verdade, os chineses detidos viviam legalmente no país. Os estrangeiros tornaram-se vítimas da paranoia anticomunista da época. Foram condenados a dez anos de prisão por subversão, e, após mais de um ano detidos, acabaram expulsos. O Brasil nunca pediu desculpas. Em seu país, eles se tornaram heróis nacionais. Os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo relatam o episódio no livro O caso dos noves chineses, 50 anos depois do ocorrido
1929, Por Ivan Sant’Anna, Editora Objetiva, 360 págs, R$ 44 Em 1929, Ivan Sant’Anna descreve em detalhes os dias, semanas e meses que precederam a quebra da Bolsa de Nova York, o grande colapso do mercado financeiro norte-americano e mundial, a partir da trajetória de personalidades famosas e pessoas comuns. Para narrar os eventos de um dos capítulos mais sombrios e complexos do capitalismo mundial, o autor pesquisou a fundo a vida de pessoas que tiveram, em questão de horas, seus destinos retraçados. Superando a aridez das análises econômicas, Sant’Anna oferece ao leitor a dimensão humana dos acontecimentos. Charlie Chaplin, Joe Kennedy, Irving Berlin. A vidente Evangeline Adams, o banqueiro Jack Morgan. O carteiro Homer Dowdy e sua esposa doente. A adolescente Jolan Slezsak. Os relatos revelam como o ano de 1929 mudou a vida de cada um deles. Tristes, comoventes, impactantes, surpreendentes — esse mosaico de histórias compõe um retrato singular dos anos 1920.
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FORMAS & RISCADOS Por Marly Faro, Editora Insight Comunicação, 220 páginas, o e-book poderá ser lido gratuitamente em: www.insightnet.com.br/ formaseriscados O livro Formas & Riscados traz um panorama das artes plásticas na cidade do Rio de Janeiro, passeando por suas múltiplas manifestações – pintura, escultura, fotografia, desenho, objeto e gravura – e pela obra de artistas de diversas gerações. Editada pela Insight Comunicação e com versão gratuita em e-book, a obra, ao longo de 220 páginas encadernadas com esmero, traz um mapeamento heterogêneo das artes no Rio, descortinando uma seleta representativa dos seus principais criadores. Formas & Riscados faz um passeio pelas técnicas e pelos movimentos mais importantes das artes plásticas brasileiras em nosso tempo. A beleza e singularidade das 100 obras reunidas traduzem a pulsão criativa do Rio de Janeiro, berço, atelier e inspiração dos participantes do livro. Nas páginas seguintes, contaremos uma história de luz e cor, de imanência e de materialidade, de arco-íris e do silêncio, de detalhes que contêm o cosmo, de um Rio que deságua em Formas & Riscados.
RELAÇÕES PÚBLICAS, MERCADO E REDES SOCIAIS Por Rafael Vergili, Summus Editorial, 152 págs, R$ 43,90 Por Ignácio de Loyola Brandão, Global Editora, 136 págs, R$ 39,00 Hoje, as redes sociais constituem um ambiente de grande exposição – tanto positiva quanto negativa – para as empresas. Quando se trata de imagem institucional, como utilizar o poder da rede para atingir o público? O profissional de Relações Públicas está capacitado para esse trabalho? Que tipo de conhecimentos ele deve ter para atuar na web? No livro Relações Públicas, mercado e redes sociais, lançamento da Summus Editorial, o pesquisador Rafael Vergili, doutorando em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), responde essas e muitas outras questões. Por meio de uma pesquisa com 128 grandes empresas e entrevistas presenciais realizadas com representantes das principais agências de comunicação do Brasil, Vergili constatou que 78,1% das grandes companhias priorizam o relacionamento com os públicos nas redes sociais e querem aprimorar esse contato. Paradoxalmente, o profissional de RP, que seria formado para promover esse diálogo, não está inserido adequadamente na área de comunicação digital.
Frases O ano de 2014 certamente ficará marcado por grandes perdas no cenário nacional. Destacamos o pensamento de três interlocutores dos mais relevantes da defesa do Brasil mais justo e igualitário: Eduardo Campos, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro. Homenageamos o legado deles através de algumas frases inspiradoras.
EDUARDO CAMPOS “Não vamos desistir do Brasil” “O conceito de sustentabilidade não é ter uma caixinha no Governo que cuide de sustentabilidade. É ter sustentabilidade em tudo o que o Governo faz.”
ARIANO SUASSUNA “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.” “… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.”
JOÃO UBALDO RIBEIRO “Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo.” “Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer.”
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Colunista Roberto Castello Branco
Uma Visão Econômica da Mudança Climática
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pesquisa científica revela a ocorrência de consideráveis flutuações de temperatura durante 100.000 anos, alternando-se fases de intenso calor e frio. Nos últimos sete mil anos houve, contudo, notável estabilidade, o que teria contribuído para viabilizar o desenvolvimento de nossa civilização. Já entre 1900 e 2010 a temperatura média da Terra se elevou em 0,8 graus centígrados. Enquanto as mudanças climáticas passadas teriam sido causadas por fenômenos naturais, a mudança recente está sendo crescentemente provocada pelo homem. A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera passou de 280 partes por milhão (ppm) em 1750 para 390 ppm nos dias de hoje. Se nada for feito para conter a escalada os modelos projetam de 700 a 900 ppm para o final deste século, o que resultaria em elevação da temperatura média na Terra em 3 a 5 graus centigrados. Refletindo o grau de incerteza existente, estimativas apontam perdas que variam de 1 a 10% do PIB global em 2100 – cerca de US$ 870 bilhões a US$ 8,7 trilhões a valores atuais. A fonte primordial da mudança climática ou aquecimento global é a queima de combustíveis fosseis, baseados em carbono, que conduz à emissão de CO, responsável por 77% dos gases de efeito estufa (GEEs). Estes se acumulam na atmosfera e devido à lenta absorção lá permanecem por muitos anos. O aquecimento global é provocado pelo estoque acumulado de GEEs e não pelos fluxos correntes de emissões. En-
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quanto os países desenvolvidos produziram no passado 80% dos gases acumulados, hoje a maior parte das emissões vem de economias emergentes, que muito provavelmente serão responsáveis por parcelas crescentes no futuro. O aumento da concentração de GEEs na atmosfera leva ao aquecimento da terra e dos mares. Tais efeitos acabam se
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O problema do aquecimento global não deve ser dramatizado, nem tampouco tratado com barreiras ao investimento e crescimento econômico.
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retroalimentando na atmosfera, oceanos, geleiras e sistemas biológicos. Em última instância, o consenso é que profundos impactos nas atividades biológicas e humanas sensíveis ao clima podem vir a se manifestar no longo prazo. O problema do aquecimento global não deve ser dramatizado, nem tampouco tratado com barreiras ao investimento e crescimento econômico. A mudança climática começa e termina com as atividades do ser humano. A concepção de políticas
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eficientes para mitigá-la está nas ciências sociais, dependendo essencialmente da boa compreensão de seus aspectos econômicos e do papel dos mercados. Fundamentalmente, o aquecimento global tem origem no problema que os economistas batizaram de externalidade: os emissores de GEEs não pagam pelos custos ambientais gerados, que acabam sendo compartilhados pelo resto do mundo. Isto surge porque um recurso – o meio ambiente - não é precificado e consequentemente usado em excesso. A prescrição é estabelecer um imposto sobre a emissão de carbono que iguale os benefícios de emissões adicionais, que ocorrem no presente, aos seus custos, que se manifestam ao longo do tempo. A solução está sendo implementada em vários países através de dois instrumentos principais: a taxação do carbono e as chamadas “cap-and-trade policies”. Estas compreendem a fixação de limites para emissões e permissões para quem os excedeu comprá-los de quem emitiu menos. Outras iniciativas incluem padrões de eficiência energética para veículos, prédios e instalações industriais, subsídios para o desenvolvimento de fontes de energia renovável e incentivos para o reflorestamento.
Agência Brasil
A simplicidade conceitual mascara a complexidade da solução. O desenho e a implementação de políticas de mitigação do aquecimento global enfrenta muitos desafios e questões ainda não resolvidas. Como convencer as gerações presentes em investir recursos que beneficiarão majoritariamente gerações futuras? Como descontar os fluxos de retornos futuros para compará-los com os custos dos investimentos? Como a incerteza a respeito da magnitude de danos ambientais futuros afeta as estratégias hoje adotadas? Como estimular a pesquisa e o ritmo de progresso tecnológico em fontes energéticas alternativas? A cooperação internacional é muito relevante pois estamos tratando de uma externalidade global, já que em termos de impacto sobre o meio ambiente tanto faz uma tonelada de carbono emitida no Brasil quanto na Índia. O fato de que o custo da redução das emissões é incorrido totalmente pelo país que investe e os retornos são compartilhados com o resto do mundo dificulta a coordenação entre nações. Outro elemento complicador reside no que os economistas chamam de incentivos para o “free rider: os benefícios do consumo de combustíveis fosseis são imediatos e concentrados enquanto que os custos sociais tendem a se manifestar num futuro distante e são amplamente dispersos. Todo mundo gosta de uma carona de graça.
Os custos sociais do aquecimento global e os benefícios de sua mitigação não são uniformes, o que leva a diferentes percepções entre países sobre o valor dos investimentos necessários. Políticas de mitigação oferecem combinações de risco-retorno para economias emergentes - cuja prioridade número um é compreensivelmente o crescimento da renda - distintas daquelas para países desenvolvidos. Em consequência, a emissão de GEEs por dólar de PIB na União Europeia e EUA é bem inferior às dos BRICs, sendo o Brasil o mais bem comportado neste grupo de emergentes. A costumeira adoção por governos de economias emergentes - entre eles o do o Brasil - de subsídios aos preços de derivados de petróleo, como a gasolina, para maximizar ganhos políticos de curto prazo têm entre outras contrapartidas negativas o estímulo direto à emissão de CO2, ao baratear artificialmente o preço de um combustível fóssil. Isso evidencia também quão maléfica pode ser a intervenção estatal na questão ambiental. Estima-se que entre 1900 e 2010 as emissões globais de carbono se expandiram à taxa média anual de 2,6%. Dado que a economia global cresceu à taxa média de 3,7% ao ano, houve redução da quantidade de CO2 por dólar de PIB ao ritmo de 1,1% ao ano, fenômeno conhecido como descarbonização.
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Estima-se que entre 1900 e 2010 as emissões globais de carbono se expandiram à taxa média anual de 2,6%. Dado que a economia global cresceu à taxa média de 3,7% ao ano, houve redução da quantidade de CO2 por dólar de PIB ao ritmo de 1,1% ao ano, fenômeno conhecido como descarbonização.
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Colunista A rápida expansão de economias emergentes e a crescente demanda por energia daí decorrente concorrem para o aquecimento global. Por outro lado, o aumento da renda e da riqueza nessas economias tende a elevar o valor atribuído à proteção ao meio ambiente. Isso se reflete na modificação da posição da China traduzida recentemente na priorização do combate à poluição ambiental e o uso mais intensivo de energia eólica e solar. As mudanças estruturais associadas à dinâmica do crescimento econômico elevam a participação na atividade econômica de setores menos intensivos em energia - como a tecnologia da informação e de serviços como saúde, educação, e finanças - relativamente à indústria manufatureira tradicional, se apresentando como fonte relevante de descarbonização.
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No âmbito corporativo, o desafio é conciliar investimentos em projetos que reduzam emissões de GEEs com o objetivo de maximização de lucros para os acionistas. Um caso de sucesso é o processamento a seco do minério de ferro, que diminui simultaneamente custos de investimento e operacionais e a emissão de carbono.
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A dinâmica do crescimento econômico está associada à realização contínua de ganhos de eficiência que implicam no uso de menor quantidade de energia por unidade de produto. Finalmente, a descarbonização é provocada por mudanças nas fontes de energia para combustíveis menos intensivos em carbono, como o gás natural, e fontes renováveis e não fosseis (hidráulica, nuclear, eólica, solar, biomassa, geotérmica). No âmbito corporativo, o desafio é conciliar investimentos em projetos que reduzam emissões de GEEs com o objetivo de maximização de lucros para os acionistas. Um caso de sucesso é o processamento a seco do minério de ferro, que diminui simultaneamente custos de
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investimento e operacionais e a emissão de carbono. A precificação do carbono é a solução de mercado para induzir mudanças substantivas na matriz energética global. O homem reage a incentivos e os avanços na tecnologia têm produzido feitos extraordinários nos últimos 150 anos. O bom uso do instrumental de teoria econômica proporcionará a criação dos estímulos capazes de gerar respostas efetivas ao aquecimento global. Roberto Castello Branco é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É economista da FGV, foi Diretor do Banco Central e de Relações com Investidores da Vale.
22 e 23 de Setembro de 2014 – São Paulo (SP)
RENAISSANCE SÃO PAULO HOTEL Alameda Santos, 2233 São Paulo – SP Realização:
Apoio Institucional
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES
Estão abertas as inscrições para o 4º Encontro de Contabilidade e Auditoria para Companhias Abertas e Sociedades de Grande Porte, promovido pela ABRASCA e pelo IBRACON. O evento, cujas edições anteriores obtiveram grande sucesso em termos de público e de avaliação, contará com renomados palestrantes. Público alvo Auditores, contabilistas, diretores e de Gerentes Contábeis de companhias abertas, além de autoridades, dirigentes de entidades e demais profissionais ligados ao mercado financeiro e de capitais.
ABRAPP, ABVCAP, AMEC, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FACPC, IBEF, IBGC, IBMEC, IBRACON,
ABRASCA – informações e inscrições (11) 3107.5557
IBRADEMP e IBRI
E-mail nilsonjunior@abrasca.org.br Patrocinadores Ouro
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Organização
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Colunista Rudolf Höhn
U
Diferenciação Competitiva
ma empresa, independente do seu tamanho, está, de uma forma ou de outra, envolvida em satisfazer aos públicos mencionados na engrenagem acima. Mecanicamente o sistema de engrenagens funciona de tal forma que as engrenagens periféricas giram na mesma velocidade, enquanto a engrenagem do centro gira numa velocidade maior para compensar o seu menor tamanho. Transportando este modelo para a empresa, equivaleria a ela dar uma atenção equilibrada aos quatro públicos objeto das engrenagens periféricas e consequentemente dar aten-
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ção redobrada à sua gestão para que isto seja possível. Aqueles que conhecem as engrenagens de uma empresa entendem perfeitamente o que significa, em termos de gestão, por em prática metodologias, processos, sistemas gerenciais e controles, além da excelência na liderança e na comunicação que permitam este equilíbrio. Satisfazer o cliente, o acionista e o pessoal que constitui a equipe é de um modo geral aceito no meio empresarial. Mas de forma equilibrada? Alguns acham que sim, outros que não. Eu me enquadro nos primeiros. Hoje o problema maior reside na atenção que deve ou não ser dada ao quarto elemento do
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nosso sistema de engrenagens, referente ao meio social e ambiental, no qual a empresa está inserida. Será que é realmente importante? É vital do ponto de vista econômico financeiro? As respostas a estas perguntas são no mínimo complexas e polêmicas. Nem por isso devemos evitar discuti-las. Este é unicamente o meu objetivo neste breve artigo. Provocar a discussão dando a minha percepção a respeito. Em primeiro lugar, é imprescindível entender o que cada um desses públicos almeja. O Cliente, por exemplo, estaria em tese satisfeito se o produto ou serviço
Aqueles que conhecem as engrenagens de uma empresa entendem perfeitamente o que significa, em termos de gestão, por em prática metodologias, processos, sistemas gerenciais e controles, além da excelência na liderança e na comunicação que permitam este equilíbrio.” que ele adquire da empresa fornecedora atende perfeitamente às suas especificações, ou seja, é capaz de cumprir exatamente o que foi prometido, dentro, é claro, de um custo/benefício competitivo. É importante também para ele que a empresa fornecedora, como parceira do seu negócio, tenha uma boa reputação no mercado, pois do contrário poderia contaminar a sua própria. O Pessoal, que constitui a equipe da empresa, estaria em princípio satisfeito e motivado para trabalhar, se estiver engajado através de uma liderança eficaz, capaz de garantir a participação de todos na missão e atingimento dos objetivos maiores da empresa. Além, é claro, de oferecer salários e benefícios alinhados com o mercado e oportunidades de carreira oferecidas dentro de critérios justos e conhecidos para todos. É fundamental também para
a satisfação do pessoal que ele possa sentir orgulho de trabalhar para uma empresa que possua boa reputação na sociedade em que se insere. O Acionista estará satisfeito se a empresa for capaz de retribuir o seu investimento com o retorno compromissado. É claro que este retorno é esperado que seja produzido dentro de padrões éticos e morais dignos de uma empresa de boa reputação. O Meio (ambiente e social) no qual a empresa está inserida. Voltamos a perguntar: será que este é um fator tão importante que deva merecer uma atenção especial por parte da gestão da empresa? Apenas para citar dois exemplos que até hoje ainda deixam marcas nas empresas envolvidas: o caso do desastre com o petroleiro Valdez que produziu um problema ambiental de terríveis proporções e a utilização de mão de obra infantil por parte de fornecedores de uma grande rede de moda internacional. Bem, mas estes são acidentes que podem ocorrer independentemente da forma com que a empresa é conduzida ou da importância que as empresas dão a esta questão. Será? Ou será que, na medida em que as empresas compreenderem as consequências econômicas diretas e indiretas (como, por exemplo, a perda de sua reputação) resultantes da falta da atenção adequada por parte da gestão da empresa, esta certamente investirá mais e melhor nesta área. Apenas para expandir um pouco mais a respeito da questão da perda da reputação. Como mencionado anteriormente, vimos que este é um quesito que influencia diretamente a visão que os outros públicos, tais como o cliente, o seu pessoal e o acionista, têm da empresa. A empresa privada representa uma porção significativa do PIB do país e portanto o seu comportamento em relação ao meio em que se insere tem reflexos diretos, não somente para ela mas para a economia do país como um todo. É motivo de satisfação observar que cada vez mais as empresas passam a dar uma atenção maior a estes fatores funda-
mentais à sobrevivência delas no futuro. Na questão social já vemos empresas preocupadas em limitar as diferenças entre os seus maiores e menores salários, em gerenciar os seus fornecedores para que assumam práticas de políticas de pessoal adequadas e em contribuir para que a educação nas escolas seja mais efetiva e de melhor qualidade. Imaginem o custo que muitas empresas têm que incorrer somente para capacitar uma pessoa em questões que seriam na prática obrigação das escolas prover. Portanto, na realidade não se trata de uma simples contribuição, mas sim de um investimento que, embora não sendo de sua responsabilidade direta, reverte em seu beneficio. Na questão ambiental, vemos também progressos na preocupação de muitas empresas com a poluição que geram, com os desperdícios, com a reciclagem e com a questão da gestão dos seus fornecedores para que também atuem de forma sustentável naquilo que produzem. Na realidade uma boa gestão nesta área traz benefícios econômicos para a empresa e não o contrário. Me lembro bem, há algumas décadas atrás, quando a qualidade passou a ser um fator de competitividade, vantagem comparativa entre as empresas. Muitos achavam que as empresas não iriam suportar os custos envolvidos com a implementação dos programas de qualidade. Hoje sabemos muito bem que quem não tem qualidade no que produz está fora do mercado mais cedo ou mais tarde. Infelizmente a velocidade com que este processo está se desenvolvendo é muito menor da que seria ideal. Mas há algumas décadas atrás nem isto havia. Tenho a certeza de que quanto mais rápido estes fatores referentes ao meio (social e ambiente) se tornarem fatores de diferenciação competitiva entre as empresas, mais rapidamente teremos uma luz mais visível no final do túnel. Rudolf Höhn é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade. É Presidente da ONG Ação Comunitária e Sócio-Diretor da E-Hunter. Foi presidente da IBM no Brasil.
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ESTUDO DE CASO Fotos Divulgação
Gestão de recursos hídricos no Grupo Boticário Por Malu Nunes, gerente de Sustentabilidade do Grupo Boticário
1. CENÁRIO: HISTÓRICO DO PROJETO E CONTEXTUALIZAÇÃO A degradação e escassez dos recursos hídricos apontam para um aumento dos custos e possível interferência no rendimento da operação em unidades fabris. Segundo diagnóstico divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA), há sérios riscos de o Brasil ter problemas com o abastecimento de água em 2015. A previsão é de que 71% da população urbana do país sejam afetados, um total de 125 milhões de pessoas. Com o objetivo de minimizar o impacto desse cenário, o Grupo Boticário, empresa que controlas as unidades de negócio O Boticário, Eudora, quem disse, berenice? e The Beauty Box, aumentou as iniciativas de sustentabilidade relacionadas à água, com o reúso de água nas torres de resfriamento da fábrica, em São José dos Pinhais (PR), e captando e tratando a água da chuva para utilização no Centro de Distribuição (CD) de Registro (SP). As iniciativas estão alinhadas aos objetivos estratégicos da empresa. O Grupo Boticário acredita que a redução do impacto de suas atividades no meio ambiente é
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essencial para o crescimento sustentável dos negócios. Por isso, a empresa definiu três frentes de atuação que englobam todos os seus processos: Matérias-primas e Embalagens, Canais de Venda e Ecoeficiência. Neste último tópico, a redução do consumo de água tem grande destaque, já que é muito necessária para a fabricação de produtos do Grupo. 2. INICIATIVAS A empresa tem por objetivo reduzir o consumo de água potável em todas as instalações do Grupo Boticário e minimizar a utilização de recursos naturais, por meio de processos e tecnologias mais inteligentes. Isso garante procedimentos industriais e logísticos cada vez mais eficientes que promovam a conservação de recursos naturais. Um dos projetos para alcançar esta meta iniciou em 2012 e envolve o aumento da utilização de água de reúso, direcionando este recurso para utilização nas torres de resfriamento na fábrica de São José dos Pinhais. Esses equipamentos transferem o calor residual dos processos fabris à atmosfera e, para funcionarem, utilizam a evaporação da água para remover o calor e resfriar o fluido
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de trabalho. Esta água é destinada ao uso industrial, para arrefecimento de ambientes ou para o resfriamento de equipamentos. Outro projeto foi o de viabilizar o aproveitamento da água da chuva no Centro de Distribuição de Registro (SP) e, assim reduzir o impacto da captação de água do poço artesiano que há no lugar. Desde sua inauguração, o local já trata seu efluente por meio de uma Estação de Tratamento de Esgoto Compacta e, com o uso da água da chuva, o CD dá mais um passo rumo aos princípios de Ecoeficiência estipulados pelo Grupo Boticário. 3. DESAFIOS E SOLUÇÕES Desde 2008, a fábrica de São José dos Pinhais já possui um sistema de reúso de água para utilização nos banheiros e também na higienização e limpeza de pisos. O efluente gerado pelo local é tratado pela Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e, parte dele, vai para uma Estação de Tratamento de Água de Reúso (ETAR). O sistema dessa estação é composto por filtros de areia, carvão, tanques de acumulação e cloração, distribuição de água, conjunto de bombas com inversores e sistema de automação.
Com as iniciativas para a redução do uso da água potável, o Grupo Boticário deixa de extrair este recurso da bacia hidrográfica da região. Outro benefício é a redução de custos e impactos ambientais, tornando os processos da empresa mais sustentáveis. Hoje, 40% da quantidade de água de reposição das três torres de resfriamento na fábrica de São José dos Pinhais vêm do reúso, um total de 1000 m³ por ano. Com isso, o Grupo Boticário reduziu 425 m³ do consumo de água potável em 2013. O novo sistema também permite que 68% do efluente tratado na unidade retornem como água de reúso nos vasos sanitários, mictórios, jardinagem e limpeza de piso. Até o final de 2014, essa porcentagem Em 2012, o Grupo Boticário teve o desafio de atualizar esse sistema para utilizar a água de reúso na reposição das torres de resfriamento. Os equipamentos foram substituídos por um modelo mais moderno que traz mais segurança operacional, pois o esquema de resfriamento é isolado do circuito de evaporação. A empresa também integrou o processo de ozonização ao sistema, implantando lâmpadas UV que degradam o ozônio e reduzem a carga orgânica do efluente tratado. Assim, o padrão de qualidade recomendado pelo fabricante da torre de resfriamento foi atingido em 2013, quando a atualização foi finalizada. Há intenção de replicar este projeto para todas as unidades fabris do Grupo Boticário. Já no Centro de Distribuição, a cobertura do galpão foi modificada para captar 50% da água da chuva, que é encaminhada até uma cisterna enterrada (pulmão) de 300 m². Lá, a água é filtrada por areia e carvão ativado, além de receber radiação ultravioleta e dosagem de cloro automaticamente. Após o tratamento, essa água vai para uma caixa elevatória, onde é bombeada para uma caixa elevada de 20 m³ para distribuição geral. Caso a caixa esteja cheia, a água volta a circular na cisterna. Todo sistema é automatizado por CLP (Controlador Lógico Programável) e interface de IHM (Interface Homem Máquina) para operar 24 horas, nos sete dias da semana. 4. RESULTADOS ALCANÇADOS O Grupo entende que uma das contribuições para o meio ambiente é o desenvolvimento de processos produtivos
cada vez mais inteligentes, que permitam o crescimento da organização por meio da utilização consciente dos recursos naturais e da redução do uso de matérias-primas em suas operações e em toda a cadeia de valor. O conceito “beleza é o que a gente faz”, portanto, é pautado na sustentabilidade, o que evidencia uma conduta inspiradora também no que se refere às relações humanas e ao meio ambiente. Isso expande o significado de beleza para além da estética. Ao longo da execução dos projetos, os colaboradores foram envolvidos por campanhas de divulgação interna. Isso aumentou a conscientização deles em relação ao uso da água e desenvolveu o sentimento de pertencimento a uma empresa preocupada com a preservação dos recursos hídricos.
deve atingir 95%, um total de 29.200 m³ de água por ano, volume esse que poderia abastecer 134 famílias de quatro pessoas, anualmente. No CD em Registro, 23% da água consumida em 2013 provêm da captação de chuva, que é utilizada em vasos sanitários, jardinagem e limpeza. A indústria inteligente encara a biodiversidade como um de seus mais importantes ativos e contribui para a sua conservação. Isso porque tem plena consciência que o equilíbrio e a estabilidade dos ecossistemas são imprescindíveis para os diversos setores da economia e, consequentemente, ao desenvolvimento do país. A efetiva relação entre “indústria e biodiversidade” também sustenta o sucesso e a permanência das empresas no mercado.
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P e lo B rasi l
Ronnie Nogueira (Revista RI)
Inteligência no relacionamento das empresas abertas com os investidores e a sociedade
Por Luiz Fernando Bello, Especial para Plurale em revista, De São Paulo
O
desenvolvimento, a sofisticação crescente e a internacionalização do mercado de capitais provocaram a valorização de algumas profissões no mercado de trabalho brasileiro. Analistas e gestores de investimentos já são reconhecidos desde a década de 70 do século passado, quando o mercado brasileiro de ações passou por forte tendência de alta provocada basicamente por incentivos fiscais e pelo nascimento da indústria de administração de recursos de terceiros no Brasil. Naquela década, o País também estourou sua primeira “bolha” de grande porte, causando traumas irreparáveis e afastando as pessoas físicas do mercado. Mas a lição foi bem aproveitada: empresários e governos compreenderam a importância de tornar a participação acionária dos acionistas não controladores em produto de boa qualidade e revolucionaram o mercado com a Nova Lei das S.A. e a criação da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, pilares que sustentam a evolução do mercado até hoje. Com o crescimento e consolidação do mercado de capitais como alternativa de captação de recursos, as empresas abertas verificaram a necessidade de profissionalizar o relacionamento com quem
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nelas investia, com os investidores em geral e também com todos aqueles envolvidos direta ou indiretamente por suas atividades, compreendendo todas as suas responsabilidades sociais e ambientais, além do compromisso com sua própria sustentabilidade. Hoje, há centenas de profissionais de relações com investidores, mais conhecidos como executivos de RI, e a complexidade de seu meio de atuação leva a agregar cada vez mais inteligência a seu trabalho, tema principal do “16° Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais”, realizado em julho, promovido pelo IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores e pela ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas. O Encontro foi aberto com o lançamento da campanha “RI Cria Valor” a ser realizada com o objetivo de demonstrar a importância para as empresas e a sociedade em geral do trabalho dos profissionais de RI. Realizado pela Delloite em conjunto com o IBRI, o estudo “Comunicação com o Mercado – Alinhamento Estratégico para a Criação e Preservação de Valor” revelou que 75% das empresas de capital aberto no Brasil consideram que há uma lacuna entre o valor atribuído a companhia por sua própria administração e a avaliação feita por analistas e investidores, sendo a melhoria da comunicação
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com o mercado o instrumento para reduzir ou anular a diferença. As conclusões do estudo atestaram a importância dos profissionais de RI – afinal, são eles os responsáveis por traduzir as informações fornecidas pela empresa ao público em geral e, não menos importante, por levar a percepção dos investidores e da sociedade para a cúpula das organizações – e nortearam o restante das apresentações e debates, marcados pelo excelente nível técnico dos participantes. De acordo com a meta de introduzir cada vez mais valor ao trabalho de RI, a organização do Encontro elegeu como temas a inteligência de RI nas empresas (experiência nacional e internacional), a inteligência a serviço do mercado de capitais e gestão de crises para RI. A adequada escolha dos debatedores permitiu o intercâmbio de opiniões entre tradicionais e novos valores, como Luiz Spínola (vice-presidente da ABRASCA) e Carla Miller (gerente de RI da Vale), e entre autoridades e participantes do mercado, como Leonardo Pereira (presidente da CVM) e Vitor Fagá (presidente do IBRI). A inteligência do conteúdo possibilitou que o “16° Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais” apresentasse como resultado principal o enriquecimento profissional de todos os seus participantes.
Almirante Ibsen, o protetor da biodiversidade Gisele Koprowski
Jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale, é indicada para o Prêmio Comunique-se 2014
O
s nomes dos indicados ao Prêmio Comunique-se 2014 foram divulgados em 2 de julho. Com a revelação dos profissionais, executivos e agências de comunicação que estão na disputa do “Oscar do Jornalismo Brasileiro”, internautas, únicos responsáveis pela votação, terão um mês para escolher seus favoritos e, assim, ajudar na definição dos finalistas desta edição. A segunda fase de votação foi encerrada em 2 de agosto, é restrita aos usuários corretamente cadastrados no Portal Comunique-se. A jornalista Sônia Araripe, editora e diretora de Plurale, foi indicada para o Prêmio na categoria “Sustentabilidade” com outros colegas renomados, como Sergio Abranches (Ecopolítica e CBN), Washington Novaes (O Estado de S. Paulo), Amelia Gonzalez (Blog), Danielle Chiaretti (Valor), Rosenildo Gomes Ferreira (Iso É) e Ricardo Voltolini (Ideia Sustentável). “Mais do que ganhar o prêmio, apenas a indicação, ao lado de companheiros de tra-
que o conservacionista recebeu, está a homenagem concedida em 2013 pelo Ministério do Meio Ambiente do Governo Federal do Brasil, pelas suas mais de quatro décadas de contribuição à conservação da natureza brasileira. Renata Costa/ECOTV
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bsen de Gusmão Câmara, um dos brasileiros que mais lutou pela defesa do patrimônio natural do Brasil, faleceu na madrugada de 31 de julho, no Rio de Janeiro. Tinha 90 anos e era carinhosamente conhecido como Almirante Ibsen. Como oficial de alta patente da Marinha do Brasil, o Almirante Ibsen trabalhou de dentro do governo militar para alertar para os desastres ambientais e promover a conservação da natureza brasileira. Aposentado em 1981, passou a se dedicar exclusivamente à causa conservacionista. Em uma época em que pouco se falava de conservação da natureza no Brasil, o Almirante Ibsen exerceu papel fundamental na campanha contra a caça de baleias no país e também foi um grande defensor das áreas protegidas, com pa-
pel de destaque na criação de parques e reservas na Amazônia. A participação dele foi fundamental ainda na criação das primeiras unidades de conservação marinhas do Brasil, como a Reserva Biológica Atol das Rocas, em 1979. Outro legado do Almirante Ibsen foi o de direcionar e inspirar toda uma geração de profissionais atuantes na conservação da natureza. Ele contribuiu para a criação de uma dezena de organizações não governamentais conservacionistas e foi conselheiro de muitas outras. Por exemplo, desde 1990 era membro do Conselho Curador da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza; e, de 1998 a 2009, presidiu a Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró-UC), sendo que atualmente era Presidente Honorário dessa instituição. Entre as muitas outras honrarias
jetória na mídia sustentável, com carreiras tão relevantes, já é uma vitória”, comentou Sônia Araripe. Este é o terceiro ano consecutivo que a Editora de Plurale é indicada para esta Premiação. Veja a lista completa nesta categoria: SUSTENTABILIDADE • Amélia Gonzalez - G1 • Ana Luiza Herzog - Exame • Bruno Calixto - Época • Daniela Chiaretti - Valor Econômico • Ricardo Voltolini - Ideia Sustentável • Rosenildo Ferreira - IstoÉ Dinheiro • Sérgio Abranches - CBN / Ecopolítica • Sônia Araripe - Plurale • Vera Diegoli - TV Cultura • Washington Novaes - O Estado de S. Paulo Auditada pela Deloitte, o resultado da segunda fase de votação do Prêmio Comunique-se 2014, a 12ª edição do evento, será divulgado em 25 de agosto. Na data, os inter-
nautas estarão aptos a participarem da votação para definir o grande-vencedor de cada umas das categorias. Os nomes dos premiados serão divulgados em 23 de setembro, em noite de gala realizada no HSBC Brasil, na capital paulista. A festa, que sempre conta com convidados do meio, já tem como apresentadores confirmados o humorista Marcos Veras e o casal Otaviano Costa e Flávia Alessandra. Novo site - O início da segunda etapa de votação do Prêmio Comunique-se 2014 marcou, também, a reformulação da página dedicada à disputa. Criada pela equipe de desenvolvedores de sites do Grupo Comunique-se, o espaço pasa a dar mais destaque a conteúdo multimídia, como fotos e vídeos, além de exibir o que de principal aconteceu nas outras 11 edições do Prêmio que teve a sua estreia em 2003.
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P e lo B rasi l Isabella Araripe
“Como Será?” estreou em agosto
Por Isabella Araripe, de Plurale Enviada Especial a São Paulo
As manhãs de sábado na Rede Globo ganharam um novo programa. “Como Será?” será exibido das 6h às 8h e tem estreia marcada para o dia 9 de agosto. Apresentado por Sandra Annenberg, o programa que irá ocupar o lugar do ‘Globo Cidadania’ na grade da emissora. O programa conta com a parceria do
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Jornalismo e da área de Responsabilidade Social da Globo com a Fundação Roberto Marinho e chega para compartilhar com o público experiências transformadoras, exemplos de cidadania que buscam colaborar para a construção de um futuro melhor. Na coletiva de imprensa realizada em 17 de julho, em São Paulo, a apresentadora, que está há 23 anos no jornalismo da Globo, contou que está muito feliz de estar envolvida nesse novo projeto. “Eu precisava desse momento de relaxamento, de conseguir parar para pensar no futuro. Durante muito tempo eu me senti uma espectadora e agora não dá para esperar mais. Temos que começar a arregaçar as mangas e fazer acontecer, propor soluções.” Com direção de Maurício Yared, a nova atração também contará com quadros conduzidos por Max Fercondini e Alexandre Henderson, quatro repórteres exclusivos
PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2014
– Helena Lara Resende, Rogério Coutinho, Julia Bandeira e Mariane Salerno – e toda a rede de afiliadas e escritórios internacionais da Globo. Segundo Beatriz Azeredo, diretora de Responsabilidade Social da Globo o programa é uma “revista eletrônica sobre a aventura de mudar o mundo”. Ela também destacou que a nova atração será um programa para curtir e compartilhar experiências com temas relevantes, leveza e diversão. “Como Será?” pretende conectar ideias e isso estará presente na TV e na web. No site do programa, que foi lançado dia 25 de julho, o público terá acesso a conteúdos exclusivos, tutoriais e vídeos com histórias do público, que poderá conversar com os convidados. O público também poderá enviar perguntas para os entrevistados, fotos para serem exibidas no telão e se inscrever para participar dos quadros. (*) A repórter viajou a convite da Rede Globo.
Empresas recebem o Prêmio IBEF de Sustentabilidade 2014. Plurale é certificada. No dia 15/08, aconteceu no Salão da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, a Solenidade de Premiação e Certificação das organizações participantes do Prêmio IBEF de Sustentabilidade 2014. Dentre os 98 cases inscritos nas cinco categorias, 53 foram aprovados e certificados na oportunidade. Os cinco premiados com o Troféu Ecosofia foram: • Categoria Administração de Conflitos: RISK OFFICE • Categoria Estrutura da Operação: HOTEL URBANO • Categoria Gestão: SPOLETO FRANCHISING • Categoria Governança Corporativa: AES BRASIL • Categoria Valorização: RADIO IBIZA IDENTIDADE MUSICAL A premiação foi comemorada pelos vencedores. “O Hotel Urbano busca fomentar novos destinos turísticos e auxiliar no desenvolvimento de pequenos e médios empreendedores do setor em todo o Brasil. Estamos muito orgulhosos com essa conquista, que vem para coroar nossa missão de fortalecer toda a cadeia produtiva do turismo nacional”, afirma Roberta Antunes, presidente do Hotel Urbano. Levy Gasparian, diretor da Rádio Ibiza, também comemorou. “Somos uma rádio com foco em empresas. E esta premiação mostra que sustentabilidade é um assunto para todos, independente do tamanho e da área de atuação.” Marcos Varejão, Diretor- Executivo do IBEF-Rio, destacou, em entrevista exclusiva para Plurale, o número recorde de inscrições nesta edição do Prêmio, chegando a 98 empresas. Destas, 532 receberam os certificados. “Todos podem se considerar premiados. A premiação mostra a variedade de experiências vitoriosas de Sustentabilidade no dia-a-dia das empresas, independente de seus portes”, disse Varejão. Ele destacou ainda que praticar a Sustentabilidade deixou de ser apenas tarefa de um setor. “Está bem claro que saiu da caixinha de um departamento ou grupo para realmente pas-
sar a ser uma ação estratégica para todos”, afirmou. Marcos Rechtman, diretor de Sustentabilidade do IBEF, explicou a metodologia na qual a premiação está baseada. Um grupo de altos executivos, que compõem a Banca Examinadora do Projeto, analisou e identificou as empresas que serão certificadas, levando em consideração os requisitos da Metodologia do Pentágono em Sustentabilidade, com base no livro “Avaliação de Investimentos Sustentáveis”, de autoria de Rechtman & Young (2013). Os autores, por meio de pesquisas, estudos e orientações de profissionais da área, estabeleceram conceitos de direção e gestão empresarial, caracterizando e disseminando a responsabilidade socioambiental como paradigma complementar a performance econômico-financeira. “As empresas que participaram em uma das cinco categorias do Prêmio – valorização, gestão, governança, administração de conflitos e estrutura da operação”, completou Rechtman. A diretora de Plurale, a jornalista Sônia Araripe, comemorou a certificação do IBEF-Rio pelo quarto ano consecutivo. “É mais um reconhecimento da relevância de nosso trabalho”, afirmou. Abaixo, segue relação dos 53 certificados com Excelência em Sustentabilidade, incluindo Plurale: Administração de Conflitos AGROTOOLS, AGROTOOLS, COMTEX, INFRAPREV, LAVANDERIA EXPRESS, PASTELARIA HECK, RISK OFFICE e TAESA Estrutura da Operação AGROTOOLS, BP ENERGY DO BRASIL,
BUC CONSULTORIA, CASA DO ADUBO, CENTRAL 24 HORAS, HOTEL URBANO, INVEPAR, RIO GRANDE ENERGIA, RIO GRANDE ENERGIA, SAÚDE CRIANÇA e UNIMED FEDERAÇÃO RIO Gestão BANCO DO BRASIL, E-AMBIENTAL, ENDESA BRASIL, IBM BRASIL, INSTITUTO VITAL BRAZIL, LOJAS AMERICANAS, PLURALE EM REVISTA, PREVI e SPOLETO FRANCHISING Governança Corporativa ABVTEX, AES BRASIL, B2W DIGITAL, BANCO DO BRASIL, BR DISTRIBUIDORA, CCR, COPAGAZ, E-AMBIENTAL, GRUPO DE TRABALHO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL, INSTITUTO SABIN, KIMBERLY-CLARK BRASIL, KONI STORE, QUEIROZ GALVÃO EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO e VOTORANTIM INDUSTRIAL (VID) Valorização CONCEPTION, CORREIOS, EKOFOOTPRINT, EXCELSIOR, GBG COMÉRCIO DE PNEUS E SERVIÇOS, INACERES, IPIRANGA, JLT RE BRASIL, LIMITS, MJV TECNOLOGIA & INOVAÇÃO e RÁDIO IBIZA IDENTIDADE MUSICAL O objetivo do projeto, que conta com o patrocínio da Petrobras, Furnas Centrais Elétricas S.A. e Deloitte, é reconhecer e disseminar práticas de desenvolvimento das organizações e estimular a adoção de ações sustentáveis pelas empresas brasileiras.
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Especial
A exuberância nativa da Serra da Canastra Texto e Fotos de Luciana Tancredo, de Plurale (*) Da Serra da Canastra (MG)
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onhe com o paraíso. Ou melhor, visite o paraíso. Pode parecer força de expressão, mas em se tratando da Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais, tudo parece superlativo. A exuberância nativa da região que abriga a nascente do imponente Rio São Francisco – aqui ainda quase um riacho - não deixa dúvidas que o Parque Nacional da Serra da Canastra parece ser mesmo uma amostra do que é o paraíso. Em que outro lugar poderíamos vislumbrar tanta biodiversidade? Em nossa visita, pudemos fotografar tamanduás – inclusive a mamãe passeando com o filhote nas costas, que ilustra a capa desta edição – seriemas, gaviões, diversos pássaros, veados, o arredio lobo guará e uma infinidade de outras espécies. São tantas que os olhos parecem nem alcançar. Sem falar no leque de diferentes opções de visual: das cachoeiras e rios até as serras e vegetações baixas. E como se não bastasse, ainda tem a simpatia dos locais e a comida espetacular mineira, com destaque para o famoso queijo Canastra. Como tudo na vida, há que se “pagar” um certo preço para ter acesso até este pe-
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daço de paraíso. Para quem prefere o aconchego do luxo e turismo fácil, este definitivamente ainda não é um passeio acessível a todos. Para chegar é preciso cruzar estradas empoeiradas e esburacadas. Por agora, a estiagem dá uma trégua, mas se o período for de fortes chuvas, é bom se precaver se os acessos são possíveis. Atualmente, o drama é outro, com a forte seca, são constantes as queimadas, o que também pode interferir diretamente nas rotas traçadas. No entanto, com a segurança de quem já fez diversos roteiros de ecoturismo no Brasil e em outros países, posso assegurar: prepare bem a viagem, se informe bem e relaxe, este é um roteiro que vale a pena. O acesso fica mais fácil para quem tem
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2014
Parque Nacional que abriga a nascente do Rio São Francisco é verdadeiro santuário da biodiversidade carros com tração 4 X 4, mas há também a opção de vir até uma cidade próxima do Parque e contratar o serviço na região. “Temos recebido muitos ecoturistas. O acesso ainda não é realmente fácil a todos, mas a visita costuma realmente encantar quem vem aqui”, diz o administrador do Parque Nacional da Serra da Canastra, Darlan de Pádua. O geólogo conta que o projeto para tornar as estradas mais acessíveis é bem antigo, mas ainda não foi concretizado. Outro problema muito frequente na região é o fogo. “Estamos sempre debatendo e buscando soluções par o tema com os moradores da região”, diz. Nos dias 20 e 21 de setembro será a vez de mais uma rodada sobre as queimadas em São Roque.
Mas, vamos abstrair um pouco o lado “vida real” e “mergulhar” no que há de melhor na região ecoturística da Serra da Canastra. São mais de 200 mil hectares e abrange 6 municípios: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória e Capitólio. A maior atração é o Parque Nacional da Serra da Canastra, criado em 1972 para proteger as nascentes do Rio São Francisco. O Parque possui variada beleza cênica, com grandes paredões de rocha e belas cachoeiras. Dentro do Parque Nacional estão alguns dos mais belos cartões postais do Brasil, como a cachoeira Casca D’Anta, de quase 200 metros, a primeira
grande queda do “Velho Chico”, como é chamado carinhosamente esse rio tão importante para o Brasil. Essa região é também berço de muitos outros rios que ajudam a formar as bacias não só do São Francisco, mas como a do Paraná. Rios cheios de corredeiras e cachoeiras belas por suas alturas e abundancia de águas. Darlan de Pádua lembra que no Parque vivem bem protegidas espécies de animais ameaçados de extinção, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, veado campeiro, tatu-canastra e o pato mergulhão. Sem falar nas cerca de 6 mil espécies vegetais, mais de oitocentas espécies de aves e quase duzentas espécies de mamíferos. O administrador destaca ainda as parcerias relevantes com diversas Universidades que ajudam a descobrir novas espécies e a pesquisar as que já existem. “Descobrimos quatro novas espécies de odonatas, mais conhecidas popularmente como libélulas”, conta. CURIOSIDADES: • A Cachoeira Casca D’Anta tem queda livre de 186 metros. O nome vem da árvore Casca D’Anta (Drimys winteri) que, por sua vez, foi assim batizada porque que tem propriedades medicinais, cicatrizantes. Segundo os pesquisadores, a anta se esfrega no tronco da árvore para curar ferimentos superficiais. Ela pode ser visitada, tanto pela parte alta do parque, como pela parte baixa. • A frente e de forma paralela a Serra da Canastra está a Serra da a Babilônia, de igual beleza. Entre as duas serras está o imenso
SERVIÇO
- Parque Nacional da Serra da Canastra: horário de entrada no Parque é até as 16h. Saída até as 18h. O acesso ao parque e demais atrações é por terra. As condições de tráfego, na parte alta podem ser precárias em época de chuva, e geralmente necessitam de veículo 4X4. Já parte baixa tem acesso bem mais tranquilo, por estradas de terra em boas condições o ano inteiro. O ingresso custa R$ 15 por pessoa, com desconto de 50% para brasileiros. Mais informações pelo site oficial do Parque: http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que-fazemos/ visitacao/ucs-abertas-a-visitacao/198-parque-nacionalda-serra-da-canastra.html Hospedagem: As duas cidades mais perto das principais portarias de acesso ao Parque, são Vargem Bonita e São Roque
Vale dos Cândidos, nome dado em homenagem aos proprietários de uma antiga fazenda no local. As duas serras parecem que olham uma para a outra, e é possível fazer belas fotos Panorâmicas delas. • O produto típico mais importante da região é o queijo Canastra, artesanal e feito de leite cru. Produzido há mais de duzentos anos. O clima, a altitude, os pastos nativos e as águas da Canastra dão esse queijo um sabor único: forte, meio picante, denso e encorpado. Desde maio de 2008 o queijo canastra é patrimônio cultural imaterial brasileiro, título concedido pelo IPHAN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. (*) Colaborou Sônia Araripe
de Minas, e em ambas, você pode encontrar pousadas rurais que oferecem não só hospedagem com café da manhã ou pensão completa, como passeios em carro 4X4, muito necessário para conhecer a parte alta do parque e ver os animais. Visite o portal turístico Serra da Canastra e faça uma boa pesquisa (http://www. serradacanastra.com.br/) - Recomendo a Fazendinha da Canastra (http://www. fazendinhadacanastra.com.br/) com chalés separados, simples mas confortáveis, varandas com redes, boa comida mineira e o dono, é um ótimo guia da região, dá dicas de roteiros com mapinhas para explorar cada passeio da Canastra. Além de te levar num 4X4, se houver necessidade. - Na hora de comprar o queijo Canastra, não se esqueça de verificar se o produtor é certificado, isso garante a qualidade de higiene em que ele foi fabricado.
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Veado Campeiro macho
E n s a i o
Água cristalina do Rio São Francisco
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Flor do campo
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Tamanduá bandeira fêmea com filhote
Queijo Canastra
Nascente do Rio São Francisco
N
a Serra da Canastra, principalmente na parte de cima do imenso chapadão da serra, é onde você consegue encontrar animais quase extintos com relativa facilidade. Mas não pense que um viajante desatento vai enxergar um veado campeiro pastando calmante ou um lobo-guará extremamente arisco e de hábitos noturnos passeando no fim de tarde. Eles estão ali, mas sempre muito bem camuflados pela vegetação típica da região. O capim alto esconde seus segredos. Mas se você estiver a procura deles, percorra as estradas do parque bem devagar e alerta. Tente escutar no silêncio. Quando você menos espera, eles aparecem, proporcionando cenas de rara beleza, como um tamanduá-bandeira fêmea carregando seu filhote nas costas, ou a bela siriema, que parece ter saído de um salão de beleza, com a maquiagem azul e topete extremamente bem cuidados. A vegetação rasteira dourada, salpicada de pequenos arbustos se apresenta como uma aquarela em tons pastéis. Em contraste com o azul intenso do “Velho Chico”, que corta o Parque até despencar em uma imensa Cachoeira, a Casca D’Anta, com quase 200m de queda. Um rio de águas cristalinas na sua “juventude “, mas, que no decorrer de seu caminho, vai se transformando drasticamente, da nascente, em Minas Gerais, até sua foz, entre Alagoas e Sergipe.
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Cachoeira Casca Danta do Alto
Siriema
Visual Canastra
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Visual Canastra
TEXTO E FOTOS:
LUCIANA TANCREDO
DA SERRA DA CANASTRA, MINAS GERAIS
Lobo Guarรก
Cachoeira Casca Danta
Flor do Campo
Alerta
Atropelamento de animais silvestres em rodovias chega a 450 milhões por ano no Brasil Do Instituto IPÊ/ Foto dos Pesquisadores
O
s índices de atropelamentos de fauna silvestre nas rodovias brasileiras são alarmantes e a morte causada pelo choque com veículos é considerada um dos fatores que impactam diretamente a conservação da biodiversidade no País. Os atropelamentos atingem 450 milhões de animais anualmente, segundo estimativas do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras. Isso quer dizer que a cada segundo, 17 animais são mortos vítimas de atropelamentos no Brasil. Um exemplo dos atropelamentos como ameaça a espécies acontece no Mato Grosso do Sul. Pesquisadores do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, relataram que, de Abril de 2013 a Março de 2014, em apenas três trechos de rodovias do Mato Grosso do Sul (pouco mais de 1 mil quilômetros nas BRs 262, 163 e 267), foram encontradas 1124 carcaças de 25 espécies diferentes de animais silvestres de médio e grande porte, como a anta brasileira, com 36 registros. Nesta pesquisa, a grande vítima desses acidentes foi o cachorro do
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mato, com 286 indivíduos mortos (confira lista completa ao final). Tais números são extremamente relevantes para algumas dessas espécies que se encontram ameaçadas de extinção na natureza (IUCN Red List of Threatened Species e Lista Vermelha Nacional do ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), como a anta, listada como Vulnerável à Extinção especialmente por causa de seu ciclo reprodutivo muito longo (cerca de dois anos). A pesquisa identificou ainda que diariamente uma ou até duas antas são mortas a cada 1000km de rodovias no Estado. “O problema é de fato muito grave e acontece por uma série de razões, entre elas, a negligência do motorista, que muitas vezes ultrapassa a velocidade permitida ou ainda atropela por fatores culturais, de superstição, por exemplo”, afirma Patrícia Medici, coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (IPÊ). A pesquisadora ainda relata que em alguns casos, pequenas medidas podem fazer a diferença para solucionar o problema. “Em 2006, no Pontal do Paranapanema no Estado de São Paulo, na SP-613 [que corta o Parque Estadual Morro do Diabo], foram instaladas placas educativas e radares a fim de reduzir os
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atropelamentos de fauna. Apenas com essas medidas, a mortalidade de antas por atropelamento foi reduzida de uma média de seis antas por ano para uma anta a cada três anos”, afirma Patrícia. REDE ESTRADA VIVA Para combater os atropelamentos de fauna no Estado do Mato Grosso do Sul, foi criada a Rede Estrada Viva, composta por profissionais de diferentes áreas e diversas organizações socioambientais. A Rede vai atuar junto a diversos atores direta ou indiretamente envolvidos com as tomadas de decisão para a proteção de espécies da fauna nas estradas. De 29 a 30 de Julho, esses profissionais reuniram-se em Campo Grande (MS) para desenvolver um planejamento estratégico que contempla: compilação de dados já existentes sobre o tema, comunicação e sensibilização dos mais diversos públicos para o problema, e sistemas de mitigação dos impactos das estradas na vida de animais silvestres. Algumas das ações já estão pautadas para serem implementadas nos próximos meses. A ideia da Rede Estrada Viva é também divulgar o tema para o Brasil, fazendo com que aumente o interesse por informações e soluções para o problema dos atropelamentos em todos os Estados.
Evento
Sônia Araripe
Fórum Sustentabilidade & Governança: terceira edição reúne especialistas
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista De Curitiba (PR)
C
uritiba, cidade-modelo de planejamento e urbanismo não poderia ser cenário mais apropriado para a terceira edição do Fórum Sustentabilidade & Governança, com a presença de convidados internacionais e vários palestrantes brasileiros também com relevância nesta temática. Para um auditório lotado com cerca de 250 convidados – entre empresários, consultores e acadêmicos – foram também apresentados cases de práticas sustentáveis de grandes empresas. Realizado em parceria pela STCP Engenharia de Projetos e pela Milano Consultoria e Planejamento, o evento chamou a atenção principalmente pela qualidade do que foi apresentado. Novelis, Votorantim, Duratex, Coca-Cola FEMSA Brasil, Novozymes e ABN Amro foram alguns dos nomes que compartilharam experiências e se propuseram ao debate sobre sustentabilidade, seus desafios e possibilidades infinitas de compreensão e aplicação. Entre os especialistas internacionais, o fórum trouxe ao Brasil Emmanuel Ze Meka, diretor executivo da ITTO (International Tropical Timer Organization), organização ligada à ONU com foco na atenção à preservação das florestas tropicais, James Astill, editor de política e colunista da revista britânica The Economist, com prêmios
internacionais por reportagens sobre o assunto, e Gerard “Ged” Buffee, consultor de marketing estratégico com atuação junto a empresas como Kellogs, Nestlé, e fundador da African Organic Farming Foundation. URGÊNCIA DA CRISE - Quem abriu o encontro foi o jornalista James Astill, britânico, editor de Política da reconhecida revista The Economist. Antes de assumir o atual cargo, Astill transitou por diversas posições de destaque: foi Correspondente na Índia da publicação e também editor da área de Energia e Meio Ambiente. Ele contou que viajou por diversos países e destacou para a urgência da crise climática. “Temos que ouvir a voz das florestas e perceber o alerta do degelo do Ártico”, afirmou, contando que já esteve na Amazônia brasileira, no Ártico e nas florestas do Congo e do que sobrou no Sudeste Asiático. Com a experiência de quem tem acompanhado as negociações climáticas e as conferências da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável, o britânico alertou que a crise é muito grave mesmo. Defendeu um papel de maior liderança do Brasil e, principalmente, destacou a relevância das empresas brasileiras neste cenário, defendendo que o setor empresarial deveria fazer mais lobby junto ao governo na defesa da agenda sustentável. “O Brasil tem oportunidade de fazer algo importante com relação às mudanças climáticas. Mesmo com sua indústria crescente, ainda há menos problemas ambientais [no Brasil] do que em outros países por causa de sua energia a base de água. O Brasil precisa mostrar sua liderança por causa dessa vantagem”, afirmou. “O País vive com esse meio ambiente, tem agribusiness, tem florestas e entende o que está acontecendo. Esse exemplo tem de ser levado para as negociações políticas”. Para Astill, o Brasil não pode estar posicionado atrás da China, “porque os chineses não ajudam, não colaboram” para a redução de poluentes. O britânico lembrou que a China é o país líder na utilização de carvão e que faz uso de termoelétricas para a produção de energia. Para ele, se o governo chinês não adotar ações para a redução
de emissão de poluentes, “não teremos nenhuma ação global séria”. Gerard Bufee, consultor de branding, destacou também o papel das empresas na migração para a nova economia de baixo carbono. “Na minha opinião, elas não estão fazendo o suficiente. No lugar de cada um ficar falando de suas ações isoladas deveriam estar pensando no todo, no que podem ajudar no cenário global.” FLORESTAS - Em sua palestra, Emmanuel Ze Meka retornou ao passado, lembrando das motivações por trás da criação do órgão. Ele lembrou que, entre 1970 e 1980, as florestas tropicais ao redor do globo perdiam 11,3 milhões de hectares por ano. O número subiu na década de 90 para 16,4 mil hectares. “Era desesperadamente necessária a criação de uma instituição como o ITTO”, declarou. Meka apresentou parte do trabalho do órgão, que fornece aos países tropicais membros atividades de monitoração das florestas, de modo a torná-las sustentáveis, evitando, por exemplo, o desflorestamento irregular e o tráfico de madeiras extraídas dessas localidades. Para isso, ao longo de sua existência, criou indicadores, princípios e ações para o acompanhamento das florestas tropicais. Segundo números do ITTO, a área de floresta com gerenciamento sustentável nos países tropicais subiu de 36 milhões de hectares em 2005 para 53 milhões em 2010. PAPEL DAS EMPRESAS - Na avaliação de Miguel Milano, diretor da Permian Global para o Brasil e da Milano Consultoria e Planejamento, e um dos idealizadores do fórum, a situação global é desafiadora, uma vez que as mudanças climáticas já sentidas pela população mundial e as profundas distorções sociais encontradas em nações pobres e em desenvolvimento, deixam claras que ainda há muito a ser feito. E boa parte dessa responsabilidade passa evidentemente pelo segmento corporativo. Citando a palestra de Astill, Milano destacou que “as empresas devem falar menos de suas virtudes e agir num lobby do bem junto a governos por políticas de sustentabilidade”. Para ele, se engajadas, as empresas podem mudar o mundo, “mas não farão isso sozinhas”. “Elas precisam das ONGs, que vão trazer para dentro das instituições novas formas de pensar, provocações, parcerias mais claras e consistentes”, avalia. (*) A jornalista viajou a convite do Grupo Boticário, um dos patrocinadores do Fórum.
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Foto:
Moema Costa | Ritual Fulni-ô
Diversidade
XIV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros A pequena e rústica Vila de São Jorge (Goiás), porta de entrada para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, mais uma vez se coloriu e se iluminou de saberes e tradições brasileiras Texto: Juliana Mello Fotos: Anne Vilela, Gilberto Lopes, Juliana Mello e Moema Costa
A
segunda quinzena de julho foi para lá de animada na pequena Vila de São Jorge (GO), mesmo com tantas dificuldades financeiras em ano de Copa do Mundo e eleições. O Encontro de Culturas em Goiás tornou-se referencial como evento e também como espaço de debate e criação de políticas públicas voltadas para as comunidades tradicionais brasileiras. O primeiro fim de semana foi marcado pela realização do VII Encontro de Capoeira Angola, que este ano teve como convidado especial o mestre baiano Valmir, coordenando disputadas oficinas e rodas de capoeira e samba na Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge. Em seguida, foi aberta a oitava edição da Aldeia Multiétnica, aguardado encontro indígena e único nesse formato no país. Devido às dificuldades de apoio, apenas dois grandes grupos participaram dessa edição: os Mebêngokrê/ Kayapó (PA) e os Fulni-ô (PE). E representantes dos povos Krahô (TO), Kamaiurá (MT), Kariri-Xocó (CE), Trucá (BA, PE) e Wuará (MT). As etnias presentes participaram de discussões e vivências, mostraram a beleza de suas artes, ritos e tradições e conviveram com “parentes” distantes e com a comunidade em geral durante os sete dias de Aldeia. Houve momentos marcantes, como o ritual kôkô, cerimônia de nominação em que os homens surgem pouco a pouco, com másca-
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Foto: Anne
Villela
Kayapós na abertura da Aldeia Multiétnica
Foto: Moema
Costa
Encontro de capoeira angola
Foto: Gilberto
Lopes | Show do Afoxé Omô Nilê Ogunjá
ras Mebêngokrê-Kayapó, feitas de palha de buriti, representando animais como macaco, tamanduá-bandeira e guaribas. PLURALIDADE CULTURAL Mestres e grupos tradicionais – entre os quais representantes da comunidade Sítio Histórico Kalunga – abriram a segunda semana do evento, quando também tiveram início as atividades no palco principal, incluindo shows sempre imperdíveis, como o do percussionista Naná Vasconcelos e o do grupo pernambucano Afoxé Omô Nilê Ogunjá, que arrebatou o público com seus batuques, vozes e danças para os orixás. Em paralelo, foram realizadas aproximada-
Foto: Juliana
mente quinze oficinas de artes, ofícios e saberes tradicionais, rodas de prosa e a Feira de Experiências Sustentáveis do Cerrado. Um dos momentos mais emocionantes do Encontro foi a opereta popular “O Tropeiro e a Moça da Janela”, dirigida pela arte-educadora e violeira Doroty Marques. A opereta é fruto do Projeto Turma Que Faz, que atende a cerca de duzentas crianças das vilas de Alto Paraíso e São Jorge. “As crianças esperam o ano todo por esse momento, a comunidade se mobiliza e até o pessoal da produção para e vem assistir” contou orgulhoso Agnaldo Araújo, morador da vila e um dos “produtores faz-tudo” do evento.
O cenário para abrigar tantas tribos, ritos e festejos populares não poderia ser mais especial: a Chapada dos Veadeiros, um lugar de rara beleza, declarado Patrimônio Mundial Natural em 2001 pela UNESCO. Paredões de pedra com mais de um bilhão de anos rompem o cerrado e sua vegetação surpreendente, e rios cristalinos costuram toda essa paisagem de longínquos horizontes no centro-oeste do Brasil. Avistando a Chapada ao longe, partimos de Goiás desejando vida longa às culturas tradicionais desse imenso país e a esse encontro tão bonito e importante. Saiba mais em: www.encontrodeculturas.com.br
de Mello
Opereta popular “O Tropeiro e a Moça da Janela”
Foto: Juliana
Mello | Mestre Jorge Brito
benzendo a liderança kalunga, Dainda
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Ecoturismo
ISABELLA ARARIPE
Praia do Espelho busca certificado ambiental
O programa “Floração” da Prefeitura Municipal de Cuiabá, em Mato Grosso, que começou a ser implantado no início do ano vai plantar até dezembro deste ano cerca de 50 mil árvores para reflorestamento e um milhão de mudas ornamentais em praças, canteiros, áreas verdes, Áreas de Proteção Permanente (APP) e rotatórias na cidade. Posteriormente, o plantio deve ser feito em bairros periféricos da cidade. As plantas estão sendo produzidas no Horto Florestal. O investimento neste programa é de aproximadamente R$ 500 mil, recursos próprios da administração municipal.
Piscina natural terá limite de visitantes na Serra da Bocaina O Parque Nacional da Serra da Bocaina, na divisa entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, realizou nos dias 26 e 27 de julho o “2º Teste de Controle de Número de Visitantes na Piscina Natural Caixa D´Aço”, em Trindade/Paraty (RJ) que visa reduzir os impactos ambientais da visitação à piscina natural. O objetivo do teste é garantir que espécies da fauna e flora marinha continuem vivendo com qualidade na Unidade de Conservação (UC). “Definimos que o melhor é limitar em 59 pessoas ao mesmo tempo na piscina natural Caixa D´Aço a cada 45 minutos. A capacidade inicial era de 80 pessoas”, disse o analista ambiental Thiago Straus Rabello.
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Os moradores e donos de pousadas da Praia do Espelho, no litoral baiano, estão lutando para que a praia conquiste o selo de certificação ambiental. Localizada em Trancoso, na cidade de Porto Seguro, a 755 quilômetros de Salvador, a Praia do Espelho reúne cenários exuberantes e atrativos que fazem desse lugar o refúgio favorito de turistas, muitos deles famosos. A cantora americana Beyoncé foi uma das que visitou o balneário recentemente. Eleita pelo Guia 4 Rodas como uma Pérola da Costa Brasileira por sua charmosa e eficiente estrutura de hospedagem e gastronomia, a Pousada Enseada do Espelho é uma ótima opção para quem deseja conhecer o local. Ela proporciona a seus hóspedes um clima de acolhimento e privacidade num ambiente em total sintonia com a natureza.
Parque Nacional de Boa Nova abriga mais da metade das aves da Bahia
Zaira Matheus
Cuiabá ganhará 50 mil árvores até dezembro deste ano
O Parque Nacional de Boa Nova é uma das Unidades de Conservação mais ricas em aves no Brasil e abriga mais da metade das espécies da Bahia. Atualmente, existem cerca de 438 espécies catalogas na região. “Esse número cresce a cada dia. Na verdade, acreditamos que existam muito mais, mas ainda estamos em estudos”, disse Johan Silva Pereira, chefe da unidade. Criado em 2010, o Parque tem, ao todo, 27 mil hectares e e protege uma importante área na transição entre os biomas Caatinga e Mata Atlântica. Ele é considerado um dos principais destinos do turismo para observadores de aves do País, que visitam o local diariamente para analisar o comportamento dos animais em ambiente natural. Para quem não conhece a região, existem guias locais profissionais para acompanhar e informar os visitantes sobre as principais atrações.
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Turismo
Tal qual o Natal cresce e
Arena das Dunas e o novo aeroporto, que nos colocam no mesmo patamar das grandes capitais”, diz a produtora cultural Tânia Maria Gregório de Andrade, que acompanha, orgulhosa, o crescimento da cidade que escolheu para viver há 20 anos, com sua família. O Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante, o primeiro no Brasil administrado 100% pela iniciativa privada, tem capacidade para seis milhões de passageiros por ano e terá, ao longo dos 28 anos de concessão, um investimento total de R$ 650 milhões, chegando a uma capacidade de 11 milhões de passageiros/ano, demanda esperada até 2038. O Estádio Arena das Dunas, importante legado da Copa do Mundo, com característica multifuncional, permite
encanta! Texto e fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista
Ai
capital do Rio Grande do Norte é uma das cidades nordestinas que mais progrediu nas últimas décadas. Do tempo dos primeiros habitantes - os índios potiguares - e da chegada dos portugueses até hoje, a cidade foi crescendo devagar entre as dunas e os verdes mares. Mas nos dois últimos anos, deu um salto de progresso e modernidade que espanta os visitantes e até mesmo os moradores. “Hoje temos centros culturais, shoppings centers, hotéis, megamercados e obras monumentais como a
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receber diferentes tipos de manifestações sociais, culturais, esportivas e encontros de negócios. Sua arquitetura imponente destaca-se na paisagem urbana. Dotado de dois telões eletrônicos, sistema de sonorização, bilhetagem moderna, 25 áreas para venda de alimentos e bebidas, espaço VIP, lounges de hospitalidade e uma praça externa com 22.000m2, comporta shows, eventos ao ar livre e exposições. Outro avanço que vem ocorrendo no Rio Grande do Norte é o aproveitamento de um farto recurso natural da região - o vento - para produzir energia. O primeiro Parque Eólico do Rio Grande do Norte surgiu em 2004, em Macau; O segundo, em 2006, em Rio do Fogo; e em 2010 foi inaugurado o Parque Alegria I, em Guamaré. Hoje os parques eólicos instalados no Estado movimentam mais de R$ 8 bilhões. Para eles, a energia eólica já é tão importante quanto o petróleo..
MUITAS ATRAÇÕES PARA TURISTAS Famosa por suas belas praias que atraem turistas de todo o mundo, Natal está na esquina da América do Sul, um dos pontos brasileiros mais próximos da Europa e da África. Ponta Negra, a praia mais badalada, oferece boa infraestrutura e o belo visual do Morro do Careca. Mas há quem prefira lugares mais isolados, como a Praia do Cotovelo ou a de Tabatinga, cercada por arrecifes que barram as ondas e formam “piscinas” na maré mais alta. Do Mirante dos Golfinhos, avista-se a praia de Búzios, e no final da tarde, quem tiver sorte pode assistir ao desfile dos golfinhos que vêm à costa em busca dos cardumes de peixes. Enquanto espera por eles, pode apreciar e levar para casa o trabalho das rendeiras em seus bilros. Dona Maria do Carmo Angelo, 75 anos, rendeira de .Alcaçuz desde os 10 anos de idade, expõe seus trabalhos, enquanto vai tecendo e contando que toda sua família faz renda: “Primeiro risco no papel, depois passo para o papelão”, explica. Nas areias da praia de Pirangi do Norte, Cleber Ferreira, o popular Canguru, e sua mulher, Rivânia, oferecem passeios de barco até as piscinas naturais. Diversas agências disputam os turistas que alugam quadriciclos ou bugres para escalar “com emoção” as dunas de Genipabu; ou para visitar as lagoas e percorrer trilhas
ecológicas. “Estamos trabalhando aqui desde 2002 e a cada ano cresce o movimento de turistas”, diz, satisfeito, Canguru. Entre as dunas e a imensidão do mar, vivem quase um milhão de pessoas, um povo acolhedor, com seu linguajar característico, fala anasalada, muitas vezes difícil para ser compreendido pelos visitantes. “Bóra lá”, dizem eles, sempre prontos a mostrar aos visitantes as belezas da sua terra. Por influência dos norte americanos que viveram por lá no tempo da guerra, os nomes próprios mais comuns são Jeferson, Wellington, Tenison, Cleberson, Joedson, Vanderson, etc... A hora das refeições é uma festa. Espaçosos e modernos restaurantes como o Camarões – o antigo e o novo – oferecem fartos pratos regionais que encantam os paladares mais exigentes. No Mangai, o buffet inclui carne de bode, mas o maior sucesso são as tapiocas de todos os sabores, salgadas e doces. Vale a pena ir até a cozinha para ver o show dos cozinheiros jogando a farinha do alto e aparando nas frigideiras. No Paçoca do Pilão, claro, come-se paçoca com feijão verde e macaxeira. No centro das mesas, potes de rapadura em pedaços inesquecíveis. Aqueles que preferem passar o dia todo na praia, almoçam as crespes do Zé, com recheios sofisticados como bacalhau, camarão ou pizza; as empadas, as frutas e as cocadas oferecidas por ambulantes. E O CAJUEIRO NÃO PARA DE CRESCER... O parque ecológico do maior cajueiro do mundo, em Pirangi do Norte, plantado em 1888 por um pescador, cobre uma área de aproximadamente 8500 m², com um perímetro de aproximadamente 500 metros e está avançando sobre a rodovia conhecida por Rota do Sol. Em 2012, foi inaugurado
um alambrado ao longo da avenida, para permitir que os galhos da árvore fiquem suspensos sobre ela. Na safra, o cajueiro produz de 70 a 80 mil cajus, que são oferecidos aos visitantes gratuitamente. Duas anomalias genéticas explicam o incessante crescimento da árvore: em vez de crescer para cima, seus galhos crescem para os lados e devido ao próprio peso, curvam-se para baixo, alcançando o solo. Ocorre, então a segunda anomalia: ao tocar o solo, os galhos começam a criar raízes e daí passam a crescer novamente, como se fossem troncos de uma outra árvore. Em volta do cajueiro, lojas de artesanato da região, um mirante com 10 metros de altura para apreciar sua copa inteira e guias entretém turistas do mundo todo. Tanto progresso tem envaidecido os potiguares, mas também já apresenta os problemas típicos das cidades grandes: “Hoje as famílias mantêm um carro para cada membro e a partir das 17horas fica difícil encarar o trânsito”, diz Tânia, lembrando que a população espera ansiosa por obras de infraestrutura e saneamento. Mesmo assim, muitos visitantes encantam-se com a natureza rica e o clima ameno de Natal e acabam mudando-se para lá, como ela fez quando trocou o frio de Curitiba pelo ano inteiro de sol: “Aqui temos qualidade de vida”.
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E n s a i o
FOTOS:
NÍCIA RIBAS 40
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Bazar ético
Sônia Araripe
EcoModa, da Mangueira, transforma sobras em criações fashion A Mangueira, que eternizou o samba nas figuras lendárias de Cartola, Nélson Sargento, Delegado, Carlos Cachaça, Jamelão e tantos outros, agora também quer entrar no circuito fashion. Há dois anos foi criado o Projeto EcoModa, que tem formado especialistas em transformar retalhos e sobras de material em peças antenadas. O projeto foi lançado pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), dentro da Superintendência de Território e Cidadania, tendo como padrinho o então secretário, Carlos Minc, conhecido por seus coletes coloridos. Confecções e empresas doam material que é trabalhado pelos alunos do projeto. “Queremos fazer algo criativo e que possa ser usado nas ruas”, conta Vanessa Melo Faria, coordenadora do EcoModa. O curso atualmente tem 10 meses de aulas, que acontecem três vezes por semana, nos turnos da manhã e tarde e já formou 450 pessoas. “Temos formado alunos que querem ser colocados no mercado de trabalho da moda e muitos que querem ser empreendedores”, explica Vanessa. Entre os formandos há jovens, senhorinhas e homens. Um grupo de ex-alunas está se reunindo para lançar ainda este ano a primeira cooperativa. Os alunos do EcoModa aproveitam tudo o que é doado: restos de tecidos de confecções, retalhos, jeans, banners e até CDs descartados que viram detalhes nas peças de decoração na sala do prédio onde funciona o projeto. As peças já foram apresentadas em desfiles de moda e também em ensaios especiais, como neste na Estação de trem da Mangueira. Os preços de bolsas, acessórios, coletes, vestidos, saias, etc dependem da peça, mas podem ser encontrados a partir de R$ 10 a R$ 100. Serviço:
As peças são comercializadas por ex-alunos na sede do EcoModa, na Travessa Saião Lobato, nº 62, na localidade conhecida como Buraco Quente, na comunidade da Mangueira. Também na Feira da Rua do Lavradio, no primeiro sábado do mês. Encomendas podem ser feitas pelos telefones: 2334 2534 // 2334 2504.
Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
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Fotos Cezar Muller
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VIDA Saud ável Batata yacon in natura e também em pó
Piqueniques saudáveis ao ar livre
Já experimentou a batata yacon? Se ainda não, é hora de conhecer o legume que é velho conhecido dos povos andinos. Tem gosto adocicado e deve ser ingerida pura, sem cozinhar, como se fosse uma maçã ou uma pera. Entre os seus benefícios estão ajudar no controle do diabetes, na regulação intestinal e no aumento da sensação de saciedade. Não é só: com alto teor de frutooligossacarídeos (FOS) e inulina, que não são digeríveis pelo aparelho digestivo, ocasiona um aumento pequeno e gradual da glicemia, ajudando no controle do diabetes tipo 2. A novidade nas lojas de produtos naturais é a yacon em pó. Está sendo chamado de “doce do bem”. Os especialistas sugerem que podem ser usado moderadamente para adoçar sucos, leite, chá e salada de frutas.
Nada mais fashion atualmente do que organizar um bom e saudável piquenique ao ar livre. Pode ser desde um evento pequeno apenas para um casal ou poucos amigos ou algo mais grandioso, como uma festa de aniversário, por exemplo. No Rio, a moda pegou mesmo, principalmente ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas e em alguns parques. Já existe até mesmo firmas especializadas em produzir as cestas, cobrir o gramado com esteiras e cuidar de todos os detalhes. Mas você também pode preparar tudo em casa, com um lanche bem nutritivo e saudável. Vamos lá? Gente, muita atenção, por favor, na hora de terminar a farra: carregue todo o lixo e deixe tudo limpo como achou, claro.
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Bife vegetal em pó é novidade
Por Silvaneide Guedes, da Agência Sebrae de Notícias
Brasília - O queijo do Marajó, depois de séculos de produção, finalmente chega ao mercado paraense pela porta da frente. Agora, ele pode ser vendido às claras, sem o rótulo de clandestino, graças a um esforço conjunto do Sebrae, da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), órgão de inspeção sanitária e da Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri), e de produtores, que resultou na Portaria 418/2013, da Adepará. O documento estabelece as boas práticas de fabricação do queijo, ou seja, descreve o processo produtivo e estabelece as normas a serem seguidas pelos produtores, entre elas a qualidade da água utilizada, o processo de ordenha de animais, as condições de higiene dos locais de produção, o transporte e o armazenamento. A produção do queijo de Marajó por fazendeiros portugueses e franceses inicialmente usava como principal matéria-prima o leite de vaca. Com o tempo e o crescimento do rebanho de búfalos, o produto passou a ser exclusivamente de leite de búfala – estima-se que desde os anos 1930. O queijo é de tipo fresco e de duas variedades: creme e manteiga. PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2014
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Foto: Thiago Araújo/ Ag. Sebrae de Notícias
Queijo de Marajó conquista regulamentação
Carne de soja já tornou-se velha conhecida dos consumidores. Mas o que dizer do bife vegetal em pó? Esta é a novidade que uma pequena empresa criada por um casal de namorados veganos – o engenheiro Pedro Teixeira e a historiadora Ellen Stellet -, a Manioc, que antes era conhecida como Quebra-Cabeça. A ideia inicial era vender produtos congelados, mas como o capital necessário era elevado, a saída foi desidratar os produtos. A empresa já vende o bife elaborado com feijão carioca e linhaça e biomassa de banana verde, assim como outros produtos (todos sem lactose e sem colesterol) que também estão ganhando mercado, a exemplo da solução vegetal em pó para coberturas de pizzas e lasanhas.
o s s e r g Con nicação
un rje m e o b C A l de aria s e r p Em
25 de setembro de 2014 Hotel Windsor Guanabara
Propósitos, interações e resultados Atualize-se com os melhores do mercado. O 8º Congresso de Comunicação Empresarial Aberje Rio de Janeiro vai analisar tendências, apresentar casos bem sucedidos e inspirar você com ações diferenciadas e eficazes na área de comunicação empresarial. Palestra Magna “A espiritualidade nas organizações” com o CEO da Editora Abril, Alexandre Caldini.
Vagas limitadas, garanta a sua! Acompanhe a programação e se inscreva diretamente pelo site:
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(11) 3662 3990 - R. 881 Local: Hotel Guanabara Avenida Presidente Vargas, 392 Centro Rio de Janeiro/RJ Horário: 08h30 às 18h
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Saúde
Deleite-se! Por Raquel Ribeiro, Especial para Plurale em revista
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haisa Navolar é nutricionista, atende em Florianópolis e é expert em leites vegetais. No ano passado lançou um e-book sobre o tema com mais de trinta receitas – todas, claro, sem laticínios – e textos que embasam as vantagens de seu consumo. De forma fluente e acessível, ela fala sobre a adequação do cálcio e demais nutrientes em uma dieta sem laticínios e ainda apresenta um modelo de plano alimentar com cálculo nutricional completo. Esse ano, Thaisa deu consultoria para a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) produzir o livreto Leites e queijos veganos. Recém lançada, essa publicação reúne receitas práticas e saborosas. Plurale - No Brasil, encontramos com facilidade leites vegetais industrializados? Thaisa - No último ano, observamos um aumento da oferta de leites vegetais industrializados, como de aveia, arroz e amêndoas. Já temos algumas marcas, mas ainda são difíceis de encontrar e, quase sempre, importados, o que encarece o produto. Por ser algo novo e caro, seu consumo ainda é pequeno no Brasil. Os preços assustam os consumidores que buscam alternativas ao leite de vaca. Acredito que à medida que se tornarem mais acessíveis, seu consumo será maior, a demanda já existe. Em países da Europa e nos Estados Unidos estes leites vegetais estão disponíveis a preços competitivos ao leite de vaca. No Brasil isso ocorre somente com o de soja, que foi inserido no mercado há alguns anos. Plurale - Nunca se falou tanto em alergias: muita gente agora sabe que é alérgico à proteína do leite. Isso não aumentaria a procura? Thaisa - A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) diz respeito ao processo
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Conheça os benefícios dos leites feitos a partir de sementes, oleaginosas e outros ingredientes do reino vegetal. E veja como é fácil prepara-los em casa.
alérgico devido à má digestão da fração proteica do leite, como a caseína, beta-lactoglobulina, alfa-lactoalbumina, soroalbumina e imunoglobulinas. Além dessa alergia, a intolerância à lactose também passou a ser mais diagnosticada – e com isso mais comum. Estima-se que cerca de 57% da população branca adulta no Brasil tenha algum grau de intolerância à lactose. Diversos produtos têm sido desenvolvidos para este público, e a oferta de produtos tem aumentado. Plurale - O leite de soja é o mais conhecido, mas é saudável? Há tanta polêmica em relação à soja...
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Thaisa - O consumo de soja é muito controverso, em especial porque grande parte da soja que encontramos no Brasil é transgênica. A soja possui fatores antinutricionais, que atrapalham a absorção de alguns nutrientes, por isso o ideal é consumir soja fermentada (como missô e tempeh) ou coagulada (tofu). O leite de soja vendido comercialmente é um produto super industrializado, com excesso de corantes artificiais, conservantes e açúcar. Para utilizar o leite ou iogurte de soja oriento comprar a soja orgânica e preparar em casa, sempre deixando os grãos de molho por 12 horas, no mínimo, e descartando
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a água do molho. Mesmo assim, sugiro alternar seu consumo com o de outros leites vegetais, pois a soja também é um alimento com potencial alergênico. Plurale - A mídia ainda reforça a ideia que “leite de vaca faz bem”. Mas se sabe que a maioria dos leites embalados em tetra-pack têm soda caustica em sua composição. Outros aditivos químicos são adicionados para aumentar a durabilidade do leite, além da presença de hormônio e antibióticos. Mesmo assim se poe dizer que leite de vaca é saudável? Thaisa - Não posso afirmar que o leite de vaca tetrapack contem estas substâncias, mas é um produto industrializado – há muito tempo deixou de ser natural, como a mídia busca vender sua imagem. Sabemos que existem muitos problemas na indústria leiteira, desde a ração utilizada até o uso de antibióticos. Plurale - Li que a Harvard School of Public Health retirou da pirâmide alimentar os lacticínios e os seus derivados, pois seu consumo pode aumentar significativamente o risco de cancro de próstata e de ovários. Segundo a universidade, a gordura saturada que se encontra nos lacticínios e os componentes químicos que são utilizados na sua produção, os tornam um alimento de alto risco. Concorda?
Leites Vegetarianos Industrializados: Arroz, côco e aveia.
Thaisa - O leite de vaca possui uma substância denominada IGF1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1) que acaba causando hiperinsulinemia, fato que é relacionado à uma série de doenças, entre elas o câncer. O IGF1 pode levar a um descontrole no crescimento celular, o que poderia ser um dos fatores a aumentar a probabilidade de se iniciar um câncer. Vários estudos relacionam o alto consumo de leite de vaca ao câncer de mama e de próstata. Entre eles, Leite: alimento ou veneno? (COHEN, R., ed. Ground), Milk consumption: aggravating factor of acne and promoter of chronic disease of Western societies (MELNIK,B. JDDG) e Acne, dairy and cancer: the 5alpha-P link (DANBY, FW, Dermato-Endocrinology. 2009). Plurale - As pessoas valorizam muito o cálcio presente nos lacticínios. Os leites vegetais dão conta desse cálcio? T - A maior parte dos leites vegetais não é rica em cálcio, com exceção do leite de gergelim e de amên-
doas. Alguns leites comerciais são enriquecidos com cálcio. Para realizar um balanço adequado de cálcio da dieta é fundamental o consumo de folhas verdes escuras, sementes (gergelim e chia especialmente) e oleaginosas. As necessidades, porém, são individuais: para ter uma orientação personalizada, consulte um nutricionista. Plurale - Produzir leite em casa é muito trabalhoso? Thaisa - Não. Em geral os leites caseiros são muito simples e de fácil preparo. Quando se decide priorizar o cuidado com alimentação, é necessário também dedicar maior tempo do seu dia a dia para esta atividade. Plurale - Qual deles você considera o mais saboroso? Thaisa - Gosto em especial do leite de amêndoas! Plurale- Pode nos dar uma receita? Thaisa- Claro! Leite de aveia em flocos, um leite vegetal prático e neutro, pode ser utilizado em receitas doces ou salgadas. Rende meio litro, você faz em cinco minutos e custa em torno de 50 centavos. A receita está no meu E-book Leites Vegetais:
Leite Vegetal de Aveia em Flocos
Ingredientes: 1 xícara de aveia em flocos grossos, 2 xícaras de água mineral ou filtrada. Modo de preparo: Hidratar a aveia em flocos por ao menos 30 minutos (1 xícara de aveia para 2 de água). Bater no liquidificador a aveia com a água do molho e mais 1 xícara de água gelada. Coar. Liquidificar com frutas ou misturar com cacau em pó, canela, baunilha, etc... Guardar em geladeira por no máximo 24 horas.
Mais informações: Thaisa Navolar: www.nutriraessencia.blogspot.com; Sociedade Vegetariana Brasileira: www.svb.org.br
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Alimentação Fotos Divulgação
Teoria e Realidade
Fórum de Comunidades Tradicionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba obtém bons resultados Por Thereza Dantas, do Fórum de Comunidades Tradicionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba
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eoricamente protegidos pela Constituição e por diversas leis, os povos e as comunidades tradicionais têm no seu dia a dia uma rotina que preserva de fato o que as letras frias de um decreto preconizam em seu artigos e incisos. O terceiro artigo do Decreto Federal 6040/2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais, compreende que os povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,
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ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição, e que esses territórios tradicionais, muito importantes na continuidade da vida desses povos, são os espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária. Nesse território constituído por três municípios: Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ) e Ubatuba (SP), as comunidades tradicionais caiçaras, indígenas e quilombolas dividem espaço com dezoito unidades de conservação de âmbitos federal, estadual e municipal, e foi nesse espaço que criaram o Fórum de Comunidades Tradicio-
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nais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba - o FCT. Em 2007, as lideranças de diferentes comunidades desse pedaço da Mata Atlântica se reuniram, motivadas pelo conjunto de problemas e restrições vividos por elas e pela necessidade de juntar forças para mudar este quadro. Essas comunidades passam por graves conflitos territoriais que ameaçam constantemente o seu modo de vida - especulação imobiliária, grandes empreendimentos, privatização de territórios tradicionais, turismo desordenado, restrições dos órgãos ambientais às suas práticas tradicionais, precariedade de serviços essenciais (educação, saúde, lazer, luz). Segundo uma das lideranças do FCT, Vagner
“
Preservar é resistir, resistir é conservar, conservar é saber usar, Saber usar é a arte das comunidades tradicionais.
”
Jorge Inocêncio Alves Junior,
o Juninho do Nascimento, o Vaguinho, os encontros em Conselhos Municipais contribuíram para detectar e reconhecer que caiçaras, indígenas e quilombolas padeciam dos mesmos problemas. Como o Decreto Federal 6040/2007 prevê fóruns regionais como instrumentos para implementação deste marco legal, os comunitários iniciaram uma caminhada pela manutenção e respeito a favor dos territórios tradicionais como saída para manter a vida das comunidades nessa região. A liderança do FCT, Vaguinho do Nascimento, mora no Quilombo do Campinho, distante 25 km do centro da cidade de Paraty (RJ), tem dois filhos e acorda cedo para levar o filho mais novo para a escola. Divide seu tempo como presidente da AMOQC (Associação dos Moradores do Quilombo do Campinho), as responsabilidades do premiado restaurante coletivo do Quilombo do Campinho e as conversas com os comunitários da região, que negociam seus produtos para a cozinha do restaurante. “Além do trabalho com o Fórum das Comunidades Tradicionais, também sou presidente da AMOQC, que não se resume a poucas tarefas, em função da especificidade da organização que representa um território quilombola. Tem o trabalho no restaurante que faço por gosto e que vai desde o mutirão de plantio ou a produção da farinha da terra até a educação diferenciada ou turismo de base comunitária”, explica. Para Vaguinho, o trabalho, a militância e a conversa sobre a vida caminham juntos, quando ele percorre os quilombos ou as vilas caiçaras da região à procura dos produtos para o restaurante do Quilombo do Campinho.
Entre trabalhos de subsistência nas suas comunidades e o ativismo nas esferas governamentais, os integrantes do FCT arranjam tempo para criar campanhas. É o caso da Campanha “PRESERVAR É RESISTIR” - Em Defesa dos Territórios Tradicionais, lançada em maio de 2014. A campanha, que já passou pelas cidades de Paraty (RJ) e Ubatuba (SP) e agora prepara um ato público em Angra dos Reis (RJ), quer mostrar que a cultura se mantém viva através dos saberes e fazeres dos indígenas, quilombolas e caiçaras, como a pesca artesanal, agricultura, agrofloresta, artesanato, festas, dança, música, oralidade. Mesmo possuindo práticas e conhecimentos passados de geração a geração e um importante papel na conservação dos recursos naturais, sendo reconhecidos como verdadeiro patrimônio cultural, tem seu modo de vida ameaçado constantemente por conflitos territoriais. A procura por parceiros ligados à questão ambiental, cultura e comunicação, também faz parte da estratégia do FCT. Para os comunitários é necessário sensibilizar um maior número de pessoas para a questão dos territórios tradicionais. Para Jorge Inocêncio Alves Junior, o Juninho, caiçara de Ubatumirim e integrante do FCT, as comunidades tradicionais têm sido as guardiãs dos biomas aos quais pertencem. “Nesse sentido o FCT ganha importância, pois ele deve mostrar para a sociedade civil as variadas formas de suas contribuições para a qualidade da vida. E isso vai desde a produção de alimentos orgânicos até o manejo tradicional em comunhão com o que a terra, a floresta e o mar oferecem”, explica. Juninho trabalha com a polpa da palmeira Juçara, partici-
pando do Projeto Juçara, e conhece bem a rotina de uma comunidade caiçara, mas se preocupa em como esses grupos são vistos pela sociedade civil. “Se não houver entendimento sobre a importância da preservação das comunidades tradicionais para a manutenção desses biomas, todos poderão desaparecer sob a pressão de interesses públicos e privados”, adverte. “Está na hora de ouvir as comunidades tradicionais e elas podem colaborar em prol da sustentabilidade do planeta. Elas deveriam ganhar o Prêmio Nobel pelo trabalho que realizam em seus territórios!”, enfatiza Juninho. Nessa caminhada estão também os povos indígenas representados pela etnia guarani. Nessa região, após o desaparecimento ainda no período da colonização das etnias Goiámimins e Tupinambás, os indígenas guaranis estimulados pelo governo militar na década de 1970 a 80, iniciaram um processo de fixação e receberam a posse das terras em forma de pequenas reservas através da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Hoje vivem da agricultura de subsistência e do artesanato. Para o estudante do ensino médio Alexandre Kuaray, morador da aldeia de Paraty Mirim, e que participa do grupo jovem do FCT, é muito importante a participação política em todos os espaços. “O Fórum foi organizado pelas comunidades tradicionais, então a comunidade guarani também está junto e participa para conhecer as lutas dos não índios, as leis e como proteger essas terras.” Serviço: Mais informações sobre a Campanha “Preservar é Resistir”: http://www.preservareresistir.org/
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Artigo Flávia Galindo
o s u o v i s O mas otóxicos de agrrasil e a no B ção de percep s dos risco idores m u s n o c
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e acordo com reportagem da Revista Galileu , “o Brasil é o campeão mundial de uso de agrotóxico, embora não seja o campeão mundial de produção agrícola”. Como se não bastasse, “o País ainda é o principal destino de agrotóxicos barrados no exterior”. Pesquisas da USP revelam que, entre 1999 e 2009, registramos 62 mil intoxicações por agrotóxico no país – uma média de 15,5 por dia. Entre as muitas ações que tentam modificar essa realidade preocupante, destacamos o apoio do IDEC - Instituto de Defesa do Consumidor à iniciativa do GEA -Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade e diversas outras entidades. Para mudar o quadro atual, esse coletivo enviou à ANVISA um dossiê sobre impactos à saúde causados pelos agrotóxicos à base de 2,4-D e pelas plantas tolerantes a esses herbicidas. São dados contundentes sobre os riscos químicos provocados pelo uso abusivo de agrotóxicos que podem causar danos ao homem e ao meio ambiente. Mas
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a pergunta que não quer calar é como estas discussões sobre o sistema agroalimentar envolvendo ciência, mídia, Estado, mercado e instituições fazem a transposição para as lógicas que norteiam o consumo alimentar do homem comum. E a resposta é: no que diz respeito aos agrotóxicos, ainda há pouca informação e baixa conscientização geral. Passei meus últimos quatro anos estudando as representações sociais dos riscos alimentares das famílias que residem nos grandes centros urbanos. Observei dois fluxos contínuos e permanentes das rotinas alimentares: comer em casa e comer na rua. Os indivíduos preparam a comida em casa ou terceirizam o preparo, confiando em restaurantes, lanchonetes e outros tipos de prestadores de serviços. Assim, cada vez mais o mercado assume algumas atividades produtivas que antes eram restritas ao espaço doméstico. Todavia, mesmo quando preparam suas refeições em casa, grande parte das famílias ainda desconhecem a origem dos alimentos comprados e os níveis de
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contaminação química provenientes do uso de agrotóxicos. O complexo sistema agroalimentar é bastante atento às novas demandas que surgem. Vide o crescimento no consumo dos alimentos poupadores de tempo, considerados de alta praticidade por sua condição de preparo rápido, fácil ou de consumo imediato, como os pães, iogurtes, alimentos prontos e a comida de rua. As análises econométricas inferem que a maior oferta de alimentos poupadores de tempo nos últimos anos é uma necessidade concreta das famílias urbanas. Falamos de uma tendência que levou ao aumento da prática de comer fora, à queda nos gastos com alimentos e ao aumento do consumo de alimentos prontos e semiprontos, sendo estes os três fatores que contribuíram para a recente transformação do consumo alimentar brasileiro. Com tanto vigor do mercado, é preciso compreender a ausência de informação dos indivíduos sobre os perigos que advém dos agrotóxicos nos alimentos e possíveis resíduos após o preparo da comida. É uma realidade que não coaduna com todos os
esforços feitos pela SAN - Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) que se preocupa com a disponibilidade de alimentos para todos, mas, também, com sua qualidade, associando saúde e nutrição aos estudos socioeconômicos sobre produção e distribuição de alimentos. Portanto, talvez seja preciso investigar cada vez mais as lógicas e práticas do consumo, é preciso conhecer as rotinas e justificativas dos modos de vida atual. Produção e consumo fazem parte de um sistema único que dita como vivemos. Somente com essa associação podemos fazer novas correlações, como por exemplo, as implicações do trabalho no espaço doméstico nas rotinas do consumo alimentar. Mais do que negligenciado, o trabalho doméstico é subvalorizado, mas ele ocupa um tempo considerável na agenda das famílias e influencia nas suas relações com o mundo. Como o antropólogo Daniel Miller já havia apontado, comprar alimentos para a casa é uma tarefa produtiva, um trabalho não remunerado pelo capital, mas de fundamental importância por seu aspecto de fortalecimento das relações em família. Quando se coloca dessa forma, o almoço e a janta de cada dia feito e consumido em casa ou transportado para ser consumido na rua (veja que as marmitas estão voltando à cena), ganham uma nova perspectiva. Da mesma forma, comer fora também tem suas implicações. Os indivíduos usam todos os sentidos na busca de proteção, cheiram e apertam os alimentos, cozinham a carne de porco por horas ou evitam comê-la na rua, enfim, criam e reproduzem hábitos que visam a purificação dos alimentos. Resta indagar porque as famílias não mostram preocupação sobre as contaminações dos alimentos por agrotóxicos. Suponho que as famílias não ignoram esse risco. Em nossas pesquisas, as pessoas já ouviram falar nos possíveis perigos do consumo em excesso dos agrotóxicos.
Mas elas não inserem estes riscos em seus repertórios de preocupações de natureza privada e pública associadas à alimentação. Compra-se o alface na feira ou no supermercado, come-se o alface no restaurante ou na lanchonete e a última coisa que se
indaga é o nível de contaminação por agrotóxicos que ele pode ter. Se há risco, ele não é tangibilizado pelo consumidor, e ao não ser percebido, é invisível. A desinformação e/ou a falta de interesse das famílias pelo assunto é bastante contundente. Os consumidores puros e não organizados não problematizam os possíveis danos causados pela ingesta de altas doses de agrotóxicos, e sequer imaginam os danos ambientais provenientes do abuso no uso de agrotóxicos e seus perigos químicos na forma de aditivos alimentares, pesticidas, medicamentos e outros complementos. Estes perigos não fazem parte das preocupações diárias das famílias, ainda que o homem urbano esteja exposto aos efeitos nocivos dos agrotóxicos que podem penetrar no corpo humano por ingestão, respiração e absorção dérmica. O grande nó da questão, em minha opinião, é que o senso comum estabelece uma avaliação subjetiva da qualidade alimentar onde a busca por segurança com praticidade acabam se tornando os grandes norteadores da vida doméstica e do trabalho culinário. Se não enxergam a ingesta com agrotóxicos como perigo real, esse risco não se integra ao sistema de valores que dita as lógicas de consumo. Ele é inexistente. Algumas análises podem ser feitas a partir das minhas investigações. Apesar da profusão de pontos de venda de ali-
mentos nas grandes cidades, os consumidores tem um campo de ação muito limitado para a tomada de decisões diárias sobre a alimentação. Ainda que existam os alimentos orgânicos, os consumidores de nossa pesquisa se mostraram constrangidos pelo preço dos mesmos, pela rede de distribuição pouco massificada e por produtos sem a devida identificação (selos de certificação, por exemplo). Observa-se que o reconhecimento do perigo constante dos agrotóxicos não é suficiente para alterar certos hábitos, e assim o consumidor revela que não tem como precisar o quanto ingere de alimentos contaminados, ainda que tal contaminação não seja passível de qualquer prática de limpeza/purificação. Portanto, todos os esforços em prol da redução massiva no uso de agrotóxicos no Brasil deve ser comemorada. E todos os esforços no sentido de informar cada vez mais os consumidores serão pequenos frente o imenso desafio de conscientização contra as práticas condenáveis no uso abusivo de agrotóxicos. Há muito o que se fazer, mas a boa notícia é que temos pessoas e instituições no Brasil que merecem o nosso apoio por lutarem por mudanças que tornarão nossa alimentação mais saudável e livre de riscos. (*) Flávia Galindo é doutora em Ciências Sociais, Professora. de Marketing na UFRRJ e pesquisadora do Grupo de Estudos do Consumo. Como uma das organizadoras do ENEC – Encontro Nacional dos Estudos do Consumo, convida os leitores para participarem da 7ª edição do evento, que abordará o tema “Mercados Contestados – As novas fronteiras da moral, da ética, da religião e da lei” (de 24 a 26/09/ 2014 na PUC-Rio).
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CONEXÕES
PLURALE
Tempo ou tempo de relógio?
O que a criança e a publicidade têm a ver com sustentabilidade? Não traiam as crianças! Não prometam acolhê-las quando vai desconsiderá-las. Não prometam levá-las a brincar quando vai ordena-lhes que se sentem e fiquem quietos. Porque o que um professor faz, às vezes, sem dar-se conta, é claro, é freqüentemente trair as crianças em função do que quer que elas façam. Por um lado acolhe-as, mas na realidade as distingue, fazendo com que vivam isso como uma traição. O menino chega à escola infantil e o professor diz “venha aqui, você vai brincar com as outras crianças!”. E depois que a criança aceita, ele diz: “Bom, agora fica sentadinho aqui!”. Isso é uma traição! As crianças sabem exatamente quando alguém promete algo e não cumpre, e sentem-se traídas. Isso gera dor e produz sentimentos, porque é uma negação de nossa condição amorosa.
Entrevista de Maturana no Humanitates.
NÁDIA REBOUÇAS (*) A frase do título, cheia de profundas perguntas, me chegou durante a apresentação de Renata Meirelles no Fórum que lançou o novo projeto do Instituto Alana - Prioridade Absoluta. Durante o lançamento,composto por três dias de conversas com especialistas de várias áreas, ficou claro que só na Constituição criança é prioridade absoluta, mais especificamente no artigo 227. É mais uma daquelas verdades que não são verdades, verdadeiras, como costumam perguntar as crianças. Falta de saneamento básico para milhões, causando doenças, escolas sucateadas e de difícil acesso, falta de vagas - só em SP, nossa maior cidade, faltam cerca de 150.000 mil vagas em creches -, professores sem condições ou preparo para o trabalho, poucos espaços de lazer entre muitos outros problemas nos obrigam a responder. Não, não é prioridade. Mas a grande pergunta que colocou toda a audiência do Fórum em atenção foi feita por uma criança para Renata Meirelles, que teve o privilégio de viajar pelo Brasil, com sua família durante dois anos documentando as brincadeiras das crianças brasileiras,num projeto do Instituto Alana.Em breve todas as suas descobertas vão virar um documentário da produto-
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ra Maria Farinha. Durante a viagem uma criança perguntou a ela: “Mas a gente vai ter tempo, ou tempo de relógio?” Temos oferecido muito tempo de relógio para as crianças, sem liberdade para o brincar ou para a alegria. Temos para nós mesmo cada vez mais tempo de relógio. Cidades com problemas, cada vez com pior mobilidade, prejudicam, impedem a presença dos pais em casa ou condicionam nosso tempo. Produtos prontos para consumo rápido, desenvolvidos para atender o sabor, sem preocupação com a saúde, levam à obesidade infantil, diabetes, e problemas do coração. Num mundo que o tempo não mais existe, quantas revelações a pergunta dessa criança faz emergir? Entrega-
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mos em primeiro lugar tempo para nossas crianças, quando apressados, produzimos e atuamos no tempo de relógio? O tempo de relógio não seria o formato do tempo a que Maturana se refere na citação acima? Quando nossas vidas se desenrolam através das datas de varejo, que se seguem na volúpia do consumo, transformamos nossas próprias vidas num grande relógio. Às vezes o relógio fica tão gigante que parece correr atrás de nós. É só lembrarmos um Natal, uma Páscoa ou um Dia da Criança. Estamos criando uma sociedade cada vez mais doente? Naquele instante ficou claro para mim que precisamos de tempo para refletir, sermos mais competentes na tarefa de
educar, de produzir tempo útil, saudável e agradável para as nossas crianças. Temos uma comunicação mercadológica intensa, fazendo da criança um adulto menor, educando insistentemente para o ter. Despertando a sensualidade precoce e colhendo gravidez na adolescência. Recolhendo as crianças oriundas de enormes dificuldades econômicas e familiares para depósitos, onde se aprende mais violência e o desrespeito. O estímulo constante ao consumo nos entrega o tempo de relógio, sem tempo para ser. A recente resolução do Conanda – Conselho Nacional da Criança eda Adolescência - um Conselho que reúne sociedade, governo, organizações sociais, emitiu a resolução 163, na qual considera a comunicação mercadológica para crianças abusiva, e imediatamente despertou muitas críticas. Muitas até afirmando que a resolução do Conanda nada significa, que só valeria uma lei. “Isso é cercear a liberdade, os pais é que tem o dever de acompanhar os filhos e dar os limites!” “A TV e a escola devem ter o livre acesso do mercado”. Enquanto isso as embalagens não esclarecem. Os alimentos têm tudo em excesso - sódio, açúcar, gordura, agrotóxicos. Os brinquedos voam, andam, atacam, nadam, mas só nos comerciais da TV. Como nada do que a comunicação mostrou ele é capaz de fazer, chegando em casa se tornam obsoletos em horas. Podemos medir pelo tempo de relógio. Depois dos vários sacrifícios para comprar, a surpresa é ver a criança se apro-
Temos uma comunicação mercadológica intensa, fazendo da criança um adulto menor, educando insistentemente para o ter.
priando do tempo e brincando com a caixa e as canetas coloridas que já possuía. Maurício de Souza, após a resolução do Conanda, publicou pelo Instagram uma foto de uma criança de cerca de oito ou nove anos, segurando um cartaz, como nas manifestações de junho de 2013, com os dizeres: “Eu quero ver propaganda!” A gritaria na rede foi tanta que ele foi obrigado a retirar a foto e se retratar. Nossa sociedade está mudando. Falamos muito em sustentabilidade, mas precisamos para isso ter também um olhar para a comunicação mercadológica. Os pais que vão ganhando consciência entendem que quando pedem limites para a comunicação não têm a intenção de cercear liberdades, mas o direito de fazer escolhas. O que não se deseja mais é que nossas crianças fiquem reféns de interesses comerciais, que não têm nenhum compromisso com a educação e a qualidade de vida. Os pais começam a perceber que a falta de um olhar sistêmico sobre as consequências da liberdade mercadológica afetam toda a sociedade. E quem está satisfeito com os valores atuais? Não queremos sustentabilidade? O Conanda apenas traduziu uma sociedade em transformação, que está fazendo novas escolhas. Afinal, todos não são favoráveis à melhora da educação no Brasil? Será que os lares e a escola transformados em palco de ações comerciais são resultado da nossa intenção de priorizar a criança e o adolescente? Educamos todos os dias, e não somente os pais são a influência. Educamos o olhar, o ouvido, o paladar, o tato e a consciência de nossas crianças. Essa é uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade. Estamos num ponto de mutação da nossa civilização.
Enganados estão aqueles que acreditam que tudo tem que ficar como está. Não ficará. Todas nossas escolhas estão em questão nesse momento. As empresas, que pesquisam tanto, sabem disso. Esticam o cordão para não prejudicar ganhos imediatos, mas sabem que a mudança é inevitável porque o consumidor virou interlocutor e ganhou poder com as redes sociais. É hoje um interlocutor que aprende como nunca! Troca como nunca! E faz novas escolhas para si e suas famílias. A empresa vai precisar acompanhar, se quiser ter permanência e reputação. O planeta e a humanidade sofrem as consequências. A criança está no centro dessa mudança. Ser pai e mãe nesse momento da nossa história se tornou uma tarefa hercúlea. O projeto Prioridade Absoluta toca a campainha, o sino, grita e dá ferramentas concretas para a atuação da sociedade. Vejam no site. O projeto cria um movimento para que seja cumprido o artigo 227 da nossa Constituição. A resolução do Conanda é uma pequena parcela dessa mudança. Pequena, que vai produzir muito debate, mas também muito diálogo entre aqueles comprometidos com educação e aqueles que atuam no mercado. Verdade verdadeira que fazer publicidade é uma delícia. Sou publicitária há 40 anos e sei que fazer uma comunicação para um novo tempo da civilização pode nos salvar. Precisamos, para refletir, de tempo de verdade verdadeira e não tempo de relógio. (*) Nádia Rebouças (nareboucas@ reboucasassociados.com.br), é Colunista de Plurale, colabora com artigos sobre sustentabilidade. É Diretora da Rebouças e Associados, especializada em Comunicação para Transformação.
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P e lo Mundo Religião e Mudança de Clima Por Wilberto Lima Jr. Correspondente de Plurale nos EUA De Boston
Recente artigo publicado aqui nos EUA chamou a atenção pela abordagem sob o ponto de vista religioso do tema mudança do clima. Normalmente, esse enfoque não é percebido pela opinião pública, em geral. No caso, trata-se da visão evangélica da questão climática. Vale lembrar que existem inúmeras linhas evangélicas. Um instituto religioso dos EUA lista mais de 60 denominações evangélicas, dentre elas, Batistas, Metodistas, Episcopias e outras. Cerca de um terço (33%) dos americanos que declaram sua religião, denominam-se Evangélicos. Uma das líderes do movimento nacional de enquadrar os problemas do meio ambiente sob a ótica cristã e como tratar deles é Dorothy Boorse, professora de biologia e ciência ambiental do Gordon College, em Massachusetts, com doutorados e especializações diversas. Ela mesmo é uma pessoa que professa a fé no Evangelho e na ideia do “cuidado da criação”, onde Deus designou os seres humanos como cuidadores da Terra, não
seus donos e assim, responsáveis pelo trabalho que fazem aqui. Chama a atenção que existe uma percepção, talvez estereotipada, dos evangélicos como anti-ciência e anti-intelectuais. Para Boorse, pelo contrário, a pesquisa científica e a religião são perfeitamente compatíveis. Ela foi a autora principal de um relatório chamado “Loving the Least of These”, o que numa tradução literal significaria “Amando o Menor Deles”. O foco é mostrar e discutir como a mudança do clima está afetando os mais pobres e vulneráveis habitantes do nosso planeta, refletindo a passagem da Bíblia onde Jesus diz a seus seguidores que Deus os julgará baseado no que eles fizerem pelos famintos, despidos e doentes. O relatório levanta diversas questões relacionadas com o clima, seus efeitos e aponta algumas opções de cunho religioso. Os cristãos devem orar, mudar suas vidas para usar menos recursos naturais, principalmente e ajudar comunidades vulneráveis a se adaptar, preparando-as para as mudanças do clima e não só para responder aos desastres ambientais. Este relatório vem sendo distribuído pela National Association of Evangelicals (Associação Nacional dos Evangélicos
dos EUA) para as diversas igrejas, líderes de opinião e membros do Congresso americano. Pode ser baixado gratuitamente através do website da associação (www.nae.net/lovingtheleastofthese). Ainda que todos possam ter suas crenças e até diferenças, vale destacar a seriedade e abrangência da discussão do assunto sob a ótica religiosa. Ou seja, a realidade das mudanças climáticas não pode mais ser ignorada e a Fé pode ajudar a transformá-la. * Nota: o autor deste artigo não é Evangélico.
Aeroportos europeus mais verdes Por Vivian Simonato, De Dublin Correspondente de Plurale na União Europeia
Todos os anos, os aeroportos europeus veem o número de usuários aumentar consideravelmente durante o verão. Turistas de todos os cantos, incluindo própria Europa, lotam os cerca de 500 aeroportos que existem nos países membro da União Europeia. Consequentemente, o uso de energia e impacto ambiental para manter os aeroportos operando com total capacidade também são exorbitantes – e podem ser comparados a energia utilizada para abastecer uma pequena cidade.
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Com objetivo de reduzir em curto prazo o consumo de energia e emissões de CO2 em 20%, a Comissão Europeia anunciou no final de julho que já está sendo testado nos aeroportos de Fiumicino, Roma, e Malpensa, Milão, o sistema Cascade. Desenvolvido especificamente para administrar de maneira mais inteligente os sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado dos aeroportos, o Cascade funciona por meio de sensores que, posicionados em locais estratégicos nas plantas dos aeroportos, vão indicar, por exemplo, quando um ventilador está funcionando sem necessidade, quando há simultaneamente aquecimento e ar condicionado acionados, além de detectar mais rapidamente falhas e sugerir medidas corretivas.
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O objetivo é que o Cascade ajude os aeroportos de Fiumicino e Malpensa a economizarem por ano 6000 MWh, que equivale a 42,000 toneladas de CO2 e € 840,000. O projeto de pesquisa para desenvolvimento do CASCADE foi apresentado em 2007 e recebeu financiamento de €2,6 milhões da UE. O Cascade tem atraído atenção por seu custo/benefício e o Conselho Internacional de Aeroportos da Europa já se comprometeu a implementar o sistema mais amplamente a partir de 2015. Já o Vice-Presidente da Comissão Europeia, Neelie Kroes, afirmou: “Eu viajo constantemente por conta do meu trabalho e acredito que 100% dos nossos aeroportos precisam se tornar mais verdes. O sistema Cascade nos mostra que adotar medidas sustentáveis não precisa custar uma fortuna, pelo contrário, economizará recursos”.
A corrida já começou! Prepare sua inscrição ou faça sua indicação até 05 de setembro de 2014 www.premiohugowerneck.com.br
*Outras categorias, acesse o regulamento no site do Prêmio.
Quanto vale a sombra de um buriti?
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Ecoturismo
Baños de Agua Santa: um paraíso para os esportes de aventura no Equador Plurale escolheu quatro passeios para quem gosta de adrenalina e de paisagens incríveis. Texto e Fotos de Aline Gatto Boueri Especial do Equador
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ouco frequentado por turistas brasileiros, o Equador é um país que surpreende. Quem visita o país não pode reclamar de tédio: em poucas horas pode-se passar da Amazônia à Cordilheira dos Andes ou ao Oceano Pacífico. Com frio, calor ou temperaturas amenas, as paisagens estonteantes são das poucas coisas que se repetem ao longo desse pequeno país sul-americano. A duas horas da capital Quito, uma pequena cidade de cerca de 20 mil habitantes é o paraíso para quem gosta de esportes de aventura. Na porta da Amazônia, Baños de Agua Santa fica em um vale de montanhas cobertas de vegetação e a população convive orgulhosa com o vulcão Tungurahua, um dos vários que pipocam pela cordilheira equatoriana. Plurale visitou a cidade e escolheu quatro passeios imperdíveis para aventureiros que viajam com mochila e um pouco indecisos sobre o tamanho de sua coragem.
CASA DA ÁRVORE Essa casinha de madeira que parece retirada de um filme infantil é um ponto privilegiado de observação do Tungurahua. A 2.700 metros de altura, é de lá que chegam as primeiras notícias quando o vulcão decide acordar, o que ocorreu no começo deste ano. Além de um posto de observação importante para quem convive com o Tungurahua, a Casa da Árvore tem uma atração à parte, que leva muitos turistas a pagar os US$10 ao taxista para chegar até lá: um dos balanços mais incríveis que se possa imaginar. Quem quiser usar balanço do fim do mundo, como é conhecido, precisa apenas depositar algumas moedas ao vigilante que toma conta do lugar e desfrutar a sensação de brincar nas nuvens. Quase sempre, o clima úmido impede ver o imponente vulcão que está, em linha reta, a pouco mais de dois quilômetros. Mesmo assim, o passei vale a pena pela maravilhosa experiência de voltar a ser criança.
O balanço mais perigoso do mundo
Balanço Puyo
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Quem quiser usar balanço do fim do mundo, como é conhecido, precisa apenas depositar algumas moedas ao vigilante que toma conta do lugar e desfrutar a sensação de brincar nas nuvens.
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Ecoturismo
CAMINHO DAS CACHOEIRAS Os taxistas que levam até a Casa da Árvore oferecem levar também bicicletas até lá. É difícil subir pedalando, mas para quem tem alguma experiência com as magrelas, descer é um passeio lindo e seguro. Basta dar um voltinha no centro da cidade para encontrar quem faça o serviço de passageiros. O ideal é emendar o passeio com a Caminho das Cachoeiras. Baños está cheia de agências de turismo, já que é basicamente disso que a cidade vive, onde se pode perguntar e pechinchar muito – como em todo Equador – sobre o preço do aluguel de bicicletas e as facilidades que cada agente oferece na hora de alugar. O preço durante a temporada baixa é US$10 e vale por um dia inteiro. No passeio básico, recomendado para quem vem de outra atividade ou gosta de pedalar devagar e sempre, é possível encontrar três grandes quedas d’água, mas as cachoeiras são apenas para ver mesmo. Com acesso interditados, não é possível dar um mergulho ou chegar muito perto. Pausa na pedalada no Caminho das Cachoeiras
Trilha
Não importa. O passeio em si já valeria a pena. A estrada, muito bem conservada, está cheia de sinais que estimulam os motoristas a lembrar constantemente que devem compartilhar seu espaço com as bicicletas. E há um respeito enorme pelos ciclistas, que são muitos, mesmo nos frequentes dias de chuva desse paraíso espremido entre a cordilheira e a Amazônia. PUYO Puyo é uma pequena cidade amazônica, mas é de Baños, a duas horas, que saem excursões para visitar suas belezas naturais. O preço do passeio de um dia, que inclui almoço, é de cerca de US$20, mas em temporada alta pode chegar a US$40. A primeira parte do tour é absolutamente dispensável, mas infelizmente não há opção de fazer apenas a segunda parte. A primeira parada é para visitar um centro de resgate de macacos que, à primeira vista, parece simpático. No entanto, os macacos estão visivelmente agressivos e enjaulados. Nosso guia, ele mesmo um crítico do lugar, sugere que seria melhor que os enjaulados fôssemos os visitantes e que os animais (irracionais) pudessem circular livremente.
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A segunda parada é em uma feira de artesanato que faz as vezes de tribo indígena. Alguns visitantes se deixam pintar a cara, outros só observam, outros decidem comprar algum brinco ou pulseirinha. Os ansiosos só pensam em sair dali correndo. E é aí que começa a parte boa. Um passeio de cano pelo rio Puyo – onde é fundamental repelente e protetor solar – leva até o começo de uma trilha na qual o guia paciente mostra uma grande variedade de plantas medicinais até chegar ao punto máximo: uma cachoeira de água transparente que nos faz até esquecer da manha perdida entre macacos enjaulados e uma feira artesanal. O dia termina com uma comida típica e outro balanço, parecido ao da Casa da Árvores. Só que em Puyo, a vista do brinquedo é o lindo rio Pastaza, com a cordilheira ao fundo. BUNGEE JUMP Em Baños, a geografia convida a experimentar um dos esportes de aventura que mais desafiam a mente: o bungee jump. Como a cidade está em um vale, é das pontes que unem as montanhas que os turistas pulam. Um passeio rápido pelo
Passeio de canoa pelo rio Puyo
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Com frio, calor ou temperaturas amenas, as paisagens estonteantes são das poucas coisas que se repetem ao longo desse pequeno país sul-americano.
”
A cidade de Baños de Agua Santa, entre a Cordilheira e a Amazônia equatoriana
centro da cidade e é possível acompanhar a vários mochileiros que passam, olham, pensam e decidem pular. E foi no meio da rota das cachoeiras que a repórter decidiu experimentar. Para quem até o dia anterior achava que jamais faria algo assim, até que a decisão foi rápida. Por US$15, no meio do caminho havia uma corda. O instrutor soube vender: “quer pular? É ótimo para aliviar o estresse! É preciso saber vencer o medo”, entre outras mensagens de superação e confiança que, naquele momento, fizeram parecer que saltar daquela ponte era um compromisso de honra, uma dívida com o mundo. O pulo não é dos mais altos, mas é equivalente a um edifício de oito andares: são 24 metros de corda e 32 até o rio que passa raso entre as pedras, lá embaixo. Os dois segundos entre o salto ao vazio e a certeza de que a corda segue ali, firme, parecem uma eternidade. Depois da descarga de adrenalina, pendurada por uma corda em um vale entre a Cordilheira dos Andes e a Amazônia, quem poderia dizer que se arrependeu?
Serviço: Baños é uma cidade que vive do turismo. Como tudo no Equador, o preço da hospedagem pode ser negociado, principalmente se a viagem está marcada para épocas de baixa temporada (entre março e maio ou entre setembro e dezembro). Para quem está acostumado a viajar com uma mochila nas costas e poucos planos na cabeça, é muito recomendável chegar por lá e sair para procurar um hotel ou albergue. É muito provável que se encontre algo por US$5 sem ter que caminhar mais de duas ruas. No Equador, mesmo em cidades turísticas ou na capital, Quito, bares e restaurantes fecham cedo. Depois das 22h já
quase não se vê ninguém nas ruas e é muito difícil encontrar algo aberto. Os equatorianos acordam cedo e terminam o dia cedo também. Mas Baños, por ser procurada por turistas jovens e cheios de disposição para a aventura, é uma exceção. Na cidade, é possível encontrar vários tipos de culinária, desde a comida típica do litoral pacífico, com ceviches e bolones de verde (deliciosos bolinhos fritos e salgados de banana) até um fast food de comida árabe. É possível comer bem sem gastar muito: US$5 são suficientes para um bom prato com bebida incluída.
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Energia
Virada energética na Alemanha
Texto e fotos por Elisabeth Cattapan Reuter, Especial para Plurale De Hamburgo (Alemanha)
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or vários anos, a Alemanha usou a energia nuclear, apesar do forte movimento ecológico e da formação do partido político Die Grüne, os “Verdes”, em 1980. Isso durou até 2011, quando em 11 de março, um terremoto e maremoto no Japão provocaram o cataclisma ecológico de Fushima. Essa tragédia japonesa provocou uma inversão na política energética do governo federal alemão, postulada e defendida pela Chanceler Angela Merkel. Contando com incrível popularidade por aqui, Angela Merkel com seus recém-completados 60 anos, em julho, ousou inverter a equação energia=átomo=segurança, ordenando que fossem imediatamente desligadas oito centrais atômicas e impôs um controle a todas as outras usinas nucleares para avaliar seu grau de segurança, rentabilidade e eficiência. Desde então, Merkel pleiteia o imperativo de uma nova equação. Conhecida e temida pela sua ponderação e senso de respon-
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sabilidade coletiva, ela deu o sinal de uma inversão na matriz energética, saindo da nuclear e apoiando todas as outras formas de energias substitutivas. Não está sendo fácil para a Chanceler alemã realizar esse projeto que ela mesmo taxou de secular. Merkel vem contando com toda espécie de percalços em seu caminho: - Os “Verdes” acusam o projeto de desembolsar bilhões para enriquecer as grandes companhias produtoras de energia nuclear; - Agências de proteção ao consumidor alertam sobre o inevitável aumento do preço do quilowatt para o consumidor; - Movimentos ecológicos, municipalidades e alguns estados da federação acham que não foram adequadamente consultados e informados sobre as possíveis sequelas das energias substitutivas. É bem verdade que cidadãos alemães, imbuídos de zelo ecológico e estético, protestam contra a construção de quilômetros de linhas elétricas, que até 2022 deverão garantir a distribuição da nova forma de energia por toda a Alemanha. A revista Der Spiegel Online calcula que serão necessários
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1,75 milhões de quilômetros para construir essa nova Autobahn (autoestrada) da luz . Os primeiros parques eólicos contaram com a aprovação tácita dos donos dos terrenos onde foram construídos e dos alemães, que eufóricos em poder participar do projeto ecológico, não se incomodavam com a poluição visual que eles provocam. Isso mudou e algumas municipalidades conseguiram impedir a instalação das torres das Bunker vira Central voltaica
Unilever Hamburgo
eólicas em lugares conhecidos por seu panorama bucólico. A decisão, por exemplo, de implantar um parque eólico no Wattenmeer (litoral do Mar do Norte alemão) provocou reações negativas, pois a região é um parque natural onde o vento sopra muito forte e as marés são fortíssimas. No entanto, a força dos novos grupos de pressão e o efeito positivo no mercado de trabalhou abafou rapidamente o movimento de protesto. Angela Merkel contou ainda, no final de julho, com o consolo da opinião pública, pois 65% dos alemães declararam-se satisfeitos com seu modo de governar. Para diminuir o choque da reviravolta energética, o governo federal alemão vem apoiando uma série de medidas inovativas para diminuir os gastos previstos com a eletricidade no futuro. Neste sentido, arquitetos e decoradores, urbanistas e construtores investem em novos materiais para isolar melhor meios de transporte (ônibus, metrô e trens), prédios e residências,
“
Esperamos que até 2022 a Alemanha estará preparada para desligar as centrais nucleares e que todo este esforço seja coroado de sucesso, e acessível a nossos bolsos.
”
reduzindo a carga de energia e economizada quilowatts e consequentemente euros. Essas medidas compreendem desde vidros incrementados nas janelas, paredes e tetos a materiais de construção e de revestimento que guardam o calor dentro do espaço habitável. Isso para quem mora na Alemanha é fundamental, pois os invernos são lon-
gos, frios e escuros. A palavra de ordem é energia inteligente. Angela Merkel não quer só substituir o átomo pelo vento, sol, água ou biomassa: ela quer mudar o comportamento do consumidor, comerciante, fabricante ou cidadão. Com seu “projeto secular “, a Chanceler pretende estimular o respeito duradouro ao meio ambiente, protegendo-o do entulho e lixo atômico. Quer, portanto, uma mentalidade que permita o consumo de energia sem desperdício, pedindo à indústria mais inovação e criatividade. É o projeto não só da política, mas de uma doutora em física que acredita ser possível implementá-lo até 2022. Os meios científicos a apoiam neste projeto, no entanto, os grandes industriais, responsáveis pelo desperdício nuclear, são céticos e advertem que haverá uma falta radical de energia. Há quem diga que eles tentam encerrar essa fase nuclear com chave de ouro, ou seja, sem falências e com as contas acertadas graças um reembolso do governo federal. Não é o que Angela Merkel quer, e por isso, procura o consenso e obriga os CEOs das empresas e os diretores das usinas nucleares a participarem do projeto. Como sempre, a Chanceler alemã usa o seu talento de mediadora e procura impor sua competência. Quem viaja pela Alemanha vê o enorme esforço das cidades para se adaptarem à nova energia, nos deparamos com prédios modernos ou reformados inteligentes, ecológicos. Mostramos vários exemplos aqui nestas fotos. Esperamos que até 2022 a Alemanha estará preparada para desligar as centrais nucleares e que todo este esforço seja coroado de sucesso, e acessível a nossos bolsos. Edifício público
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P e las Em pr esas
ISABELLA ARARIPE
Foz Águas 5 lança Rede de Diálogo
Divulgação
A Foz Águas 5, concessionária responsável pela coleta e tratamento de esgoto de 21 bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro, lançou a Rede de Diálogo. Trata-se de uma equipe formada por 19 jovens preparada para interagir com as comunidades, esclarecendo todo tipo de dúvida sobre saneamento básico e obras de implantação de redes coletoras de esgoto. A Rede de Diálogo conta com a cooperação da Unesco e promove também a conscientização e mobilização social em torno das melhorias da região, assim como o desenvolvimento de pesquisas inéditas sobre a Zona Oeste.
Prêmio Mobilidade Urbana: Inscrições vão até o dia 29 de agosto As inscrições para o Prêmio Mobilidade Urbana 2014 foram prorrogadas. Agora, os interessados terão até o dia 29 de agosto de 2014 para submeter seus trabalhos. Podem participar estudantes, jornalistas, profissionais e organizações de todo o Brasil, desde que o tema central seja a melhoria da mobilidade urbana no Estado do Rio de Janeiro. Acesse o site www.premiomobilidadeurbana.com. br, conheça o regulamento e
inscreva-se. A quinta edição do Prêmio contempla cinco categorias: Jornalismo (Subcategorias Mídias Impressas e Mídias Eletrônicas); Educação e Cultura (Subcategorias Práticas de Trabalho, Projetos e Programas, Trabalhos Acadêmicos de Mestrado, Doutorado ou Livre Docência e Produções Artísticas); Planejamento de Transportes e Tecnologia; Responsabilidade Social e Meio Ambiente; e Relacionamento com Clientes. O vencedor de cada categoria ganha R$ 10 mil.
Projetare Drywall : construção à seco A Projetare Drywall é uma empresa especializada em construção à seco. O sistema Drywall, como é mais conhecido, além de muito ágil e limpo possibilita um alto índice de reciclagem dos materiais envolvidos em sua composição, como o aço e o gesso. Outra característica importante do sistema é a dispensa da utilização de recursos naturais importantes como a água e o cimento em suas construções, este último considerado o grande vilão da indústria da construção civil pelos altos índices de emissão de CO2 em sua fabricação.
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Com o intuito de agregar valor em nossas atividades estendemos nossa atuação para o fornecimento de luminárias e lâmpadas de LED agregados aos nossos projetos. Além da economia imediata de recursos energéticos, cerca de 60% se comparada as lâmpadas fluorescentes, essa nova tecnologia evita a exposição dos usuários aos efeitos nocivos dos raios UV emitidos por esse mesmo tipo de lâmpada, assim como seus resíduos de mercúrio. Mais informações: http://www.projetare-rj.com.br/
ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA SABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR
Coca-Cola Brasil lança linha de chás gelados sob a marca Leão Fuze A Coca-Cola Brasil apresentou em junho a nova linha de chás prontos para beber da marca Leão Fuze, que chega a todo país trazendo o lançamento do Chá Verde. A nova bebida será oferecida nos sabores Limão e Abacaxi com Hortelã, ambos com suco de fruta e sem adição de açúcares ou conservantes. Além do Chá Verde, a linha de chás gelados de Leão Fuze será composta por Ice Tea e pelo tradicional Matte Leão – que mantém o mesmo sabor e as mesmas propriedades que contribuíram para que a marca fizesse parte do coração dos seus consumidores. As bebidas, sem adição de conservantes, foram elaboradas no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento da Coca-Cola Company no Rio de Janeiro, um dos cinco da companhia no mundo.
Roberto Lima assumirá a Natura em setembro A Natura anunciou o início do processo de sucessão do comando da empresa. No ano passado, Alessandro Carlucci expressou aos fundadores seu desejo de iniciar um novo momento em sua vida e em sua carreira, encerrando uma trajetória de importantes realizações. O Conselho de Administração acolheu o pedido de Carlucci. Buscou um substituto que tivesse experiência na gestão de grandes empresas, conhecimento dos mercados brasileiro e internacional, reunisse traços fundamentais de alinhamento com os valores e ideiais da Natura e estivesse
preparado para dar continuidade à estratégia desenhada nos últimos anos. Para suceder Carlucci foi feito um convite a Roberto Lima, conselheiro de Administração da Natura de 2012 a 2014. Ele tem longa trajetória executiva, tendo sido presidente de importantes companhias como a Vivo, Grupo Credicard e atualmente desempenhava a função de “chairman” do grupo de mídia Publicis do Brasil. Carlucci esteve na empresa por 25 anos, 10 dos quais no exercício da Presidência. Ele passará o cargo de diretor-presidente para Roberto Lima no dia 8 de setembro e manterá seu vínculo com a Natura até o final do ano para realizar uma transição plena.
Estácio Participações lançou o primeiro relatório de sustentabilidade A Estácio Participações lançou em junho o seu primeiro relatório de sustentabilidade cuja metodologia seguiu as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). O documento apresenta a trajetória de sustentabilidade da companhia a partir de cinco dimensões estabelecidas ao longo de um trabalho de diagnóstico nacional e internacional de boas práticas em instituições de ensino superior, além do chamado triple bottom line: econômica, social, ambiental, governança e educação superior. Além disso, o relatório traz ainda as questões de Branding alinhadas à sustentabilidade enquanto uma cultura, os resultados do painel de stakeholders realizado e a definição de uma matriz inicial de materialidade.
“A Estácio tem como missão Educar para Transformar, integrando a Academia e a gestão de forma a criar um impacto positivo para a sociedade brasileira. Nessa construção, queremos ampliar o valor compartilhado da nossa marca estabelecendo vínculos e relacionamentos de longo prazo com uma ampla rede de públicos interlocutores. Essa busca exige uma aprendizado organizacional permanente pois os desafios são sempre grandes e dinâmicos” diz Luiz Antônio Gaulia gestor responsável pelo processo de Branding da companhia e pelo projeto de sustentabilidade. A publicação está disponível no site de relacionamento com investidores da companhia: www.estacioparticpacoes.com.br
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ENERGIA & CARBONO SENSORES MEDEM METANO E CO2 À DISTÂNCIA E EM TEMPO REAL Por Antônio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias
Cientistas do Laboratório de Física Aplicada e Computacional (Lafac), da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, e do National Centre for Sensor Research (NCSR), Dublin City University (DCU), da Irlanda, estão testando a eficiência de sensores wireless (rede sem fio) para monitorar índices de CO2 e gás metano. O sistema utiliza a tecnologia GSM de aparelhos celu-
lares e remete os dados obtidos, em tempo real, ao Lafac, no campus de Pirassununga, e ao NCRS, na Irlanda. “Nossos equipamentos estão instalados em dois locais diferentes”, conta o professor Ernane Xavier, coordenador do Lafac. “Um está há cerca 80 quilômetros da FZEA, na cidade de Artur Nogueira, numa lagoa que concentra efluentes domésticos.” O outro sensor está instalado num reservatório que concentra resíduos de suínos, no campus de Pirassununga. Segundo Xavier, os dois sistemas fazem um monitoramento ininterrupto, 24 horas por dia, com informações a cada 30 minutos ou de hora em hora.
RELATÓRIO DA ONU IDENTIFICA MUDANÇAS CLIMÁTICA COMO GRANDE DESAFIO PARA O DESENVOLVIMENTO Por Jéssica Lipinski, do Instituto CarbonoBrasil
As mudanças climáticas são um dos grandes obstáculos para objetivos mundiais de desenvolvimento como erradicação da pobreza, educação universal, maior expectativa de vida, prevenção de doenças etc., afirma o (http:// www.pnud.org.br/arquivos/RDH2014.pdf” \t “_blank) Relatório de Desenvolvimento Huma-
no 2014 (HDR), lançado em Tóquio no fim de julho. O documento, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), identifica as mudanças climáticas e os desastres naturais como uma das seis grandes ameaças ao desenvolvimento humano, juntamente com riscos econômicos, desigualdade, insegurança alimentar, insegurança física e problemas de saúde.
BVRIO LANÇA PORTAL DE CONTRIBUIÇÕES VOLUNTÁRIAS PARA O CLIMA A BVRio lançou em julho um Portal de Contribuições Voluntárias para o Clima baseado nos mecanismos de mercado hoje disponíveis para negociação na plataforma BVTrade. O portal visa possibilitar que indivíduos possam comprar os vários tipos de instrumentos ofertados na BVTrade sem o objetivo de obter créditos de carbono para cumprimento de obrigações, mas somente para acelerar o processo de implementação de políticas pú-
blicas que geram benefícios para o clima. Todos os mecanismos de mercado hoje disponíveis para negociação na BVRio foram originalmente desenvolvidos para facilitar a implementação de políticas públicas brasileiras relacionadas ao meio ambiente e a melhorias sociais. No entanto, estes mecanismos trazem também significantes benefícios relacionados à redução de emissões de gases efeito estufa (GEE) e ao combate às mudanças climáticas.
ANEEL AUTORIZA OPERAÇÃO EM TESTES NA BAHIA E RIO GRANDE DO SUL A Aneel liberou a operação em teste das unidades geradoras dos parques eólicos Emiliana e Joana, na Bahia, e Cerro Chato VI, no Rio Grande do Sul. As plantas baianas, desenvolvidas pela Enel Green Power, poderão operar as unidades geradoras de 1 a 12, de 2,3MW cada. Já Cerro Chato VI recebeu o aval para teste das turbinas 7 e 8, de 2MW cada. O empreendimento é fruto de uma parceria
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entre Eletrosul (49%), Fundo Rio Bravo Investimentos (41%) e Fundação Eletrosul de Previdência e Assistência Social – Elos (10%). A solicitação do início da operação comercial dos parques eólicos somente poderá ser efetuada após a conclusão da operação em teste. Conforme a pertinência de cada caso, a liberação estará condicionada à apresentação dos documentos originais.
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2014
CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Festival de cinema foca em alterações climáticas e energias renováveis
O Centro Internacional de Governança Climática (GCIC) apresenta a 4ª edição do Think Forward Film Festival Venice e lança seu 3º Concurso de Curta-Metragem. O concurso internacional envolve curtas-metragens focados nos temas alterações climáticas e energias renováveis. Não há restrições quanto a gênero, nacionalidade e formato. Os filmes precisam ter 20 minutos no máximo e sido realizados após 1º de Janeiro de 2014. O prazo para inscrição se encerra em 1º de Outubro de 2014. Os melhores trabalhos serão apresentados durante o festival, que terá lugar em Veneza, na Itália, nos dias 12 e 13 de dezembro próximo. Mais informações: Chiara Zanandrea (contest@thinkforwardfestival.it, +39 (0) 41 2700443).
Documentário quebra tabu sobre homossexualidade no surfe
O Veneno Está na Mesa 2: há luz no fim do túnel Após o impacto causado pelo seu O Veneno está na Mesa, sobre as nefastas consequências do uso dos agrotóxicos não apenas aos consumidores, mas também aos produtores brasileiros, o diretor Sílvio Tendler aponta soluções no segundo filme. O Veneno Está Na Mesa 2 avança no assunto e apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo país, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, respeitando a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores. O documentário com isso indaga: afinal, em qual mundo queremos viver? O filme está disponível gratuitamente acessando o link: https://www.youtube.com/watch?v=fyvoKljtvG4.
Fórum DOC.BH 2014
De 20 a 30 de novembro será realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, o 18º Festival do Filme Documentário e Etnográfico Fórum de Antropologia e Cinema. A proposta do festival anual é apresentar um panorama diverso da produção audiovisual de vários países – documentários de longa , média e curta-metragens - com mostras de filmes clássicos e contemporâneos. O objetivo é exibir produções audiovisuais que construam um diálogo entre a vida social e a cultural.
O Festcineamazônia Itinerante
A homossexualidade ainda é um tema tabu no mundo do esporte. Isso faz com que muitos atletas homossexuais prefiram manter em segredo a sua orientação, se transformando em pessoas solitárias. “Out no line-up” é um documentário que segue dois surfistas consagrados – David Wakefield e Thomas Castets - que decidiram “sair do armário” e rodar pela Austrália, Havaí, Califórnia, México e Ilhas Galápagos encontrando outros gays surfistas e gravando suas histórias. São relatos de medo, isolamento e insegurança, mas também de esperança e transformação de homens e mulheres homossexuais apaixonados por surfe.
O Cinema Nosso – organização localizada na Lapa, Centro do Rio de Janeiro, com 10 anos de experiência em educação audiovisual para adolescentes e jovens oriundos das classes populares – tem projetos que contemplam a inclusão e uso da sua sala de cinema através de agendamento. Como o Projeto Cinema Inclusivo, que propõe a utilização de recursos de acessibilidade, possibilitando que pessoas com deficiência - incapacidade temporária ou permanente - participem livremente das sessões. O público mínimo para agendamento é de 20 pessoas. Mais informações acesse www.cinemanosso.org.br.
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I m a g e m
Foto: Evandro
Teixeira
De Canudos (BA)
E
m tempos extremos, de escassez de água, homenageamos os sertanejos guerreiros nesta verdadeira pintura por um dos mais geniais fotojornalistas do Brasil, Evandro Teixeira. Tivemos o privilégio de trabalhar e conviver com Evandro ao longo de memoráveis anos no Jornal do Brasil. Nascido na pequena Irajuba, sertão baiano, o menino inquieto transformou-se em um dos mais brilhantes fotógrafos de sua geração. Marcou para a História os anos de chumbo da Ditadura; esteve presente nos principais acontecimentos do Brasil da democratização; tornou-se um especialista em esportes e soube, como poucos, captar a alma de artistas e anônimos. Esta história é contada por Silvana Costa Moreira, em livro recém-lançado pela Editora 7 Letras, “Evandro Teixeira, um certo olhar”. Evandro também é autor de três livros: um sobre Canudos, do qual selecionamos esta foto; outro sobre 1968 e ainda um tributo a Pablo Neruda. Aos 79 anos, sem jamais perder o bom humor, com disposição de “menino”, como gosta de chamar o povo alegre nas ruas, Evandro acaba de cobrir mais uma Copa do Mundo, dentre as várias que já registrou, desta vez no Brasil. Saiba mais sobre sua obra e sua arte no site http://www.evandroteixeira.com.br/
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro Julho / /Agosto 2014 Fevereiro 2014
ALUSA ENGENHARIA: COMPROMISSO COM A MELHORIA CONTÍNUA DOS PROCESSOS E SISTEMA DE GESTÃO. Mais de 50 anos trabalhando pelo desenvolvimento sustentável do Brasil, cuidando sempre da performance e do bem-estar dos colaboradores.
www.alusa.com.br 67