Sampa dos Otakus
Editorial Os otakus fazem parte de uma forte sub-cultura em São Paulo. Ainda assim, muitas pessoas não os conhecem. Para explorar esse universo dos fãs de animes e mangás japoneses, reunímos aqui a história de alguns deles, além de outras curiosidades como o maior evento de São Paulo, o Anime Friends, totalmente voltado para esse público. Mas antes de adentrarmos o evento gigantesco, foquemos nos indivíduos que participam dele, como Juliana Lee. Esta otaku começou como f ã e acabou se especialiando no assunto. Ela só tem 20 anos, mas otakus de diversas idades então presentes nessa matéria, contando suas histórias e apresentando um pouco de seu mundo. Esperamos que as informações aqui contidas quebrem um pouco o preconceito, a desinformação em relação aos otakus e seus hábitos distintos.
Expediente Este trabalho foi produzido por Isabela Maciel, Priscila Zucas e Susan Witte, alunas da 5ª etapa noturna do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco, para a matéria de Edição I, e orientado pela professora Renata Carraro.
Dos animes ao mundo dos otakus Estudante conta como o gosto pelos desenhos japoneses a levaram a ser otaku
J
uliana Myung Lee, 20 anos, que estuda para cursar faculdade de arquitetura, é fascinada por animes e mangás desde a infância por influência da irmã mais velha. Juliana diz que “para uma criança que não conhecia nada do mundo, ter vários mangás em casa e ser obrigada a assistir Sakura Card Captor na televisão foi bastante significativo”.
queles que admira faz parte do “ser otaku”. Os últimos foram de Umi, uma guerreira mágica, personagem do mangá Magic Knight Rayearth, e Osaka, personagem do anime Azumanga Daioh. Para o Anime Friends desse ano, sua fantasia já está sendo preparada, mas, de acordo com ela, é segredo.
“Eventos são a minha chance de usar as roupinhas, ser fotoAtualmente, seu mangá prefe- grafada e chamar muita atenrido é o Nana, da Ai Yazawa, ção! Vestida a caráter eu fiz váque trata sobre moda e estar rios amigos e encontrei muitos perdido na vida, temas com os outros que eu só conversava quais ela se identificou. Juliana online. São lugares seguro para também gosta muito do mangá isso.”, diz a menina apaixonada Bakuman, pois a história ensi- pelo mundo oriental. na a seguir seus sonhos e a se esforçar para alcançá-los, além O outro lado de tratar sobre o amor e a ami- Apesar da diversão, Juliana zade verdadeira. também tem críticas em relação
Juliana custumiza as próprias roupas para ir aos eventos otakus
A estudante, declarada otaku, explica o termo designado para classificar pessoas que gostam de animes e mangás como “grupo nerd que vê a chance de ser Com os desenhos e revistas, a aos festivais: “nesses eventos, estranho sem ser excluído, por brasileira com descendência vendem-se as mesmas coisas isso se junta. A cultura japonecoreana começou a se interes- do bairro da Liberdade e, por sa é exótica para os ocidentais, sar cada vez mais pela cultura vezes, até mais caro. Os ingres- a beleza das japinhas encanta, sos, então, nem se japonesa. Em 2011 a escrita, a língua, a comida... “Eventos são fala. No primeiro começou a fazer auTudo é pop e chamativo. Essa é las para aprender a a minha chan- evento que eu fui, a chance da galera ser diferente falar japonês e so- ce de usar as acho que paguei de um jeito legal”. R$5,00 ou 1kg nha com o dia em roupinhas, ser de açúcar (doa- Apesar de ainda gostar muito que viajará para o Japão, um país que, fotografada e ção de alimen- de ler e assistir desenhos jade acordo com ela, chamar muita to nãoperecível) poneses, Juliana diz que hoje Hoje o ingresso se interessa muito mais pelas é “onde tudo aconestá por volta de músicas do que pelas histórias atenção!” tece”. R$30,00. Muita e essa é uma tendência que os Para adentrar um pouco mais gente reclama disso, até porque brasileiros estão adotando. no universo que tanto admira, não se encontram motivos para Priscila Zucas hoje Juliana faz cosplays de seus o aumento do preço, já que o personagens favoritos, afinal, público é o mesmo e o espaço é para ela, vestir as roupas da- cada vez menor”.
Otakus: quem são eles? Uma subcultura de amantes da cultura japonesa, está tomando conta da cidade
A
imigrai m i g r a ç ã o gal você se olhar no espelho e ção jajaponesa no ver seu personagem favorito ponesa país. A po- incorporado”, diz Diego Alves no Brasil comepularização de Souza Maia (14), cosplayer çou no início do termo há três anos, “é uma sensação do século XX, e, em cer- boa”, afirma. «Tem muita gente através de um ta medida, que tem preconceito com quem acordo entre o até mesmo curte anime, cosplay e tal”, afirgoverno japodos animes ma José Almir Barbosa da Silva nês e o brasileie mangás se Junior (15), cosplayer de persoro. Atualmente, deu graças à nagens do anime Naruto. “Aqui o Brasil abriga Animax, pri- é o único lugar que a gente pode a maior popumeiro man- vir de cosplay mesmo, por que lação japonesa gá do Brasil. as pessoas não ligam”, diz ele, fora do Japão, Em tal revis- referindo-se ao bairro da Libercom cerca de 1,5 ta utilizou-se dade, que se tornou reduto de milhão, que, na pela primei- cosplayers. cidade de São ra vez a paPaulo, a maior lavra otaku Movimentando o comércio parte se conno merca- da Liberdade Cosplayers de Naruto e Sasuke pascentra no bairro do editorial Aproveitando esse público, seando pelas ruas da Liberdade da Liberdade. A b r a s i l e i r o abriram-se diversas lojas estradicional feipara agrupar pecializadas no tema otaku. A rinha de final de pessoas com galeria Sogo, a mais visitada semana, realizada no bairro, uma preferência por animação do bairro japonês, possui váatrai diversas tribos urbanas, e quadrinhos japoneses. rios desses estabelecimentos. como a dos otakus. Andando pelas ruas da Liber- Adriano Menegari, que trabaDe acordo com Juliana Trombi- dade nos finais de semana, é lha na loja Dream Anime Club, ni, amante da cultura japonesa, comum encontrar pessoas ves- explica por que o gênero tem os otakus, fãs de animes (de- tidas como seus personagens feito tanto sucesso no Brasil: “o senhos animados japoneses) e favoritos de Animes. Não se tra- anime tem uma estória sequenmangás (histórias em quadri- tam de fantasias, como “É legal você se cial, não é como nos nhos japonesas), nem sempre essas que vemos em olhar no espelho desenhos gostam do termo, que foi intro- lojas de departamento, duzido no Brasil pelos membros mas roupas e acessórios e ver seu perso- a m e r i c a das colônias japonesa como manualmente produzi- nagem favorito nos, que não têm sendo um “tratamento respeito- dos, muitas vezes pelos começo, incorporado” so” e que hoje é utilizado como próprios usuários, para meio e denominação para pessoas que se parecer o mais fielfim”. Ele explica ainda que o esgostam das histórias japone- mente possível com os persosas. O sentido mais novo foi nagens, os chamados cosplays. tilo nem sempre foi popular por introduzido por volta de 1980, Aqueles que usam cosplays são aqui: “antes, o anime não vinha quando houve um aumento da chamados de cosplayers. “É le- tanto para o Brasil, muitos de-
o anime já tem uma história mais contada, você chega a se emocionar com alguns deles”. Ele conclui que, no Anime, “os traços do desenho são melhores, não é que nem o desenho americano que serve mais para entreter a criança e deixar os pais fazerem as coisas deles”. Idade para ser otaku Muitos animes acabaram sendo censurados fora do Japão. Algumas versões de Cavaleiros do Zodíaco, por exemplo, tiveram berdade, conta que viaja todo cenas de sangue cortadas para mês de Mogi das Cruzes a São atender ao público infantil. Um Paulo atrás de mangás. “O ma- personagem fumante de Naruterial americano espalha mais”, to teve o cigarro substituído por diz ele, se referindo aos famo- um pirulito. Essas alterações sos quadrinhos da Marvel e da tendem a desagradar o público DC, como o Homem-Aranha e o mais fiel das produções japoSuper-Homem, “é mais em São nesas, levando os fãs a buscar Paulo que a gente tem acesso conteúdo da internet. É o que ao mangá japonês”. Ele conta faz Karin Barbosa (52), masainda sobre suas preferências sagista, que assiste pelo comna hora de colecionar: “o que putador a séries inteiras, como eu mais gostei mesmo, virei fa- Full Metal Alchemist e Death nático, é o Naruto”. No entanto, Note em japonês, com legendas Luiz Carlos se sente tímido ao em português. “Já quando eu falar sobre sua era criança e assispaixão com co- “Para o olho da tia Kimba e Karalegas. Segundo sociedade bra- te Kid, eu gostava ele, “para o olho sileira, ainda muito do estilo do da sociedade desenho japonês”, brasileira, ainda trata-se de uma diz Karin, “eu tinha trata-se de uma infantilidade” amigas japonesas infantilidade”, o que traziam manque leva muitos gás da Liberdade e fãs colecionadores a esconder me emprestavam para eu coo hobby. Um adulto que assista piar os traços dos personagens”. desenhos também pode causar Karin voltou a se interessar por uma má impressão para muitos Anime quando assistiu, com os desavisados, mas Luiz Carlos filhos, Inu-Yasha e Sakura Card explica que há uma clara dife- Captors no canal infantil Carrença entre desenho e anime: toon Network. “Eu me divirto “o desenho é mais pra criança, muito assistindo”, diz ela, “enque nem o Pica-Pau”, diz, “mas tão comecei a procurar mais”.
Os balconista da K.O. Animes também são amantes da cultura japonesa.
les só existiam no Japão. O Naruto, por exemplo, é dos anos 80, mas só chegou recentemente ao Brasil”, afirma. O cartoon japonês Naruto, que conta a jornada de um aprendiz de ninja, é um dos mais populares no Brasil. Nos fundos de uma lojinha cheia de tecidos, máquinas de costura e outros acessórios, observa-se diversos cosplays coloridos, a maioria deles, personagens de Naruto. “Vendemos muito cosplay quando está próximo de eventos, por isso deixamos os mais populares já prontos”, afirma Guilherme Nicolau, ajudante geral da Oficina de Costura Nicole. Ele explica como os cosplays são encomendados: “a gente pede pro pessoal trazer uma imagem do personagem de frente, de costas e de lado”. A mãe de Guilherme, a própria Nicole, é quem costura os cosplays. “Mas a gente não faz acessórios, só a roupa”, explica Guilherme. O leitor de mangá Luiz Carlos Galvão de Almeida Oliveira (18), nquanto passeia na Li-
Karin se empolga ao contar que conseguiu encontrar na internet o final da série Inu-Yasha, que foi cancelada na televisão brasileira antes do final. Karin não é o único exemplo de que não tem idade para gostar de Anime. Lucas Finato (25), balconista da K.O. Animes, joga cartas de Yu-gi-oh - jogo baseado no anime de mesmo nome – e conta que “alí na loja de Yu-gi-oh tem um senhor de 70 anos que participa dos campeonatos. O cara está melhor que eu, ganhou vaga no (cam-
peonato) nacional”, conta ele, explicando que não conseguiu a mesma façanha. Lucas explica ainda que as pessoas se interessam por colecionar os jogos, criar cosplays, ler mangás e assistir animes por poderem “fugir um pouco da realidade e dos problemas do dia-a-dia”. Já para Willian Magalhães Pereira (23), também balconista da K.O. Animes, as pessoas desenvolvem esses hobbies “pela liberdade que elas têm”. Ele diz que “pode ter a minha idade ou pode ser um senhorzinho, ele
vai estar vestido de Naruto e vai estar feliz assim”. Além da Liberdade, existem outros pontos de encontro para otakus, os eventos especializados. O Anime Friends, por exemplo, reúne anualmente milhares de fãs de anime, mangá, video-games e quadrinhos. Nesses eventos, entre outras atrações, como o desfile e concurso de cosplay, o animeokê e os stands de lojas especializadas, existem bandas que só tocam músicas tema de animes. Susan Witte
10 anos de Anime Friends no Brasil
O
Cosplayers se preparam para o evento mais esperado do ano.
Anime Friends, um dos maiores eventos do Brasil, completará 10 anos em julho. Destinado a apreciadores de animes, mangás e da cultura japonesa em geral, o evento este ano ocorre no Campo de Marte nos dias 11 a 14 e 18 a 21 de julho. O festival reúne editoras, mangás, DVDs de animes e outros produtos relacionados aos desenhos animados, além de possuir espaços dedicados a videogames, jogos de tabuleiro, RPG e karaokê. O evento também conta com uma ampla programação de shows musicais (que reúne artistas nacionais e internacionais), exibição de filmes e desenhos animados relaciona-
dos com a temática e concursos de cosplay Para Helena Fitipaldi, 14 anos, otaku que estará presente no evento, “é legal chegar ao lugar e reconhecer as músicas dos animes”.
ma”, explica, referindo-se aos produtos da loja que podem ser danificados.
Mesmo assim, a Yamato, empresa organizadora do festival, tem a expectativa de que o Anime Friends reúna mais de 120 mil pessoas em 2013, devido Entretanto, as coisas muitas à comemoração da década e a vezes não são como parecem. apresentação do 1º Comic Con De acordo com comerciantes, Brasil, a maior convenção de alugar um estande no evento quadrinhos dos Estados Uniestá cada vez mais caro, o que dos. impossibilita que muitos parPriscila Zucas ticipem este ano. Além disso, Lucas Finato, 25 anos, reclama Os ingressos estão à venda em do local deste ano: “O preço aulojas da galeria Sogo, localizada mentou e a qualidade do evento no bairro da Liberdade e tamcaiu. O local do evento esse ano bém no site www.animefriends. é horrível, o Campo de Marte, com.br e variam de R$200,00 a que é aberto. Apesar da lona, R$1500,00. se chover pode ser um proble-
Comércio do Oriente
A
Com a crescente procura por trajes, comerciantes têm investido cada vez mais no mercado dos cosplays
subcultura dos otakus e cosplayers tem gerado uma significativa movimentação de dinheiro para aqueles que escolheram a Liberdade como ponto de comércio. “A procura é grande e cresce ainda mais durante os gigantescos eventos cosplays, como o Anime Friends”, diz a costureira Fátima, que possui, há oito anos, uma pequena loja de trajes cosplays em uma famosa galeria na Liberdade.
como a da Fátima, comprar os trajes prontos acaba saindo mais barato do que mandar fazer um, em torno de R$ 220,00. Entretanto, Fátima garante que essa prática tem seu lado negativo: a perda dos detalhes. “Sai mais barato, mas não tenho muitos pedidos de fantasias prontas. Os compradores são bastante exigentes, querem que fiquem perfeitas, eles quePara ela, e para tantos outros rem ser os personagens, então comerciantes da Lipreferem pagar berdade, estar en- “Hoje em dia mais caro, se isso volvido nessa sub- o público tem os levar à perfeicultura tem sido sido bastante ção.” um bom negócio. A maior procura, gera variado, inclu- Para otakus tão um alto lucro maiorsive quando seexigentes com o para aqueles que que consomem, a têm investido cada trata da ida- Liberdade possui vez mais neste meruma grande variede” cado. dade de lojas de mangás e trajes cosplayers, até Nas lojas de roupas cosplayers,
escolas de artes marciais, o que tem chamado muita a atenção do público mais jovem e atraído cada vez mais fãs ao universo do oriente. Cosplays criados por Fátima fazem sucesso entre os jovens
De acordo com Fátima, a maioria dos clientes de sua loja nem sempre são otakus, “hoje em dia o público tem sido bastante variado, inclusive quando se trata da idade. Aparecem aqui crianças de nove anos até adultos de trinta. Honestamente, eu acredito que as pessoas que vêm aqui tendem a aumentar cada vez mais. Eu tenho visto bastante sobre os nerds, otakus e cosplays nos jornais da televisão e inclusive na internet. Acredito que vem mais fãs por aí”. Isabela Maciel
Familiar e desconhecido Algumas coisas são tão familiares para nós, que se torna difícil entender quando outras pessoas não às entendem. Foi o que aconteceu na aula de Edição do curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco. O objetivo da aula era uma reunião de pauta, na qual cada grupo apresentaria suas ideias para uma reportagem a
ser entregue no final do bimestre. Quando chegou a vez de o meu grupo falar, os alunos já pareciam cansados e dispostos a deixar a faculdade a qualquer minuto. Era véspera de feriado, todos pensavam prioritariamente no que fariam no dia seguinte. A professora tentava manter a atenção da sala e, estressada, passou-nos a palavra.
O tema tinha que ser relacionado a São Paulo, e o título tinha um padrão: “Sampa de...” Depois de “Sampa do metrô”, “Sampa do cinema” e “Sampa do boteco” terem suas pautas aprovadas, lançamos a nossa ideia: “Sampa dos otakus”. Foram muitas expressões interrogativas, mas, sabíamos, o
Hadouken: golpe aplicado por Ryu, personagem do jogo Street Fighter
tema precisaria de explicação: “Otakus são os fãs de anime e mangá”. Mais uma porção da sala passou a entender do que falavamos, mas, descobriríamos depois, não entendiam o porquê da sugestão de pauta. Havia uma fã de anime e mangá na sala, a única que conversava conosco sobre a pauta. Não era o pensamento no feriado que afastava os outros grupos do assunto, eles realmente não entendiam do que estavamos falando. Tenho para mim que as palavras “cosplay”, “Yamato” e “kawaii” foram as que levaram a professora a interromper a conversa.
gicas, sem ter ajudado o Goku a gerar a “Genki-dama” e até mesmo sem ter treinado “Cólera de Dragão” no chuveiro. Se você não sabe do que estou falando, deve ter crescido assistindo desenhos americanos, desses que sempre têm uma moral no final. Não era assim que eu via a vida durante a minha infância, com uma lição a cada capítulo. Graças aos desenhos japoneses, os animes, via a vida e os acontecimentos de maneira não linear, meio que aleatórios, mas cheios de momentos mágicos.
Enquanto Johnny Quest, Scooby Doo e outros desenhos americanos abordavam assuntos “Eu não sei quanto a vocês”, como a amizade e o politicadisse ela, dirigindo-se ao resto mente correto, desenhos japoda sala, “mas eu estou boian- neses como Sakura Card Capdo”. Com exceção do grupo e da tors e Sailor Moon abordavam fã de anime que conversavam, a homossexualidade, momentodos na sala concordaram com tos em que devemos escolher a professora. Foi um choque. entre amigos e nós mesmos, e A pauta acabou sendo muito outros assuntos controversos. pouco popular na sala, sendo Dragon Ball Z me ensinou que o tida como um limite está em assunto arrisca- Graças aos dese- nós mesmos, do e até especí- nhos japoneses, os e me mostrou fico demais. Eu formas como animes, via a vida e as outras duas diferentes integrantes do e os acontecimen- pessoas lidam grupo, ficamos tos de maneira não com a morte. confusas com a Já na minha linear, meio que reação. adolescência, aleatórios, mas alguns animes Não escutei as com assuntos próximas pautas cheios de momen- mais intensos que foram abortos mágicos. começaram dadas. Só consea aparecer. guia pensar em Nessa época, como alguém poderia ter cres- já os assistia em japonês, com cido sem ter dado “hadouken” legendas, e aprendia alguns nos colegas, sem ter acompa- palavrões. Chobits apresentanhado a captura de cartas má- va a sexualidade como parte do
tema, e o fato de que as pessoas tendem a dividir sentimentos com objetos, e esses passam a significar mais que simples coisas. Death Note conta a estória de um menino que encontra um caderno com o poder de ocasionar a morte de uma pessoa simplesmente pelo dono ter escrito o nome dela. A abordagem era a ética, o poder e como as decisões que tomamos nos afetam. É claro que temas complexos como esses vinham repletos de robôs, mágicas, monstros, demônios e roupas coloridas. Isso tudo atraiu a atenção de milhares de paulistanos que se interessam pela cultura japonesa. Podemos ver um reflexo disso na grandiosidade dos eventos de “cosplayers” (pessoas que se vestem como personagens de anime ou mangá), que chegam na casa dos milhões de frequentadores, e até na arte urbana, como os grafites que ilustram a avenida Paulista. Acredito que muitos viram o mesmo que eu nos mangás e animes, e foram até além, se tornando os chamados “otakus”, amantes dessa arte. Temos, hoje em dia em São Paulo, cosplayers profissionais e outras pessoas que encontraram no mundo “otaku” um nicho para o seu negócio. Essa subcultura faz parte de São Paulo e deve ser reconhecida pela sua influência na cidade. Espero que mais pessoas conheçam esse mundo e entendam por que ele fascina tantos paulistanos. Susan Witte