Foca em Sampa: Cinema

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“Cinema é fonte de cultura e entretenimento”, diz frequentador da Reserva Cultural

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É com essa frase que Diego Dosansil, 21 anos, revela o seu gosto por cinema. Ele, frequentador da Reserva Cultural desde 2006, enfatiza que o diferencial desse tipo de cinema é a programação de alto nível e cineastas que não estão no circuito comercial dos shoppings e grandes redes: “Eu me considero um cinéfilo. Onde tem filme – bom – é onde eu estou. Programação boa para mim é aquela na qual você literalmente chora. Aquele paradigma de que é filme de romance que faz as nossas lágrimas caírem é coisa de quem não conhece filme de verdade. Eu chorei assistindo Laranja Mecânica, não pelas torturas que eu vi, mas pela perfeição com a qual o filme foi produzido. É de uma emoção indescritível.” Atualmente Analista de Marketing da empresa 4Linux Free Software Solution, Diego também está estudando Letras na Universidade de São Paulo (USP). Como frequentador assíduo da Reserva Cultural, que fica na Avenida Paulista, ele revela que

os filmes que mais gostou de ver foram A Separação, de Asghar Farhadi; No, de Pablo Larraín; e Fausto, de Alexandr Sokurov. “Todos esses filmes eu assisti na Reserva. Eu indico para todos os que me perguntam onde tem um filme bom passando. Tento introduzir mais cultura aos meus amigos.” Além da Reserva Cultural, ele ainda frequenta o espaço de cinema do Museu de Imagem e do Som (MIS), o espaço cinema do Centro Cultural Vergueiro e o Centro Cultural Banco do Brasil. Também frequentava o antigo Cinema Belas Artes, que foi fechado por tempo indeterminado. Quando se fala em qualidade da Reserva Cultural, Diego afirma: “O cinema é muito bem cuidado e o público diferenciado. Nunca presenciei problemas técnicos, ou falta de educação dos espectadores”, e completa: “Nesses tipos de cinema passam diversos estilos de filmes. Já assisti Western no MIS, por exemplo, ou terror no cinema do Centro Cultural Vergueiro, ou ainda Hitchcock no Centro Cultural Banco do Brasil”. Ao perguntar em melhorias na programação e nas salas do cinema, o cinéfilo diz que cidades como São Paulo, possuem uma grande abrangência de cinemas para todos os gostos e públicos e as cidades do interior sofrem bastante com a pouca diversidade de programação e ausência de cópias legendadas dos filmes. “Todos devem dar uma atenção especial para os públicos que estão fora do circuito Rio-São Paulo”, alerta Diego.

Quando questionado sobre a preferência entre ReservaCultural ou cinemas dos shoppings, o jovem ressalta: “Depende da programação. São espaços distintos, para públicos distintos. Há cinemas que, realmente, não devem exibir certas programações que já monopolizam o circuito comercial. A Saga Crepúsculo, por exemplo, monopolizou a metade das salas de cinema do Brasil, e nem chegou a passar na Reserva Cultural”, encerra. A edição do jornal Sampa Mais deste mês fala sobre os cinemas alternativos que podemos encontrar fora dos shoppings. Como por exemplo, os culturais, drive-in e pornográficos. Percebemos que um grande público, mudou sua opção, pois não aguentava mais as filas para entrar nos shoppings, para comprar o ingresso, entrar na sala e até para sair depois que o filme acabava. Sem contar, que sem tem uma turma de adolescentes fazendo piadinhas e rindo alto, coisa que não acontece nesses cinemas alternativos. Pois o público é bem diferente, geralmente as pessoas que frequentam esses cinemas são mais “cult”. Editores: Camila Alcântara Haila Piva Estela Lopes Maryna Napolitano


Sampa dos cinemas Cinemas culturais não são preferência do paulistano, mas atraem público diferenciado

HISTÓRIA A introdução do cinema no Brasil já ultrapassa um século, e dentre estes mais de 100 anos de entretenimento visual, a indústria cinematográfica tem ganhado grande espaço no cotidiano da população. No Brasil, e mais especificamente em São Paulo, o cinema iniciou suas atividades sem muita estrutura e era praticamente restrito ao público masculino de trabalhadores. Com o tempo, redes de cinema foram se constituindo e o cinema passou a ser encarado, principalmente, como uma grande fonte de negócio. A classe burguesa foi se interessando pela indústria cultural do cinema e sua estrutura teve de se aperfeiçoar para atender este público mais exigente. De repente, os grande galpões que exibiam os filmes se modificaram com base na estrutura dos grandes teatros e óperas já existentes – na Europa - remetendo-os ao luxo e, em pouco tempo, o cinema passou a ser frequentado somente pela alta sociedade. O antigo público, em sua maioria pobres, passaram a não ter mais acesso aos “espetáculos” – situação que só começou a mudar depois da iniciação do

gênero de filmes intitulados de “Chanchada” (filmes com roteiros populares), quando o povo voltou a ter acesso às salas de cinema. Mais do que nunca, nos dias atuais, o cinema é visto pela indústria cultural como uma grande fonte de angariação de fundos, e os filmes, em sua grande maioria, são produzidos visando o lucro que darão às produtoras, que visa aumentar a frequência de pessoas nas salas de cinema. Normalmente, as salas são construídas em grandes centros consumista, os famosos “shoppings centers” e os filmes que ali são transmitidos tem

“...Esse espaço é mais do que só um cinema, é um espaço de convivência.” André Sobreiro

o objetivo principal de entreter o espectador, por isso são chamados de filmes comerciais. Em busca de filmes com a proposta de propagar cultura, os chamados “Cinemas Culturais” passaram

a ser grande aliado dos espectadores que buscam conhecimento incomum às massas. Essas salas se encontram, geralmente, em amplos espaços e, algumas delas possuem além das sessões, cafés e livrarias, e se tornam ponto de encontro de amigos ou até mesmo locais de reuniões de trabalho, como acontece com o Espaço Itaú Cinema, localizado na Rua Augusta, uma travessa da Avenida Paulista. O jornalista André Sobreiro (21), conta que é frequentador do lugar há muitos anos: “Frequento o Itaú cinema desde que eu me mudei para São Paulo, há quase 10 anos e adoro o espaço. Hoje, por exemplo, eu não vim aqui para assistir nenhum filme. Reunião de trabalho eu faço muito aqui, eu venho aqui para ler e tomar um café. Eu acho que esse espaço é mais do que só um cinema, é um espaço de convivência. Tem a livraria aqui que é ótima”. Diferentemente do público que frequenta os shoppings, as pessoas que se dirigem aos cinemas alternativos não vão até lá por acaso: “O cinema do shopping tem muito essa característica de que ás vezes

você nem estava indo para o cinema, estava indo para comprar uma roupa, estava indo comer ou o que quer que seja, passou na frente e viu o cinema. Isso atrai o público, lota. Aqui não, as pessoas que vem até aqui, vem aqui. Elas não estão aqui para assistir o filme da moda, porque o filme da moda não está passando aqui. Você vem aqui para assistir um filme muito específico que alguém comentou, por isso eu gosto muito dessa experiência diferenciada”, ressalta o estudante de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, Caio Moreti (20), frequentador do CineSesc. Mas ainda há quem diz que prefere os cinemas que estão localizados nos shoppings, devido à variedade de entretenimento: “Eu gosto de ir ao cinema no shopping porque a estrutura dele é incrível. Além disso, temos a oportunidade de fazer diversas atividades no mesmo local”, contrapõe Camila Landin (26), estudante de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo. Cinemas com programação cultural - Espaço Itaú Cinemas Rua Augusta, 1.475 e 1.470/ Consolação - Cine Sesc R. Augusta, 2075 /Cerqueira César - Cine Livraria Cultura Av. Paulista, 2073 - Bela Vista - Reserva Cultural Av. Paulista, 900 - Bela Vista

Mãe gorda inspira criação milionária

Proposta nostálgica traz cinemas ao ar livre à São Paulo. Com certeza você já deve ter ouvido a palavra drive em algum lugar que foi. A primeira lembrança que deve ter é a do famoso drive thru, que nada mais é do que um pedido feito de dentro do carro nas grandes redes de fast food. Outro termo conhecido é o drive in, usado para nomear motéis nos quais as pessoas estacionam seus carros e mantém relações sexuais entre os bancos. Mas, você sabia que drive in é mais conhecido - principalmente por seus pais e avós - como um cinema ao ar livre? Tudo começou na década de 1930, nos Estados Unidos. Richard Hollingshead, um norte-americano que trabalhava como gerente de vendas na empresa do pai, incomodou-se com as reclamações da mãe, que não podia se acomodar nas poltronas dos cinemas por estar muito acima do peso. Richard, então, amarrou um lençol entre as árvores do quintal de casa, estacionou o carro com a sua mãe dentro na frente da tela improvisada e ligou um projetor. Aí nascia um grande projeto. Patenteada a ideia, Richard abriu, em junho de 1933, o seu primeiro drive-in theather, um cinema ao ar livre no qual as pessoas posicionavam seus carros numa grande área descoberta e assistiam à programação ali, com mais privacidade, conforto e liberdade. No Brasil, o cinema drive in ganhou popularidade na década de 1970. Estados do país inteiro aderiram à sétima arte e, na cidade de São Paulo, por exemplo, era possível encontrar esses cinemas em avenidas movimentadas e

nas marginais. Um dos mais famosos e frequentados drive ins da cidade ficava na zona sul. Os carros estacionavam em filas entre auto-falantes e, no meio da sessão era possível fazer pedidos de comidas e bebidas. Como os casais começaram a fazer outras coisas além de apenas assistir aos filmes, o drive in foi perdendo sua característica inicial e, pouco a pouco, os filmes deixaram de ser transmitidos, e os drive ins se tornaram motéis ao ar livre; o único sobrevivente no Brasil fica no Distrito Federal. O cine drive in Brasília acomoda 500 veículos em seu estacionamento e atrai tanto brasileiros como turistas. Apesar das crises - desapropriação das grandes áreas para projetos governamentais, invenção da televisão, apelação para um público alternativo etc - ainda hoje é possível encontrar cerca de 400 cinemas ao ar livre nos Estados Unidos e que são bastante frequentados. Em terras brasileiras, a fim de resgatar o que era moda nas décadas passadas, a cidade de Ribeirão Pires realizou, em 2010, o seu 1º Festival de Cinema. Para o evento, foi montado uma estrutura nostálgica ao ar livre no Paço Municipal da cidade, que recebeu mais de 4 mil pessoas. Foram dois meses de exibições gratuitas, com sessões às 21h e uma diversidade de filmes estrangeiros e nacionais, além de uma programação para todos os públicos.

*Foto retirada do Arquivo Estado


Cine Pornô em São Paulo Espaços de sessões eróticas são mais frequentados pelo público GLS O século XIX foi marcado por acontecimentos que trouxeram grandes avanços para a humanidade, tanto tecnológicos quanto artísticos. No ano de 1895, por exemplo, o mundo passava a conhecer uma criação revolucionária nas artes e na indústria cultural, o que chamaram de cinema - um aprimoramento de estudos e testes feitos por cientistas ao longo da história. No ano seguinte, em Paris, o diretor Eugene Pirou inovou e produziu o filme Le Coucher de La Mariee (A Noiva do Sol), no qual a atriz principal fazia um striptease. A ousadia de Pirou impressionou o mundo, principalmente porque o filme foi comercializado apenas um ano após a primeira exibição pública de imagens em movimento, mas, só em 1908 que o primeiro filme pornográfico foi reproduzido. Nominado “La Bonne Auberge” (O Bom Alguergue, em português), do diretor francês George Melies, a trama mostrava cenas de sexo entre a camareira de um hotel e um soldado. O surgimento A partir disso, ficou conhecido como cinema

pornográfico, ou cinema “pornô” os filmes que expõem explicitamente o ato sexual ou partes do corpo como as genitais. Esse tipo de filme era feito na casa de clientes ou em clubes privados e, diferente do que é hoje, ele possuía uma história central que abordava de forma mais sutil o ato sexual. Mesmo assim, desde seu início não havia relação de afeto entre os atores. Os filmes pornográficos ainda passaram por clandestinidade e somente depois da década de 1960 é que ocorreu a explosão comercial do gênero. A obra considerada mais popular da história foi o “Garganta Profunda”, produzida em 1972, nos Estados Unidos. Suas filmagens foram feitas em seis dias e, segundo pesquisas, foi o filme mais visto de todos os tempos, ultrapassando o “Titanic” e “E.T”, mas só não aparece nas listas por se tratar de uma obra pornográfica. Nas cenas atuais, o ato sexual é mostrado explicitamente para o público e conta com a participação de pessoas diversificadas e de diversas idades, desde travestis, michês, homens, mulheres, casais, gays etc.

liberdade que se possui dentro desses locais. Aqui em São Paulo não são poucas as salas de cinemas direcionadas à programação erótica. Mais conhecidos como “Cinemão”, o público dessas salas são, em sua maioria, os classificados GLS. Eles procuram os lugares onde estão sendo exibidos filmes pornôs a fim de se excitarem e, eventualmente, encontrarem um parceiro, ali mesmo, para satisfazer o seu desejo momentâneo. Na capital, o mais conhecido da categoria é o Cine República, localizado na Avenida Ipiranga. O espaço é dividido por duas salas que passam filmes héteros e gays, além de três andares com os chamados “dark rooms” e um bar, para que os clientes se sintam confortáveis e à vontade para fazerem o que foram fazer.

No escondidinho do cinema Segundo depoimento de frequentadores, a maioria das salas de cinema é locada em construções antigas e escondidas, as poltronas são velhas, os banheiros possuem forte cheio de urina e fezes. No chão, há papeis higiênicos e camisinhas com esperma por todo lado. Tudo isso se deve à

Fachada do Cine Marabá, um dos cinemas que exibia filmes pornograficos mais antigos da cidade de São Paulo


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