6 minute read
Formação
FORMAÇÃO
Os 12 Mártires de Madri
Advertisement
Pe. Antônio Marrazzo, C.Ss.R.
Postulador Geral da Congregação Redentorista Roma, Itália Doze Missionários Redentoristas foram beatificados em 22 de outubro, na Catedral da Almudena, em Madri (Espanha), com missa presidida pelo Cardeal Prefeito para a Causa dos Santos, Dom Marcello Semeraro. A cerimônia foi precedida por uma vigília de oração, no dia 21, na capital espanhola, no Santuário do Perpétuo Socorro, mesmo local onde foi celebrada a Santa Missa em Ação de Graças em 23 de outubro, presidida pelo Superior Geral da Congregação Redentorista, Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R.
O Postulador Geral da causa, Pe. Antônio Marrazzo, C.Ss.R., partilha sua reflexão sobre o testemunho de vida dos confrades
cruelmente massacrados em Madri no ano de 1936, durante as perseguições religiosas, e sobre a importância da beatificação para os Redentoristas de hoje.
Testemunhas do Redentor
Entre os dias 20 de julho e 7 de novembro de 1936, doze Redentoristas foram assassinados na Espanha, mais precisamente, em Madri. Ao defini-los como mártires, a Igreja sempre quer recordarnos uma coisa: que ter fé significa viver a vida em plenitude e viver uma vida em comunhão com Cristo.
Quem eram esses confrades? Creio que uma das definições mais belas é dada pelo fundador dos Redentoristas, Santo Afonso, em sua obra Vitória dos Mártires: da consideração dos grandes exemplos de virtudes que deram os santos mártires no tempo de seu martírio, se aprende a confiar em Deus.
Quem eram? Eram seis sacerdotes e seis irmãos de duas comunidades: a do Santuário do Perpétuo Socorro e a de São Miguel. Com o início da guerra civil, nos dias 17 e 18 de julho, nossos irmãos se viram obrigados a retirar-se. Mas afinal, todos tiveram a coragem de ser levados a testemunhar o que eram: religiosos, Missionários Redentoristas, gente que acreditava em Cristo. Alguns ao morrer até tiveram tempo de gritar “Viva Cristo Rei!”.
Mas consideremos uma coisa: o martírio é o último ato de uma vida que viveram antes. Eles, como muitas pessoas, tiveram seus problemas para viver plenamente não só a vida consagrada, mas, sobretudo, a realidade missionária. E o fizeram com generosidade; o fizeram com tanta caridade uns para com os outros e é algo que, digamos, nos faz pensar, especialmente no mundo de hoje.
Entre esses mártires, há dois confrades muito interessantes, um já idoso, quase cego, que praticamente não podia viver sem a ajuda de alguém. Um irmão não o abandonou e viveu o martírio com ele para não deixá-lo sozinho. Este outro irmão era muito jovem.
Um gesto de dom da vida, mas também um gesto que nos diz como é importante sentir o outro como a própria carne, senti-lo como irmão, senti-lo como próximo; e não se trata de sacerdotes, e sim de pessoas consagradas que oferecem seu serviço na comunidade. Continuaram até o final, até a morte.
O que é o espírito missionário? Tendo em vista esses doze mártires, pode-se perceber que ser missionário significa fazer uma opção fundamental que continuarei a fazer enquanto eu tiver vida, anunciar o Cristo, falar dele, dá-lo a conhecer aos outros. Essas pessoas o fizeram inclusive nos piores momentos, quando estavam escondidas. Quando se encontraram na prisão, prosseguiram sua ação missionária com os presos que viviam a mesma situação, que estavam a ponto de enfrentar a morte.
Para dar-lhes coragem e esperança, não só na perspectiva de uma vida depois da morte com Deus, mas também para darlhes sentido ao que tinham sido antes. Todo um caminho de vida. Porque a morte de um mártir dá sentido a toda a vida dele. Não se pode chegar ao martírio se não se teve um exercício das virtudes e virtudes cristãs.
O amor ao próximo não é tanto um aspecto, como gosto de dizer, de uma expressão gentil em nível morfológico do rosto, mas é, sobretudo, uma verdadeira atenção ao que o outro é. Não é agradar ao outro, e sim preocupar-se com o que é bom para o outro, com o que é correto para crescer juntos, para compartilhar juntos quais são as possibilidades que Deus nos deu, sua força, sua energia, sua coragem.
Nós, Redentoristas, vivemos na comunidade apostólica onde não é garantido que estejamos sempre em situação de anúncio explícito. Às vezes, é preciso dar o anúncio aos confrades que estão ao nosso lado, com um testemunho. Solidariedade não é outra coisa senão compartilhar o que se chama serviço, que é o mesmo porque ninguém é servidor de outrem. Só um se fez tal e foi o Cristo.
FORMAÇÃO
Isto significa ser Igreja, colocar juntas as nossas possibilidades. O martírio dessas pessoas nos ensina tudo isto. Ensina-nos que sem uma verdadeira comunhão com Cristo não podemos olhar o outro como irmão sem deixar que Cristo se transforme em nós nesse próximo que desejamos como ajuda. Nunca nos converteremos em ajuda do outro e nunca daremos esse testemunho que essas doze pessoas tiveram a coragem de dar. Foram levados violentamente durante a noite, tirados, às vezes assassinados à beira de uma estrada.
Alguns dos corpos nem sequer foram encontrados. Outros foram primeiro torturados e depois fuzilados. É terrível. Talvez se o pensamos, imaginemos como num filme de terror; temos medo, entramos em pânico com a pergunta: Quem garante que teríamos o valor de não negar o Cristo? É isto que diz Santo Afonso.
Aqui intervém o poder de Deus, Aquele que não nos abandona porque o conhecemos e Ele nos conhece porque encontrou espaço e lhe deixamos espaço porque o temos feito chegar a ser. Essa palavra, que com nossa carne, nossa vida, volta a ser história de salvação e de redenção.
Missionariedade significa isto, ser Missionário significa converter-se em arautos explícitos da Palavra. Mas com palavras e fatos. Trabalho que nem sempre significa dar. Muitas vezes, significa apenas estar presente na vida do outro, ainda que seja de maneira silenciosa, mas presente como irmão, como amigo, como alguém que escuta, como aquele que compreende, aquele que, como Deus, usa a misericórdia do perdão.
Vivemos esta beatificação com este anelo, com esta esperança, de poder imitar, não tanto de imitar o que eles fizeram. Imitar este espírito. Imitar este profundo sentido de adesão a Cristo e à Igreja. Esta aceitação de converter-se em sua Palavra que hoje se transforma em anúncio consolador para os outros. E rezamos para que esses doze mártires, essas doze pessoas, continuem sendo para nós sinal de uma missão que ajuda os que encontramos cada dia em nossa caminhada.
Tradução: Pe. José Raimundo Vidigal, C.Ss.R. (Província do Rio) Fonte: Scala News
O Papa Francisco, durante o Angelus na Praça de São Pedro, em 23 de outubro, recordou a beatificação dos Mártires Redentoristas de Madri com estas palavras: “Ontem, em Madri, foram beatificados Vincenzo Nicasio Renúncio Toribio e onze companheiros da Congregação do Santíssimo Redentor, assassinados por ódio à fé em 1936, na Espanha. O exemplo destas testemunhas de Cristo, até ao derramamento de sangue, impele-nos a sermos coerentes e corajosos; a sua intercessão sustenta aqueles que hoje lutam para semear o Evangelho no mundo. Uma salva de palmas para os novos Beatos!” A memória litúrgica dos novos Beatos será celebrada em 6 de novembro, juntamente com os seis Mártires Redentoristas de Cuenca, já beatificados em 2013.