Revista ARC DESIGN Edição 69

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R$ 18.00 Nº 69

ARC DESIGN

2010

Nº 69

2010

REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO

CLÁSSICOS CONTEMPORÂNEOS NOVAS FORMAS PEDEM PASSAGEM

CARTAZES DA COPA HISTÓRIA VISUAL E POLÍTICA

SÃO PAULO EM REFORMA O QUE MUDA PARA SEUS HABITANTES?

PEQUENOS NOTÁVEIS CARROS QUE VÃO MUDAR O STATUS DO TRANSPORTE URBANO

QUASE BRASÍLIAS BASTIDORES DO CONCURSO PARA A CAPITAL


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26/Feb/10 3:47 PM


Suécia, Finlândia, Holanda, Brasil. De cada lugar trouxemos uma semente do futuro. A natureza reclama, o mundo segue rápido em suas mudanças, velhos hábitos e paradigmas são superados. Meios de transporte são repensados: veja matéria sobre os carros pequenos e o possível veículo coletivo para grandes metrópoles. O Brasil se equipa para a Copa do Mundo: o que restará depois da festa? Obras úteis e essenciais? Falando em Copa, algumas gotas retrô – seus cartazes a partir de 1930. Retratos da Europa do Norte: da Holanda, uma cadeia de hotéis “sem serviço” – coerente com o modo de vida no norte europeu – mas com muito conforto, inclusive para o bolso, e totalmente informatizado; da Suécia, mais uma vez constatamos a tecnologia e o design a serviço da qualidade de vida; da Finlândia, exemplos de um viver essencial e de muita delicadeza e qualidade em seus artefatos. É o país da Nokia, mas é também o de Alvar Aalto. A arquitetura brasileira dos anos 1950 enxergava e desenhava o futuro. As utopias realizáveis foram traduzidas nas Brasílias possíveis. Aproveite a oportunidade para conhecê-las. Com a sugestão de novos clássicos no design de mobiliário tentamos fazer avançar a estética e os costumes, rumo ao futuro, por mais que se inventem revivals. Bem, ontem o mundo mudou. Agora é a nossa vez. Belas novas ideias para todos. Maria Helena Estrada Editora


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Ana Weiss

A SÃO PAULO QUE FICA

PEQUENOS NOTÁVEIS

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Elizabeth Lorenzotti

Maria Helena Estrada

SEMENTES SUECAS

CLÁSSICOS CONTEMPORÂNEOS

Maria Helena Estrada

12

28

cultura material

design internacional

sustentAção

em foco

Velhos clássicos? Que deixem de ser copiados e fiquem nos museus. ARC DESIGN propõe possíveis novos clássicos, entre brasileiros e internacionais – para serem consumidos mas, claro, não copiados. As escolhas são acompanhadas de fotografias e desenhos autorais. E os produtos? Aqueles que, sem modismos, permanecem no tempo

A exposição e as palestras realizadas no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, deixaram claro que, resolvidas as questões fundamentais de um país, torna-se prioridade pensar na educação e na segurança das sementinhas. O resultado são produtos voltados para o público infantil, que facilitam com engenhosidade e humor a vida de pais e filhos

A nova leva de “carros verdes” apresenta opções ao consumidor – o veículo elétrico e o movido a hidrogênio, por exemplo – e desafios aos designers. O objetivo é um só: dar um passo definitivo em direção ao transporte sustentável, a uma produção consciente das urgências ambientais do século XXI. Os pequenos notáveis pedem passagem

Os projetos em escala urbana para São Paulo terão as obras aceleradas para receber a Copa de 2014. Mas como ficará a “cara” da cidade depois de todas as mudanças que deverão ocorrer nos próximos anos? ARC DESIGN ouviu urbanistas e arquitetos para traçar um panorama do que será da megalópole nos próximos anos

REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO

nº 69, fevereiro/março 2010

Na capa, o banco R540 (540 mm de raio) é a retomada contemporânea das “cadeirinhas de espagueti” da infância dos designers Carolina Armellini e Paulo Biancchi, da Fetiche Design, de Curitiba (PR). Foto: Flávio Ribeiro


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COPAS DO MUNDO EM CARTAZ

Jair de Souza

Ana Weiss

FORAM QUASE BRASÍLIAS

Maria Helena Estrada

UM HOTEL PARA MODERNOS

Da Redação

ÔNIBUS SOBRE TRILHOS

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66

design e inovação

radiografia de um projeto

arquitetura

design e comunicação

Proposta para um novo sistema de transporte público. Esse é o TEX, do escritório AUDT, de Guto Indio da Costa. Se concretizado, o projeto poderá ser a solução para o trânsito nas cidades, reduzindo a emissão de carbono na atmosfera, mudando radicalmente a paisagem urbana e ainda deixando as vias livres para os carros

O Citizen M, em Amsterdã, não tem carregador de malas, não tem recepcionistas sorridentes, nem leva o café na cama. Mas seu layout, além de inovador é inteligente, com equipamentos de alta tecnologia. Mobiliário Vitra e uma clientela mais interessada no conforto das instalações do que nas mesuras dispensadas aos hóspedes

Aproveitando as comemorações dos 50 anos de Brasília, ARC DESIGN relaciona alguns projetos rejeitados no concurso do plano piloto da capital federal. As influências que aproximavam os arquitetos concorrentes e as propostas de desenvolvimento urbanístico que os separavam dizem um pouco sobre a cidade que existe e as cidades que poderiam ter sido

Os cartazes de cada uma das edições da Copa do Mundo de Futebol traduzem os momentos políticos e culturais dos países-sede. ARC DESIGN traz uma seleção de pôsteres feitos para algumas das mais importantes Copas e comentados pelo designer carioca Jair de Souza, responsável pela direção de arte multimídia e pelo projeto visual do Museu do Futebol

news

4

design brasileiro A MÃO DUPLA DO DESIGN

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universo FASHION-HITS VEM POR AÍ

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mostras BIENAL BRASILEIRA DE DESIGN 2010

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como encontrar

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design internacional DESENHO E IDENTIDADE


O NOME É PHONE. WATCH PHONE. O GD910, novo aparelho da LG, é um celular-relógio com display touch-screen de 1,43 polegadas. Com 13,9 mm de espessura, o Watch Phone tem tecnologia 3G e câmera digital que permitem a rea­li­za­ção de videochamadas. O recurso Text-to-Speech lê as men­sagens de tex­to recebidas. 0800 707 5454, br.lge.com

A RECICLAGEM QUE SE MONTA A parisiense Artelano, fabricante de móveis, lança a estante de livros Ecco. Com design de Ora-Ito, ela é feita a partir de ma­teriais reciclados provenientes de florestas certificadas. E a Ecco é montada sem parafusos: basta encaixar as par­tes separadas que a acompanham. A estante pode ser co­lo­ cada contra a parede ou servir como divisor de ambientes. www.artelano.com

O DESIGN ENCONTRADO Reunião de nove estúdios de criação, a Design OK foi criada com o objetivo de incentivar o trabalho autoral e estabelecer parcerias entre os seus membros. Cada estúdio produziu peças especialmente para o lançamento conjunto do projeto. Os bancos da linha Átila (abaixo) – com estrutura em aço inox e assento em madeira – são do arquiteto venezuelano Pedro Useche. Ao lado, as cadeiras da Ovo (em aço e madeira, revestidas com retalhos de seda), que se unem e formam uma poltrona de dois lugares. Além da Useche Móveis e da Ovo, André Cruz Design & Ideias, Decameron Design, estudiobola, Futon Company, Nada Se Leva, Pedro Mendes e Sergio Fahrer integram o grupo. Os produtos feitos para a Design OK podem ser ad­qui­ri­dos nos estúdios de seus respectivos criadores.


LUZ DE SEDA A designer Baba Vacaro de­ senvolveu a Nuage, lu­­ mi­nária de mesa feita com

CARTEIRAS DE PAPEL Lançamento da Mojo Design, as carteiras são feitas em Tyvek, material impermeável. Elas foram criadas por Pedro Gerab e, como num origami, são dobradas a partir de apenas uma folha. Os seus 5 mm de espessura comportam bolsos para dinheiro e cartões. Disponível em 10 estampas diferentes. (11) 9614 2350, www.

sedas e lançada pela Safira Sedas, loja de tecidos de São Paulo. Com 28 cm de altura, a Nuage tem difusor interno de vidro fosco e base com acabamento niquelado acetinado. Apenas cinco dessas luminárias foram produzidas para a Safira Sedas. Uma versão semelhante, com revestimento em nylon e não li­mita­da, está à venda na Dominici. (11) 3081 5146, www.safirasedas.com.br (11) 3087 7788, www.dominici.com.br

mojodesign.com.br

SEM PERDER O RITMO A KitchenAid traz ao mercado dois produtos para mudar a cara da sua cozinha. O liquidificador de sete funções vem com sensor interno que mantém a velocidade das lâminas constante. A batedeira planetária Stand Mixer possui dez velocidades e tigela com uma prática alça. Ambas as peças estão disponíveis nas cores vermelho, preto, branco e cromado. 0800 722 1759,

LUMINÁRIAS DE CETIM O estúdio Jehs + Laub, dos designers alemães Markus Jehs e Jürgen Laub, traz para o Brasil as luminárias da linha Dress. As estruturas metálicas das arandelas, abajures, lustres e colunas são “vestidas” por fitas de cetim, o que lhes confere uma textura brilhante. À venda na Dominici. (11) 3087 7788, www.dominici.com.br

www.kitchenaid.com.br


Mauro Kury

A CIDADE RECICLADA A iniciativa da Universidade Luterana do Brasil e do Movimento Ação por Canoas é admirável. Alunos e professores da cidade de Canoas (RS) uniram-se a 90 artesãos da cidade e criaram peças decorativas – 6 mil, ao todo, feitas a partir de materiais reciclados – para enfeitar alguns pontos da cidade durante as festas de fim de ano. Capitaneada pela designer Mana Bernardes, a campanha “Natal da Transformação” deu novo destino às 200 mil garrafas PET recolhidas em Canoas.

O VERMELHO E O NEGRO A linha Molinari Design, da Cristais São Marcos, é formada de cachepô, vaso e centro de mesa. Todas as peças são em vermelho, com listras e traços pretos – de diferentes formas, espessuras e comprimentos. Os cristais são do tipo Murano e podem ser um bom acompanhamento para salas de estar e halls de entrada 0800 35 36 00, www.cristaissaomarcos.com.br

ÁGUA A JATO O escritório de design Indio da Costa AUDT assina a linha Simetria, lançada pela Fabrimar. A coleção é composta de misturadores e torneiras para lavatório, chuveiro e ducha manual e higiênica. Os produtos vêm com arejador embutido, o que reduz o consumo de água. 0800 022 1362, www.fabrimar.com.br



JAMIE OLIVER AO PONTO O sucesso dos programas de Jamie Oliver chega mais uma vez à cozinha – e desta vez não são as suas celebradas receitas. O chef inglês assina a linha Barbecue, com produtos para churrasco. Além de acessórios – espátula, pinça, garfo e cooler –, há duas opções de churrasqueira, de 91x46 cm e 48x387 cm. A tampa arredondada permite o cozimento “no bafo”. A coleção é distribuída no Brasil pela Alimport. (11) 3392 2202, www.alimport.com.br

AO AR LIVRE Assinada por Francesco Rota, a coleção Aqua traz móveis da marca italiana Paola Lenti feitos para áreas ex­ternas. São 14 produtos, entre pol­tro­nas, sofás, cadeiras, chaises, espreguiçadeiras, mesas de apoio e pufes multiuso. As peças são em palha natural e Rope, uma corda mais resistente que a normal. 0800 178 444, www.regattatecidos.com.br

PARA TODA HORA Lançamento da Líder Interiores, a bandeja EXX pode ser usada em sofás, poltronas ou para um simples café da manhã na cama. Em forma de aparador, ela está disponível em imbuia, carvalho e madeira ebanizada. A EXX tem 76 cm de altura, 80 cm de largura e base em inox. 0800 283 1220, www.liderinteriores.com.br


Uma breve interrupção para criar o inesperado

www.firmacasa.com.br


LEGO PARA ADULTOS A ColorByNumbers, selo e blog de design do Reino Unido, criou uma pequena série de bolsas e carteiras usando LEGO. Cada produto é feito à mão, de acordo com o pedido do cliente. As três opções de cores – cinza, azul e verde – podem ser personalizadas com as peças de LEGO que acompanham os acessórios. À venda no site www.colorbynumbers.co.uk

LANÇAMENTOS JOSEPH & JOSEPH A Doural traz ao Brasil 35 lançamentos da Joseph & Joseph, marca inglesa de produtos para cozinha. A tábua de cortar tem uma bandeja na qual se podem colocar os restos de alimentos. A colher peneira pode ser usada para escorrer massas e frituras. E a faca Mesa Luna ajuda a picar as ervas e vegetais usados na refeição. (11) 3313 2883, www.doural.com.br

ESPREGUIÇADEIRA AO AR LIVRE A Futon Company lançou a Pool, espreguiçadeira com futon para ser usada em áreas externas. Ela possui estrutura em eucalipto tratado, que, segundo o fabricante, pode suportar as intempéries. O futon é elaborado com tecido impermeável, que também deve resistir às variações climáticas. A Pool permite três posições diferentes: poltrona, chaise e cama. (11) 3083 6212, www.futoncompany.com.br


DESIGN É O QUE FAZ SENTIDO.

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Ao lado, desenho do ventilador Spirit, de Guto Indio da Costa. Copiadores e se guidores não têm um modelo melhor. Abai xo, a poltrona Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha, que precisou de 50 anos para se tornar um bestseller, inclusive na Europa. Na foto, com capa desenhada pela Missoni. É ven dida no Brasil pela Futon Company e pro du zida e comercializada na Europa pela Objecto

CLÁSSICOS

CONTEMPORÂNEOS Destinados a desafiar o tempo... e os modismos. Entra em cena a nova geração do mobiliário que vem substituir as coleções criadas há quase 100 anos por grandes mestres, e hoje reconhecida como pertencente ao modernariato. Os exemplos do design criado no início do século XX, embora belos, de tão copiados já saturaram o mercado. Nós apostamos nos clássicos do nosso tempo Maria Helena Estrada

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Acima, cadeira Vermelha sendo trançada por artesão da Edra, Itália, a partir de um vídeo enviado pelos irmãos Campana, co mo substituição a um desenho técnico. Pen sa da inicialmente como chamariz para alavancar outras vendas, tornou-se logo um dos produtos mais vendidos da empresa

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Ao lado e abaixo, banqueta R540, criada pelo estúdio Fetiche Design, de Curitiba, que tem à frente Paulo Biacchi. A ideia veio da visão da Ponte Estaiada, em São Paulo, com suas curvas e cabos de sustentação tensionados. Dois anéis de metal cromado, soldados, formam o “X” e uma trama em espaguete plástico preenche a estrutura. O mais novo exemplo de mobiliário que pode durar no tempo. À venda na MiCasa

ARC DESIGN acredita em alguns nomes e peças que estão em evidência. Começamos, claro, por Sergio Rodrigues e a poltrona

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Saarinen,

Diz. Partindo de uma leve influência escandinava, Sergio

Bertoia, Le Cor-

soube criar um legítimo vocabulário brasileiro. Seu

busier, Mies van der

desenho atingiu a maturidade que o tempo concede e

Rohe, Breuer e outros passam por

a maestria de um talento, muitas vezes, declinado.

enormes abusos e perdem seu charme. Que repousem

Alargando horizontes encontramos Guto Indio da

em paz!

Costa, desenhista industrial no significado pleno da

Agora, novos clássicos estão surgindo no universo da

expressão. Seu ventilador Spirit traz um novo concei-

casa. E não apenas com produtos vindos de “fora fron-

to, que chegou para ficar mesmo que seus seguidores

teiras”. O Brasil, aquele que desenha com traço firme e

“inventem” variantes. Cada projeto do Estúdio Indio

original, já pode fazer parte do hall da fama.

da Costa é finalizado até o último detalhe, o que con-

Vamos apostar nos designers e produtos com poder de

tribui para seu sucesso e permanência no mercado.

longevidade?

Mas quais seriam as características ou requisitos para


Acima, Carlos Motta em sua cadeira Paulista, uma das primeiras e a mais famosa de sua coleção. Depois de ter sua produção suspensa, a Paulista volta agora ao mercado. Sem imitações à altura, é uma cadeira “passe partout”

que um produto não perca sua atualidade, para que não

nos anos 1950. Relegada durante anos, ressuscitada na

envelheça? Certamente o fato de não se “colar” ao já

década de 1980 pela Nucleon-8, esquecida novamente,

existente, de não perseguir tendências ou modismos.

hoje, moderníssima, faz parte do repertório internacio-

Todos os conhecidos “mestres do design” do século XX

nal, com direito a vestimenta “by Missoni”.

inovaram, não olharam para trás e trouxeram soluções

Olhando para a nova geração (ou não tão nova), encon-

tecnológicas ou formais sempre traduzindo ou anteci-

tramos o traço de potenciais candidatos a um posto de

pando o próprio tempo.

“clássico do design”, se atentarmos para a independên-

Abrir novos caminhos, mesmo sem romper completa-

cia de seus projetos. Falamos, entre outros, de Zanini

mente com o passado, é também requisito essencial.

de Zanine, da dupla Mendes & Hirth, de Marcelo

Carlos Motta, como exemplo, é um designer que sofreu

Rosenbaum, que desbrava um novo caminho, o projeto

inúmeras influências, mas soube imprimir sua marca,

do produto popular digno, e também dos curitibanos da

hoje facilmente reconhecível. A cadeira São Paulo, uma

Fetiche Design. São autores de objetos originais,

de suas primeiras criações, chegou para ficar. Outro

mesmo se alguns jovens profissionais ainda estejam

exemplo emblemático da vida de um objeto é a

em processo de amadurecimento de seu traço.

Paulistano, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, criada

Podemos apostar também em inovações que partem da 15 ARC DESIGN


Nesta página, cadeira Diz, de Sergio Rodrigues, produzida pela Lin Brasil. Outro produto brasileiro de larga aceitação na Europa. À venda na Dpot, SP. No alto da página ao lado, luminária Nevo, design do espanhol Arturo Al va rez, é produzida de forma artesanal com estrutura em malha de aço e corpo em silicone. À venda na Dominici

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À esquerda, S-Chair, design Tom Dixon, lançada com grande repercussão pela Cappelli ni em 1991, era também o máximo da extravagância. Hoje, já assimilada, tem gerado “fi lho tes” curvilíneos, alguns mais, outros me nos confiáveis. O original é, sem dúvida, um clássico. À direita, poltrona Sacco, design Gatti, Paolini e Teodoro (1967), produção Zanotta, Itália, distribuída no Brasil pela Firma Casa. Inimitável em sua perfeição, apesar dos inúmeros arremedos já realizados no Brasil

matéria e chegam à forma, como a luminária Nevo, de Arturo Alvarez e suas congêneres, que apostam na transparência do silicone e na leveza da estrutura. E quais seriam os designers internacionais, já famosos, capazes de “emplacar” um ou mais produtos entre os clássicos da passagem do século XX para o XXI? Certamente o eterno Starck, especialista em peças emblemáticas, Gatti, Paolino e Teodoro com a poltrona Sacco, esta também bastante maltratada pela popularização, Tom Dixon com sua escultural S-Chair, Ingo Maurer, Arik Levy e os adeptos dos resultados da prototipagem rápida. E não podemos esquecer nossa dupla brasileira/internacional, os irmãos Campana, que colocaram o Brasil no mapa global do design. Bem, ontem o mundo mudou. Agora é a nossa vez. ❉ 17 ARC DESIGN


À esquerda e acima, detalhes de dois diferentes parques temáticos em Malmo, criados pelas arquitetas paisagistas Karin Sjolin e Caroline Larson. Abaixo, Ride On, um dos clássicos produtos em madeira da empresa Brio. No pé da página, relógio Sunblock UV, com indicadores do clima, tem projeto e produção de Marika René

Se m e n T es

Su e c a s Criar suas sementinhas com toda a segurança. Foi este o tema da exposição e das palestras apresentadas no Museu da Casa Brasileira, mostrando o ní vel avançado a que chegaram o design e a tecnologia na Suécia para promover a excelência das condições de vida no paí s. E a Suécia tem orgulho deste papel pioneiro Maria Helena Estrada

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Abaixo, tradicional chinelo de feltro com numeração para crianças e adultos, design Pia Wallén. À direita, My Very First, bichinhos divertidos em tecido macio para as “sementinhas”, na nova coleção Brio

“Nós adaptamos o mundo dos objetos ao mundo das pessoas desde 1969”, afirma o estúdio Ergonomics, cujo trabalho eles definem como “a arte de alargar os limites do design por meio de um conhecimento profundo da ergonomia emocional, física e cognitiva”. Problemas básicos resolvidos, pesquisas e tecnologias de produção avançadas, a Suécia é um país que pode se dedicar a “estimular o prazer e a natural curiosidade das crianças”, como desejava a escritora e educadora Ellen Key. Mas com ênfase total na segurança, como provam os produtos e temas escolhidos para a mostra Swedish Seeds, que esteve no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, até janeiro deste ano. Convidadas pelo Swedish Institute (Si.) para conhecer esse universo, junto com Mara Gama iniciamos nosso roteiro em Estocolmo pela Design Torget. Mais do que uma loja especializada em produtos infantis (mas não apenas), ela é um conceito: introduz a cada semana novos itens enviados por designers conhecidos ou novatos, os quais são selecionados por um grupo de especialistas. Os produtos devem ser funcionais e inovadores, com um toque de humor... e inéditos. E eles incluem da divertida embalagem para uma banana a suportes para usar o computador na cama ou no colo.

Ao lado, In the Pocket Baby, cinto de segurança, design Camila Altéris e Fia Sjoestroem


Mariana Chama

Ao lado, detalhe da exposição no Museu da Casa Brasileira, com carrinho da empresa Brio em primeiro plano e a Pick Up, brinquedo com rodas, design Alfredo Haberli para a Offecct. Abaixo, o carregador de bebês com superconforto, inclusive apoio frontal para a cabeça, é um projeto de Hakon Bergkvist, da Ergonomidesign. No pé da página, Ruff, carneiro com estrutura metálica e grossos fios de algodão, instalado em um dos parques infantis, criação de Anita Oskarsson e Thomas Nordstroem

Próxima parada, a cidade de Malmo e seus parques temáticos. São 17, nesta pequena cidade, e cada um – com tema específico – mistura design e arte visando estimular a criatividade infantil. E todos são absolutamente seguros. Dentre as empresas suecas do segmento brinquedos, é mundialmente conhecida e emblemática a Brio, com 125 anos de existência, e famosa por seus produtos em madeira, e a mesma tônica... segurança. Hoje, além dos brinquedos, a Brio oferece os excelentes carrinhos de bebê, muitos desenvolvidos pela Ergonomidesign, além de móveis infantis. Mágicas foram duas visitas, à “Room for Children”, espaço planejado como um grande parque de diversões no prédio do Centro Cultural, destinado ao convívio das crianças com seus pais, ou acompanhantes. Primeiro cuidado: tira-se o sapato ao entrar, em respeito às crianças que “rolam” pelo chão. Elas estão livres no espaço, interagindo com os brinquedos.

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À esquerda e abaixo, Genotropin Pen, produto criado por Hans Himbert e Sofia Jacobson, da Ergono midesign, é uma capa divertida para injeções de medicamentos, que estimula a autoaplicação. Produção Pfizer

Magia maior, no entanto, que recomendamos a crianças e adultos quando em Estocolmo, o Junibacken, espaço/instalação criado pelo artista e cenógrafo Tor Svae. Entra-se no universo da escritora Astrid Lindgren, ídolo de todas as gerações, Monteiro Lobato sueca, mas com grandes doses da fantástica mitologia escandinava. Senta-se em um pequeno banco, o qual corre por trilhos e todas as histórias e paisagens vão surgindo, cenografadas, em tamanho natural. A viagem termina com a sensação de sairmos de um espelho mágico. Produzida pelo Instituto Sueco e a Svensk Form, organismos estatais, com curadoria de Margarita Bergfeldt Matiz, a exposição Swedish Seeds se insere em uma das principais temáticas do projeto contemporâneo, a que fala do design de serviços, portador de uma qualidade essencial – a de satisfazer uma necessidade e ter uma finalidade, seja ela objetiva ou subjetiva. ❉

Ao lado, Dream Bag, “tapetes” com almofadas, design Kasper Medin e Utrika Engberg para a empresa The Little Red Stuge


Pequenos Notáveis

Criado em 1962, o Peel foi produzido até 1965. Com seu pouco mais de 1,30 m de comprimento e 1 m de largura (e menos de 60 kg), o menor carro do mundo antecipou a preocupação ambiental. A proposta era a que hoje retorna com força nos novíssimos: elétrico e pequeno, sem emitir carbono e contribuir com engarrafamentos

Alguns especialistas projetam para cinco, outros para dez anos a adoção pelo mercado mundial do carro limpo, o veí culo da era da sustentabilidade. Menores (mais fáceis de estacionar), mais leves, econômicos, movidos a eletricidade, hí bridos (motor elétrico e a combustí vel), ou a hidrogênio, muitos já rodam em ruas das grandes metrópoles. Em comum, todos eles apresentam um grande desafio à indústria e seus designers: criar produtos mais caros, menos potentes e ostensivos e que abram caminho para um futuro em que a relação homem/carro se pautará mais pela razão do que pela emoção Elizabeth Lorenzotti 22 ARC DESIGN


NISSAN LEAF Totalmente elétrico e com emissão zero, atinge velocidade su perior a 160 km/h. A dianteira tem design elegante em formato V, com longos faróis inclinados para cima, projetados para dividir e redire cio nar com inteligência o fluxo de ar dos espelhos da porta. O es que ma reduz o ruído e a resistência do vento. As vendas começarão em 2012

PEUGEOT BB1 Na página ao lado, o conceito francês que combina a utilidade de um carro com a flexibilidade de um quadriciclo. Com 2,5 m de comprimento, consegue transportar quatro pessoas. As portas abrem ao contrário e a largura foi reduzida pela subs ti tui ção dos espelhos retrovisores laterais por câmeras

NISSAN LAND GLIDER Neste carro-conceito totalmente elétrico, o paralama ergonômico tem formato de avião, diminuindo a resistência ao ar, au men tando, assim, seu deslizamento. Compacto co mo as motocicletas, consegue, nas curvas, a in cli na ção de até 17 graus de sua carroceria. O sis tema de direção é sem fio. Anda não há data para comercialização

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RENAULT KANGOO BE BOP Z À esquerda, com motor projetado pela Renault-Nissan de 60 cv, o utilitário tem faróis de iodo, de baixo consumo. As baterias estão instaladas atrás do console e, para recarregá-las, é necessário colocar numa tomada residencial por um período de 6 a 8 horas

MERCEDES SMART FORTWO À direita, o Smart que chegou ao Brasil em 2009. Com seus 2,695 m de comprimento, transporta duas pessoas e é o carro movido a combustível que me nos polui no mundo: 116g de CO2 por quilômetro. O Smart foi criado por Nicolas Hayek, o mesmo inventor dos relógios de pulso Swatch. Ele queria fazer um carro pequeno, econômico, ambientalmente responsável e fácil de estacionar

CHRYSLER PEAPOD O Peapod, é feito de 95% de material reciclado e reciclável. Não passa de 40 km/h, e apesar de super compacto, tem espaço para quatro pessoas. A novidade é que pode ser ligado pelo iPhone e iPod, mas também existe a opção da chave normal. O carro foi lançado visando a nova categoria NEV (Neigh bor hood Electric Vehicles), com autonomia para andar até 48 km sem precisar recarregar a bateria

24 ARC DESIGN


Guy Spangenberg

TOYOTA FT EVII Com portas pantográficas, acabamento interno hi-tech e um painel de instrumentos que exclui o tradicional volante, é mais um carro-conceito. Tem uma es trutura interna com manetes e controles fixados por tubos de alumínio e com articulações sustentadas por cabos de aço lembrando um guidão de bicicleta antiga CITROEN C-ZERO À direita, fruto da parceria entre o grupo PSA Peugeot Citroën e a Mitsubishi, O C-Zero tem previsão de lançamento para o úl ti mo trimestre deste ano e já existe pré-venda na Eu ropa. Seu motor tem potência de 67 cv, as baterias le vam seis horas para carregar e, co mo todo elétrico, quando se dá a partida um bip avisa que está ligado

A que distância estamos do carro do futuro? Para os

Paulo Nakamura, do Centro Estilo Fiat América Latina,

representantes das indústrias e os designers, o desafio

acredita em uma grande ruptura. “Que não deve ser de

não é a tecnologia, mas os hábitos de consumo. O

design, mas de conceito. O usuário de hoje aceitaria um

carro “verde” é, antes de mais nada, desprovido de

carro do qual ele não teria o controle da direção, ou o

valores como status e poder, tradicionalmente traduzi-

status da propriedade? Um carro totalmente diferente

dos por tamanho e potência. “O motor é menor, os

do que se conhece, sem rodas, ou no qual ele andasse

pneus mais finos, o carro todo é, em geral, mais estrei-

de costas sem ver a pista, por exemplo?”

to”, diz Luiz Alberto Veiga, gerente executivo de Design & Package da Volkswagen.

CARROCERIA DE FIBRA AMAZÔNICA

O carro verde ainda não é uma realidade global, embo-

A resposta é que ainda não se mede o tempo das

ra caminhe para tal, principalmente com as pressões de

mudanças de comportamento, apenas se apontam as

legislações ambientais, como a da Comunidade Euro-

direções. E uma delas, certamente, é a sustentabilidade.

peia, que imporá penalidades financeiras em 2012 às

Esse desafio abrange também os novos materiais, e no

empresas cujas frotas de veículos emitam em média

Brasil já existem novidades. Em parceria com a

mais de 130 gramas de CO2 por quilômetro percorrido.

Volkswagen e a Universidade Estadual Paulista de 25 ARC DESIGN


TALENTO JOVEM DESENHA CARRO URBANO DE 2029 Como seria o carro urbano de 2029? As ideias de Thiago Carfi, um estudante de desenho industrial de 20 anos do IED (Instituto Europeu de Design), venceram a 11ª edição do Talento Volkswagen Design. Pediam-se projetos com um olhar sobre o futuro próximo, estimulando propostas de veículos que priorizem o prazer de dirigir e a minimização dos impactos ecológicos e sociais na produção e circulação dos veículos. O vencedor VW My tem 2,5 m de comprimento, duas portas e espaço para quatro passageiros. É

CHEVROLET VOLT Acima o Volt, prometido para 2011. Dois vincos formam uma faixa em baixo-relevo na área central do capô, e um spoiler empresta esportividade ao sedã na parte traseira. A plataforma E-Flex permite o uso de gasolina, etanol ou diesel e o carro atinge 160 km/h. A bateria pode ser recarregada em até três horas. O fabricante garante que o sistema não é afetado em ruas alagadas

econômico e com emissão zero de CO2, já que conta com os In-Wheel Electric Motors, os motores elétricos inseridos habilmente na largura da roda. “Assim, eu liberei mais espaço para o câmbio e o motor. O My é todo feito com tecBotucatu (Unesp), desenvolveu-se o uso da fibra de

nologia existente. A traseira é extensível, cresce

curauá, material duas vezes mais resistente do que a

para trás apertando-se um botão, para liberar o

fibra de vidro. A mais antiga fibra usada em trocas

porta-malas e obter um espaço equivalente a de

comerciais na Amazônia entre índios brasileiros e de

um sedã grande”, diz Thiago. “Desde o início

países vizinhos é utilizada hoje no teto e no tampão do

pensei na sustentabilidade na hora da produção,

porta-malas do Fox e no Polo Sedan.

um design simples, com menos peças.”

Outra barreira são os preços dos novos carros, que prometem uma economia de consumo de combustível a médio prazo, mas custam mais do que os standards do mercado. “Ideias extraordinárias ainda são inviáveis para os carros mais baratos”, afirma João Marcos Ramos, chefe de design da Ford para a América Latina. As contas pesam no bolso do consumidor médio. As versões híbridas, por exemplo, custam em média 30% a mais que os modelos tradicionais. Entre os exemplos das propostas para o grande públi-


RENAULT TWIZY Z. E. Concept Motorista e passageiro sentam-se um atrás do outro, neste ultracompacto Z.E (Zero de Emissões ) a ser produzido a partir de 2011, com 2,30 m de comprimento e 1,13 m de largura. O motor tem 20 cv e as baterias demoram três horas e meia para carregar. Segundo a Renaut, a capacidade de aceleração é comparável à de um veículo de duas rodas

HONDA FCX CLARITY À esquerda, o primeiro movido a hidrogênio, ganhador do World Green Car Award 2009. O sedã de três volumes e quatro portas tem 127 cv de potência e 160 km de velocidade máxima, sendo de duas a três vezes mais econômico que os movidos a ga solina, e uma vez e meia mais do que os carros híbridos

co, o Toyota Prius é o primeiro híbrido a ser vendido

cheia de exemplos de carros ‘limpos’ e bonitos”, afirma.

sob um anúncio de apelo popular, de massa. O carro, porém, não sai por menos de US$ 22 mil –, mais caro

TALENTO

que outros do mesmo porte e acabamento.

A preocupação com a sustentabilidade também tem

Entre os elétricos – uma tendência irreversível, mas

relação, é claro, com o modo de produção. Isso acon-

ainda incipiente – temos o sedã Volt, da GM, que custa

tece com o Smart ForTwo, da Mercedes-Benz, nas ruas

o mesmo que um Cadillac, US$ 40 mil. O elétrico i-MiEV

brasileiras desde 2009. Embora movido a combustível,

da Mitsubishi é vendido a US$ 46,7 mil.

foi incluído pela agência de proteção ambiental norte-

Além do preço, um dos principais entraves à populari-

americana (EPA) entre os dez mais econômicos, con-

zação do carro elétrico reside na percepção do consumi-

correndo com outros nove híbridos. Produzido na

dor. Segundo Paulo Nakamura, as pessoas ainda olham

cidade francesa de Hambach, a unidade é conhecida

para os elétricos com receio de perder tempo com a

como ambientalmente correta, onde o design dos pro-

recarga das baterias. As diferenças técnicas também

cessos produtivos diminui ao mínimo o esforço de

influenciam na maneira de usar o carro, o que o torna

transporte e logística. E a fábrica respeita o ambiente

menos atraente – algo que o desenho não consegue

nos processos de pintura e do conceito de gerencia-

compensar. “Mas não há dúvida que a indústria está

mento de energia. ❉ 27 ARC DESIGN


A Sテグ PAULO QUE FICA

28 ARC DESIGN


A capital paulista inaugura a série que vai refletir sobre as transformações pelas quais as cidades-sede passarão em função da Copa do Mundo de 2014. São Paulo começa este ano a passar por intervenções em escala urbana sem antecedentes. Destacamos aqui o que já entrou em cronograma de entrega em

Lourenço Gimenes

duas áreas-chave: transporte e cultura. Nossa pergunta é: o que de fato muda para seus habitantes?

Proposta de reconfiguração urbana do entorno da Estação Barra Funda. A criação do arquiteto Lourenço Gimenes traduz a preocupação de urbanistas com o desenho da cidade que começa a receber dezenas de novas estações de passageiros

29 ARC DESIGN


© Herzog & De Meuron

O complexo projetado por Jacques Herzog e Pierre de Meuron terá 95 mil metros quadrados, abrigará um teatro de dança e ópera com 1.750 lugares, outro para peças e recitais com 600 lugares e uma sala experimental de 400

Ana Weiss

30 ARC DESIGN

São Paulo nunca mais será a mesma. E as certezas

primeira vez, terá o que se pode chamar de uma rede

param por aí. Apesar do recorde de grandes projetos

de transporte sobre trilhos.

em escala urbana aprovados, são muitas as lacunas

O avanço é enorme. Historicamente, as linhas de trem

entre as peças do enorme quebra-cabeças que é essa

e metrô da capital se desenvolvem de maneira radial,

metrópole – cidade que concentra capital humano,

acompanhando o crescimento descontrolado para a pe-

tecnológico econômico e intelectual como nenhuma

riferia da cidade, dando suporte às distâncias entre o

outra na América do Sul e acumula desordens e con-

centro provedor e as margens superpovoadas. “Pla-

trastes urbanos que desafiam diariamente a tolerân-

nejar o transporte urbano é também planejar a habita-

cia de seus habitantes.

ção e todo o tipo de ocupação a que ele serve e estimu-

Depois de passar mais de 50 anos no papel e entrar

la”, observa o arquiteto e urbanista Lourenço Gimenes.

para a história como cenário de uma das piores tragé-

“A Linha Amarela é fundamental para a cidade, mas é

dias do metrô brasileiro, a Linha 4, ou Linha Amarela,

um grande desperdício criar todos esses pontos de liga-

coloca em funcionamento em março deste ano seu pri-

ção sobre trilhos sem pensar no seu entorno.”

meiro trecho de 3,6 quilômetros, que liga as Avenidas

Autor de tese de doutorado a esse respeito, Gimenes

Paulista e Faria Lima. Ela vai transportar sozinha cerca

enxerga, nessa ausência de projeto, os riscos do suba-

de um milhão de pessoas por dia. Mas seu papel no

proveitamento de obras com grande potencial organi-

desenho da cidade supera o número. Na sua extensão

zador. Em sua tese (pela FAU-USP), ele mostra como

final (que vai da Estação Luz até a Vila Sônia), a Linha

isso ocorreu com uma das estações potencialmente

4 cria uma rota de integração com as demais extensões

articuladoras da cidade, a Barra Funda.

metroviárias e com a Linha 7 da CPTM. A cidade, pela

A capital paulista é a primeira do grupo das cidades que


Acima, ponte do Rodoanel, sobre a represa de Guarapiranga, liga a estrada de Parelheiros (no alto da foto) à de Itapecerica. Os 57 km do trecho sul do Ro doanel devem reduzir substancialmente o tráfego de caminhões na Marginal Pinheiros e na Avenida dos Bandeirantes

Ao lado, traçado da Linha 17 – Ouro, do metrô, que vai conectar o aeroporto de Congonhas ao Estádio do Morumbi e deve ficar pronta até dezembro de 2010. Acima, ilustração de uma possível estação da linha

Linhas/Trechos em operação Linhas/Trechos em construção LINHA 17 – OURO Trecho 1: São Judas – Congonhas Trecho 2: Congonhas – Morumbi (CPTM) Trecho 3: Morumbi (CPTM) – Morumbi (Metrô) Trecho 4: Jabaquara – Brooklin Paulista

31 ARC DESIGN


receberão as partidas da Copa de 2014 a já ter o cro-

Em seu blog, a urbanista e ex-secretária nacional de

nograma de sua fatia do PAC da Mobilidade Urbana.

Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Raquel

Entre as confirmações está a entrega até dezembro

Rolnik, descreve os trilhos aéreos como “novos minho-

deste ano da primeira etapa da Linha Ouro do Metrô,

cões”. Para ela, o monotrilho é um sistema interessan-

que vai ligar o Aeroporto de Congonhas ao Estádio do

te para atravessar áreas de parques, protegidas ou

Morumbi, num traçado de 21,5 quilômetros.

turísticas, por causar pouquíssima interferência em

A Linha 2 – Verde do Metrô – que hoje vai da Vila Mada-

nível e não provocar cortes nem aterros. Mas questio-

lena até o Alto do Ipiranga – será estendida até Cidade

na: “usar o monotrilho na cidade de São Paulo, só para

Tiradentes, na zona leste da capital. O prolongamento

não brigar com o carro? A questão do corredor exclu-

ocorrerá em três fases e traz para a cidade um novo

sivo é você optar definitivamente que a prioridade

conceito de metrô, o monotrilho.

nessa via é do transporte coletivo, e não dos carros,

O monotrilho funciona com tração elétrica, sobre

que são prejudicados e têm de se acomodar”.

pneus. O veículo foi projetado para circular em uma

As obras de infraestrutura ligadas à mobilidade urba-

via elevada entre 12 metros e 15 metros de altura,

na serão provavelmente o grande eixo transformador

dependendo do trecho. Uma das defesas do sistema

da cidade. Mas, a exemplo da guinada urbana de

é a redução da necessidade de desapropriações. Mais

Barcelona por conta dos Jogos Olímpicos de 1992, a

atraente, entretanto, é a possibilidade de utilização

revitalização de bairros centrais e a estruturação de

das vias existentes, sem interferir no fluxo de carros.

uma rede de serviços são ações que, articuladas,

Por outro lado, uma das críticas mais comuns é a

podem ter um valor mais perene para a cidade do que

interferência na paisagem.

as reformas pontuais.

Castro Mello Arquitetos

32 ARC DESIGN


Brasil Arquitetura

Acima e abaixo, a Praça das Artes, que vai abrigar anexos do Teatro Municipal, suas escolas de música e dança e espaços de convivência e ensaio. Na página ao lado, projeto de novo estádio do Corinthians, de Eduardo Castro Mello

Brasil Arquitetura

33 ARC DESIGN


Acima, representação de uma das possíveis fachadas do Estádio do Morumbi após reforma para atender às exigências da FIFA para a Copa de 2014. O projeto é do escritório do arquiteto Ruy Ohtake. Abaixo, o novo layout dos trens da CPTM

Gustavo Dittrichi

O Projeto Nova Luz é o mais ousado, adiantado e provavelmente mais extensivo entre os programas locais. A reforma de toda a área da mais antiga estação de São Paulo vai ocupar 225 hectares da região que ficou conhecida como Cracolândia. Entre os muitos projetos culturais destaca-se o teatro entregue aos arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Ainda na região central, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, do Brasil Arquitetura, assinam um projeto imenso que transformará a Quadra 27 em um complexo cultural, pertencente ao Teatro Municipal. “Existem iniciativas interessantes, mas ainda de maneira isolada”, observa Ferraz. “Ainda não é possível enxergar qual é o modelo de urbanização para esta região da cidade.” Na verdade, o que falta para São Paulo é um projeto de cidade. ❉

34 ARC DESIGN


DP_mesa Dobrou_ARCDESIGN.ai

1

24/2/10

3:47 PM


Existe “solução verde” para o trânsito nas grandes cidades? O escritório Indio da Costa AUDT responde a essa pergunta com o Projeto TEX, pensado na medida certa para o século XXI – e sem utopias, segundo Guto Indio da Costa, que nos explica no texto a seguir o que é esse novo conceito de sistema de transporte urbano Da Redação 36 ARC DESIGN


ÔNIBUS SOBRE TRILHOS

As atividades do design industrial ainda são encaradas

Nestes casos, o processo de design pode trazer solu-

por muitos como a interferência estética em produtos

ções criativas, alternativas viáveis para os reais pro-

industrializados. Pouco se sabe que, na verdade, é na

blemas da civilização moderna, tais como transporte,

concepção dos produtos que o design pode exercer de

moradia, energia, saúde, tratamento de lixo, esgoto,

forma completa seu potencial inovador, com propostas

enfim, problemas comuns a todas as megalópoles de

estruturalmente diferentes de produtos e sistemas.

crescimento desenfreado neste século XXI. 37 ARC DESIGN


O Sistema de Transporte Expresso, ou simplesmente TEX, se desloca sobre uma canaleta enterrada no asfalto a 1 metro de profundidade. Ele se eleva de maneira a trafegar acima da altura dos carros, evitando os congestionamentos

38 ARC DESIGN

Uma dessas soluções é o projeto desenvolvido pela

de propulsão à cabine de passageiros, que pode ser ele-

equipe multidisciplinar da Indio da Costa AUDT

vada à cerca de 3 m de altura. Isso faz com que a cabine

(Arquitetura, Urbanismo, Design e Transportes) que,

passe por cima do trânsito, em via segregada, ocupando

com uma visão ampla, vai do micro ao macro, e vem

apenas a largura de uma ciclovia. A canaleta é protegida

dedicando cada vez mais tempo para o desenvolvimen-

à medida que o veículo se desloca para evitar acúmulo

to de soluções para problemas urbanos.

de lixo e, ao mesmo tempo, permitir tráfego por cima

Empenhados em desenvolver um novo sistema alter-

dela nos cruzamentos (sistema semelhante aos usados

nativo de transporte público urbano, criaram o TEX,

em alguns veículos leves sobre trilhos ( VLTs).

um nome ainda preliminar que abrevia Transporte

Uma composição bi-articulada, em um sistema moni-

Expresso. O conceito é de um ônibus-motocicleta, um

torado, pode vir a transportar 20 mil passageiros por

veículo que ocupa apenas 80 cm de largura no asfalto,

hora, por sentido, ou seja, uma capacidade semelhante

como uma motocicleta, mas carrega uma cabine eleva-

à de um VLT ou de um corredor de ônibus segregado

da com um número aproximado de 200 passageiros,

(BrT – Bus Rapid Transit).

como um ônibus articulado.

A grande vantagem do sistema é sua facilidade de

Como funciona? O veículo se movimenta ao longo de

implantação nos centros urbanos existentes, já engar-

uma estreita canaleta embutida no asfalto, com apro-

rafados e densamente ocupados. Por utilizar uma faixa

ximadamente 1 m de profundidade, a qual contém o

tão estreita da pista, é possível criar corredores de ôni-

conjunto de trilhos e abriga todo o sistema de tração e

bus em praticamente todas as avenidas, sem que estes

suspensão do veículo, tais como os motores elétricos,

prejudiquem o trânsito já existente, além de exigir uma

as rodas, os truques, etc. Uma estrutura metálica pan-

obra muito mais rápida e de menor custo.

tográfica, de apenas 80 cm de largura, liga esse sistema

Estima-se que o custo total de implantação do sistema


Projeto do designer Guto Indio da Costa, o novo veículo poderá transportar (em uma velocidade de até 60 km/h) 20 mil pessoas por hora, capacidade próxima a de um Veículo Leve sobre Trilhos (VTL)

O esquema de elevação do projeto é resolvido por uma estrutura pantográfica delgada, responsável pela suspensão das cabines a até 3 metros do solo

seja de aproximadamente R$ 15 milhões por quilômetro, valor que equivale a um décimo do investimento de implantação de uma linha de metrô, por exemplo. O sistema traz ainda, em sua implantação, a fantástica vantagem de prescindir de desapropriações, uma vez que trafega pelas avenidas existentes. Por comparação, estima-se que o T5 (novo corredor de ônibus que ligará a Barra à Penha, no Rio de Janeiro) gastará mais de R$ 200 milhões em desapropriações, ou seja, mais de 20% do investimento total da obra. Em outro exemplo infeliz, na Avenida Fernando Ferrari na Cidade de Vitória, ES, a obra de duplicação da avenida está há meses paralisada por

fornecer, sem custo, os componentes do protótipo.

conta de ações na justiça questionando a desapropriação.

Além disso, algumas cidades já se candidataram a

Passada a etapa de projeto preliminar e de registro

sediar o trecho-piloto. Para tal, estão criando um grupo

da propriedade intelectual (o sistema tem patentes

multidisciplinar para estudar a implantação do sistema

de invenção deferidas em mais de 35 países), a Indio

e definir onde prioritariamente poderiam ser implanta-

da Cos­ta AUDT está montando um consórcio para a

dos. Se tudo der certo, é possível que em alguns anos

fa­bricação do protótipo. Várias empresas assinaram

estejamos viajando de TEX por aí, e assim reduzindo

cartas de intenção prontificando-se a colaborar com

o tempo perdido, a energia desperdiçada e a poluição

o desenvolvimento do projeto. Além de disponibilizar

emitida pelos intermináveis e crescentes engarrafamen-

suas equipes técnicas, essas empresas também vão

tos dos nossos centros urbanos. i 39 ARC DESIGN


VEM AÍ

Lojas, galerias, restaurantes, hotéis, museus, estúdios, escolas Exclusivo: história do design em São Paulo, os principais personagens, eventos e as marcas de destaque Roteiros Especiais



René Lacoste Japan faz parte da coleção Croc Mythology, que celebra, em nove pares de tênis, mitos envolvendo crocodilos do mundo inteiro. Feito de cetim e estampa digital da pele do animal, o modelo Ibiza Amazônia homenageia um mito brasileiro disseminado pelos índios Karajás. www.lacoste.com.br

O aproveitamento máximo de materiais está na moda. As ideias para as próximas estações trazem em comum a criatividade também no seu modo de produção. Nas passarelas e nas ruas, o bacana é tingir com água de reuso,apreveitar peças desgastadas e ter a natureza como tema e não como preço de

Marcelo Soubhia

vestir o que é bom e bonito

Em 2008, durante a reforma do showroom de sua grife, Rogério Lima reparou que os sacos de cimento usados na obra ficaram dias sob sol e chuva sem sofrer desgaste algum. Surgiu daí a ideia de combinar esse papelão resistente com materiais tradicionais como lona e metais, produto lançado pela Cavalera. www.rogerio-lima.com

João Pimenta tingiu malhas, moletons e linhos que receberam graus crescentes de pigmentação de anilina. Utilizando a mesma água, chegou a uma cartela degradê de âmbar, mel, caramelo, tabaco e camelo. Amassado e tingido, o linho ganhou aparência similar ao couro. www.joaopimenta.com.br

Das sobras de pó de café que iriam para o lixo, a empresa taiwanesa SINGTEX produz fios, e dos fios, tecidos. A tecnologia desenvolvida pelo diretor geral, Jason Chen, deu origem às roupas S.Café. Mais de 30 marcas no mundo vendem produtos da S.Café. No Brasil, é possível comprar tecidos diretamente da fábrica. www.singtex.com

Harrison Yuan


Levi’s Imprint muda com os movimentos do corpo. Objetos carregados nos bolsos das calças também influenciam no processo de desgaste, que pode ser retardado com lavagem em água fria, ou acelerado, em água quente. www.levi.com.br

Agência Fotosite

O tricô deixa de ser exclusividade dos acessórios para ser manufa­ tura das peças principais das novas coleções do próximo in­verno. Na edição de janeiro da São Paulo Fashion Week, a Colcci apresentou versões costuradas à mão, como ponchos e blusões. www.colcci.com.br Leila Hafzi é a criadora da marca que leva o seu nome e tem se destacado por estampas pintadas à mão com tinta natural. Na empresa situada no Nepal, a estilista trabalha com tecidos orgânicos. A venda no Brasil é feita por pedido. melberg@leilahafzi.com www.leila-hafzi.com

O novo modelo Fios, da Ciao Mao, foi inspirado na ideia de Lina Bo Bardi de que a obra só está concluída quando o público usufrui dela à sua maneira. O solado é de couro e ferragens articuladas permitem diversas opções de amarração para os fios de borracha, formando desenhos tridimensionais sobre os pés. www.ciaomaobrasil.com.br

43 ARC DESIGN


As escamas das carpas, os lírios e as típicas estampas de lenços foram algumas das inspirações de Adriana Barra para a sua nova coleção. Conhecida por seus longos multicoloridos, a estilista cria no computador as estampas de todos os seus acessórios e peças de decoração. www.adrianabarra.com.br

Alexandre Herchcovitch mesclou a moda praia da marca com lingerie e roupa de mergulho na sua estreia como estilista da Rosa Chá. Nos macacões fusô de recorte justo, ele aplicou rendas pretas, neoprene, costuras evidentes e estampas aquareladas, inspiradas no reflexo do sol na água. Na cartela escolhida para o inverno de 2010, Herchcovitch incluiu rosa chá, laranja, nude e preto. www.rosacha.com.br

PACT

A PACT produz “roupas de baixo” com 95% de algodão orgânico e 5% de elastano. As tintas são livres de metais. A marca tem vendas online e o produto é embalado e etiquetado com material especial, que pode ir direto para a composteira. www.wearpact.com

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arc_design_ 21 X 28_nov_2009.pdf 29/10/2009 18:27:30

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Divulgação Alessi

O IdeaPad U1 é o novo computador híbrido da Lenovo. Híbrido porque ele funciona como um laptop tradicional ou como uma tablet, que pode ser acessado ao toque de uma caneta. A ideia é combinar a versatilidade do notebook à interatividade da mesa digitalizadora. www.lenovo.com

Ela grava vídeos em alta definição, tira fotos de 5 megapixels e cabe no seu bolso. Também reduz o tremor das mãos e reconhece rostos. Mas o carro-chefe da Bloggie, e mesmo a nova câmera da Sony, é uma lente de 360° de alcance. Isso quer dizer que você pode andar pelo parque e gravar tudo ao seu redor. www.sony.com

A parceria entre os irmãos Campana e a Alessi traz uma releitura da linha Blow Up, o seu primeiro trabalho conjunto, lançado em 2004. O aço inox da versão anterior dá lugar ao bambu, material de que são feitos a mesa de apoio, o revisteiro e as duas fruteiras. www.benedixt.com.br

Moti Fis hbai

O ebook QUE, da Plastic Logic, tem uma tela de plás­ tico em cores no lugar das convencionais em vi­­dro, com imagens em preto e branco. Além de baixar jor­nais e livros virtuais, o leitor poderá

O protótipo dos +/- Hot Plates, desenvolvidos pelos designers Ami Drach e Dov Ganchrow, leva um circuito elétrico, gravado nos pratos de cerâmica. As filigranas de aquecedores são ligadas à tomada, mantendo a comida quente. A intenção era fundir um material ancestral – a cerâmica – às tecnologias contemporâneas. amidov.com

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“A ESCOLHA ACESSíVEL COM ALTA QUALIDADE E ATENDIMENTO INCOMPARÁVEL”

w w w. m a r c e n a r i a s a p e l l i . c o m . b r - c o n t a t o @ m a r c e n a r i a s a p e l l i . c o m . b r - ( 1 1 ) 5 8 4 1 2 0 4 4


Mais do que um hotel design – e é puro design e automação – o CitizenM de Amsterdam é um hotel conceito. Novíssimo. Poupa em tradicionais atendimentos e suas mesuras para oferecer ótimos preços... e muitas atrações

UM HOTEL PARA MODERNOS Maria Helena Estrada Chega-se ao CitizenM e, com o número da reserva, tudo começa a acontecer. Não há balcão de check-in nem funcionários para as boas-vindas. Digita-se o código de reserva, a cor e intensidade de luz preferida e também a temperatura no quarto, escolhe-se o tipo de música e a hora de acordar. Pronto. Sua “chave” sai da mesma máquina. O quarto é o grande espetáculo, graças ao seu projeto de interiores. Tudo à vista, protegido apenas por divisões circulares de vidro. Metade da área para o que seria o banheiro, metade para a cama! Ao todo, 215 quartos e Acima, balcão de “auto check-in” onde o hóspede insere seus dados, customiza seu quarto e retira sua chave (cartão). No alto, uma das inúmeras salas de estar do hotel, com mobiliário Vitra

48 ARC DESIGN

860 travesseiros! Bem visíveis, os dizeres “divirta-se em uma cama tão grande quanto


Denise Andrade

Nesta página, o banheiro integrado, com destaque para a área do chuveiro que só funciona quando a porta de vidro é hermeticamente fe chada. As cores da iluminação em LED podem ser escolhidas pelo usuário. Ao fundo, a grande cama “tão grande quanto seus sonhos” e repleta de travesseiros


À esquerda, cantina 24 horas no longo andar térreo, onde se pode servir sozinho de uma vasta escolha de sanduíches, saladas, sushis, edições limitadas de bebidas, ou es quentar seu próprio prato. Abaixo, detalhe do quarto e controle-remoto “faz-tudo” desen volvido pela Philips, pelo qual se programa desde as cores da ilu mi na ção, música am biente, temperatura e até bem-humorados toques de despertar

seus sonhos, embora não tão extravagante quanto seus sonhos”. São assim os novos hotéis da rede, com pitadas de humor, sofisticação e modernidade. E tudo funciona no quarto acionando-se um novo e moderníssimo controle remoto. No mesmo espírito lúdico são os produtos da marca, dos adesivos “snoozers are loosers” para dar energia aos dorminhocos, a protetores labiais e outras inutilidades úteis. Hall de entrada, lounge, workroom com wi-fi, espaço relax e tudo o mais, mobiliado com peças Vitra e Charles Eames. Ainda no térreo, o bar–cafeteria–restaurante aberto 24 horas. O serviço? Apenas o caixa e o cafezinho espresso. Se você for um preguiçoso comodista, evite o CitizenM. Ninguém carregará suas malas ou servirá café na cama. Mas jovens de todo o mundo e modernos antenados já garantem o sucesso deste novo conceito de viajar e se hospedar. ❉


À esquerda, kids-corner com as cadeiras Panton Junior (1959) e Elephant (1945), design Charles e Ray Eames em laminado curvado, lan çado re centemente em edição limitada pela Vitra. Acima, sala de es tar e, abaixo, recanto para leitura também mobiliado com clássicos da empresa


A Finlândia tem os pés fincados em uma tradição artesanal rigorosa, ligada aos

E D A D I T N E D I E O DESENH

materiais mais conhecidos de sua produ-

52 ARC DESIGN

ção: a madeira e o vidro. Embora “low profile” por seu modo de vida, o design finlandês transmite signos fortes e coloca-se à frente das tendências mais atualizadas na vanguarda em termos de sus tentabilidade, defendendo, no lugar da re ciclagem, a criação de objetos duráveis, resistentes ao uso e aos modismos Ana Weiss

Ao lado, vaso de Alvar Aalto, o mais famoso criador do design clássico finlandês, produzido pela Iittala. Nas demais imagens da página, peças em vidro de Harri Koskinen, importante nome da nova geração. Também produzidos pela Iittala, mostram a sutileza da cartela de cores da empresa


A

formação

da

identidade do design finlandês em 200 objetos? De 10 de março até 2

À esquerda, carrinho de chá, design Alvar Aalto, produzido em bétula pela Artek, empresa representada no Brasil pela Firma Casa. Fato significativo: o fornecedor da madeira é o mesmo nos últimos 50 anos. À direita, Diagonal, design Studio o4i para a Martela. Sofá e divisor de espaços, seus elementos podem ser combinados de centenas de maneiras diferentes

de maio, o Instituto Tomie Ohtake de São Paulo recebe a mostra “Estrelas do Design Finlandês”, sob cinco perspectivas formais diferentes, ordenadas por uma cronologia de forte comprometimento histórico. O recorte organizado pelo Museu do Design de Helsinque traz criações fundamentais na história da visualidade finlandesa. Caso das obras do pintor Akseli GallenKallela e do arquiteto Eliel Saarinen (1873-1950), responsáveis pela nacionalização da art nouveau. Uma das grandes questões da organização é justamente a insistência na diferenciação do desenho finlandês, que para os menos atentos se confunde com uma suposta “estética escandinava”, inexistente no design. A curadora Marianne Aav, diretora do Design Museum, desenhou a mostra partindo da base. Alvar Aalto, que combinou forma e função desde a arquitetura até seus menores objetos de vidro, ganha destaque no conjunto. Também reafirmam a modernidade finlandesa as criações artesanais de Tapio Wirkkala e Kaj Franck, considerado um dos precursores da reciclagem na produção. A exposição destaca, ainda, o trabalho de Timo Sarpaneva, Ilmari Tapiovaara, Maija Isola, Oiva Toikka e Eero Aarnio. De produção mais recente, os trabalhos de Maija Louekari, Harri Koskinen e Ilkka Suppanen. A mostra dá atenção também às empresas produtoras do desenho finlandês. Entre elas, Arábia, Artek, Iittala, Fiskars, Marimekko, Nokia, Vivero, Martela, Asko, Vuokko e Metso. E aí fica claro que a identidade do desenho finlandês transcende suas influências e se apresenta nítida e forte de

pon ta

a

ponta: da criação às prateleiras do mercado

in ter -

nacional. ❉

Acima, cadeira da série Compos, da empresa Piiroinen. Seu assento 100% bio degradável é composto por fibra de linho e bagaço de fibras naturais. À esquerda, Tale Stool, de Ilmari Tapiovaara, criada em 1953. A banqueta empilhável tem assento em laminado de bétula e pés na mesma madeira ou em carvalho maciço. Produção Tapiovaara design

53 ARC DESIGN


Na foto, mercado de frutas e feirinha de artesanato em frente ao porto, que é ligado à praça central de Helsinque. A área concentra o Design District e as mais importantes lojas de móveis, além da famosa Marimekko (tecidos e roupas), e se estende por todos os quarteirões adjacentes

54 ARC DESIGN


O RIGOR E A FORÇA DE UM POVO DE ALMA DELICADA Maria Helena Estrada

Estive na Finlândia durante a Design Week e a feira Habitare 09, cujo lema era “Ahead!” (em frente), a convite da Embaixada no Brasil. E me encantou o que vi. A delicadeza da paisagem, das pessoas, dos objetos, clássicos ou contemporâneos. Um país ainda pouco povoado, com todo seu território coberto de árvores – a bétula, ma dei ra qua se branca, uniforme, que permitiu a Alvar Aalto suas criações. Minha impressão é a de um país de grande sutileza e força. Invadido por longos anos pela Rússia e pela Suécia, soube criar uma identidade – escandinava se olhamos distraidamente, mas realmente finlandesa para o olhar mais aguçado. Mestres do passado, ou jo vens designers, em todos o rigor e o desejo de criar objetos sem desperdício, sem maneirismos e com uma forte inclusão do artesanato. Em meio a um programa que reuniu diversos jornalistas europeus e também ARC DESIGN, houve um jantar na Iittala, indústria de cristais. Éramos 80 convidados em uma grande mesa retangular, no salão de exposições da fábrica. Chamou atenção a sobriedade da iluminação – havia só velas, mas nenhum grande candelabro. Apenas pequenas pe ças, baixas, em cristal de cores tênues. Um fato banal, mas que define um pouco da alma delicada deste povo. Valoriza-se, no design, seu importante patrimônio e a nova geração de vanguarda. Um aspecto relevante, que será visto nos seminários programados para o mês de março, é o da orientação edu cacional, multidisciplinar, nas escolas de design. Fundamental ouvi-los. 55 ARC DESIGN


FORAM QUASE BRASÍLIAS Em forma de ferradura, bumerangue, organizada em comunidades rurais ou com edifícios de 300 metros. Brasília poderia ter hoje qualquer uma dessas feições se, no último instante, Lucio Costa não tivesse aparecido com a promissora estrutura em forma de avião que projetaria internacionalmente o sentido desenvolvimentista de Brasília Ana Weiss Imagens cedidas pela autora da pesquisa

56 ARC DESIGN


Havia por trás da proposta dos irmãos Roberto uma premissa social, que desejava opor Brasília às capitais erguidas sob o ideário militar, de “ostentação de poder”, como Washington, Paris e Madrid. O plano incluía estudo ecológico do solo, prospecção do desenvolvimento econômico e social da futura cidade. A projeção previa uma elasticidade para até 100% sem prejuízo do equilibrado tecido urbano da cidade

57 ARC DESIGN


Segundo lugar no concurso, a proposta de Boruch Milman e equipe (abaixo) tirava partido da topografia como organizadora do traçado urbano. Um único eixo ligaria os setores industrial e governamental. No pé da página, a proposta de Rino Levi

Por dez minutos, “a maior contribuição urbanística do século XXI” não morreu no papel. Era final de uma tarde de março de 1957, último dos 120 dias estipulados para elaboração e entrega dos projetos para o concurso do plano piloto da capital do Brasil. O arquiteto Lucio Costa por pouco não perdeu o prazo. Estacionando às pressas na porta do Ministério da Educação e Cultura no Centro do Rio, acompanhado das filhas Maria Elisa e Helena, entregou a dez minutos do encerramento do expediente sua proposta, desenhada a nanquim e lápis de cor sobre papel A4. O memorial descritivo, colado sobre cartolina, começava com um pedido de desculpas pela simplicidade da apresentação. Do lado de dentro do Ministério – edifício projetado pelo próprio Lucio Costa com Le Corbusier –, uma comissão de cinco arquitetos estrangeiros e Oscar Niemeyer (representando a Companhia Urbanizadora

58 ARC DESIGN


da Nova Capital, Novacap) analisavam os outros planos, assinados por arquitetos de trabalhos bastante distintos como Rino Levi, Vilanova Artigas e Jorge Wilheim. Em comum, as pranchas apresentavam grande influência corbusiana, imbuída do lema desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek. Seriam 50 anos em bem menos de cinco: um outono depois da escolha do último projeto recebido, a estrutura metropolitana de Lucio Costa marcava os 5.850 quilômetros quadrados do Centro-oeste brasileiro reservados por Café Filho para receber Brasília. Em abril de 1960, a Novacap contabilizava 360.000 metros quadrados de construções concluídas, mais de 106.000 em fase final de execução e 37.000 em andamento. Essas propostas, que por dez minutos poderiam ter definido a Brasília de hoje, se espalharam por diferentes arquivos. Algumas delas se perderam ou foram

Acima, a cidade compacta e ordenada em núcleos que ficou conhecida pela ou sa dia dos arranha-céus. Abaixo, simulação em 3D do que seriam as torres propostas por Rino Levi. Projeto pretende levar ao cinema as possi bilidades descartadas pelo júri internacional do concurso de 1957

Carlos Balbi

59 ARC DESIGN


Acima e abaixo, a apresentação de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi ficou com o quinto lugar da seleção com uma organização quase rural da ca pital brasileira. Inteiro horizontal, o projeto previa a distribuição da po pu la ção em dois sistemas concêntricos: dos pequenos grupos en vol vidos em uma grande organização social

encontradas em péssimo estado de conservação. Em um esforço de anos, a arquiteta Aline Moraes Costa reuniu as 26 concorrentes para a sua dissertação de mestrado, que sai este ano em livro pela Alameda Editorial. Uma das conclusões da pesquisadora foi o traço comum da arquitetura racionalista em quase todos os projetos. Um traço desconectado, porém, das discussões internacionais naquele momento. “A situação de embriaguez causada pelo ideário desenvolvimentista da época favorecia uma visão conformista do pensamento urbano e fez com que os arquitetos se sentissem despreocupados em atualizar-se frente às polêmicas contemporâneas sobre o moderno e sua relação com a natureza, a função e os objetivos do urbanismo”, avalia a arquiteta. Talvez por esta razão, o segundo colocado do concurso repetia a estrutura em forma de cruz, um desenho mais rígido e geométrico que a nave de Lucio Costa, mas que

60 ARC DESIGN


O desenho de Henrique Mindlin e Giancarlo Palanti acom pa nhava a margem da represa e propunha um eixo leste-oeste e outro nortesul, Um citurão verde teria a função de controlar o crescimento periférico da ca pital

igualmente pregava a simetria e a linearidade e previa

e foi entregue devidamente acompanhada pelas solu-

a ocupação monumental do terreno pelos edifícios

ções técnicas. Em vez de seguir o traçado horizontal da

públicos. O plano piloto assinado por Boruch Milman,

cidade, Levi queria a habitação resolvida por edifícios

João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves tinha

de 300 metros de altura. As torres, enfileiradas, abriga-

como princípio orientador a correlação entre as zonas

riam praças, creches e outros espaços de convivência.

residenciais e os demais setores de trabalho, outro

Os elevadores menores funcionariam como ruas e, os

ponto comum com Lucio Costa. “Os autores considera-

maiores, como avenidas verticais.

ram prioridade o fato da cidade vir a ser uma grande

No projeto do arquiteto, os órgãos do governo ficariam

capital e, para isso, determinaram um desenvolvimen-

com os andares térreos. E foi nesse ponto que a pro-

to linear da área urbana. Próximo ao lago estaria o dis-

posta incomodou o júri, desejoso do destaque impera-

trito governamental, um retângulo alongado, com o

tivo da arquitetura para os edifícios que, anos depois,

complexo de edifícios oficiais ao centro caracterizados

viriam a ofuscar o traçado urbano de Lucio Costa, um

pela monumentalidade”, descreve a autora.

grande palco para a arquitetura estrelar de Niemeyer. Traçado que um funcionário que estava no prédio no

AS TORRES BRASILIANAS DE RINO LEVI

dia em que Lucio Costa e família entregaram a propos-

Ao lado dos irmãos Maurício e Marcelo Roberto, Rino

ta – descreveu como “um rabisco”. “Era um rabisco e

Levi ficou com a terceira colocação do concurso. A sua,

pulsava”, publicou anos depois o poeta e ex-colega de

aliás, é uma das propostas mais ousadas e futuristas –

Ministério, Carlos Drummond de Andrade. ❉ 61 ARC DESIGN


aproxima estudantes de design dos artesãos, convida à troca de experiências acadêmicas e profissionais e ainda gera produtos comercialmente viáveis Fabricio Andrade

A MÃO DUPLA DO DESIGN

StraaT, o programa de intercâmbio que

O projeto StraaT tem rendido bons frutos à Tok&Stok. Coordenado pela designer Silvia Sasaoka, o programa de intercâmbio entre alunos de design estrangeiros e brasileiros leva os futuros profissionais às fábricas e aos artesãos – ao final da cadeia produtiva, que fabrica as peças que eles, designers, conceberam. “É uma forma de aproximar o designer da indústria, de quem torna as suas ideias reais”, diz Ademir Bueno, gerente de design e tendências da Tok&Stok. O StraaT (rua, em holandês) começou em 2004, e a primeira parceria com a Tok&Stok veio três anos depois. O estudante brasileiro Takeshi Sumi, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da USP, e o holandês Dries van Wagenberg, da Design Academy, de Eindhoven, passaram seis semanas numa oficina de bambu em Cotia, no interior do estado de São Paulo. O resultado do trabalho dos dois alunos foi o cabide StraaT Bambu, que venceu, em novembro de 2008, o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira na categoria Utensílios. A peça está à venda nas lojas da rede. Tão importante quanto a viabilidade comercial dos produtos do StraaT é a criação colaborativa que ele instiga: o encontro de estudantes de backgrounds culturais únicos e formações acadêmicas distintas num ambiente igualmente alheio. Diz Sasaoka: “os alunos ficam hospedados na casa do artesão, comem com ele, participam do seu dia a dia.” E também caminham pelo chão de fábrica, espreitam a rotina dos operários e funcionários. “O maior desafio não é cultural ou linguístico. É a criação, é saber discutir e ceder quando preciso. Os alunos têm de chegar a um consenso estético”, afirma a designer brasileira. A última edição desse cadinho do design é o StraaT Cerâmica. Em março de 2008, João Parenti (FAU), Márcia Gervastock (Belas Artes – SP) e Lucas Van Vugt (Design Academy – Holanda) desenvolveram uma

62 ARC DESIGN


linha de cerâmica faiança a partir da vivência na indústria Porto Brasil, instalada em Porto Ferreira, a 230 km de São Paulo. Uma mesa-redonda e uma exposição, ambas no Museu da Casa Brasileira, seguiram-se à concepção das peças – as quais, mais de um ano depois, ganhariam as prateleiras da Tok&Stok pela coleção Refresh. A simplicidade das linhas reflete a incontornável adequação ao mercado, mas é também emblemática da relevância de outros elementos intrínsecos ao design. No caso, a criação participativa – e a sustentabilidade. Os moldes foram construídos de modo a ser reaproveitados: o açucareiro, por exemplo, é feito a partir da matriz que engendra a tigela. As coleções do StraaT são uma prova de que, no design, a atenção à forma – quando pensada de maneira inteligente – é tão pertinente quanto as etapas de seu processo de fabricação, do início ao fim. ❉

Acima, o aluno brasileiro Takeshi Sumi (esq.) e o holandês Dries van Wagenberg na oficina de Kotybambu, em Cotia, onde projetaram o cabide StraaT Bambu, premiado pelo Museu da Casa Brasileira em 2008

Nas duas páginas, peças da linha Refresh, o resultado comercial do StraaT Cerâmica. Os estudantes têm de superar as diferenças para que se chegue ao produto final, ao “consenso estético”, como diz Silvia Sasaoka, criadora do projeto. No alto da página ao lado, moldes da fábrica do StraaT cerâmica, em Porto Brasil

63 ARC DESIGN



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TM © 1929 FIFA

COPAS DO MUNDO EM CARTAZ O cartaz durante mais de 100 anos foi o suporte que melhor sintetizou as tendências artísticas da criação gráfica mundial. A partir do ano 2000 isso começa a mudar. A tecnologia em si e a internet em particular abrem um novíssimo campo de divulgação e experimentação. Outras formas de comunicação artística surgem. Mas o cartaz como grande representação sintética de uma ideia ou de um projeto não morreu. Ele está aí para traduzir em imagens toda uma história de significados, no papel ou no formato eletrônico das mídias digitais

Jair de Souza A exemplo dos Jogos Olímpicos, a FIFA inicia em 1930 a edição dos cartazes da Copa. Embora a maioria seja anônima, e não todos de qualidade invejável, são retratos dos momentos políticos nos diversos países. A coleção guardada pela FIFA mostra que os cartazes assinados são poucos, e entre eles o de Miró de 1982 e o de Desmé de 1938. O primeiro, em 1930, Foi nos anos 1930 que a FIFA deu início à sua produção de cartazes, precisamente na primeira Copa, disputada no Uru guai, onde já se fazia valer a rivalidade histórica contra o futebol argentino. Verticalíssimo, este cartaz é obra característica da Art Déco, estilo gráfico dominante na época, mas realizada de maneira simples, sem a sofisticação dos célebres cartazes europeus do mesmo período

traz a primeira Copa disputada no Uruguai, em um clima de guerra com a Argentina. Em 1934, o pôster da Itália tem forte componente político e reflete um certo rigor em sintonia com as ideias de força e progresso fascistas comandados por Mussolini. Abraçando a mesma tônica, o cartaz francês de 1938 foi escolhido numa espécie de disputa entre três renomados artistas gráficos e

A partir da Copa de 1954 o mundo deu um basta definitivo a uma certa estética de inspiração fascista. O belo pôster suíço da página ao lado traduz, em seu primitivismo, uma vontade comum, o êxtase coletivo e máximo do futebol que é o momento do gol. Na peça, ele aparece pelo olhar perplexo do goleiro, uma metáfora do sentimento de uma geração que, passados nove anos, ainda não havia compreendido totalmente a loucura que foi a Segunda Guerra Mundial

expressa claramente a visão mundial diante da opressão totalitária nazi-fascista. Não escapa dessa mesma estética o cartaz brasileiro da Copa do Mundo de 1950. Este, embora com mais movimento, e ainda assim, apresenta uma certa influência da violenta estética do pôster francês de 1938. A partir da Copa de 1954 o mundo dá um basta definitivo à


ARC DESIGN

67

TM © 1953 FIFA


TM © 1938 FIFA

TM © 1933 FIFA

À direita, o pôster da Itália de 1934 se enquadra em um ri gor característico das ideias de força e progresso fascistas comandadas por Musso li ni

1938 FIFA TM

1933 FIFA TM

Na sequência, o cartaz fran cês de 1938 que foi escolhido nu ma espécie de disputa en tre três renomados ar tis tas gráficos e expressa cla ra mente a tentação mundial diante da opressão tota litá ria nazi-fascista

TM © 1949 FIFA

Abaixo, Copa do Mundo no Brasil, 1950. O pôster brasileiro, embora com mais movimento, ainda apresenta ressonâncias da estética do pôster francês de 1938

estética marcada pela brutalidade de inspiração nacional fascista. O belo pôster suíço, quase primitivo, é o primeiro a valorizar o momento mais importante do futebol, o gol – visto através do olhar perplexo do goleiro. Um olhar que parece aquele de toda uma geração, passados nove anos, ainda sem compreender a loucura que foi a Segunda Guerra.

© 1949 FIFA TM

A Inglaterra apresentou, em 1966, um cartaz limpo, bem diagramado, mas com pouco impacto e sem uma ideia ou conceito especial, apenas colocando em cena o simpático leãozinho inglês, mascote da Copa, chutando a bola em direção ao título. Muito pouco para o excelente design daquele país. Em 1970, temos o primeiro grande pôster das Copas, não digo o melhor, mas o primeiro a tomar uma posição clara, sem narratividade, simbolismos vários, ou metáfora visual, assumindo como o grande símbolo apenas a bola como uma explosão de seus gomos, como forma perfeita e total. Olhando fixamente para 68 ARC DESIGN


TM © 1990 FIFA

Acima, pôster para a Copa de 1962 no Chile. Preguiçoso no conceito e na formalização, confunde a leitura: o que seria? A bola saindo da Terra? A bola como um satélite da Terra? Não seria melhor ter feito o contrário, a Terra satelitezada pelo planeta bola de futebol? Na sequência, construção gráfica esdrúxula e primária lembra a Itália de Mussolini e faz referências ao universo dos gladiadores: violência, morte, circo para o povo. Esta visão do “futebol-força”, construída a partir de 1966, em oposição ao bicampeão futebol-arte brasileiro, se reflete nesta arena, lugar de enfrentamento dos países com suas bandeiras

TM © 1986 FIFA © ANNIE LEIBOVITZ 1986 / © FIFA 1986 TM

© 1990 FONDAZIONE PALAZZO ALBIZZINI ‘‘COLLEZIONE BURRI’’ / FIFA TM

© 1962 FIFA TM

TM © 1962 FIFA

Abaixo, México, 1986. Este estranho cartaz de índole turístico-publicitária, erra no foco mostrando a sombra de uma figura olímpica(!) grega projetada nas colunas da civilização asteca. Uma confusão geral

esse cartaz, vejo também uma referência sutil aos

equipe peruana para perder por 6x0 e, dessa forma,

cinco continentes representados pelo gomo central.

tirar o Brasil da final. Enfim, essa Copa em que os mili-

Mas esse cartaz traz também outras preciosidades

tares, literalmente, jogaram pesado, produziu um car-

como o tom rosa desafiando suavemente um esporte

taz que, a meu ver, é um enorme ato falho gráfico.

ainda eminentemente masculino, além de não fazer

Apesar de não termos obtido a permissão de publicar a

nenhuma menção nem ao gramado nem às cores do

imagem, não dá para não falar do cartaz da Copa de

país-sede, o México.

1982, pois é uma obra de arte criada pelo artista catalão

O pôster da Alemanha de 1974 é uma pintura clássica,

Joan Miró, um ano antes da sua morte. Ressaltando a

que traduz a força e a energia do futebol realçadas pelo

liberdade de pensamento, foi uma importante opção

fundo preto. Mas tem alguma coisa nele que me inco-

dos espanhóis na construção da imagem daquele país,

moda e me faz lembrar dos antigos cartazes violentos

que dessa forma enfatizava para o mundo a vocação da

de antes da Segunda Guerra. Me incomoda também

Espanha para a arte. Uma dádiva para o futebol.

uma espécie de máscara sinistra, no lugar do rosto do

Em 1986, pela segunda vez, em apenas 16 anos, o

jogador. A Alemanha tinha sediado, dois anos antes, as

México é sede de uma Copa do Mundo em meio a uma

Olimpíadas com perfeição tecnológica e trágico desfe-

série de indagações sobre as jogadas entre políticos e

cho com o atentado terrorista à delegação de Israel.

dirigentes da FIFA, na época comandada pelo brasileiro

A Copa de 1978, realizada durante a ditadura militar na

João Havelange.

Argentina, traz estranhas lembranças: a Argentina, pela

Outro cartaz que merecia ter sido reprovado é o da

ação de seus militares, foi acusada de ter subornado a

Copa realizada nos Estados Unidos, país onde 80% da 69 ARC DESIGN


© 1969 FIFA TM

© 1969 FIFA

TM


© 1997 FIFA TM

© 1976 AFA / FIFA TM

© 1997 FIFA

TM

© 1976 AFA/FIFA

TM

Na página ao lado, o que considero o primeiro grande pôster das Co pas, o primeiro a tomar uma posição clara, sem narratividade, simbolismo, ou metáfora visual, assumindo como grande símbolo apenas a bola e a explosão de seus gomos, uma forma perfeita e total. A grande amarração do cartaz é sua maravilhosa tipografia MEXICO, traduzindo tudo o que se imagina de esporte: movimento, emoção e beleza. Abaixo, obra de experimentalismo gráfico, este cartaz tem alma, personalidade e reflete o que de fato aconteceu durante a Copa na França de 1998, uma grande festa esportiva

Acima, pôster da Copa da Argentina, 1978. Graficamente falando – e precisa? –, o cartaz emprega a técnica pop em conjunção com retículas ampliadas. Ato falho ou denúncia ao revés, é difícil não ver um jovem, com as mãos ao alto, sendo preso

população não tinha ideia do que era “soccer” (futebol

da cor e da linguagem gráfica dessas duas culturas.

em “americano”). Sinceramente, esse cartaz de 1994 me

A copa de 2006 foi a consagração do futebol globaliza-

faz rir. Parece tudo, menos cartaz de futebol.

do com a Alemanha investindo na maior operação de

Em 1998, o pôster da França traz algumas marcas do

“nation branding” já empreendida. O país deu um ba-

grafismo francês mas sem traduzir, pra valer, o que há

nho de receptividade, qualidade, conforto e alegria,

de melhor por lá: as cores, a festa, a intervenção e tipo-

desfazendo anos de péssima imagem criada pelo

grafia manual e o experimentalismo gráfico. Mas traduz

nazismo. A marca dessa Copa, que buscou traduzir um

o que aconteceu: uma festa do futebol.

clima de paz e congraçamento de culturas e etnias, foi

O trabalho realizado pela Coreia em 2002 tenta trans-

transposta para o cartaz, no entanto, de maneira fria e

por para o formato do cartaz os princípios gráficos da

cerebral, com um acabamento gráfico sem a sofistica-

marca dessa Copa, combinando uma estética assimi-

ção do design alemão. O conceito traduz e alarga a

lável também pelos chineses que dividiram com a

pegada geral levando o futebol literalmente para o

Coreia a sede da competição: o gesto do artista e sua

espaço cósmico, mais do que global, sideral. A bola é

cultura, traduzindo o esporte por meio do movimento,

formada por estrelas/diamantes. 71 ARC DESIGN


TM

© 2007 FIFA

TM

© 2001 FIFA TM

© 2001 FIFA

Acima, uma vontade de mostrar o futebol como arte, improviso e alegria. Pode-se até achá-lo primitivo, mas esse cartaz tem o mérito de tentar traduzir os valores que pre-

© 2004 FIFA

TM

zamos no futebol (Coreia, 2002)

Este lindo cartaz da Copa de 2010, na África, eleito pelo público via internet, abre uma porta positiva para dias melhores. Foi desenhado pelo Switch Design Group, África do Sul, e mostra o jogador africano Eto’o, da Inter de Milão, confundindo-se com o mapa do continente

2010. O cartaz africano tem uma solução gráfica sintética, com conceito muito forte e significativo, podendo claramente ser compreendido e admirado por todo o planeta. A figura de © 2004 FIFA TM

um jogador africano de cabeça erguida, sonhando/admirando a bola de futebol sob fundo amarelo, consegue de fato transcender a África do Sul, país-sede da Copa, e representar A consagração do futebol globalizado e o clima de paz e união da Copa de 2006 foram transpostos para o cartaz de maneira fria e cerebral, com um acabamento gráfico sem a sofisticação do design alemão. O conceito leva o futebol literalmente para o espaço sideral

dessa maneira, com as cores de todos os países e formas variadas, a imensidão e emoção africana. Esse lindo cartaz da Copa de 2010 na África, eleito por voto popular pela internet, abre uma porta positiva para dias melhores. A FIFA acertou em cheio. Daqui a quatro anos será nossa a vez. ❉


2010 8a edição

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Nani Góes

Acima, o Museu Oscar Niemeyer, que abrigará a grande mostra. Na página ao lado, a rua XV de Novembro, extensa área central de pedes tres, um dos endereços da Bienal, que pretende a a interatividade com a população

BIENAL BRASILEIRA DE DESIGN 2010

Div

ulg

a

A grande Bienal, iniciada em 2006 com muitos

A terceira Bienal de Design será realizada em Curitiba,

tropeços e desencontradas ambições, consoli-

de 14 de setembro a 31 de outubro de 2010. Uma escolha que vem reforçar a imagem de Curitiba como capi-

da-se nesta terceira edição e promete envolver

tal brasileira do design.

toda a sua cidade-sede, deixando o elitismo de

Nas palavras de Ana Brum, coordenadora de projetos

lado. O design visto como ferramenta demo-

do Centro de Design do Paraná, “por 48 dias esperamos que 250 mil pessoas confiram na Bienal o melhor do de-

crática a serviço da qualidade de vida instiga-

da sustentabilidade no desenvolvimento de produtos”.

serve “este tal” de design

A Bienal 2010 é uma iniciativa do Ministério do DesenDa Redação

74 ARC DESIGN

sign brasileiro, assim como reflitam sobre a importância

rá habitantes e visitantes a saber para o que

volvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), do

o çã

/Ip

pu

c


Instituto Municipal de Turismo de Curitiba

Ministério da Cultura (MinC) e do Movimento Brasil

e internacional para mostrar o grande potencial criati-

Competitivo (MBC), cujos membros delegados formam

vo e econômico, bem como a capacidade e a competiti-

o Comitê de Orientação Estratégica. Sua organização é

vidade que as empresas brasileiras estão buscando por

realizada pelo Centro de Design do Paraná e pela

meio de seus produtos e serviços”, afirma.

Federação das Indústrias do Estado do Paraná, e seus

“Este será o ano!”, comemora Ronaldo Duschenes, vi-

representantes são os curadores adjuntos.

ce-presidente da Federação das Indústrias do Paraná, a

Adélia Borges, curadora geral desta edição que tem

FIEP, que será a principal – porém, não única – sede do

como tema “Design, Inovação e Sustentabilidade”, de-

evento de alcance nacional. Para o designer, “Curitiba é

seja transcender a amostragem da produção recente e

conhecida como cidade ecológica por suas inovações

propor reflexões. “Li outro dia em um jornal que não

no controle de enchentes, além da implantação de rede

temos no Brasil produtos sustentáveis. Isto é um

de parques e lagoas, uma cidade que se autodesenha –

absurdo. O brasileiro é ligado à sustentabilidade mes-

nada mais natural que sediar a mais importante expo-

mo antes do tema virar moda. Precisamos capitalizar

sição de design do País. Como designer e empresário,

mais essa realidade e é o que pretendemos fazer com

tenho a firme convicção de que os três temas que a nor-

esse recorte da exposição.” A questão será também en-

tearão, design, inovação e sustentabilidade, fundir-se-ão

fatizada com o tema central da Bienal refletido em mos-

em um só, pois não sobrevivem isoladamente. A per-

tras, fóruns, workshops e ações interativas que se

cepção falsa de que podemos desenvolver produtos e

espalharão por toda a cidade.

somente ao final do processo de criação chamarmos o

Letícia Castro Gaziri, diretora de projetos do Centro de

designer para dar uma ‘cara bonitinha’ vai rapidamente

Design do Paraná, aponta o retorno de mídia que o

desaparecendo. E design não sustentável hoje é um ato

evento proporciona como um estímulo à participação

de temeridade. Assim, nesta Bienal o brado inovador e

das empresas. “O objetivo é atrair a imprensa nacional

cidadão será dado, e a cidade respirará design!” ❉



Roma Editora, Projetos de Marketing Ltda.

Apoio Institucional:

Diretoria Maria Helena Estrada Cristiano Barata Fernanda Sarmento

REDAÇÃO Chefe de Redação Ana Weiss Diretora Editora Maria Helena Estrada Redator Fabricio Andrade

ARC DESIGN Rua Lisboa, 493 CEP 05413 000 São Paulo – SP Telefones Tronco-chave: + 55 (11) 2808 6000 Fax: + 55 (11) 2808 6026

Revisora Deborah Peleias

ARTE Projeto Gráfico Fernanda Sarmento

Editora mh@arcdesign.com.br

Editora de Arte Betina Hakim

Redação editora@arcdesign.com.br redacao@arcdesign.com.br

Designer Mariana Amaral

Arte arte@arcdesign.com.br

Participaram desta edição Elizabeth Lorenzotti Isabela Gaia Jair de Souza Mauricio Colombo Comercial e Marketing Cristiano Barata

Marketing cbarata@arcdesign.com.br Publicidade publi@arcdesign.com.br Assinaturas assinatura@arcdesign.com.br

Circulação e Assinaturas Rita Cuzzuol

Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DE SIGN para assuntos internacionais

Pré-impressão Cantadori Impressão IBEP Distribuição Nacional Fernando Chinaglia Distribuidora S/A

Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos.

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