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Santo Afonso e o Papa Francisco
Nos dias 21 e 22 de março, a Accademia Alfonsiana realizou uma grande conferência internacional concluindo as celebrações dos 150 anos da proclamação de Santo Afonso como Doutor da Igreja. Como tema, escolhemos o seguinte refrão: “Santo Afonso, Pastor dos últimos e Doutor da Igreja” . Com quase 200 pessoas presentes nas dependências da Accademia em Roma, Itália, o número cresceu exponencialmente com a participação remota de pessoas de diversas partes do mundo através da transmissão ao vivo pelo canal do YouTube.
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As conferências percorreram três grandes áreas da Teologia Moral, começando com a moral fundamental, tratando o tema da consciência, passando pela área bioética e terminando com os elementos de caráter social que se tornaram e se tornam cada vez mais complexos na dinâmica de nossas vidas em um mundo globalizado. A pergunta de fundo era sempre a mesma: a partir das inspirações nascidas do coração inspirado de Santo Afonso, reconhecendo todo o condicionamento histórico de seus textos, como responder aos problemas que hoje a realidade nos impõe.
Em linhas gerais, a inspiração afonsiana nos leva a compreender que a resposta sempre se encontra na dinâmica relacional estabelecida como realidade de encontro. Desde o primeiro movimento criador, Deus se revela em seu constante movimento de Amor na direção da Criação. Um movimento que não se fecha em si mesmo, mas que cria uma cadeia de solidariedade e de acolhida misericordiosa e compassiva de todas as realidades. Com uma espécie de particular “personalismo ante litteram” , Afonso de Ligório reafirma em sua proposta moral a dignidade de toda a realidade criada, sem anulamento das diferenças, na direção da construção de uma realidade compreendida como communio, ou seja, de comunhão de tudo e todos no Amor Trinitário.
Na dinâmica “provocação-resposta” (Deus vos ama, amai-o!), o agir moral nasce como consequência natural de uma espiritualidade compreendida como jeito de viver diante de Deus e dos outros. Sendo assim, algo de muito concreto e não idealizado, feito para gente real, pessoas concretas que acertam e erram, mas buscam sinceramente caminhar e crescer na pedagogia amorosa da Redenção. Desta forma, uma moral dialogal e comunitária, não fechada sobre si mesma, mas que se compreende como caminho pessoal-comunitário de Salvação e Vida para todos.
O ato final deste grande encontro ficou para a manhã do dia 23 de março, quando fomos recebidos pelo Papa Francisco. Em sua fraterna mensagem, o Pontífice nos ofereceu diversos pontos de reflexão para os próximos tempos de nossa missão afonsiana-redentorista no campo da Teologia Moral. Claramente, ele nos pediu para sempre caminhar com o povo de Deus, mantendo alto o rigor reflexivo sem jamais perder o contato com a comunidade de fé.
Como fez nosso pai-fundador, trata-se de saber conciliar todas as ferramentas que a boa formação e o rigor científico nos oferecem com a sensibilidade que nasce do povo simples. Ao comunicarmo-nos, que as nossas palavras sejam simples, nascidas da vida, que cheguem e sejam bem compreendidas por todos sem exceção. Longe das vazias “teorizações” , como nos ensinou Afonso, a moral cristã é resposta concreta que reconhece a todos em sua dignidade e particularidade, sem exclusão.
“Concluindo, a Igreja espera da Pontifícia Academia Afonsiana que saiba conciliar rigor científico e proximidade ao Povo santo de Deus, que dê respostas concretas a problemas reais, que acompanhe e formule propostas morais humanas, atentas à Verdade salvífica e ao bem das pessoas. Santo Afonso foi um criador da vida moral e apresentou propostas... ‘Mas é um grande teólogo’. Sim, mas também era capaz — nestes dias ouvi os cânticos que me oferecestes no Natal — de escrever também estas coisas! Como se explica? Este é o caminho, esta é a beleza da alma, a delicadeza, esta é a pertença ao povo de Deus, que nunca se pode negociar, nunca! Que o Espírito Santo vos ajude a ser formadores de consciências, mestres da esperança que abre o coração e conduz a Deus. Abençoo-vos de coração, agradeço-vos muito pelo vosso trabalho e peço-vos, por favor, que rezeis por mim. Obrigado!”