Foca em Sampa Cultura no metrô
001 Jornalista participou da primeira viagem de metrô de São Paulo Ligeirinho ganhou esse apelido não foi à toa. Quando dividia o seu dia entre o Diário do Grande ABC e a Agência Folhas de Notícia, do Grupo Folha, ele era obrigado a circular pela região metropolitana inteira atrás de informações. Chegava às 8h na redação, em Santo André, pegava o carro e ia de delegacia em delegacia do ABCD (além de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) atrás de pautas policiais. À tarde, partia para o centro de São Paulo, na Alameda Barão de Limeira, 425, para colher as notícias que chegavam de correspondentes e repórteres de rua. Talvez seja por essa ligeireza toda que o jornalista Arlindo Ribeiro, paulista que cresceu no Paraná, tenha sido convidado a cobrir a primeira viagem de metrô da cidade de São Paulo. A inauguração da – hoje – Linha Azul aconteceu em 14 de setembro de 1974, e ele estava lá para prestigiar. Aliás, tinha chegado a São Paulo no ano anterior. “A Direção do Metrô resolveu fazer uma viagem de teste no percurso Estação Jabaquara até a Estação de Vila Mariana e vice-versa, para todos os jornalistas de SP. E mandou os con-
Expediente Orientação: Prof.ª Renata Carraro
Ligeirinho na década de 1980 e hoje. (Foto: Arquivo pessoal)
vites para o Grupo Folhas. A viagem foi programada para a manhã de um sábado. Eu, que tinha chegado há pouco tempo em São Paulo, não recusei. E fui acompanhado de minha esposa Júlia e da Juliana, minha primeira filha, na época com quatro anos”, relata Arlindo.
no Departamento Esportivo da Rádio Difusora, escrevendo todo o noticiário.
À época da viagem sob a terra, ele morava na Zona Sul da capital. A inauguração foi acompanhada de uma preparação em casa. “Na véspera daquela viagem, quando cheguei em Ele não foi o único, porém, a casa, disse para minha esposa levar a família. “O clima no va- que tinha uma surpresa para gão onde estava era de festa. ela e para a Juliana no dia seNão fui só eu que levei filhos. guinte. Expliquei sobre o conOutros jornalistas também o vite. No sábado acordamos fizeram. Então, você pode até cedo. Tomamos um café reforimaginar a gritaria das crian- çado porque não tinha certeza ças naquele trem”, brinca o do horário em que voltaríajornalista. mos. Na viagem de táxi a minha filha Juliana perguntava a Ligeirinho começou a carreira todo momento onde a gente ia profissional na Rádio Guaira- e o que era andar de metrô. A cá, da cidade de Mandaguari resposta era para que tivesse (PR), na década de 1960. Foi paciência porque ela iria sentir para Maringá, também no Pa- na própria pele”, conta Arlinraná, onde ficou empregado do. (Caio Colagrande) Edição e textos: Caio Colagrande Rodrigo de Brum Paula Marolo
Diagramação: Caio Colagrande Faculdades Integradas Rio Branco jun/2013
Metrô vira palco para músicos Talentos desconhecidos do grande público apresentam-se em frente às estações, formam seu público e promovem intervenção em São Paulo
Cultura no underground
E D I T O R I A L
O interesse dos brasileiros por adquirir cultura ainda carece de desenvolvimento, mas, no entanto, algumas ações por parte do governo e da própria população tendem a despertar um maior interesse cultural e até mesmo fazer com que as pessoas busquem alguma forma de expressão. Na matéria principal, intitulada “Metro vira palco para músicos”, assinada por Caio Colagrande e Rodrigo de Brum, são apresentadas duas bandas que se destacam por se utilizarem do metrô como seu palco de shows. A banda dos seguranças do metrô faz shows em diversas estações e o grupo Pelas Ruas SP possui como abordagem a livre forma de expressão e usa as saídas das estações para criar um clima todo especial com o seu repertório de músicas. Além das bandas, o metrô também se destaca dentre os diferentes meios de transporte da capital paulistana por abrigar em suas paradas exposições, roteiros turísticos, literatura e outras atividades que aproximam o usuário do metrô à cidade de São Paulo. Através da matéria “Estações do metrô de São Paulo garante acesso à cultura”, o jornal mostra como a cidade respira cultura em meio aos trilhos do metrô. Por fim, o Foca Em Sampa apresenta a crônica “Os mendigos também são felizes”, que conta a história do morador de rua João. Em um relato comovente, o repórter Rodrigo de Brum discorre sobre uma apresentação de música ao ar livre que acaba por conquistar o coração de pessoas humildades e transformar a rua em um verdadeiro palco.
Larissa Gregio sai do trabalho às 17h, toma ônibus e metrô e chega a São Bernardo do Campo por volta das 19h. Nesse intervalo, ela tem a companhia de bandas de rock, que fazem um show particular nos seus fones de ouvido. O que ela não sabia, porém, é que na porta da estação Vila Madalena (Linha 2 – Verde) tocava a banda Pelas Ruas de SP.
Formada pelos seguranças Cipriano (teclado), Marcos José (guitarra/violão), Henrique Nunes (baixo elétrico), Fabio Ferreira (bateria), Costa Lima (vocal), Maestro Lucivaldo Araújo (trombone) e Geverton (saxofone), o grupo é mais uma forma de espalhar cultura pela cidade.
Ela não é a única. Todos os dias, passam pelas catracas do metrô de São Paulo cerca de 4,5 milhões de pessoas. Em comum, a falta de atenção pelo o que acontece ao redor delas.
“Estes empregados são preparados para ocuparem seus postos nas estações metroviárias. Porém resolveram somar a energia do agente de segurança à cordialidade, gentileza e leveza da arte”, declarou Rubens Menezes, chefe do Departamento de Segurança do Metrô.
“As pessoas que realmente gostam de música param para nos ouvir, então, acho que é muito mais uma questão das pessoas do que de nós mesmos. Elas se permitirem saírem da rotina para curtir um momento de descontração”, explica Lucas Kaizer, integrante e um dos fundadores da banda Pelas Ruas de SP, projeto musical de três amigos que se juntaram para tocar de graça pelas ruas da capital. O grupo se apresenta todas as terças e sextas-feiras em uma estação diferente. A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), porém, não autoriza apresentações dentro das estações. “O Metrô oferece incentivo. Porém, precisa ser apresentado o projeto, etc. Algo que nós do Pelas Ruas de SP ainda não fizemos. Porém, sem autorização é proibido fazer qualquer barulho nas dependências do metrô”, relata Kaiser. Por outro lado, a empresa mantém uma banda de agentes de seguranças da empresa, que se apresenta uma vez por mês nas estações paulistanas.
Festival no Metrô Com duas edições no Brasil, o Festival Internacional de Músicos de Metrô, evento que consiste em apresentações de artistas chamados de buskers - aqueles que sobrevivem apenas de sua forma de expressão e arte, isso de forma extremamente livre e criativa chegou à São Paulo em 2010 e até aqui contou com mais uma edição em 2012.
pelo produtor cultural Marcelo Beraldo, que atento às tendências mundiais resolveu trazer para terras tupiniquins o evento que já acontecia em grandes cidades ao redor do globo, com destaque para Nova York.
Rosa, Brás, Palmeiras Barra Funda, Sé, Luz, República, Pinheiros, Vila Madalena e Sacomã. (Caio Colagrande e Rodrigo Brum)
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OP EÇA H N SP Aqui, o evento é finan- CO ciado por uma empresta de bebidas energéticas, as a Red Bull, e conta com s tod e õ ç a nt o incentivo da Lei Rouaas prese s e quint A a ç net (Lei de Incentivo à as ter Cultura do Ministério h Às 21 da Cultura), além da o, Área de Ação Cultural maçã a r g o pr do Metrô de São Paulo. ver a sse: Para ace Na última edição, diverRuas s a l e /P sos artistas de renome k.com o o b e no circuito de músicos .fac deSP www de rua desembarcaram em São Paulo para tocar em nove estações: Ana
A atração foi idealizada no Brasil Acima, a banda de agentes de segurança do metrô, que começou a tocar em 2013
Estações do metrô de São Paulo garantem acesso à cultura Possibilidades de entrenimento se estendem pelas estações por toda a cidade
Além de música boa, o metrô oferece ótimas opções de cultura, como exposições e literatura. Entre uma estação e outra, a pressa pode fazer com que muitos não notem a presença de obras artísticas pelos cantos. A preocupação com a cultura para a Companhia do Metropolitano do São Paulo, ou intimamente Metrô, pode ser comprovada pelos espaços reservados especialmente a intervenções artísticas. Já que todas as 64 estações possuem locais específicos e delimitados para recebê-las. E não é só a iniciativa pública que investe em cultura, a empresa Cinemagia ganhou o direito de gerir o Projeto Encontros em 18 estações por dez anos. Shows musicais, cinema, espetáculos de dança, teatro, exposições permanentes e itinerantes, oficinas culturais e muitas outras atrações fazem parte da programação do pro-
“Eu moro em Itaquera e sou corinthiano fanático, quando soube do memorial na estação fiquei muito orgulhoso”, conta Por enquanto atuante nas es- o usuário Fernando Polasso, tações Paraíso, Artur Alvim e que sempre que pode confere Corinthians-Itaquera, as pró- alguma novidade no espaço. ximas a receber o projeto serão Santa Cecília, São Bento Literatura sobre trilhos e República. A base da Zona Leste abriga o Memorial do A espera na plataforma pode Corinthians que conta a histó- se tornar mais agradável atraria do clube por meio de fotos, vés do Projeto Poesia no Metrô, réplicas de troféus e fotos em poemas de consagrados autores tamanho natural dos ídolos da da língua portuguesa estão estorcida. O Memorial tem ainda palhados por todas as estações o espaço Gramado, que simula da cidade. um campo de futebol, área da E literatura também ganha sua torcida e vestiário com exposivez na Estação Paraíso, com o ção de camisas históricas, além a biblioteca Embarque na Leide um telão para a realização tura, integrante do projeto “Ler de sessões diárias de cinema. é Saber”, mantido em parceria Todas as estações vinculadas com o Instituto Brasil Leitor. a times de futebol – como Palmeiras-Barra Funda, Portugue- O acervo conta com exemplares sa-Tietê e Santos-Imigrantes de diversos estilos literários e – receberão espaços temáticos é muito simples para utilizar. similares. Qualquer pessoa maior de 18 anos pode ter acesso aos livros, de segunda a sexta das 11h às 20h. jeto, acessível a mais de 4 milhões de pessoas, que circulam diariamente pelo Metrô.
Turismo sobre trilhos Os 74 quilômetros de extensão da linha metroviária da cidade são garantia de acesso rápido aos principais pontos turísticos e de interesse de São Paulo. A linha Azul - Museu da Língua PortuExposição na Estação Vila Madalena
guesa, 25 de Março, Pinacoteca do Estado, Catedral da Sé e Sambódromo - e Verde – Masp, Museu do Ipiranga, Aquário de São Paulo e Museu do Futebol - são as que concentram o maior número de atrações. Pensando nisso e completando sete anos, o TurisMetrô provoca longas filas na estação da Sé aos fins de semana. São seis roteiros diferentes, monitorados por guias bilíngues, que levam o público a conhecer São Paulo utilizando o transporte público pagando apenas de um até dois bilhetes de metrô. O roteiro República conta as curiosidades e histórias que o Centro Novo presenciou e o público tem a oportunidade de conferir a Galeria do Rock, o Vale do Anhangabaú, o Teatro Municipal, entre outros. Ainda sobre o centro da cidade, o roteiro Sé retrata do Centro Velho passando pela Igreja de São Bento, Pateo do Colégio e sempre finalizado na Catedral da Sé.
Exposição de achados e perdidos na estação Trianon - Linha 2 Verde
O cartão-postal da cidade não fica de fora. O roteiro Avenida Paulista conta com paradas no Conjunto Nacional, Parque Trianon e MASP, além das feiras de antiguidade e artesanato de domingo. Fechando os roteiros, Liberdade, com templos budistas e lojas especializadas em cultura japonesa, e Luz, com Pinacoteca e Parque da Luz. E o recém-criado, Niemeyer e Modernismo, que passa pelas principais obras que marcaram o período da arquitetura e des-
taca principalmente as obras do consagrado arquiteto. Todos os roteiros saem da estação Sé. Datas específicas também ganham roteiros itinerantes, como o Natal e o Dia da Comunidade Árabe. “Foram três horas de muito conhecimento pela cidade, foi ótimo. Os guias são bons e o preço atrai bastante. Com certeza farei os outros roteiros”, conta Luciana Sabig, que participou do passeio especial da Comunidade Árabe. (Paula Marolo)
ESTAÇÕES DE METRÔ Todas as estações de metrô possuem alguma obra em exposição. Confira os principais locais! Linha Azul - Paraíso e Ana Rosa Linha Vermelha - República e Itaquera Linha Amarela - Faria Lima Linha Verde - Brigadeiro e Trianon
Os mendigos também são felizes João passaria despercebido por mais um dia se não fosse o amor de alguns jovens pelo simples fato de pegarem seus instrumentos e se reunirem na entrada da Rodoviária do Tietê, em São Paulo. Passaria. Conforme o desenrolar das músicas, outros Joãos e Marias foram se amontoando perto do show do Pelas Ruas SP, em uma noite de clima ameno e que prometia ser apenas mais uma apresentação do grupo de jovens artistas.
ra, ou carpetes limpos, como se fosse uma apresentação do Bolshoi de Moscou. Em comum entre todas aquelas pessoas estava apenas o gosto pela música e pela arte de se expressar sem preocupações ou com algum pudor do que os outros pudessem pensar ou imaginar a maluquice de pessoas
Depois de João, outros Joãos e Marias passaram a cantarolar também e então o pavimento cinza, de cimento, foi se transformando aos poucos em um belo palco de tacos de madei-
Se toda a alegria já era percebida por todos os presentes apenas pelo olhar, João, como se fizesse uma espécie de brinde completou: “Esse é um dos dias mais felizes dos últimos anos”. Saudou os músicos e, novamente, prosseguiu com sua dança ao lado de outros moradores de rua. Como se vê, essas pessoas não são apenas um enfeite em meio à paisagem da cidade de São Paulo. Por mais que não pareça, esses Joãos e Marias têm sentimento e precisam apenas de uma chance para mostrar que as atitudes bonitas do ser humano podem vir dos lugares mais inesperados.
Mas aquela noite não era comum. De alguma forma, os astros se alinharam e as canções tomaram uma forma antes improvável e passaram a tocar não para os ouvidos mas sim para o coração. João chegou quieto, foi ficando cada vez mais próximo e passou então a criar movimentos de dança como se improvisasse e a cantarolar, ainda que não soubesse grande parte das letras, de uma forma vibrante e com alegria genuína.
“Vocês merecem”.
dançando como em um show de balé em plena cidade de São Paulo. João é morador de rua, mas quando sentiu confiança pegou algumas moedas, que talvez fossem lhe fazer falta, e provavelmente fariam. Esticou o braço e fez questão de colocar na palma da mão de um dos músicos, em um gesto simbólico, a sua humilde moeda, dizendo:
João passaria despercebido por mais um dia não fosse seu carisma e o fato dele aproveitar sua chance para mostrar que sim, ele existe. Apesar de todo o sofrimento e dor de morar na rua, a música é capaz disso mesmo, romper barreiras e ultrapassar limites que nós mesmos impomos a essas pessoas. Mas João está aí para provar que tudo isso pode acabar. No compasso de uma música. (Rodrigo Brum)