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Espiritualidade Redentorista
ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA
Uma reflexão sobre a espiritualidade do trabalho
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PARTE I
Queridos leitores, compartilharei com você nos próximos meses uma reflexão que realizei alguns meses atrás em um evento aqui em Roma, preparado pela Congregação dos Filhos de Santa Maria Imaculada. Traduzirei alguns pontos da reflexão que foi publicada nos anais do evento, além de inserir alguns pontos que vejo como importantes à nossa realidade.
Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.Ss.R.
Roma | Itália
Uma reflexão sobre a base bíblica da espiritualidade do trabalho
O ponto de partida para a formação de uma base teológica para pensar a realidade do trabalho, encontra-se na própria teologia da Criação, ou seja, na “operação” de Deus como Criador da realidade “ex nihilo” (= do nada). A criação é a expressão da criatividade e comunicação de Deus: um Deus que se revela criativamente; que ao sair de si, criando, se comunica e se revela como bondade-criadora. No final de cada dia, encontramos a observação do Criador que expressa o fato de que a criação reflete sua bondade: “E Ele viu que tudo era bom”. Deus trabalha criando, Deus é Ele mesmo criatividade, explosão de amor criativo.
O Padre Bernard Häring, um grande moralista Redentorista, usou uma bela expressão: “fidelidade criativa”. A
espiritualidade cristã é uma constante resposta fiel e criativa ao amor de Cristo, ao amor de Deus, e esta resposta de amor realiza-se no Espírito!
No sexto dia, o Senhor cria o ser humano: uma criatura à qual o autor da narrativa bíblica dedica mais tempo para explicar como é criado, moldado a partir da terra, do pó fino com o qual os artesãos criam os mais preciosos potes de terracota. Essa criatura recebe uma missão: “dominar” (Gn 2,15). O verbo hebraico tem caráter agrícola, ou seja, não significa subjugar, mas sim cultivar e guardar. Assim, os seres humanos recebem a criação como um presente e participam da obra do Senhor para “ajudá-lo” criativamente a aperfeiçoar a criação. Desta forma, a obra precede a queda causada pelo pecado.
Infelizmente, muitas vezes ligamos o trabalho a uma dimensão de condenação, de sentença de Deus após o pecado: “O homem trabalhará com o suor do seu rosto e tomará seu alimento”. Contudo, o trabalho como criatividade, como participação criativa na obra de Deus, precede a queda do pecado, sendo a participação humana na missão de Deus. A dimensão de pecado, por outro lado, rompe com a ordem criada, introduz o cansaço e até a injustiça.
Assim, é extremamente necessária a uma espiritualidade sadia do trabalho separar o cansaço de quem trabalha e se alegra com a obra e as injustiças que são obras de uma realidade de pecado. O trabalho não perde sua dimensão de participação na obra do Criador, mas fica também agora evidente a sua dimensão de cruz. Além disso, os olhos do homem se “abrem”: se abrem e se veem nus, desprotegidos diante da tentação do egoísmo, da acumulação e das injustiças.
A realidade do trabalho está muito presente na vida de Jesus: Ele mesmo passou muitos anos de sua vida terrena como operário/artesão na pequena loja de seu pai adotivo José. Há ainda várias passagens em que Jesus chama a atenção para o verdadeiro sentido do trabalho, criticando visões permeadas pelo egoísmo e pela fome desenfreada de “ter”:
“De fato, qual a vantagem de o homem ganhar o mundo inteiro e perder a própria vida?” (Mc 8,26)
“E Ele lhes disse: ‘Retirem-se um pouco, a sós, em um lugar deserto, e repousem um pouco’”. (Mc 6,31)
O descanso também faz parte desta participação na obra criativa, desta participação na obra de Deus. Deus descansou no sétimo dia. O sétimo dia na dinâmica judaica é a antecipação, é a profecia do dia vindouro, quando tudo repousará no Senhor. E na dinâmica do trabalho, o homem não é apenas aquele que faz alguma coisa, mas antes de tudo “o que é”; ele é válido pelo que é, não apenas pelo que produz.
Jesus também entende a sua obra salvífica de redenção como uma “obra”, isto é, como uma “obra” em comunhão com o Pai que não cessa de criar o mundo no seu amor:
“E Jesus lhes disse: ‘O meu Pai age também agora e também eu ajo’”. (Jo 5,17)
O verbo traduzido em português como “agir”, em grego ἐργάζεται, significa “operar”, realizar uma obra. Assim poderíamos também traduzir: “O meu Pai realiza a obra, também eu realizo esta obra”.
O trabalho assim aparece como uma dimensão fundamental e fundante da existência humana; expressão de sua dignidade como participação não somente na obra da Criação, mas também na Redenção.
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