Autor: Aldana Córdoba Preisz Gênero: Romance – Drama
O poder da ação
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Capítulo 1
Que alguém evite a boda!!! Clamou Cristina. Assim começarei o relato que vai parecer um filme, mas não, é minha vida mesma. Tudo começou quando era adolescente, nesse momento era filha única assim que tinha todos os cuidados de meus pais, Sofia e José, quem se conhecem desde os 14 anos de idade, e tem mais histórias juntos que um mesmíssimo livro. Morávamos numa pequena casa de São Paulo, pequena, mas era por demais aconchegante. A meu pai com sua loja de roupa lhe era suficiente como para viver bem e dar-nos os gostos que minha mãe e eu lhe pedíamos. Loja familiar que herdou de meu avô, o Antônio, e ele de seu avô que não me lembro o seu nome. Quando eu tinha 16 anos nos juntávamos com umas famílias amigas de meus pais, eles tinham filhos de minha idade. Uma delas tinha muito dinheiro, não me lembro como se conheceram com meus pais; moravam fora da cidade numa casa grandona com piscina e churrasqueira. Gostávamos de ir os fins de semana, ali morava Lucas, um moço muito bonito, mas bastante arrogante que sempre desejava chamar minha atenção, mas não era de meu interesse, já que, estava perdidamente ilusionada com outro jovem que morava pertinho de minha casa, o Thiago. Todos os dias o via chegar a sua casa desde longe, ao meio-dia, depois se reunia com seus amigos ou passeava pelas ruas com eles. Sentava-me por horas a vê-lo pela janela, só para que me cumprimentasse, mas ele, ao ser maior que eu –por 3 anos, eu achava que me olhava apenas como uma menina. Certo dia, decidi ir falar com ele, toquei sua campainha e abriu a porta sua mãe. -Olá, como vai tudo bem? Está na casa o Thiago? -Olá, Lindiany, tudo bem, você? Sua família? -Bem, graças a Deus. -Ainda não chegou, você quer que eu diga alguma coisa para ele? Envergonhada, eu não sabia que dizer. -Nada, obrigada, voltarei, mais tarde. Até mais. -Até mais Lindy.
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Ao chegar a minha casa escutei a meus pais que estavam falando da loja familiar, que estava muito ruim, os clientes não iam, depois os vi muito desanimados. Esquecendo-me do negócio do Thiago, liguei para minha melhor amiga, a Cristina, temos uma amizade, dessas que sentis que é para toda a vida. -Olá Cris, como vai? -Olá Lindy, tudo joia graças a Deus, escutando música com minha irmãzinha, meus pais não estão em casa e estou tomando conta dela. Viu ao Thiago hoje? -Hoje não, mas me decidi e fui a falar com ele. -Nossa que valentia, e que aconteceu? Conte, conte!!! -Não estava na casa, me atendeu sua mãe. -Volta mais tarde! -Não, hoje não! Estou desanimada, um pouco triste. - O que foi? -Escutei a meus pais que falavam sobre serias dificuldades econômicas, talvez tenha que fechar a loja, seria muito triste porque, como você sabe, foi herdada de meu avô... -Sim, eu sei, mas não se preocupe, Deus vai fornecer. No fim de semana vou ir à igreja, se você quiser, posso orar por sua economia e se quiser pode vir conosco. Minha família não era muito crente, mas numa situação assim não ia rejeitar o convite assim que aceitei. Lembro que foi a segunda ou a terceira vez que entrei numa igreja, desta vez foi diferente sentia que Deus me escutava. Mas meus pais não quiseram ir.
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Capítulo 2
A segunda-feira seguinte fui à escola como sempre, voltei e me puxe novamente na janela aguardando que o Thiago assomasse ao longe, entretanto eu fazia minha comida. Desde pequena já cozinhava, minha mãe começou a ensinar-me quando tinha 5 anos. Ao longe pude ver ao Thiago caminhando para sua casa, fiquei olhando-o, mas agora foi diferente, ele me viu, me cumprimentou e até me sorriu. O cumprimentei timidamente e pensava... talvez já me deixou de ver como uma garotinha, possivelmente me vê diferente... mas ficou numa simples hipótese. Mais tarde esse dia, bateram na minha porta, baixei as escadas pensando que podia ser ele, mas não, era o carteiro que me trazia outro presente ostentoso desse jovem Lucas que cada dia me convidava a sair, mas eu continuava rejeitando-o. Esse dia, pela tarde, chegaram meus pais do trabalho, perguntei a eles como lhes havia ido e tentando cobrir sua tristeza me disseram que bem, mas insisti e me contaram a verdade, já que consideravam que era uma jovem madura para minha idade. A loja cada dia ia empiorando. Em meu interior desejava que a situação familiar mudasse velozmente. Essa semana estivemos muito tristes com meus pais. Lembro que os pais do Lucas nos convidaram a ir o fim de semana a sua casa e não aceitamos, meu pai ficava trabalhando até tarde para poder trazer dinheiro para nossa casa, já não sabíamos o que fazer. Observava a Thiago passear com seus amigos, ou se juntando em sua casa e me gerava muita intriga, porque sempre se reuniam os mesmos dias e os mesmos horários, mas a essa altura tudo me gerava intriga dele. Os meses passavam e a situação tinha empiorado, minha mãe teve que conseguir um trabalho a mais para poder pagar meu colégio, a culpa estava me inundando. Por isso falei com eles para trabalhar umas poucas horas como babá e poder ajudar na casa. A situação estava tão ruim que meus pais aceitaram tristemente. Certo dia, um ano depois, não sei como cheguei a namorar com o Lucas, com seus presentes ia cobrindo as coisas que meus pais haviam deixado de dar-me pelos problemas econômicos.
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Acabei a escola e comecei numa universidade do estado a carreira de medicina, a família do Lucas insistia em pagar-me uma privada, mas eu com esse dinheiro preferia ajudar a meus pais a pagar algumas coisas. Lembro-me também que, ao terminar o colégio, o primeiro que queria fazer era conseguir um trabalho com carteira assinada para ajudar ainda mais a meus pais, mas o Lucas não me deixava, preferia dar-me o dinheiro. Ele não trabalhava, não tinha a necessidade de fazê-lo, já que seus pais lhe proporcionavam tudo o que ele queria. Para esse momento já me havia esquecido do meu vizinho, que quase não via. Tal vez se havia mudado ou viajado, mas a verdade é que eu também não estava mais pendente dele.
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Capítulo 3
Lembro que um sábado estava estudando em meu quarto e ao levantar minha mirada pela janela lembrei que os sábados se reuniam na casa do Thiago, assim que olhei simplesmente por curiosidade para saber se seguiam fazendo o mesmo. Fiquei surpreendida ao ver que se reuniam a mesma quantidade de pessoas, igualmente não havia passado tanto tempo, só 4 anos. Soa a campainha de casa, pensei que era o Lucas que me vinha a procurar para ir a algum barzinho e eu ainda não me havia mudado de roupas, assim que grite pela janela já vou!! Sem saber que não era ele. Nese momento chegou uma mensagem de texto do Lucas dizendo: “Meu bem, estou retrasado, hoje não vou poder ir com você, amanhã falamos, beijo”. Então, se não era ele quem tinha tocado a campainha, quem era? Abri a porta velozmente, mas já não havia ninguém, só uma carta. Nesse momento achava que era algum presente do Lucas, assim que como havia ficado zangada por não me procurar a deixei numa gaveta da mesa do meu quarto e continuei estudando até a noite. Esse dia mais tarde, chegaram meus pais e me chamaram para falar com eles, tinham uma face muito triste, lágrimas em seus olhos, nós nos sentamos na sala de jantar e começaram a me falar. - Minha Filha, como você já sabe, faz uns anos que estamos tentando sair adiante com dois trabalhos, mais sua ajuda, mas os clientes desapareceram e temos que fechar a loja, temos mais despesas do que lucros. Nesse momento minha mãe se põe a chorar desconsoladamente. Eu já sabia que era um esforço de anos, por isso, tinham muito dor e frustração. Lembro que para esse então fazia uns meses que o Lucas me havia pedido em casamento e eu, ao não estar segura, lhe havia dito que ia pensá-lo. Se me casava com ele seguramente ia salvar a loja familiar, sabia que ele tinha para investir, comprar mais roupa, fazer publicidade, etc. Coisas que nós não podíamos fazer fazia muito tempo. Assim que, ao dia seguinte, liguei para a Cristina, ela estava totalmente em desacordo com o que eu ia fazer, além do mais tudo às pressas, que iam a pensar os pais dele, me disse, que ia me arrepender pelo resto de minha vida.
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Só podia pensar na tristeza de meus pais e me começava a animar a ideia também de casar-me. Acho que me estava autoconvencendo. Lembro que quando se o mencionei ao Lucas quase se desmaia pela emoção. A ciência certa não sei se me amava, mas ele já vivia só e queria que vivamos juntos e sem casar-me não me parecia correto. Entretanto fazíamos os preparativos da festa lhe dizia a meus pais que mantenham a loja um tempo mais. Com o dinheiro que juntara do casamento, mais umas poupanças, íamos levantar a loja familiar. Uma semana antes do casamento batem à porta de minha casa e para minha surpresa era o Thiago. -Olá Lindy como vai você? -Que surpresa! Tudo bem graças a Deus, e você? -Bem, venho perguntar se tinhas lido minha carta? -Sua que?!! Exclamei quase gritando. -Sim, faz um mês, aproximadamente, bati sua porta para convidar você a uma reunião e como não havias baixado deixei um sobre, pensei que o tiveras lido. -Agora lembro sim! Adiante, vamos procura-la. Nesse momento ele agarrou meu braço e um relâmpago atravessou meu corpo. Nunca havia sentido algo semelhante, mesmo com o Lucas, meu prometido. -Esqueça a carta, o que eu queria dizer era que com meus amigos e vizinhos nossos estamos por fundar um Jantar para crianças carentes do bairro, com a ajuda da igreja estamos organizando o projeto faz vários anos. Você gostaria de formar parte deste projeto? Fiquei estupefata, ademais de ser uma bela pessoa por fora também o era em seu interior, assim que aceitei sem duvidar, esquecendo completamente a crise econômica familiar e que estava a ponto de casar-me. Ao dia seguinte fui a uma dessas reuniões que me intrigavam demais, o projeto estava quase culminado, ofereci meus serviços de medicina no jantar 3 vezes por semana uma vez que tivesse terminada a carreira de medicina, todos ficaram muito felizes com meu aporte. Por enquanto ia ajudar com o que fazia falta.
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Lembro que ao voltar a minha casa nĂŁo podia deixar de pensar em ideias para o jantar e, alĂŠm disso, na inteligĂŞncia do Thiago, que era o organizador do projeto. Deixei por completo a boda para o segundo plano.
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Capítulo 4
O dia da boda chegou, pela manhã lembro que abri uma gaveta para procurar uma coisa e encontrei a carta que havia escrito o Thiago. Mencionava o projeto e dizia umas palavras sobre o amor que chegaram direto a meu coração. Percebi que o que estava fazendo era uma loucura, mas como ia cancelar a boda o mesmo dia... Liguei para a Cristina que sempre tinha uma boa ideia para tudo e lhe comentei que estava arrependida e que não sabia o que fazer! Lembro suas palavras... -Não se preocupe cara que eu concertarei tudo, você vai que eu me encarrego. -Mas, que vai fazer? -Não se preocupe, você vai. Coloquei-me o vestido, maquiei-me e penteei, e fui ao registo civil onde me encontraria com o Lucas e as famílias dos dois. Quando já estávamos todos sentados por começar o casamento entra a Cristina à sala. - Que alguém evite a boda!!! Clamou Cristina. Lembro que estava tão nervosa que me suavam até as mãos. Nesse momento chegou a polícia pedindo que abandonemos o registro de imediato já que, havia uma ameaça de bomba no colégio que estava ao lado do registro civil. O pessoal me pediu desculpas porque havia que reprogramar a data do casamento para outro momento. Ao sair me afastei de todos para falar com a Cristina e me diz que havia sido ela quem tinha chamado à polícia e me ordenou que resolva a situação de imediato com o Lucas. Essa mesma noite falei com o que era meu prometido e lhe comentei que queria cancelar a boda e nosso relacionamento já que tinha minha cabeça em novos projetos, como o jantar, a universidade, entre outras coisas. Para minha surpresa o Lucas tomou a notícia calmamente, seguramente já havia notado meu desânimo ao estar com ele. Realmente não estávamos apaixonados, só passávamos tempo juntos como fazíamos desde crianças. 9
Capítulo 5
Uma semana depois do fato retomei com minha ajuda para o jantar que estava a ponto de ser inaugurado. A tudo isto, meus pais já não sabiam que fazer com a loja, lhe havia dado todas minhas poupanças e não alcançava para subsistir. O Thiago pediu para mim que o acompanhe à igreja assim orávamos pela loja familiar, não estava muito convencida, mas não queria ser mal-agradecida e fui com ele. Ao mês o Jantar já estava com mais de 20 crianças e adolescentes, obtivemos um subsidio do governo o qual nos ajudou a comprar utensílios de cozinha, mesas e alugar um galpão grande e aconchegante. Uma vez por semana ia a igreja, tinha um time de contenção muito agradável com o Thiago seus amigos e família. A meus pais lhes chamou a atenção meu cambio e também começaram a assistir conosco. Certo dia, a rua onde estava localizada a loja de meus pais a trocaram a avenida, e ademais abriram mais lojas de toda índole, e como consequência começaram a passar mais carros e mais pessoas. Assim aos poucos, a loja de meus pais foi melhorando e concorriam mais pessoas diariamente. Meus pais cada dia chegavam, mais felizes e entusiasmados, eles me contavam histórias das pessoas que entravam e me pediam que eu lhes contasse como iam meus estudos e o jantar. Hoje três anos e meio depois, estou por casar-me com o Thiago, ambos somos diretores do Jantar que já tem 100 pessoas e estamos por abrir outro na periferia da cidade. Já terminei a carreira de medicina e adoro prestar meus serviços no jantar. Meus pais foram prósperos e já não tem que trabalhar mais. Dois empregados atendem sua loja e eles passam tempo juntos ajudando no Jantar, que por certo tem nome “Jantar dos Anjos” já que as crianças são semelhantes a eles. E assim entendi o verdadeiro significado da vida. Ás vesses necessitamos transitar crises para ser melhores pessoas e fazer câmbios radicais em nossa maneira de ser, agir e pensar. Fim
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