ano oito | nº 48 | julho / agosto 2015 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
Foto de Luciana Tancredo – Parque Provincial Aconcágua (Argentina)
www.plurale.com.br
Cordilheira dos Andes: cinco parques Artigos inéditos incríveis
Lixo zero, educação e case sustentável
E ditorial
Luciana Tancredo visitou cinco parques argentinos ao lado do marido José Luiz Farani; no Rio, a repórter Lou Fernandes esteve na inauguração da casa do movimento Awaken Love com a filha Anabela e o repórter-mirim Felipe Araripe conferiu o lançamento do terceiro livro infantil de Míriam Leitão
Cordilheira dos Andes, terceiro setor, artigos inéditos e muito mais Por Sônia Araripe, Editora de Plurale
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emos alguns bons motivos para comemorar às vésperas do aniversário de oito anos de Plurale. Voltamos a ser citados e lembrados como um Jornalismo independente na área de Sustentabilidade no Prêmio Comunique-se 2015. Apenas termos sido votados e estarmos em meio a um time de supercraques no tema já é, por si só, uma grande vitória. Também temos confirmado presença em eventos relevantes, compartilhando Plurale em revista com cada vez um número maior de leitores. Continuamos doando, como voluntários, uma boa quantidade de cada tiragem para bibliotecas públicas, de centros de pesquisa, cursos voltados para alunos de comunidades e ONGs, sempre atentos a fazer chegar a informação para quem mais precisa dela. Nesta edição, homenageamos nossos repórteres e colaboradores com a publicação de fotos de alguns em ação. A editora de Fotografia Luciana Tancredo esteve ao longo de 20 dias visitando cinco parques argentinos, localizados na Cordilheira dos Andes. Ela dá dicas de viagem e também apresenta toda a beleza desta região que mantém preservados inscrições rupestres e o imponente Cerro Aconcágua.
No Rio, Lou Fernandes nos apresenta a nova sede do movimento Awaken Love e estivemos ainda no lançamento do terceiro livro infantil da jornalista Míriam Leitão, que fala de discriminação racial para os bem pequenos. Felipe Araripe leu o livro e resenhou especialmente para os leitores de Plurale. Beatriz Coelho Silva conta também sobre o seu novo livro sobre negros e judeus na Praça Onze do início do século 20. Não é só. Hélio Rocha revela como movimentos sociais estão conseguindo barrar a especulação imobiliária e manter vivos os parques mineiros. Apresentamos o Movimento Lixo Zero, que procura reduzir desperdícios em restaurantes cariocas; Elis Monteiro apresenta uma nova start-up e Lília Gianotti esteve no Instituto JCA, em Niterói, que tem foco na profissionalização de jovens. Apresentamos também artigos inéditos de Alexandra Lichtenberg, Luiz Fernando Bello, Marcos Rechtman e Rudolf Höhn. Esta edição também traz colunas de Isabel Capaverde (Cinema Verde) e Isabella Araripe (Ecoturismo e Pelas empresas). Na seção Frases, a nossa homenagem ao sempre relevante educador e psicoterapeuta Içami Tiba, que partiu recentemente. Nícia Ribas apresenta o esforço de pais de Manaus por um ensino de maior qualidade e temos ainda estudo de caso do setor de seguros. Tudo isso e muito mais. Boa leitura!
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Case sustentável: Seguradora Líder
Cordilheira dos Andes: cinco parques espetaculares na Argentina, Por Luciana Tancredo
12.
divulgação
DIVULGAÇÃO/ SEGURADORA LÍDER
Luciana Tancredo
Conte xto
Por Alexandra Lichtenberg, Luiz Fernando Bello, Marcos Rechtman e Rudolf Höhn
Caminho das pedras para startups, Por Elis Monteiro
30 Espaços públicos em Minas, Por Hélio Rocha
32 Awaken Love abre casa no Rio, Por Lou Fernandes
22.
divulgação
Movimento Lixo zero conscientiza funcionários de restaurantes no Rio para evitar desperdício
38 Ecoturismo,
Por Isabella Araripe
56 Cinema Verde,
Por Isabel Capaverde
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Artigos inéditos:
PLURALE EM REVISTA | Janeiro Julho / Agosto / Fevereiro 2015 2015
divulgação
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Instituto JCA ajuda a transformar a vida de jovens, Por Lília Gianotti
DEPOIS DE GANHAR UM PRÊMIO COMO ESSE, A GENTE ATÉ RESPIRA ALIVIADO. AFINAL, SÃO TONELADAS DE CO2 A MENOS NA ATMOSFERA.
Por Isabella Araripe e Hélio Rocha
A Fetranspor foi a vencedora da terceira edição do Prêmio FIRJAN de Ação Ambiental, com o Programa Economizar – Selo Verde, em parceria com o CONPET/Petrobras. O programa venceu na categoria Gestão de Gases de Efeito Estufa e Eficiência Energética depois de reduzir a emissão de CO2 na atmosfera consideravelmente. Para nós, isso é motivo de muito orgulho. Porque mais importante que o prêmio é deixar a cidade e o meio ambiente melhores a cada dia. Sempre pensando no futuro e, também, no agora.
www.fetranspor.com.br
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Quem faz
Cartas
Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br
Parabéns pelo trabalho de vocês. ” Roberto Saturnino Braga, escritor e exsenador, por e-mail
Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Jurandir Santos e Julio Baptista Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Alexandra Lichtemberg, A. Maciel (Acnur Brasil), Beatriz Coelho Silva, Elis Monteiro, Elton Alisson (Agência Fapesp/ UFSCar), Felipe Araripe, Fernanda Cubaco (Movimento Lixo Zero), Hélio Rocha, Lou Fernandes - Prem Indira, Luiz Fernando Bello, Marcos Rechtman, Patrícia Fachin e Leslie Chaves (IHU On-Line)
Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint
Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
“Gostaríamos de agradecer imensamente à editora de Plurale em Revista, Sônia Araripe, e à repórter Nícia Ribas pela maravilhosa matéria sobre o projeto Ninho de Livros na Edição 47. A publicação ficou ótima, tivemos um retorno muito positivo dos leitores e ganhamos ainda mais visibilidade! É um espaço muito importante para nós e ficamos muito felizes com o destaque que tivemos na edição! Parabéns pelo capricho de Plurale em Revista! ” Myrtes Mattos e Renata Tasca, sócias da Satrápia, Projeto Ninho de Leitura, Rio de Janeiro, RJ, por e-mail “Fico grato pela reportagem de Raquel Ribeiro na Edição 47 de Plurale em revista sobre o nosso projeto de Educação Ambiental. Levarei as revistas recebidas para as bibliotecas das escolas e divulgarei também em mais alguns locais. Desejo sorte em todos os sentidos quanto a comunicação relacionada a questões ambientais e que Plurale em revista continue incentivando todos a procurar uma vida melhor. ” Cláudio Loes, Especialista em Educação Ambiental, Francisco Beltrão (PR), por e-mail “Parabéns à toda Equipe de Plurale em Revista pela belíssima edição 47. Muito boa entrevista do Serôa da Motta (pelo Portal IHU On-Line) e a grave e muito bem executadas matérias das águas brasileiras e sobre a biodiversidade da Amazônia, por Isabella Araripe e Hélio Rocha. Também a simpática notícia do projeto Ninho dos Livros, por Nícia Ribas, e a reportagem sobre o Butão, o sonho de viver num local assim, por Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi. Leio a Plurale em papel, e cada vez gosto mais.
“É com imensa satisfação que nós do Instituto Ronald McDonald agradecemos a veiculação da campanha McDia Feliz na edição 47 da Plurale em Revista. O McDia Feliz, há 27 anos, possibilita melhores condições de tratamento à adolescentes e crianças com câncer, através do apoio de toda a sociedade brasileira para uma causa tão nobre. Todos os recursos arrecadados são investidos em programas e projetos que possibilitam aumentos reais das chances de cura do câncer infantil e juvenil. Nossa expectativa é atingir mais um recorde com a campanha em 2015, e este marco será possível graças à visibilidade da ação nos meios de comunicação, com a Plurale em Revista. Com meus melhores cumprimentos, Chico Neves, Superintendente do Instituto Ronald McDonald “Muito bom o artigo de Rafaela Brito na Edição 47 de Plurale em revista, “Como está a nossa casa?”. Penso que a encíclica foi “inspirada” no momento certo e pela pessoa certa, por isso tem sensibilizado tantas pessoas! Acredito também, que se tornou um poderoso instrumento de transformação de pensamentos e atitudes, afinal, o meio ambiente jamais clamou tanto por misericórdia como nos dias atuais. E ninguém melhor para sensibilizar a sociedade mundial sobre a importância da preservação e conservação da “nossa casa” que o “líder religioso”, Papa Francisco, que, para mim, se tornou líder, não apenas da Igreja Católica, mas de todos os cristãos. Enfim, somos todos irmãos, é necessário esquecermos “nomenclaturas religiosas” e nos unir numa só fé e num só amor em favor do meio ambiente. Rafaela, parabéns por ajudar a difundir essa linda mensagem de amor em defesa do “nosso lar”! Ana Paula Souza, Gestora de Produção, Belo Horizonte (MG), pelo Facebook “Excelente o artigo de Rafaela Brito sobre a recente Encíclica escrita pelo Papa Francisco sobre o meio-ambiente. Independente de religião ou crença, vale a pena a leitura!” Carol Marques Medrado Damasceno, Servidora da Justiça Federal, Belém (PA), pelo Facebook “Recomendo a leitura do artigo “Como está a nossa casa”, de Rafaela Brito em Plurale. É sobre o nosso povo - a humanidade!” Ana Paula Oliveira, estudante de Biologia da UNB, Brasília (DF), pelo Facebook
SAVE THE DATE
06 de Outubro de 2015, São Paulo, Brasil 2o LATAM
ESG 2015 Ta k i n g E S G i n t o A c c o u n t
Reserve em sua agenda o dia 06 de outubro de 2015, quando será realizado, pela segunda vez no Brasil, o 2º Latam ESG 2015 – Taking ESG into Account – Podemos evoluir para uma Economia Sustentável? Tradicionalmente ocorrido na Europa, este evento é uma realização conjunta do EFFAS – The European Federation of Financial Analysts Societies e da APIMEC – Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais. Dirigido a profissionais de investimento, o 2º Latam ESG 2015 – Taking ESG into Account – Podemos evoluir para uma Economia Sustentável? reunirá, em São Paulo, renomados palestrantes do Brasil e do exterior e discutirá a adoção dos fatores ESGs aos fundamentos econômicos e financeiros na análise de investimentos. Aguarde! Em breve lhe enviaremos informações detalhadas e procedimentos para inscrição.
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Organização
Entrevista
Iêdo Bezerra de Sá: especialista em Caatinga
“Desmatamento silencioso da Caatinga tem intensificado a desertificação do semiárido brasileiro” “O semiárido todo tem um milhão de km², então cerca de 10% a 15% dessa área está numa situação de severidade muito grande”, adverte o pesquisador da Embrapa falando sobre o desmatamento da Caatinga 8
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2015
Por Patrícia Fachin e Leslie Chaves, da IHU On-Line
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ais de 50% das áreas do semiárido brasileiro já “estão com processo de desertificação acentuado”, e cerca de 10 a 15% do território enfrenta uma situação de desertificação severa. Para se ter uma ideia, a soma das extensões de terras degradadas no Ceará, na Bahia e em Pernambuco equivale a “63 mil km²” de desertificação, informa Iêdo Bezerra de Sá, na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por telefone. O pesquisador explica que a desertificação é um fenômeno de degradação ambiental que acontece particularmente em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, a exemplo do Nordeste e de parte do Sudeste brasileiro. De acordo com o engenheiro florestal, no Brasil a desertificação no semiárido tem se agravado por causa do desmatamento na Caatinga. “Ao desmatar a Caatinga, os solos ficam completamente expostos a todas as intempéries”, frisa. Além do desmatamento, Bezerra de Sá enfatiza que a irregularidade das chuvas contribui para que a degradação seja ainda mais acentuada em algumas regiões. “Há locais, por exemplo, aqui onde estou agora, em Petrolina — que é no extremo oeste de Pernambuco —, em que chove 450 a 500 milímetros por ano. O grande problema é essa irregularidade das chuvas: elas caem de forma muito concentrada, chove muito em pouco tempo, ou seja, os 500 milímetros se concentram em apenas dois, três meses e, às vezes, 20%, 30% da chuva do ano cai em apenas um dia”. Ele informa ainda que o maior polo de produção de gesso do país, localizado em Araripe, no Ceará, responsável pela produção de 95% de todo o gesso produzido no país, utiliza energia de biomassa, mas aproximadamente “50% dessa energia é oriunda de desmatamentos ilegais e clandestinos. O governo sabe disso, as autoridades sabem disso e estamos com um trabalho muito importante de conscientização dessas empresas que utilizam biomassa na sua matriz energética”. Entre as soluções para tentar reduzir a desertificação, o pesquisador chama atenção para a necessidade de investir em planos de manejo florestal sustentável para a Caatinga, de modo a utilizar o bioma de “forma
contínua e sustentável” e recuperar as áreas degradadas, que levam de 30 a 40 anos para serem regeneradas. Iedo Bezerra de Sá é graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e doutor em Geoprocessamento pela Universidad Politécnica de Madrid. Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Confira a entrevista. IHU On-Line - O senhor tem chamado atenção para o fato de que a desertificação é avançada em mais de 20 núcleos do Semiárido. Em que consiste esse fenômeno? Iêdo Bezerra de Sá - Desertificação é um termo utilizado pela UNCCD, que é a sigla em Inglês de Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas, que trata da degradação ambiental em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas. Então, podemos utilizar o termo desertificação somente em regiões que têm essa climatologia. No Brasil essa situação se encontra no Nordeste e em parte do Sudeste, ou seja, no Norte de Minas Gerais. Isso significa dizer que só podemos utilizar o termo “desertificação” para nos referir-
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Pernambuco tem 185 municípios, dos quais 122 estão em situações que têm problemas de desertificação”
mos a essas regiões. Por exemplo, não se pode utilizar o termo para tratar de um problema sério que há no Rio Grande do Sul, ou para indicar a situação de uma área muito grande em Roraima ou em Rondônia, porque elas não estão nessa situação climática de aridez ou de semiaridez. No caso do Brasil, no semiárido encontra-se uma área de aproximadamente um milhão de km², ou seja, trata-se de área muito grande em termos de espacialidade. Para se ter uma ideia, essa extensão equivale a duas vezes o tamanho da Espanha e Portugal juntos. Quando falamos isso na Europa, as pessoas reagem de forma apreensiva por se tratar de uma área muito grande. Agora, desertificação não é um termo binário, branco ou preto, porque existe uma gradação. Na Embrapa fazemos um mapeamento que demonstra uma gradação que vai de uma desertificação muito baixa até uma degradação moderada, acentuada e severa, porque há lugares que são muito preocupantes, que têm uma severidade do processo muito forte, enquanto em outros lugares a degradação é mais branda. O que temos de fazer é tentar frear os vetores de crescimento dessas áreas, e para isso desenvolvemos algumas tecnologias, as quais são transferidas para as regiões que percorremos. Retirada da cobertura vegetal No Brasil, esse processo começou justamente por conta da retirada da cobertura vegetal florestal; em outras palavras, por causa do desmatamento. O desmatamento da Caatinga gerou todo esse processo, porque ao desmatar a Caatinga os solos ficam completamente expostos a todas as intempéries: há uma insolação muito forte, de mais de duas mil horas/ano de sol, e um regime de chuvas muito complicado, porque não é a questão de quantidade de chuvas, mas sim a sua irregularidade na distribuição.
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Entrevista
Há locais, por exemplo, aqui onde estou agora, em Petrolina — que é no extremo oeste de Pernambuco —, em que chove 450 a 500 milímetros por ano. Essa quantidade foi verificada em uma série histórica de mais de 30 anos de acompanhamento dos regimes de chuvas. O grande problema é essa irregularidade das chuvas: elas caem de forma muito concentrada, chove muito em pouco tempo, ou seja, os 500 milímetros se concentram em apenas dois, três meses e, às vezes, 20%, 30% da chuva do ano cai em apenas um dia. Isso gera um fator de degradação muito forte. Aliado a isso, não só no semiárido do Brasil, mas no semiárido do mundo inteiro, os solos de fertilidade natural são baixos. Não é que não existam solos bons no semiárido, ao contrário, mas o que predomina aqui na região são solos de baixa fertilidade natural, são solos rasos, são aqueles com pouca profundidade. Ou seja, quando se começa a cavar, logo se chega à rocha que formou esse solo, e esse também é um fator muito severo da desertificação. Climatologia e solo Quando associamos essa climatologia à questão de solos, que são condições naturais, e acrescentamos o fator humano imposto a este ambiente, aí se exacerbam e se aceleram esses processos ruins de desertificação. Esse é o contexto em que vivemos hoje no semiárido. Estamos tentando reverter toda a parte que é induzida pelo homem, porque não temos muita governabilidade sobre a natureza. – Esses 20 núcleos do semiárido que enfrentam essa situação de desertificação correspondem a que percentual do semiárido? – Mais de 50% das áreas do semiárido brasileiro já estão com processo de desertificação acentuado e aproximadamente 16 mil hectares da Caatinga já foram desmatados. Além disso, alguns núcleos no Ceará, na Bahia e em Pernambuco estão com as áreas bastante comprometidas. Para se ter uma ideia, somando a área desses municípios, o desmatamento está em torno de 63 mil km², isso significa que se trata de uma área que equivale a quase a extensão de Pernambuco, que tem 100 mil km². O semiárido todo tem um milhão de km², então cerca de 10% a 15% dessa área
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Enquanto na Amazônia e no Cerrado os desmatamentos são de grandes extensões, na Caatinga o desmatamento é feito de forma muito particular” está numa situação de severidade muito grande. E, se formos completar isso com a parte que fica um pouco mais acentuada e moderada, o percentual ultrapassa os 50% do semiárido. Temos ainda situações muito degradantes na região Sul do Piauí, região de Gilbués, e em Pernambuco tem um cenário muito ruim na região de Cabrobó e Salgueiro. Também tem uma área grande, entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, onde há um conjunto de municípios — doze ou dez — em condições precárias. Então, quando falamos em 20 núcleos, é apenas uma questão didática, porque na realidade a área se estende a uma extensão muito maior do que isso. Como vimos, é mais de 50% de uma região bastante comprometida. Estamos fazendo alguns estudos para verificar essa situação estado por estado, a fim de ver a situação de cada um deles. Estamos concluindo um trabalho em Pernambuco, o qual será publicado no máximo em outubro deste ano. Pernambuco tem 185 municípios, dos quais 122 estão em situações que têm problemas de
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desertificação. Estamos ranqueando esses dados e verificamos que alguns municípios têm praticamente toda a sua área com um processo bastante acentuado ou severo de desertificação. Então, frear essa degradação é a grande dificuldade, porque custa muito capital humano e também financeiro, e leva tempo para fazer. Além disso, as propriedades familiares maiores passam a ser subdivididas, então a pessoa tem três, quatro, cinco, seis filhos e depois essa área é desmembrada e passa para os filhos. Isso também é um fator de degradação, porque as pessoas tendem a tirar sua sobrevivência da base de recursos naturais de sua propriedade. Assim, a primeira coisa que fazem é desmatar uma área para plantar e esse plantio vem sendo feito de forma desordenada, sem tecnologia, sem insumos agropecuários adequados, em ambientes também inadequados, e esses fatores geram um processo de retração muito intenso. Frear isso é um pouco mais complicado, porque se trata de um problema social, por isso a Embrapa tem uma unidade encravada no coração do semiárido, na cidade de Petrolina, para tentar desenvolver algumas tecnologias que possam minimizar — sabemos que erradicar é praticamente impossível — esse manejo equivocado que se faz do recurso natural. Um grande problema nosso é a questão do desmatamento, seguido de queimada, porque o agricultor do semiárido é descapitalizado: ele não tem acesso à tecnologia nem a crédito. Por isso, eles se utilizam do meio que podem, ou seja, desmatam e queimam áreas, e queimar área é um crime ambiental e é dar um “tiro no próprio pé”, porque o semiárido de um modo geral é pobre, o solo é pobre em matéria orFOTOS DE IÊDO BEZERRA DE SÁ
gânica. E se está sendo queimado o pouco de matéria orgânica que já existe, isso realmente é muito ruim. Queimam para limpar o terreno, na ilusão de que a produtividade será melhor em função da queima, mas esse é um erro e estamos sempre tentando corrigi-lo. A matéria orgânica do solo é o que mais comporta a retenção de água. Assim, um dos grandes problemas do semiárido é a questão da água. Se, em um solo que recebe pouca água, parte da vegetação é queimada, o solo fica ainda mais empobrecido de matéria orgânica e, por conseguinte, retém mais água. Esse tipo de informação, que está um pouco defasada no Brasil, tem de chegar ao produtor rural, porque às vezes ele age de forma errada por ignorância, ou às vezes porque não tem outra forma de fazer, e às vezes até por má-fé. – Qual a causa de a desertificação ser mais intensa nesses 20 núcleos do Semiárido e quais são eles? Como se chegou a essa situação? – Nós chegamos a essa situação em função da primeira causa, que é o desmatamento, ou seja, a retirada da cobertura, principalmente da cobertura florestal, porque é ela quem protege o substrato do solo de todas as intempéries. Além disso, o sobrepasteio dessa vegetação contribui para esse fenômeno. Depois, há o problema do manejo que é dado a esse solo, com plantações inadequadas, sem fazer o terraceamento, sem conter a erosão. Quando a cobertura é retirada e as chuvas são de alta intensidade, embora poucas ao longo do ano, acontece um processo de carreamento do solo. Portanto, isso provoca um tipo de erosão laminar, que degrada bastante essas áreas, porque vai retirando lâminas do solo: a cada ano vai um milímetro, por exemplo, e as pessoas não percebem isso, mas no passar de 10 anos houve a perda de 10 milímetros, o que equivale a um centímetro do solo. É necessário manter o máximo possível da vegetação, proteger esse solo, plantar corretamente nos lugares certos, com a cultura certa e com o manejo certo. Isso é fundamental para que se evite esse processo de desertificação, não só aqui, mas em qualquer região que tenha essa climatologia e também esse tipo de solo.
– De que maneira a desertificação acaba impactando na vida das pessoas que vivem no semiárido? – Considero a desertificação como um jogo de dominó, em que uma causa empurra a outra e, no final da ponta, quem mais se prejudica é o homem que vive no semiárido. Em um passado não muito longínquo, existia o êxodo do nordestino que saía da sua terra para ir para o Sudeste, o Centro-Oeste e às vezes até para o Sul, ou então para as capitais, em busca de emprego, renda e de manter a sua vida, porque a terra dele ficou de um jeito tão improdutivo que não conseguiu mais rendimentos para sustentar a família. Esse processo vem diminuindo gradativamente de uns 50 anos para cá, mas ainda acontece. No entanto, o êxodo agora não é mais para o Sudeste, para o Sul, para o Centro-Oeste; as pessoas estão indo para os polos de desenvolvimento que existem no próprio Nordeste, que absorvem muita mão de obra. Na cidade de Petrolina, onde estou, tem o maior polo de fruticultura irrigada do Brasil. Cidades como Feira de Santana, na Bahia, tem um polo muito grande também, tanto de pecuária quanto de serviços. Campina Grande, na Paraíba, Juazeiro do Norte, no Ceará, também são outros polos que absorvem muita mão de obra. Por força da desertificação, chamamos essas pessoas que migram para as regiões do Nordeste de “refugiados ambientais”. – Qual o risco de esse processo de desertificação se espalhar para outros pontos do semiárido? – O risco é iminente. Por isso o governo, através do Ministério do Meio Ambiente, elaborou um Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação. Esse é um plano nacional que foi desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente, com o apoio de diversos órgãos de governo e também da sociedade civil, entre eles o Ibama, a ANA e a Embrapa. Por força deste programa, foram instituídos os programas estaduais, que são chamados de Planos de Ações Estaduais – PAES. Na
realidade, quem mais conhece sua situação de desertificação é o próprio estado e, às vezes, o próprio município, por isso é preciso ir até a ponta. Cada estado do Nordeste que padece desse problema elaborou seus programas e alguns já criaram leis. Então, a ideia é dotar esses estados e, por conseguinte, os municípios de algumas práticas e tecnologias que vão diminuindo e minimizando esse problema. A governança da desertificação passa, justamente, por esses programas que saem da esfera federal e chegam até o município, ensinando o que se deve e o que não se deve fazer para acelerar esse processo de desertificação. No passado, o problema era muito maior, no entanto, após o advento desses programas, estamos minimizando a situação pouco a pouco. Já estamos conseguindo identificar esses processos de desertificação mais intensos e colocá-los na esfera municipal, que é onde acontecem as ações. Também estamos atualizando informações sobre a desertificação para que os estados possam priorizar os investimentos, pois não temos muitas pessoas trabalhando com essa questão e precisamos de mais pessoas para poder equacionar essa situação. A forma de frearmos um pouco esse processo é com tecnologia e com informação, dizendo o que fazer, como fazer, onde fazer, quanto custa e, às vezes, intensificando um processo de fiscalização, de sensibilização e também de penalização das pessoas que estão fazendo as coisas erradas, pois também existe um segmento empresarial muito forte no Nordeste, que vive deste produto da desertificação e do desmatamento, porque utilizam muita madeira, lenha e carvão em suas matrizes energéticas, e de forma insustentável. Então, essa é uma forma também de pressioná-los para que possam fazer a coisa certa e para que não degradem ainda mais o ambiente. Existe uma legislação pertinente para que possamos controlar esse quadro, e com esse controle iremos conter um pouco o avanço do processo de desertificação por todo o semiárido brasileiro.
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Colunista Rudolf Höhn
Uma Estratégia para Mudar
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prendi que a melhor maneira de Você acelerar mudanças em uma organização é através de uma estratégia orquestrada e consistente que tenha em seu amago três ingredientes básicos: l O estabelecimento claro do objeto da mudança; l Um plano consistente de comunicação; l Uma execução coerente com o plano de comunicação e aderente ao objeto da mudança pretendida.
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Dito assim, parece muito fácil introduzir uma mudança em uma organização, mas na realidade não é. Muito pelo contrário. Para que alguém mude da posição em que está para uma outra, é preciso que tenha a clara percepção de que o custo que incorrerá para mudar é menor do que o benefício que terá na nova posição ou que o custo de permanecer na posição em que
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2015
está é maior do que o de mudar para a nova posição. Se isso é verdade, podemos imaginar como é importante que, no estabelecimento do objeto da mudança, aqueles que serão afetados entendam claramente os benefícios que terão com a mudança e o custo que incorrerão ao não aceita-la.
Mesmo que o objeto da mudança seja estabelecido da forma mais clara possível, ela será entendida de forma variada nas mais diversas camadas da organização. O topo da organização, responsável pela mudança, certamente estará ou deverá estar alinhado com ela. Nas demais camadas hierárquicas ou departamentais da empresa o grau de dificuldade na compreensão do que está em jogo vai depender do maior ou menor grau das pessoas para entender e aceitar estas mudanças, muito influenciadas que estão com o status quo. A base da pirâmide da organização, na maioria das vezes, é constituída pelas pessoas que têm menor convívio com a organização e que portanto são menos resistentes a aceitar mudanças. Portanto um plano consistente de comunicação é fundamental para que as diversas camadas da organização sejam atingidas da forma mais adequada. Temos então dois dos ingredientes estabelecidos, ou seja, o objeto da mudança e o plano de comunicação. Ambas necessárias, sem dúvida, mas longe de serem suficientes, pois falta o principal : a execução. E é exatamente nela, na execução, que aquilo que se planejou poderá se perder, caso não seja perseguido de forma consistente, coerente com o que se planejou, e totalmente aderente ao objeto da mudança que se quer introduzir. A execução terá que ser conduzida inicialmente pelo topo, pois é quem está comprometido com a mudança que se quer realizar. Este terá que, através do exemplo, ser o primeiro a mudar, mostrando que a mudança é para valer e mostrando sempre sua equação custo benefício para que todos a absorvam o mais rapidamente possível. Na minha experiência, a base da pirâmide organizacional absorve mais rapidamente e as camadas intermediárias mais lentamente. Aquelas camadas mais próximas do topo mais rapidamente do que as mais próximas da base. Chamo este fenômeno de sanduiche organizacional, pois na medida em que a base, o topo e as camadas próximas a elas absorvem as mudanças, as camadas do meio são pressionadas de cima para baixo e de baixo para cima, como em um sanduiche. E tal como em um sanduiche, aqueles que não aguentam a pressão acabam sendo pressionados para fora, como
pode acontecer com o miolo do sanduiche quando o apertamos muito. Estamos precisando de mudanças importantes, no mundo em geral e no Brasil em particular. Não vou mencionar as mazelas econômicas e políticas pelas quais estamos passando, mas gostaria de me ater às questões mais estratégicas como a da mudança de valores da nossa sociedade em relação às questões fundamentais como a educação, a saúde, a segurança, o meio ambiente, o respeito ao próximo e o amor ao nosso país. Sem isso não teremos condições de nos tornarmos um país competitivo. Se conseguirmos uma liderança no topo, que esteja compromissada com as mudanças necessárias e que demonstre através do seu exemplo este compromisso, ao mesmo tempo iniciando um trabalho imediato de comunicação /educação com a base da pirâmide, ou seja as crianças desta geração, teremos uma grande chance de “ensanduichar” a nossa sociedade através da pressão delas junto às suas famílias. Ou seja de baixo para cima enquanto as lide-
ranças no topo exercem a pressão de cima para baixo, através da utilização de todos os instrumentos de comunicação e gestão que estão à sua disposição. Quem sabe através deste processo aceleraremos as mudanças de que tanto necessitamos. Os meus netos já iniciaram o processo, fiscalizando em suas casas que as torneiras sejam fechadas enquanto os pais escovam os dentes ou fazem a barba. Soltando os animais engaiolados, evitando jogar sujeira no chão, respeitando o próximo e se revoltando ao tomarem conhecimento destas questões relativas à segurança e à corrupção que tanto nos afligem e que dominam os nossos meios de comunicação atualmente. É um início, pequeno, mas um início. Como dizem os chineses toda longa jornada começa com um primeiro passo. Rudolf Höhn é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. É presidente da ONG Ação Comunitária do Brasil/RJ e Sócio-Diretor da E-Hunter. Foi presidente da IBM no Brasil.
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Colunista Alexandra Lichtenberg
Vamos esperar ficar sem água?
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egundo o jornal Valor Econômico, executivos das maiores empresas que atuam no Brasil acreditam que a mudança do clima causará impacto muito negativo na economia e nos negócios. Segundo 66% deles, o fenômeno por trás da alta no custo das matérias primas e da energia, da escassez de água e até de dificuldades em conservar produtos – e a soma de tudo tende a reduzir a margem de lucro. Vou me permitir discordar um pouco deste pessoal. É claro que acredito nas mudanças climáticas e em todos os seus nefastos resultados. Porém, nós cidadãos da civilização ocidental urbanizada estamos muito acostumados à fartura e somos
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grandes adeptos do desperdício. Não, somos enormes adeptos do desperdício (ver sexto parágrafo). Vejamos o caso da escassez de água, que vem tirando o sono (e a margem de lucro) de muita gente por aí. Esta gente insone tem que compreender as causas-raiz da escassez de água, e não apenas culpar a “grande seca que está assolando nossa região”. É essencial o entendimento de que a quantidade de água disponível continua sempre a mesma, dentro de seus ciclos hidrológicos (seu grau de pureza, infelizmente, vem se deteriorando muito). O grande problema é que o regime de chuvas está mudando, e esta tendência não vai se reverter, justamente
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por conta das mudanças climáticas. Chove muito (mas muito mesmo, em geral causando enchentes catastróficas) em pouco espaço de tempo, e depois temos grandes períodos de seca. Os períodos de chuva estão se concentrando, e os de seca, aumentando, fazendo com que a disponibilidade de água não atenda a sua demanda, onde antes isto acontecia de maneira natural. É importante também levar em conta o crescimento populacional nas áreas urbanas, o que torna ainda mais necessária a mudança da abordagem ao problema. O que temos presenciado é a procura por soluções “milagrosas”, como por exemplo o aumento da captação, por São
Paulo, de água do Paraíba do Sul – entrando em conflito com o Rio de Janeiro, que já capta grande quantidade de sua demanda do mesmo rio (e também está sofrendo com a seca prolongada). Ou então a perfuração de poços, como se estes tivessem capacidade infinita e nunca secassem. Ou então a construção de obras faraônicas como a transposição do Rio São Francisco, ou outras obras similares para encanar água de locais distantes e bombeá-la (a um enorme custo energético) para outras localidades. Porque ninguém olha para o que está bem debaixo do nosso nariz? Segundo a Sabesp, na região metropolitana de São Paulo a perda de água tratada é de 17,4%, mas se levarmos em conta os furtos, fica em torno de 30%. De acordo com avaliação do especialista japonês Masahiro Shimomura, que tentou assessorar a Sabesp, se esta taxa estivesse em torno de 5% a 10%, não haveria necessidade de desenvolver novas fontes de água ou de se expandir o sistema. Este número, na cidade do Rio de Janeiro, era de absurdos 54,81% em 2012 (dados da rede Cidades Sustentáveis)!! É claro que isto significa perda de faturamento para estas concessionárias, mas ok, infelizmente (ainda) não temos conseguido atuar para a melhoria da eficiência de gestão destas empresas, mas é sempre bom conhecer a realidade dos fatos. Bem, então o que nós, usuários finais destas malfadadas empresas concessionárias, podemos fazer para garantir que não vamos “morrer na praia”? Um conceito extremamente útil e importante para se aprender é o da utilização adequada de água potável e de água não-potável. Porque utilizar água tratada e cara para usos não-potáveis, como descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos e carros? Utilizar sistemas descentralizados de reciclagem de águas cinzas e negras está ao alcance de todos, pois já temos tecnologias adequadas para tal. Estes sistemas custam dinheiro? Claro que sim, porém o tempo de retorno deste tipo de investimento está se tornando cada vez menor. É essencial porém contar com fornecedores confiáveis e que ofereçam assistência técnica. Seria de monumental ajuda contar com o governo, na forma de incentivos fiscais/bônus, e/ou de isenção de impostos
de importação. É pedir demais? Claro que não – ao conceder incentivos fiscais/bônus para sistemas de reciclagem de água, o governo estaria fomentando (e aí os incentivos tem que vir da maneira correta!) o crescimento exponencial da redução do consumo de água potável, ajudando a amenizar o problema da escassez de água. Fica aí a dica, senhores secretários de desenvolvimento econômico, abastecimento, do meio-ambiente, da saúde. Existe também em várias partes do mundo (o líder é Israel, claro) a reciclagem centralizada de águas, porém o sistema centralizado requer um investimento enorme em infraestrutura: canalização para captação de certos tipos de água, seu tratamento, mais canalização para retorno da água reciclada a seus pontos de consumo, e mais energia elétrica para bombear esta água por toda esta canalização. Em certos casos, isto se prova eficiente. Funciona em São Paulo desde 2012 o projeto Aquapolo, que trata o esgoto da estação de tratamento ETE ABC, e fornece água de reuso para fins industriais ao polo Petroquímico da Braskem, com capacidade de economizar 2,58 bilhões de litros de água por mês, quando estiver em pleno funcionamento. A título de ilustração, vejam alguns números de um sistema de reciclagem de
água da lavanderia de um grande hotel na região de Los Angeles, o qual visitei. Eles lavam em torno de 22.200 kgs/dia, utilizando 1.872m³ de água potável por dia. Após a instalação do sistema, passaram a utilizar apenas 252m³ de água potável por dia, sendo o restante da água reciclada. E com o mesmo resultado de qualidade das roupas lavadas. Se eu mesma não tivesse visto isto em funcionamento, não teria acreditado! Coleta e uso de água de chuva? Esqueça, pelo menos para áreas afetadas pela seca, pois o tamanho das cisternas teria que ser gigantesco, dado o uso substancial de água pelas pessoas nos centros urbanos. Pode acreditar, eu já fiz a conta, não vale a pena! Os empresários e cidadãos que abraçarem esta ideia poderão voltar a dormir em paz. Esta é a solução de todos os problemas? Claro que não, mas é uma das soluções ao nosso alcance para auxiliar na solução do problema da escassez de água em centros urbanos, e a continuidade do suprimento para cada um de nós! Alexandra Lichtenberg (alexandra@ nextdrop.biz) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. Trabalha na NEXTDROP–Consultoria em conservação do uso da água.
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Colunista Luiz Fernando Bello
O Ã Ç A V INO
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E D A D I L I B A T N E T SUS
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ão se pode encarar inovação e sustentabilidade como meros conceitos ou conjunto de práticas politicamente corretas, mas como valores que deveriam ser incorporados a vida das pessoas, das empresas e dos governos (Estado). Inovação não é qualquer novidade. Seu conceito básico pode ser resumido como a criação ou aperfeiçoamento de processos ou produtos que apresentem resultados positivos em termos econômicos e sociais. Sustentabilidade é tudo o que envolve respeitar a ideia de ser indispensável para todos a permanência, a sobrevivência, a “eternidade” dos seres vivos e do planeta. Inovação é a mola propulsora de todo o progresso e desenvolvimento e deve ser praticada sempre observando valores sustentáveis para que não se destrua, na busca de resultados imediatos, o futuro das próximas gerações. Uma não pode viver sem a outra. O ano de 2015 será marcado por importantes avanços no que tocante as me-
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tas e práticas de sustentabilidade preconizadas pela ONU. Em setembro, deverá ocorrer, promovida pelas Nações Unidas, uma reunião de cúpula especial sobre desenvolvimento sustentável, quando o grupo de trabalho, instituído para definir os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)” a serem adotados, apresentará sua proposta. A nova proposição visa ampliar o que fora proposto e praticado com alguns bons resultados pelo “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)”. O projeto é bastante amplo e ambicioso, envolvendo 17 objetivos e 169 metas que variam desde erradicar a pobreza até 2030, passando por angariar a solidariedade de todos para as práticas de desenvolvimento sustentável, chegando até a demonstração de que é fundamental revolucionar os modelos de negócios, criando valores compartilhados que permitam fazer crescer economias inclusivas e sustentáveis. Alguns críticos consideram o projeto por demais extenso e abrangente – o que
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poderia inviabilizar sua implementação em todo o planeta. Por enquanto, é necessário aguardar pela versão definitiva antes de julgar sua viabilidade. O elo, julgado por muitos especialistas indissolúvel, entre inovação e sustentabilidade é definido de forma clara quando se observa as conclusões da “Conferência Mundial sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, realizada na Alemanha em 2009. Na ” Declaração de Bonn”, resultante da Conferência, é dada ênfase a ideia de que a Educação para o Sustentável deve priorizar “abordagens criativas e críticas, pensamento de longo prazo, inovação (o grifo é meu) e capacitação para lidar com a incerteza e para resolver problemas complexos, realçando a interdependência entre meio ambiente, economia, sociedade e diversidade cultural, do nível local ao global, e levando sempre em conta, o passado, o presente e o futuro”. De fato, bons propósitos não faltam. Agora pretende-se observar o que acontece
no mundo real e, para fazê-lo, é necessário apresentar o “triple bottom line (profit, people and planet)” ou, melhor em português, o tripé que constituído pela conjugação dos resultados econômicos, sociais e ambientais no qual se apoia a prática da sustentabilidade. Ser sustentável é sempre visar a obtenção conjunta e obter concomitantemente resultados positivos, sob os três aspectos, nas atividades empresariais e, quem sabe, na vida em geral. Tornando a análise mais complexa, verifica-se que se deve dividir os bens de capital em seis tipos que precisam evoluir de forma harmônica para que se chegue ao desenvolvimento sustentável: empresarial (máquinas, equipamentos etc.), infraestrutura (estradas, energia etc.), humano (educação, saúde etc.), intelectual (conhecimento básico, científico e tecnológico), natural (recursos primários) e social (confiança coletiva que torna possível o comércio, as finanças e a governança eficientes, conforme definição do economista Jeffrey Sachs). A Inovação é de
suma importância para o incremento do resultado do uso destes bens de capital não só pelo aperfeiçoamento e criação de novos produtos e processos, como também pelo que pode fazer em termos de preservação e melhoria do ambiente como um todo. Talvez o exemplo mais claro de inovação como valor integrante da sustentabilidade seja a criação de alternativas eficientes e eficazes para a geração de energia elétrica, com o aproveitamento dos ventos e do sol, em potencial substituição a geração por térmicas a carvão. Ou a poupança de água (bem cada vez mais escasso) propiciada por modernas técnicas de utilização e reutilização. Só a China prevê que terá de gastar o equivalente a 6,6 trilhões de dólares norte-americanos para atingir suas metas de redução de gases de efeito estufa. Como se vê, não respeitar o valor da sustentabilidade e não praticar atitudes inovadoras geram consequências catastróficas. E o que fazem, de fato, pessoas, empresas e governos para evita-las? Alguns já perceberam
que a sociedade leva em consideração as atitudes inovadoras e sustentáveis na avaliação de empresas e governos – o que os fez adotar providências concretas. Entretanto, a maioria talvez só venha realizando ações de caráter mais publicitário, visando agradar seus consumidores. O grande desafio é enraizar os valores de inovação e de sustentabilidade nos corações e mentes de pessoas, empresas e governos, de forma que se possa, num futuro próximo, chegar ao desenvolvimento efetivamente sustentável. (*) Luiz Fernando Bello (luizbello1@ gmail.com) é Colunista colaborador de Plurale. É economista e sócio-gerente da ABConsultores, empresa que fomenta e busca financiamentos para projetos de inovação e sustentabilidade. Geriu os investimentos do Grupo Sul América e da AIG Brasil. Foi também Superintendente Financeiro e de Captação de Recursos da FINEP e Presidente da FIPECq - Previdência Privada.
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Relatório do UNICEF apresenta avanços e desafios relacionados à infância e à adolescência nos 25 anos do ECA Do Unicef
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o dia em que o Estatuto da Criança e do Adolescente completou 25 anos (13 de julho de 2015), o UNICEF lançou, em Brasília, o relatório #ECA25anos – Avanços e Desafios para a Infância e a Adolescência. A publicação apresenta uma análise de indicadores relacionados à infância e à adolescência desde a aprovação do ECA, em 1990. De acordo com o UNICEF, o ECA criou bases sólidas que asseguraram o progresso nos indicadores da infância e adolescência. Nesses 25 anos, o País implementou políticas e programas que garantiram a sobrevivência e o desenvolvimento de milhões de meninos e meninas brasileiros. Entre os avanços, estão a queda da mortalidade infantil e na infância e o progresso em todos os indicadores na área de educação, a redução do trabalho infantil e a redução do sub-registro de nascimento. Na área de educação, por exemplo, o Brasil conseguiu garantir o acesso a 93% de suas crianças e adolescentes no ensino fundamental. De 1990 a 2013, o percentual de crianças e adolescentes em idade obrigatória fora da escola caiu 64%, passando de 19,6% para 7% (Pnad).
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Outro indicador positivo na área da educação é a queda na taxa média de analfabetismo entre brasileiros de 10 a 18 anos de idade. Essa taxa caiu 88,8%, passando de 12,5%, em 1990, para 1,4%, em 2013. A queda foi ainda mais significativa entre os adolescentes negros, de aproximadamente 91% (Pnad). No entanto, o UNICEF alerta que esses resultados não estão alcançando determinados grupos. Muitas crianças e adolescentes estão sendo deixados para trás em razão de sua raça ou etnia, condição física, social, gênero ou local de moradia. Crianças indígenas, por exemplo, estão entre as mais vulneráveis. Elas têm duas vezes mais risco de morrer antes de completar 1 ano do que as outras crianças brasileiras e estão entre os grupos mais vulneráveis em áreas como educação. Outro desafio apresentado pelo UNICEF é o da exclusão escolar. Mais de 3
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milhões de crianças e adolescentes ainda estão fora da escola (Pnad, 2013). Os excluídos da educação representam exatamente as populações marginalizadas no País: são pobres, negros, indígenas e quilombolas. Muitos deixam a escola para trabalhar e contribuir com a renda familiar. Uma parcela tem algum tipo de deficiência. E grande parte vive nas periferias dos grandes centros urbanos, no Semiárido, na Amazônia e na zona rural. Para o UNICEF, a mais trágica das violações de direitos que afetam meninos e meninas brasileiros são os homicídios de adolescentes. De 1990 a 2013, passou de 5 mil para 10,5 mil casos ao ano (Datasus, 2013), um aumento de 110%. Isso significa que, em 2013, a cada dia, 28 crianças e adolescentes eram assassinados. Leia o relatório - http://www.unicef.org/ brazil/pt/media_30280.htm
Certificação Profissional CNseg (CPC) será lançada em outubro para qualificar colaboradores do mercado de seguros Da CNseg
Com enfoque na educação continuada do mercado segurador e no reconhecimento da qualificação técnica dos profissionais brasileiros, a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais,
Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) lançará, em outubro deste ano, a Certificação Profissional CNseg (CPC). O presidente da CNseg, Marco Antonio Rossi, que foi o idealizador e grande incentivador do projeto, ressalta que o programa tem como objetivo acelerar o progresso profissional dos colaboradores do setor e sistematizar o conhecimento específico do mercado se-
gurador, associando a teoria à prática. Ele destaca que a certificação não é obrigatória, mas seu reconhecimento pelo mercado será um diferencial na competitividade do profissional. Rossi defende que a meta do CPC é validar as habilidades, reconhecer formalmente os conhecimentos dos colaboradores do setor de seguros, bem como melhorar a produtividade. “A CNseg decidiu implantar a Certificação após constatar que o Brasil tem plenas condições de se alinhar a mercados que possuem uma indústria do seguro mais desenvolvida, como os Estados Unidos e a Inglaterra; e a outros com um patamar de desenvolvimento semelhante ao nosso, como é o caso da Índia; nos quais a especialização e a certificação do mercado de seguros já são bastante sedimentadas”, enfatiza o executivo.
Déficit de chuvas no Brasil vem aumentando nas últimas décadas Por Elton Alisson, de São Carlos, da Agência Fapesp
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déficit de chuvas em todo o Brasil vem aumentando nas últimas décadas e se tornando mais grave nos últimos anos. A região Sudeste do país, por exemplo, que enfrentou em 2014 e 2015 o maior período de estiagem dos últimos 70 anos, entrará em meados de agosto – quando se inicia a estação mais seca do ano – com menos água do que tinha em 2014. As constatações são de estudos realizados por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Alguns dos resultados dos estudos foram apresentados em uma conferência sobre a problemática da seca no Sudeste brasileiro, realizada em 17 de julho durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento ocorreu até sábado (18/07) no
campus na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Temos uma situação de déficit de chuvas tremendo em todo o país, que representa uma situação muito grave. A quantidade de chuvas que entra nos sistemas de vazão está diminuindo e contribuindo para deixar nossa conta bancária
hídrica cada vez mais no vermelho”, disse Paulo Nobre, pesquisador do Inpe. Os pesquisadores do Inpe realizaram um estudo em que compararam os dados de registros de chuva no país no período entre 1960 e 1990 com os deste ano para estimar qual o atual “saldo da conta bancária de água” do país.
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Fetranspor realiza Fórum Social Foto de Jorge dos Santos/ Divulgação
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale
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Fetranspor realizou no fim de julho o Fórum Social apresentando os principais resultados do 61º Congresso e Feira da UITP , a União Internacional de Transportes Públicos, realizada em Milão, em junho. Na Itália, a Fetranspor foi premiada duas vezes: uma pelo projeto do BRT do Rio na categoria “Estratégia de Transporte Público” e também recebeu Menção Honrosa na Categoria “Y4PT Health Awards” com o programa Diálogo Jovem sobre Mobilidade. O tema do evento foi “Smile in the City”, usando as iniciais da palavra, fazendo referência à Sustentabilidade, Mobilidade, Inovação, Lifestyle, ou modo de via e E de econômico. O presidente da Fetranspor, Lelis Teixeira, destacou que sustentabilidade é, sem dúvida, um eixo central do tema hoje em dia. “As cidades precisam estar voltadas para as pessoas. Precisam ser mais amigáveis, planejadas para dar mais conforto aos moradores e o transporte deve ser o pano de fundo para essa transformação”, disse, reforçando que a cidade do Rio de Janeiro - com todas as transformações em curso - tem tudo para ser protagonista. A diretora de Mobilidade Urbana da Fetranspor, Richele Cabral, citou algumas das inovações apresentadas no evento e apresentou uma pesquisa realizada pela UITP sobre transporte público. “É importante ressaltar que o mundo desenvolvido já reduziu, e muito, a motorização, mas os países em desenvolvimento, como o Brasil, ainda têm um peso grande do automóvel”, explicou. Tendência também de transportes com menor emissão, como os ônibus elétricos, de tornar o ponto como
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Lelis Teixeira: “As cidades precisam ser amigáveis. E o Rio pode ser protagonista neste processo.”
uma “central” de informações sobre horários e pontos próximos e ainda a preocupação em aproximar passageiros com os pontos, como com esteiras rolantes. Richele comentou ainda que o BRT carioca foi utilizado como bom exemplo em apresentações. “O Rio de Janeiro foi citado por muitos estudiosos internacionais,
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que usaram até imagens do BRT Transoeste em suas apresentações. Isso mostra que estamos no caminho certo”, contou. Jovens- Os três integrantes do Programa Diálogo Jovem sobre Mobilidade que estiveram na Conferência em Milão também falaram sobre a troca de experiência com jovens de outros países e sobre o
Fábio, Victória e Wanderson, do Diálogo Jovem, falaram sobre a felicidade da premiação e também da experiência de conhecer como é a mobilidade na Europa.
teste de diferentes modais em três países desenvolvidos - Itália, Suíça e Portugal. “Foi uma experiência muito rica estar entre jovens de diferentes países, do Bahrein, Omã, Colômbia, Paquistão, Índia, Ucrânia e Canadá”, contou Fábio da Silva, 28 anos, funcionário de empresa de ônibus
no Rio e um dos integrantes da Comitiva. Victória Roza, estudante de Jornalismo, 18 anos, contou que os brasileiros chamaram a atenção por terem uma estrutura organizada de apoiadores e atuarem em rede. “Compartilhar nossas experiências com jovens de realidades tão distintas foi
muito enriquecedor.” O mais jovem do grupo, o estudante Wanderson Nogueira, 16 anos, confessou que mesmo sem dominar o Inglês não deixou de se comunicar com os outros jovens. “Usei até mímica, mas mostramos o nosso trabalho.” Os jovens andaram em diferentes meios de transporte nos três países por onde passaram e ficaram impressionados não só com a integração entre os modais, mas também com a educação e civilidade dos passageiros. A gerente de Responsabilidade Social da Fetranspor, Márcia Vaz, acredita que o modelo do Programa Diálogo Jovem sobre Mobilidade - criado há três anos - possa ser replicado também em outros setores. “Já pensou que maravilha se fosse aplicado também na Educação Pública? Os jovens empoderados são transformadores. Mas é preciso querer escutar o que eles têm a falar”, reforçou.
Resíduos Sólidos
Movimento Lixo Zero impulsiona o mercado de reciclagem Restaurantes da Zona Sul do Rio de Janeiro se associam ao Movimento e adotam a coleta seletiva em seus estabelecimentos comerciais Alfredo Piragibe treinando funcionários de restaurante Lapamaki sobre a importância de evitar o desperdício e como preparar o material para coleta seletiva
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Do Rio de Janeiro
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riado com a missão de viabilizar a reciclagem em grandes e médios geradores de resíduos do setor privado como supermercados, restaurantes, bares, shoppings centers e hotéis, o Movimento Lixo Zero – MLZ - ganha terreno e em apenas quatro meses de operação, já encaminhou para reciclagem 27 toneladas de matéria-prima. Segundo Alfredo Piragibe, presidente do MLZ, “pelo sistema convencional, quem decide reciclar seus resíduos paga muito caro, pois os custos com transporte para a coleta seletiva chegam a dobrar. Com a adoção ao nosso sistema, que veio justamente para tornar a reciclagem vantajosa em termos financeiros (além de ambientais), conseguimos, além de estimular a atividade no setor privado, fortalecer as cooperativas que são as parceiras na outra ponta da cadeia para o recebimento dos resíduos”. Desafios, diretrizes e metas O Movimento Lixo Zero, além dos desafios de implantar a coleta seletiva nos segmentos comerciais e transformar a Zona Sul do Rio de Janeiro em um modelo de gestão integrada de resíduos, ele
CT Trattorie
acompanha as diretrizes e metas do governo. Para transformar, iniciou seu processo de trabalho pelos restaurantes. CT Brasserie, CT Boucherie, Olympe, Rede Lapamaki, Cafeína, Gula Gula, Bibi Sucos, La Carioca, Le Pain, Jojo Bistro, Bazzar, Hotel Arena, Avenca, Venga, Volta, Casa Carandaí, La Tratoria, Papo de Anjo, Gaia Café e Artes, Lorenzo Bistrô e rede Bestfork formam o time que, em consonância com as diretrizes e metas da lei nacional 12305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e com a lei municipal 4969/2008, a do Lixo Zero, já contribuiu até o mês de Junho de 2015 para o envio de 27 toneladas de matéria-prima para reciclagem. De acordo com a Secretaria Estadual do Ambiente, somente 1,75% do lixo produzido nos 92 municípios do Estado é encaminhado para a reciclagem. A própria prefeitura encaminha apenas 5% do lixo
com potencial reciclável. Segundo a Comlurb, com a coleta seletiva praticada por empresas, pelo comércio e por grandes condomínios, estima-se que esse percentual chegue a 15% até o ano que vem e não atingirá a meta de 25% até 2016, como publicado no portal do governo do município. Para Alfredo, ao passo que os restaurantes passam a tratar seus resíduos de forma correta, um volume expressivo de recicláveis deixará de seguir para os aterros e isso já está em curso. Só no primeiro mês de coleta seletiva da rede de restaurante japonês Lapamaki, com unidades em Copacabana, Lapa e Ipanema, foram removidos 3.600 kg de recicláveis. “E esse montante corresponde a apenas 10% dos resíduos totais gerados pelos restaurantes. Num volume de 100%, 43% dos resíduos são recicláveis, 50% são os orgânicos que também são recicláveis, sobrando 7% de Bibi Sucos
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Resíduos Sólidos
rejeito. Em breve, todos os associados que conseguirem destinar corretamente os 93% de recicláveis, receberão o Certificado Lixo Zero”. Isso será possível porque a coleta dos orgânicos também entrará no processo do MLZ. Passo a passo até a certificação Para articular as associações e a implantação das fases do trabalho, que em breve contemplará também novos segmentos comerciais e destinação correta dos orgânicos, o MLZ conta com Alfredo Piragibe, Fred Neumam, Javier Juego, Fernanda Cubiaco e Jefferson Lessa atuando na prospecção comercial, nos treinamentos com educação ambiental, na geração de dados para estatística e articulação de estratégias com o poder público, como a em curso para a coleta seletiva de orgânicos. Para os estabelecimentos fazerem parte do MLZ, eles primeiro se associam, pagando uma taxa que varia de R$ 65,00 a R$ 290,00, de acordo com seu número de funcionários. Essa taxa de associação permite, juntamente com o investimento feito para coletar os resíduos¸ custear toda a operação de logística. Depois da associação, o passo seguinte é o mapeamento da área onde se estabelecerá a logística interna para a correta gestão dos recicláveis. Com esse reconhecimento de área identifica-se a necessidade de investimento em novos contêineres. Visto isso, a equipe de funcionários do estabelecimento comercial é treinada: educação ambiental in loco. Informações sobre meio ambiente, sobre as leis em vigor, os conceitos de responsabilidade socioambiental e logística reversa e informações sobre o processo de trabalho até as cooperativas, é passado. Trabalhando nas empresas a Educação Ambiental, com treinamento para correta separação dos resíduos, coletando e destinando corretamente às cooperativas associadas e licenciadas ambientalmente, o MLZ age em todo o ciclo de vida da matéria-prima reciclável e dá transparência ao seu processo porque dá suporte ao cliente para o controle do volume de sacos de resíduos entregues ao MLZ, usando-se etiquetas, que permite ao fim do mês, às duas pontas do processo, conferir o que foi coletado.
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La Carioca
Fernanda Cubiaco treina a equipe do Le Pain
Olympie
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CT Boucherie
A coleta de orgânicos A iniciativa de encampar também a coleta dos orgânicos é uma demanda interna e externa ao Movimento. Nos treinamentos em restaurantes, na maioria das vezes ouve-se dos gerentes e chefes de cozinha, como conta Fred Neumann e Fernanda Cubiaco, responsáveis pela atividade dentro MLZ, o questionamento sobre o que se fazer com o resíduo orgânico, que resume-se em cascas de legumes, frutas e verduras e pó de café. Por exemplo, no Le Pain Du Lapin, o sócio Carlos Evandro gostaria de uma solução para a correta gestão das cascas de fruta que são em grande volume por conta da produção de sucos, com o envio para a compostagem. Para o MLZ, implantar a gestão correta dos resíduos constitui também da promoção do conceito de sustentabilidade. A equipe de treinamento além da orientação para separação dos resíduos, em paralelo, está de ouvidos abertos para demais demandas, tais como sobre a gestão dos orgânicos e sobre a gestão para o não desperdício. Fernanda Cubiaco ouviu das sócias Edna Mendes, Flávia Uchôa e Nena Gullo, da franquia Lapamaki, que a conscientização dos funcionários, que muitas vezes vem de lugares pobres e não tem a menor noção da importância e do que seja “coleta seletiva “, é de grande importância. Como também nos treinamentos são trabalhados o 3R´s, eles também aprendem
sobre a redução de desperdícios e reaproveitamento. Atuação junto às cooperativas A atuação do Movimento não restringe sua consultoria aos associados. O MLZ atua junto às cooperativas, prestando consultoria a fim de potencializar o negócio da reciclagem. O Rio de Janeiro conta com cerca de 60 cooperativas de separação de material reciclável. A maioria atua de maneira irregular, com estrutura deficiente. ”Estamos estruturando as cooperativas a receberem os resíduos. Muitas delas os recebem e os revendem para uma cooperativa maior, dada a falta de condições. Além disso, estamos prestando orientações jurídicas e administrativas para a regularização”, explica Alfredo Piragibe. A realidade é que essas organizações tentam sobreviver num sistema de poucos incentivos à reciclagem, orquestrado por uma lógica tributária que onera quem quer reciclar. A matéria-prima virgem, por exemplo, ainda é 20% mais barata que a reciclada. Ao vender PET usado em outro estado, paga-se um ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 12%. Já na hora de importar uma matéria-prima-virgem, essa chega mais barata, com incentivo fiscal de 9%. “A situação das cooperativas é desoladora. Muitas estão fechando suas portas. E outras são organizações apenas de fachada”, explicou Piragibe.
Educação Ambiental nas Escolas Outra frente de ação do MLZ é o projeto Do Meu Lixo Orgânico, Cuido Eu!, que nesse segundo semestre de 2015 será trabalhado nas escolas da zona sul. Desenvolvido pela Embrapa, o projeto trata-se de um sistema de compostagem de lixo orgânico (cascas e restos de alimentos) aplicável ao ambiente doméstico e que produz adubo para ser utilizado em plantas, hortas ou árvores de rua. «A Composteira é de fácil montagem e manipulação, o custo é baixo e o tempo demandado para esse trabalho é de cerca de 30 minutos por semana», explicou Piragibe, que utiliza o método em sua casa e doa o adubo produzido para o Jardim Botânico. Estima-se que, através desse projeto, é possível poupar os aterros sanitários de 250 toneladas de lixo orgânico que seriam destinadas a eles, em seis meses. Mais informações: www.movimentolixozero.org Fontes de pesquisa: http://www.rio.rj.gov.br/web/smac/residuos-solidos http://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/contlei.nsf/f25edae7e64db53 b032564fe005262ef/7553253433e513 0c032576ac00727adc?OpenDocument http://lixozero.org/v2/estatuto-social-lixo-zero/
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Terceiro setor
parada
certa
Instituto JCA, mantido por forte grupo rodoviário do Rio, atende jovens moradores de comunidades de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e tem ótimos exemplos de histórias de transformação
Por Lília Gianotti, de Niterói Fotos de Divulgação
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rquitetas, engenheiros, fotógrafos, mecânicos, dançarinos, eletricistas, advogadas e tantas outras opções profissionais deixaram de ser um sonho distante para jovens moradores de comunidades de São Gonçalo, Itaboraí e Niterói. Até 2014, Renan Victor Valério estudava no colégio estadual Manoel de Abreu. Lá, por se destacar em sala de aula, com boas notas e um grande interesse em aprender, foi selecionado para participar de um processo seletivo no Instituto JCA, uma organização voltada para educação e capacitação, criada por Jelson Costa Antunes, empresário do setor de transportes. Aos 17 anos, Renan é um dos 70 jovens que participam do “Fortalecendo Trajetórias”, programa que apoia alunos, oriundos de escolas públicas, no desenvolvimento de suas competências e talentos, preparando-os para o ingresso à universidade. Cada jovem recebe um pacote de benefícios que inclui o pagamento das mensalidades escolares, material didático, uniforme e auxílio transporte, além de acompanhamento pedagógico e participação em diversas atividades culturais. Mais de 70% dos beneficiários alcançam aprovação no ensino superior em seu primeiro vestibular.
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Renan sonha entrar para a Faculdade
Renan quer engrossar essa estatística. Hoje, ele é aluno do 1º ano do Ensino Médio no tradicional colégio Nossa Senhora da Assunção, em São Francisco, um dos bairros de classe média alta de Niterói. Filho caçula de Dona Ana Cristina, o jovem mora com o irmão e a mãe, que trabalha como babá. A vida dessa família já começou a ser transformada.
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“Eu achava que só iria terminar o Ensino Fundamental. Nunca pensei em ir além, estudar em uma faculdade. Pensava em arranjar logo um emprego. Já nas primeiras aulas do processo seletivo, comecei a ver que eu podia ir um pouco mais longe. Quero entrar numa universidade”. Se as diferenças sociais e raciais falam mais alto no novo ambiente escolar de Renan? Ele garante que não. “Fui muito bem recebido pela escola, desde o início. Depois da aula, estudo na casa dos meus amigos que, sim, têm mais condições financeiras do que eu. Mas a gente aprende uns com os outros. Tem coisas da minha realidade que eu posso ensinar para eles, assim eles podem valorizar o que eles têm”. Não por acaso, Renan foi eleito representante de turma: já está para lá de ambientado entre os que, no início, até pareciam tão diferentes, tão distantes. Para o futuro, o jovem ainda tem dúvidas: “já pensei em fazer fotografia, jornalismo ou dança. Quero trabalhar com gente”. Mas uma certeza ele tem: “não vou mais parar de estudar”. Desafios - Ainda que a parceria com as escolas particulares esteja muito bem estruturada, os desafios desse programa são grandes. “Há muita defasagem no aprendizado das escolas públicas. Os nossos alunos do ‘Fortalecendo Trajetórias’ têm muita dificuldade de acompanhar o ensino das escolas de alto padrão para as
quais eles têm a oportunidade de ir. Por isso, nós temos que apoiar em muitos sentidos. O outro desafio é o confronto de realidades, porque mandamos para essas escolas-modelo meninos e meninas pobres, negros, moradores de comunidades, com déficit de escolaridade. Lá eles encontram jovens de uma elite social”, diz Therezinha Doin, supervisora pedagógica do Instituto JCA. Por isso é tão importante o trabalho de acompanhamento desses jovens. “A equipe está sempre atenta ao desenvolvimento do jovem, mas não só em sala de aula. Estamos sempre acompanhando esse aluno como pessoa, quais são os valores que ele está aprendendo, como se porta com os demais colegas, dando a ele liberdade para se expressar e crescer, mas orientando e dando todo o suporte para que ele possa vencer os desafios”, completa Therezinha.
Therezinha Doin é supervisora pedagógica do Instituto JCA
Também indicada pela escola pública onde estudava, Poliana Feitosa ingressou no processo seletivo do Instituto JCA e integrou a turma de 2012. Durante quatro meses, estudou matemática e português no curso preparatório, de olho numa vaga no “Fortalecendo Trajetórias”. A dedicação valeu a pena. O lugar de Poliana no programa estava garantido e ela foi além. Hoje, aos 17 anos, a jovem cursa o 3º ano do Ensino Médio em uma das instituições de ensino mais reconhecidas do
país: o Colégio Pedro II. Ela é a primeira aluna do Instituto JCA a ingressar nesta escola. Poliana quer mesmo ir muito além do que sua família um dia imaginou: no fim do ano ela prestará vestibular para o curso de Direito. “O curso de português e matemática que tive a oportunidade de frequentar no IJCA foi determinante para que eu passasse na prova superconcorrida do Pedro II. Aqui, meus horizontes foram ampliados de uma forma que eu nunca imaginei. Acho que vou ser uma boa advogada”.
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Terceiro setor
Como tudo começou
J
Juan Carlos fez curso de Mecânica
Mecânico - Quem trilhou um caminho diferente, mas também tem novos horizontes no mundo acadêmico e no mercado de trabalho, é Juan Carlos França. No ano passado ele estava um tanto perdido, sem saber o que fazer da vida. Tinha parado de estudar, trancado o curso superior de Gestão em Técnica da Informação, para começar a trabalhar. Uma amiga lhe indicou o Instituto. “Pensei em fazer o curso mecânica, como primeiro passo para a faculdade de Engenharia Mecânica”. Juan conquistou uma das 160 vagas do “Oficina do Ensino”, um programa com foco na preparação para o mercado de trabalho, por meio da educação profissional, que compreende a Formação de Jovem Aprendiz (credenciado junto ao Ministério do Trabalho) e a oferta de diversos cursos voltados para o setor de transporte. Seis meses depois, Juan já estava com a mão na massa, ou melhor: na graxa. “Fiz o curso de Mecânica e logo fui prá uma garagem, ver de perto como é a mecânica dos ônibus que transportam milhares de pessoas, todos os dias”. Essa etapa prática do curso de mecânica é a vivência profissional, uma forma de ti-
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elson da Costa Antunes é o décimo segundo dos 13 filhos de Dona Maria e seu Carlos. Parou de estudar no terceiro ano primário e aos 11 anos ficou órfão de mãe. O pai então separou a família e cada filho mais novo foi morar na casa de um irmão mais velho. Jelson foi morar em Niterói, com a irmã Elza. Aos 14 anos tirou a carteira profissional, pelo Ministério do Trabalho, e foi trabalhar na Viação Cabussú, uma empresa de transporte urbano de São Gonçalo, que possuía apenas quatro ônibus. Era 1942. O jovem guardava quase todo tostão que ganhava. Aos 18 anos, eletricista de mão cheia, já com carteira de motorista e com uma economia de 15 contos de réis, comprou, junto com o irmão mais velho que pagou metade do veículo, seu primeiro ônibus, ou como ele costumava dizer: “meu primeiro meio ônibus”. Apelidado de Jerico, o ônibus era um Chevrolet 1946, com carroceria de madeira, e rodou pouco menos de um ano. Jelson vendeu Jerico e resolveu se-
guir o próprio caminho. Viajou para Macaé e lá comprou a Viação Líder: uma empresa de um único ônibus. O jovem de 19 anos era tudo daquele ônibus: motorista, cobrador, mecânico e eletricista. Começava assim a vida de um dos mais bem-sucedidos empresários do setor de transporte rodoviário do Brasil. Hoje, o Grupo JCA reúne dez empresas dos setores de transportes terrestre e hidroviário. Conta com uma frota de 1826 ônibus rodoviários, 165 ônibus urbanos, mais de 6500 colaboradores e 422 cidades atendidas nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Mesmo antes de fundar o Instituto JCA, seu Jelson chegou a custear os estudos de 900 jovens que, como ele, não tinham oportunidade de estudar, mas tinham potencial para crescer. Finalmente, sob o sonho de apoiar pessoas esforçadas e capazes, em 2004, foi criado o Instituto JCA. Mais do que um provedor, Jelson da Costa Antunes foi um verdadeiro exemplo para esses jovens.
rar o aluno de sala de aula e mostrar como é trabalhar na oficina. Funciona como um estágio supervisionado, em empresas do setor de transportes. Atualmente, mais de 75% dos formados no programa “Oficina do Ensino” estão empregados no setor. Talvez a vocação de Juan não esteja em uma oficina, mas em sala de aula. Durante o curso de mecânica, ele manifestou interesse em participar do treinamento de monitores. “A ideia com esse projeto é formar nossos professores aqui na casa. Por isso, investimos em nossos alunos para desenvolver esse talento e o conhecimento necessário para que eles possam dar aula e formar outros jovens, dentro dos nossos valores. O Juan competiu a vaga de monitor com mais quatro candidatos, que também eram muito bons. Mas ele se saiu melhor quando foi testado diante de uma turma”, diz Therezinha Doin.
Hoje, o jovem de apenas 22 anos já é monitor do Instituto, apoia o professor, tira dúvidas dos alunos e diz aprender todos os dias um pouco mais. “No começo eu achava que essa função não era prá mim, que eu não seria capaz. Mas o Instituto me deu todo o apoio, me ajudou a desenvolver esse lado meu. Agora eu já fico até à frente de algumas aulas, porque o professor precisa separar a turma em atividades diferentes, uma comandada por ele, outra por mim”. Esse talento de Juan foi descoberto no Instituto. Mas será que ele vai seguir a carreira de professor? Assim como Renan, o jovem ainda não sabe ao certo qual o futuro que o espera. “Pensei em fazer esse curso aqui, prá depois fazer Engenharia Mecânica. Mas já não sei se vou seguir esse caminho. Também gosto de Psicologia e estou adorando dar aulas”. A incerteza, comum aos jovens de todos os cantos e origens, costuma ser exacer-
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bada depois que eles entram para o Instituto. Isso porque geralmente eles chegam sem muitas perspectivas, achando que a vida acadêmica não é para eles, ou que não estão aptos a desempenhar determinadas funções. “Nesse espaço de aprendizado contínuo, eles aprendem que são capazes de realizar o que quiserem, desde que façam do estudo uma prioridade. No Instituto, eles têm as perspectivas ampliadas, as oportunidades passam a ser mais reais e o conhecimento os leva a querer experimentar cada vez mais”, garante Therezinha. Uma coisa é certa. Ainda que esses jovens optem por seguir a carreira de mecânico, o mundo deles já foi transformado e eles irão muito além. A coordenadora Therezinha sempre diz: “gostaria que esses jovens aprendessem mais do que só apertar um parafuso”. Juan parece que já aprendeu. “A minha paixão pelo Instituto é justamente o fato de podemos aprender muito mais do que só apertar um parafuso. Seja num curso profissionalizante, técnico ou preparatório prá ingressar em um colégio de alto nível, aqui se forma gente! Por isso quero retribuir tudo que aprendi e conquistei aqui. Quero poder ajudar, porque fui muito ajudado. E hoje, eu posso retribuir um pouco do que o Instituto me ensinou, dando um pouco de mim para os meus alunos. Além do trabalho de monitoria, eu sou voluntário em várias atividades daqui”, completa o jovem monitor. Prata da casa - Maysa Gil conhece bem o que é essa paixão. Dos dez anos de funcionamento do Instituto JCA, nove ela esteve na instituição, atuando de formas diferentes. “Cheguei aqui com 21 anos, como estagiária, então, minha experiência no Instituto atravessa todo o meu processo de juventude. Minha relação com essa instituição é de descobertas, de crescimento, de me ver sendo reconhecida profissionalmente e como ser humano. A cada dia que passa, eu vejo mais sentido em tudo que fazemos aqui e sentido também na minha escolha profissional”. A jovem escolheu ser assistente social porque se indignava com tantas injustiças a sua volta, por isso procurou uma profissão que trabalha justamente a efetivação de direitos, para todos. Hoje, Maysa é Coordenadora de Programas e Projetos do Instituto JCA e procura retribuir o que recebeu: “eu tento, na gestão dessa casa, acolher os jovens, acolher a equipe e trabalhar de forma integrada”.
Maysa Gil é “prata da casa”: foi estagiária e hoje é Coordenadora de Programas e Projetos do Instituto JCA
Esse acolhimento é mais uma das marcas registradas dessa organização que educa, acolhe, desenvolve e transforma sonhos em realidade. “As pessoas me perguntam: mas vocês conhecem todos os jovens pelo nome? Sim. Conhecemos cada um deles pelo nome, porque acompanhamos muito de perto a trajetória deles, sabemos quem é esse indivíduo, quais são suas necessidades e procuramos ouvi-los para atendê-los melhor”. E é mesmo assim. Quem chega ao Instituto, um espaço amplo, com diversas salas, numa construção com grandes janelas e muita luz do sol, logo se sente acolhido. Aos poucos, outras marcas da gestão dessa bela instituição vão aparecendo. Talvez pelo comando tão feminino, que transparece força e delicadeza, num setor que historicamente tem predominância masculina: o de transportes. Tatiana Antunes, Therezinha Doim e Maysa Gil são as três
mulheres na linha de frente dessa organização, que tantas vidas têm transformado. Tatiana Antunes, neta de Jelson da Costa Antunes e atual presidente do Instituto JCA, foi uma criança extremamente questionadora. Aos nove anos, perguntou pela primeira vez: por que existem as diferenças? “Essa pergunta me acompanhou por anos, primeiro nas conversas em casa, no convívio com meu avô, que me ensinava a forma dele ver o mundo, que era possível promover mudanças”. Certamente ela herdou do avô o senso de justiça e o entendimento de que as oportunidades devem ser para todos. Não por acaso, dos cinco netos de seu Jelson, Tatiana foi a que mais se aproximou do Instituto, mesmo antes dele ser criado. Ainda bem jovem, ela participou das reuniões, com o avô, onde foram debatidos os primeiros passos para a criação desse projeto. Ali, ela já aceitara a missão. “Eu sabia que iria enfrentar desafios à frente do Instituto, mas não sabia que seriam tantos”. O primeiro deles foi a morte do avô, menos de um ano depois da inauguração da entidade. “Os projetos vinham sendo tocados desde 2004. Um ano depois, eu vim para cá e passei o período das obras deste prédio convivendo com ele todos os dias. Logo depois ele se foi e me deixou esse legado, que precisei cuidar”. Hoje, Tatiana, formada em Sociologia, com mestrado em Sociologia do Trabalho, é presidente do Instituto JCA, comanda uma equipe de 24 pessoas, e dedica sua vida profissional ao sonho possível do avô: ajudar a transformar vidas e criar oportunidades para quem quer estudar e crescer na vida.
Tatiana Antunes dedica sua vida profissional ao sonho possível do avô: ajudar a transformar vidas e criar oportunidades para quem quer estudar e crescer na vida
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Tecnologia
Lideranças se unem em prol das
Formado por especialistas e articuladores da temática de ‘startups’ e inovação, o grupo Dínamo já trabalha para construir uma agenda de promoção e fomento do empreendedorismo tecnológico junto aos governos 30
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FOTOS DIVULGAÇÃO
A
brir uma startup pode ser a solução ideal para que projetos inovadores saiam do papel mais rapidamente, já que empresas do tipo costumam focar em áreas emergentes como a tecnologia e têm menos medo de arriscar. Em geral, são comandadas por jovens empreendedores com pouco dinheiro, muitos sonhos e, melhor ainda: ideias arrojadas prontas para serem postas em prática. No Brasil, existem mais de dez mil empresas com esse perfil. Infelizmente, por aqui a vida dos empreendedores não é nada fácil. O país ainda precisa evoluir (e muito!) e simplificar seus processos para facilitar a vida dos empreendedores.
Mas, afinal, qual são os maiores problemas enfrentados pelas startups no mercado nacional? Há questões delicadas já amplamente conhecidas, como a necessidade de reduzir o tempo para abrir uma empresa ou obter a patente de um produto e/ou ideia. O Brasil também oferece entraves específicos para o universo das startups - se um investidor quer colocar dinheiro em uma empresa desse tipo, corre riscos. É que a responsabilidade de uma empresa instituída como limitada não é (ao contrário do que diz o nome), limitada, por conta da
forma como a Justiça do Trabalho enxerga as dívidas trabalhistas. Caso ocorra um processo, por exemplo, o juiz pode recorrer ao patrimônio do investidor. Outro problema é o complexo esquema de tributação praticado pela Receita Federal quando o assunto é investimento em startup. Estes e outros exemplos comprovam que ainda há muito o que fazer no Brasil – politica e estrategicamente – quando o assunto é startup. E foi pensando em ajudar a desatar estes e outros nós que nasceu o Dínamo, movimento de articulação na área de políticas públicas focado no ecossistema de startups, cujo objetivo principal é atuar como interface entre a sociedade civil organizada (startups, associações, empresas, etc) e o governo em suas diferentes instâncias, por meio de articulação
política, conteúdo e apoio especializado em discussões sobre o presente e o futuro do empreendedorismo tecnológico e da inovação no Brasil. Formado por especialistas, lideranças e articuladores oriundos de empresas, organizações não-governamentais e das principais associações do segmento de empreendedorismo no país, o Dínamo tem como missão fomentar e promover discussões técnicas sobre o tema junto a diferentes esferas governamentais, visando o desenvolvimento de iniciativas e políticas públicas mais efetivas e alinhadas com as necessidades do setor - Há uma certa “acomodação” para perpetuar um modelo que já mostra os desgates naturais perante uma realidade transformadora que o mundo vive, e a falta de visão dos governos e do setor privado de pensar o futuro e planejar estrategicamente - diz Rodrigo Afonso, empreendedor e articulador do universo de inovação e startups no país, atual coordenador e conselheiro do Dínamo. - Somos um movimento «agnóstico» focado em construir uma agenda positiva e convergente com os diversos atores do ecossistema, ajudando assim a dinamizar a evolução das startups no país. Temas O Grupo estabeleceu seis grandes temas para focar seus esforços: Cultura - Mudando nossa forma de pensar; Talentos - Pessoas criando tecnologia e disrupção; Ambiente Regulatório - Desatando os nós da burocracia; Investimento - Atrair capital; Densidade - Colisões geram negócios e Sociedade - Diversidade e Inclusão. De acordo com Felipe Matos, também coordenador e conselheiro do Dínamo, é preciso qualificar as discussões e incentivar o governo a pensar e repensar as políticas públicas de fomento à inovação. Felipe, que é referência no Brasil e no exterior no tema de startups, fundador e líder da Startup Farm, o país ainda tem muitos desafios no que diz respeito à inovação, crucial para a efetiva geração de riqueza e desenvolvimento para qualquer nação. - Esta é uma questão que exige envolvimento de todos os agentes do ecossistema empreendedor: empresas, governo e sociedade. Por isso decidimos nos unir, para informar, debater e apoiar o ecossis-
tema de inovação por meio da proposição de políticas públicas, de estudos, informações relevantes, realização de eventos e geração de dados qualificados sobre as reais necessidades do setor, que possam facilitar e impulsionar o desenvolvimento deste ecossistema no país - afirma Matos. Como exemplo de pauta do grupo, Felipe cita a capacitação e a educação empreendedora: - Mais de 50% dos jovens universitários desejam empreender, mas nosso sistema de ensino não está preparado para formar empreendedores - lembra ele. O coordenador cita ainda as dificuldades para conseguir investimento em empresas de tecnologia. Há várias barreiras burocráticas e legais para o investimento em startups. Um exemplo: a legislação brasileira cria riscos patrimoniais para investidores que ingressem em empresas limitadas, ao mesmo tempo em que corta uma série de benefícios das S/A, que seriam mais adequadas a este tipo de investimento, tornando-as mais caras e complicadas para o empreendedor em fase inicial. Isso dificulta investimentos no setor, prejudicando a inovação no país - diz ele. - Tem mais: faltam incentivos fiscais aqui, como existem em diversos países para levar mais investimento às startups. Os que existem são formatados de forma que não chegam a esse tipo de empresa. O Dínamo, que tem sede em São Paulo, representação no Rio de Janeiro e atuação em todo o país, conta com profissionais alocados em empresas como Google, Microsoft, Plug, Performa Investimentos, dentre outras, além de membros das mais importantes organizações do segmento de empreendedorismo como Anjos do Brasil, Startup Farm, ABStartups, Up Brasil, ABVCAP e Ação da Cidadania. Lançado oficialmente no início de julho deste ano na sede do Google, em São Paulo, os primeiros frutos do trabalho do Dínamo já começam a aparecer. Os conselheiros já promoveram reuniões com deputados, senadores, secretários de Estado, com vários ministérios, gente de diferentes partidos. Das reuniões já nasceram oportunidades em conjunto com o legislativo e com o executivo, por meio de diferentes frentes de trabalho. Prova de que é possível estabelecer parcerias em prol da sociedade e do desenvolvimento sem que bandeiras ideológicas atrapalhem o processo.
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Urbanismo
Por mais Cidades mineiras sofrem com especulação imobiliária, mas encontram em movimentos sociais soluções criativas para a transformação de espaços públicos em boas áreas de lazer
praças e PARQUES
em Minas Gerais
Por Hélio Rocha, Especial para Plurale De Juiz de Fora (MG)
L
utar pela cidade. Palavra de ordem desde as manifestações de 2013, a expressão hoje dá síntese a todo um conjunto de movimentos que reivindicam maior atenção do poder público à relação da população com os espaços urbanos. Seja no transporte coletivo e nas calçadas apinhadas de gente no dia a dia corrido de segunda a sexta, ou nas praças, parques e espaços culturais que deveriam ser ocupados pelos cidadãos nos momentos de lazer, é fato que quem vive nas cidades precisa do cuidado com esses ambientes para ter qualidade de vida, e é sobre este tema que se debruçam diversos movimentos sociais e especialistas em urbanismo que lutam por cidades melhores em Minas Gerais. Antes exemplo de estado em que os municípios cuidavam de suas áreas verdes, meios de transporte coletivo, centros econômicos e espaços culturais, Minas hoje sofre com a especulação imobiliária, principal rival da ocupação dos espaços públicos pela população, o que revela uma dubiedade difícil de combater para os gestores mineiros: valorizado pela qualidade de vida de suas cidades, o estado agora tem de manter
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Liderados por Jucélio, juiz-foranos ocupam a praça do Lacet, hoje um descampado que não serve à população
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este bom status frente ao avanço dos negócios e da onda de imóveis que ele traz. A capital é um exemplo desta difícil equação. Dos 487 bairros de Belo Horizonte, 454 são agraciados por algum tipo de praça ou parque, com atendimento da Prefeitura em ações sociais. Entretanto, segundo integrantes de movimentos sociais radicados em BH, a primeira boa impressão esconde diversos conflitos entre os interesses da população e a vontade do poder público. É o que pensa a diretora de projeto e pesquisa da ONG Pakto, Joanna Ladeira, que também integra o Coletivo Real da Rua, atuante na discussão de projetos urbanos alternativos. “Embora haja espaços, há a precariedade no atendimento ao cidadão.” Segundo Joanna, exemplo claro disso está no viaduto Santa Tereza, localizado no tradicional e boêmio bairro homônimo, cujas imediações são ocupadas aos domingos, nos últimos dez anos, pela população da periferia da capital, que lá desenvolve diversas atividades ligadas ao basquete de rua e à cultura hip hop. Hoje o local foi legitimado pela Prefeitura, mas o movimento Real da Rua teme que a existência de uma administração oficial prejudique as atividades desenvolvidas ao redor do viaduto. O temor de Joanna é explicado pelo também líder de movimentos sociais Fidélis Alcântara, que diz ser prática da Prefeitura conceder a administração de espaços públicos à iniciativa privada, que passa a direcionar as atividades e, inclusive, o público que recebe nos locais que administra. “Há uma política de ‘adoção’ desses espaços por empresas, em que a empresa assume a administração do lugar, em troca de exploração da publicidade. É uma forma disfarçada de privatização, que subme-
te locais que deveriam estar a serviço da população a regras de uso particulares, afastando a população”. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no entanto, nega a ingerência da iniciativa privada nas atividades e no acesso da população às praças, parques e centros culturais, ficando isto a cargo exclusivamente do poder Executivo. Na verdade, segundo a PBH, o modelo de parceria público-privada é voltado à manutenção e limpeza do espaço físico. “Todas as atividades são mantidas pela Prefeitura, que não poderia arcar com os gastos altos da manutenção, mas cuida da relação com o cidadão. Tanto o viaduto quanto os outros espaços de Belo Horizonte recebem projetos sociais semanalmente”, notifica o secretário de Esportes e Lazer da PBH, Patrick Drummond. Na contramão do investimento Diferente do que acontece em Belo Horizonte, Juiz de Fora perdeu, graças a um empreendimento de grande porte, um de seus principais espaços de recreação: a praça do Lacet. Antes um local com campo de futebol e espaço anexo para lazer, hoje o local é apenas um gramado de acesso a um shopping center que se instalou na outra margem da Avenida Itamar Franco, onde está a praça. Na ocasião, em 2008, a construção do centro comercial foi concomitante à destruição da área de lazer, embora o lobby das empresas ali instaladas não tenha sido oficial e tenha sido prometida a reutilização do local, que não se confirmou. Um dos líderes sociais mais empenhados na reocupação do Lacet pela população de Juiz de Fora é o professor e hoje vereador Jucélio Maria (PSB), que conseguiu, por emenda parlamentar do deputado federal Júlio Delgado (PSB), R$ 500 mil para recuperar a área. Isto, segundo o parlamentar, seria o suficiente para dar início imediato às obras para fazer da praça um espaço com atividades para a população. “A verba já está confirmada e o projeto, apresentado para o Executivo municipal. Precisamos da liberação dessas obras, ou senão perderemos a verba”. Segundo Jucelio, o maior temor é pelo lobby contrário do centro comercial, com o qual esta reportagem não conseguiu contato e, por isso, omitiu seu nome. Para o engenheiro Eduardo Lucas, estudioso de projetos urbanos e represen-
Embaixo do viaduto, movimentos sociais debatem melhoria dos espaços públicos em BH
tante do empresariado na discussão do Plano Diretor de Juiz de Fora, a cidade carece de iniciativas que conciliem qualidade de vida à vocação do município em receber empreendimentos imobiliários, devido à sua localização privilegiada entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro. Ele afirma que, com inteligência, Juiz de Fora pode ter excelentes espaços públicos de lazer. “Há uma linha de trem que cruza a cidade e, caso haja a transposição dela para fora do perímetro urbano, pode ali ser instalado um VLT, que ocupa menos espaço, e junto a ele ser construído todo um corredor verde. O mesmo pode ser feito nas margens do Rio Paraibuna, caso seja confirmado o projeto de despoluição de suas águas, previsto para os próximos anos.” Ocupação das ruas nas cidades históricas Se nos centros econômicos mais movimentados a luta é por espaços verdes e culturais destinados a lazer e entretenimento, nas principais cidades históricas, verdadeiros cartões postais de Minas Gerais, uma antiga reivindicação dos urbanistas tem se tornado realidade: o fechamento das ruas
para livre trânsito da população aos fins de semana. Tiradentes, terra do nascimento do alferes mártir da Inconfidência (ou Conjuração) Mineira, foi a primeira a restringir a passagem de veículos pelo centro da cidade, aos finais de semana e feriados, durante o dia. Exceção feita a moradores devidamente identificados, não é permitido o tráfego de automóveis no município nesses dias. “As pessoas vão apreciar a cidade com mais calma”, explica o prefeito de Tiradentes, Ralph Justino (PV). Pouco depois, em julho, a iniciativa foi tomada em Ouro Preto, onde os vereadores Chiquinho de Assis (PV) e Alysson Gugu (PPS) querem interromper o tráfego das ruas São José e Getúlio Vargas, e Bernardo de Vasconcelos e Praça Antônio Dias, sendo os pares paralisados em domingos alternados. A solução permitiria a manutenção do trânsito de automóveis, mas permitiria mais espaço aos turistas e comerciantes, que já reivindicam a criação de uma feira ao ar livre caso a Prefeitura sancione o projeto de lei que interdita as vias aos domingos. A proposta já está aprovada na Câmara Municipal.
Exemplo foi dado por Tiradentes, que proibiu o tráfego de veículos não autorizados no centro da cidade, aos domingos
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Seguros DIVULGAÇÃO/ SEGURADORA LÍDER
Sustentabilidade na prática Seguradora Líder-DPVAT engaja líderes e adota práticas que causam impactos em questões sociais, ambientais e de governança Do Rio de Janeiro
O
setor de seguros tem se empenhado, cada vez mais, em seguir práticas sustentáveis. Desde a realização da Rio + 20, em 2012, foi assinado acordo em torno do engajamento de instituições e seguradoras brasileiras. Os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), instituídos em 2012, apresentam uma estrutura e iniciativa global em sustentabilidade da iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente, sendo a Seguradora Líder-DPVAT signatária, que administra o Seguro DPVAT. Várias ações e práticas foram adotadas pela Líder causando impactos em questões sociais, ambientais e de governança. “Aqui, sustentabilidade passou a ser vista de forma estratégica mesmo, como parte do negócio”, explica Lídia Monteiro, Gerente de Gestão Estratégica, que coorde-
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Integrantes do Grupo Sustentabilíder, que atua como parceiro criativo em sustentabilidade, por meio da construção de iniciativas inovadoras com foco nas questões ASG, discutidas em reuniões bimestrais
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na, por gerência, as ações e diálogos sobre Sustentabilidade na companhia. Lídia explica que, exercendo um papel consciente e visando atender às tendências de mercado, a Seguradora Líder vislumbrou, na sua operação, a oportunidade de atuar nas questões sociais, de governança e ambientais (ASG) em diferentes níveis de desenvolvimento e abrangência. Sustentabilíder – Em 2012, foi criado o Grupo Sustentabilíder, formado por colaboradores da Seguradora, para o fortalecimento das ações e atividades sustentáveis, com o objetivo de promover o compartilhamento de conhecimentos e aprendizagens. O Grupo atua como parceiro criativo em sustentabilidade, por meio da construção de iniciativas inovadoras com foco nas questões ASG, discutidas em reuniões bimestrais. Entre os integrantes do grupo Sustentabilíder está Elizabelle Provenzano dos Santos, 33 anos. Técnica ambiental, ela trabalha na Seguradora Líder como assistente do Departamento Jurídico e sempre procurou “plantar a semente” da sustentabilidade também nos colegas de trabalho. “Tivemos grandes avanços, mobilizando a maioria. Como na grande participação dos funcionários em um dia inteiro de palestras sobre o tema e em ações diárias, cada um fazendo a sua parte, como evitando imprimir desnecessariamente e economizando água. Está bem claro que sustentabilidade é uma vertente do dia-a-dia, para ser praticada”, acredita Elizabelle Ana Carolina Oliveira, especialista em Sustentabilidade, funcionária da Gerência
de Gestão Estratégica da Líder, também participa ativamente do grupo. Ajudou a pensar a ação de conscientização pelo Dia da Água que adesivou os elevadores com imagens reforçando a importância deste insumo aos funcionários do Edifício das Seguradoras – onde fica a Seguradora Líder-DPVAT e outras entidades e empresas de seguros. “Foi muito bacana ver todos mobilizados em torno do tema”, conta. Semana do Desapego - Este ano foi realizada também a Segunda Semana do Desapego, arrecadando 430 peças de roupas e calçados para os mais necessitados. Quem faz a “ponte” é a copeira Iracema Moraes dos Santos Pacheco, moradora de Inhoaíba, Campo Grande. Sua casa tornou-se um ponto de referência para necessitados. Iracema vende o que arrecada a preços bem acessíveis e com o dinheiro compra cestas básicas para doar para quem mais precisa. “É melhor do que apenas doar as roupas”, explica. No fim do ano, Iracema faz uma lista com nomes e idades de “afilhados” para que os colegas de trabalho cuidem do Natal com roupa e brinquedo e as doações são entregues em festa com direito a Papai Noel e lanche para a criançada. Aos 50 anos, mãe de uma filha (dois filhos faleceram) e avó de três netos, ela conta que passou mesmo muita necessidade quando era criança. Sua história se parece com a de outros tantos brasileiros: não chegou a conhecer o pai e foi criada pela mãe, doméstica, com muita dificuldade. “Tinha dias que ia dormir só com um copo de água na barriga, rezando para passar a dor da fome. ” Iracema deu a volta por cima, trabalha duro, considera-se uma vitoriosa e reforça o agradecimento aos colegas de trabalho. “Só tenho a agradecer para os amigos da Líder. São pessoas abençoadas. ” Projeto Atitude Líder - Como resultado das discussões do Sustentabilíder, foi lançado o Projeto Atitude Líder, com o objetivo de conscientizar todos os colaboradores sobre a importância da adoção de
No alto, a copeira Iracema Pacheco e as doações arrecadadas na Semana do Desapego; as cartilhas que ajudam a conscientizar colaboradores e ação pelo Dia da Água
atitudes sustentáveis em nosso dia-a-dia e de estimular a adoção de práticas que causem impactos em questões sociais, ambientais e de governança. Com a implementação do Projeto, diversas ações foram criadas para incentivar o consumo consciente de água, papel, copos descartáveis e energia na Seguradora Líder-DPVAT. Este ano, as copas dos andares receberam lixeiras para descarte de lixo orgânico e lixo reciclável. As copeiras receberam treinamento no descarte consciente e hoje são multiplicadoras da conscientização no descarte. Como a copeira Marisa Silva de Jesus, 41 anos, solteira, moradora do Rio Comprido, uma multiplicadora que ajuda a incentivar alguns destes hábitos. “Ela é uma legítima sustentabilinda”, brinca Ana Carolina. Quando vê alguém misturando copos de plástico com o lixo comum, a copeira logo pede a colaboração e se orgulha de ver os resultados crescendo. “Os funcionários sabem a importância de manter os hábitos corretos. O planeta agradece”, diz. A Seguradora Líder-DPVAT também realizou encontros com os colaboradores para apresentação do Projeto e seus desdobramentos no ano de 2014. Na ocasião, os colaboradores assistiram palestra sobre sustentabilidade e receberam uma cartilha sustentável, confeccionada em papel reciclado, com 12 dicas de consumo consciente. Foi realizado o Encontro de Colaboradores, onde as estratégias do Planejamento Estratégico da Seguradora são divulgadas visando o engajamento de todos. O material produzido no encontro foi reciclado, como os banners. Um painel feito a partir de mate-
rial reciclado, pendurado em local de destaque na sala da Gerência de Gestão Estratégica, comprova o compromisso de todos com a Sustentabilidade. “O nosso evento recebeu o selo Carbon Free, por ter compensado a emissão de 7,78 toneladas de gases de efeito estufa decorrentes de sua realização por meio do plantio de 50 árvores nativas da Mata Atlântica em uma área de mata ciliar degradada. Este projeto é identificado pelo id 3130”, explica Lídia Monteiro. A Seguradora Líder-DPVAT também elaborou em 2014 o Relatório de Sustentabilidade com o objetivo de garantir a transparência e a prestação de contas a todos os envolvidos. Além de outras divulgações como o Relatório de Administração, Demonstrações Financeiras e os diversos canais de comunicação, o Relatório de Prestação de Contas é uma ferramenta importante para disponibilizar a toda sociedade o progresso na implementação e na evolução dos compromissos assumidos perante à sociedade, aos acionistas, governo e toda cadeia de valor da Seguradora Líder-DPVAT. Este compromisso faz parte dos Princípios para a Sustentabilidade em Seguros e está fortemente alinhado aos Valores e ao modo de gestão da Seguradora. Intranet – Em abril de 2014, outra ação interessante desenvolvida pela Gerência de Gestão Estratégica foi a criação do e-mail informativo “Você Sabia?”, um canal para que os colaboradores recebam informações, dicas, alertas e conhecimento técnico dos assuntos relacionados à sustentabilidade. Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente de 2014, a Seguradora Líder-DPVAT promoveu a palestra “Mobilidade Urbana, Biodiversidade e Saúde”, ministrada pela Profª Márcia Chame, Professora Titular da FGV, Pesquisadora Titular da Fundação Oswaldo Cruz, Pesquisadora Colaboradora da Fundação Museu do Homem Americano, Membro Titular representante do Ministério da Saúde no Conselho Nacional da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, além de Coordenadora do Programa Biodiversidade & Saúde da Fiocruz. A Seguradora Líder DPVAT instituiu no seu modelo de governança as melhores práticas de gestão, que podem ser destacadas, dentre elas: Conselho de Administração, Conselho Fiscal, Comitê de Auditoria, Comitê de Investimentos, Comitê de Remuneração, Comitê de TI, Área de Gestão Estratégica, Auditoria Interna e Controles Internos e Compliance. “Isso é Sustentabilidade do Negócio”, diz Lídia Monteiro.
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Pacto do Rio: coalizão em torno do desenvolvimento sustentável da cidade Por Sônia Araripe, Editora de Plurale
Governo do Rio
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unte uma economista com reconhecimento internacional pela atuação nos setores financeiro privado e público, uma filósofa de grande visibilidade, um executivo de Comunicação com trajetória de sucesso em Comunicação e Marketing empresarial e vários outros especialistas em diferentes áreas, como Terceiro Setor, Comunicação , etc. Esta mistura aparentemente improvável certamente renderia um diálogo do melhor nível intelectual. Mas, em tempos hipermidiáticos e supercontectados, rendeu muito mais: acaba de nascer uma coalizão formada por profissionais de diferentes áreas em prol do desenvolvimento sustentável do Rio de Janeiro e na integração entre asfalto e favela. Ontem, em um encontro bem informal e pragmático, no tom que o grupo pretende dar ao trabalho que começou a desenvolver no fim de 2014, foi apresentado a alguns formadores de opinião o modelo de governança do novo Pacto do Rio - por uma Cidade Integrada. “Acreditamos que é possível sim trabalhar por um pacto baseado em articulação de redes para o Rio de Janeiro. Será o primeiro neste formato para uma megalópole
IPP/ DIVULGAÇÃO
latino-americana”, explicou Eduarda La Rocque, presidente do Instituto Pereira Passos, a economista que após trilhar carreira de sucesso no mercado financeiro aceitou os desafios do setor público, já tendo ocupado a Secretaria de Finanças do Município do Rio e mais recentemente partiu para a área de dados e social, no comando do IPP. Ao apresentar mais detalhes de como irá trabalhar a rede colaborativa, a filósofa Viviane Mosé comparou o Pacto do Rio com um sistema de irrigação. “Já há muitos trabalhos voltados para comunidades em curso de excelente qualidade. O que pretendemos construir são as canaletas para irrigar esta rede”, explicou. Marco Simões, ex-vice-presidente de Comunicação e Marketing da Coca-Cola Brasil, reforçou que não há mais tempo para esperar apenas dos políticos o compromisso de resolver as carências de uma cidade do porte do Rio de Janeiro em termos de desenvolvimento sustentável. “Não podemos mais acreditar que é possível terceirizar esta missão. A hora é esta de nos unirmos, trabalharmos em rede e cobrarmos retornos dos poderes constituídos”, resumiu. Seis meses desde o lançamento - Lançado em dezembro de 2014 e incubado no Instituto Pereira Passos (IPP), o Pacto do Rio está completando os primeiros seis meses de atuação. Novos parceiros e conquistas fizeram parte do trabalho do Pacto neste período entre o lançamento e a estruturação. Eduarda explicou que o Pacto do Rio é “uma iniciativa única, que inaugura um modelo de governança também inédito: descentralizado, sem hierarquias e orgânico”. A governança do Pacto parte do seguinte princípio: sempre há eficiência quando as ações são feitas de forma conjunta e quando as informações são compartilhadas. O compartilhamento de informações e a atuação conjunta formam, portanto, o princípio básico do modelo de governança. Pela proposta do Pacto - tendo como princípios combater a desigualdade e focar seus esforços na geração de oportunidades para jovens, no desenvolvimento sustentável da cidade e na integração entre asfalto e favela - a ideia será atuar em conjunto a partir da construção de uma rede de informações qualificadas e compartilhadas. Projetos serão avaliados por especialistas e receberão um selo, certificando que aquela iniciativa merece receber apoio e
investimentos. Não é só: o Pacto também terá um fundo para apoiar iniciativas relevantes e em uma fase posterior também rede de voluntários, Cariocas em ação. “Será possível doar horas e não só do asfalto para as comunidades e vice-e-versa, mas também dentro das comunidades”, explicou Eduarda. Participou também do evento o recém-empossado presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Paulo Manoel Protássio. “Adotamos o Pacto na nossa agenda de trabalho prioritária e já cedemos espaço na nossa sede para a instalação do grupo de trabalho”, anunciou. Também fazem parte do Pacto e estiveram ontem no evento, Rique Nitzsche, da D-Think e Zeca Borges, do Disque-Denúncia. Saiba um pouco mais sobre o novo Pacto do Rio. Setores O Pacto do Rio reúne vários setores da sociedade. Cada um dos seis segmentos possui 15% da estrutura de capital do Pacto do Rio, totalizando 90%, restando para o IPP, primeiro idealizador e incubador do Pacto, os outros 10%.O novo modelo de governança vai nortear o relacionamento entre os setores. Cada novo sócio do Pacto será alocado em um dos seis segmentos de acordo com seu propósito e atividade. Como é formado o Pacto do Rio O Pacto do Rio: por uma cidade integrada, será composto por seis segmentos da sociedade.
Os seis segmentos - Setor público -Executivo em suas três esferas) , Legislativo e Judiciário - Setor privado - Empresas, Bancos e Associações - Organismos internacionais - Instituições e Fundações internacionais - Terceiro Setor - Organizações sem fins lucrativos - Setor de Pesquisa - Universidades Públicas e Privados e Institutos de Pesquisa - População - Cidadãos (beneficiários) e Investidor social (indivíduos não-governamentais e Associações) Parcerias São parceiros do Pacto hoje o Ministério das Cidades (Secretaria Nacional de Habitação), o Centro de Operações Rio, a Coordenadoria de Relações Internacionais da Prefeitura do Rio, a d.Think, Accenture, Binder, Agência3, Approach, CasaDigital, Noo, Instituto Igarapé, FBDS, Instituto Light, ISER, Fundação Itaú Social, Conselho Estratégico de Informações da Cidade, Rio Como Vamos, SDSN e a Bloomberg Associates. Além destas, novas parcerias estão em andamento e negociação. Um dos novos nomes que acaba de se juntar ao Pacto é a Associação Comercial do Rio de Janeiro que anunciou o Pacto do Rio como uma de suas principais plataformas na gestão do novo presidente, Paulo Protásio, recém-empossado. Além dos sócios, a estrutura de governança é formada pelo Conselho Pacto do Rio.
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Awaken Love House abre suas portas
Por Lou Fernandes – Prem Indira, Especial para Plurale Fotos de Sitah e Luana Laux-Purnin Do Rio
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legria. Este foi o sentimento mais presente na inauguração da Awaken Love House Rio, em Santa Teresa. A cidade do Rio do Janeiro é a primeira cidade a abrigar a primeira casa do Movimento Internacional Awaken Love, criado pelo líder humanitário Sri Prem Baba, que
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tem como objetivo ser um refúgio dentro de um grande centro urbano. Mais de 150 pessoas se uniram para cantar mantras e fortalecer o sentimento de serviço em direção aos valores do Movimento Awaken Love: honestidade, autorresponsabilidade, gentileza, dedicação, serviço e beleza. Muitos vieram de perto e muitos de longe, por conhecerem a proposta humanitária de Sri Prem baba, como a Terapeuta Ocupacional, Mariana Lacerda, de Belo Horizonte, que conheceu o trabalho há apenas um mês e se en-
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cantou e já quer colaborar com a missão da casa de despertar o amor nos dons e talentos de cada um. O trabalho de Mariana é junto aos bebês que nascem prematuros. Segundo a terapeuta ocupacional, o que mais dá resultado em seu trabalho é quando une a técnica e o amor. Mas reforça dizendo que o amor é o que mais cura. Por isso se identificou tanto com o Movimento Awaken Love que busca descobrir a consciência e ação amorosa no mundo. A estudante de odontologia, Fernanda Paysano, 26 anos, do Rio de Janeiro, afirma que se identificou com os valores do Movimento Awaken Love. Ela lembra que esta conexão se estabeleceu assim que participou de um Satsang (reunião) com Prem Baba no Rio+20. “Espero que cada vez mais eu me encontre e descubra quem eu sou”, diz Fernanda que pretende participar ativamente dos cursos e atividades da casa. Acordar a consciência amorosa A Awaken Love House faz parte do movimento global Awaken Love, criado por Prem Baba, cuja tradução significa acordar a consciência amorosa em todos os seguimentos e setores da sociedade, tem o intuito de reforçar na humanidade a lembrança de seis valores considerados essenciais para o despertar de uma nova consciência amorosa que são: a honestidade, autor responsabilidade, dedicação, gentileza, serviço e beleza. Awaken Love Action, com sede no Brasil, é uma organização social sem fins lucrativos que tem como objetivo ressignificar as relações humanas, a fim de que sejam orientadas para a cultura de paz e prosperidade. Atualmente, o Instituto atua nas áreas de educação, sustentabilidade e saúde, e tem projetos em desenvolvimento para atender o sistema prisional. Como explica Prem Baba, a expressão Awaken Love significa estimular todo ser humano a colocar todos os seus dons e seus talentos a serviço do amor. Unindo forças, por meio de parcerias com organizações, governos e sociedade em geral, através de projetos e iniciativas, para criar uma nova cultura global, onde esses valores estejam em primeiro lugar. No local, está previsto acontecer diversas atividades ligadas ao autoconhecimento e à elevação da consciência.
SERVIÇO Awaken Love House Rio está aberta para a realização de cursos e eventos terceirizados, que estejam alinhados com o propósito do Movimento, que se baseia nos valores como: honestidade, auto responsabilidade, gentileza, dedicação, serviço e beleza. Os interessados podem enviar para o e-mail: riodejaneiro@awokenlovre.global.com Agenda da Awaken Love House Rio Atividades regulares: Terça-feira, às 18h - orações védicas. Quarta-feira, às 19h30 - meditação, vídeo com discursos de Prem Baba e canto de mantras. Mantras do Beija-Flor - uma vez por mês, um encontro para cantar a alegria e o amor. Cursos e workshops: Bem-vindo ao coração. O Despertar do Guerreiro Interno. Endereço: Rua Paschoal Carlos Magno, 100, Santa Teresa -RJ Mais informações: www.prembaba.org.br https://www.facebook.com/ PrembabaRio?fref=ts
Fernanda Paysano, do Rio, diz que se identificou com os valores do Movimento Awaken Love
ce râ mi ca artística
FAC E B OO K .CO M /C E R A M I C A B O I TATA DA N I C A R A Z Z A I @ G M A I L .CO M FONE 41.9181-6467 CAMPO LARGO | PARANÁ
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C ultura
Por Beatriz Coelho Silva, Especial para Plurale De Juiz de Fora (MG)
Como lançar um livro, fazer amigos e conhecer gente interessante. Ou
Onze deu a ç ra P a n s u e d ju negros e
samba
FOTO DE LÉA PENTEADO
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á alguns anos, comecei a estudar a Praça Onze, bairro do Rio de Janeiro que existiu até 1942 e é considerado o berço do samba, do choro e do carnaval, como conhecemos hoje. Eu só queria entender como dois grupos tão diferentes conviveram tanto tempo sem se lembrarem um do outro. Essa pesquisa resultou no livro Negros e Judeus na Praça Onze. A história que não ficou na memória, que sai este ano pela editora Bookstart, financiado com uma vaquinha eletrônica. E, além da alegria de vender bem, o livro me fez conhecer um monte de gente legal, interessante e interessada. Vamos a essa história. Negros e Judeus na Praça Onze agradou muito aos poucos leitores que teve até agora, mas a editora que pediu os originais, sequer me respondeu. No fim do ano passado, a jornalista e escritora Léa Penteado me deu o toque. Lançara seu livro autobiográfico A verdade é a melhor notícia pelo mesmo sistema e editora. Incentivou-me e mostrou o caminho das pedras para o livro ser visto e comentado. Só não me contou que, neste processo, muitas portas iam se abrir, que ia conhecer muita gente bacana e ia aprender mais e mais sobre o assunto. A ponto de me animar para um mestrado dando sequencia à história. Já encontrei um possível orientador, mas acho que isso ainda é sigiloso. O curioso é que eu esperava despertar interesse igual em negros e judeus, que conviveram nas mesmas ruas, escolas e fizeram juntos os carnavais da Praça Onze.
Houve uma grande receptividade das instituições ligadas aos negros, mas pouquíssimas respostas dos próprios. Já entre os judeus, há um grande interesse no livro, muita gente adquiriu o livro, instituições da comunidade abriram espaço para o tema e muitos judeus jovens e antigos, querem falar sobre suas famílias no bairro. Por quê? Acho que os judeus querem retomar a Praça Onze como território de sua história no Brasil. O bairro, inexistente fisicamente, está no imaginário carioca e brasileiro, conhecido também como “uma África em miniatu-
ra” (expressão cunhada pelo sambista e artista plástico Heitor dos Prazeres). É identificado como berço das importantes manifestações culturais criadas pelos negros brasileiros: samba, o choro e o carnaval. A impressão que tenho é que os judeus querem que a Praça Onze entre para a mitologia carioca também como “um gueto sem muralha e sem restrições”, como definiu Samuel Malamud, autor de um delicioso livro sobre a vivência dos judeus no bairro. Eles começaram a chegar em massa à Praça Onze na década de1910, fugidos de perseguições religiosas, especialmente na
Europa Oriental (Rússia, Alemanha, Polônia etc) antes mesmo do nazismo se instalar por aquelas bandas. Os negros, vindos majoritariamente da Bahia, ex-escravos e/ ou seus filhos, vieram quase ao mesmo tempo. Tinham muito em comum: um passado trágico (escravidão e perseguições religiosas), eram mal vistos pela pelas autoridades e pela sociedade por não praticarem o catolicismo, a virgindade da mulher não era exigência para o casamento (por isso, nem sempre eram consideradas boas moças), tinham um humor autorreferente e irônico, mordaz mas não cruel. E faziam muita festa, eram ótimos músicos. Estes dois últimos itens devem tê-los unido. Negros e judeus trabalhavam de sol a sol na rua (como mascates, vendedores ambulantes ou biscateiros) e, à noite, faziam música e festa. Juntos ou separados? Uma coisa e outra. O certo é que no carnaval, os blocos juntavam todos eles. Durante o ano, negros aprendiam iídiche (o dialeto judeu) para trabalhar, judeus promoviam bailes em gafieiras e todos frequentavam os mesmos bares, escolas e ruas. Contar esta história é uma delícia, mas o melhor é encontrar pessoas que têm um detalhe, uma lembrança, uma foto ou um caso para acrescentar. A repórter da Federação Israelita do Rio de Janeiro me apresenta ao tio que viveu na Praça Onze e é comerciante no Saara há 70 anos. O jornalista judeu reúne seu grupo de estudos para que cada um conte uma passagem de sua infância ou juventude, traga uma lembrança, recorde um tempo que ficou na mitologia e que eles querem que vire História. E assim reencontro amigos antigos, conheço novos e penso que Adonai e Ogum se uniram para me dar este presente: contar uma história e ganhar amigos com isso. Quer melhor presente que este? Beatriz Coelho Silva é jornalista e roteirista, autora de mais quatro livros, entre eles Palácio das Laranjeiras (Topbooks, 2008) e Wagner Tiso. Som, Imagem, Ação (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009). Negros e Judeus na Praça Onze é adquirido no site da Bookstart, http:// bookstart.com.br/pt/pracaonze, com os seguintes preços: R$ 12,00 o ebook, R$ 30,00 um exemplar e R$ 50,00 dois exemplares.
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L iteratura
Míriam Leitão aborda a discriminação racial e adoção em seu novo livro infantil
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Por Felipe Araripe, Especial para Plurale Foto de Rafaela Cassiano/ Divulgação
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jornalista Míriam Leitão acaba de apresentar o seu novo livro infantil Flávia e o Bolo de Chocolate (Selo Rocco Pequenos Leitores). Muitos conhecem Míriam por ser uma grande jornalista de economia, também autora premiada de livros sobre o tema, mas ela tem mostrado um outro lado ao escrever também livros infantis. Este é o terceiro título voltado para as crianças: Míriam ganhou o Prêmio FNLIJ 2014 na categoria Escritor Revelação por seu livro infantil de estreia, A perigosa vida dos passarinhos pequenos, também pela Editora Rocco. O novo livro traz delicadas ilustrações de Bruna Assis Brasil e trata de temas sérios, mas de forma bem lúdica e delicada para os bem pequenos: adoção e discriminação racial. Flávia e o Bolo de Chocolate conta a história de Rita, uma mulher muito boa, especial mesmo. Só, que com o passar do tempo, sozinha, sem filhos, ela começa a ficar mais triste. Um dia, Rita decide procurar uma criança que a quisesse para ser mãe. Procurou bastante e achou uma muito linda que, quando olhou para ela sorriu, deixando a certeza para Rita ser esta a sua tão sonhada menina, chamada Flávia. Rita ficou muito feliz por encontrar a sua nova filha e a mostrou para todos. A partir daí, a mulher ficava cada dia mais feliz e orgulhosa com a menininha esperta e meiga. Porém, algumas pessoas falavam que não poderiam ser mãe e filha por serem de cores
diferentes: afinal, Rita é branca e Flávia, negra, ou marrom, como apresenta o livro. A história mostra, porém, que Rita acreditava que não deveria existir problema algum por uma pessoa ser diferente de outra. O tempo passa, mãe e filha ficam mais próximas e felizes, fazendo os programas em família, como ir ao cinema, praia e teatro. Até que um dia, Flávia acorda e, em crise, fala que não quer ser mais marrom e sim branca, assim como a sua mãe. A mãe tenta dissuadi-la enfatizando que a filha é muito bonita, do jeito que ela é e que o mundo é feito de diferentes cores, pessoas e sabores. Mas Flávia, triste, confessa que não gosta de nada que seja da sua cor. Então, Rita teve a ideia de proibir tudo que era marrom para a filha: o bolo de chocolate que a menina tanto adorava, o brigadeiro, o sorvete de chocolate, etc. Chegou até mesmo a fazer com que Flávia não fosse mais à praia, que ela adorava, pois ficaria ainda mais morena e ainda a lembrou que o seu cachorro, o Cacau, tão amado, também era marrom. A criança ficou bem arrependida por ter falado tudo aquilo sobre coisas da cor marrom e questionou a mãe por qual motivo ela era de cor diferente. Rita, então, explicou que todas as pessoas são iguais, mas com diferenças, como de cor, de altura, etc. “São iguais porque são pessoas. As flores são diferentes, mas todas são flores. Não há neste mundo todo uma pessoa igualzinha à outra”, reforçou Rita. No entanto, a menina ainda não tinha entendido ou aceito a explicação. A mãe frisou que, no Brasil o mais legal é que
tem gente de todo jeito e de toda cor. E fez Flávia entender que não existe nem melhor nem pior. “O mais legal é cada um gostar de ser do jeito que é”, concluiu a mãe. E o livro acaba com Flávia pedindo um bolo de chocolate. Pela mensagem desse livro, as crianças podem melhor entender que não existe diferenças entre ninguém e que todos são iguais sem tirar nem por. Os três livros infantis de Míriam – todos pelo selo voltado para o público infantil da Editora Rocco - abordam fatos muito presentes na sociedade contemporânea: a vida conturbadíssima dos pássaros foi o tema do primeiro livro, A perigosa vida dos passarinhos pequenos ; a Língua Portuguesa e a sua compreensão pelas crianças foi o segundo, A menina de nome enfeitado e, agora, com Flávia e o Bolo de Chocolate , a desigualdade racial e adoção foram os temas da terceiro obra. Míriam procura nestes seus três livros voltados para os pequenos leitores contar através de uma maneira delicada sobre esses fatos para que as crianças possam entender e se divertir. Ela fala que um dos principais objetivos agora dela é incentivar as crianças a ler. Mais um ponto da jornalista que demonstra ter foco não apenas com números e estatísticas, mas também um olhar generoso com as crianças. (*) Felipe Araripe tem 14 anos, é estudante da 1º Ano do Ensino Médio e adora ler e fazer bolos. É filho da jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale.
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Estante João Gilberto Possiede - O Homem Seguro Por Pedro Ribeiro O lançamento do livro João Gilberto Possiede – O Homem Seguro, que aconteceu no dia 15 de julho, foi bastante prestigiado e reuniu representantes de várias entidades do mercado segurador, imprensa nacional especializada, amigos e parentes de Possiede - presidente do Sindicato das Seguradoras do Paraná e de Mato Grosso do Sul (Sindseg – PR/MS) e da JMalucelli Seguradora. O evento aconteceu na sede do Grupo JMalucelli, que na mesma ocasião também comemorou 20 anos de operação de sua seguradora. Em nome do Sindseg – PR/MS, Ramiro Fernandes Dias, parabenizou Possiede pelo lançamento do livro e pediu para que ele continue por muitos anos orientando o mercado e mostrando os caminhos. “Esse livro retrata a saga de um homem que venceu pela persistência, superou barreiras, construiu não só um nome, mas ajudou a construir muito no mercado de seguros do Paraná e do Brasil”, afirmou o diretor executivo do sindicato, lembrando que Possiede tem 85 anos de idade, 70 anos de atuação no mercado segurador, 53 anos participando do Clube da Bolinha, 23 anos no Sindseg - PR/MS e 20 anos na JMalucelli.
Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação, Organizadores: Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando de Mello Trevisani, Fundação Lemann e Instituto Península A obra “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação” é resultado das reflexões de um grupo de 16 professores de escolas públicas e privadas que participou de uma pesquisa-ação sobre as possibilidades de implementação do modelo de Ensino Híbrido (proposto pelo Instituto Clayton Christensen) na realidade brasileira. Os principais temas trabalhados pelo grupo foram: novas formas de atuação, planejamento e uso integrado das tecnologias digitais em sala de aula. O livro pode ser adquirido por meio do site da editora http://tinyurl.com/livros-ensino-hibrido
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Carlos Franco – Editor de Plurale em revista
Alice: edição comemorativa 150 anos, Por Lewis Carroll, com ilustrações de Adriana Peliano, Editora Zahar, 312 páginas, R$ 79,90 Ao longo de 150 anos, gerações de leitores e fãs se deliciaram com o instante mágico em que Alice entrou na toca atrás do Coelho Branco e caiu em um mundo de fantasia. Para celebrar essa data especial (4 de julho, mais especificamente), a Editora Zahar acaba de lançar Alice: edição comemorativa 150 anos em tiragem limitada. O livro traz texto integral em excelente tradução de Maria Luiza Borges, vencedora do Prêmio Jabuti, e publicada nas duas edições de Alice na coleção Clássicos Zahar. O projeto gráfico tem acabamento luxuoso – capa dura e tecido na lombada –, e ilustrações de uma especialista no mundo de Alice: Adriana Peliano, artista plástica e presidente da Sociedade Lewis Carroll do Brasil, que desenvolveu fascinantes colagens a partir dos originais de John Tenniel.
Pet, o dragão e o mistério das pegadas (infantil), Por Maya Reyes-Ricon e Luiz Eduardo Ricon, Editora Moderna, 56 páginas, R$ 41,00 Lançado pela editora Moderna, Pet, o dragão e o mistério das pegadas, dos autores Maya Reyes-Ricon e Luiz Eduardo Ricon, traz uma história divertida e bem-humorada sobre problemas ambientais que ocorrem em qualquer lugar do planeta. O livro apresenta uma mistura dos elementos de conto de fadas com a linguagem dos quadrinhos para facilitar o entendimento das crianças e dos jovens. As ilustrações são de Arthur Fujita. No reino da Ecolândia vivem os amigos Pet, um dragão feito de garrafa plástica; Mirna, a corajosa princesinha que está sempre buscando por respostas em seus livros; e Bob, um cavaleiro que enfrenta qualquer desafio como um verdadeiro herói. Os três saem em busca de uma resposta para as misteriosas pegadas gigantes que, de repente, começaram a surgir nas terras do reino. São as pegadas ecológicas.
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Ecoturismo
Cordilheira dos
Andes: cinco parques argentinos incríveis Região mais conhecida por vinícolas abriga o Aconcágua, mais conhecido como o teto das Américas, e outras belezas naturais de tirar o fôlego. Ao longo de 20 dias, Editora de Fotografia de Plurale esteve nos Parques Aconcagua, El Leoncito, Ishigualasto, Talampaya e Laguna Brava parque provincial aconcagua
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Texto e fotos por Luciana Tancredo, de Plurale
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belíssima região da Cordilheira dos Andes, no centro-norte da Argentina, é desértica, rica em cores e formas. Com vegetação e fauna muito específicas, acaba sendo um verdadeiro paraíso para fotógrafos, aventureiros e turistas amantes da natureza. Curiosamente, a região é muito mais conhecida por suas inúmeras vinícolas, com vinhos premiados internacionalmente, que dão fama a cidade de Mendoza, do que por sua geografia privilegiada. Resolvemos então, explorar esse lado mais selvagem e natural em nossa viagem. Percorrendo de carro as províncias argentinas de Mendoza, San Juan e La Rioja, em apenas 20 dias, foi possível visitar cinco parques e reservas naturais. Teto das Américas - O Parque Provincial Aconcagua, como o nome indica, é onde está localizado o Cerro Aconcágua, conhecido como o teto das Américas, o pico mais alto do ocidente, com 6.962m. O parque fica perto da fronteira com o Chile, na altura do Paso Los Libertadores. O cenário neste ponto é bem diferente, com montanhas multicoloridas, lagunas de um azul profundo, e os eternos picos nevados. Uma caminhada de pelo menos duas horas leva o visitante até a Laguna Hornores, de onde se pode ver o Aconcágua ao fundo. O passeio é imperdível. A cidadezinha de Uspallata é a base para os programar passeios na região: pequena, porém simpática, é cheia de lojinhas, restaurantes, hotéis de todos os tipos e agencias oferecendo cavalgadas, jornadas de mountain bike, quadriciclo e trekking. No Vale do Rio Mendoza, onde cânions, falésias e rochas misturam as cores vermelha, amarela e laranja, margeando o rio azul claro, não se pode deixar de visitar a Puente del Inca, o Cristo Redentor e o Cementerio del Andinista. Observatórios - De Uspallata fomos direto para Barreal, cidade bucólica que serve de base para se visitar o Parque Nacional El Leoncito. A cidade fica no Vale da Calingasta, já na província de San Juan, às margens do Rio de Los Patos. É bem
turística, com inúmeras pousadas cercadas por alamedas com árvores frondosas. Essa já é numa região de pré-cordilheira, e o parque abriga dois dos mais importantes observatórios astronômicos do país: o Casleo e o Observatório Felix Aguillar. Poucos lugares no mundo podem se vangloriar de ter essa qualidade de céu apresentada na região. Além dos observatórios, o parque contempla uma grande área de rica vegetação, com espécies só encontradas ali como um arbusto conhecido como Retamo. E é lá também que fica o curioso barreal blanco, um gigantesco espaço de terra batida de 10km de comprimento, tão seca que mais parece uma paisagem árida do nordeste brasileiro. Esse barreal se originou do fundo de uma antiga bacia lacustre, e onde os ventos em determinada época do ano chegam a 100km/h, o que permite a prática do Carrovelismo. Ishigualasto e Talampaya - Continuando a viagem, seguimos para San Augustin de Valle Fértil, outra simpática cidadezinha que serve de ponto de partida para visitar dois dos nossos principais destinos, os parques do Ishigualasto e o Talampaya, ambos os parques pertencem à mesma formação geológica, e foram declarados Patrimônio Mundial pela Unesco em 2000. O Parque Provincial Ishigualasto, com destaque para suas diferentes formações rochosas, com cores e texturas que variam do branco ao alaranjado, passando pelo vermelho e marrom, guarda paisagens que se assemelham a superfície lunar. São 40km percorridos de carro (com guia) dentro do Parque parando e cinco estações, com paisagens bem marcadas: El Gusano, Valle Pintado, Cancha de Bochas, El Submarino e El Hongo. Com pouquíssima vegetação, o parque é habitado por guanacos e zorritos fáceis de serem avistados. Bem próximo dali, está o Parque Nacional Talampaya. Além de seus gigantes cânions vermelhos, com cerca de 150m de altura e inúmeros desfiladeiros de arenito, esse parque é repleto de inscrições rupestres e petroglifos que levam o visitante a uma viagem ao passado longínquo da
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Ecoturismo parque nacional talampaya
parque Provincial ishigualasto
era pré-histórica. É possível observar uma vegetação bem mais significante, com a presença de árvores gigantes que ficam as sombras do paredão, e também várias espécies de flores e pássaros. O passeio aqui se faz em ônibus 4X4, aberto em cima, com guia, e o circuito é todo feito pelo leito de um rio seco, nos dias chuvosos, não se pode transitar dentro do parque. Reserva Natural da Laguna Brava Um pouco mais ao norte, já na província de La Rioja, chegamos em Villa Union, uma cidade tranquila que nos leva a nosso último destino, a Reserva Natural da Laguna Brava, que, em determinada época do ano, é residência de inúmeros flamingos rosados. Infelizmente não pudemos vê-los, pois eles já tinham migrado nessa época. Para se chegar a laguna Brava é necessário passar pelo Departamento Vinchina e contratar um guia local. O caminho até a laguna é cercado de paisagens coloridas, antigos abrigos gaúchos desativados e montanhas nevadas. Com a ajuda do guia, é possível ver fósseis e in-
dícios geológicos de vida pré-histórica encrustados nos paredões que margeiam a estrada e também passar por pequenas vilas de moradores perdidas entre as montanhas, nas quais as construções de adobe ainda são as mais comuns. A Laguna Brava fica a mais de 4.400m de altitude e faz parte de um sistema de lagunas andinas de águas salinas de pequena profundidade. A biodiversidade é grande: além dos flamingos e condores, é possível ver várias espécies de aves. A vida silvestre também está presente ali com os camelídeos guanacos , vicunhas e as raposas. A neve branca e eterna em cima das montanhas de tom marrom claro, parecem aquarelas e dão um toque especial à essa paisagem tão diferente do resto da viagem. Por toda a região que percorremos foi possível observar uma enorme variedade de cactos, desde o gigante Cardon, que atinge incríveis cinco metros de altura e estava presente principalmente nas áreas montanhosas, como várias espécies menores e rasteiras que bordeavam as estradas.
panorâmica da cuesta del viento
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como chegar: Existem duas opções, ir direto de avião até Mendoza e alugar um carro para percorrer a região, mas os voos geralmente fazem escala em Buenos Aires. (Preço mínimo U$320) Ou vai de avião até Santiago (preço mínimo U$ 250) e aluga um carro para atravessar a fronteira, que mesmo tendo que providenciar a documentação para a travessia, sai mais barato do que ir por Buenos Aires e Mendoza. Recomendo alugar o carro na Chilean Rent a car, além de ser o lugar mais barato, eles também providenciam toda a documentação para você. Onde ficar: As principais cidades para se hospedar são Uspallata (base para o Aconcagua); Barreal (base para o El leoncito) e San Agustin de Valle Fertil e Villa Union (para visitar os parques de Ischigualasto, Talampaya e a Laguna Brava). Todas essas cidades são pequenas, mas com boas opções de hospedagem, que variam entre hostais até hotéis sofisticados. E também contam com restaurantes para todos os bolsos. Atenção: uma dica importante, leve pesos, pois existem poucos caixas eletrônicos nessas cidades, e em quase todos os lugares, você terá que pagar em dinheiro, quase ninguém oferece serviço de cartão de crédito. Nos Parques: - No Talampaya, você necessariamente, tem que contratar um passeio no centro de visitantes, ninguém entra sem guia. São várias as opções de roteiros e transportes: de micro-
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-ônibus, caminhões 4X4, bikes ou até trekking. E fique atento, o parque não pode ser visitado com chuva, pois o caminho todo é percorrido por um leito seco de rio, se chover ele fica alagado. http://www.talampaya.gov.ar/ - No Aconcágua, você pode entrar a pé e fazer uma caminhada de 4 horas (ida e volta) até a Laguna Horcones e ter uma boa vista do Cerro Aconcágua. Mas para caminhadas mais longas, escaladas e pernoites dentro do parque e acampamentos, só na época certa. http://www.aconcagua.mendoza.gov.ar/ - No El Leoncito, é possível entrar de carro e visitar boa parte do parque, fazer trilhas e picnics, visitar a cascata e os mirantes, só pagando a taxa de entrada, no centro de visitantes. Mas se você quiser fazer as visitas nos observatórios , será preciso agendar. Em um deles é possível inclusive se hospedar, para fazer a observação noturna das estrelas. http:// www.elleoncito.gob.ar/ No Ischigualasto, também há a necessidade de guia, mas você entra em seu próprio carro e segue em comboios de 10 carros, o guia mostra as 5 estações principais do Parque e você tem ainda uma caminhada de meia hora em uma delas. http://www.ischigualasto.gob.ar/ Já na Laguna Brava, pode-se chegar sem guia, só seguindo as indicações, mas não recomendo, pois o guia local que você contrata no departamento de turismo de Vinchina, vai te levar a lugares muito interessantes no caminho até a laguna, e te mostrar inscrições rupestres e lugares com fósseis nas rochas na beira da estrada, que sozinho você não verá. http://www.turismolarioja.gov.ar/
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Ecoturismo cordilheira dos andes
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guanacos na reserva da laguna Brava
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parque nacional El leoncito
parque Provincial ishigualasto
refugio gaucho na laguna brava
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Ecoturismo
inscrições rupestres no parque nacional Talampaya
panorâmica do parque provincial ishigualasto
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parque nacional El leoncito
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Marcos Rechtman
Bairros Sustentáveis = Baixa Mobilidade Urbana = Ascensão Social Por Marcos Rechtman(*)
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o longo dos últimos anos, muito se fez no Brasil para se melhorar os níveis de Renda da população, com destaque não somente para as Políticas Públicas relacionadas com os Programas Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, como também para a Implantação de Polos de Desenvolvimento. Porém, pode-se evoluir ainda mais através de um novo conceito, qual seja, o dos Bairros Sustentáveis, que busca associar os projetos Minha Casa Minha Vida e Polos de Desenvolvimento, de modo a reduzir a mobilidade urbana e proporcionar melhores condições de ascensão social para a população. A proposta desse artigo é o de divulgar a importância da implementação no Brasil de Bairros Sustentáveis, por serem molas propulsoras do desenvolvimento econômico social e ambiental, por serem bairros que dispõem de uma base sólida de viabilidade econômica, priorizam a qualidade de vida das pessoas , proporcionam empregos para a maior parte de seus moradores, respeitam o ambiente e procuram transformar seus moradores pobres em empreendedores e profissionais qualificados, a partir de cursos de curta duração . Considerando que as demandas socioambientais somente podem ser respaldadas com recursos financeiros sustentáveis, podemos concluir que o desenvolvimento de uma série de bairros sustentáveis no Brasil pode contribuir para uma melhoria na geração de renda da região, uma vez que propicia condições para que a maioria de seus moradores não tenha que se deslocar para trabalhar, estudar e se divertir. Para tanto, é essencial que se aceite a premissa de que a sustentabilidade finan-
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ceira é que garante a manutenção a longo prazo tanto a sustentabilidade social como a ambiental. Em outras palavras, se não houver geração de recursos financeiros no próprio bairro, garantidos a longo prazo por meio de empresas rentáveis instaladas, por melhor que sejam as intenções das pessoas em contribuir para a inclusão social e o respeito para as questões ambientais, são poucas as chances de
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se transformar tais projetos em resultados efetivos. A partir da existência de moradores qualificados e empresas privadas viáveis que garantam cerca centenas empregos diretos num Bairro Sustentável, uma série de empregos indiretos vão se inserindo de modo a se viabilizar um projeto Minha Casa Minha Vida para atender de milhares de residências, criando um cír-
culo virtuoso de atendimento das demandas socioambientais. Uma das maiores contribuições desse novo conceito é o de atuar no cerne da questão da baixa produtividade do trabalhador brasileiro, que está extremamente correlacionada com seu nível de escolaridade. Dentre as maiores causas da evasão escolar, podemos citar tanto o desinteresse do aluno como seu cansaço. A implantação dos Bairros Sustentáveis cria condições de focarmos esses dois temas. Em relação ao desinteresse, é indispensável atentar que nosso cérebro impõe diversas capacitações e muitas impossibilidades. Um elevado número de estudantes tem dificuldades em aprender Matemática, outros Português, outros tantos Ciências e, assim, sucessivamente, num processo repetitivo que acarreta na desmotivação e, por consequência, na trágica decisão de abandonar os estudos. Cada vez mais , o que se constata é que a sociedade brasileira está preparada para somente entender os indivíduos que se destacam nos testes de inteligência que priorizam o raciocínio lógico-matemático, relegando a segundo plano, indivíduos detentores de outras formas de inteligência como as relacionadas com o empreendedorismo, a capacidade de mo-
bilizar pessoas, a coordenação motora, a habilidade manual, o raciocínio espacial, as atividades artísticas, o cuidado com os idosos e com as crianças e outras atividades que não podem ser avaliadas por métodos tradicionais de medição do seu potencial . Outro fator agravante, está relacionado com a duração dos cursos. Os estudantes pobres não podem esperar tanto tempo, pois sua condição financeira é precária. Dificilmente, aparecem alternativas de cursos de curta duração, focados na motivação e na possibilidade cognitiva de cada indivíduo. Em relação ao cansaço, torna-se fundamental aproveitar ao máximo, os moradores do bairro para trabalharem nas atividades do próprio bairro. Além disso, disponibilizar em cada bairro, uma estrutura de escolas, hospitais e demais serviços públicos para minimizar o tempo de deslocamento dos cidadãos. Existe, portanto, nesse novo cenário, um benefício de pelo menos de duas horas de economia de tempo dos trabalhadores. Considerando que essa disponibilidade de tempo seja canalizada para as atividades ligadas à sua melhor qualificação, pode-se efetivamente contribuir para suas ascensões tanto social como econômica.
Vale destacar que, atualmente no Brasil, foram desenvolvidos dois projetos utilizando esse novo conceito. O primeiro projeto em São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto, que será realizado numa área plana de 3 milhões de metros quadrados, a partir da utilização de 2 milhões de metros quadrados para construção de milhares de unidades residenciais dentro do programa Minha Casa Minha Vida, complementando o restante da área para atividades empresariais no Polo de Desenvolvimento. E o segundo projeto, no Rio de Janeiro na cidade de Resende, que prevê não somente a construção de milhares de unidades residenciais, bem como com a instalação de unidades econômicas. Por fim, especial atenção em termos da implantação desse novo conceito refere-se ao cumprimento dos seus três requisitos básicos: diagnosticar e implementar ações necessárias para prover os moradores de um nível elevado de sustentabilidade econômica, social e ambiental, viabilizar economicamente os projetos empresariais e melhorar a produtividade através de programas de Empreendedorismo e de Capacitação. (*) Marcos Rechtman (mrechtman@ uol.com.br) é especialista em Bairros Sustentáveis
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Ecoturismo
isabella araripe
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Praias brasileiras buscam certificado internacional de E responsabilidade socioambiental S
Parque Nacional da Serra dos Órgãos ganha nova sinalização O Parque Nacional da Serra dos Órgãos, unidade de conservação administrada pelo ICMBio, localizada no Rio de Janeiro teve a sinalização intensificada na trilha Caminhos da Serra do Mar. Foram instalados totens e setas indicadoras de direção em boa parte dos 68 km da trilha. A época ideal para a prática do montanhismo na Serra dos Órgãos iniciou com um mutirão de sinalização e limpeza das trilhas. Nas ultimas semanas, funcionários do Parque e montanhistas colaboradores realizaram o manejo e a sinalização em três trechos dos Caminhos da Serra do Mar, mas precisamente na trilha Caminho do Ouro, na travessia Cobiçado Ventania e na trilha Uricanal. Ao todo foram mais de 20 km de trilhas manejas e sinalizadas ligando os municípios de Magé e Petrópolis.
Parque Caminhos do Mar reabre para visitação pública O Parque Caminhos do Mar, em São Bernardo do Campo, São Paulo, foi reaberto à visitação pública no início de julho. Ele está localizado dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, Unidade de Conservação Estadual tombada pela Unesco e reconhecida como Patrimônio da Humanidade. O local abriga um precioso patrimônio ambiental, caracterizado por Mata Atlântica de grande beleza cênica, além de um acervo histórico-cultural que marca períodos da história do desenvolvimento do Estado de São Paulo. Todos os roteiros são realizados, obrigatoriamente, com o acompanhamento de monitores. O agendamento de grupos deve ser feito pelo telefone (13) 3372-3307.
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A candidatura de novas praias e marinas brasileiras foi aprovada no dia 30 de julho, em Brasília, pelo júri nacional do programa Bandeira Azul, que simboliza a responsabilidade socioambiental. Ao todo, sete praias e duas marinas passaram pelo comitê do programa, que reconhece internacionalmente litorais turísticos seguros e ambientalmente preservados. Foram cinco novas: Praia de Palmas (Governador Celso Ramos, SC), Praia de Ponta de Nossa Senhora do Guadalupe (Salvador, BA), Praia do Remanso (Rio das Ostras, RJ); a Lagoa do Peri (Florianópolis, SC) e a Lagoa do Iriry (Rio das Ostras, RJ); e quatro renovações (que já possuem bandeiras hasteadas): Praia do Tombo (Guarujá, SP), Prainha (Rio de Janeiro, RJ), Marina Costabella (Angra dos Reis, RJ) e Marinas Nacionais (Guarujá, SP). A aprovação ainda passará pelo parecer do júri internacional que se reunirá em setembro na Dinamarca. O resultado final para a temporada 2015/2016 será divulgado nos primeiros dias de outubro.
Parque Estadual de Monte Alegre no Pará vai ganhar museu Um projeto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e o Instituto do Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), vai musealizar dois sítios arqueológicos do Parque Estadual de Monte Alegre, município localizado na região do Baixo Amazonas, no Pará. Os locais escolhidos são a Serra da Lua e a Pedra do Mirante, mas todo o Parque e seu entorno estão sendo estruturados para receber os visitantes. O objetivo é proteger as pinturas rupestres da região, encontradas nos dois dos 15 sítios arqueológicos existentes no Parque, que é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. No local também serão construídos um pórtico de entrada, estacionamento para visitantes, centro de visitação e plataforma de contemplação da Serra da Lua. O projeto está previsto para ser concluído no prazo de dois anos. A estimativa de orçamento para todo este empreendimento é de três milhões de reais.
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ISABELLA ARARIPE
Prêmio FIRJAN de Ação Ambiental reconheceu práticas sustentáveis de indústrias do estado do Rio divulgação
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ara valorizar boas práticas ambientais de indústrias do estado do Rio, o Sistema FIRJAN promoveu a terceira edição do Prêmio FIRJAN de Ação Ambiental. A premiação anual reconhece o aprimoramento das indústrias fluminenses, de todos os portes, em processos produtivos, implantação de projetos socioambientais e iniciativas que vão além das obrigações legais em prol da sustentabilidade. Na categoria Gestão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) e Eficiência Energética, o prêmio foi para a Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro). Com o objetivo de reduzir a emissão de gases poluentes, a entidade, em parceria com o CONPET/Petrobras, criou o Programa Economizar – Selo Verde, que realiza, entre outras ações, a avaliação da armazenagem e utilização de óleo diesel. Com o projeto, a empresa economizou 722,3 milhões de litros de diesel, além de deixar de emitir 1,9 milhões de toneladas de CO2 e 43 mil toneladas de material particulado. Também foram premiadas: Instituto Vital Brasil, Metalúrgica Bom Jardim, Autopista Fluminense, Companhia Siderúrgica Nacional e Bio Bureau, com menção honrosa.
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Empresas do grupo Invepar organizam ações para o Dia do Motorista
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o último dia 25 de julho, quando foi comemorado o Dia do Motorista, as concessionárias Bahia Norte (CBN), Rota do Atlântico (CRA), Linha Amarela S.A. – LAMSA e Auto Raposo Tavares (Cart) realizaram, em parceria com o Instituto Invepar, uma série de ações para celebrar a data. A CBN fez a entrega de folders temáticos nas praças de pedágio e bases de atendimento aos usuários. Além disso, no dia 27, a companhia promoveu, na Feira de Saúde e Cidadania – Rodovia Cidadã, diversas atividades para os motoristas do Centro de Distribuição da Magazine Luiza, como palestras educativas, aferição de pressão arterial, orientação nutricional e
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odontológica e distribuição de brindes. A concessionária também apoiou o evento promovido pelo Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC) para homenagear os motoristas que atuam no polo industrial da região. Já a Rota do Atlântico, em Pernambuco, fez uma blitz educativa para os motoristas no Ponto Fiscal, parada obrigatória dos caminhoneiros. Entre as iniciativas realizadas, destacaram-se serviços de saúde e massagem, orientação no trânsito, conscientização sobre exploração sexual contra crianças e adolescentes e distribuição de folders informativos e brindes. Os Painéis de Mensagens Variáveis (PMVs) ao longo da via ainda veicularam mensagens educativas sobre a data.
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Coca-Cola Brasil investiu pelo 21º ano consecutivo no Festival de Parintins, uma das mais importantes festas folclóricas do Brasil. Desde o início da parceria, os valores aplicados pela Coca-Cola Brasil no festival ultrapassam R$ 82 milhões, o que contribui, principalmente, para o desenvolvimento socioeconômico do interior do Estado do Amazonas e para a valorização da cultura local. “Temos um relacionamento próximo e duradouro com o Amazonas e seus habitantes, e com orgulho fazemos parte da história do Festival de Parintins. Além disso, nossos produtos tem o DNA Amazonense, já que há 25 anos os concentrados das nossas bebidas são produzidos na Zona Franca de Manaus e distribuídos para todos os fabricantes do Brasil”, disse a vice-presidente de Relações Corporativas da Coca-Cola Brasil, Claudia Lorenzo.
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Coca-Cola participa do 50º Festival de Parintins
Sistema de rastreamento de lixo tóxico desenvolvido na UVA já é utilizado no Rio
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rodutos de limpeza e cosméticos vencidos, resíduo hospitalar, materiais radioativos, pilhas, baterias, agrotóxicos, embalagens vazias de produtos variados, como inseticida e tinta. Muitos são os exemplos de resíduos perigosos, que devem ser descartados corretamente. Para evitar que haja um desvio no caminho desses indesejáveis resíduos, os professores do Mestrado Profissional de Ciências do Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida desenvolveram a “Tecnologia de Identificação por Rádio Frequência RFID para gerenciamento e rastreamento de resíduos tóxicos”. O projeto foi finalista na Conferência RFID Journal Live! – o maior evento mundial relacionado a tecnologias de comunicação via radiofrequência, que aconteceu em abril, em San Diego, na Califórnia. A pesquisa concorreu na categoria Meio Ambiente e levou o segundo lugar. Agora, divulgação essa tecnologia já poderá ajudar o Estado do Rio a aumentar o padrão de segurança ambiental. As empresas Ambiente Brasil e RFID Brasil, parceiras do projeto, já estão utilizando o novo sistema no gerenciamento de resíduos em fase experimental aplicada, para que o resíduo perigoso chegue ao seu destino final de descarte ambientalmente correto, sem risco de desvio no caminho.
Ricardo Voltolini realiza evento e lança livro
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oi realizado no início de agosto, em São Paulo, o 4° Encontro Anual de Líderes da Plataforma Liderança Sustentável, que marca o início de um novo ciclo do movimento, desta vez sob o tema inovação para a sustentabilidade. Na ocasião, 10 novos presidentes de grandes empresas passaram a fazer parte da iniciativa, integrando-se a um time de 30 CEOs e 11executivos que têm divulgação transformado a cultura de suas companhias. Além disso, foi realizado o lançamento de Sustentabilidade no Coração do Negócio, novo livro do consultor Ricardo Voltolini, diretor-presidente de Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade e idealizador da Plataforma.
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VIDA Saud ável Stevia no combate às rugas
Sabe a planta Stevia, que tem sabor semelhante ao açúcar e vem sendo bastante utilizada ao longo dos últimos anos como uma alternativa natural para adoçar alimentos e bebidas? Recentemente, estudos feitos por pesquisadores revelaram uma nova peculiaridade sobre a Stevia Raubadiana. “Também é boa no combate às rugas”, diz a Dra. Sylvana Braga, nutróloga, reumatóloga, fisiatra e especialista em prática ortomolecular, também autora
do livro “Dieta Ortomolecular – o segredo de rejuvenescer em total harmonia”. Ela explica que estas folhas são ricas em acetilcolinesterase, uma enzima que degrada a acetilcolina, mediador químico da contração muscular. “Esta enzima ao ser deslocada para a sinapse neuronal realiza a paralisação do músculo, que resulta no efeito semelhante à toxina botulínica, processo que vem sendo bastante utilizado após esta descoberta”, explica a Dra. Sylvana.
Cambuci, a fruta azeda que conquistou consumidores
Já ouviu falar em cambuci? Não se trata de nome de bairro paulistano ou de cidade, mas sim de uma fruta que tem despertado a atenção de muitos consumidores. Originária da Mata Atlântica, a fruta de aparência estranha e gosto azedo ganhou destaque pelas suas propriedades. Como é muito ácida, não costuma ser consumida in natura, mas tem sido bem
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apreciada em doces, cachaça e outras receitas. Segundo nutricionistas, o cambuci é uma boa fonte de vitaminas, carboidratos e fibras, pouco calórica, mas com baixo valor proteico. Cidades do interior paulista, da Serra do Mar, se uniram há alguns anos, criando a Rota do Cambuci e foi criada também uma Associação par estimular o plantio e consumo da fruta.
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Milho peruano gigante O milho gigante peruano torrado é um aperitivo feito com uma espécie de milho típica da região andina. É 100% natural, assado, sem glúten, sem gordura trans, feito com milho não-transgênico. Na época do império Inca os governantes presenteavam os guerreiros heróis com preparações feitas a partir do milho gigante. Pode ser encontrado em sites e também em algumas lojas de produtos naturais.
Pimenta é saudável Consumir frequentemente comida apimentada --especialmente a temperada com pimenta malagueta fresca-- pode aumentar a longevidade. É o que sugere um estudo da Academia Chinesa de Ciências Médicas publicado na revista especializada “BMJ”. De acordo com reportagem publicada pela BBC, os pesquisadores chineses examinaram a dieta de quase 500 mil pessoas durante sete anos e observaram que os que consumiam comida picante ao menos duas vezes por semana tinham uma redução de 10% no risco de morte na comparação com os que consumiam este tipo de refeição menos de uma vez por semana. O risco foi reduzido ainda mais --em 14%-entre aqueles que consumiam comida picante entre três e sete dias por semana.
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Pais se unem em torno da proposta da melhoria do ensino em Manaus Por Nícia Ribas, de Plurale De Manaus Foto: Rodemarques Abreu (Semed)
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resente ao Seminário Mudar a Escola, melhorar a educação: Transformar vidas, realizado em Manaus nos dias 31 de julho e 1º de agosto, Helena Singer, assessora especial do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, entusiasmou-se com o sucesso do evento e convidou o CEFA – Coletivo Escola Família Amazonas, idealizador do Seminário, para integrar o Grupo de Trabalho Nacional de Inovação e Criatividade na Educação Básica. “É vontade do atual ministro que a educação básica seja prioridade. O grande desafio é fazer com que os níveis de ensino dialoguem. ” Com essas palavras, ela respondeu a uma das perguntas dos participantes durante o seminário. O evento lotou o auditório da Secretaria Municipal de Educação de Manaus. O que mais impressionou as autoridades presentes foi a motivação dos mais de
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200 pais e educadores participantes, que tiraram dúvidas e tentaram contribuir para mudar e melhorar a educação. “Esse bate-papo é importante. Não podemos deixar o assunto educação morrer e entrar em uma rotina que está aí”, disse a professora Sandra Maria, participante do seminário. Mesas redondas Educadores puderam interagir com os palestrantes, nas mesas redondas, sobre temas como: “O Amazonas repensando a forma de educar”, com Ieda Maria, do projeto Afra; “Os desafios da educação no Brasil e experiência escolares inovadas”, com Helena Singer (MEC), Lucineide Pinheiro (UFOPA) e Braz Nogueira (ex-diretor da EMER Campos Salles, em São Paulo); entre outros convidados. A subsecretária de gestão educacional da Semed, Euzenir Trajano, disse que a parceria com o CEFA fortalece as ações de ensino/aprendizagem desenvolvidas pelo Município. “Um dos nossos objetivos mais ousados é estar entre as melhores redes de ensino do País. Por isso abraçamos
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essa causa trazida pelo CEFA e passamos a realizar várias atividades que possam estabelecer uma nova forma de ensinar”. A coordenadora do CEFA, Ana Bocchini, lembrou que o momento é de reflexão, união e de buscar alternativas para melhorar o sistema educacional com a opinião de educadores de toda rede. “Esse evento é uma oportunidade para que os educadores reflitam sobre o modelo atual de escola tradicional. Nós consideramos que é possível inovar a educação, em que o tradicional não corresponde à realidade da sociedade atual. A gente quer identificar gestores que compactuem esse pensamento conosco e, quem sabe, iniciar um projeto nesse contexto”, disse. Para conhecer melhor esse movimento que surge na base da sociedade brasileira, e para fazer doações para o seminário em Manaus, aí estão os endereços do site do grupo de Manaus e de um filme no Youtube sobre o tema. http://juntos.com.vc/pt/seminarioeducacaomanaus h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m / watch?v=HX6P6P3x1Qg
Frases O psiquiatra e educador Içami Tiba - falecido aos 74 anos, no dia 2 de agosto, em São Paulo, após lutar corajosamente contra um câncer – deixou um legado e tanto. Nascido em Tapiraí (SP), em 1941, o psiquiatra era filho de imigrantes japoneses que chegaram ao país na década de 1930. Escreveu 29 livros, que somaram mais de quatro milhões de cópias vendidas. Sua obra de maior sucesso, o best-seller Quem Ama, Educa, lançado em 2002, teve mais de 170 edições. Tiba era veterano na psicoterapia de adolescentes e famílias. A felicidade é saber Homens caçam, Educar dá trabalho. “ “mulheres “ fazem ninhos. Mas é um trabalho que dá usufruir muito bem o que ” bons frutos. se tem, sem ficar sofrendo ” pelo o que não se tem, é O vegetal sobrevive, a boa auto-estima que o“animal sacia seus Nenhum projeto é “ permiti viver com esse instintos e o ser humano viável se não começa feliz equilíbrio. deseja ser feliz! a construir-se desde ” ” já: o futuro será o que E os filhos são a fazer dele “ “Quem ama, educa!” começamos como navios... A maior no presente. ” para os navios Criar uma criança é “fácil, basta satisfazer-lhe Não é errando que segurança pode estar no porto, mas “se aprende, mas sim eles foram construídos as vontades. Educar é para singrar os mares. trabalhoso. corrigindo o erro. ” ” ” 63
CINEMA
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ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Assim Vivemos: 33 Filmes De 20 Países
Realizado a cada dois anos, “Assim Vivemos – Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência” chega a sua 7ª edição, no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, em agosto, setembro próximos e março de 2016, respectivamente. São 33 filmes de 20 países e quatro debates sobre os temas autonomia, imagem e estigma, ser artista e autismo, sempre com entrada franca. Há produções do Brasil, Austrália, Espanha, Alemanha, México, França, Chile, Polônia, Itália, República Tcheca, Bielorrússia, Rússia, Reino Unido, Cazaquistão, Eslováquia, Bélgica, Irã, Suíça, Ucrânia e Israel. Os gêneros variam de documentários a animações e ficções, sendo que os protagonistas são, em sua maioria, pessoas com deficiência. Promovendo a acessibilidade para todos os públicos, o festival oferece audiodescrição em todas as sessões e catálogos em Braille para pessoas com deficiência visual; e legendas closed caption nos filmes e interpretação em LIBRAS nos debates para as pessoas com deficiência auditiva. Os portadores de deficiência física também contam com garantia de acessibilidade, já que a arquitetura dos espaços é apropriada.
Documentário Sobre Índios Kadiwéu “A Nação que Não Esperou por Deus” é o documentário dirigido por Lúcia Murat sobre os índios Kadiwéu que vivem no Mato Grosso do Sul. A primeira vez que a diretora entrou em contato com a tribo foi em 1999, ao filmar seu longa ‘Brava Gente Brasileira’. O documentário - com a codireção de Rodrigo Hinrichsen - surge de uma nova visita à tribo, em 2013 e 2014. Em 15 anos muita coisa mudou na vida dos Kadiwéu. Chegaram ao lugar a eletricidade, as igrejas evangélicas e os pecuaristas com quem passaram a disputar o território. Lúcia ouve depoimentos dos indígenas e analisa os diferentes caminhos seguidos pela tribo. O trailer do filme pode ser visto no You Tube: https://www. youtube.com/watch?v=1cEq7ETB200
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Produção Investiga Dna Africano Produção da Cine Group, “Brasil: DNA África” investiga a origem dos afrodescendentes e a importância dos africanos na construção do país. São cinco episódios de 52 minutos cada um, baseado em três eixos: o histórico, o cultural e o científico. Ao todo, 150 pessoas de cinco estados brasileiros fizeram testes de DNA para descobrir suas origens, se a pessoa compartilha a ancestralidade de determinadas etnias africanas. Mais de 220 etnias africanas estão registradas no banco de dados do laboratório responsável pelos testes, o African Ancestry, baseado em Washington, nos Estados Unidos. De cada estado, Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Pernambuco, uma pessoa foi escolhida para visitar seu povo na África. A série documental busca resgatar laços interrompidos pela escravidão. O Cine Group ainda negocia a exibição em um canal pago de televisão.
Cinegrafista Ganha Prêmio Socioambiental Cristian Dimitrius, biólogo, cinegrafista, fotógrafo da vida selvagem e apresentador do quadro Domingão Aventura do programa Domingão do Faustão da Rede Globo, recebeu o Prêmio Benchmarking Pessoas que reconhece o ativismo de resultados e trajetórias inspiradoras em prol da conservação do meio ambiente. Cristian diz que sua missão é fazer com que as pessoas se apaixonem pelo planeta através de suas imagens, assim conscientizando e estimulando a sua preservação. O Prêmio Benchmarking Pessoas existe desde 2012 e vem se consolidando como um selo de sustentabilidade brasileiro.
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A. Maciel/Acnur Brasil
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Dia Mundial do Refugiado (20 de junho) foi lembrado com vários eventos em diferentes países, inclusive no Brasil. No Rio de Janeiro, foi celebrado um ato no Cristo Redentor e também em dia de atividades na Escola Municipal Friedenreich, localizada dentro do Estádio do Maracanã. Em inglês e português, as crianças refugiadas do coro Coração Jolie cantaram “Heal the World”, pedindo por um mundo sem guerras e conflitos. Os alunos da escola pública também foram convidados a colorir bonecas de pano doadas pelo ateliê Com Lola, que foram enviadas a meninas e meninos sírios que estão em campos de refugiados da Jordânia. Foto de A. Maciel, da Agência da ONU para Refugiados.
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PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2015
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Um design tão distinto, que poderia ser reconhecido apenas pelo toque no escuro, e tão exclusivo, que poderia ser identificado mesmo estilhaçado no chão. Esse foi o briefing para a criação da garrafa de Coca-Cola, que em 2015 completa 100 anos. A garrafa de Coca-Cola é reverenciada desde o seu lançamento, pois seu design já nasceu clássico. Com sua marca autoconfiante em letra cursiva e contornos sensuais, a peça ganhou status de ícone, uma musa inspiradora presente nas telas de cinema, nas artes plásticas e em clássicas letras de música ao longo desses anos. Nos 100 anos desse ícone, relembramos o significado e o valor que a garrafa possui dentro da cultura popular e que ela ainda é um dos principais responsáveis pelo sucesso da marca em todo o mundo. A garrafa de Coca-Cola é um ativo inestimável para a empresa, e a comemoração do seu centenário convida pessoas do mundo todo para um brinde com uma Coca-Cola bem gelada. 68
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2015
Um design tão inovador, qUe Um séCUlo depois ContinUa sendo atUal.