Temas em Debate 02 - 2º Semestre de 2008

Page 1

temas em debate Número 2 – São Paulo – 2º Semestre de 2008

Foto Cortesia Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (Asmare)

Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo

Desenvolvimento sustentável


temas em debate Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo

Número 1 – São Paulo – 1º Semestre de 2008

Número 2 – São Paulo – 2º Semestre de 2008

Vera Jursys

Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo

Foto Cortesia Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte (Asmare)

Reprodução

temas em debate

Os novos velhos

Desenvolvimento sustentável

Espaço de aprendizagem t ratorial desenvolvido no âmbito emas em

debate

é um orgão labo-

da disciplina Reportagem II. Cada edição traz reportagens produzidas especialmente pelos alunos sobre aspectos importantes da realidade brasileira. Trata-se de espaço de constante aprendizagem. O primeiro número abordou em 12 páginas questões relativas aos nossos idosos. Neste segundo número, coloca-se em evidência ini-

ciativas que visam colaborar com o desenvolvimento sustentável, considerado pelos especialistas o grande desafio do século XXI. Nossa expectativa é levar ao conhecimento dos leitores informações apuradas com rigor e responsabilidade, contribuindo assim para alargar a compreensão de problemas e solucões que dizem respeito ao nosso dia-a-dia como cidadãos.

expediente faculdades integradas rio branco curso de comunicação social avenida josé maria de faria, 111 cep 05038-070 – são saulo, sp telefone: (011) 3879-3100 www.riobrancofac.edu.br

diretor geral

prof. dr. custódio pereira

diretor acadêmico

prof. dr. edman altheman

coordenadora

de

comunicação social

profa. maria ursulina

de

moura

editor

prof. dario luis borelli

temas em debate é uma publicação dos alunos da disciplina

Reportagem II do Curso de Comunicação Social das Faculdades Integradas Rio Branco. Ano I - N. 2 – Agosto-Dezembro de 2008.


na es 08.

“Saquinhos de supermercados” devem ser evitados Se o consumidor utilizar menos o produto, poderá colaborar com a preservaçao do meio ambiente e economizar no final do mês Saulo Ribeiro

A

um milhão de plástico filme é despejado no planeta. No Brasil estiestima-se que sejam produzidas mais de 200 toneladas por ano e o tempo de decomposição é de no mínimo um século. Na cidade de São Paulo, as sacolas plásticas representam 18% das diárias 15 mil toneladas de lixo. Por causa desses dados alarmantes, muito tem se discutido sobre a redução da utilização desse material nos supermercados, os estabelecimentos onde o consumo é mais elevado. Segundo o gerente de comunicação da Associação Paulista de Supermercados (APAS), Joaquim Ferreira, a entidade vem desenvolvendo atividades em parcerias com associados e órgãos públicos visando a prática dos “3Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar). Além disso, a minimização pode beneficiar o bolso dos clientes. “A redução do uso de sacolas é bom para os supermercados e para o consumidor, pois permite reduzir os custos com esse insumo, e, conseqüentemente, contribuirá para deixar também os produtos mais baratos”, disse o gerente de comunicação. Isso está fazendo com que as redes de supermercado desenvolvam medidas para colocar em prática essa redução. Acostumada a utilizar diversas sacolinhas plásticas gratuitamente nos supermercados, a aposentada Maria Alzira da Silva, sai indignada do supermercado Assai, no bairro da Casa Verde, em razão da operadora de caixa informar que o estabelecimento está cobrando 12 centavos por cada sacola plástica. “Ela alegou que o dinheiro da venda das sacolas é totalmente revertido para uma instituição de caridade. Tudo bem, é uma boa finalidade, mas isso não deveria ser obrigatório”, disse a aposentada. Essa iniciativa está sendo utilizada por alguns supermercados, com o intuito de cada minuto

fazer com que o cliente diminua o consumo desse material e encontre formas ecologicamente corretas para transportar os produtos adquiridos nos estabelecimentos. Por meio da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), a Prefeitura de São Paulo está desenvolvendo a campanha “Eu não sou de plástico”, com o objetivo de conscientizar a população a mudar esse hábito. Mais de cem estilistas de todo o Brasil, ONG’s e outras entidades, aderiram a campanha pelo uso de sacolas não-descartáveis. Em setembro de 2007 teve início, no Porão de Artes, localizado no Parque no Ibirapuera, a exposição que reúne sacolas duráveis, criadas por grandes grifes e estilistas. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente foi quem lançou o primeiro produto, a sacola de tecido “Eu não sou de plástico”. “Cada segmento de comércio, de prestação de serviços, enfim, da sociedade, deve promover ações compatíveis com seu próprio segmento. A proposta da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente é dar visibilidade a essas ações. A Prefeitura não fornece nem comercializa sacolas. No lançamento da campanha, foi realizada uma pequena distribuição de sacolas de algodão crua confeccionadas apenas para o evento”, afirma Maria Letícia, da Assessoria de Comunicação da SVMA. Segundo a assessora, a exposição começou em São Paulo e atualmente está em Porto Alegre, e pode ser considerada uma campanha de educação ambiental, que está fazendo com que as pessoas reflitam e revejam suas posturas. Essa questão da redução do consumo de sacolas plásticas nos supermercados, já faz parte realmente dos projetos das principais redes presentes no Brasil. Segundo Daniel Marinho, da Assessoria de Comunicação

do Carrefour, a empresa tem sua política de sustentabilidade e mostra interesse em oferecer ao consumidor o uso responsável de sacolas para a embalagem de suas compras. Segundo Marinho, o Grupo está obtendo sucesso na experiência de comercializar sacolas reutilizáveis e recicláveis na cidade de São Paulo e a finalidade é atingir o Brasil no curto prazo. A meta do hipermercado para 2008, é reduzir em 10% o consumo de sacolas de plástico, e até 2010, alcançar a marca de 30%. “Nossa meta futura é atingir o status atual que o Carrefour França se encontra, ou seja, abolir 100% o uso de sacolas plásticas em nossas lojas.” Além do Carrefour, as assessorias do hipermercado Extra e Wall Mart foram procuradas pela reportagem, mas não quiseram se pronunciar sobre o assunto. De acordo com o relato de Daniel Marinho, na França, assim como em outros países da Europa, a utilização de sacolas plásticas já não faz parte da cultura da população. Jean Jacques, francês que mora no Brasil há cinco anos, comenta que essa responsabilidade social já está inserida nos costumes dos franceses. “Lá no meu país, quando vamos ao supermercado, levamos sacolas próprias, de algodão, pano ou náilon, as chamadas ecobags, assim como os brasileiros fazem quando vão às feiras livres”, diz o chefe de cozinha, natural da cidade de Roaix, norte da França. Jean Jacques ainda conta que os supermercados até fornecem sacolas plásticas aos clientes, mas não gratuitamente como no Brasil. “Quem chega aos estabelecimentos sem sacola própria, tem de comprar as descartáveis para poder levar os produtos, as redes de supermercado não dão isso de graça”, revela o francês. No Brasil, quando as sacolas plásticas foram introduzidas nos supermercados, chegaram como

solução para as frágeis embalagens de papel, sem alça, difíceis de transportar, e que ainda rasgavam com o peso. “A questão cultural é, de fato, muito forte, pois as sacolas surgiram como um serviço, uma alternativa para facilitar a vida do consumidor e se incorporaram à cultura. Com a onda de consciência sobre a necessidade de termos um planeta sustentável, tudo isso está sendo repensado”, analisa Joaquim Ferreira. Segundo o gerente de comunicação, a Associação Paulista de Supermercados orienta seus 1.100 associados sobre a legislação existente e desenvolve ação institucional junto a outras entidades da sociedade civil. Um exemplo disso, é que a APAS integra a frente parlamentar da Assembléia Legislativa para o consumo consciente do plástico e assinou convênios para o uso consciente das sacolas plásticas com o Instituto Nacional do Plástico (INP) e com a Plastivida. Um hábito no Brasil, comum em boa parte das famílias, é utilizar as sacolas plásticas vindas dos supermercados e dos estabelecimentos em geral, para colocar nos cestos de lixo da cozinha, do sanitário etc. Depois, muitos somente amarram essas sacolas que contêm os resíduos e colocam na rua para serem recolhidas. Se você está lendo essa reportagem e se identificou com esse perfil de brasileiro, saiba que existem formas ecologicamente corretas de fazer uma triagem do seu lixo, destina-los às empresas de coleta seletiva e minimizar o consumo de sacolas plásticas. É cada vez mais comum ver em lanchonetes uma lixeira para cada material reciclável: papéis, vidros, plásticos e metais. Pois é, muitas pessoas já estão utilizando esse método nas residências, separando o lixo orgânico dos demais materiais.

A universitária Stephanie Spina, moradora do bairro da Mooca, em São Paulo, conta o que mudou no hábito de sua família com a triagem dos resíduos orgânicos, dos materiais recicláveis em sua casa. “Acho que é importante nós jovens começarmos a mudar essa cultura de mandar tudo o que não nos serve para o lixo. Isso é ilusório, achamos que estamos nos livrando do problema, quando na verdade estamos desperdiçando muita coisa. Desde que começamos a separar pelo menos o material reciclável do orgânico, reduzimos em mais de 60% nosso consumo de sacolas plásticas e também a consciência ambiental da família ficou muito mais leve”, admite a jovem. “Brigo com minha mãe quando vamos ao supermercado e ela esquece de levar nossas sacolas de lona tye-dye, e temos de carregar as compras em várias sacolas plásticas. Além de nossas sacolas serem ecologicamente corretas, também são bem mais fashion que as outras”, complementa a estudante de moda. Nossa entrevistada separa o material orgânico do reciclável, pois é apenas isso que concessionária que faz a coleta seletiva na região, a Logística Ambiental de São Paulo S.A. (LOGA), exige. De acordo com o Departamento de Comunicação da LOGA, são coletados diariamente na região noroeste da cidade seis mil toneladas de resíduos domiciliares, 50 toneladas de resíduos dos serviços de saúde e 20 toneladas de materiais reciclados, por meio do programa Coleta Seletiva. “Os sacos com resíduos domiciliares devem estar em local de fácil acesso ao coletor e fora do alcance de animais, preferencialmente na calçada, para evitar que os resíduos se espalhem nas vias públicas”. Para toda essa demanda, a LOGA dispõe de uma frota de 160 equipamentos, entre caminhões e veículos de apoio.


Fotos Divulgação

Grandes atacadistas a serviço do meio ambiente Em parceria com empresas de grande porte, redes de hipermercados promovem programas socioambientais André Salvagno

O

de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2004, informam que “os dados sobre reciclagem retratam a proporção de material reciclado no consumo de algumas matériasprimas industriais – latas de alumínio, papel, vidro, embalagens PET e latas de aço.” Segundo os dados apurados, o Brasil é recordista mundial em reciclagem de latas de alumínio – 89% em 2003, contra 50% em 1993. Além disso, os números apontam que a reciclagem de papel subiu de 38,8% em 1993, para 43,9% em 2002. Por sua vez, o indicador Coleta Seletiva de Lixo mostra que somente 2% do lixo produzido no país é coletado seletivamente e apenas 6% das residências são atendidas por serviços de coleta seletiva, que existem em apenas 8,2% dos municípios brasileiros. Nas organizações empresariais há soluções mais plausíveis para otimizar a coleta de lixo. Um exemplo são os softwares que possibilitam o gerenciamento da programação de coleta e a gestão de serviços sejam feitos com o auxílio do celular, do palm, ou de outra tecnologia móvel. No entanto, essa é uma realidade distante do alcance da população. Pensando nisso e demonstrando um senso de preocupação com a degradação do meio ambiente, multinacionais, empresas nacionais de grande porte e, principalmente, redes atacadistas vêm adotando medidas para contribuir com a preservação da natureza, através de campanhas e pontos de coleta s indicadores

de matérias recicláveis. Confira duas parcerias de sucesso entre companhias conhecidas e de grande aceitação popular. Pão de Açúcar e Unilever Para o Grupo Pão de Açúcar, não há como imaginar o crescimento de empresas que não cuidam das questões sociais e ambientais. Dessa forma, o grupo visa alinhar a melhoria contínua das condições sócio-ambientais e minimizar as ações potencialmente agressivas ao meio ambiente. Enquanto isso, para a Unilever, os negócios estão interligados com a sociedade de forma incontestável. Por isso, a empresa vem atuando na área de Responsabilidade Social. Ao unir forças em prol do desenvolvimento sustentável, mostrando preocupação com a conscientização da sociedade sobre as questões do meio ambiente, as duas empresas criaram as Estações de Reciclagem Pão de Açúcar-Unilever. Posicionadas nas áreas externas das lojas, as estações contam com coletores coloridos destinados ao descarte de material reciclável: verde para vidros, amarela para metais, azul para papéis e vermelhas para plásticos. Além desses resíduos, os consumidores também poderão descartar óleo de cozinha usado, que será encaminhado para a produção de biocombustível. Segundo o diretor de operações da rede Pão de Açúcar, João Edson Gravata, o intuito do projeto é antecipar tendências e oferecer alternativas viáveis e cotidianas para minimizar os impactos do consumo sempre alinhados com as

necessidades dos clientes que se mostram cada vez mais antenados a essas questões. O projeto, que foi criado em 2001, arrecadou mais de 20 mil toneladas, está presente no estado de São Paulo, e nas cidades de Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Recife, e Rio de Janeiro. Recentemente ganhou

mais quatro postos de coleta: Batel, Champagnat, República Argentina e Jardim Social, todos em Curitiba. Agora são 94 postos em todo o país. Para Gravata, o projeto é vencedor não só pela quantidade de material arrecadada, mas também pelo papel social que exerce. “Além de envolver os

consumidores acerca da causa do consumo consciente e colaborar com a proteção do meio ambiente, esse programa gera 400 posições de trabalho, incluindo atendentes dos postos, coletores e triadores de materiais, que fazem parte das 21 cooperativas de catadores cadastradas no programa”, destaca o executivo.

Hoje já são 94 Estações de Reciclagem Pão de Açúcar-Unilever destinadas ao descarte de material reciclável.


Fotos Divulgação

Wal-Mart e Coca-Cola

No papel de empresas mundialmente conhecidas, Wal-Mart e Coca-Cola também criaram um programa de responsabilidade socioambiental: o projeto Estação de Reciclagem, uma parceria para o desenvolvimento sustentável das duas companhias. A iniciativa consiste na implantação de postos de coleta para os clientes depositarem resíduos domésticos, tendo a certeza de que o material terá a destinação correta para a reciclagem. “Além de ser uma ação em prol do meio ambiente, trata-se de uma iniciativa de responsabilidade social devido à parceria estabelecida com cooperativas de catadores para a realização da coleta do material e destinação correta dos resíduos”, explica Héctor Núñez, presidente do Wal-Mart Brasil. “Esse é um diferencial dessa iniciativa: contribui para o Uma Estação de Coleta Seletiva de Resíduos foi instalada na loja Wal-Mart Supercenter Pacaembu, em São Paulo, no dia 31 de março. desenvolvimento dos catadores, Para Smith, da Coca-Cola, Desde o final ano passado, estações em todas as 315 lojas do resíduos. Essa parceria vai beneficiar gerando renda e permitindo que diretamente 50 cooperativas e trata-se de um novo modelo de realizem seu trabalho de forma o projeto piloto vem sendo ex- Wal-Mart até meados de 2009. mais segura, digna e organizada. perimentado em sete lojas no Pa“É importante destacar que gerar renda para 2.500 catadores”, reciclagem, com a união de uma grande cadeia do varejo e um dos Acreditamos que o papel dos ca- raná, e em 31 de março deste ano, o grande desafio desse projeto enfatiza Núñez. O presidente do Wal-Mart seus maiores fornecedores da tadores é fundamental para a ma- ocorreu o lançamento oficial do é identificar as cooperativas, nutenção de um ambiente limpo projeto no Wal-Mart Supercenter estabelecer as parcerias para conta que a coleta dos resíduos é indústria. “A parceria vai apoiar a estrupromover seu desenvolvimento, realizada semanalmente em data e saudável para todos”, completa Pacaembu, em São Paulo. turação e a capacitação das cooagendada de acordo com o início De acordo com os executivos, o treinamento, a coleta regular e Brian Smith, presidente da Cocaperativas de catadores de materiais das atividades nas lojas. a parceria prevê a instalação de a destinação correta de todos os Cola Brasil. recicláveis na sua infra-estrutura Ele diz, também, que o trans(equipamentos, informação, capaporte é realizado pela própria cooperativa parceira que é res- citação etc.) e na facilitação do ponsável pela coleta em cada uma acesso aos materiais recicláveis em grande volume com a doação de das lojas da rede. “No caso da loja Wal-Mart materiais recicláveis recolhidos nas Supercenter Pacaembu, quem faz estações de recilagem”, declara. O presidente da Coca-Cola o transporte, através de veículos Brasil disse que a idéia é fomentar próprios, é a Coopere”, afirma. Ainda de acordo com Núñez, um ciclo perfeito de aproveitamento o Wal-Mart mantém relação com dos resíduos, de maneira que, uma ampla cadeia produtiva e, na processados adequadamente, reoutra ponta, está em contato direto tornem à cadeia produtiva como com um volume extraordinário insumos, protegendo o meio amde pessoas, que freqüentam dia- biente. Parcerias riamente as lojas. Por isso, a Para saber mais sobre a parceria empresa procura interagir com os clientes e com a cadeia produtiva Pão de Acúcar/ Unilever, acesse os em busca de novas soluções sites www.grupopaodeacucar.com. conjuntas.“Percebemos na Coca- br e www.unilever.com.br. Nos sites www.walmartbrasil. Co-la Brasil uma parceira muito alinhada com as nossas iniciativas com.br e www.cococola.com.br é sustentáveis e assim criou-se a possível obter mais informações oportunidade de trabalharmos num sobre a parceria Wal-Mart/ CocaCola. Parceria entre Héctor Núñez, presidente do Wal-Mart Brasil, e Brian Smith, presidente da Coca-Cola Brasil. projeto em comum”, revela.


Foto Reprodução

2011 esse número poderá aumentar em até 6%.

A Companhia Suzano Papel e Celulose é responsável pela maior produção de papel reciclado no Brasil.

Indústria investe cada vez mais na produção de papel reciclado A sociedade se pergunta se a iniciativa diz respeito à preservação do meio ambiente ou não passa de uma estratégia de marketing Ricardo Barros

A

enfrentamos a crise do lixo a nível global, forçando todos a criarem alternativas para gerir o tratamento e a deposição dos resíduos urbanos, dentre as quais se incluem os programas de redução na geração do lixo, a reciclagem e a compostagem. A principal problemática do lixo no meio urbano está relacionada à sua origem e produção, por resultar da atividade diária do homem, em que o aumento populacional e a intensidade da industrialização tornam-o inesgotável. O gerenciamento dos resíduos sólidos é prática fundamental nas economias preocupadas com o desenvolvimento sustentável, porque leva em conta a importância da preservação ambiental e da redução na geração de resíduos, além de a saturação dos espaços disponíveis para aterros sanitários. tualmente

Da composição média de lixo seletivo no Brasil, a maior parte está na área de papel e papelão que representam 35% da coleta total, mostrando que a reciclagem de papel é o principal investimento na área de reaproveitamento de material pós e pré-consumo. Papel reciclado Há duas grandes fontes de papel a se reciclar: as aparas préconsumo (recolhidas pelas próprias fábricas antes que o material passe ao mercado consumidor) e as aparas pós-consumo (geralmente recolhidas por catadores de ruas). De um modo geral, o papel reciclado utiliza os dois tipos na sua composição, e o mais tardicional tem a cor creme. A reciclagem do papel é tão importante quanto sua fabricação. A matéria prima para a fabricação do papel já está escassa, mesmo com políticas de reflorestamento

e com uma maior conscientização da sociedade em geral. Com o uso dos computadores, muitos analistas acreditavam que o uso de papel diminuiria, principalmente na indústria e nos escritórios, mas isso não ocorreu e o consumo de papel nas duas últimas décadas do século XX foi recorde. Para melhor entender a importância que a reciclagem tem nesse setor, basta observar que os cinco principais mercados consumidores de papel reciclado – o promocional, o editorial, o caderneiro, o de dados variáveis e o de varejo –, consomem hoje 950Kt anuais deste tipo de material, de acordo com a principal fabricante desse papel, a Suzano Papel e Celulose. Com a busca de melhorias na qualidade de impressão, na inovação de formatos e gramaturas, e na criação de novas tonalidades, a empresa acredita que até o ano de

Segundo o representante comercial da Suzano, Júlio Jubert C. Guimarães, o produto que a empresa oferece no mercado, o Reciclato, possui um conceito que engloba uma atitude de sustentabilidade ambiental e uma estratégia de marketing para os seus clientes voltada para a responsabilidade social. A Suzano justifica a sua produção de papel reciclado argumentando que o desenvolvimento de um papel reciclado de alta qualidade está diretamente comprometido com o conceito de desenvolvimento sustentável, já que quase três quartos da população brasileira se mostra disposta a separar o lixo doméstico como forma de ajudar na proteção ambiental, colaborando com a tendência mundial de aumento de produtos “verdes”. FSC Além do papel reciclado, uma outra forma que as empresas fornecedoras de papel estão buscando para preservar o meio ambiente, é a utilização de madeira reflorestada na sua produção, o que concede a essas empresas o selo FSC (sigla em inglês para Forest Stewardship Council, que em português significa Conselho de Manejo Florestal). É o resultado de uma iniciativa para o desenvolvimento sustentável das florestas mais significativas em termos mundiais. Os princípios e critérios do FSC são mundiais e valem para qualquer floresta do mundo: Direitos e responsabilidades de posse e uso (claramente definidos e legalmente estabelecidos); Direitos dos povos indígenas (possuir, usar e manejar suas terras e recursos devem ser respeitados); Relações comunitárias e direitos dos trabalhadores (bem estar econômico e social dos trabalhadores florestais e das comunidades locais); Benefícios das florestas (incentivar o uso eficiente e otimizado dos recursos); Impacto ambiental (diversidade ecológica, solos e ecossistemas mantendo a integridade das florestas); Plano de manejo (apropriado a escala e a intensidade da operação).

O FSC garante que a madeira utilizada na fabricação do produto provém de florestas manejadas de forma ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente sustentável. O diretor comercial da Suzano, André Dorf, afirma que a certificação FSC “é uma ferramenta de mercado que têm como objetivo identificar à sociedade, ao longo da cadeia produtiva, produtos sócioambientalmente adequados”. Mostrando que existem outras formas de se preservar o ambiente além da reciclagem e que o selo representa não só uma vantagem no consumo de papel, mas como em qualquer produto que tenha como matériaprima a madeira. Marketing No entanto, nem tudo são flores quando se trata da utilização do papel reciclado. Muitas empresas aproveitam o apelo ambiental da reciclagem que está na moda para melhorar a sua imagem como organização socialmente responsável. A maior prova disso é que a aceitação do papel reciclado é cada vez maior, especialmente no mercado corporativo. O papel reciclado tem um apelo ecológico, o que faz com que alcance um preço até maior que o material virgem. No Brasil, os papéis reciclados chegavam a custar 40% a mais que o papel virgem em 2001. Em 2004, os preços estavam quase equivalentes, e o material reciclado custava de 3% a 5% a mais. A redução dos preços foi possibilitada por ganhos de escala, e pela diminuição da margem média de lucro. Mesmo pagando um preço acima dos outros papéis de melhor printabilidade, as empresas preferem utilizar o reciclado, exatamente pelo motivo ambiental. A demanda por papel reciclado tem crescido a taxas de 20% ao ano nos últimos seis anos. Com isso, a reciclagem de aparas aumentou em 60,6%. Como nem todo papel é recuperado, já está ocorrendo falta de aparas para finalidades que já consumiam aparas, como a fabricação de embalagens e de papéis sanitários. “A impressão em papel reciclado


Fotos Andréa Paes França

virou uma espécie de cartão de visitas da responsabilidade corporativa”, diz Luís Fernando Madella, diretor de relações Institucionais da International Paper. Apesar de toda a empolgação em torno da reciclagem de papel, alguns estudiosos da área ainda questionam se realmente vale a pena investir nele. Tanto que reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 7 de maio de 2008, afirma que “não há evidências que comprovem, com segurança, que o papel reciclado traz menos impactos para o meio ambiente do que o papel branco, segundo os produtores de papel e celulose. Um estudo realizado pela Esalq-USP, baseado na literatura técnica sobre reciclagem de papéis, mostra que a produção de papel 100% reciclado para imprimir e escrever pode gerar um volume de efluentes até seis vezes maior que o papel branco.” A Suzano Papel e Celulose se defendeu dizendo que o estudo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”se baseou exclusivamente em literatura técnica e parte de situações extremas de análise que considerariam a reciclagem de papel com 100% de aparas pós-consumo cujo clareamento obviamente tenderia a um consumo maior de água e energia. Do ponto de vista técnico, isso é inviável porque a longo prazo a reciclagem exige uma constante entrada de aparas pré-consumo no sistema que, no caso da Suzano, corresponde a 75% da composição do papel. Mas existem outras empresas fabricantes de papel reciclado que, pensando em lucrar mais com esse mercado em ascensão, fabricam seu produtos exatamente como foi analisado pela Esalq, para assim conseguir um papel 100% reciclado e apresentar para o seu cliente um produto que se diferencia dos outros que utilizam aparas préconsumo. Agindo dessa forma tanto o fabricante quanto o consumidor final mostram que estão mais preocupados com a sua imagem perante a sociedade do que com o próprio meio ambiente.

Em média, são produzidas 500 folhas por dia ou oito mil folhas por mês. Além de aprender uma profissão, o jovem adquire consciência ecológica.

Reciclagem gera emprego e renda a jovens ONG Reciclar ensina moradores da favela do Jaguaré, zona oste de São Paulo, a fabricar papel reciclado Andréa Paes França

O

reciclar Instituto de Reciclagem

do Adolescente desenvolve há doze anos um projeto voltado para o chamado terceiro setor, com trabalhos de reciclagem de papel com moradores da favela do Jaguaré, zona oeste de São Paulo. O projeto surgiu da iniciativa de uma professora de idiomas que trabalhou na comunidade e sentia vontade de desenvolver atividades de reciclagem com os jovens. Junto com um empresário da região, fundou o Instituto. Hoje, o projeto atende a 120 jovens, sendo que 60 deles trabalham na linha de produção do papel e 60 ficam no reforço escolar. Segundo Moira Demange, coordenadora pedagógica, o projeto não tem nenhum tipo de apoio governamental. Para ela, iniciativas como essa podem ajudar a melhorar as questões sociais do país. Ela conta que a realidade do Reciclar é que os jovens vêm da escola pública do bairro e a

defasagem da educação é muito grande. ”Sentimos a necessidade de dar um reforço nessa educação. Quando se fala em educação, não se fala só em conteúdo mas também em valores”, diz Moira. O coordenador de produção do Reciclar, Jean de Almeida Oliveira, diz que na primeira vez que veio ao Instituto não tinha muita noção, mas com o passar do tempo entendeu o significado da reciclagem de papel. “É uma evolução, você aprende muita coisa”. Perguntado se projetos como esses ajudariam a melhorar as questões sociais, ele diz que aqueles que são desenvolvidos no Instituto ajudam sim muitos adolescentes e se não existissem projetos assim ninguém saberia o que seria deles. A auxiliar de produção Amanda Cletti da Silva, de 18 anos, que trabalha há três anos no Instituto, conta que chegou para trabalhar no projeto através da escola onde

estudava. “No Instituto aprendese a ter uma consciência a mais, de como cuidar do papel, da reciclagem”, diz. Os funcionários do projeto ganham um salário mínimo e ajudam na renda da família. Amanda explica que seus pais apoiaram sua iniciativa. Ela acredita que projetos como esses ajudam a dar oportunidade do primeiro emprego aos jovens. “Hoje em dia arrumar um emprego necessita ter experiência em tudo, então pegar um adolescente que estuda para estar ganhando seu próprio dinheiro para ajudar em casa é ótimo”. Para ela, esses projetos deveriam ter “um em cada esquina”, porque além de ajudarem os adolescentes, é uma experiência de trabalho, que têm um contexto social, de natureza, ambiente, educação e responsabilidade. Todo material produzido é vendido para empresas. De acordo

com o gerente de produção, João da Cruz Filho, o Instituto produz em média 500 folhas por dia, o que equivalente a oito ou nove mil folhas por mês. Questão ambiental O gerente conta que a questão ambiental envolve todo o processo de reciclagem, como a coleta do material, o preparo, a prensagem, produtos químicos usados na reciclagem e o consumo. “Além de aprender uma profissão, o jovem adquire consciência ecológica”, diz. Para ele, seria importante que projetos como esse funcionassem em outras regiões carente da cidade. O Instituto funciona em um prédio alugado de três andares e conta com o apoio de empresas privadas. O telefone para contato é (011) 3768-3607. O leitor pode ter mais informações, inclusive como fazer doações, acessando o site da entidade www.reciclar.org.br


Fotos Eteni Barbosa dos Santos Gualberto

Ex-morado res reconquistam a a fazendo reciclagem na

Um grave problema enfrentado pelos moradores de rua foi a Eteni Barbosa dos Santos

A

A proposta da professora Claudia Giannini é usar a arte na educação.

Vários objetos de decoração são feitos com material reciclado na Casa.

Cor da Rua é um lugar de transformação. Das mãos de ex-moradores de rua, jornais e revistas convertem-se em flores, bagaço de cana ganha a forma de luminárias, pastilhas de vidro multicoloridas dão beleza e cor aos móveis envelhecidos e a até uma batedeira quebrada transforma-se em abajur. A loja, que esnoba criatividade, é um espaço de renovação que revela que as coisas podem ser modificadas. O sonho tornou-se real em 2003 por meio da doação de um imóvel por um grupo de italianos. Reformado e adaptado às necessidades do projeto, é hoje a vitrine das peças produzidas pelas oficinas-escola: “Arte que vem da rua” produz peças feitas em mosaico e marcenaria, “Arte e luz da rua” utiliza o bagaço de cana como matéria prima e “Minha rua, minha casa” transforma latas em vários objetos de decoração. “O potencial da casa é divulgar um projeto, uma idéia da restauração e da reciclagem. Mais que vender um produto, a gente vende um conceito, um estilo de vida”, disse a educadora Priscila Santos. Para a Irmã Ivete de Jesus, coordenadora da casa Cor da Rua, o projeto é importante para São Paulo, pois revela que o que estava no lixo pode ser transformado em objetos bonitos e úteis, além de se constituir para o ex-morador de rua e os jovens em situação de risco num trabalho terapêutico na linha das artes plásticas. “A casa, mais que um comércio, é um modelo de serviço para ser copiado”, sustenta Irmã Ivete. casa

Na casa Cor da Rua a visão de desenvolvimento sustentável está presente na idéia que passou a ser materializada. Mais de trinta pessoas atuam no projeto da “Arte que vem da rua”. São jovens em situação de risco social e exmoradores que recebem bolsas entre 350 e 400 reais por mês e fazem parte da oficina-escola da Organização Auxílio Fraterno (OAF). Mãos que transformam Na oficina de Pet – que tem a vista para um belo jardim da casa, o qual é objeto de desvelo de um ex-morador de rua – jovens em situação de risco social aprendem a arte do reciclar. Vidas dando forma ao descartado. E o descartado elevando a auto-estima das vidas. A proposta da oficina, segundo a professora Claudia Giannini, é usar a arte na educação. “A oficina modifica o pensamento. A partir do momento que o aluno reutiliza a garrafa Pet, ele muda o olhar e valoriza a transformação. Durante as aulas gosto de fazer a analogia com o que é produzido com o material reciclado e o que a gente faz com as nossas vidas”, diz. Assentados em silêncio como se ouvissem a voz da inspiração, as mãos jovens dão cor e aparência à matéria-prima. Em poucas horas de dedicação e paciência, as garrafas plásticas que antes avolumavam os lixões ganham a forma de flores, brinquedos e de objetos decorativos. Segundo Claudia Giannini, a freqüência e dedicação são visíveis. “Quando chego à oficina, os materiais utilizados já estão sobre a mesa. Vejo o desejo que eles sentem de criar e ver o resultado. Eles passam a semana pensando

nas aulas que acontecem às quartas-feiras”, declara Claudia. Fazendo arte Sentado em meio ao emaranhado de sucatas estocadas no corredor lateral da casa, o pernambucano José Carlos, 48 anos, finaliza a pintura de um brinquedo. “É um pandeiro feito de madeira, tampinhas de garrafas e fitas”, diz. Construir peças infantis é uma atividade prazerosa que o deixa satisfeito, mas esta não é a sua única atividade. No seu labor diário, tem sob os seus cuidados o lavar, limpar e transformar latas de sardinhas em cinzeiros. “Eu me sinto feliz por fazer arte com o que vem da rua. Antes eu vivia a puxar carroça em busca de sucata por toda a cidade de São Paulo. Hoje faço arte.” Durante o dia, José Carlos é artesão da casa Cor da Rua e, à noite, volta para casa: o viaduto. Ele não tem recursos para construir uma casa, mas no coração nutre esperança de um dia tê-la. ”Eu saio de lá um dia com fé em Deus”, comenta. Um galpão abriga diver-sos artesãos responsáveis pela recuperação do reciclado que chega das ruas das mãos dos catadores. Lá está Carlos Roberto Santos, 56 anos, confeccionando cortinas com tampas de garrafas Pets. Um trabalho difícil e silencioso. No local, há pouca conversa. Aqui e ali se ouve um burburinho de frases soltas, mas nada que atrapalhe a atividade criadora dos artesãos. Enquanto entrelaça a linha entre as tampinhas coloridas, o artesão descreve sua vida passada. “Morei três anos na rua. É um lugar esquisito. Difícil de viver”, disse.


Fotos Eteni Barbosa dos Santos Gualberto

ado res de rua am a auto-estima em na Casa Cor da Rua

ores de rua foi aos poucos sendo extirpado: o alcoolismo

osa dos Santos Gualberto Movido pela vontade de mudar o destino, o catador de sucatas vestiu a camisa da reciclagem e começou a viver do que conseguia reunir com o carrinho. Conheceu o trabalho da OAF e assim conseguiu constituir uma família e até comprou uma casa. “Realizei o sonho de ter um lar e venci mais uma vez. Quando menos esperei já estava como presidente da cooperativa de catadores. Venci novamente”, diz. Hoje ele trabalha para tirar das ruas homens e mulheres à margem da sociedade. “Quando vejo alguém sair do alcoolismo e das ruas, sempre digo que mais um venceu”, declara. Talento nas ruas Com paciência e amizade, um grave problema enfrentado pelos moradores de rua foi aos poucos sendo extirpado: o alcoolismo. Motivados pelo incentivo dado pela ONG, muitos catadores mudaram de vida. Casamentos foram realizados e vidas foram modificadas. “Temos uma filha de catador que está se formando no curso de Jornalismo”, diz Irmã Ivete. O trabalho de buscar sucata na rua agora tem uma motivação diferente. Agora tem destino. Vai virar arte. Enquanto os pais saem em busca de sucatas, os jovens desenvolvem atividades nas oficinas de reciclagem. Nas produções das peças os talentos foram nascendo aos poucos. “Ao descobrir que faz algo bonito, a pessoa se sente bonita também, e assim resgata a auto-estima”, observa a educadora Priscila Santos. À medida que o tempo foi passando, os jovens que faziam parte das oficinas foram inseridos no mercado de trabalho e

outros, em situação de risco, foram convidados por outros jovens do projeto. E assim há sempre pessoas participando das oficinas. “A cultura da OAF é trabalhar com as populações vulneráveis por meio do trabalho. Trabalhamos juntos. Não temos terapia, não fazemos atendimento. Temos um cuidado no acompanhamento. Cada um tem sua atividade e o seu lugar. Um diferente do outro e cada um sabe o que produz melhor”, diz Priscila. Reciclando vidas Criada há 52 anos, a Organização Auxílio Fraterno (OAF) é sinônimo de luta. Nasceu da decisão de religiosas que resolveram prestar ajuda espiritual às presidiárias, prostitutas e à população adulta que vivia nas ruas. A fim de conhecer o universo daqueles que viviam sob as marquises e viadutos, as religiosas mergulharam no mundo dos excluídos. Irmã Ivete de Jesus chegou em meados de 1968, num convento em São Paulo, para participar dessa história de luta. Aportou na capital para ser freira. Nas idas e vindas nas ruas, as religiosas encontraram-se num lugar comum: no auxílio aos moradores. A partir daí nasceu a parceria. Era o início do labor diário para levar o pão e dignidade aos que viviam à margem da sociedade. A irmã Ivete de Jesus, com o poder do exemplo, ensinou aos moradores de rua que sobreviviam do ofício de catar sucatas que a força vem da união. Entendendo a lição de casa, eles providenciavam todos os dias os ingredientes necessários ao preparo da sopa que alimentara mais de 500 pessoas, no bairro

do Glicério, região central de São Paulo. Do compartilhar nasceram o vínculo e companheirismo, e da vontade de vencer, a Cooperativa de Catadores Anônimos de Papel, Papelão, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (Coopamare). Não demorou muito e outros catadores da Região Metropolitana de São Paulo ficaram sabendo do trabalho do grupo e começaram a criar cooperativas. “Quando o catador se organiza, começa a ser menos explorado pelo atravessador – a pessoa que compra o reciclado. Com a união do material, aumenta O pernambucano José Carlos, 48 anos, finaliza a pintura de um brinquedo. o poder de venda”, declara a educadora Priscila Santos. Anos depois, surgiu o conhecido Movimento Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis (MNCR). “O catador é uma profissão necessária, ele tira da rua o que não vale nada. Hoje, todos entendem que o catador é necessário, pois evita que o reciclável – que não é lixo – vá para o lixão. Os catadores são contingente de mão-de-obra, mas se não houver o reciclado, em que local essas pessoas vão trabalhar”, pergunta Priscila Santos. Hoje existe mais de 700 cooperativas no Estado de São Paulo. A Irmã Ivete de Jesus atuou de 1975 a 1998 nas ruas e hoje coordena a Casa Cor da Rua, que localiza-se na Rua dos Estudantes, 491, Liberdade, São Paulo, SP. Para saber como funciona a oficina “Arte que vem da Rua”, da Casa Cor de Rua, ligue para o telefone (011) 3272-9724, e fale com Irmã Ivete. Por meio do telefone (011) 3208-5096 (Administração), é possível saber o valor das peças. As peças estão à venda na Casa Cor de Rua, com sede na Liberdade.


Fotos Divulgação

Os diferenciais ecológicos do Ecolife Independência preservam o meio ambiente e reduzem em até 30% a taxa de condomínio. Somados a outros itens, tem valorização de até 20% maior que concorrência.

Mercado imobiliário agora se volta à sustentabilidade Novos compradores dão preferência a emprendimentos que possuem projetos sustentáveis no momento de fechar o negócio Renato Galvão

O

mundo da sustentabilidade che-

gou ao mercado imobiliário. Sinal disso é que no último mês de maio, o residencial Ecolife Independência, na Vila Monumento, zona centro-sul de São Paulo, foi premiado com o troféu do Banco Real, “Programa Real Obra Sustentável”, como edifício sustentável modelo. O Ecolife Independência foi lançado pela incorporadora Grupo Esfera, tornando-se o primeiro residencial a triunfar com esse apelo. Para ser eleito uma obra sustentável, é necessário ter pelo menos 70% de medidas sustentáveis. Com muitos jardins, o Ecolife foi bem quanto à questão

de permeabilidade do solo, economizando recursos naturais, uma vez que possui placas de aquecimento solar para pré-aquecimento do chuveiro, sistema de reuso de água, com manual de instrução para os moradores aprenderem e utilizarem os conceitos de sustentabilidade em suas casas. Segundo o superintendente de Crédito Imobiliário do Banco Real, Antonio Barbosa, a obra será vistoriada semestralmente, para ver se as regras sustentáveis estão sendo aplicadas. A previsão de entrega do prédio é para 2009, sendo que 80% dos apartamentos já foram vendidos. As unidades contam com quatro

dormitórios, 100 metros de área quadrada e valor na faixa de 200 a 250 mil reais. Em conversa com James Will – nome de guerra do corretor que prefere não revelar o local em que trabalha –, ele afirma que os sambistas do Demônios da Garoa e o compositor Osvaldinho da Cuíca contribuíram e muito para piorar a imagem da Vila Monumento. Isso devido ao fato de o grupo e o cantor, ex-integrante dos Demônios, terem gravado anos atrás a canção “Minha vizinha”, em que é dado ênfase a um morador de periferia que está feliz da vida por ter comprado um apartamento novo na Vila Monumento, uma região bacana da 10

cidade, mas a alegria durou pouco tempo, pois a sua vizinha de novo endereço é uma maloqueira da pior categoria (veja a letra da cançao na página ao lado). Apesar da música e das reclamações do corretor, o Ecolife Independência foi capa do caderno de Imóveis de O Estado de S. Paulo, de 13 de abril de 2008. O jornal destacou o prêmio conquistado pelo imóvel. O presidente do Grupo Esfera, Luiz Fernando Lucho do Valle, ressalta que o Ecolife reúne inúmeras soluções sustentáveis em um único projeto, o que o torna um diferencial em relação à concorrência.

Segundo ele, todo material utilizado na construção das torres possui certificado. “Além disso, os resíduos de obra são tratados e também foram instalados equipamentos que diminuem o consumo de energia elétrica e de água.” Tendências Para Artur Diniz, advogado e atualmente corretor de imóveis da Lopes, “essa é uma tendência natural do mercado, pois as pessoas querem um local com boa infra-estrutura de lazer e que de preferência não interfira nos recursos naturais e ambientais, especialmente se os moradores tiverem condições de comprarem imóveis de um nível mais elevado.”


Muitos compradores do imóvel premiado da Vila Monumento compraram uma unidade no badalado Central Park Mooca, mas desfizeram o negócio, pois o projeto do condomínio não visava ações sustentáveis como o Ecolife. Isso ocorreu com Paulo Santana, vendedor de uma grande indústria de refrigerantes. “Comprei na Mooca, bairro lindo, limpo, um prédio maravilhoso, com quadras de tênis, anfiteatro, pista de skate, três piscinas, ateliê de artes plásticas, bar, lounge, quatro dormitórios e nada em prol da sustentabilidade. Por isso, optei pelo imóvel na Vila Monumento, pois ele preza o mundo em que vivemos”, diz. Já Cristina Rosarum, corretora que passou pela Abyara, Cyrela, Camargo Correa, Lopes e atualmente está na Goldfarb, táticas como a do residencial Ecolife Independência servem muito bem para vender os imóveis com mais rapidez, pois o público com uma renda maior tende a prezar mais pelo espaço em que vive. “Geralmente as pessoas que compram imóveis com valor acima de 100, 150 e 200 mil, possuem um pouco mais de conhecimento, cultura e respaldo. Quando vêm os

benefícios que um empreendimento novo irá proporcionar a elas, ainda mais no bolso, pois essas ações levam a economia no prédio, sentem-se seduzidos, pois terão menos gastos e ainda contribuirão em prol da melhoria de vida e aos cuidados do meio ambiente”. Mas, segundo Gláucio Gonçalves, que escreve semanalmente no caderno de Imóveis de O Estado de S. Paulo, a preocupações com a sustentabilidade já ocorrem em empreendimentos feitos para as classes C e D. “Hoje, mesmo em edifícios simples, é necessário que haja uma preocupação mínima com a questão ambiental, como a presença de coleta de lixo, com cestos certos, tratamento de esgoto e água e captação de águas de chuva”, diz. Ainda segundo Gonçalves, “uma questão que invoca a parte social de qualquer projeto é que 50% dos materiais de construção são desperdiçados, e 25% deles passam a ser resíduos e o restante é utilizado para a recuperação da geometria do prédio. Todo o material tem uma representatividade grande no volume total de resíduos urbanos na cidade”, ressalta.

Regras atuais Desde julho de 2007, vigora uma

lei que obriga os novos edifícios a terem tubulação adequada para o aquecimento solar da água. Se uma unidade for lançada com mais de três banheiros, a regra passa a ser uma norma obrigatória. Novidades como essa fazem com que eventos do ramo de imóveis, como feiras, exposições e lançamentos, tenham cada vez mais atrações, e usem a sustentabilidade para atrair compradores e receberem troféus, como o que ocorre anualmente no Prêmio Top Imobiliário. São Paulo deverá ter em breve um bom número de prédios sustentáveis, especialmente em bairros que antigamente eram industriais, como Lapa, Barra Funda, Jaguaré, Tatuapé e Mooca, e que ganham cada vez mais novos empreendimentos de caráter residencial, e já devem ser construídos e erguidos pensando nas ações sustentáveis. Cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador também devem ganhar novos modelos que se preocupam com a sustentabilidade.

“Minha vizinha” Composição: Osvaldinho da Cuíca Eu vivia e morava na periferia Mas certo dia resolvi mudar E fui morar lá na Vila Monumento Num apartamento de vista espetacular Mas a minha alegria durou muito pouco foi só um momento Pois o problema é a vizinha do lugar Bis: Ela é anarquista, ela é terrorista da Faixa de Gaza E fez meu sonho em pesadelo se acabar Quando ela fala parece a corneta de um regimento Convocando a tropa no apartamento Que é muito pequeno pro seu batalhão É cachorro que late, a velha que grita, a gorda que berra Criança pulando brincando de guerra Tirando o sossego deste cidadão Refrão: (A Minha vizinha) Minha é maloqueira Maloqueira, maloqueira Sem era nem beira, sem educação Desabafo cantando esse samba pra ela (só prá ela) Com muito respeito e consideração Breque (Que ela tenha um infarto pro bem da nação)

e

Reúso de água ainda não foi regulamentado no país

cio

Segundo especialista, a deficiência “restringe a universalização da prática em nosso país” e atrasa implantação de projetos Rafael Bonizzi deve ser promovida por meio de programas de gestão adequada da demanda e de educação ambiental, e o reúso direcionado à gestão da oferta, buscando fontes alternativas de suprimento, incluindo água recuperada, águas pluviais e água subterrânea, complementada mediante a recarga artificial de aqüíferos.” “No caso específico da Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, é possível admitir com grande segurança que, dos 70 m3/s aduzidos, não mais do que 30 m3/s sejam utilizados para fins potáveis. Os 40 m3/s restantes representam o potencial de reúso da RMSP, e poderiam ser substituídos por água

de reúso para o atendimento de fins domiciliares não-potáveis (descarga sanitária, lavagem de pisos etc.), usos urbanos não-potáveis, tais como lavagem de veículos e ruas, irrigação de áreas verdes e quadras esportivas, na construção civil e na indústria e, ainda, para recarga gerenciada dos aqüíferos subjacentes à metrópole que, dentro de pouco tempo, entrarão em colapso em razão da crescente demanda predatória exercida por indústria e edifícios comerciais e residenciais. Implementando essa prática em larga escala, não seria necessário transportar águas de quaisquer das bacias consideradas para aumentar a oferta de água 11

na RMSP. Uma ação efetiva para o controle de perdas e programas de estímulo à conservação de água traria uma contribuição adicional para aumentar a disponibilidade existente e reduzir a crescente demanda de água na região. “ Segundo ele, “qualquer que seja a forma de reúso empregada, é fundamental observar que os princípios básicos que devem orientar essa prática são: a preservação da saúde dos usuários, a preservação do meio ambiente, o atendimento consistente às exigências de qualidade, relacionadas ao uso pretendido e à proteção dos materiais e equipamentos utilizados.” O reúso deve preservar a saúde.

Foto Reprodução

“N

Brasil não se dispõe, ainda, de um arcabouço legal para regulamentar, orientar e promover a prática do reúso de água, o que talvez seja a deficiência mais significativa que restringe a universalização da prática em nosso país.” A opinião é do professor Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água – Cirra/IRCWD, Universidade de São Paulo. Para ele, “um novo paradigma, baseado nas palavras-chave conservação e reúso de água, deve evoluir, para minimizar os custos e os impactos ambientais associados a novos projetos. A conservação o


Comunidade católica entra na onda da reciclagem

Pastoral da Reciclagem mantêm padaria artesanal com dinheiro arrecadado com a venda de materias reciclados e sucatas

A

liando a vontade de preservar

o meio ambiente com a responsabilidade social, a professora desempregada Elisabete Schmidt Caterina, 40 anos, desenvolveu o projeto da Pastoral da Reciclagem na Paróquia Mãe Rainha, localizada no bairro do Jaraguá, zona oeste de São Paulo. A idéia surgiu em 2007, ano em que a Campanha da Fraternidade da CNBB tratou em sua campanha do tema meio ambiente e da preservação. A professora divulgou a idéia na reunião do Conselho Pastoral, em que todos os coordenadores da Paróquia estiveram presentes e fez o convite para quem quisesse trabalhar com reciclagem e preservação do meio ambiente no bairro. O projeto também foi divulgado durante as missas e por meio de faixas e cartazes. Foi formada inicialmente uma equipe de 10 pessoas. Todos se reuniram, planejaram como seria o trabalho e decidiram dar início as atividades da Pastoral no dia 10 de julho de 2007. Depois de um ano de atividades, 22 pessoas com idades entre 20 e 65 anos – a maioria donas de casa que nunca haviam trabalhado fora e desempregados –, fazem parte do grupo que separa o material para reciclagem e que atua na padaria artesanal. A Pastoral da Reciclagem recebe ajuda das 10 comunidades que compõem a Paróquia. Seu quadro possui um coordenador, um vice-coordenador, um tesoureiro e um secretário. “Já pensamos muito em nos tornarmos cooperativa, mas é bem complicado. Optamos, primeiramente, a aprender a trabalhar com reciclagem, fortalecer a equipe e depois dar o próximo passo”, diz a professora. A vantagem de ser cooperativa é poder registrar todos os membros e assim ter direito aos benefícios do

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Nesse caso, a Pastoral também teria verba do governo e participaria de projetos sociais. “As vantagens são muitas, mas é um processo bem burocrático e caro, imposto para pagar, taxas e no momento não temos condições financeiras para isso.” Reciclagem Todos os paroquianos estão envolvidos com o trabalho, separando o lixo em casa e levando até a Igreja. As comunidades arrecadam, armazenam e uma vez por semana o material é recolhido. “Ninguém ganha nada em troca, apenas o aprendizado e a conscientização que devemos separar o lixo para preservação do meio ambiente”, diz a professora. Às quintas-feiras, a equipe se reúne no pátio da Igreja logo cedo para separar o material arrecadado. São latas, garrafas Pet, latinhas de alumínio, sacos plásticos, papelão, ferro, vidro etc. Em média são recolhidos 500 Kg de material. O que não pode ser reciclado, é vendido a um ferro velho. São feitos trabalhos de artesanato com os materiais reciclados. Com lacre de latinhas de alumínio e crochê, são feitos toalhas de mesa, e com restos de pano e garrafas Pet, são confeccionados bolsas e panos de pratos de patwork, toalhas, colchas e terços de fuxicos. Os artesanatos são vendidos em bazares. Padaria As 22 pessoas que trabalham com a reciclagem também mantém a padaria. Elas não fizeram cursos, apenas aprenderam com os mais experientes a arte de fazer pães caseiros e foram testando diversas receitas para chegar ao pão ideal. Quem comanda a cozinha é Célia Cristina Quitério. A dona de casa de apenas 30 anos lidera a equipe que põe a mão na massa e prepara o almoço do pessoal. “Esse

Foto Elisabete Caterina

Lygia Mara Gomes

No pátio da Igreja, é feita a separação do material que será utilizado na confecção de produtos artesanais. projeto é realmente muito bom, porque além de a gente ajudar o meio ambiente, ajudamos a nós mesmos”. Segundo Argemiro Quitério, de 42 anos, vice-coordenador da Pastoral da Reciclagem, são vendidos hoje cerca de 230 pães, doces e salgados por semana. A cada dia o grupo fica mais unido, segundo Quitério. “Além de a gente ajudar o meio ambiente e gerar uma renda mensal, é uma espécie de terapia que fazemos todos os dias. Os membros da equipe são pessoas que estavam sem perspectiva de vida, paradas em casa, ficando com depressão, 12

e elas chegam aqui, trabalham, conversam, divide os problemas e saem bem.” A padaria da Pastoral da Reciclagem já é sucesso no bairro e possui uma clientela fixa, como a administradora Magda Mendes. “Às vezes, tenho que pedir para reservarem um pãozinho antes que acabe. Já fiz encomenda de pães recheados para servir numa festa de aniversário, e todo mundo gostou muito”, disse. Doações Boa ação gera boa ação. Assim, a Pastoral da Reciclagem doa a Pastoral da Criança, uma vez por mês, lanches que alimentam as

120 crianças que são monitoradas

pelo projeto e participam da pesagem mensal e avaliação de desenvolvimento na região. Além disso, todos os sábados as missas destinadas às crianças da catequese também recebem doação dos pães. No Natal, panetones caseiros são doados às famílias carentes. Na Páscoa, são doados doces e ovos de chocolate. Além da Pastoral se manter pagando todas as despesas dos materiais utilizados na padaria, mensalmente é doado a Igreja 200 reais, para ajuda de custo de água, luz e espaço. O dinheiro que sobra é dividido entre todos os membros.


Alimento reciclado combate a fome em São Paulo

Projeto de geógrafo da Ceagesp arrecada e distriui “sobras” que geram produtos considerados próprios para o consumo humano Shirley Frazão da Silva

O

Foto Reprodução

Foto Beatriz Yuki

de alimentos no Brasil começa na colheita, passa pelo comércio e chega à mesa do consumidor. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima que no caso das hortaliças (legumes e verduras), o total de perda é de 37 quilos por habitante ao ano, o equivalente a 12 bilhões de reais. Segundo Isabel Marçal,coordenadora da ONG Banco de Alimentos, 60% do lixo em São Paulo é orgânico, ou seja, restos de alimentos como frutas, verduras, legumes e outros. Cerca de 39 milhões de quilos são jogados fora todos os dias, quantidade que seria suficiente para alimentar 19 milhões de pessoas com três refeições diárias (café da manhã, O Banco Ceagesp de Alimentos distribui a entidades alimentos oferecidos pelos comerciantes dos postos. almoço e jantar). Foi pensando nisso que, em 2003, o geógrafo Luciano Legas- com alimentos secos. Nosso es- ção líquida animal. Os alimentos espaço com terra para pessoa poder pe, chefe do Departamento de paço está adaptado somente para que são impróprios para o homem trabalhar. Quando eu trabalhava na são processados e consumidos Cetesb, fizemos uma composteira. Serviços Gerais da Companhia de trabalhar com hortis.” Para Ana Maria Domingues, por suínos e bovinos. O restante Compostávamos as sobras dos Entrepostos e Armazéns Gerais diretora do Instituto GEA – Ética que não serve nem mesmo para o alimentos de mil refeições que de São Paulo (Ceagesp), criou um e Meio Ambiente, a iniciativa da consumo animal transforma-se em eram servidos no local. E, para isso, projeto com o objetivo de combater o desperdício de alimentos por Ceagesp é excelente, pois reutiliza compostagem. A compostagem é o terreno deve ser grande, a fim material que seria jogado no lixo. a transformação de resíduos or- de que possa haver a troca entre meio da reciclagem. O projeto conta com uma “Esse projeto é muito bom, porque gânicos como restos de alimento, os microorganismos que estão na equipe que seleciona as sobras ele seleciona alimentos que ainda casca de ovo, talos etc. em um terra e as sobras que estão sendo orgânicas consideradas lixo, podem ser utilizados, porém o composto orgânico que é utilizado jogadas fora”, explica a diretora do Instituto GEA. mas que na realidade podem ser cliente não compra. Alguns acham para adubar plantas. “Esse processo pode ser feito Banco de Alimentos reaproveitadas. As sobras geram que só porque o alimento está amassado ou com uma aparência em casa desde que exista um Com o objetivo de minimizar os produtos considerados próprios mais feia, é impróprio para o para o consumo humano. Tudo que for aproveitável é transferido para o consumo. E é esse tipo de material Banco Ceagesp de Alimentos, que que o Luciano recolhe e doa para quem precisa”. distribui a entidades cadastradas. “Existem outras entidades que O coordenador Banco Ceagesp de Alimentos, João Tadeu Pereira, recolhem em supermercados os explica que a reciclagem é feita produtos que estão próximos da por empresa terceirizada. “Nosso data de vencimento, mas que ainda Banco trabalha captando doações – estão bons. Então, eles repassam frutas, verduras e legumes –, dentro para escolas, creches etc. Ambos do Entreposto São Paulo. Depois, realizam um ótimo trabalho, mas elas são distribuídas a outros bancos de nada adianta se o consumidor de alimentos e a instituições benefi- não se conscientizar e desperdiçar centes cadastradas no programa. menos”, explica a diretora. Ração e adubo Temos uma estrutura física para Outro destino dos resíduos recebimento, seleção e distribuição desses produtos. Não trabalhamos da Ceagesp, é o processo da ra- Projeto prevê combate ao desperdício de alimentos na Ceagesp. desperdício

13

efeitos da fome, através do combate ao desperdício de alimentos e promover a educação e a cidadania, foi criada em 1998, em São Paulo, a ONG Banco de Alimentos. “Aqui na ONG realizamos a chamada colheita urbana que consiste na arrecadação de alimentos in natura, perecíveis e não-perecíveis, dentro do prazo de validade, ensacados e não-violados que estejam próprios para o consumo, de vários tipos de estabelecimentos, como hortifrutis, padarias, sacolões, supermercados, produtores etc”, informa a coordenadora Isabel Marçal. A hora do consumidor A cabeleireira Quitéria Conceição da Silva, consciente dos problemas que o consumo exagerado causa, procura consumir com moderação para não desperdiçar. “Adquiri o hábito de reutilizar as sobras com a minha mãe. Então, quando tenho restos de arroz em casa costumo fazer bolinhos ou risoto, e com as sobras de feijão e carne faço sopas.” Já o técnico de informática Irenildo Bezerra, toma vários cuidados ao escolher os produtos que vai levar para casa. “Observo as datas com muita precaução. Além disso, sempre preparo alimentos que possam ser conservados na geladeira”. Lei contra o desperdício Em 1996, a a Federação do Comércio do Estado de São Paulo encaminhou ao Congresso Nacional, em Brasília, o Estatuto do Bom Samaritano. A idéia era incentivar a criação de uma lei específica para combater o desperdício. O que o Estatuto prevê basicamente é que o doador de boa-fé seja eximido de qualquer responsabilidade civil ou criminal, ao doar alimentos em condições de consumo à parcela mais necessitada da população. Por enquanto, nenhuma lei federal foi criada e a proposta está no Congresso Nacional há 12 anos.


Famílias carentes sobrevivem catando lixo na cidade

Apenas na capital paulista, cerca de 20 mil pessoas passam o dia recolhendo latinhas e revirando sacos do lixo pelas ruas

O

ocupa na atualidade a primeira posição no ranking de países com número maior de pessoas sobrevivendo da reciclagem. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 500 mil brasileiros, entre adultos e crianças, sustentam-se por meio da reciclagem de materiais descartados pela população diariamente nas cidades, como papelão, latinha e garrafas Pet. O pai de família desempregado, Joel Lima Lopes, mantêm a casa coletando papelão e garrafa Pet pelas ruas do bairro da Barra Funda, em São Paulo.”Todos os dias, saio de casa às seis horas puxando o meu carrinho e recolhendo papel, papelão e garrafas de refrigerante. Depois. vou até a Lapa em busca de mais material. Enfim, caminho às vezes o dia inteiro com um pedaço de pão, que é o meu almoço e sempre digo que meu dia tem hora certa para começar, mas não para acabar.” Só a Região Metropolitana de São Paulo produz por mês aproximadamente 450 mil toneladas de lixo que são despejados entre os aterros sanitários da região. Dentre os vários “lixões”, está o de Santo André, no ABC paulista, local de trabalho da dona de casa e mãe solteira de quatro filhos, Vera Lúcia Garcia dos Santos. “Eu levanto todos os dias às cinco horas da manhã e vou para o ‘lixão’ junto com as minhas crianças, porque eu não tenho com quem deixá-los. Os menores, Ana Júlia, de quatro anos, Gabriela, de cinco anos e o Roberto Carlos Garcia dos Santos, de sete anos, passam o dia brincando com os carrinhos e bonecas que encontram lá misturado junto ao lixo. Já o mais velho, Everson Garcia dos Santos, de 15 anos, estuda no período da manhã e também trabalha comigo no aterro à tarde, pois sustentar cinco bocas sozinha seria impossível.” brasil

A pernambucana Maria da Conceição Soares, que há dois anos veio para São Paulo à procura de melhorar sua condição de vida, trabalha pelas ruas de Guarulhos a fim de sobreviver. Para ela, a reciclagem foi a sua única alternativa. “Eu saí de Pernambuco pensando em melhorar de vida, mas quando cheguei em São Paulo percebi que a vida aqui é bem mais difícil que lá no meu estado, ainda mais para uma pessoa sem estudo como eu. Hoje pego papelão pelas ruas para poder comer e já me arrependi de ter saído de perto da minha família. Se tivesse condições voltaria para Pernambuco agora mesmo.” Infância perdida Segundo o IBGE, cerca de 20 mil pessoas sobrevivem trabalhando como catadores de lixo na capital paulista. Desses, 18% são crianças entre cinco e 14 anos de idade. É caso do menino Pedro Henrique Machado, de 13 anos. Assim como o garoto Everson, ele recolhe latas de alumínio pelas ruas de Guarulhos para ajudar a sua família.”Em casa somos em três pessoas, minha mãe, meu irmão de cinco anos e eu. A minha mãe trabalha seis dias por semana como diarista e leva o meu irmão junto com ela para o trabalho, enquanto eu vou a escola pela manhã e a tarde saio para catar latinha e ferro para ajudar na renda de casa. Só com o salário que minha mãe consegue ganhar por mês, em torno de 280 reais, fica difícil de manter a nossa casa e muitas vezes, quando eu não trabalhava, chegamos a passar por necessidades, então eu não tenho escolha e preciso trabalhar para ajudar a minha família”. Para a menina Catarina Sampaio da Glória, de 14 anos, trabalhar coletando material reciclável pelas ruas, além de ser fonte de renda, tornou-se também a sua única atividade diária. “Eu parei de estudar na 4ª série para

Foto César Paranhos

César Paranhos

A artista Ana Luiza Cordeiro Marques compra material dos catadores e faz do “lixo” objetos de decoração. ajudar a minha mãe a sustentar a casa, pois somente com o que ela ganha fazendo ”bicos” nós não conseguiríamos sobreviver, ainda mais com meu irmão caçula de dois anos.” Trabalhando todos os dias recolhendo latas pelas ruas, revirando os sacos de lixo no parque do Ibirapuera, ela consegue ganhar por mês em média 300 reais. Juntando com mais 150 reais do trabalho da mãe, no final do mês a renda da família é de 450 reais. A arte do lixo Não é todo o material reciclável recolhido que vai para as usinas para se transformar em matériaprima novamente. Existem pessoas como a artista plástica Ana Luiza Cordeiro Marques que compra parte desse material dos catadores e faz do “lixo” objetos de decoração como vasos e porta-velas. “Eu compro quase todo tipo de material que os catadores recolhem, desde papel até latas de alumínio. Pois além de ajudá-los a manterem suas famílias e contribuir com o meio ambiente, meu serviço é tornar o que a sociedade descarta em algo 14

produtivo e útil. Com as garrafas Pet eu faço vasos e porta-velas, já o papel utilizo como base para fazer bonecas de decoração e as latas de alumino viram bolsas e enfeites de roupa”. O “lixo” que educa Na opinião da professora de Educação Artística, Cristina Barcellos, os colégios deveriam apresentar em seu planejamento pedagógico um projeto que unisse a disciplina de Educação Artística a temas importantes como a questão da reciclagem. “As escolas deveriam incorporar ao projeto pedagógico assuntos mais relevantes como as questões da reciclagem e do meio ambiente, criando uma relação entre os mesmos e as matérias abordadas em sala de aula, unindo o conteúdo apresentado em classe à vida do aluno. A aula de Artes tem como principal objetivo estimular e desenvolver a criatividade das pessoas. Por que então não aproveitar o tema reciclagem para ensinar os alunos a transformarem ‘lixo’ em arte. Eu, por exemplo, além de trabalhar com papel, papelão,

garrafa Pet e latas de alumino, ensino as ‘minhas’ crianças em classe a tornarem CDs riscados em porta-retratos e enfeites de Natal, pois não basta só estimularmos o lado criativo das pessoas, também precisamos formar cidadãos com mais consciência ambiental”. Para a professora aposentada Vanda Almeida da Cruz, cabe aos educador aliar o projeto pedagógico ao programa da disciplina. “Eu acredito que é o professor quem deve propor o andamento da sua disciplina. Não concordo com a postura de esperar pelo pla-nejamento do colégio. Em 30 anos de magistério, eu nunca fiquei na dependência do planejamento pedagógico para trabalhar com temas importantes como a reciclagem. Em sala de aula, sempre estimulei os alunos a criarem com latas de leite em pó. Essas atividades resultavam em trabalhos maravilhosos, pois uma criança criativa certamente se tornará um adulto mais preparado para atender as necessidades do mercado de trabalho”.


as

Reciclagem de latas de alumínio ganha força no país

De Norte a Sul, brasileiros estão faturando cada vez mais com a reciclagem de latinhas de alumínio; preço por quilo = R$3,00 Bruno Santos M. de Almeida

O

Santos, 37 anos, afirma que a coleta seletiva do lixo já é feita há cinco anos. O síndico conta que as latinhas de alumínio e as garrafas Pet, são a maioria dos materiais da coleta seletiva. “No momento, temos uma receita de 950 reais mensais com a venda de todo o material que é reciclado, e a meta é chegar a 2.500 reais.” Todo o dinheiro da reciclagem é revertido na melhoria dos edifícios, como compra de tintas, equipamentos e instalações novas, serviços de jardinagem, e um pouco é guardado para o mês de junho, quando acontece a Festa Junina promovida pelos moradores. Quem também junta latinhas de alumínio para no fim do mês negociá-las é o marceneiro e pintor Marco Antônio Santos, 39 anos. “Já que em casa, nos finais de semana, várias latinhas são jogadas no lixo, resolvi começar a recolher e guardar, e no final do mês vendê-las a uma cooperativa”. O marceneiro recolhe cerca de quatro quilos. Seu recorde foi de seis quilos em um mês, o que lhe rendeu na época quase 20 reais. O lugar em que vende costuma pagar 2,90 reais por quilo. Cooperativa O comerciante Edson Cabral, 45 anos, é diretor da cooperativa de reciclagem Coopcicla, Segundo ele, é durante o Carnaval que as cooperativas passam a reciclar as latinhas de alumínio em grande escala, num número bem maior do que em outras épocas. Ele conta que em alguns camarotes o montante de latinhas recolhidas chega a render um caminhão de material por dia, incluindo também garrafas Pet, papelão e plástico. Cabral afirma que os empresários ou microempresários que querem ingressar no ramo, devem conhecer bem o negócio, estudar o local em pretende instaladar a Depois de coletadas, as latas de alumínio vazias são prensadas e os blocos são vendidos para os fabricantes. cooperativa ou fábrica e definir como alumínio,

na maioria das vezes, é o primeiro nome a ser lembrado pela população quando o assunto é reciclagem. Ao contrário de alguns outros materiais, o alumínio pode ser reciclado infinitas vezes, sem perder suas características iniciais em todo o seu processo de reaproveitamento. A reciclagem do alumínio pode ser tanto a partir de sucatas geradas por produtos de vida útil esgotada, como de sobras do processo produtivo. Utensílios domésticos, latinhas de bebidas, componentes automotivos, entre outros, podem ser fundidos e empregados novamente na fabricação de novos produtos. Pelo seu bom valor de mercado, a sucata de alumínio permite uma boa geração de renda para milhares de famílias brasileiras envolvidas no processo de coleta e transformação final da sucata. A reciclagem do alumínio repre-

senta uma combinação única de vantagens. Economiza recursos naturais, energia elétrica – no processo, consome-se apenas 5% da energia necessária para produção do alumínio primário –, além de oferecer ganhos sociais e econômicos. A prática de reciclar latinhas de alumínio usadas começou no ano de 1968, na Califórnia (EUA). No Brasil, a atividade se iniciou na década de 1990, quando surgiram as primeiras fábricas e cooperativas que foram criadas especialmente para a reciclagem das latas. Catadores O catador Leandro Souza, 15 anos de idade, nascido em São Paulo, todos os dias percorre as ruas da cidade atrás de latinhas. Os finais de semana, segundo Souza, são os principais dias para se obter um grande número de latinhas, pois as pessoas saem para se divertir e

por conta disso o consumo é maior. Souza afirma que costuma ficar perto de casas noturnas. Segundo ele, é bastante comum ver pessoas atirando latinhas pela janela dos carros, e outras ao caminharem pelas vias públicas jogam as latinhas nas calçadas. Souza ainda lembra que na época do Carnaval, ele costuma juntar até 20 quilos de latinhas, pois o consumo é bastante alto, especialmente de cerveja. O dinheiro arrecadado vai para o orçamento familiar. Ele conta que a cada dia o número de latinhas recolhidas nas ruas parece aumentar, e ele torce para que as pessoas joguem mais latas nas ruas, esquecendo-se da poluição e da sujeira que provocam. Atividade rentável No condomínio dos Estados, situado na Rua Roque de Moraes, no Bairro do Limão, o síndico Erivan

Foto Bruno Santos M. de Almeida

e

15

serão feitas as negociações, para que os lucros e os objetivos finais sejam alcançados. O comerciante disse que uma cooperativa que já tem certo nome no mercado e trabalha corretamente, atinge as suas metas. Consumo O estudante Erick Rossini, 13 anos, consome latinhas de refrigerante quase todos os dias. Seu pai é dono de uma lanchonete no bairro do Cambuci, em São Paulo, Ele nao sabe mas é parte de uma engrenagem, em que ele, e milhares de pessoas, são considerados os “consumidores finais” das latinhas de alumínio. Levantamento recente aponta que o consumo de bebidas em lata no país cresceu 13,5% em 2007, índice mais de duas vezes superior ao crescimento do PIB do ano passado e muito acima do registrado por outras embalagens. Como resultado, as vendas alcançaram 12,2 bilhões de unidades, elevando o consumo per capita do brasileiro para 64 latinhas/ano. Com o índice de 96,2% na reciclagem de latas de alumínio para bebidas em 2005, o país se manteve pelo quinto ano consecutivo na liderança do ranking mundial dessa atividade. Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), o Brasil atingiu a marca de 127,6 mil toneladas de latas de alumínio recicladas em 2005. São aproximadamente 9,4 bilhões de latas no ano ou 26 milhões de latas recicladas diariamente. Esses resultados expressivos têm explicação. A principal é o fato de o Brasil possuir um mercado de reciclagem em todas as regiões, o leva muitos a aderir a essa prática, estimulando também a coleta de outros materiais.


Sabão caseiro pode ser alternativa para óleo de cozinha

Mas especialistas altertam para os riscos à saúde devido ao manuseio de produtos químicos perigosos como soda cáustica

C

das donas de casa, o óleo de cozinha é motivo de preocupação de ambientalistas no mundo inteiro, especialmente no Brasil. É que aqui, depois de usado, ele é despejado no ralo da pia da cozinha ou no vaso sanitário, acarretando danos ao meio ambiente como a contaminação do solo, dos rios e das redes de esgoto, além da emissão de gases que provocam o efeito estufa. Há dois anos, a dona de casa aposentada Maria Marcolina de Macedo, 80 anos, decidiu fazer sabão de pedra reutilizando o óleo de cozinha. A iniciativa da moradora do município de Osasco (SP), influenciou as irmãs que moram no bairro de Cachoeirinha, zona norte de São Paulo. “Sempre que minhas irmãs me visitam, trazem garrafas cheias de óleo. Elas não produzem o sabão em suas casas, mas me ajudam na coleta e no armanezamento”, diz a aposentada. Para Edith Kasai, filha de dona Maria, a produção de sabão além de ser motivo de orgulho para a família, é uma forma de economizar. “Uma pedra de sabão industrial custa cerca de 70 centavos. Com dois litros de óleo, produzimos 20 pedaços de sabão”, afirma. A atitude da família Macedo é positiva para a Região Metropolitana de São Paulo, que sofre com a poluição das águas. Segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), cada litro de óleo de cozinha pode contaminar 20 mil litros de água. Ainda segundo a Sabesp, estima-se que cada família produza mensalmente um litro e meio de óleo de cozinha. Um exemplo de consumo de óleo de cozinha em grande escala são as pastelarias. Alexandre Versis, dono da pastelaria do Alemão, no bairro Bela Vista, em Osasco, comenta que utiliza cerca de 20 litros de óleo por semana na fritura dos pastéis. ompanheiro

A solução que Alexandre encontrou foi substituir o produto por gordura vegetal. “Continuo usando o óleo tradicional, até porque a gordura vegetal é mais cara. Para amenizar a quantia que sobra do consumo, armazeno o óleo e entrego as senhoras que produzem sabão”. Dona Gerturdres Correia é uma das donas de casa que utiliza o óleo que sobra da pastelaria do Alemão. Assim como dona Maria, ela também produz o sabão caseiro. “Desde que descobri essa ‘solução’, nunca mais joguei o óleo de fritura pela pia, e também passo toda semana na pastelaria para buscar o que Alexandre guardou para mim.” Riscos à saúde O engenheiro do Setor de Tecnologias de Produção mais Limpa (EINP) do Estado de São Paulo, André Heli Coimbra Botto e Souza, acredita que essa prática das donas de casa pode ser uma alternativa, mas não resolve o problema. “Trata-se na verdade de uma solução paliativa, pois é claramente insuficiente para absorver as enormes quantidades de óleo geradas”, diz. Além disso, o engenheiro alerta para os riscos provocados pela manipulação de produtos químicos. “A produção de sabão caseiro envolve o uso de um insumo tóxico/corrosivo, a soda cáustica, que causa intoxicação e envenenamento.” Legislação Em fevereiro de 2008, foi aprovada na Câmara Municipal de São Paulo, a Lei n. 14.698, que proíbe o despejo de óleo de cozinha na rede e esgoto da capital. A lei deve valer para empresas, restaurantes, escolas, industrias e outros estabelecimentos não-domésticos. Sobre a lei, o engenheiro destaca que ela ainda precisa da sanção do Poder Executivo para entrar em vigor. “Uma das questões chave é a pesada logística que precisará

Foto Cínthia Macedo

Cínthia Macedo

Maria Marcolina de Macedo, de 80 anos, corta o sabão feito em casa. 16

ser posta em prática de modo a conseguir coletar todo esse óleo usado. Isso já parece estar em curso. Uma tentativa de viabilizar essa estrutura parece estar em andamento por meio do Projeto de Lei n. 275/08, do vereador Gilberto Natalini (PSDB-SP), que institui um amplo programa de reciclagem, o Reóleo, que enfoca todo tipo de óleos e gorduras. Uma vez em vigor, pensamos que as leis funcionarão como importantes ferramentas de promoção do desenvolvimento sustentável, desafogando as redes de esgoto, além de recuperarem um recurso potencialmente valioso”, diz o engenheiro. No município de Osasco, a lei que impede o despejo de óleo de cozinha nos esgotos e no lixo, também não entrou em vigor. Segundo o secretário do Meio Ambiente, Carlos Marques, uma lei nesse sentido deve ser aprovada em breve. “O prefeito já elaborou uma lei, que foi enviada a Câmera Municipal. A lei valerá para as empresas, indústrias, pastelarias, lanchonetes, porque nas residências o que vale é a conscientização”, afirma Marques. Ainda segundo Marques, a Secretaria do Meio Ambiente de Osasco iniciou no mês de março passado o Projeto Biodiesel. A produção do produto ainda não está ativa, mas a coleta e a divulgação já estão sendo feitas na cidade. Segundo o secretário, o material está sendo recolhido nas instituições públicas, como escolas e igrejas. “A Secretaria está coletando o óleo, estamos colocando em um grande reservatório para chegarmos a um volume mínimo de 20 mil litros”, diz. O objetivo é criar cooperativas, que possam transformar esse óleo em biocombustível. Segundo dados da Secretaria do Meio Ambiente de Osasco, a iniciativa poderá reduzir em até 53% a emissão de monóxido de carbono na cidade.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.